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Português Jurídico - PDF

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GRADUAÇÃO
 2011.2
PORTUGUÊS JURÍDICO
AUTOR: SÉRGIO BRANCO E EDUARDO MAGRANI
Sumário
Português Jurídico
AULA 1: DIREITO, LITERATURA E INTERPRETAÇÃO. ...................................................................................................... 3
AULA 2: LINGUAGEM FORMAL E LINGUAGEM INFORMAL ............................................................................................... 9
AULA 3: A LINGUAGEM JURÍDICA .......................................................................................................................... 10
AULA 4: LINGUAGEM E NARRATIVA ........................................................................................................................ 26
AULAS 5 E 6: A LITERATURA COMO INSTRUMENTO DE DISCUSSÃO JURÍDICA .................................................................... 27
AULAS 7 E 8: DIREITO NATURAL E DIREITO E MORAL .................................................................................................. 34
AULAS 9 E 10: DIANTE DA LEI ............................................................................................................................... 35
AULAS 11 E 12: DIREITO E PODER .......................................................................................................................... 37
AULAS 13 E 14: DIREITO E PODER (2) ...................................................................................................................... 39
AULAS 15 E 16: A LEI .......................................................................................................................................... 43
AULAS 17 E 18: O CONTRATO ................................................................................................................................ 57
AULAS 19 E 20: A PEÇA PROCESSUAL ...................................................................................................................... 60
AULAS 21 E 22: A SENTENÇA ................................................................................................................................ 61
AULA 23: O ESTADO TRANSFORMADOR ................................................................................................................... 64
AULA 24: O OLHAR ESTRANGEIRO .......................................................................................................................... 65
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 3
1 Sobre os casos difíceis, remetemos o 
leitor ao ensaio “Casos Difíceis”, de Ro-
nald Dworkin, parte integrante do livro 
Levando os Direitos a Sério — São 
Paulo: Martins Fontes, 2002.
2 Carl Gustav Jung, nascido a 26 de julho 
de 1875, foi um dos grandes estudiosos 
da relação entre o homem e os símbo-
los. Referimo-nos brevemente a dois 
de seus pensamentos com relação à 
matéria: “[c]onquanto tudo seja experi-
mentado em forma de imagem, isto é, 
simbolicamente, não se trata de modo 
algum de perigos fi ctícios, mas sim de 
riscos muito reais, dos quais depende o 
destino de toda uma vida. O principal 
perigo é ceder à fascinante infl uência 
dos arquétipos”. E ainda: “É impossível 
dar uma interpretação universal a um 
arquétipo. É preciso explicá-lo de acor-
do com a situação psicológica do indi-
víduo específi co”. (O Pensamento Vivo 
de Jung. Rio de Janeiro: Ediouro, 1986). 
Deduz-se, com clareza, do que susten-
ta Jung, que embora o Direito busque 
uma natureza eminentemente menos 
subjetiva, está fadado a ser interpre-
tado tal como qualquer outro símbolo 
(sendo a linguagem escrita um símbolo 
em si mesmo), e necessariamente con-
dicionado à interpretação de cada indi-
víduo, considerando-se ser impossível 
uma interpretação universal. 
AULA 1: DIREITO, LITERATURA E INTERPRETAÇÃO.
LEITURA OBRIGATÓRIA
O Livro de Areia. BORGES, Jorge Luis. O Livro de Areia. Rio de Janeiro: ed. Globo.
Por que estudar literatura em um curso de Direito?
A complexidade da sociedade contemporânea é inclemente com os princípios ar-
caicos do Direito. A globalização aboliu as fronteiras, a necessidade multiplicou os ins-
titutos jurídicos, a valorização dos princípios ampliou as possibilidades interpretativas 
das normas.
É de se notar também — e principalmente — que o mundo atual não admite mais o 
conhecimento estanque. O que se convencionou chamar interdisciplinariedade jurídica 
nada mais é que a necessidade de se valer de um conhecimento aliado a outro, de modo 
a buscar soluções que integrem as diversas áreas que hoje se encontram irremediavel-
mente entrelaçadas.
Ademais, a tecnologia, o desenvolvimento industrial, a ciência, bem como todas as 
demais facetas do mundo contemporâneo expõem o homem a situações antes impen-
sadas, o que torna sempre mais difícil o trabalho do legislador que, em um sistema ro-
mano-germânico como o nosso, tem a ingrata tarefa de tudo prever e tudo sistematizar.
Desde há muito se sabe que o estudo do Direito não pode se limitar à aplicação pura 
e simples da lei ao caso concreto — o que se verifi ca com mais intensidade no momento 
presente, já que nos deparamos cotidianamente com situações que desafi am qualquer 
enquadramento legal pré-estabelecido. Nesse panorama, vale compreender o esforço 
empreendido por Ronald Dworkin em analisar os denominados “casos difíceis”1.
Dessa forma, o que se espera com este material é fazer uma sucinta incursão sobre 
a vastíssima seara da interpretação legal. Objetiva-se cuidar, sob a perspectiva da neces-
sária interdisciplinariedade, da relação que pode haver entre o Direito e a Literatura e a 
possível contribuição desta à interpretação daquele.
Sendo assim, em nossas primeiras aulas, examinaremos a possível contribuição da 
interpretação literária no estudo do Direito, especialmente sob a ótica do trabalho de 
Dworkin.
Não se quer, com este trabalho, modifi car ou acrescentar à interessante corrente de 
estudos de Direito e Literatura (que grassa, sobretudo, nos Estados Unidos) qualquer 
elo de ineditismo. O que se espera é poder contribuir para a difusão desse campo de 
estudos e ajudar a ampliar as possibilidades interpretativas do Direito.
Interpretação
A todo momento, exige-se do homem que interprete. O mundo não é composto 
senão de símbolos2: a linguagem falada, a expressão escrita, os gestos. Diariamente, 
somos submetidos a diversas informações que precisam ser recebidas, decodifi cadas, 
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 4
3 Nesse sentido, a opinião de Pietro Per-
lingieri, ao afi rmar que “o direito é posi-
tivo se, mas também somente se, ele é 
interpretado, e é positivo só na medida 
em que for interpretado”. PERLINGIERI, 
Pietro. Perfi s de Direito Civil. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2002. P.67.
4 Gilmar Ferreira Mendes, ao apresentar 
o trabalho “Hermenêutica Constitucio-
nal”, de Peter Häberle (professor titular 
de Direito Público e de Filosofi a do 
Direito da Universidade de Augsburg-
RFA), nota que referido autor já havia 
se pronunciado no sentido de que não 
existe norma jurídica, senão norma 
jurídica interpretada. HÄBERLE, Peter. 
Hermenêutica Constitucional. Porto 
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 
1997.
5 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 
Coimbra: Armênio Amado — Editor, 
1979. P. 463.
6 REALE, Miguel. Lições Preliminares 
de Direito. 19ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 
1991. P. 274.
7 Apud HESPANHA, António M.. Pano-
rama Histórico da Cultura Jurídica 
Européia. Sintra: Publicações Europa-
América, 1997. P. 178.
8 HESPANHA, António M.. Panorama 
Histórico da Cultura Jurídica Euro-
péia. Sintra: Publicações Europa-Amé-
rica, 1997. P. 177-178.
compreendidas e respondidas. Qualquer conversa trivial, qualquer programa de tele-
visão ou notícia de jornal precisam ser interpretados. Ainda que restasse um único ser 
humano sobre a Terra, estaria ele dedicado a interpretar os sinais da natureza. Nãoé 
diferente com o Direito.
O Direito não existe sem interpretação3. Na verdade, pode-se dizer que o Direito é, 
efetivamente, a aplicação das normas aos casos concretos, e isso só é possível depois de 
as normas terem sido interpretadas4.
Pode-se dizer que a interpretação decorre da necessidade de se fi xar o verdadeiro 
sentido das normas a serem aplicadas. Conforme afi rma Kelsen, “[a] interpretação é, 
portanto, uma operação mental que acompanha o processo da aplicação do Direito no 
seu progredir de um escalão superior para um escalão inferior”5 (grifamos).
No entanto, embora hoje seja pacífi co que a interpretação não consiste em mero 
procedimento de subsunção, devendo-se ir muito além da simples adequação da norma 
ao fato concreto, nem sempre se deu à interpretação a amplitude que hoje se lhe atribui.
No início do século XIX, tão logo publicado o Código de Napoleão na França, 
entendia-se que a lei, como única fonte de Direito, devia ser interpretada apenas na 
medida de exprimir fi elmente o que fora a vontade do legislador.
Assim se manifesta Miguel Reale acerca da matéria6:
Foi por esse motivo que a interpretação da lei passou a ser objeto de estudos 
sistemáticos de notável fi nura, correspondentes a uma atitude analítica perante 
os textos segundo certos princípios e diretrizes que, durante várias décadas, cons-
tituíram o embasamento da Escola da Exegese.
Sob o nome “Escola da Exegese” entende-se aquele grande movimento que, 
no transcurso do século XIX, sustentou que na lei positiva, e de maneira especial 
no Código Civil, já se encontra a possibilidade de uma solução para todos os 
eventuais casos ou ocorrências da vida social. Tudo está em saber interpretar o 
Direito. Dizia, por exemplo, Demolombe que a lei era tudo, de tal modo que a 
função do jurista não consistia senão em extrair e desenvolver o sentido pleno 
dos textos, para apreender-lhes o signifi cado, ordenar as conclusões parciais e, 
afi nal, atingir as grandes sistematizações.
