Buscar

Medicamentos a Partir de Plantas Medicinais do Brasil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 133 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 133 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 133 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

2 
MEDICAMENTOS A PARTIR 
DE 
PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL 
 
 
Equipe Principal: 
Sérgio H. Ferreira (Supervisor) 
Lauro E. S. Barata (Coordenador) 
Sérgio L. M. Salles Fº 
Sérgio R. R. de Queiroz 
 
Auxiliares: 
Rosana Corazza (auxiliar de pesquisa) 
Reus Coutinho Farias (consultor) 
 
Projeto financiado pela Academia Brasileira de Ciências e 
Ministério da Ciência e Tecnolgia-MCT (1997) 
Livro Publicado pela Academia Brasileira de Ciências 
1998 
 
OBS: A edição deste livro está esgotada. Uma nova edição está sendo preparada. Cópias cuja 
comercialização é proibida, podem ser feitas á partir deste arquivo. É vedado o uso do todo ou de 
parte desta obra, sem a expressa licença do seu Coordenador (lbarata@iqm.unicamp.br). Pede-se 
citar a fonte. 
 
MEDICAMENTOS A PARTIR DE PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO 1 
2. A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E DE FITOTERÁPICOS 4 
2.1 As mudanças recentes na indústria farmacêutica mundial 4 
2.2 A indústria de fitoterápicos: quadro internacional 6 
2.3 A produção brasileira de medicamentos a partir de plantas medicinais 12 
3. A PESQUISA DE MEDICAMENTOS A PARTIR DE PLANTAS 22 
3.1 O processo de desenvolvimento de novos medicamentos 22 
3.2 A pesquisa científica em plantas medicinais no Brasil 28 
3.3 Avaliação dos estudos experimentais com plantas medicinais 32 
4. A AÇÃO GOVERNAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO 
DE FITOFÁRMACOS 51 
5. ESTRATÉGIAS PARA DESENVOLVER A PRODUÇÃO DE 
MEDICAMENTOS A PARTIR DE PLANTAS MEDICINAIS 65 
5.1 Quem são os atores e como eles interagem 65 
5.2 Vantagens e obstáculos para o desenvolvimento da área de produtos 
naturais 67 
5.3 Proposta para uma estratégia para desenvolver a produção de 
medicamentos a partir de plantas medicinais 70 
 
 
 
 
 
 
 
2 
MEDICAMENTOS A PARTIR DE PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL 
1. INTRODUÇÃO 
 A nossa proposta inicial era de realizar uma análise ampla dos problemas associados ao 
desenvolvimento de medicamentos no Brasil com o intuito de promover o incentivo desta área. 
Esta proposta se impunha pelo fato do Brasil, apesar da enorme diferença de poder aquisitivo de 
suas camadas sociais, encontrar-se, já há alguns anos, entre os dez maiores consumidores de 
medicamentos do mundo. 
Neste estudo, todavia, restringimos nosso enfoque para o desenvolvimento de medicamentos a 
partir de plantas medicinais. Em parte, porque em análise anteriormente realizada sobre a 
competitividade da indústria de fármacos brasileira (Coutinho e Ferraz, 1994), ficou demonstrado 
que o Brasil teria enormes dificuldades de atuar na área de medicamentos sintéticos. Além disso, a 
recente implantação da lei de patentes enfraqueceu substancialmente as perspectivas da indústria 
química brasileira. 
Grande parte dos medicamentos que estão no mercado originam-se de produtos naturais, em 
especial, de plantas. Entre as vinte drogas mais vendidas nos EUA em 1988, apenas sete não 
derivavam diretamente de produtos naturais. Ainda assim, estes participaram em algum momento 
da história farmacológica dessas drogas. Naturalmente, o Brasil, com a sua enorme biodiversidade, 
pode contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos produzidos a partir de plantas. O 
grande problema consiste em saber que parcela desse esforço de desenvolvimento caberá aos 
cientistas e às empresas brasileiras. 
A nação já fez um considerável investimento na formação de investigadores e montagem de 
laboratórios. Houve um estímulo continuado no estudo de propriedades farmacológicas, na sua 
maioria, tentando comprovar a validade do uso popular de plantas medicinais. A idéia que presidia 
estes estudos era de utilizar os produtos naturais como substituição barata à terapia convencional. 
Embora várias plantas estejam sendo utilizadas com fins terapêuticos (e mesmo comercializadas) a 
grande maioria não possui dados científicos que comprovem a sua eficácia e seu espectro 
toxicológico no homem, assim como garantia de qualidade do produto ou de sua produção. Apesar 
de três ou quatro décadas de estudos, pode-se dizer que até esta data não houve um processo 
coordenado de todos os atores do processo (indústria, farmacólogos, fitoquímicos, químicos de 
síntese, toxicólogos, investigadores clínicos, etc) visando o desenvolvimento de drogas a partir de 
plantas. Permanece a questão: até quando um país com a rica biodiversidade como a do Brasil 
continuará deixando de explorar este potencial para descoberta de novos medicamentos? 
 
