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TRANSTORNOS BIPOLARES

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1 MARIANA SANTOS 
TRANSTORNOS BIPOLARES 
TRANSTORNOS BIPOLARES 
O transtorno bipolar implica episódios de humor em que o pensamento, as emoções e o comportamento de uma pessoa alteram-se visivelmente durante um 
período considerável, o que afeta o cotidiano. Por vezes, a pessoa poderá ter apenas alguns sintomas em vez de um episódio propriamente dito. Pessoas com 
transtorno bipolar podem experienciar estados de mania, hipomania ou estados mistos. A maioria das pessoas experiência também depressão até certo nível. 
Episódio maníaco: A mania envolve humor excessivamente feliz, exaltado ou irritado e pelo menos três ou quatro dos seguintes sintomas: 
 Confiança excessiva ou sentimento de importância aumentada (grandiosidade); 
 Pouca necessidade de dormir, ou dormir muito menos que o habitual; 
 Fala-se mais que o habitual; 
 Distrai-se facilmente (perda de concentração); 
 Aumento de atividades dirigidas por objetivos (por exemplo, no trabalho e na vida social ou sexual) ou desassossego e agitação; 
 Fazem-se várias atividades estimulantes, mas com elevado risco de consequências negativas (como excesso de compras, de apostas ou desinibição 
sexual); 
 Fuga de ideias. 
Um episódio de mania ocorre quando: A pessoa está em fase maníaca há pelo menos uma semana ou necessita de hospitalização; Esses sintomas desestabilizam 
o trabalho, as relações ou o cotidiano da pessoa. Podem ocorrer sintomas psicóticos, como alucinações (quando se percebem coisas que não estão realmente lá), 
delírios (fortes convicções que não estão baseadas na realidade) ou pensamentos desorganizados e confusos. 
Episódio hipomaníaco - ocorre quando: 
 A pessoa tem sintomas semelhantes aos de mania, mas estes são mais leves e não condicionam tanto suas atividades cotidianas; 
 Não existem sintomas psicóticos e a pessoa não necessita ser hospitalizada; 
 Os sintomas duram há pelo menos quatro dias; 
 Os sintomas são perceptíveis a outras pessoas. 
Episódio depressivo: ocorre quando, há pelo menos duas semanas, a pessoa está com humor deprimido (tristeza e sensação de vazio) ou tem perda de interesse 
ou prazer na maior parte do tempo, bem como pelo menos quatro dos seguintes sintomas: 
 Falta de energia ou cansaço; 
 Estar perceptivelmente mais lento ou muito mais agitado e incapaz de se acalmar; 
 Alterações perceptíveis de apetite e de peso; 
 Problemas de sono (por exemplo, dormir demais ou não conseguir adormecer); 
 Sentimentos de inutilidade e de excesso de culpa; 
 Dificuldade de concentração, de pensamento ou de tomada de decisões; 
 Pensamentos recorrentes de suicídio ou morte. 
Episódio misto: ocorre quando a pessoa tem sintomas tanto de mania quanto de depressão, simultaneamente, durante pelo menos uma semana. Os sintomas 
causam uma desestabilização significativa no cotidiano dela, podendo ser necessária a hospitalização. Por exemplo, podem-se vivenciar alterações de humor 
rápidas (feliz, triste e irritável), estar inquieto, irritado, incapaz de dormir, além de ter sentimento de culpa e vontade de suicidar-se. 
 
Diferentes tipos de transtorno bipolar 
 Transtorno bipolar do tipo I: inclui um ou mais episódios de mania ou episódios mistos. A maioria das pessoas também tem sintomas depressivos. 
 Transtorno bipolar do tipo II: inclui pelo menos um episódio de hipomania e um episódio de depressão. NÃO TEM MANIA. 
 Ciclotimia: inclui hipomania e sintomas depressivos leves (não propriamente um episódio de depressão) que são experienciados, na maioria dos casos, 
em um período de pelo menos dois anos. 
 
2 MARIANA SANTOS 
Etiologia 
A predisposição genética ao transtorno bipolar ficou evidente a partir de estudos familiares; a taxa de concordância em gêmeos monozigotos se aproxima de 80%. 