Na verdade, a premissa da Escola da Exegese a respeito da supremacia da lei sobre 
a doutrina e a jurisprudência já havia sido proposta por Montesquieu, para quem os 
juízes deviam ser “a boca que pronuncia as palavras da lei, seres inanimados que não 
podem moderar nem a força, nem o rigor dela”7.
De acordo com Hespanha8, sob os princípios da Escola da Exegese,
[...] à doutrina, apenas restava um papel ancilar — o de proceder a uma 
interpretação submissa da lei, atendo-se o mais possível à vontade do legislador 
histórico, reconstituída por meio dos trabalhos preparatórios, dos preâmbulos 
legislativos, etc. Quanto à integração das lacunas, a prudência devia ser ainda 
maior, devendo o jurista tentar modelar para o caso concreto uma solução que 
pudesse ter sido a do legislador histórico se o tivesse previsto.
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 5
9 HESPANHA, António M.. Panorama 
Histórico da Cultura Jurídica Euro-
péia. Sintra: Publicações Europa-Amé-
rica, 1997. P. 236.
10 PERLINGIERI, Pietro. Perfi s de Direito 
Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. 
P.66.
11 PERLINGIERI, Pietro. Perfi s de Direito 
Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. 
P.68.
No entanto, tão logo surgiu no século XIX, a Escola da Exegese (também deno-
minada “legalismo”) passou a ser alvo de severas críticas, entre outros, dos que “não 
reconheciam a virtualidade de regular justamente a inesgotável riqueza e variedade das 
situações e confl itos da vida”9.
Atualmente, entende-se que o intérprete do Direito não pode se resumir a ser um 
mero repetidor da vontade legislativa. Por outro lado, também não pode ser parcial em 
sua interpretação, nem tampouco valer-se de sua pré-compreensão do Direito, de que 
trataremos adiante.
Nas palavras de Pietro Perlingieri10 sobre o assunto:
Pode-se dizer, portanto, que a interpretação não é a atribuição de signifi cados 
aos textos jurídicos feita pelo intérprete em virtude de impulsos emotivos ou da 
sua capacidade de ter acesso a experiências inatingíveis à maioria, como aconte-
ceria se o intérprete legitimasse a própria obra porque em contato com potências 
ultraterrestres ou porque possuidor de técnicas secretas de decifração dos sinais 
do legislador. Se o direito se funda no processo que consente o seu conheci-
mento, não é necessário que tal processo assuma a forma da lógica matemática 
ou simule, de qualquer modo, os procedimentos das ciências naturais — como 
se acreditou por longo tempo — para garantir o rigor e o controle público da 
argumentação do intérprete.
O mesmo autor critica a técnica da subsunção e afi rma a necessidade de se interpre-
tar o Direito em comunhão com elementos extrapositivos. Dessa forma, afi rma que11:
A superação, assim proposta, do positivismo (simplesmente) lingüístico evi-
dencia a contínua remissão do direito positivo a elementos extrapositivos: são 
eles, seja o elemento social (a necessária correlação entre norma e fato, a consi-
deração do contexto, do direito como elemento de uma realidade global), seja 
o ‘direito natural’ ou, nos sistemas jurídicos modernos, as exigências de justiça 
racionalmente individuadas, mas não adequadamente traduzidas em textos le-
gislativos. A ampliação da noção de direito positivo e a sua abertura para noções 
e valores não literalmente e não explicitamente subsuntos nos textos jurídicos 
permite a superação da técnica da subsunção e a prospectação mais realística da 
relação dialética e de integração fato-norma, em uma acepção unitária da reali-
dade. (Por técnica de subsunção — que num tempo representava a única técnica 
possível correta de interpretação normativa — entende-se o procedimento de 
recondução do caso concreto à fattispecie abstrata prevista na norma, como ope-
ração puramente lógico-formal.) A ideologia da subsunção consentiu mascarar 
como escolhas neutras, necessariamente impostas pela lógica, as escolhas inter-
pretativas do jurista, desresponsabilizando a doutrina.
Indubitável que hoje se busca, com a interpretação normativa, averiguar qual a me-
lhor maneira de interpretá-la, ou seja, de que forma a norma interpretada atinge, mais 
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 6
12 REALE, Miguel. Lições Preliminares 
de Direito. 19ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 
1991. P. 285.
13 PERLINGIERI, Pietro. Perfi s de Direito 
Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. 
P.71.
14 REALE, Miguel. Lições Preliminares 
de Direito. 19ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 
1991. P. 288.
15 NADER, Paulo. Introdução ao Estudo 
do Direito. Rio de Janeiro: Editora Fo-
rense, 2002. P. 254.
amplamente, seus fi ns sociais. Este parece ser o entendimento de Miguel Reale que, ao 
comentar a compreensão atual do problema hermenêutico, esclarece12:
Interpretar uma lei importa, previamente, em compreendê-la na plenitude 
de seus fi ns sociais, a fi m de poder-se, desse modo, determinar o sentido de cada 
um de seus dispositivos. Somente assim ela é aplicável a todos os casos que cor-
respondam àqueles objetivos.
Como se vê, o primeiro cuidado do hermeneuta contemporâneo consiste em saber 
qual a fi nalidade social da lei, no seu todo, pois é o fi m que possibilita penetrar na estru-
tura de suas signifi cações particulares. O que se quer atingir é uma correlação coerente 
entre “o todo da lei” e as “partes” representadas por seus artigos e preceitos, à luz dos 
objetivos visados.
Já quanto às formas de interpretação, sabe-se que as “interpretações literal, lógica e 
sistemática não são e nem podem ser fases distintas cronológica e logicamente; elas são 
aspectos e critérios de um processo cognitivo unitário”13.
No mesmo sentido, Miguel Reale, ao afi rmar que14:
Contesta-se, em primeiro lugar, que se deva partir, progressivamente, da aná-
lise gramatical do texto até atingir sua compreensão sistemática, lógica e axioló-
gica. Entende-se, com razão, que essas pesquisas, desde o início, se imbricam ese exigem reciprocamente, mesmo porque, desde Saussure, não se tem mais uma 
compreensão analítica ou associativa da linguagem, a qual também só pode ser en-
tendida de maneira estrutural, em correlação com as estruturas e mutações sociais.
Uma vez identifi cados (i) o fi m a que a interpretação do Direito deve contempora-
neamente alcançar, qual seja, sua função social, bem como (ii) sua dimensão unitária, 
passamos brevemente à análise da atuação do intérprete diante da norma.
É sabido que o intérprete do Direito deve atuar de maneira responsável. Se por um 
lado não pode se limitar a, como se quis outrora, repetir a vontade legislativa, por outro, 
não pode, sob pena de se desvirtuar de todo o sistema jurídico (inclusive o da tripartição 
dos poderes, caso o intérprete seja magistrado), fazer impor sua vontade como se fosse 
a vontade do legislador.
Ao tratar das qualidades a serem desenvolvidas pelo intérprete do Direito, assim se 
manifesta Paulo Nader15:
Para a formação do intérprete é exigível, além do conhecimento técnico es-
pecífi co, uma gama de condições pessoais, que deve ornar a sua personalidade 
e cultura. Quanto aos dotes de personalidade, sobressaem-se os de probidade, 
serenidade, equilíbrio e diligência. A probidade é a honestidade de propósitos, 
é a fi delidade do intérprete às suas convicções, operando sem deixar-se levar por 
ondas de interesses. O cérebro do intérprete deve atuar livre, sem condiciona-
mentos extra legem, para atingir o seu objetivo. A serenidade corresponde à tran-
qüilidade espiritual, sem a qual não pode haver produção intelectual, pois o con-
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 7
16 DWORKIN, Ronald. “De que Maneira 
o Direito se Assemelha à Literatura”, in 
Uma Questão de Princípios. São Pau-
lo: Martins Fontes, 2000. Pp. 219-220.
17 PERLINGIERI, Pietro. Perfi s de Direito 
Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. 
P.81.
18 Ver, entre outros, DWORKIN, Ronald. 
“De que Maneira o Direito se Asseme-
lha à Literatura”, in Uma Questão de 
Princípios. São Paulo: Martins Fontes, 
2000; Richard A. Posner em “Remarks 
on Law and Literature”, in Loyola Uni-
versity Chicago Law Journal — Vol. 23; 
WHITE, James Boyd. “Law and Literatu-
re: ‘No Manifesto’”.
trário — paixão — obscurece o espírito. O equilíbrio é a qualidade que garante 
a fi rmeza e coerência. O intérprete precisa ser diligente, não se acomodando 
diante das difi culdades de sua tarefa. Deve desenvolver todos os esforços, recor-
rer a todos os meios disponíveis, no sentido de revelar as expressões do Direito. 
Deve explorar todos os elementos de que dispõe, para dar cumprimento à tarefa.
Infere-se da exposição de Paulo Nader que o intérprete do Direito há que ser impar-
cial. Não signifi ca que seja frio, máquina alheia às vicissitudes do mundo contemporâ-
neo. Deve, entretanto, ser cuidadoso para não defender, sob o pretexto de estar inter-
pretando a lei, opinião pessoal. E, ainda, ser sensato o sufi ciente para não extrapolar os 
limites de ingerência exclusiva do elaborador da lei.
