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Edema Agudo de Pulmão Fisiopatologia O edema agudo de pulmão (EAP) pode resultar de diversas condições. Entre as causas, pode-se classificar em dois grandes grupos: cardiogênica ou não- cardiogênica. Nas causas cardiogênicas, o mecanismo fisiopatológico é a ação da pressão hidrostática capilar elevada (hipertensão pulmonar acima de 18 mmHg), determinando o aumento do edema intersticial pulmonar por falência da drenagem linfática e redistribuição de líquidos pelos compartimentos pulmonares. Sua ocorrência pode estar associada a hipervolemia, mas não é uma condição necessária para a EAP. Já nas causas não- cardiogênicas, o aumento do líquido no interstício pulmonar por alteração da permeabilidade do capilar pulmonar, como ocorre na síndrome do desconforto respiratório ou no edema pulmonar das grandes altitudes. Entre as causas cardiogênicas, a mais comum é a disfunção diastólica do ventrículo esquerdo. Com a incapacidade de realizar a diástole, o coração fica incapaz de receber sangue vindo do átrio esquerdo e pelas veias pulmonares, causando um aumento na pressão de enchimento do ventrículo esquerdo (pressão diastólica final) que se transmite até os capilares e vasos linfáticos pulmonares. Esse aumento da pressão faz com que ocorra extravasamento de líquido para o interstício e, quando excede a capacidade de drenagem dos vasos linfáticos, até os alvéolos. Entre outras causas cardiogênicas, tem-se a obstrução ao fluxo pela valva mitral (trombo, estenose valvar), insuficiência mitral aguda, insuficiência aórtica aguda (endocardite, dissecção de aorta), arritmias cardíacas e hipervolemia. Quadro Clínico O principal sintoma é a intensa falta de ar, que geralmente ocorre de forma súbita. Associado a isso, verifica-se intensa ativação do sistema simpático, traduzido por taquicardia, palidez, sudorese fria, agitação psicomotora e ansiedade. À ausculta, é possível verificar a presença de crepitações inspiratórias e expiratórias em todo o tórax, incluindo a presença de sibilos. Isso pode fazer com que ocorra confusão com reatividade brônquica, uma vez que é semelhante a um broncoespasmo, processo chamado de asma cardíaca. O exame cardíaco pode sugerir a etiologia quando há presença de hipertensão arterial, quarta bulha (disfunção diastólica), terceira bulha (disfunção sistólica), sopros cardíacos ou arritmia. Diagnóstico O diagnóstico é essencialmente clínico, realizado através da anamnese e exame físico do paciente. O eletrocardiograma pode ser realizado a fim de verificar uma possível etiologia, bem como o ecocardiograma. Já a gasometria pode verificar a presença de hipoxemia severa. As enzimas cardíacas (troponinas) devem ser solicitadas na sala de emergência e seriadas ao longo da evolução do paciente, bem como os eletrólitos, ureia, creatinina e o BNP, o qual aumenta em caso de sobrecarga cardíaca. Tratamento O tratamento deve ser feito na emergência. O primeiro passo é a posição do paciente, o qual deve permanecer sentado durante o tratamento (cabeceira elevada) a fim de diminuir a pré-carga e melhorar a ventilação pulmonar. Entre as medidas farmacológicas, a morfina, furosemida e o nitrato são as drogas de primeira linha. O oxigênio deve ser utilizado em caso de hipoxemia (SpO2 < 90% ou PaO2 < 60 mmHg), uma vez que seu uso pode provocar vasoconstrição e redução do débito cardíaco. Em caso de necessidade, pode-se utilizar além de máscara, a pressão positiva (VNI, BiPAP, CPAP). A intubação orotraqueal (IOT) deve ser realizada nos pacientes com fadiga muscular respiratória, acidose respiratória e hipoxemia refratária. Os vasodilatadores promovem a redução da pré e da pós-carga. Inicialmente, pode-se utilizar nitrato sublingual 5 mg, repetido a cada 5 a 10 minutos (máximo de 15 mg), seguido ou não de nitrato parenteral. Em caso de isquemia miocárdica, a melhor opção é a nitroglicerina (5 a 200 µg/min), uma vez que o nitroprussiato pode provocar roubo do fluxo colateral da área isquêmica miocárdica, no entanto, sua ação é menos eficaz e sua ação demora de 2 a 5 minutos para ter início. Do contrário, preconiza-se a utilização do nitroprussiato (0.3 a 0.5 µg/kg/min), o qual apresenta início imediato. Cita-se como efeitos colaterais dessa droga a ocorrência de náuseas, vômitos e cefaleia. Já os diuréticos de alça podem ser utilizados de forma intravenosa, com uso da furosemida (40 a 80 mg). Sua ação promove a venodilatação e reduz a pré- carga primeiramente (5 minutos) e provoca diurese posteriormente (20 a 30 minutos após). Vale ressaltar que muitos pacientes podem apresentar volemia normal, de modo que o uso da furosemida pode provocar hipovolemia. A morfina é utilizada na dose de 1 a 3 mg a cada 5 minutos para reduzir a ansiedade determinada pelo aumento do esforço respiratório, além de promover redução da pré-carga por venodilatação e reduzir os reflexos pulmonares de dispneia. Sua ação pode causar hipotensão, náuseas, broncoespasmo (liberação de histamina) e narcose por diminuição do estímulo respiratório. Caso o paciente apresente sinais de baixo débito cardíaco (hipoperfusão periférica, hipotensão, rebaixamento de sensório), são indicados inotrópicos positivos, como a dobutamina.
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