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PNEUMONIAS LOCALMENTE COMPLICADAS Abscesso Pulmonar - Definimos como abscesso pulmonar uma lesão cavitária > 2 cm contendo pus, localizada no parênquima pulmonar, geralmente contendo nível hidroaéreo. → Causado pelo processo de necro de uma área do parênquima decorrente da infecção, normalmente uma bactéria piogênica. → Abscesso é diferente de pneumonia necrosante e pneumatoceles : - Pneumonia necrosante: a presença de pequenas cavitações (< 2cm) no interior de um infiltrado pneumônico (fase inicial do abscesso pulmonar) - Pneumatoceles: encontradas na pneumonia estafilocócica Patogênese 1. Abscesso primário: decorrente de pneumonia bacteriana (aspirativa ou não) em um paciente sem lesões brônquicas obstrutivas ou doenças imunossupressoras sabidas 2. Abscesso secundário: em decorrência de uma pneumonia obstrutiva ou propagação de abscessos por contiguidade de abscessos extrapulmonares ou pacientes em estado de imunodepressão → Abscesso para se forma necessita de um germe que consiga degradar o interstício dos septos e gerar um processo supurativo → neutrófilos e micróbios concentram-se no interior de uma área necrótica formando o “pus”. Essa necrose se estende para um brônquio satélite fazendo com que o ar entre na cavidade → nível hidroaéreo . → Abscessos também podem ser classificados quanto à evolução clínica: - agudos: evolução < 1 mês - crônicos: evolução > 1 mês Etiologia → Bactérias anaeróbias são os principais agentes etiológicos dos abscessos pulmonares. Também sendo possível ocorrer infecção polimicrobiana com aeróbios Gram-positivos - Staphylococcus aureus → causa de pneumonia pós-influenza e de pneumonia em usuários de drogas intravenosas, podendo causar abscessos pulmonares. - A estafilocócica também pode gerar endocardite da tricúspide que é um foco constante de bactérias para o pulmão , o que pode evoluir para abscessos. Gram-negativo - Klebsiella pneumoniae: agente importante de pneumonia em alcoólicos e da pneumonia do “lobo pesado” Condições predisponentes 1. Doença periodontal: os germes anaeróbios constituem a flora da bucofaringe e se proliferam de forma absurda no sulco gengival nas doenças periodontais → aspiração do conteúdo da orofaringe 2. Macroaspiração: principal fator de risco para abscessos pulmonares. Sendo desencadeado principalmente por: - RNC - alcoolismo - epilepsia - distúrbios motores da deglutição (sequela pós-AVE) Quadro clínico Abscessos por anaeróbios - abscesso pulmonar crônico primário. - paciente refere sintomas geralmente há mais de um mês, do tipo febre vespertina, sudorese noturna, perda ponderal, tosse produtiva - Expectoração de material purulento fétido em grande quantidade (principal pista diagnóstica) - Dentes em mau estado de conservação - Laboratório → anemia de doença crônica → Radiografia de tórax: - uma ou mais lesões cavitadas de parede espessa e extensão variável, contendo nível hidroaéreo em seu interior. - lesões predominam à direita - segmento superior do lobo inferior, segmento posterior do lobo superior. Obs.: pode haver dúvida se o processo supurativa é pulmonar ou na pleura pelo Rx → solicitar TC Abscesso por aeróbios - Germes aeróbios piogênicos de alta virulência, como o S. aureus, K. pneumoniae e P. aeruginosa - Podem causar uma pneumonia aguda “típica” que evolui para cavitação e formação de um ou mais abscessos - Quadro clínico é idêntico ao de uma pneumonia bacteriana aguda, frequentemente com critérios de gravidade e internação Diagnóstico diferencial - TB cavitária - Granulomatose de Wegener - Infarto pulmonar - Carcinoma broncogênico cavitado - Empiema pleural - Cistos ou bolhas pulmonares - Bronquiectasias infectadas - Sequestro pulmonar Tratamento A terapia antibiótica de escolha para o abscesso pulmonar primário crônico (por anaeróbios, evolução > 1 mês e primário) é a clindamicina 600 mg IV 8/8h até a defervescência (redução da febre), seguida por clindamicina 150–300 mg VO 6/6h por um mínimo de três semanas. - Esquema alternativo: metronidazol + penicilina G ou amoxicilina + clavulanato → não se pode usar metronidazol em monoterapia pois não cobre gram positivos aeróbios - A duração do tratamento para grande parte dos autores deve ser até a resolução do abscesso— quando ele se transforma em uma