Evidentemente, não se espera que o juiz venha a se valer da lei como pretexto para 
decidir de acordo com seus princípios. Haveria, nesse caso, uma inversão lógica (e mes-
mo cronológica): primeiro, o juiz decidiria de acordo com seus princípios; a seguir, 
buscaria a fundamentação jurídica. Nesse caso, não há qualquer interpretação legítima 
da lei — o que se busca, aqui, são justifi cativas. Esse fenômeno se chama ‘pré-compre-
ensão’ do Direito. Ronald Dworkin assim se manifesta sobre o tema16:
A maior parte da literatura presume que a interpretação de um documento 
consiste em descobrir o que seus autores (os legisladores ou os constituintes) 
queriam dizer ao usar as palavras que usaram. Mas os juristas reconhecem que, 
em muitas questões, o autor não teve nenhuma intenção e que, em outras, é 
impossível conhecer sua intenção. Alguns juristas adotam uma posição mais cé-
tica. Segundo eles, sempre que os juízes fi ngem estar descobrindo a intenção por 
trás de alguma legislação, isso é apenas uma cortina de fumaça atrás da qual eles 
impõem sua própria visão acerca do que a lei deveria ter sido.
É intuitivo que a pré-compreensão põe em risco os mais basilares princípios in-
terpretativos, e impede que, como quer Pietro Perlingieri17, seja a interpretação uma 
atividade plenamente vinculada, controlada e responsável.
Pelo exposto, depreende-se que a interpretação da lei ultrapassa em muito a identifi -
cação de seus elementos lítero-gramaticais: o que se espera é que a lei possa ser interpre-
tada de modo a alcançar sua função primordial, a de cumprir sua fi nalidade social como 
elemento integrante do sistema jurídico.
Direito e literatura
A interseção entre direito e literatura não é nova. Seu ápice, ao que nos parece, foi atin-
gido nos anos 90 do século XX, quando grandes nomes da teoria jurídica, como Ronald 
Dworkin, Richard Posner e James Boyd White, entre outros, dedicaram-se ao tema18. Desde 
então, o debate parece não ter evoluído muito. No entanto, o que propomos aqui é uma re-
leitura mais ampla do diálogo entre direito e literatura para permitir que, para além das bases 
teóricas que norteiam o tema, a literatura sirva de instrumento de refl exão sobre o direito.
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 8
O objetivo é sugerir novas abordagens de textos literários (e outras obras, como se 
verá adiante) para buscarmos, por meio de textos não jurídicos, uma compreensão dos 
limites interpretativos do direito. Por isso, não vamos nos limitar a tratar do embate 
entre direito e literatura a partir das correntes clássicas do “direito na literatura” e do 
“direito como literatura”. Nossa intenção é muito mais apresentar elementos pragmáti-
cos de discussão e de abordagem de temas jurídicos por meio de obras essencialmente 
não jurídicas.
A bem da verdade, pode-se dizer que este curso trata não tanto de direito nem 
tanto de literatura, mas sobretudo de interpretação. E como a interpretação de 
obras não jurídicas pode ser múltipla, optamos por discutir especialmente um 
tema: as relações de poder, em diversos níveis.
Assim é que pretendemos no curso, discutimos, por meio de obras literárias, algu-
mas das diversas relações de poder: estatal, social e política, apresentando possibilidades 
de melhor utilização do discurso teórico entre direito e literatura em sala de aula.
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 9
AULA 2: LINGUAGEM FORMAL E LINGUAGEM INFORMAL
LEITURAS OBRIGATÓRIAS:
(a) Comentário, na rede, sobre tudo o que está acontecendo por aí, de André Sant’anna
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/il2006201009.htm
(b) Quando o errado está certo, de Ferreira Gullar:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2006201030.htm
(c) O Jargão. Luís Fernando Veríssimo. Comédias para se Ler na Escola. Ed. Objetiva.
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 10
AULA 3: A LINGUAGEM JURÍDICA
LEITURA OBRIGATÓRIA
Texto da lei nº 10.671/2003.
LEI No 10.671, DE 15 DE MAIO DE 2003.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta 
e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES Gerais
Art. 1o Este Estatuto estabelece normas de proteção e defesa do torcedor.
Art. 1o-A. A prevenção da violência nos esportes é de responsabilidade do poder pú-
blico, das confederações, federações, ligas, clubes, associações ou entidades esportivas, 
entidades recreativas e associações de torcedores, inclusive de seus respectivos dirigentes, 
bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem, organizam, coordenam ou 
participam dos eventos esportivos. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Art. 2o Torcedor é toda pessoa que aprecie, apóie ou se associe a qualquer entidade de 
prática desportiva do País e acompanhe a prática de determi nada modalidade esportiva.
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-sea apreciação, o apoio ou o 
acompanhamento de que trata o caput deste artigo.
Art. 2o-A. Considera-se torcida organizada, para os efeitos desta Lei, a pessoa jurídi-
ca de direito privado ou existente de fato, que se organize para o fi m de torcer e apoiar 
entidade de prática esportiva de qualquer natureza ou modalidade. (Incluído pela Lei 
nº 12.299, de 2010).
Parágrafo único. A torcida organizada deverá manter cadastro atualizado de seus 
associados ou membros, o qual deverá conter, pelo menos, as seguintes informações: 
(Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
I — nome completo; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
II — fotografi a; (Incluído pela Lei nº 12 .299, de 2010).
III — fi liação; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
IV — número do registro civil; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 11
V — número do CPF; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
VI — data de nascimento; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
VII — estado civil; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
VIII — profi ssão; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
IX — endereço completo; e (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
X — escolaridade. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Art. 3o Para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor, nos termos da Lei no 
8.078, de 11 de setembro de 1990, a entidade responsável pela organização da compe-
tição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.
Art. 4o (VETADO)
CAPÍTULO II
DA TRANSPARÊNCIA NA ORGANIZAÇÃO
Art. 5o São asseguradas ao torcedor a publicidade e transparência na organização das 
competições administradas pelas entidades de administração do desporto, bem como 
pelas ligas de que trata o art. 20 da Lei no 9.615, de 24 de março de 1998.
§ 1o As entidades de que trata o caput farão publicar na internet, em sítio da enti-
dade responsável pela organização do evento: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
I — a íntegra do regulamento da competição; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
II — as tabelas da competição, contendo as partidas que serão realizadas, com espe-
cifi cação de sua data, local e horário; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
III — o nome e as formas de contato do Ouvidor da Competição de que trata o art. 
6o; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
IV — os borderôs completos das partidas; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
V — a escalação dos árbitros i mediatamente após sua defi nição; e (Incluído pela Lei 
nº 12.299, de 2010).
VI — a relação dos nomes dos torcedores impedidos de comparecer ao local do 
evento desportivo. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 12
§ 2o Os dados contidos nos itens V e VI também deverão ser afi xados ostensivamen-
te em local visível, em caracteres facilmente legíveis, do lado externo de todas as entra-
das do local onde se realiza o evento esportivo. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 3o O juiz deve comunicar às entidades de que trata o caput decisão judicial ou acei-
tação de proposta de transação penal ou suspensão do processo que implique o impe-
dimento do torcedor de frequentar estádios desportivos. (Incluído pela Lei nº 12.299, 
de 2010).
Art. 6o A entidade responsável pela organização da competição, previamente ao seu 
início, designará o Ouvidor da Competição, fornecendo-lhe os meios de comunicação 
necessários ao amplo acesso dos torcedores.
§ 1o São deveres do Ouvidor da Competição recolher as sugestões, propostas e recla-
mações que receber dos torcedores, examiná-las e propor à respectiva entidade medidas 
necessárias ao aperfeiçoamento da competição e ao benefício do torcedor.
§ 2o É assegurado ao torcedor:
I — o amplo acesso ao Ouvidor da Competição, mediante comunicação postal ou 
mensagem eletrônica; e
II — o direito de receber do Ouvidor da Competição as respostas às sugestões, pro-
postas e reclamações, que encaminhou, no prazo de trinta dias.
§ 3o Na hipótese de que trata o inciso II do § 2o, o Ouvidor da Competição utilizará, 
prioritariamente, o mesmo meio de comunicação utilizado pelo torcedor para o enca-
minhamento de sua mensagem.
§ 4o O sítio da internet em que forem publicadas as informações de que trata o § 1o 
do art. 5o conterá, também, as manifestações e propostas do Ouvidor da Competição. 
(Redação dada pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 5o A função de Ouvidor da Competição poderá ser remunerada pelas entidades de 
prática desportiva participantes da competição.
Art. 7o É direito do torcedor a divulgação, durante a realização da partida, da ren-
da obtida pelo pagamento de ingressos e do número de espectadores pagantes e não-
pagantes, por intermédio dos serviços de som e imagem instalados no estádio em que se 
realiza a partida, pela entidade responsável pela organização da competição.
Art. 8o As competições de atletas profi ssionais de que participem entidades integran-
tes da organiza ção desportiva do País deverão ser promovidas de acordo com calendário 
anual de eventos ofi ciais que:
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 13
I — garanta às entidades de prática desportiva participação em competições durante 
pelo menos dez meses do ano;
II — adote, em pelo menos uma competição de âmbito nacional, sistema de disputa 
em que as equipes participantes conheçam, previamente ao seu início, a quantidade de 
partidas que disputarão, bem como seus adversários.
CAPÍTULO III
DO REGULAMENTO DA COMPETIÇÃO
Art. 9o É direito do torcedor que o regulamento, as tabelas da competição e o nome 
do Ouvidor da Competição sejam divulgados até 60 (sessenta) dias antes de seu início, 
na forma do § 1o do art. 5o. (Redação dada pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 1o Nos dez dias subseqüentes à divulgação de que trata o caput, qualquer interessa-
do poderá manifestar-se sobre o regulamento diretamente ao Ouvidor da Competição.