 
 
 
 
3 
Estas considerações fizeram com que enfocássemos neste trabalho os aspectos da P&D, produção e 
ações governamentais relacionadas ao desenvolvimento de medicamentos a partir de plantas 
medicinais. Espera-se que este estudo possa fornecer a pesquisadores, empresas e policy-makers, 
entre outros, dados para tomar decisões de investimento em termos de prazos, recursos, projetos e 
esforços nessa área. 
Neste relatório foi levantado um conjunto amplo de dados quantitativos através de pesquisa 
bibliográfica e consulta a bases de dados informatizadas. Essas informações foram organizadas em 
um banco de dados bibliográficos, com acesso por assunto ou por autor, cuja estrutura é apresentada 
no Anexo 1. 
Também fez parte da metodologia utilizada no trabalho a aplicação de questionários (vide Anexo 2) 
dirigidos a empresas, cientistas e órgãos do governo. O objetivo básico destes questionários era 
obter dados qualitativos a respeito do quadro nacional na produção, na pesquisa e no apoio do 
governo a atividades na área de plantas medicinais. Esse mesmo objetivo foi também buscado 
através de entrevistas com empresários, cientistas e agentes governamentais, visando reforçar 
alguns pontos deste relatório que poderiam vir a ser polemizados. 
Uma grande dificuldade que pode ser percebida durante a pesquisa foi a falta de dados estatísticos 
da área de negócios, bem como problemas para extrair informações de fontes oficiais. As empresas, 
além de não disporem dos dados, têm uma grande dificuldade de produzi-los quando instadas a 
fazê-lo. 
Com relação à estrutura do trabalho, no capítulo 2 discute-se a indústria de fitoterápicos dentro de 
seu contexto, a indústria farmacêutica. Primeiramente, são apresentadas algumas das principais 
transformações mundiais por que vem passando esta última. Em seguida, analisa-se o quadro 
internacional da indústria de fitoterápicos. Por fim, a análise se volta para o caso brasileiro. 
O capítulo 3, também dividido em três seções, analisa a pesquisa de medicamentos a partir de 
plantas. Na primeira seção, destaca-se o processo de desenvolvimento de novos medicamentos, de 
modo geral. A segunda trata da pesquisa científica em plantas medicinais no Brasil. Finalmente, é 
feita uma avaliação de estudos experimentais com plantas medicinais produzidos nas universidades 
brasileiras. 
O capítulo 4 discute as principais ações governamentais para o desenvolvimento de fitofármacos. 
O capítulo final pretende esboçar uma estratégia para desenvolver a produção de medicamentos a 
partir de plantas medicinais no Brasil. 
 
 
 
 
 
4 
 
Definições utilizadas neste trabalho: 
Plantas medicinais 
São plantas que têm atividade biológica, possuindo um ou mais princípios ativos, úteis à saúde 
humana. Muitas delas são hoje usadas em cosméticos e neste caso se denominam cosmecêuticos (do 
inglês, cosmetics + pharmaceuticals). 
Fitoterápicos ou Fitomedicamentos 
A expressão fitoterapia é atribuída a medicamentos originados exclusivamente de material botânico 
integral ou seus extratos usados com o propósito de tratamento médico1. 
Fitoterápicos são classificados como medicamentose como suplemento alimentar. Podem ser: 
1) Plantas Medicinais - no Brasil são consideradas como produtos não-éticos e tratados em muitos 
casos como suplemento alimentar. Podem ser adquiridas em Farmácias de Manipulação, 
Supermercados ou Feiras Livres; são regulamentadas pelo DINAL (Ministério da Saúde); o 
controle de qualidade é precário ou não existente; não há necessidade de registro no MS ou 
qualquer outro órgão controlador para o comércio e venda de plantas medicinais, a granel ou 
embalados como chás em saquinhos. Esta situação deve mudar em janeiro de 2000 com a 
entrada em vigor da Portaria nº 6, de 31 de janeiro de 1995, da Secretaria de Vigilância Sanitária 
do MS. 
2) Extratos de Plantas - são muitas vezes produzidos por empresas não cadastradas. Produtos 
técnicos produzidos por empresas respeitadas (ex. Sanofi, Sanrisil) são adquiridas por outras 
empresas que frequentemente adulteram o produto final ao consumidor. 
Fitofármaco 
É a substância medicamentosa isolada de extratos de plantas, como a rutina e a pilocarpina, alguns 
dos raros fitofármacos produzidos no Brasil. 
 
1 Diferentes outras expressões aparecem em jornais e revistas estrangeiros para designar os medicamentos originados de 
plantas medicinais: herbal drugs, medicinals & botanicals, etc. 
 