Até o momento, foram identificados diversos genes de risco que se sobrepõem aos que proporcionam risco para outros transtornos psiquiátricos, como 
esquizofrenia e autismo, implicando algum grau de fisiopatologia compartilhada. Os loci replicados incluem a subunidade alfa do canal de cálcio tipo L (CACNA1C), 
a proteína transmembrana teneurina 4 (ODZ4), ancrina 3 (ANK3), neurocana (NCAN) e repetição de tetratricopeptídeo e repetição de anquirina contendo 1 
(TRANK1). Não foi identificado nenhum biomarcador definido, porém há evidências de uma desregulação do ritmo circadiano e estresse oxidativo e 
anormalidades mitocondriais e do retículo endoplasmático. 
Fisiopatologia 
A fisiopatologia do transtorno bipolar ainda está sendo esclarecida; entretanto, os estudos conduzidos demonstraram alterações tanto estruturais quanto 
funcionais em indivíduos com o transtorno. As evidências estruturais de estudos de imagem do cérebro mostram uma redução dos neurônios e das células gliais 
em áreas como o córtex pré-frontal, a amígdala e regiões do estriado, bem como hiperintensidade da substância branca. Os estudos de tomografia por emissão 
de pósitrons (PET) sugerem a presença de anormalidades serotoninérgicas caracterizadas por menor número de transportadores de serotonina e maior 
quantidade de receptores de serotonina 1a. Outros neurotransmissores relevantes incluem a dopamina e o glutamato. Por exemplo, os fármacos que aumentam 
a liberação de dopamina, como as anfetaminas, podem induzir sintomas de tipo maníaco. De modo semelhante, a recaptação diminuída de dopamina e a redução 
na disponibilidade de transportadores de dopamina estão associadas ao transtorno bipolar. Além disso, o aumento dos níveis corticais de glutamato e a 
expressão do gene do transportador de glutamato vesicular também estão implicados na neurobiologia do transtorno bipolar. 
Alterações neuroquímicas no transtorno bipolar: Muitos estudos sugerem que a dopamina tem papel fundamental no TB, pois foi observado seu aumento em 
pacientes durante episódios de mania. A administração de d-anfetamina, por exemplo, uma droga estimulante que induz aumento dos níveis de dopamina na 
fenda sináptica, pode induzir sintomas semelhantes à mania em indivíduos saudáveis, assim como induzir episódios maníacos em pacientes bipolares. Além da 
dopamina, níveis aumentados de glutamato + glutamina foram descritos em regiões do córtex pré-frontal de pacientes bipolares in vivo, sugerindo aumento da 
neurotransmissão glutamatérgica no transtorno. Além disso, estudos post mortem também sugerem aumento do turnover de noradrenalina em áreas corticais 
e talâmicas de pacientes bipolares, enquanto estudos in vivo relatam níveis aumentados de noradrenalina e de seu principal metabólito. De fato, uma hipótese 
recente sugere que a depressão bipolar esteja associada a aumento da função colinérgica, e a mania, a aumento da função das catecolaminas (dopamina e 
noradrenalina). 
Resiliência celular e plasticidade: Várias evidências têm demonstrado a presença de alterações neuroanatômicas em pacientes com TB, como a redução da massa 
cinzenta no córtex préfrontal dorsolateral e o alargamento dos ventrículos laterais, bem como uma possível relação dessas alterações com prejuízos cognitivos 
e funcionais. Estudos recentes têm sugerido que a fisiopatologia do TB envolve prejuízos na resiliência celular, a qual pode ser definida como a habilidade das 
células de se adaptar e sobreviver ante diferentes estímulos de dano. Alguns tipos celulares, por exemplo, podem modular a comunicação com outras células de 
acordo com esses estímulos, o que chamamos de plasticidade celular, ou neuroplasticidade, quando se refere aos neurônios. É por meio desse processo que os 
neurônios restabelecem ou formam conexões sinápticas diante de condições específicas, permitindo ao sistema nervoso central mudar e adaptar-se tanto durante 
o desenvolvimento neural quanto em situações novas ao longo da vida adulta (como na adaptação a lesões e eventos estressores). Evidências têm indicado que 
alterações em diversas vias de sinalização intracelular podem afetar a resiliência celular e a neuroplasticidade no TB pormeio de mecanismos envolvendo 
neurotransmissores, glicocorticoides, fatores neurotróficos e sinalização pelo cálcio. As células de pacientes com TB apresentam menor resiliência, possivelmente 
ativando vias de morte celular. Assim, sugere-se que prejuízos em neuroplasticidade podem levar ao encolhimento de estruturas do cérebro de pacientes devido 
a redução no número ou na complexidade das conexões neurais. 