§ 2o O Ouvidor da Competição elaborará, em setenta e duas horas, relatório conten-
do as principais propostas e sugestões encaminhadas.
§ 3o Após o exame do relatório, a entidade responsável pela organização da com-
petição decidirá, em quarenta e oito horas, motivadamente, sobre a conveniência da 
aceitação das propostas e sugestões relatadas.
§ 4o O regulamento defi nitivo da competição será divulgado, na forma do § 1o do 
art. 5o, 45 (quarenta e cinco) dias antes de seu início. (Redação dada pela Lei nº 12.299, 
de 2010).
§ 5o É vedado proceder alterações no regulamento da competição desde sua divulga-
ção defi nitiva, salvo nas hipóteses de:
I — apresentação de novo calendário anual de eventos ofi ciais para o ano subseqüen-
te, desde que aprovado pelo Conselho Nacional do Esporte — CNE;
II — após dois anos de vigência do mesmo regulamento, observado o procedimento 
de que trata este artigo.
§ 6o A competição que vier a substituir outra, segundo o novo calendário anual de 
eventos ofi ciais apresentado para o ano subseqüente, deverá ter âmbito territorial diver-
so da competição a ser substituída.
Art. 10. É direito do torcedor que a participação das entidades de prática desportiva 
em competições organ izadas pelas entidades de que trata o art. 5o seja exclusivamente 
em virtude de critério técnico previamente defi nido.
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 14
§ 1o Para os fi ns do disposto neste artigo, considera-se critério técnico a habilitação 
de entidade de prática desportiva em razão de colocação obtida em competição anterior.
§ 2o Fica vedada a adoção de qualquer outro critério, especialmente o convite, obser-
vado o disposto no art. 89 da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998.
§ 3o Em campeonatos ou torneios regulares com mais de uma divisão, será observa-
do o princípio do acesso e do descenso.
§ 4o Serão desconsideradas as partidas disputadas pela entidade de prática desportiva 
que não tenham atendidoao critério técnico previamente defi nido, inclusive para efeito 
de pontuação na competição.
Art. 11. É direito do torcedor que o árbitro e seus auxiliares entreguem, em até 
quatro horas contadas do término da partida, a súmula e os relatórios da partida ao 
representante da entidade responsável pela organização da competição.
§ 1o Em casos excepcionais, de grave tumulto ou necessidade de laudo médico, os 
relatórios da partida poderão ser complementados em até vinte e quatro horas após o 
seu término.
§ 2o A súmula e os relatórios da partida serão elaborados em três vias, de igual teor 
e forma, devidamente assinadas pelo árbitro, auxiliares e pelo representante da entidade 
responsável pela organização da competição.
§ 3o A primeira via será acondicionada em envelope lacrado e fi cará na posse de 
representante da entidade responsável pela organização da competição, que a encami-
nhará ao setor competente da respectiva entidade até as treze horas do primeiro dia útil 
subseqüente.
§ 4o O lacre de que trata o § 3o será assinado pelo árbitro e seus auxiliares.
§ 5o A segunda via fi cará na posse do árbitro da partida, servindo-lhe como recibo.
§ 6o A terceira via fi cará na posse do representante da entidade responsável pela 
organização da competição, que a encaminhará ao Ouvidor da Competição até as treze 
horas do primeiro dia útil subseqüente, para imediata divulgação.
Art. 12. A entidade responsável pela organização da competição dará publicidade à 
súmula e aos relatórios da partida no sítio de que trata o § 1o do art. 5o até as 14 (qua-
torze) horas do 3o (terceiro) dia útil subsequente ao da realização da partida. (Redação 
dada pela Lei nº 12.299, de 2010).
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FGV DIREITO RIO 15
CAPÍTULO IV
DA SEGURANÇA DO TORCEDOR PARTÍCIPE DO EVENTO ESPORTIVO
Art. 13. O torcedor tem direito a segurança nos locais onde são realizados os eventos 
esportivos antes, durante e após a realização das partidas. (Vigência)
Parágrafo único. Será assegurado acessibilidade ao torcedor portador de defi ciência 
ou com mobilidade reduzida.
Art. 13-A. São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo, 
sem prejuízo de outras condições previstas em lei: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
I — estar na posse de ingresso válido; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
II — não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou 
possibilitar a prática de atos d e violência; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
III — consentir com a revista pessoal de prevenção e segurança; (Incluído pela Lei 
nº 12.299, de 2010).
IV — não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com 
mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo; (Incluído pela Lei nº 
12.299, de 2010).
V — não entoar cânticos discriminatórios, ra cistas ou xenófobos; (Incluído pela Lei 
nº 12.299, de 2010).
VI — não arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior do recinto esporti-
vo; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
VII — não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pi-
rotécnicos ou produtores de efeitos análogos; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
VIII — não incitar e não praticar atos de violência no estádio, qualquer que seja a 
sua natureza; e (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
IX — não invadir e não incitar a invasão, de qualquer forma, da área restrita aos 
competidores. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Parágrafo único. O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo im-
plicará a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for o caso, 
o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras sanções administrativas, 
civis ou penais eventualmente cabíveis. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
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FGV DIREITO RIO 16
Art. 14. Sem prejuízo do disposto nos arts. 12 a 14 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro 
de 1990, a responsabilidade pela segurança do torcedor em evento esportivo é da entidade 
de prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus dirigentes, que deverão:
I — solicitar ao Poder Público competente a presença de agentes públicos de segu-
rança, devidamente identifi cados, responsáveis pela segurança dos torcedores dentro e 
fora dos estádios e demais locais de realização de eventos esportivos;
II — informar imediatamente após a decisão acerca da realização da partida, dentre 
outros, aos órgãos públicos de segurança, transporte e higiene, os dados necessários à 
segurança da partida, especialmente:
a) o local;
b) o horário de abertura do estádio;
c) a capacidade de público do estádio; e
d) a expectativa de público;
III — colocar à disposição do torcedor orientadores e serviço de atendimento para 
que aquele encaminhe suas reclamações no momento da partida, em local:
a) amplamente divulgado e de fácil acesso; e
b) situado no estádio.
§ 1o É dever da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo so-
lucionar imediatamente, sempre que possível, as reclamações dirigidas ao serviço de 
atendimento referido no inciso III, bem como reportá-las ao Ouvidor da Competição 
e, nos casos relacionados à violação de direitos e interesses de consumidores, aos órgãos 
de defesa e proteção do consumidor.
Art. 15. O detentor do mando de jogo será uma das entidades de prática desportiva 
envolvidas na partida, de acordo com os critérios defi nidos no regulamento da competição.
Art. 16. É dever da entidade responsável pela organização da competição:
I — confi rmar, com até quarenta e oito horas de antecedência, o horário e o local da 
realização das partidas em que a defi nição das equipes dependa de resultado anterior;
II — contratar seguro de acidentes pessoais, tendo como benefi ciário o torcedor 
portador de ingresso, válido a partir do momento em que ingressar no estádio;
III — disponibilizar um médico e dois enfermeiros-padrão para cada dez mil torce-
dores presentes à partida;
IV — disponibilizar uma ambulância para cada dez mil torcedores presentes à par-
tida; e
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 17
V — comunicar previamente à autoridade de saúde a realização do evento.
Art. 17. É direito do torcedor a implementação de planos de ação referentes a segu-
rança, transporte e contingências que possam ocorrer durante a realização de eventos 
esportivos.
§ 1o Os planos de ação de que trata o caput serão elaborados pela entidade res-
ponsável pela organização da competição, com a participação das entida des de prática 
desportiva que a disputarão e dos órgãos responsáveis pela segurança pública, transporte 
e demais contingências que possam ocorrer, das localidades em que se realizarão as par-
tidas da competição. (Redação dada pela Lei nº 12.299, de 2010).
I — serão elaborados pela entidade responsável pela organização da competição, 
com a participação das entidades de prática desportiva que a disputarão; e
II — deverão ser apresentados previamente aos órgãos responsáveis pela segurança 
pública das localidades em que se realizarão as partidas da competição.
§ 2o Planos de ação especiais poderão ser apresentados em relação a eventos esporti-
vos com excepcional expectativa de público.
§ 3o Os planos de ação serão divulgados no sítio dedicado à competição de que trata 
o parágrafo único do art. 5o no mesmo prazo de publicação do regulamento defi nitivo 
da competição.
Art. 18. Os estádios com capacidade superior a 10.000 (dez mil) pessoas deverão 
manter central técnica de informações, com infraestrutura sufi ciente para viabilizar o 
monitoramento por imagem d o público presente. (Redação dada pela Lei nº 12.299, 
de 2010).
Art. 19. As entidades responsáveis pela organização da competição, bem como seus 
dirigentes respondem solidariamente com as entidades de que trata o art. 15 e seus diri-
gentes,independentemente da existência de culpa, pelos prejuízos causados a torcedor 
que decorram de falhas de segurança nos estádios ou da inobservância do disposto neste 
capítulo.
CAPÍTULO V
DOS INGRESSOS
Art. 20. É direito do torcedor partícipe que os ingressos para as partidas integrantes 
de competições profi ssionais sejam colocados à venda até setenta e duas horas antes do 
início da partida correspondente.