 
 
 
 
5 
2. INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E DE FITOTERÁPICOS 
2.1 As mudanças recentes na indústria farmacêutica mundial 
A indústria farmacêutica caracteriza-se pela alta tecnologia e rápido crescimento. Nos anos recentes 
ela tem sofrido intensa pressão por parte dos governos dos países industrializados, preocupados com 
os custos de seus sistemas de saúde. Em particular, os EUA, cujos gastos com atendimento à saúde 
chegaram a 14% do PNB em 1994 - 40% a mais que Canadá, Japão ou UE -, vêm forçando uma 
redução dos preços dos medicamentos. Estes não são, certamente, os únicos responsáveis pelos 
elevados gastos em saúde, mas podem dar sua contribuição para reduzir os custos na área. 
Desse modo, as margens de lucro da indústria farmacêutica - usualmente bastante elevadas - vêm 
sendo comprimidas. A isto soma-se ainda o aumento dos custos de inovação. O custo médio da 
P&D de um novo medicamento passou de US$ 1,5-2,0 milhões no período 1956-62 para US$ 20-22 
milhões entre 1966 e 1972 (dólar de 1973), segundo Rigoni (1985). Em 1985 o autor estimava esse 
custo em torno de US$ 100 milhões, valor que no início da década de 90 teria mais do que 
dobrado2. As despesas em P&D como percentagem do faturamento passaram de algo como 10% 
nos anos 60 e 70 para um valor acima de 15% nos anos 80. Como se pode ver no Quadro 2.1, a 
média do gasto em P&D nos principais países atingia quase 16% em 1991, com números 
significativamente maiores em alguns casos (Reino Unido, Suíça e Suécia). 
Quadro 2.1 - Gasto em P&D farmacêutica no mundo em 1991 
País Gasto em P&D 
(US$ milhões) 
% das vendas (1) 
EUA 9.056 18,39 
Japão 4.665 12,11 
Alemanha 3.126 16,13 
Reino Unido 2.845 28,17 
França 2.529 14,82 
Suíça 1.644 28,77 
Itália 1.545 10,36 
Suécia 617 23,23 
Países baixos 285 8,60 
Bélgica 272 8,32 
Dinamarca 262 15,52 
Espanha 167 2,80 
Total 27.013 15,72 
(1) vendas domésticas mais exportação 
Fonte: Scrip’s Yearbook, 1993. 
 
2 Segundo outras fontes, o valor poderia chegar a US$ 300 milhões por medicamento. 
 
 
 
 
 
6 
O Quadro 2.2 mostra o gasto em P&D por empresa, confirmando os dados apresentados acima. 
Quadro 2.2 - As 11 maiores companhias farmacêuticas em gasto em P&D, em 1991-92(1) 
Companhia País Vendas Farmacêuticas 
(US$ milhões) 
Gasto em P&D 
(US$ milhões) 
P&D como 
% de vendas 
Merck (2) EUA 7225,1 1100,0 15,2 
Glaxo Reino Unido 7247,0 1052,7 14,5 
Roche Suíça 4119,9 953,3 23,1 
Bristol-Myers Squibb EUA 5908,0 845,0 14,3 
Hoechst (3) Alemanha 6263,9 785,8 12,5 
Bayer (4) Alemanha 5306,4 688,8 13,0 
Ciba-Geigy (5) Suíça 4052,3 677,8 16,7 
Sandoz Suíça 4440,7 675,0 15,2 
Smithkline Beecham EUA /Reino Unido 4370,1 654,6 15,0 
Johnson & Johnson EUA 3795,0 569,0 15,0 
Boehringer Ingelheim Alemanha 2534,5 462,8 18,3 
(1) Números para ano terminado em dez/91, exceto Glaxo (jun/92) e Johnson&Johnson (jan/92) 
(2) estimativa 
(3) inclui cosméticos 
(4) inclui diagnósticos 
(5) somente produtos éticos 
Fonte: Scrip’s Yearbook, 1993. 
O efeito combinado dos gastos crescentes com P&D e aperto nas margens de lucro vêm 
estimulando uma onda de fusões e incorporações na indústria farmacêutica, iniciada na década de 
80 e que prossegue até hoje. O Quadro 2.3 mostra as 15 maiores empresas do setor em 1991. 
Aparecem nesta lista a terceira (Bristol-Myers Squibb), sétima (SmithKline Beecham) e décima-
segunda (Rhône-Poulenc Rorer) como resultado de fusões. Desde então a Glaxo comprou a 
Welcome, a Ciba-Geigy (quinta da lista) fundiu-se com a Sandoz (sexta) e a Roche comprou a 
Sintex, para ficar nos maiores negócios apenas. 
Quadro 2.3 - As 15 maiores companhias farmacêuticas em vendas no mundo, 1991-92 (1) 
 Companhia Vendas Farmacêuticas (US$ milhões) % do total de vendas 
1 Glaxo (UK) 7.247 100,0 
2 Merck (US) 7.225 84,0 
3 Bristol-Myers Squibb (US) 5.908 52,9 
4 Hoechst (Ger) 5.429 19,1 
5 Ciba-Geigy (Sw) 4.612 31,4 
6 Sandoz (Sw) 4.441 47,4 
7 SmithKline Beecham (UK/US) 4.370 52,7 
8 Bayer (Ger) 4.309 16,9 
9 Roche (Sw) 4.120 51,6 
10 Eli Lilly (US) 4.031 70,4 
11 American Home (US) 4.018 56,8 
12 Rhône-Poulenc Rorer (Fra/US) 3.824 100,0 
13 Johnson & Johnson (US) 3.795 30,5 
14 Pfizer (US) 3.771 54,3 
15 Abbott (US) 3.512 51,1 
(1) Números para ano terminado em dez/91, exceto Glaxo (jun/92) e Johnson&Johnson (jan/92) 
Fonte: Scrip’s Yearbook, 1993. 
 