Estresse do reticulo endoplasmático: Estudos têm sugerido o envolvimento de disfunções no RE na fisiopatologia do TB com base em achados que mostram que 
os pacientes apresentam alterações na chamada “resposta a proteínas mal enoveladas”, na qual as células ativam mecanismos de proteção para restaurar a 
homeostase após o acúmulo de proteínas no lúmen do RE. Nesse contexto, tem sido demonstrado que células de pacientes com TB apresentam prejuízos na 
indução da UPR em decorrência do estresse do RE, o que poderia culminar com a ativação de vias apoptóticas. 
Disfunção mitocondrial e estresse crônico: Entre as alterações mitocondriais encontradas em pacientes destacam-se o metabolismo energético debilitado, níveis 
alterados de cálcio intracelular, alterações nos complexos da cadeia respiratória e regulação diferencial de genes associados com a mitocôndria , assim como 
alterações no formato e na distribuição dessas organelas. Essas alterações podem estar relacionadas aos efeitos da exposição crônica ao estresse, o qual é, com 
frequência, associado com a fisiopatologia do TB. O eixo do estresse, comumente conhecido como eixo hipotálamo-hipófisesuprarrenal (HHA), está comprometido 
em pacientes com transtornos do humor, os quais suprimem de forma ineficiente a liberação de cortisol em resposta ao teste de supressão com dexametasona e 
apresentam níveis séricos de cortisol aumentados, independentemente da fase da doença. Tal deficiência no eixo HHA em regular os níveis de cortisol circulantes, 
levando a seu aumento exagerado durante o estresse, pode ter importantes consequências a longo prazo aos pacientes, uma vez que os glicocorticoides têm 
papéis fundamentais na interação entre mediadores alostáticos e sistemas de neurotransmissores/peptídeos cerebrais. 
Neurotrofinas: As neurotrofinas compreendem uma classe de proteínas altamente abundantes no sistema nervoso, com funções fundamentais na sobrevivência, 
no crescimento e na plasticidade das células neuronais. O BDNF é a neurotrofina em maior quantidade no cérebro de mamíferos adultos e é fundamental para a 
neuroplasticidade e para os mecanismos de ação dos medicamentos utilizados no tratamento do TB. Níveis séricos de BDNF foram inicialmente descritos como 
reduzidos em pacientes em episódios agudos de mania e depressão. Assim, sugere-se que a progressão do TB esteja associada a um déficit em mecanismos de 
neuroplasticidade, o que pode, pelo menos em parte, explicar a redução na resposta ao tratamento e o maior prejuízo cognitivo observado em pacientes com 
maior número de episódio. 
Estresse oxidativo: O termo estresse oxidativo se refere a um desequilíbrio entre a produção de espécies reativas e as defesas antioxidantes ou, ainda, a um 
distúrbio no equilíbrio entre pró-oxidantes e antioxidantes na direção dos primeiros, levando a dano oxidativo. O dano oxidativo a biomoléculas, como lipídeos, 
proteínas e DNA, pode comprometer a função celular de diferentes maneiras, o que justifica a relevância de tais mecanismos em diversas patologias. No caso do 
TB, uma série de evidências sugere importante papel do estresse oxidativo em sua fisiopatologia. 
 
3 MARIANA SANTOS 
Inflamação: O número de estudos envolvendo o papel da inflamação no TB tem aumentado substancialmente nos últimos anos. Entre os marcadores inflamatórios 
avaliados, destacam-se as citocinas (proteínas responsáveis pela comunicação intercelular no sistema imune). Essas moléculas podem atuar em processos 
neurais, como plasticidade sináptica, e, muitas vezes, também causar toxicidade e apoptose em neurônios e células da glia. Dados mais consistentes sugerem 
aumento nos níveis de interleucina (IL)-6 e do fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) durante a mania e a depressão. 
Manifestações clinicas 
A característica que distingue o transtorno bipolar é a presença de um episódio maníaco ou hipomaníaco de 1 semana ou mais de duração (a duração pode ser 
menor para a hipomania). À semelhança dos transtornos depressivos, ocorre prejuízo nos domínios afetivo, cognitivo, psicomotor e comportamental. 
A mania, cuja duração mínima é de 1 semana, caracteriza-se por humor anormalmente elevado e eufórico. Assim como na depressão, podem ocorrer também 
irritabilidade significativa e raiva, particularmente quando o paciente se sente frustrado. Com frequência, os pacientes parecem estar exageradamente animados 
e alegres. 
