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Hemorragias da primeira metade da gestação
PUC-CAMPINAS
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1 Ginecologia e Obstetrícia (8º semestre) Por que dividimos os sangramentos da gestação em duas metades? Porque basicamente na segunda metade da gravidez, a partir de 24-25 semanas, já existe feto viável (com possibilidade de sobreviver), enquanto na primeira metade da gravidez essa possibilidade não existe. Foco 1ª metade -> manter a mãe saudável Foco 2ª metade -> manter a mãe saudável + manter o feto bem para que haja sobrevivência Eliminação do produto da gestação até 20 semanas de gravidez ou até 500g (quando há desconhecimento da IG). Classificação • Quanto a intenção: espontâneo ou induzido (provocado) • Quanto a cronologia: precoce (se ocorrer até 12 semanas) ou tardio (se ocorrer entre 12 e 20 semanas Incidência 15 a 20% das gestações clinicamente diagnosticadas terminarão em abortamento. Nas mães com idade avançada, as chances aumentam para as cromossomopatias. Além disso, quanto mais filhos ela tiver, maior a chance de abortar (essas gestações levaram a microlesões uterinas/endometriais, causando problemas na implantação. Nos primeiros 3 meses após o parto, não é recomendado a gestação, pois ainda não houve a recuperação genital pós-parto completa (sítio de implantação ainda pode estar alterado -> maior chance de abortar). A maioria dos abortos infectados ocorre por manipulação (na tentativa de provocar o aborto), podendo haver alterações de endométrio com formação de traves fibrosas, fazendo com que a paciente tenha dificuldades para engravidar depois. Essa infecção pode ascender e atingir as trompas, nas quais causa cicatrização, fibrose, redução de motilidade e, às vezes, até obstrução completa delas (afetando a fertilidade) Etiologia Anomalias cromossômicas • A maioria dos abortamentos ocorre nas primeiras 12 semanas e 50-80% apresentam alterações cromossômicas • Trissomia autossômicas (mais comum – 50%) -> frequentemente as associadas com os cromossomos 16, 22, 21, 15, 13, 2 e 14. Ocorrem principalmente por erros na meiose 2 e se relacionam com a idade materna avançada • Monossomia X (Sd. Turner) (7-10% dos abortamentos do 1º trimestre. Ocorrem pela falta de um 2 cromossomo sexual paterno, não havendo correlação com a idade materna. • Triploidia -> encontra-se associada a mola parcial e doenças trofoblásticas, e os achados patológicos frequentemente encontrados incluem saco gestacional desproporcionalmente grande, degeneração hiprópica parcial das das vilosidades coriônicas e hiperplasia do trofoblasto. Geralmente relacionados a cariótipos do tipo 69, XXY ou 69, XXX, e originam-se da fecundação por dois espermatozoides (dispermia) ou por um espermatozoide que duplica seu genoma • Tetraploidias: raro, a gestação raramente evolui além da terceira semana. • Aneuploidia -> tem relação com a idade materna avançada e pode ser a causa de abortos recorrentes (40%) • Em relação ao abortamento habitual, cerca de 3-5% dos casais apresentam alterações cromossômicas, sendo a mais frequente a translocação balanceada, que pode originar uma translocação não balanceada no produto conceptual (que é capaz de causar o abortamento). Infecções • As infecções maternas (bacterianas e virais) podem ocasionar abortamento por lesões da decídua, da placenta, das membranas ovulares e do produto conceptual. Estão mais relacionados com o aborto único. • STORCH: treponema pallidum/sífilis (S), toxoplasma gondii/toxoplasmose (TO), rubéola (R), citomegalovírus ©, vírus herpes simplex (H) • HIV, sífilis, Setreptococo B, Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum -> associadas a aborto único • O Treponema pallidum está associado com abortamento tardio Endocrinopatias • Tireoidopatias: Anticorpo antitireoidianos (hiper/hipo -> aumento da