 
 
 
 
7 
Pode-se afirmar, portanto, que a indústria farmacêutica internacional passa por transformações 
importantes. As fusões e incorporações estão criando empresas gigantescas, com enorme 
capacidade de investimento em P&D, tornando ainda mais difícil a participação nesse mercado de 
países como o Brasil. Conforme apontado em Queiroz (1993), a competitividade da indústria 
químico-farmacêutica brasileira é praticamente nula no caso dos produtos patenteados. O aumento 
de escala da P&D deixa ainda mais remota a possibilidade de reverter esse quadro em um horizonte 
de tempo previsível. 
Além disto, as empresas buscam também novas oportunidades de diversificação e, como veremos 
adiante, o segmento de fitoterápicos tem se mostrado atraente. 
2.2 A indústria de fitoterápicos: quadro internacional 
Mercado mundial de fitoterápicos: dimensões 
As estimativas de mercado para produtos farmacêuticos derivados de plantas variam 
consideravelmente em função das distintas definições adotadas em cada análise. Tomando-se, por 
exemplo, o trabalho de Jörg Grünwald (1995), baseado em dados do IMS e do Herbal Medical 
Database, o mercado mundial de fitoterápicos (herbal remedies) está avaliado em US$ 12,4 bilhões, 
divididos segundo o Quadro 2.4. Isto representaria aproximadamente 5% do mercado mundial de 
produtos farmacêuticos. 
Quadro 2.4 - Mercado mundial de fitoterápicos 
Região US$ milhões 
União européia 6.000 
Resto da Europa 500 
Ásia 2.300 
Japão 2.100 
EUA 1.500 
Total 12.400 
Fonte: IMS 1994 e The Herbal Medical Database 1993, 
apud Jörg Grünwald (1995) 
Segundo outras estimativas, este mercado poderia ser bem maior. O Departamento de Comércio 
americano apresenta, apenas para os EUA, os seguintes dados de vendas de medicinals/botanicals: 
 
 
 
 
 
8 
Quadro 2.5 - Mercado americano de produtos farmacêuticos e de fitoterápicos 
Item 1987 1988 1989 1990 1991 1992(2) 1993(3) 
Vendas (1)35.283 39.532 43.796 47.832 51.880 55.607 58.428 
Medicinals & botanicals 4.224 4.948 5.393 5.789 6.647 6.898 7.116 
(1) Valor de produtos classificados na indústria farmacêutica produzidos por todas as indústrias. 
(2) Estimativa, exceto exportações e importações. 
(3) Estimativa 
Fonte: Bureau of the Census - U.S. Department of Commerce 
Estes dados indicam valores quase cinco vezes maiores para o mercado dos EUA em relação aos 
dados do Quadro 2.4. Pode estar havendo diferenças nas definições empregadas pelo Departamento 
de Comércio dos EUA (medicinals/botanicals) e por Jörg Grünwald (herbal remedies). Mas a 
discrepância entre os dados também pode decorrer do fato de que este último autor utiliza dados de 
venda no varejo (Retail Sales Price - RSP), que deixam de incluir vendas efetivadas através de 
outros canais ou vendas dirigidas a outros segmentos da indústria , inclusive exportações. De todo 
modo, não se pode ignorar as dificuldades na delimitação do mercado de fitoterápicos. 
As diferenças entre países são também pronunciadas. A Alemanha é, de longe, o maior mercado 
mundial de herbal drugs, com vendas de US$ 3 bilhões, isto é, metade do mercado da UE 
apresentado no Quadro 2.4, e um consumo anual por habitante de US$ 39. A França, com US$ 1,6 
bilhões e 26,5% do mercado da UE, vem em segundo. 
Em termos do peso desse segmento no conjunto da indústria farmacêutica as variações também são 
grandes. Na Alemanha, os fitoterápicos representavam aproximadamente 25% do mercado 
farmacêutico total em 1990. Naquele país, 27% dos medicamentos que não exigiam receita médica 
(OTC) em 1993 eram produtos de plantas, cabendo aí a divisão entre os que eram receitados e 
reembolsados pelo sistema de seguridade de saúde (12%) e desse modo modo poderiam ser 
classificados como “semi-éticos”, e os que eram OTC “puros” (15%). 
Crescimento do mercado de fitoterápicos 
In 1993, as vendas de medicinals/botanicals nos EUA aumentaram mais de 7%, atingindo US$ 7 
bilhões (aumento de 1,8% em dólares constantes). Como aponta o Departamento de Comércio dos 
EUA (1994), “o mercado americano de herbal products é relativamente novo, tendo iniciado seu 
crescimento nos anos 60. Desde essa época, a indústria deixou uma posição marginal para se 
integrar ao mainstream do mercado biomédico. Com o crescente interesse do consumidor em 
produtos naturais, as companhias estão ampliando a adição de ingredientes botânicos em seus 
produtos...à medida que a indústria (farmacêutica) continua a procurar meios de conter preços, a 
participação de mercado dos medicamentos de plantas deverá crescer”. 
 