As anormalidades cognitivas incluem pensamentos rápidos ou até mesmo acelerados, que podem se traduzir em fala rápida e pressionada, que pode se tornar 
cada vez mais desorganizada à medida que a gravidade da mania progride. Quando os pensamentos tornam-se desorganizados, a fala pode exibir fuga de ideias 
ou perda das associações. Além disso, os pacientes ficam facilmente distraídos e têm dificuldade em executar tarefas que exigem concentração. Com frequência, 
também exibem prejuízo na capacidade de julgamento e envolvem-se em atividades que normalmente evitariam se estivessem bem. Os pacientes podem 
passar a gastar excessivamente, envolver-se em comportamentos sexuais promíscuos ou tomar decisões perigosas nos negócios. Com frequência, as distorções 
cognitivas incluem autoestima inflada e ideias de grandiosidade, como sentimento de ser especial, capaz de realizar qualquer coisa ou possuir poderes especiais. 
À semelhança da depressão, as distorções cognitivas podem passar do limite, transformando-se em pensamento delirante ou psicótico. Os delírios de 
grandiosidade constituem uma característica psicótica comum na mania. 
Quanto ao comportamento, os pacientes maníacos habitualmente são hiperativos, com aumento do nível de energia, e envolvem-se em múltiplas atividades. Nos 
casos típicos, o número de horas de sono é reduzido, sem a sensação de fadiga ou sonolência. De fato, a insônia frequentemente constitui o primeiro sinal 
reconhecível de um episódio maníaco. O apetite habitualmente está reduzido e, quando associado a aumento da atividade, pode levar à perda de peso 
significativa. Classicamente, os pacientes maníacos se vestem com cores vivas, usam maquiagem em excesso ou roupas extravagantes. Os movimentos são 
exagerados ou teatrais, e podem demonstrar excessiva familiaridade com pessoas estranhas. 
Quanto ao nível psicomotor, os pacientes maníacos frequentemente exibem aumento da atividade psicomotora. Envolvem-se em atividades dirigidas a objetivos 
em ritmo acelerado, ou são hiperativos de modo geral, com inquietação ou andando de um lado a outro. 
A entrevista pode ser muito difícil, visto que a psicopatologia maníaca tende a bloquear a comunicação. Em geral, é contraproducente para o médico gastar tempo 
argumentando com o pensamento ilógico do paciente. O insight está ausente em praticamente todos os casos, e, por conseguinte, os pacientes tipicamente fazem 
objeção ao tratamento. 
A hipomania possui uma apresentação clínica semelhante, porém pode ser de menor duração, causa menos prejuízo funcional e não apresenta sintomas 
psicóticos. 
Embora a presença de episódios maníacos ou hipomaníacos possa diferenciar o transtorno bipolar do transtorno depressivo, a depressão é proeminente no 
transtorno bipolar. De fato, durante o curso do transtorno, a maioria dos pacientes bipolares passam significativamente mais tempo deprimidos do que maníacos 
ou hipomaníacos. Em geral, a depressão bipolar tem início mais precoce, maior risco de comportamento suicida, com tendência a maior duração do episódio 
depressivo e mais episódios da doença. 
TABELA 444-8 ■ Critérios para episódio maníaco 
A. Um períododistinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a 
objetivos ou da energia, com duração mínima de uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração, se a 
hospitalização se fizer necessária). 
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas 
irritável) estão presentes em grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual: 
1.Autoestima inflada ou grandiosidade. 
2.Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas três horas de sono). 
3.Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando. 
4.Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados. 
5.Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado. 
6.Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou na escola, seja sexualmente) ou agitação psicomotora (i.e., atividade 
sem propósito não dirigida a objetivos). 
7.Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de 
compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos). 
C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de 
hospitalização a fim de prevenir dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou existem características psicóticas. 
D.O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra condição 
médica. Nota: Um episódio maníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que 
persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um episódio maníaco e, portanto, para 
um diagnóstico de transtorno bipolar tipo I. Nota: Os Critérios A-D representam um episódio maníaco. Pelo menos um episódio maníaco na vida é 
necessário para o diagnóstico de transtorno bipolar tipo I. 
Fonte: DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 
Diagnostico 
 Boa anamnese – observar os critérios acima. 
