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Resumo Hematologia Clínica Leucemia Linfoide Crônica ● Definição Se trata de uma doença hematológica maligna caracterizada pela expansão clonal de células B maduras CD5+ no sangue periférico, medula óssea e tecidos linfóides. - Epidemiologia: é a mais comum entre as doenças linfoproliferativas crônicas e geralmente é diagnosticada por volta dos 65 anos de idade, sendo extremamente rara em pessoas com menos de 50 anos, por isso, sua incidência é maior em pacientes mais velhos. Outro fator importante é que a LLC é mais achada em pacientes do sexo masculino. - Etiologia: ainda se desconhece a etiologia da LLC, contudo, percebe-se uma forte predisposição familiar, mas os fatores ambientais como compostos químicos derivados do petróleo estão associados ao aumento do risco de desenvolver a doença. ● Patogênese: Na LLC, o clone neoplásico é um linfócito B maduro CD5+ que apresenta um bloqueio na fase de diferenciação, impedindo sua transformação em plasmócito, que é a célula produtora de anticorpos e que possui uma função estabelecida. - Curso clínico heterogêneo: ou seja, suas formas de apresentação dependem de fatores intrínsecos celulares (LLC-B) e de interações com células do microambiente, representando o fator extrínseco às células B leucêmicas. Por isso, são divididas em 3 categorias que se relacionam tanto com a sintomatologia, quanto com o tratamento e a adaptação do paciente. a) Pacientes minimamente afetados e que não precisam de tratamento b) Pacientes de curso indolente, mas que podem progredir e necessitar de terapia c) Pacientes que ao diagnóstico possuem a forma agressiva da doença e necessitam de tratamento com urgência Como dito acima, a LLC pode se apresentar de diversas formas e sintomatologias, tal como a necessidade ou não de tratamento, mas isto se deve a algumas mutações que podem ocorrer, como a presença de hiper mutações somáticas nos genes da região variável de cadeia pesada de imunoglobulinas (IgVH). Também se tem a LLC-B com a mutação no gene IGHV mas do tipo IGHV-M CLL que possui melhor prognóstico e a de pior prognóstico, em que se tem a LLC-B não mutada no gene IGHV-UM CLL. Diferente da LMC, não se tem uma anomalia que justifique o desenvolvimento da LLC, portanto, não se consegue defini-la como uma doença proveniente de uma anomalia cromossomial. Ana Beatriz Cavalcanti Fernandes Girão Farmácia - UFC A LLC se diferencia das outras leucemias porque se caracteriza como uma doença cumulativa, não possuindo um caráter tão proliferativo, porque neste caso, os linfócitos B neoplásicos CD5+ são células de turnover lento, possuindo meia-vida muito superior à do linfócito B normal (que se diferencia até a forma de plasmócito), devido ao bloqueio na maturação. Esse bloqueio na maturação se apresenta como linfócitos que param de maturação no estágio Go/G1 devido ao aumento da expressão de uma proteína anti-apoptótica chamada BCL-2, que induz uma resistência a apoptose, assim, os linfócitos B neoplásicos param de maturação, não se transformando em plasmócitos e se acumulam devido a proteína anti-apoptótica, se acumulando. É importante lembrar que tais linfócitos neoplásicos não possuem competência imunológica, já que apenas na forma de plasmócitos se tem a produção de anticorpos. Ciclo de vida do linfócito B na LLC: No tecido linfóide primário e secundário, os linfócitos B da LLC se agrupam, no estado de repouso, se mantendo através de nutrientes das células estromais não-hematopoiéticas via receptor-ligante, incluindo CXCL12-CXCR4. No momento em que a divisão celular se inicia, seja espontânea ou através de receptor de células B (BCR) ou Toll-Like receptors, as células internalizam o CXCR4, se desprendem e passam a migrar para estruturas semelhantes a centros germinativos (centros de proliferação), que são na realidade, os locais de expansão de células B da LLC. No momento em que elas passam para os centros de proliferação, se tem a ativação/divisão dessas células, que podem regular várias proteínas de superfície que permitem a interação com linfócitos T. Após a expansão das células na LLC, estas caem na circulação e podem alterar o fenótipo, permitindo a entrada nos tecidos ou a morte destas. ● Sinais e sintomas Ana Beatriz Cavalcanti Fernandes Girão Farmácia - UFC A maioria dos pacientes são assintomáticos no momento do diagnóstico, contudo, alguns podem apresentar fadiga leve ou algumas limitações nas atividades rotineiras. Após a linfocitose, a adenomegalia cervical é um dos achados mais comuns, estando em cerca de ⅔ dos pacientes que apresentam a LLC. A