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Linhas de transmissa˜o Augusto Lassen Professora:Cilaine Veronica Teixeira 22 de Agosto de 2015 Resumo O experimento buscava medir experimentalmente a capacitaˆncia, indutaˆncia e impedaˆncia de um cabo de transmissa˜o, bem como estu- dar a natureza da propagac¸a˜o e reflexa˜o das ondas eletromagne´ticas em cabos desse tipo. Apesar da defasagem em alguns dados, num as- pecto geral o experimento mostrou sucesso, corroborando as previso˜es teo´ricas. Introduc¸a˜o As linhas de transmissa˜o sa˜o um dos exemplos do uso pra´tico proveniente do estudo do eletromagnetismo. As linhas de transmissa˜o esta˜o presentes no nosso dia-a-dia e sa˜o indispensa´veis para a sociedade moderna. Estudar suas propriedades e como as ondas eletromagne´ticas se comportam nessas linhas de transmissa˜o pode ser satisfatoriamente esclarecedor e importante. As linhas de transmissa˜o sa˜o formadas por cabos coaxiais, compostos por uma camada exterior isolante, fios(usualmente cobre) e mais uma camada de material isolante.Vemos que o cabo possui dois raios que nos interessam, que denominamos r1 e r2.Na figura 1 vemos uma representac¸a˜o de um desses cabos coaxiais exposto a um potencial V0. Figura 1: Representac¸a˜o cabo coaxial 1 Sabemos que capacitaˆncia e´ um conceito definido como a quantidade de carga que um capacitor consegue armazenar em suas duas placas dada uma certa diferenc¸a de potencial entre estas. Matematicamente, esse conceito pode ser exibido como na forma abaixo: C ≡ q V A expressa˜o pode ser adaptada para um capacitor cil´ındrico, que e´ o caso do cabo coaxial, partindo do pressuposto de que o campo ele´trico entre as placas seja dado pela equac¸a˜o 1 e que o potencial ele´trico seja definido como na expressa˜o 2: ~|E| = σ ε0 (1) Onde σ representa a densidade superficial de cargas [3] V ≡ V+ − V− = ∫ − + E.dl (2) Combinando ambas expresso˜es, obtemos que a capacitaˆncia de um capacitor cil´ındrico por unidade de comprimento pode ser dada pela expressa˜o 3: C ′ = 2piε ln( r2 r1 ) (3) Nota-se que, tendo medido o comprimento do cabo, e medindo os raios in- terno e externo do cabo, ja´ podemos medir um valor de capacitaˆncia para o cabo.Usando a lei de Biot-Savart e o fato de que que o fluxo por unidade de comprimento e´ dado por Φ = L′i onde L′ e´ a indutaˆncia por unidade de comprimento, temos a expressa˜o 4: L′ = µ0 2pi ln( r2 r1 ) (4) Constata-se que facilmente obte´m-se o valor de indutaˆncia por unidade de comprimento medindo-se os raios interno e externo do cabo coaxial. Importante notar que, uma vez que os cabos das linhas de transmissa˜o constituem dois condutores e estes transmitem pulsos ele´tricos, sabemos que ha´ transporte na˜o so´ de energia ele´trica, como magne´tica tambe´m. E´ conve- niente, portanto, representar o fio, de uma extremidade a outra, como uma sucessa˜o de capacitores e indutores, que podem ser representados por um circuito como o da figura 2. 