 
 
 
 
9 
Esta é também a posição de Jörg Grünwald acerca do potencial dos fitoterápicos. Na Europa o 
mercado destes produtos está crescendo a uma taxa mais elevada do que a do mercado farmacêutico 
como um todo, como mostra o Quadro 2.6. 
Quadro 2.6 - Crescimento do mercado de fitoterápicos em países 
selecionados em 1993 
País % 
Espanha 35 
Alemanha 15 
Itália 11 
Reino Unido 10 
Fonte: Nicolas Hall Company (1994) 
O Quadro 2.7 mostra que esse crescimento, além de expressivo, é bastante generalizado: 
Quadro 2.7 - Taxas de crescimento anual por região (%) 
Região Crescimento 
 1985-1991 
Crescimento 
1991-1992 
Projeção 
 1993-1998 
EUA 10 12 12 
União Européia 10 5 8 
Resto da Europa 12 8 12 
Japão 18 15 15 
Sudeste da Ásia 15 12 12 
India e Paquistão 12 15 15 
Fonte: The Herbal Medical Database 1993, apud Jörg Grünwald (1995) 
Um fator importante para explicar esse dinamismo é o aparecimento da “onda verde”. Desde o final 
dos anos 60, com o movimento hippie, grupos diferenciados da sociedade começaram a buscar 
modos de vida mais em harmonia com a natureza e processos e produtos mais naturais. Nos anos 
80, o mercado de consumo na Europa e EUA absorve esta tendência que leva a sociedade a exigir 
alimentos sem contaminação de pesticidas e outras substâncias tóxicas. Este movimento da 
sociedade conhecido como “onda verde” (green wave) está ampliando significativamente o 
interesse em produtos terapêuticos derivados de plantas como uma alternativa “natural” aos 
medicamentos sintéticos com sua costumeira lista de efeitos colaterais. Os consumidores típicos 
dessa medicina complementar, a maior parte deles com níveis educacionais e de renda acima da 
média (Jörg Grünwald, 1995), crêem que ela pode aumentar a resistência a doenças. Esta “onda” 
tem levado empresas de distribuição de plantas medicinais na Europa a buscar em toda parte 
“produtos novos” para atender o mercado em expansão, inclusive para aplicação em cosméticos. 
 
 
 
 
 
10 
Características do mercado 
A Europa é bastante representativa do mercado global de fitoterápicos, respondendo por 
aproximadamente metade das vendas registradas no mundo3. Naquela região, os medicamentos 
originados de plantas distribuem-se pelas principais categorias terapêuticas conforme o Gráfico 2.1. 
Gráfico 2.1 - Categorias terapêuticas de fitomedicamentos na Europa 
Cardiovascular
28%
Digestivo
15%
Respiratório
15%
Uso tópico
7%
Hipnótico/sedativo
9%
Tônicos
14%
Outros
12%
 
Fonte: Jörg Grünwald (1995) 
O mercado é, portanto, razoavelmente bem distribuído entre as classes terapêuticas, analogamente 
ao mercado farmacêutico em geral (o que não significa que as distribuições entre ambos sejam as 
mesmas). A predominância dos produtos com efeito cardiovascular também é coerente com o 
quadro nosológico do mundo desenvolvido, onde as doenças crônico-degenerativas ganham 
importância com o progressivo envelhecimento da população. 
Um fato muito importante com relação ao mercado de fitoterápicos é a entrada de novos 
participantes, notadamente grandes empresas farmacêuticas. Isto está associado ao ponto levantado 
acima acerca da aproximação ao mainstream. Na Europa o recurso à medicina complementar está 
em franco progresso, sendo que os fitomedicamentos bem documentados cientificamente são cada 
vez mais aceitos e apreciados por pacientes e médicos. Na Alemanha, em particular, mais de 80% 
dos médicos utilizam regularmente medicamentos a base de plantas. O Tebonin (extrato de Ginkgo 
biloba), da Dr. Schwabe’s, principal produtora alemã de fitoterápicos, é o produto farmacêutico 
mais vendido naquele país. 
 