 Níveis de tiroxina (T4) e hormônio tireoestimulante (TSH) para excluir hipertireoidismo 
 Exclusão de uso de fármacos estimulantes clinicamente ou por teste de sangue ou urina 
 
4 MARIANA SANTOS 
Tratamento 
O tratamento para a estabilização do humor constitui o padrão-ouro para os transtornos bipolares. Serve tanto para o controle das fases agudas da doença 
quanto para a prevenção de futuros episódios. O lítio é um poderoso antimaníaco. Obtém-se remissão em cerca de 60 a 70% dos casos, particularmente em 
pacientes com mania eufórica e episódios pouco frequentes, embora sejam necessárias várias semanas para que o lítio exerça totalmente seus benefícios 
terapêuticos. A terapia com lítio exige monitoramento regular dos níveis sanguíneos para prevenir a toxicidade, que se manifesta com níveis mais elevados e 
que podem comportar risco à vida. Os pacientes agitados e com doença clínica correm risco aumentado de toxicidade. O lítio pode causar hipotireoidismo em 10 
a 20% dos pacientes e está relativamente contraindicado na presença de doença renal. O tremor constitui um efeito colateral comum. 
Os antiepilépticos, como o valproato ou a carbamazepina, podem ser usados com resultados satisfatórios na mania disfórica ou na ciclagem rápida. Com 
frequência, são associados com o lítio. 
A estabilização do humor com antipsicóticos de segunda geração (olanzapina, quetiapina, risperidona ou lurasidona) é habitualmente mais rápida e também 
pode ser mais efetiva quando existem sintomas psicóticos. 
Os agentes sedativos também podem ser utilizados como terapia adjuvante para o rápido controle dos pacientes com agitação. 
Foi demonstrado que a lamotrigina, um antiepiléptico, impede a recorrência da depressão; entretanto, os dados relativos à sua capacidade de controlar os 
episódios maníacos ou hipomaníacos são fracos. 
No caso da depressão bipolar, o tratamento de um episódio depressivo apenas com antidepressivos está associado ao risco de ciclagem para mania ou hipomania. 
Entretanto, o tratamento agressivo da depressão é essencial no transtorno bipolar, visto que é nessa fase que ocorre o comportamento suicida. Por conseguinte, 
apesar de não ser tão dramática quanto a mania, a depressão certamente é tão perigosa, senão mais. O uso exclusivo de estabilizadores do humor é apenas efetivo 
em alguns casos. Com mais frequência, a depressão bipolar é tratada com uma associação de antidepressivos e estabilizadores do humor. Tanto a quetiapina 
quanto a lurasidona possuem efeitos antidepressivos e foram aprovadas pela U.S. Food and Drug Administration (FDA) para monoterapia na depressão bipolar. 
A recidiva maníaca pode ser espontânea, induzida por agentes terapêuticos ou induzida por substâncias. Com o uso contínuo de um estabilizador do humor, o 
risco de mania induzida por antidepressivos é de cerca de 10%. Os dados disponíveis sugerem que os antidepressivos mais recentes têm menos tendência a 
precipitar uma “ciclagem” maníaca, em comparação com os tricíclicos. 
Após o segundo episódio bipolar, independentemente da polaridade, os pacientes devem ser tratados indefinidamente, visto que a recidiva é quase certa. A meta 
do tratamento consiste em manter a eutimia e evitar episódios de depressão ou de mania. O lítio tem sido o agente profilático de escolha há décadas, porém os 
antipsicóticos estabilizadores do humor também foram aprovados para profilaxia a longo prazo. A consideração do perfil de efeitos colaterais e dos benefícios 
terapêuticos é essencial quando se efetua a escolha do tratamento. 