pequena lesão residual. Na prática, costuma-se empregar 4-6 semanas de antibioticoterapia. - Caso o tratamento não apresente melhora indica-se punção aspirativa transtorácica ara cultura, guiada por USG Obs.: Nos casos de abscesso relacionado à pneumonia estafilocócica ou por Gram-negativos, o tratamento deve incluir os antibióticos específicos para esses germes. Tratamento cirúrgico - Lobectomia ou pneumonectomia - Em pacientes debilitados indica-se punção guiada pela TC de tórax - A cirurgia no abscesso pulmonar só é indicada em 5–10% dos casos, sendo as suas principais indicações: 1. não resposta ao tratamento prolongado, espera-se de defervescência até 7 - 10 dias e a resolução radiológica em até 3 meses 2. Abscessos > 6 cm 3. Presença de empiema pleural 4. Suspeita de neoplasia maligna ou qualquer lesão obstrutiva Derrame Pleural Parapneumônico - O derrame pleural associado à pneumonia é denominado genericamente derrame parapneumônico. A grande maioria dos derrames parapneumônicos não é empiema. → Derrame pleural no RX: velamento do seio costofrênico posterior na incidência lateral é o sinal mais sensível. Mas normalmente o derrame só é significativo quando visualizado na incidência PA ao velar um dos seios costofrênicos. → O derrame que corre livre na cavidade pleural é considerado puncionável quando, na incidência de Laurell(decúbito lateral com raios no sentido posteroanterior), forma uma camada > 10mm de espessura Derrame em PA Derrame em Laurell → Derrame parapneumônico na maioria dos casos é leve a moderado e livre (“corre no Laurell") - Deve ser puncionado sempre que possível. Paciente na posição sentada, utilizando-se de agulha fina que deverá ser introduzida às cegas no 6º EIC (no plano do apêndice xifóide), na linha axilar média ou posterior, tangenciando-se a borda superior da costela inferior. → O derrame pode se apresentar loculado → aspecto de “massa” no Rx → solicitar ESG de tórax para reconhecer se é líquido mesmo. - TC de tórax com janela para mediastino é o melhor exame para confirmar o diagnóstico de derrames loculados. - Contraste venoso é importante — quando o contraste impregna nas pleuras visceral e parietal, este achado é sugestivo de empiema pleural Derrame loculado (Rx) Empiema loculado (TC) Empiema Pleural Classificação: 1. Derrame parapneumônico simples: - Decorrente da inflamação do parênquima pulmonar que se estende para pleural visceral e “exsuda” na cavidade pleural - Líquido amarelo-citrino, as vezes turvo - Parâmetros para ser exsudato: ● Relação proteína do líquido/proteína sérica > 0,5 ● LDH do líquido/LDHsérico > 0,6 ● pH normal ● glicose > 40 mg/d ● LDH < 1000 ● Estudo bacteriológico negativo - Este derrame é curado apenas com a antibioticoterapia adequada para o germe causador da pneumonia. Não há necessidade de intervenção. 2. Derrame parapneumônico complicado: - Uma pequena invasão do espaço pleural pelas bactérias piogênicas da pneumonia está por trás deste tipo de derrame. - O aumento de neutrófilos no espaço pleural anaeróbico leva ao intenso consumo de glicose, que é então metabolizada em ácido láctico → reduzindo o pH do líquido pleural → pH < 7,20 e glicose < 60 mg/dL - A lise desses leucócitos libera grandes quantidades de LDH → LDH > 1000 - Estudo bacteriológico negativo na maioria das vezes devido ao processo fagocítico. - O derrame parapneumônico complicado deve sempre ser drenado por toracotomia em selo d’água, pois pode complicar para a formação de septos de fibrina → derrame loculado → empiema pleural 3. Empiema Pleural - Todo líquido pleural purulento no seu aspecto macroscópico ou quando são observadas bactérias no Gram. - O empiema está quase sempre associado à formação de septos e aoespessamento das pleuras visceral e parietal. Causas do empiema - 56% do casos é secundário à pneumonia bacteriana - Cirurgia torácica - Trauma - Perfuração esofágica - Toracocentese ou toracostomia - Infecção subdiafragmática - Sepse Etiologia → Agentes bacterianos mais comuns: Streptococcus pneumoniae, Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes e anaeróbios da bucofaringe (infecção polimicrobiana). - Empiema por anaeróbios tem uma evolução mais arrastada → empiema crônico. Geralmente decorrente de uma pneumonia aspirativa ou de um abscesso pulmonar crônico primário Evolução clínica → Evolução em 3 fases: 1) Fase exsudativa: acúmulo de debris de neutrófilos e bactérias formará o pus. 2) Fase fibrinopurulenta: são formados os septos de fibrina na cavidade pleural, transformando o empiema livre em septado. 