3 Vale observar que boa parte do comércio de fitoterápicos nos países periféricos não é formalizado. Considerando 
ainda que esses países devem consumir proporcionalmente mais fitoterápicos que os países desenvolvidos, pode-se 
concluir que o valor das vendas registradas no mundo está subestimado. 
 
 
 
 
 
11 
Nos EUA, apesar de o próprio Departamento de Comércio ter observado que desde os anos 60 a 
indústria de herbal products vem deixando sua posição marginal, a situação ainda difere bastante. A 
medicina complementar e a medicina convencional continuam pertencendo a mundos distintos. 
Mas, como aponta Jörg Grünwald (1995), essa situação deve mudar rapidamente à medida que as 
autoridades de saúde daquele país vão se apercebendo da crescente demanda da população por 
alternativas seguras de tratamento médico. As diferenças que ainda permanecem podem ser 
ilustradas pela Figura 2.1. 
Figura 2.1 - Medicinas convencional e complementar nos EUA e Europa 
EUA 
 
 Medicina convencional Fito Medicina 
 medicamentos complementar 
 
 
 
Europa 
 
 Medicina convencional Fito Medicina 
 medicamentos complementar 
 
 
Fonte: Jörg Grünwald (1995) 
Como sugere o esquema acima para o caso europeu, “fitomedicamentos podem ser vistos como 
fechando a brecha entre a medicina complementar de base tradicionale a medicina convencional 
altamente científica” (Jörg Grünwald, 1995). Como mostra a Figura 2.1 esta ligação é melhor 
estabelecida no sistema de saúde europeu. Na Alemanha, por exemplo, 80% dos médicos 
prescrevem regularmente preparações fitoterápicas. Na Europa a fitoterapia vem crescendo 
significativamente, como mostrado no Quadro 2.7, revelando uma aceitação cada vez maior não só 
dos pacientes mas também dos médicos. Já nos EUA a situação da medicina convencional e da 
fitoterápica é de flagrante separação, sendo esta última compreendida como uma medicina à parte, 
 
 
 
 
 
12 
apenas complementar. Esta situação de confronto tem raízes históricas e na desinformação por parte 
dos médicos americanos. 
Mudanças na estrutura da indústria de fitoterápicos 
A aproximação entre as duas práticas médicas acima mencionada é uma das razões principais para o 
movimento que se observa desde a década passada das grandes multinacionais farmacêuticas 
adquirindo empresas produtoras de fitoterápicos. O Quadro 2.8 mostra as recentes incorporações 
destas últimas por companhias do setor farmacêutico. 
Quadro 2.8 - Aquisições recentes de empresas de fitoterápicos por 
multinacionais farmacêuticas 
Multinacional farmacêutica Empresa produtora de fitoterápicos 
American Home Products Dr. Much (Alemanha) 
Boehringer Ingelheim Pharmaton (Suíça) 
Quest (Canadá) 
Boots Kanoldt (Alemanha) 
Bausch and Lomb Dr. Mann (Alemanha) 
Ciba-Geigy Valverde (Suíça) 
Degussa Asta Medica (Alemanha) 
Ferrosan Healthcrafts (Reino Unido) 
Nature’s Best (Reino Unido) 
Fujisawa Klinge Pharma (Alemanha) 
Hoechst Iberica S.A. Laboratórios Veterin S. A. 
Johnson & Johnson/Merck Woelm Pharma (Alemanha) 
Merck & Co. Britcair Ltd. (Reino Unido) 
Pfizer Mack (Alemanha) 
Rhône-Poulenc Rorer Nattermann (Alemanha) 
Sandoz Dietisa S. A. (Espanha) 
Sanofi Plantorgan (Alemanha) 
Searle Heumann (Alemanha) 
SmithKline Beecham Fink (Alemanha) 
Solvay Kali Chemie (C) 
Fontes: Jörg Grünwald (1995) e McAlpine, Thorpe & Warrier (1992) 
Um grande número de multinacionais farmacêuticas já vendia medicamentos de plantas, como se 
pode ver no Quadro 2.9: 
Quadro 2.9 - Vendas de fitoterápicos de empresas 
farmacêuticas selecionadas 
Empresa farmacêutica Vendas de fitoterápicos 
em 1990 (US$ milhões) 
Rhône-Poulenc Rorer 52 
Johnson & Johnson 25-30 
Fujisawa 22 
Fisons 22 
Sanofi/Sterling 21 
Sandoz 9 
Fonte: Scrip, nº 1756, set/92 
 