2 Figura 2: Representac¸a˜o do circuito formado pelo cabo Como C ′ representa a capacitaˆncia por unidade de comprimento e L′ a indutaˆncia por unidade de comprimento, vemos que para um comprimento ∆x, temos uma diferenc¸a de potencial ∆V tal que: ∆V = −L′∆x∆I ∆t Quando ∆x→ 0 e ∆t→ 0 temos que: ∂V ∂x = −L′∂I ∂t (5) Que nada mais e´ do que a equac¸a˜o anterior na forma diferencial, isto e´, prevendo valores infinitamente pequenos.De maneira semelhante tem-se que ∆I∆t = q. Novamente fazendo x e t tenderem a zero, teremos que: ∂I ∂x = −C ′∂V ∂t (6) Derivando a expressa˜o 6 em relac¸a˜o a x teremos que: ∂ ∂x ( ∂I ∂x ) = −C ′ ∂ ∂x ( ∂V ∂t ) ∂2I ∂x2 = −C ′ ∂ ∂t ( ∂V ∂x ) A partir da expressa˜o 5 podemos denotar que: ∂2I ∂x2 = L′C ′ ∂2I ∂t2 (7) Que se assemelha a` equac¸a˜o da onda: ∂2Ψ(x, t) ∂x2 = 1 v2 ∂2Ψ(x, t) ∂t2 Onde Ψ(x, t) e´ uma func¸a˜o de onda qualquer. 3 Isso mostra, portanto, que a onda concernente a` propagac¸a˜o de corrente ele´trica obedece a` equac¸a˜o da onda. Se iniciarmos a operac¸a˜o efetuada acima derivando em relac¸a˜o ao tempo, obteremos resultado igual para a func¸a˜o de onda de V(x,t). Na equac¸a˜o da onda, o termo que multiplica a diferencial temporal, e´ o termo 1 v2 . Comparando a` equac¸a˜o 7, temos que: v = 1√ L′C ′ (8) Isso nos fornece a velocidade de propagac¸a˜o da onda eletromagne´tica no cabo coaxial. A corrente ele´trica e o potencial ele´trico percorrem o cabo coaxial de tal maneira que possamos representa´-los por uma func¸a˜o de x e t [3]. As func¸o˜es sa˜o tais que: V (x, t) = V0(t− x v ) I(x, t) = I0(t− x v ) Substituindo essas func¸o˜es na equac¸a˜o 5 podemos demonstrar que a relac¸a˜o abaixo e´ va´lida: V (x, t) = vL′I(x, t) Visto que a resisteˆncia interna do cabo esta´ sendo desconsiderada, a im- pedaˆncia do circuito e´ a pro´pria reataˆncia indutiva deste.Obte´m-se, portanto, as seguintes relac¸o˜es: Z = V (x, t) I(x, t) Z = vL′ = √ L′ C ′ = ln( r1 r2 ) 2piε0c (9) Em que c e´ a velocidade de propagac¸a˜o da luz no va´cuo. Como o pulso sera´ refletido, veremos que as func¸o˜es de onda representadas para o potencial e a corrente no cabo tera˜o um sentido positivo e um sentido negativo de deslocamento. Para o sentido de deslocamento negativo, temos uma alterac¸a˜o no sinal do termo x v : I− = I0(t+ x v ) V− = V0(t+ x v ) Ja´ que a onda reflete na ponta do cabo por conta de sua extremidade ser uma resisteˆncia considerada infinita, denotamos que: V (x, t) = V− + V+ = V0(t+ x v ) + V0(t− x v ) (10) 4 I(x, t) = [V0(t− xv ) + V0(t+ xv )] Z (11) Claramente podemos utilizar a expressa˜o 10 para reformular a expressa˜o 11. Fazendo a substituic¸a˜o, considerando que, ao fim do percurso x = l, e que V (l, t) = RI(l, t) tem-se que: V0(t+ l v ) = [ R− Z R + Z ]V0(t− l v ) (12) Onde R e´ a resisteˆncia de uma das extremidades do cabo. Nota-se que se R = 0 o pulso refletido sera´ o inverso do pulso anterior. Se R = ∞ vemos que o pulso refletido e´ exatamente igual ao pulso original. Materiais utilizados 1. Cabo coaxial com sa´ıda bnc 2. Oscilosco´pio de 100 MHz 3. Gerador de pulso 50 ns 4. Cabo coaxial curto para ligar o gerador ao oscilosco´pio 5. 