necessidade do hormônio -> aumenta os anticorpos que são suficientes para causar aborto) • Diabetes Mellitus insulolino- dependente: principalmente em diabetes mellitus tipo 1 que não estão metabolicamente controladas no início da gestação. • Defeitos da fase lútea: causa de abortamento espontâneo e natural; insuficiência lútea (insuficiência de progesterona) -> ocasiona a preparação deficiente do endométrio (diagnóstico difícil – baseado na biópsia endometrial (par analiar o glicogênio) e na dosagem sérica de progesterona na segunda fase do ciclo (limite mínimo de 10ng/mL), porém ambos os métodos apresentam alguma deficiência). Se for comprovada a deficiência de progesterona, administramos esse hormônio na próxima gestação. • Síndrome dos ovários policísticos: causa de abortamento habitual, acomete cerca de 10% das mulheres. Os possíveis mecanismos para o abortamento são: resistência à insulina com consequente hiperinsulinemia e elevação do hormônio luteinizante, obesidade e hiperandrogenismo. Causas imunológicas e trombofilia • Autoimune 3 o SAF: anticardiolipina, anticoagulante lúpico, anti beta2 glicoproteína 1 -> insuficiência placentária (oligoâmnio, pré-eclâmpsia, eclampsia, RCIU), trombose dos vasos, inflamação na região da implantação (dificulta o processo) -> se o exame para SAF der positivo repete em 12 semanas novamente para ter certeza ▪ É a única doença autoimune que tem como critério de definição a perda fetal (3 ou mais abortos < 10 semanas; 1 aborto > 10 semanas com feto morfologicamente normal, complicações de insuficiência placentária ▪ Tto: uso de enoxaparina (anticoagulante) + aspirina em baixa dose, às vezes precisando acrescentar anti- inflamatório com função mais imunológica (como a hidroxicloroquina) o Doença do colágeno: LES • Aloimune (diferenças genéticas entre indivíduos da mesma espécie) o Comportamento do sistema imunológico materno frente a um embrião geneticamente diferente -> geralmente os anticorpos maternos protegem o embrião, porém pode ser que a mãe não tenha esses anticorpos protetores, fazendo com que o organismo degrade o embrião (abortos muito precoces) -> células NK (podem estar muito aumentadas -> possível causa do abortamento) o O diagnóstico do fator aloimune se baseia no tipo do antígeno leucocitário humano (HLA) do casal, na detecção in vitro do fator bloqueador da mulher (cultura mista de linfócitos) e na atividade das células natural killer). Não há um tratamento específico, mas pode-se tentar usar a imunoterapia. • Trombofilia (mutações genéticas) o Fator V de Leiden mutação que faz com que o fator V da cascata de coagulação seja mais resistente a inativação -> culmina com uma maior produção de trombina -> aumenta a chance de trombose) o Mutação no fator 2 (protrombina) -> aumenta a formação de trombina o Mutações/deficiências na proteína C, S e antitrombina -> maior tendência à coagulação e isso pode bloquear e trombosar aqueles vasos envolvidos na implantação, levando à ocorrência de aborto. o A deficiência de antitrombina é a mais grave, só existe a forma 4 heterozigota (forma homozigota não sobrevive) o Tto: anticoagulação profilática na mãe em doses pequenas e pré- determinadas, usando enoxaparina (não é possível usar nenhum anticoagulante oral na gestação, pois atravessam a barreira placentária -> malformações fetais). Se ela tiver trombose ou deficiência de antitrombina fazemos dose terapêutica Defeitos uterinos • Septo uterino (o útero fica mal vascularizado) • Sinéquia intrauterina (síndrome de Asherman) -> secundária a curetagem pós abortamento infectado ou curetagem excessiva (“cantar da cureta” – barulho que a cureta faz quando já retirou todo o material necessário). Geralmente essas mulheres apresentam diminuição do fluxo menstrual ou amenorreia. O diagnóstico é feito por histerossalpingografia ou histeroscopia e o tratamento consiste