 
 
 
 
13 
A novidade está no maior envolvimento dessas empresas com a indústria de fitomedicamentos, 
expandindo a atuação nessa direção e/ou adquirindo empresas já existentes. 
Não menos importante é o efeito dessa entrada das multinacionais farmacêuticas em termos de 
revolucionar as técnicas de marketing e distribuição do setor de medicamentos de plantas. Muitas 
empresas desse segmento adquiriram sofisticada capacitação tecnológica mas não dispõem de 
capital para comercializar seus produtos em nível mundial. Surge então uma oportunidade 
vislumbrada pelas companhias farmacêuticas que compram essas empresas, rebatizam seus 
produtos e fazem seu marketing e comercialização através da enorme rede de que já dispõem. 
O resultado esperado é, portanto, uma maior profissionalização da área de produtos naturais, 
reforçada pela abordagem crescentemente científica que vem recebendo. Diversos desses produtos 
começam a ser licenciados para venda no mercado ético, que exige prescrição médica, a partir de 
estudos científicos. Por exemplo, o “Efamol” (óleo de Evening Primrose), para tratamento de 
eczema, a partir de pesquisas da equipe de Sir James Black (Prêmio Nobel por suas pesquisas com 
beta-bloqueadores na ICI). É também o caso do “Kwai Garlic”, para manutenção da circulação das 
artérias coronárias, cuja validade foi sustentada por mais de vinte testes clínicos na Europa. 
Em suma, a indústria internacional de fitoterápicos está passando por um processo de transformação 
importante. Além da expansão do mercado de seus produtos, está havendo uma aproximação das 
práticas das empresas farmacêuticas tanto no que diz respeito a atividades técnicas e científicas 
como nas de produção e marketing. Aliás, em diversos casos essa aproximação tem sido causada 
simplesmente pela absorção de empresas tradicionais de fitoterápicos por grandes multinacionais do 
setor farmacêutico. 
A principal lição que parece ficar desse processo é a de que a fase do “amadorismo” na área dos 
produtos naturais está sendo deixada para trás rapidamente. É bastante provável que as empresas 
que não promoverem mudanças no sentido apontado enfrentem dificuldades de sobreviver no futuro 
ou, na melhor das hipóteses, deixem de usufruir do dinamismo que deverá continuar caracterizando 
o mercado de fitomedicamentos pelos próximos anos. 
2.3 A produção brasileira de medicamentos a partir de plantas medicinais 
Cabe agora mostrar o quadro nacional na área de fitoterápicos e fitofármacos. Inicialmente, vamos 
apresentar alguns dados básicos a respeito de faturamento, comércio exterior, principais produtos e 
produtores. Ao final, buscaremos avaliar como esse quadro pode ser impactado pelas mudanças 
internacionais discutidas acima. 
 
 
 
 
 
14 
Em 1994 as vendas de medicamentos em farmácia somaram US$ 3.831 milhões, dos quais US$ 212 
milhões, em torno de 5,5% daquele valor, correspondiam a produtos contendo exclusivamente 
princípios ativos de origem vegetal (ver Anexo 3). Tomando como base esse percentual e 
considerando um mercado global de produtos farmacêuticos de US$ 6.410 milhões naquele ano4, 
chega-se a US$ 355 milhões como estimativa do mercado de medicamentos produzidos a partir de 
plantas no Brasil. Se incluirmos ainda os medicamentos com princípios ativos de origem vegetal 
associados a princípios ativos de outra natureza podemos concluir que o mercado é ainda maior do 
que esta estimativa5. 
Como mostra o Quadro 2.10, os 25 principais medicamentos contendo apenas princípios ativos de 
origem vegetal venderam em farmácias US$ 145 milhões (representando 68% do total de vendas 
desse tipo de produto). 
 
4 A diferença de US$ 2.579 milhões entre o mercado global de US$ 6.410 e os US$ 3.831 milhões vendidos em 
farmácia corresponde a consumo em hospitais e postos de saúde, distribuição governamental, etc. 
5 As vendas de medicamentos associados somadas às vendas dos não-associados chega a 15,6% do total, o que 
representaria vendas globais de US$ 999 milhões. Mas esse número significaria uma estimativa exagerada do mercado 
de produtos obtidos a partir de plantas já que nos medicamentos associados estes podem ter uma participação marginal. 
 