2 ou mais jacare´s 6. Potencioˆmetro linear de 100 Ω 7. Paqu´ımetro 8. Trena 9. Mult´ımetro 10. Ponte RLC 11. T com sa´ıda bnc Procedimentos As primeiras medidas realizadas foram as necessa´rias para se obter L′ e C ′, ou seja, medir os raios interno e externo do cabo coaxial. Para isto, foi utilizado um paqu´ımetro graduado com uma incerteza de ±0, 005 cm. 5 Para medir o comprimento do cabo, o grupo utilizou-se da mesa. Com a trena (precisa˜o de 0,05 cm), medimos quanto a mesa tinha de uma extre- midade a` outra e enta˜o utilizamos esta como refereˆncia de medida para o cabo.Os valores medidos para diferentes cabos encontram-se em uma tabela situada na sec¸a˜o Ana´lise de dados. Com o mult´ımetro e os jacare´s, liga-se o cabo e realiza-se a medida de sua capacitaˆncia. Tendo a capacitaˆncia, os valores dos raios envolvidos e o comprimento do cabo, e´ poss´ıvel isolar o termo ε na equac¸a˜o 3 e descobrir seu valor atrave´s dos valores ja´ mensurados. Nota-se que ε 6= ε0, uma vez que ε0 e´ a constante de permissividade do va´cuo, que certamente na˜o corresponde ao interior do cabo. De forma parecida, e´ poss´ıvel realizar uma mensurac¸a˜o do valor de indutaˆncia do cabo, uma vez que os termos da equac¸a˜o 4 sa˜o todos conhecidos. Para testar a veracidade da expressa˜o 8, o grupo ligou o cabo ao os- cilosco´pio, de maneira que o cabo fosse percorrido por uma onda eletro- magne´tica proveniente do gerador de pulsos em uma frequeˆncia bem defi- nida.Atrave´s das imagens do oscilosco´pioe´ poss´ıvel definir o tempo de fase da onda, que chamaremos de tprop. Dessa maneira, a velocidade de pro- pagac¸a˜o da onda da´-se pela distaˆncia percorrida pela onda (2l) em um certo tempo: v = 2l tprop E´ poss´ıvel, portanto, comparar o resultado obtido com o outro valor de ve- locidade obtido pela expressa˜o 8. E´ poss´ıvel determinar o valor de impedaˆncia atrave´s da expressa˜o 9, onde ε0 deve ser substitu´ıdo pelo valor de ε encontrado anteriormente.Ao refletir sobre a natureza da propagac¸a˜o das ondas no cabo, pore´m, observa-se que, com o mult´ımetro e o potencioˆmetro, e´ poss´ıvel ”zerar”o sinal do pulso re- fletido. Atrave´s da expressa˜o 12 vemos que a condic¸a˜o para isto acontecer e´ a de que R = Z. Supo˜em-se, portanto, que, nesse momento, a resisteˆncia do circuito seja igual a` impedaˆncia. Com o mult´ımetro ligado ao potencioˆmetro, portanto, realiza-se a medida da resisteˆncia. Nota-se que o fato de ”zerar”o sinal da onda refletida e´ algo bem subjetivo, e que certamente sera´ uma das fontes de erro da medida. Os resultados das medidas seguem na pro´xima sec¸a˜o. Ana´lise de dados Segundo os procedimentos detalhados na etapa anterior, foi poss´ıvel cons- truir duas tabelas contendo os valores obtidos nas medidas, que seguem logo 6 abaixo. Tabela 1: Dados e dimenso˜es experimentais Cabo 1 Cabo 2 Cabo 3 l(m) 12, 937(±0, 007) 18, 161(±0, 005) 37, 1(±0, 01) 2r1(mm) 0, 95(±0, 03) 0, 80(±0, 05) 0, 90(±0, 05) 2r2(mm) 2, 95(±0, 03) 2, 90(±0, 05) 3, 70(±0, 05) C(nF) 1, 2(±0, 1) 1, 9(±0, 1) - C′(pF/m) 92(±8) 105(±6) 333(±88) �R(pF/m) 16(±1) 21(±1) 39(±11) L′(µH/m) 0, 227(±0, 004) 0, 256(±0, 006) 0, 15(±0, 01) v(108m/s) 2, 2(±0, 1) 1, 93(±0, 06) 1, 4(±0, 2) Z(Ω) 50(±2) 49(±2) 46(±14) Tabela 2: Resultados obtidos utilizando o oscilosco´pio Cabo 1 Cabo 2 Cabo 3 tprop.