§ 1o O prazo referido no caput será de quarenta e oito horas nas partidas em que:
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 18
I — as equipes sejam defi nidas a partir de jogos eliminatórios; e
II — a realização não seja possível prever com antecedência de quatro dias.
§ 2o A venda deverá ser realizada por sistema que assegure a sua agilidade e amplo 
acesso à informação.
§ 3o É assegurado ao torcedor partícipe o fornecimento de comprovante de paga-
mento , logo após a aquisição dos ingressos.
§ 4o Não será exigida, em qualquer hipótese, a devolução do comprovante de que 
trata o § 3o.
§ 5o Nas partidas que compõem as competições de âmbito nacional ou regional de 
primeira e segunda divisão, a venda de ingressos será realizada em, pelo menos, cinco 
postos de venda localizados em distritos diferentes da cidade.
Art. 21. A entidade detentora do mando de jogo implementará, na organização da 
emissão e venda de ingressos, sistema de segurança contra falsifi cações, fraudes e outras 
práticas que contribuam para a evasão da receita decorrente do evento esportivo.
Art. 22. São direitos do torcedor partícipe: (Vigência)
I — que todos os ingressos emitidos sejam numerados; e
II — ocupar o local correspondente ao número constante do ingresso.
§ 1o O disposto no inciso II não se aplica aos locais já existentes para assistência em 
pé, nas competições que o permitirem, limitando-se, nesses locais, o número de pessoas, 
de acordo com critérios de saúde, segurança e bem-estar.
§ 2o A emissão de ingressos e o acesso ao estádio nas primeira e segunda divisões da 
principal competição nacional e nas partidas fi nais das competições eliminatórias de 
âmbito nacional deverão ser realizados por meio de sistema eletrônico que viabilize a 
fi scalização e o controle da quantidade de público e do movimento fi nanceiro da parti-
da. (Redação dada pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 3o O disposto no § 2o não se aplica aos eventos esportivos realizados em estádios com 
capacidade inferior a 10.000 (dez mil) pessoas. (Redação dada pela Lei nº 12.299, de 2010).
Art. 23. A entidade responsável pela organização da competição apresentará ao 
Ministério Público dos Estados e do Distrito Federal, previamente à sua realização, 
os laudos técnicos expedidos pelos órgãos e autoridades competentes pela vistoria das 
condições de segurança dos estádios a serem utilizados na competição. (Regulamento)
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 19
§ 1o Os laudos atestarão a real capac idade de público dos estádios, bem como suas 
condições de segurança.
§ 2o Perderá o mando de jogo por, no mínimo, seis meses, sem prejuízo das demais 
sanções cabíveis, a entidade de prática desportiva detentora do mando do jogo em que:
I — tenha sido colocado à venda número de ingressos maior do que a capacidade 
de público do estádio; ou
II — tenham entrado pessoas em número maior do que a capacidade de público do 
estádio.
II I — tenham sido disponibilizados portões de acesso ao estádio em número inferior 
ao recomendado pela autoridade pública. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Art. 24. É direito do torcedor partícipe que conste no ingresso o preço pago por ele.
§ 1o Os valores estampados nos ingressos destinados a um mesmo setor do estádio 
não poderão ser diferentes entre si, nem daqueles divulgados antes da partida pela enti-
dade detentora do mando de jogo.
§ 2o O disposto no § 1o não se aplica aos casos de venda antecipada de carnê para 
um conjunto de, no mínimo, três partidas de uma mesma equipe, bem como na venda 
de ingresso com redução de preço decorrente de previsão legal.
Art. 25. O controle e a fi scalização do acesso do público ao estádio com capacidade 
para mais de 10.000 (dez mil) pessoas deverão contar com meio de monitoramento por 
imagem das catracas, sem prejuízo do disposto no art. 18 desta Lei. (Redação dada pela 
Lei nº 12.299, de 2010).
CAPÍTULO VI
DO TRANSPORTE
Art. 26. Em relação ao transporte de torcedores para eventos esportivos, fi ca assegu-
rado ao torcedor partícipe:
I — o acesso a transporte seguro e organizado;
II — a ampla divulgação das providências tomadas em relação ao acesso ao local da 
partida, seja em transporte público ou privado; e
III — a organização das imediações do estádio em que será disputada a partida, bem 
como suas entradas e saídas, de modo a viabilizar, se mpre que possível, o acesso seguro 
e rápido ao evento, na entrada, e aos meios de transporte, na saída.
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 20
Art. 27. A entidade responsável pela organização da competição e a entidade de 
prática desportiva detentora do mando de jogo solicitarão formalmente, direto ou me-
diante convênio, ao Poder Público competente:
I — serviços de estacionamento para uso por torcedores partícipes durante a realiza-
ção de eventos esportivos, assegurando a estes acesso a serviço organizado de transporte 
para o estádio, ainda que oneroso; e
II — meio de transporte, ainda que oneroso, para condução de idosos, crianças e 
pessoas portadoras de defi ciência física aos estádios, partindo de locais de fácil acesso, 
previame n te determinados.
Parágrafo único. O cumprimento do disposto neste artigo fi ca dispensado na hipó-
tese de evento esportivo realizado em estádio com capacidade inferior a 10.000 (dez 
mil) pessoas. (Redação dada pela Lei nº 12.299, de 2010).
CAPÍTULO VII
DA ALIMENTAÇÃO E DA HIGIENE
Art. 28. O torcedor partícipe tem direito à higiene e à qualidade das instalações 
físicas dos estádios e dos produtos alimentícios vendidos no local.
§ 1o O Poder Público, por meio de seus órgãos de vigilância sanitária, verifi cará o 
cumprimento do disposto neste artigo, na forma da legislação em vigor.
§ 2o É vedado impor preços excessivos ou aumentar sem justa causa os preços dos 
produtos alimentícios comercializados no local de realização do evento esportivo.
Art. 29. É direito do torcedor partícipe que os estádios possuam sanitários em nú-
mero compatível com sua capacidade de público, em plenas condições de limpeza e 
funcionamento.
Parágrafo único. Os laudos de que trata o art. 23 deverão aferir o número de sanitá-
rios em condições de uso e emitir parecer sobre a sua compatibilidade com a capacidade 
de público do estádio.
CAPÍTULO VIII
DA RELAÇÃO COM A ARBITRAGEM ESPORTIVA
Art. 30. É direito do torcedor que a arbitragem das competições desportivas seja 
independente, imparcial, previamente remunerada e isenta de pressões.
Parágrafo único. A remuneração do árbitro e de seus auxiliares será de responsabi-
lidade da entidade de administração do desporto ou da liga organizadora do event o 
esportivo.
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 21
Art. 31. A entidade detentora do mando do jogo e seus dirigentes deverão convocar 
os agentes públicos de segurança visando a garantia da integridade física do árbitro e de 
seus auxiliares.
Art. 31-A. É dever das entidades de administração do desporto contratar seguro 
de vida e acidentes pessoais, tendo como benefi ciária a equipe de arbitragem, quando 
exclusivamente no exercício dessa atividade. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Art. 32. É direito do torcedor que os árbitros de cada partida sejam escolhidos me-
diante sorteio, dentre aqueles previamente selecionados.
§ 1o O sorteio será realizado no mínimo quarenta e oito horas antes de cada rodada, 
em local e data previamente defi nidos.
§ 2o O sorteio será aberto ao público, garantidasua ampla divulgação.
CAPÍTULO IX
DA RELAÇÃO COM A ENTIDADE DE PRÁTICA DESPORTIVA
Art. 33. Sem prejuízo do disposto nesta Lei, cada entidade de prática desportiva fará 
publicar documento que contemple as diretrizes básicas de seu relacionamento com os 
torcedores, disciplinando, obrigatoriamente: (Vigência)
I — o acesso ao estádio e aos locais de venda dos ingressos;
II — mecanismos de transparência fi nanceira da entidade, inclusive com disposições 
relativas à realização de auditorias independentes, observado o disposto no art. 46-A da 
Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998; e
III — a comunicação entre o torcedor e a entidade de prática desportiva.
Parágrafo único. A comunicação entre o torcedor e a entidade de prática desportiva 
de que trata o inciso III do caput poderá, dentre outras medidas, ocorrer mediante:
I — a instalação de uma ouvidoria estável;
II — a constituição de um órgão consultivo formado por torcedores não-sócios; ou
III — reconhecimento da fi gura do sócio-torcedor, co m direitos mais restritos que 
os dos demais sócios.
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 22
CAPÍTULO X
DA RELAÇÃO COM A JUSTIÇA DESPORTIVA
Art. 34. É direito do torcedor que os órgãos da Justiça Desportiva, no exercício de 
suas funções, observem os princípios da impessoalidade, da moralidade, da celeridade, 
da publicidade e da independência.
Art. 35. As decisões proferidas pelos órgãos da Justiça Desportiva devem ser, em 
qualquer hipótese, motivadas e ter a mesma publicidade que as decisões dos tribunais 
federais.
§ 1o Não correm em segredo de justiça os processos em curso perante a Justiça Des-
portiva.
§ 2o As decisões de que trata o caput serão disponibilizadas no sítio de que trata o § 
1o do a rt. 5o. (Redação dada pela Lei nº 12.299, de 2010).
Art. 36. São nulas as decisões proferidas que não observarem o disposto nos arts. 34 
e 35.