3) Fase organizante: se forma uma “carapaça” fibrosa em volta do pulmão(encarceramento pulmonar), correspondendo ao espessamento da pleura por tecido cicatricial. Quadro clínico - Queda do estado geral - Febre persistente - Leucocitose neutrofílica com desvio para esquerda não responsivo à ATB - Dispneia, dor torácica, calafrios e suores (mto comum) - Exame físico: paciente hipocorado, prostrado e com sinais semiológicos de derrame pleural. - Anemia normocítica normocrômica — “anemia de doença crônica”, caracterizada por ferro sérico baixo e ferritina normal alta. Exame radiológico do empiema → USG de tórax + Rx tem boa acurácia, mas o exame padrão ouro é a TC de tórax. - A presença de densidade líquida entre duas pleuras que captam contraste venoso é o chamado split sign, bastante sugestivo de empiema Tratamento Antibioticoterapia - ATB para derrame parapneumônico simples é a terapia indicada para tratamento da PNM de base, sem necessidade de drenagem pleural. - Nos derrames parapneumônicos complicados e no empiema → alguma forma de drenagem deve ser indicada + Esquema de Atb → Quadro pós-influenza, presença de cavitações ou pneumatoceles = acrescentar cobertura antiestafilocócica no esquema ATB → Vale dizer que, pelo fato de haver grande participação de anaeróbios nesses casos, e devido à enorme dificuldade técnica em se isolar tais germes nos meios de cultura, a terapia antimicrobiana empírica do derrame complicado e do empiema pleural deve sempre incluir cobertura contra anaeróbios, lançando mão de esquemas que por si mesmos já possuem esse espectro. ● Esquemas 1) Amoxicilina + clavulanato 2) Ampicilina/sulbactam 3) Piperacilina/tazobactam 4) Imipenem/Meropenem Outros esquemas: - Cefalosporina de 3º geração + clindamicina - Cefalosporina 3ª geração + metronidazol + oxacilina. → A duração ideal do tratamento não é 100% estabelecida na literatura, então indica-se manter o ATB até a observação de uma consistente resposta clínica, radiológica e laboratorial! Normalmente são 3 semanas ou mais. Quando indicar a drenagem de uma derrame parapneumônico Simplificando... A tabela quer dizer que deverá ser indicada a drenagem de tórax em qualquer uma das seguintes situações: ● Líquido purulento; ● Positividade do Gram ou cultura; ● pH < 7,20 (ou, alternativamente, glicose < 60 mg/dl); ● Derrame loculado; ● Derrame acometendo mais de ½ hemitórax; ● Espessamento da pleura parietal (incluindo o split sign). Qual o melhor método de drenagem ?? Empiema livre - Toracostomia fechada com selo d'água - Dreno deve ser mantido até a drenagem ser inferior a 50ml/dia e o pulmão afetado expandido totalmente Empiema loculado - TC de tórax é obrigatória - Conduta deve ser avaliada por cirurgião torácico - Drenagem fechada em cada loja empiematosa - Infusão intrapleural de trombolíticos (estreptoquinase) - Também pode ser realizado a cirurgia de lise de aderências (videotoracoscopia) ou por toracotomia (decorticação precoce) Caso após a drenagem a cavidade do empiema ainda se mantiver ? - Nesse caso o empiema está na fase organizante, na qual formou-se uma carapaça de fibrina sobre a pleura visceral impedindo a expansão pulmonar. O espessamento da pleura visceral vista pela TC pode prever esse tipo d evolução. → Nesses casos é indicado: - Decorticação cirúrgica: pacientes com sinais de infecção refratária ou dispneia ou - Drenagem aberta prolongada : pacientes com alto risco operatório ou quando existir muita destruição parenquimatosa. Consolidação broncoaspirativa - Pneumonia “ em lobo pesado” → por broncoaspiração - Pneumonia broncoaspirativa → pode ser PAC ou PAH - Macroaspiração → pneumonite química → pneumonia → consolidação - Principais agentes são as bactérias anaeróbias Tratamento 1) PAC → Rx com consolidação → mau estado de conservação oral → Tratar como PAC + anaeróbios (Amox + clav / Clindamicina / Gentamicina / metronidazol) 2) Caso não tenha mau estado de conservação só como PAC 3) PAH → Rx com consolidação → Tratar como PAH que normalmente já entra anaeróbios
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