(ns) 131, 0(±0, 1) 182, 0(±0, 1) 150 v(108m/s) 1, 975(±0, 002) 1, 996(±0, 001) 4, 64± 0, 05 R = Z(Ω) 48, 6(±0, 1) 62, 3(±0, 1) 44, 2(±0, 1) (a) (b) (c) (d) Figura 3: Sinais obtidos no oscilosco´pio para o cabo 1 7 No oscilosco´pio, o grupo observou o pulso e a reflexa˜o deste. Quando a resisteˆncia e´ infinita, conforme ja´ comentado anteriormente, o pulso refletido e´ exatamente igual ao pulso emitido(caso das imagens a e c). Quando a extremidade do cabo foi ligada, e tornamos a resisteˆncia da extremidade igual a 0, ja´ se previa, pela equac¸a˜o 12, que a onda refletida voltaria oposta a` onda normal. E´ poss´ıvel observar esse caso na imagem d. Percebe-se que ha´ um ana´logo mecaˆnico: as cordas presas a uma extremidade fixa ou soltas na extremidade, que tambe´m sa˜o ondas transversais. Posteriormente, o grupo tentou setar o potencioˆmetro de maneira que a onda refletida fosse praticamente 0, como e´ o caso da figura b. Isso possibilita uma nova estimativa do valor de impedaˆncia a partir do valor de resisteˆncia medido. Conclusa˜o O experimento mostrou resultados muito satisfato´rios, num aspecto geral, mesmo estando os procedimentos vulnera´veis a va´rias fontes de erro. Apoi- ados sobre a teoria cla´ssica, os grupos realizaram medidas ba´sicas acerca do formato do cabo, e foi poss´ıvel, a partir disso, descobrir muitas outras in- formac¸o˜es sobre este. Como ja´ comentado anteriormente, a onda refletida reage de maneira muito bem determinada a casos onde o cabo tem sua ex- tremidade livre (R =∞) ou para quando o cabo esta´ em curto (R = 0). Isso foi observado atrave´s do oscilosco´pio, que corrobora as previso˜es teo´ricas. Alguns resultados, no entanto, na˜o se mostraram ta˜o satisfato´rios, anali- sados individualmente.O experimento, realizado com 4 cabos (um dos grupos deixou de apresentar os dados) mostrou convergeˆncia, em certos resultados, por exemplo, para 2 cabos, mas na˜o para o outro.O caso mais gritante certa- mente diz respeito aos resultados do cabo 3, que resultam numa velocidade de propagac¸a˜o no cabo superior a` velocidade da luz.Os resultados mais co- erentes indicam que a velocidade de propagac¸a˜o das ondas eletromagne´ticas no cabo convergem para 2 3 da velocidade da luz no va´cuo. A impedaˆncia e a resisteˆncia medidas encontram-se, nos casos gerais, dentro da incerteza uma da outra, o que corrobora, tambe´m, as previso˜es teo´ricas apresentadas na introduc¸a˜o. Obs.: O grupo 4 deixou de apresentar os dados, mesmo apo´s apo´s a prorrogac¸a˜o da data de entrega, pelo menos ate´ a data e hora´rio da entrega do presente relato´rio (22 de agosto, 00:30). 8 Refereˆncias [1] Halliday, David - Fundamentos de f´ısica, volume 3: Eletricidade e magnetismo, 8a ed. Rio de Janeiro, LTC, 2009. [2] Halliday, David - Fundamentos de f´ısica, volume 4: O´ptica e f´ısica moderna, 8a ed. Rio de Janeiro, LTC, 2009. [3] H. Nussenzveig, Moyse´s - Curso de f´ısica ba´sica, volume 3: ele- tromagnetismo 4a ed.,Edgard Blu¨cher LTDA.,2003 9
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