CAPÍTULO XI
DAS PENALIDADES
Art. 37. Sem prejuízo das demais sanções cabíveis, a entidade de administração do 
desporto, a liga ou a entidade de prática desportiva que violar ou de qualquer forma 
concorrer para a violação do disposto nesta Lei, observado o devido processo legal, in-
cidirá nas seguintes sanções:
I — destituição de seus dirigentes, na hipótese de violação das regras de que tratam 
os Capítulos II, IV e V desta Lei;
II — suspensão por seis meses dos seus dirigentes, por violação dos dispositivos desta 
Lei não referidos no inciso I;
III — impedimento de gozar de qualquer benefício fi scal em âmbito federal; e
IV — suspensão por seis meses dos repasses de recursos públicos federais da admi-
nistração direta e indireta, sem prejuízo do disposto no art. 18 da Lei no 9.615, de 24 
de março de 1998.
§ 1o Os dirigentes de que tratam os incisos I e II do caput deste artigo serão sempre:
I — o presidente da entidade, ou aquele que lhe faça as vezes; e
II — o dirigente que praticou a infração, ainda que por omissão.
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§ 2o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir, no âm-
bito de suas competências, multas em razão do descumprimento do disposto nesta Lei.
§ 3o A instauração do processo apuratório acarretará adoção cautelar do afastamento 
compulsório dos dirigentes e demais pessoas que, de forma direta ou indiretamente, pu-
derem interferir prejudicialmente na c ompleta elucidação dos fatos, além da suspensão 
dos repasses de verbas públicas, até a decisão fi nal.
Art. 38. (VETADO)
Art. 39-A. A torcida organizada que, em evento esportivo, promover tumulto; pra-
ticar ou incitar a violência; ou invadir local restrito aos competidores, árbitros, fi scais, 
dirigentes, organizadores ou jornalistas será impedida, assim como seus associados ou 
membros, de comparecer a eventos esportivos pelo prazo de até 3 (três) anos. (Incluído 
pela Lei nº 12.299, de 2010).
Art. 39-B. A torcida organizada responde civilmente, de forma objetiva e solidária, 
pelos danos causados por qualquer dos seus associados ou membros no local do evento 
esportivo, em suas imediações ou no trajeto de ida e volta para o evento. (Incluído pela 
Lei nº 12.299, de 2010).
Art. 40. A defesa dos interesses e direitos dos torcedores em juízo observará, no que 
couber, a mesma disciplina da defesa dos consumidores em juízo de que trata o Título 
III da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990.
Art. 41. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão a 
defesa do torcedor, e, com a fi nalidade de fi scalizar o cumprimento do disposto nesta 
Lei, poderão:
I — constituir órgão especializado de defesa do torcedor; ou
II — atribuir a promoção e defesa do torcedor aos órgãos de defesa do consumidor.
Art. 41-A. Os juizados do torcedor, órgãos da Justiça Ordinária com competência 
cível e criminal, poderão ser criados pelos Estados e pelo Distrito Federal para o proces-
so, o julgamento e a execução das causas decorrentes das atividades reguladas nesta Lei. 
(Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
CAPÍTULO XI-A
DOS CRIMES
(Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Art. 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restrito 
aos competidores em eventos esportivos: (Incluído pela Lei nº 12.299, d e 2010).
Pena — reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, 
de 2010).
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 24
§ 1o Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 
2010).
I — promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de 5.000 (cinco 
mil) metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante o trajeto 
de ida e volta do local da realização do evento; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
II — portar, deter ou transportar, no interior do estádio, em suas imediações ou no 
seu trajeto, em dia de realização de evento esportivo, quaisquer instrumentos que pos-
sam servir para a prática de violência. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 2o Na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a pena de reclusão em 
pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio, bem como a qualquer 
local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de 3 (três) meses a 3 (três) anos, de 
acordo com a gravidade da conduta, na hipótese de o agente ser primário, ter bons an-
tecedentes e não ter sido punido anteriormente pela prática de condutas previstas neste 
artigo. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 3o A pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio, bem como 
a qualquer local em que se realize evento esportivo, converter-se-á em privativa de liber-
dade quando ocorrer o descumprimento injustifi cado da restrição imposta. (Incluído 
pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 4o Na conversão de pena prevista no § 2o, a sentença deverá determinar, ainda, a 
obrigatoriedade suplementar de o agente permanecer em estabelecimento indicado pelo 
juiz, no período compreendido entre as 2 (duas) horas antecedentes e as 2 (duas) horas 
posteriores à realização de partidas de entidade de prática desportiva ou de competição 
determinada. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 5o Na hipótese de o representante do Ministério Público propor aplicação da pena 
restritiva de direito prevista no art. 76 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, o 
juiz aplicará a sanção prevista no § 2o. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Art. 41-C. Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de 
vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a 
alterar ou falsear o resultado de competição esportiva: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 
2010).
Pena — reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, 
de 2010).
Art. 41-D. Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fi m 
de alterar ou falsear o resultadode uma competição desportiva: (Incluído pela Lei nº 
12.299, de 2010).
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 25
Pena — reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, 
de 2010).
Art. 41-E. Fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de qualquer 
forma, o resultado de co mpetição esportiva: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Pena — reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, 
de 2010).
Art. 41-F. Vender ingressos de evento esportivo, por preço superior ao estampado no 
bilhete: (Incluído pela Lei nº 12 .299, de 2010).
Pena — reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, 
de 2010).
Art. 41-G. Fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de ingressos para venda por 
preço superior ao estampado no bilhete: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
Pena — reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, 
de 2010).
Parágrafo único. A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o agente 
for servidor público, dirigente ou funcionário de entidade de prática desportiva, enti-
dade responsável pela organização da competição, empresa contratada para o processo 
de emissão, distribuição e venda de ingressos ou torcida organizada e se utilizar desta 
condição para os fi ns previstos neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
CAPÍTULO XII
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 42. O Conselho Nacional de Esportes — CNE promoverá, no prazo de seis 
meses, contado da publicação desta Lei, a adequação do Código de Justiça Desportiva 
ao disposto na Lei no 9.615, de 24 de março de 1998, nesta Lei e em seus respectivos 
regulamentos.
Art. 43. Esta Lei aplica-se apenas ao desporto profi ssional.
Art. 44. O disposto no parágrafo único do art. 13, e nos arts. 18, 22, 25 e 33 entrará 
em vigor após seis meses da publicação desta Lei.
Art. 45. Esta Lei entra em v igor na data de sua publicação.
Brasília, 15 de maio de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Agnelo Santos Queiroz Filho
Álvaro Augusto Ribeiro Costa
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 26
Este texto não substitui o publicado no DOU de 16.5.2003
AULA 4: LINGUAGEM E NARRATIVA
LEITURA OBRIGATÓRIA
A Aliança. Luis Fernando Veríssimo. Comédia da Vida Privada. Ed. L&PM.
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 27
19 POSNER, Richard A., Remarks on Law 
and Literature, in Loyola University 
Chicago Law Journal — Vol. 23, P. 190.
20 WHITE, James Boyd. “Law and Litera-
ture: ‘No Manifesto’”. 
21 DWORKIN, Ronald. De que Maneira o 
Direito se Assemelha à Literatura. Uma 
Questão de Princípios. São Paulo: 
Martins Fontes, 2000. P. 217.
AULAS 5 E 6: A LITERATURA COMO INSTRUMENTO DE DISCUSSÃO JURÍDICA
LEITURA OBRIGATÓRIA
Édipo Rei. Sófocles.
A leitura do Direito como literatura já trouxe à tona acirradas disputas doutrinárias 
nos Estados Unidos. Nem todos os autores que se dedicaram à análise do tema são 
simpáticos à idéia de que o estudo hermenêutico da Literatura possa trazer novas luzes 
à interpretação do Direito. Esta parece ser a opinião de Richard Posner, ao afi rmar19:
I don’t think immersion in literature on legal themes or in techniques of literary 
criticism or literary history will transform people’s view of law or justice or society. 
I don’t think the movement has a revolutionary or transformative potential. I don’t 
think for example that law and literature represents a last humanistic stand against 
the engulfment of law by social sciences and by massive law fi rms.
James Boyd White, por seu turno, é bem menos radical em sua abordagem do 
tema, e se pergunta em que medida o Direito pode se assemelhar (se benefi ciar) da 
Literatura20:
To some, it may sound odd even to suggest that meaningful connections could be 
drawn between two such diff erent things as law and literature. ‘How can literature 
have anything to say to lawyers’, such a one might ask, ‘when literature is inherently 
about the expression of individual feelings and perceptions, to be tested by the criteria 
of authenticity and aesthetics, while law is about the exercise of political power, to be 
tested by the criteria of rationality and justice?’ To reduce the law to its merely literary 
aspect would seem to erase the dimensions of politics, authority, responsibility, and 
power — the whole sense that the law is about real consequences — and to substitute 
for it a kind of empty aestheticism, a celebration of style over substance. Is this what 
those who speak of ‘law and literature’ wish to do?