TABELA 444-9 ■ Farmacologia clínica dos estabilizadores do humor 
Agente e posologia Efeitos colaterais e outros efeitos 
Lítio 
Dose inicial: 300 mg 2 ou 3 vezes/dia 
Nível sanguíneo terapêutico: 0,8-1,2 mEq/L 
Efeitos colaterais comuns: Náuseas/anorexia/diarreia, tremor fino, sede, poliúria, fadiga, 
ganho de peso, acne, foliculite, neutrofilia, hipotireoidismo 
O nível sanguíneo aumenta com tiazídicos, tetraciclinas e AINEs 
O nível sanguíneo é reduzido com broncodilatadores, verapamil e inibidores da anidrase 
carbônica 
Efeitos colaterais raros: Neurotoxicidade, nefrotoxicidade, hipercalcemia, alterações no ECG 
Ácido valproico 
Dose inicial: 250 mg 3 vezes/dia 
Nível sanguíneo terapêutico: 50-125 μg/mL 
Efeitos colaterais comuns: Náuseas/anorexia, ganho de peso, sedação, tremor, rash cutâneo, 
alopécia 
Inibe o metabolismo hepático de outros medicamentos 
Efeitos colaterais raros: Pancreatite, hepatotoxicidade, síndrome de Stevens-Johnson 
Carbamazepina/oxcarbazepina 
Dose inicial: 200 mg 2 vezes/dia para a carbamazepina, 150 mg 2 
vezes/dia para a oxcarbazepina 
Efeitos colaterais comuns: Náuseas/anorexia, sedação, rash cutâneo, tontura/ataxia 
Nível sanguíneo terapêutico: 4-12 μg/mL para a carbamazepina A carbamazepina, mas não a oxcarbazepina, induz o metabolismo hepático de outros 
medicamentos 
 Efeitos colaterais raros: Hiponatremia, agranulocitose, síndrome de Stevens-Johnson 
Lamotrigina 
Dose inicial: 25 mg/dia Efeitos colaterais comuns: Rash cutâneo, tontura, cefaleia, tremor, sedação, náuseas 
 Efeitos colaterais raros: Síndrome de Stevens-Johnson 
Siglas: AINEs, anti-inflamatórios não esteroides; ECG, eletrocardiograma. 
 
Discutir as relações psicossociais dos indivíduos com essa patologia 
As oscilações de humor do indivíduo bipolar alteram sua percepção, seus pensamentos e seu comportamento, causando assim efeitos inevitáveis nas relações 
interpessoais, e há estudos mostrando queo comprometimento nos relacionamentos sociais e familiares estão presentes mesmo quando o indivíduo se encontra 
em um período estável de humor eutímico. Os mesmos autores enfatizam: “As consequências pessoais, interpessoais e sociais do transtorno, que em geral são 
 
5 MARIANA SANTOS 
graves, podem incluir suicídio, violência, alcoolismo, abuso de droga, desemprego, divórcio, negligência parental e hospitalização. Mesmo que as variáveis 
biológicas predominem na etiologia, as principais manifestações dessa doença são comportamentais e psicológicas” 
Enfatiza-se que pessoas com sofrimento psíquico enfrentam uma grande barreira, que é o estigma. Vive-se em uma cultura que discrimina e segrega o indivíduo 
com transtorno psiquiátrico. Adiciona-se que a doença mental, permeada de preconceitos e estigmas, é vista de forma negativa, o que interfere não só na pessoa 
com o transtorno, mas também na família. Reforça-se, ainda, que isso dificulta a recuperação e a reabilitação, repercutindo na qualidade de vida tanto daqueles 
que sofrem com TAB quanto na de seus familiares. 
Demonstra-se, no ponto de vista do cuidador, que o TAB inviabiliza a realização plena das atividades diárias, de forma autônoma e independente. Verificou-se, 
no que se refere à capacidade do doente mental para o trabalho, a crença na impossibilidade ou a dificuldade desse em estar preparado para exercer seu 
emprego. Reforça-se a possibilidade, mesmo com o diagnóstico de TAB, de a pessoa levar uma vida normal. Identificou-se que a diminuição da motivação, o 
isolamento e a retração social foram alguns dos sintomas citados do TAB. Observou-se, em uma fala, que a construção de um relacionamento amoroso sólido, 
devido às crises do TAB, é uma limitação. 
Referencias: Merriet, Harrison, Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar, Transtorno bipolar : teoria e clínica 
(http://www7.bahiana.edu.br/jspui/bitstream/bahiana/3478/1/ARTIGO%20-%20ANDR%C3%89%20CARIB%C3%89%20-
%202019.pdf), TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR: SENTIMENTOS, ESTIGMAS E LIMITAÇÕES (artigo) 
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/abril/01/TAB---Portaria-315-de-30-de-mar--o-de-2016.pdf 
https://www.ipqhc.org.br/files/11779GuiaBipolar1808.pdf 
http://www7.bahiana.edu.br/jspui/bitstream/bahiana/3478/1/ARTIGO%20-%20ANDR%C3%89%20CARIB%C3%89%20-%202019.pdf
http://www7.bahiana.edu.br/jspui/bitstream/bahiana/3478/1/ARTIGO%20-%20ANDR%C3%89%20CARIB%C3%89%20-%202019.pdf
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/abril/01/TAB---Portaria-315-de-30-de-mar--o-de-2016.pdf
https://www.ipqhc.org.br/files/11779GuiaBipolar1808.pdf

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