linfadenopatia, que significa a inflamação de linfonodos, se caracteriza como móveis e não dolorosos, já que o doloroso se relaciona com infecções e não neoplasias. Já em casos de pacientes em fase avançada da LLC, pode-se evidenciar sudorese noturna, febre e perda de peso (incomum). Alguns pacientes podem apresentar esplenomegalia e hepatomegalia (aumento do baço e fígado respectivamente), contudo, tais manifestações são mais incomuns. Além disso, pode-se observar a infiltração no pulmão, TGI e sistema nervoso central. ● Diagnóstico Requisitos para o diagnóstico: é necessário que o paciente apresente linfocitose persistente ≥ 5.000/mm3 + aspirado de medula óssea com > 30% de linfócitos com imunofenotipagem relevado marcados de linfócitos B maduro em conjunto com o marcador CD5. - Hemograma: ≥ 5.000/mm3 linfócitos B monoclonais no sangue periférico. - Mielograma: apresenta-se com uma infiltração celular > 30% de linfócitos - Imunofenotipagem: utilizada para diferenciar LLC de outras doenças linfoproliferativas. Anormalidades citogenéticas (Citogenética clássica ou FISH) • Deleção 13q14 (50 -60%, prognostico favorável); • Deleção 11q22–q23 (del11q) (~25%, pior prognóstico); • Deleção 17p13 (~10%, associado à mutação do TP53, pior prognóstico); • Trissomia do 12 (~15%; têm maior risco de transformação na síndrome de Richter, pior prognóstico); • Translocação (11;14) e translocação (14,18) (linfoma do manto e folicular). Ana Beatriz Cavalcanti Fernandes Girão Farmácia - UFC - Painel de marcação: CD19+, CD5+, CD23+ com expressão reduzida de imunoglobulinas de superfície CD20 e CD79b. • MYD88 e KLHL6: Imunoglobulina mutada (IGHV) • NOTCH1 e XPO1: Imunoglobulina não mutada (IGHV) • BIRC3 (2,5%): Imunoglobulina não mutada (IGHV), estágio avançado e Deleção del11q e trissomia 12 • MYD88(2,2%): somente Imunoglobulina mutada (IGHV) • NOTHCH1 (8%): Imunoglobulina não mutada (IGHV), estágio avançado e trissomia 12 • SF3B1 (11,2%): Imunoglobulina não mutada (IGHV), estágio avançado e Deleção del11q • TP53 (10,4%): Imunoglobulina não mutada (IGHV) e del(17P) ● Diagnóstico diferencial A LLC pode ser confundida com algumas outras doenças, como a linfocitose de células B monoclonal (MBL) e o linfoma linfocítico pequeno (SLL), contudo, o diagnóstico diferencial entre elas pode ser feito através da avaliação e contagem de células B monoclonais no sangue periférico e o aumento dos linfonodos e baço, em que na LLC se tem o número de linfócitos B monoclonais maior ou igual a 5.000, diferente da MBL e da SLL, que possuem menos de 5.000. Já com relação ao aumento de linfonodos e baço, não acontece na MBL, pode acontecer na LLC e com certeza ocorre no SLL. Ana Beatriz Cavalcanti Fernandes Girão Farmácia - UFC Assim, o diagnóstico diferencial pode ser guiado através da benignidade ou malignidade da doença e com relação a que tipo de célula a patologia se relaciona, se é com a célula B ou T. Ainda com relação a LLC, existem alguns biomarcadores que podem orientar o curso da doença, indicando um melhor ou pior prognóstico, como os dispostos no quadro abaixo. Ana Beatriz Cavalcanti Fernandes Girão Farmácia - UFC Como no quadro acima se fala em estadiamento de RAI focado na LLC, é necessário compreender quais critérios esse estadiamento avalia, sendo estes a linfocitose, a associação desta com a linfadenopatia, esplenomegalia e outros sinais que se evidenciam na LLC. O estadiamento de RAI faz parte das classificaçõesde prognóstico da doença, auxiliando na identificação da forma da doença, já que como citado anteriormente, a LLC pode se apresentar de 3 formas distintas. Existe a classificação de prognóstico que se relaciona com o hemograma do paciente, seguindo a linha de avaliação através da análise da hemoglobina e plaquetas, além das áreas envolvidas. ● Tratamento Como a LLC se diferencia da LMC em que se sabe o início do desenvolvimento da doença através de uma anomalia cromossomial específica e assim, ao se identificar a interação e ação da tirosina quinase, se tem uma linha de tratamento muitas vezes eficaz e mais “específica”, na LLC podem ser utilizadas algumas classes de medicamentos, como os descritos abaixo. Ana Beatriz Cavalcanti Fernandes Girão Farmácia - UFC Classe Medicamento Esteróides Glicocorticoides Agentes Alquilantes Ciclofosfamida e clorambucil Análogos de nucleosídeos Fludarabina (F-ara-adenosina) Anticorpos Anti-CD20 (Rituximabe) Inibidores de BTK e PI3K Ibrutinibe e Idelasibe Inibidor de BCL2 Venetoclax CAR T anti-CD19 Ana Beatriz Cavalcanti Fernandes Girão Farmácia - UFC
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