Já Ronald Dworkin, em seu famoso ensaio “De que Maneira o Direito se Assemelha 
à Literatura”21, assim inicia sua compreensão do tema, de maneira incisiva, como lhe é 
típico:
Sustentarei que a prática jurídica é um exercício de interpretação não apenas 
quando os juristas interpretam documentos ou leis específi cas, mas de modo 
geral. O Direito, assim concebido, é profunda e inteiramente político. Juristas 
e juízes não podem evitar a política no sentido amplo da teoria política. Mas o 
Direito não é uma questão de política pessoal ou partidária, e uma crítica do 
Direito que não compreenda essa diferença fornecerá uma compreensão pobre 
e uma orientação mais pobre ainda. Proponho que podemos melhorar nossa 
compreensão do Direito comparando a interpretação jurídica com a interpre-
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 28
22 DWORKIN, Ronald. Interpretação e 
Objetividade. Uma Questão de Princí-
pios. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 
P. 264.
23 DWORKIN, Ronald. De que Maneira o 
Direito se Assemelha à Literatura. Uma 
Questão de Princípios. São Paulo: 
Martins Fontes, 2000. Pp. 223-224.
tação em outros campos do conhecimento, especialmente a literatura. Também 
suponho que o Direito, sendo mais bem compreendido, propiciará um entendi-
mento melhor do que é interpretação em geral.
Pretendemos nos ater a duas questões apresentadas por Dworkin, que nos parecem 
ser as mais relevantes na compreensão do tema: a forma precisa de se ler um texto e o 
Direito como um romance em cadeia. Trataremos, ainda, de uma terceira questão de 
que Dworkin não trata especifi camente, mas que pode ser inferida de seus outros pos-
tulados: a multiplicidade de interpretações possíveis.
a. A forma precisa de se ler um texto
A forma precisa de se ler um texto (ou de se analisar uma obra) é, na verdade, ques-
tão central na compreensão da arte de maneira geral e, especialmente, da Literatura. 
Em primeiro lugar, há que se saber o campo por onde a interpretação deverá se espraiar. 
Evidentemente que a interpretação somente será relevante na medida em que contribua 
para a compreensão da obra literária ou do texto jurídico. Se a interpretação proposta 
não faz qualquer diferença para o valor de uma obra de arte (ou para a efi cácia de uma 
norma jurídica), então simplesmente não faz sentido cogitá-la.
Dworkin dá, a respeito do tema, o seguinte exemplo22:
Alguém poderia pensar, por exemplo, que a velha questão de se Hamlet e 
Ofélia eram amantes não tem resposta porque nenhuma das respostas teria liga-
ção com nenhum critério de valor no teatro. A peça não poderia ser mais bem 
interpretada de uma maneira do que de outra. Quase nenhuma teoria da arte 
teria essa conseqüência para algumas questões — se Hamlet dormia de lado, por 
exemplo. Mas algumas a teriam, para a maior parte das questões que os críticos 
discutem, e essas teorias forneceriam descrições muito céticas da interpretação.
Além disso, outro aspecto relevante deve ser mencionado. O público e a crítica 
frequentemente se frustram em razão de expectativas equivocadas. Não se pode esperar 
encontrar em uma comédia romântica as questões metafísicas que permeiam os fi lmes 
de Ingmar Bergman, sob pena de se decepcionar profundamente. Neste caso, no entan-to, não se pode discutir — a priori — a qualidade da obra em si mesma (se o fi lme era 
bom ou ruim), mas sim uma questão anterior: o olhar do espectador, que esperava da 
obra algo que ela não poderia lhe dar.
Dworkin apresenta a matéria de maneira elucidativa, ao tratar da hipótese estética23:
Um estilo interpretativo também será sensível às opiniões do intérprete a 
respeito da coerência ou integridade na arte. Uma interpretação não pode tornar 
uma obra de arte superior se trata grande parte do texto como irrelevante, ou 
boa parte dos incidentes como acidentais, ou boa parte do tropo ou do estilo 
como desarticulado e respondendo apenas a padrões autônomos das belas-letras. 
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 29
24 DWORKIN, Ronald. De que Maneira o 
Direito se Assemelha à Literatura. Uma 
Questão de Princípios. São Paulo: 
Martins Fontes, 2000. P. 226.
25 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito 
Constitucional e Teoria da Consti-
tuição. Coimbra: Almedina. Pp. 1189-
1190.
Portanto, não decorre da hipótese estética que, como um romance fi losófi co é 
esteticamente mais valioso que uma história de mistério, um romance de Agatha 
Christie seja na verdade um tratado sobre o signifi cado da morte. Essa interpre-
tação falha não apenas porque um livro de Agatha Christie, considerado como um 
tratado sobre a morte, seja um tratado pobre, menos valioso que um bom texto de 
mistério, mas porque a interpretação faz do romance um desastre. Todas as frases, 
exceto uma ou duas, seriam irrelevantes para o tema suposto, e a organização, 
o estilo e as fi guras seriam adequadas não a um romance fi losófi co, mas a um 
gênero inteiramente diferente. (grifamos)
É lógico que o que de mais importante se pode aferir a partir das considerações de 
Dworkin é que a interpretação (de um texto) só será verdadeiramente efi ciente se o lei-
tor souber identifi car qual a melhor maneira de encará-la. Como afi rma Dworkin, “[a]
mbos os tipos de convicções fi guram no julgamento de que uma certa maneira de ler um texto 
torna-o melhor do que outra”24.
É sempre a melhor maneira de ler um texto que se deve buscar quando se interpreta 
a norma jurídica. Este conceito já parece assentado, especialmente no que diz respeito 
à interpretação das normas diante da Constituição. Afi nal, o princípio da interpretação 
conforme a Constituição parece-nos corolário da busca da leitura mais adequada de um 
texto, no caso, legal.
O clássico autor J. J. Gomes Canotilho25 discorre com clareza a respeito do princípio 
da interpretação das leis em conformidade com a Constituição:
É fundamentalmente um princípio de controlo (tem como função assegurar 
a constitucionalidade da interpretação) e ganha relevância autónoma quando a 
utilização dos vários elementos interpretativos não permite a obtenção de um 
sentido inequívoco dentre os vários signifi cados da norma. Daí a sua formulação 
básica: no caso de normas polissémicas ou plurisignifi cativas deve dar-se prefe-
rência à interpretação que lhe dê um sentido em conformidade com a constitui-
ção. Esta formulação comporta várias dimensões: (1) o princípio da prevalência 
da constituição impõe que, dentre as várias possibilidades de interpretação, só 
deve escolher-se uma interpretação não contrária ao texto e programa da norma 
ou normas constitucionais; (2) o princípio da conservação de normas afi rma que 
uma norma não deve ser declarada inconstitucional quando, observados os fi ns 
da norma, ela pode ser interpretada em conformidade com a constituição; (3) 
o princípio da exclusão da interpretação conforme a constituição mas ‘contra legem’ 
impõe que o aplicador de uma norma não pode contrariar a letra e o sentido des-
sa norma através de uma interpretação conforme a constituição, mesmo através 
desta interpretação consiga uma concordância entre a norma infraconstitucional 
e as normas constitucionais. Quando estiverem em causa duas ou mais interpre-
tações — todas em conformidade com a Constituição — deverá procurar-se a 
interpretação considerada como a melhor orientada para a Constituição. (grifos 
do autor)
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 30
26 DWORKIN, Ronald. De que Maneira o 
Direito se Assemelha à Literatura. Uma 
Questão de Princípios. São Paulo: 
Martins Fontes, 2000. Pp. 235-236.
27 Alguns romances foram efetivamente 
construídos valendo-se desse artifício. 
Agatha Christie participou de dois de-
les, pelo menos: “A Morte do Almirante” 
e “Um Cadáver Atrás do Biombo”. No 
Brasil, há o clássico exemplo de “O Mis-
tério dos MMM”. 
Torna-se evidente, a partir da leitura do texto do constitucionalista português, que 
o que ele propõe sistematicamente como interpretação constitucional é o paralelo jurí-
dico (já aplicado, na prática, no Brasil) à teoria de interpretação literária de Dworkin.
Dworkin cita, por exemplo, o fato de que “alguns livros oferecidos originalmente ao 
público como textos de mistério ou de suspense (e considerados assim por seus autores) 
foram ‘reinterpretados’ como algo mais ambicioso”. Isso prova que a obra, uma vez 
criada, desprende-se de seu criador e de sua vontade para seguir rumo autônomo. Será 
a sociedade, a crítica, o intérprete, afi nal, que defi nirá sua verdadeira qualidade (sua 
função social).
Nesse sentido, claro está que a forma precisa de se ler um texto, buscando-se extrair 
dele a melhor perspectiva que poderá oferecer, é questão central na interpretação literá-
ria, bem como na análise de textos legais, inclusive legislativos.
b. O Direito como romance em cadeia
Dworkin propõe o seguinte exercício26: supor que determinado grupo de romancis-
tas seja contratado para um certo projeto que consiste em que cada um dos romancistas 
escreva, a seu turno e conforme sorteio preliminar, capítulos que integrarão um único 
romance27.
Dessa forma, o primeiro autor terá plena liberdade de escolha quanto aos persona-
gens, à época em que a história se passa e ao desenvolvimento do enredo. Os roman-
cistas que o seguirem, entretanto, terão a dupla função de interpretar o que foi escrito 
antes dele e o de criar seu próprio capítulo, a partir dessa interpretação.
Dessa forma, Dworkin sustenta que esse exercício literário seria útil na compreensão 
de como o juiz deve decidir casos difíceis. Prossegue:
A similaridade é mais evidente quando os juízes examinam e decidem casos 
do Common Law, isto é, quando nenhuma lei ocupa posição central na questão 
jurídica e o argumento gira em torno de quais regras os princípios de Direito 
“subjazem” a decisões de outros juízes, no passado, sobre matéria semelhante. 
Cada juiz, então, é como um romancista na corrente. Ele deve ler tudo o que ou-
tros juízes escreveram no passado, não apenas para descobrir o que disseram, ou 
seu estado de espírito quando o disseram, mas para chegar a uma opinião sobre 
o que esses juízes fi zeram coletivamente, da maneira como cada um de nossos 
romancistas formou uma opinião sobre o romance coletivo escrito até então. 
Qualquer juiz obrigado a decidir uma demanda descobrirá, se olhar nos livros 
adequados, registros de muitos casos plausivelmente similares, decididos há dé-
cadas ou mesmo séculos por muitos outros juízes, de estilos e fi losofi as judiciais 
e políticas diferentes, em períodos nos quais o processo e as convenções judiciais 
eram diferentes. Ao decidir o novo caso, cada juiz deve considerar-se como par-
ceiro de um complexo empreendimento em cadeia, do qual essas inúmeras de-
cisões, estruturas, convenções e práticas são a história; é seu trabalho continuar 
essa história no futuro por meio do que ele faz agora. Ele deve interpretar o que 
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 31
aconteceu antes porque tem a responsabilidade de levar adiante a incumbência 
que tem em mãos e não partir em alguma nova direção. Portanto, deve deter-
minar, segundo seu próprio julgamento, o motivo das decisões anteriores,qual 
realmente é, tomado como um todo, o propósito ou o tema da prática até então.
Como bem observa o autor, a prática é muito mais plausível nos países integrantes 
do sistema do common law, onde a jurisprudência, através dos precedentes, exerce fun-
ção coercitiva muito mais forte do que nos países do sistema romano-germânico.
Ainda assim, é evidente que a análise proposta é útil aos países em que vige o siste-
ma romano-germânico. Ao se compreender os precedentes judiciais, uma vez lidos os 
autores clássicos, muito mais substancialmente se poderá adicionar elos suplementares 
à corrente interpretativa que vinha se formando até então. O papel do juiz, ou do in-
térprete em geral, será muito mais responsável na medida em que ele conhece a história 
jurídica até aquele momento, quando terá a oportunidade de escrever, ele próprio, mais 
um capítulo.
c. O Direito como múltiplas possibilidades de interpretação
Assim como um texto literário pode ser interpretado de diversas maneiras distintas, 
também a norma jurídica muitas vezes poderá apresentar múltiplas possibilidades in-
terpretativas.
Sempre que isso for possível, o intérprete deverá optar pela interpretação que fi zer 
com que a lei cumpra mais efi cazmente sua função social. De toda forma, é fundamen-
tal que reste claro que não é por haver entendimento consolidado em determinado 
sentido que o intérprete deve se abster de buscar novos entendimentos. Antes, sempre 
que os entendimentos forem efetivamente consolidados, talvez seja a oportunidade de 
se avançar um pouco mais na escrita infi nita da interpretação normativa.
É função inafastável do intérprete buscar novas soluções para os problemas que se 
apresentam na sociedade, sob pena de manter estagnados velhos padrões que não se 
ajustam mais às demandas contemporâneas. Se isso puder ser feito a partir de novas 
interpretações de diplomas legais existentes, tanto melhor.
d. Édipo Rei
O Direito sempre foi tema caro à literatura. Uma vez que o Direito trata, entre ou-
tras questões, de moral, de ética, de relações intersubjetivas e da conduta humana em 
geral, nada mais natural que a Literatura tenha demonstrado, desde seus primórdios, 
interesse por questões jurídicas ou análogas ao Direito.
São inúmeros os exemplos que podemos apontar de obras literárias que tratam de 
temas jurídicos. Embora haja exemplos ainda mais antigos de textos literários que nar-
ram procedimentos jurídicos, tais como “O Livro dos Mortos” (que descreve uma cena 
de julgamento), “A Ilíada” (também com uma breve cena de julgamento) e “A Odis-
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 32
28 Exemplos conferidos por Richard A. 
Posner em “Remarks on Law and Litera-
ture”, in Loyola University Chicago Law 
Journal — Vol. 23, P. 190.
29 Oedipus signifi ca originalmente “pé 
inchado”, ou “pé machucado”, em razão 
do estado do pé de Édipo, ainda criança, 
quando encontrado na fl oresta.
30 A esfi nge havia sitiado Tebas des-
truindo qualquer pessoa que tentasse 
entrar ou sair da cidade. O mito não 
explica como Laio saiu para ser morto, 
do lado de fora da cidade, por Édipo. 
É conhecido de todos o enigma que a 
Esfi nge propunha a cada pessoa que se 
atrevesse a desafi á-la — que animal 
anda com quatro patas pela manhã, 
com duas pela tarde e com três pela 
noite. Evidentemente, tratava-se do 
ser humano.
31 Tradução para o Inglês não creditada. 
Edição escolar em brochura.
séia” (sobre vingança, antes de haver um sistema jurídico organizado)28, “Édipo Rei” 
tornou-se célebre em razão da temática desenvolvida e seu aproveitamento em teorias 
psicanalíticas.
Como se sabe, o teatro grego clássico se fundava sobre três pilares: a unidade de 
ação, a unidade de tempo e a unidade de espaço. Dessa forma, as peças gregas antigas 
versavam sobre um único curso de acontecimentos, sem tramas paralelas, em um único 
momento e em um único lugar. Assim é que a peça de Sófocles trata da busca empre-
endida por Édipo para descobrir o assassino do Rei de Tebas, Laio, que deixou viúva a 
rainha da cidade, Jocasta.
Quando a peça se inicia, já são de conhecimento dos espectadores todos os aconte-
cimentos ocorridos antes daquele momento. Afi nal, as peças gregas versavam, em sua 
maioria, a respeito de mitos do imaginário popular daquela época, por todos conhecidos.
Por isso, antes de o primeiro ator entrar em cena, já se sabe o que ocorreu: o orácu-
lo de Delfos profetizou, anos antes, que em Tebas nasceria um herdeiro do trono que 
mataria o pai e desposaria a mãe. Horrorizado com a profecia, com o nascimento de 
seu fi lho, Laio manda matá-lo para que os terríveis acontecimentos não se concretizem.
Ocorre que o serviçal enviado para matar o fi lho do Rei na fl oresta não cumpre com 
a missão por piedade. A criança é dada a um pastor de Corinto que para lá conduz a 
criança, onde é adotada pelos reis locais e onde passa a viver.
Anos se passam até que a criança, então chamada Édipo29, fi ca sabendo, ao consultar 
ele próprio o Oráculo de Delfos, que seria protagonista da terrível profecia. Por esse mo-
tivo, e por não saber ter sido adotado, foge de Corinto a fi m de evitar que seu destino 
se concretize. Ironicamente, ao se afastar de Corinto, envolve-se em uma luta de rua em 
que mata, entre outras pessoas, o rei de Tebas, Laio, seu pai biológico, sem que tenha 
conhecimento deste fato.
A seguir, Édipo consegue destruir a esfi nge30 que sitiara a cidade de Tebas, e em razão 
disso entra na cidade como herói. Nada mais razoável a um herói do que desposar a 
rainha local, recém-viúva, sendo a identidade do assassino de seu marido desconhecida 
de todos. E é assim que Édipo se casa com sua própria mãe, Jocasta, cumprindo, por 
fi m, os funestos presságios.
Passados alguns anos, os deuses decidem punir Tebas — ou assim, pelo menos, pa-
rece aos seus habitantes — e Édipo passa a buscar o autor do crime que tirou a vida de 
Laio de modo a aplacar a ira dos deuses — acredita que a descoberta do autor do crime 
trará prosperidade de novo à cidade onde vive. Não sabe, entretanto, buscar a si mes-
mo. É nessa busca — que consome quase que a totalidade da peça — que vemos Édipo 
exercer uma função quase detetivesca que nos lembra um inquérito policial.
Édipo é investido no cargo de investigador naturalmente em razão de sua impor-
tância política, mas também a partir dos apelos de um representante de Zeus, o que 
parece dar uma certa legitimidade à condução de suas funções. Em nome da população 
de Tebas, que sofre com a praga que se abateu sobre a cidade, assim se pronuncia o 
representante divino31:
PORTUGUÊS JURÍDICO
FGV DIREITO RIO 33
32 Refere-se, naturalmente, à destrui-
ção da Esfi nge por Édipo.
33 Curiosamente, há evidências de que 
Jocasta sabe exatamente o que está 
acontecendo ou, ao menos, passa a 
ter a noção exata dos eventos no correr 
da peça. Em pelo menos um diálogo, 
Jocasta demonstra estar seriamente 
preocupada com as consequências das 
investigações de Édipo, tanto para ele 
quanto para ela própria. Tenta dissu-
adi-lo de sua empreitada de descobrir 
a verdade, o que seria um indício de 
que deseja conscientemente evitar que 
Édipo perceba onde sua investigação 
particular poderá levá-lo:
Édipo: How can you say that when 
the clues to my true birth are in my 
hands?
Jocasta: For god’s love! Let us have 
no more questioning! Is your life 
nothing to you? My own is in pain 
enough for me to bear.
Édipo: You need not worry. Suppose 
my mother a slave, and borne of sla-
ves: no baseness can touch you.
Jocasta: Listen to me: I beg you, do 
not do this thing!
Édipo: I will not listen; the truth 
must be made known.
Jocasta: Everything I say is for your 
own good!
Édipo: My own good snaps my pa-
tience, then; I want none of it.
Jocasta: You are fatally wrong! May 
you never learn who you are!
34 A decisão de tornar-se

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