 
 
 
 
15 
Quadro 2.10 - Medicamentos com princípios ativos de origem vegetal 
vendidos em farmácias 
PRODUTO LABORATORIO US$ mil (*) 
VICK VAPORUB LEP.M BIOLAB/SEARLE 14.742 
HYDERGINE SANDOZ 14.374 
FLORATIL MERCK S.A. 11.560 
DIGOXINA WELLCOME ZENECA 10.459 
TEBONIN BYK QUIMICA E FARM 8.399 
VENOCUR TRIPLEX KNOLL 8.391 
TAMARINE BARRENNE 7.379 
TANAKAN KNOLL 6.136 
TRANSPULMIN ASTA MEDICA 5.766 
VALDA CANONNE 5.687 
EPAREMA BYK QUIMICA E FARM 5.662 
NATURETTI MERRELL/LEPETIT 5.050 
PASSIFLORINE MILLET-ROUX 5.043 
GIAMEBIL HEBRON 3.823 
METAMUCIL BIOLAB/SEARLE 3.544 
NICOTINELL TTS BIOGALENICA 3.424 
TANAKAN F KNOLL 3.334 
CHOPHYTOL MILLET-ROUX 3.314 
BUSCOPAN BOEHRINGER ANGELI 3.195 
LEGALON BYK QUIMICA E FARM 3.110 
POLYTAR STIEFEL 2.753 
PASALIX MARJAN 2.421 
AGIOLAX BYK QUIMICA E FARM 2.409 
PROSTEM PLUS BALDACCI 2.396 
HYDROCARE ALLERGAN-LOK 2.336 
 Total 144.707 
(*) Vendas em farmácia de medicamento contendo um ou mais princípios 
ativos de origem vegetal exclusivamente 
Fonte: IMS, 1994.Com respeito ao comércio exterior, como se pode observar no Quadro 2.11, as exportações 
brasileiras de produtos naturais em 1995 e 1996 foram de US$ 47,8 milhões e US$ 53,9 milhões, 
respectivamente. 
Essas vendas ao exterior estão fortemente concentradas em apenas dois fitofármacos - pilocarpina e 
rutina -, que respondiam por 57% do total em 1995 e 48% em 1996 (vide Anexo 4). Se 
considerarmos que o Grupo Merck é o grande exportador de rutina e pilocarpina, podemos inferir 
que a concentração também é alta em termos do número de exportadores (um único grupo industrial 
responde por grande parcela do total exportado de produtos naturais). 
 
 
 
 
 
16 
Quadro 2.11 - Exportações de produtos de origem vegetal aplicados a medicamentos 
CAPÍTULO NBM 1995 
US$FOB 
1996 
US$FOB 
CAP. 12 – SEMENTES E FRUTOS OLEAGINOSOS; GRÃOS SEMENTES E 
FRUTOS DIVERSOS; PLANTAS INDUSTRIAIS OU MEDICINAIS; PALHAS E 
FORRAGENS 
 5.757.699 5.855.260 
CAP. 13 - GOMAS RESINAS E OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS 3.647.512 7.490.165 
CAP. 29 - PRODUTOS QUÍMICOS ORGÂNICOS 30.789.912 34.082.718 
CAP. 30 - PRODUTOS FARMACÊUTICOS 7.205.023 6.331.910 
CAP. 35 - MATÉRIAS ALBUMINÓIDES, PRODUTOS À BASE DE AMIDOS 
OU DE FÉCULAS MODIFICADAS; COLAS; ENZIMAS 
 433.963 104.395 
 
Total 47.834.109 53.864.448 
Fonte: Secex 
Como mostra o Quadro 2.12, as importações brasileiras de produtos naturais foram de US$ 193,3 
milhões em 1995 e US$ 178,0 milhões em jan-out/1996. 
Essas importações estão melhor distribuídas por diversos produtos. O único item que ultrapassa 
10% do total nos dois anos é o Acetato de ciproterona (vide Anexo 4). 
Quadro 2.12 - Importações de produtos de origem vegetal aplicados a medicamentos 
CAPÍTULO NBM 1995 
US$FOB 
1996 (Jan-Out) 
US$FOB 
CAP. 12 - SEMENTES E FRUTOS OLEAGINOSOS; GRÃOS SEMENTES E 
FRUTOS DIVERSOS; PLANTAS INDUSTRIAIS OU MEDICINAIS; PALHAS E 
FORRAGENS 
 4.401.979 3.827.216 
CAP. 13 - GOMAS RESINAS E OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS 19.461.961 18.122.378 
CAP. 29 - PRODUTOS QUÍMICOS ORGÂNICOS 160.700.015 147.398.934 
CAP. 30 - PRODUTOS FARMACÊUTICOS 7.671.632 8.434.958 
CAP. 35 - MATÉRIAS ALBUMINÓIDES, PRODUTOS À BASE DE AMIDOS OU 
DE FÉCULAS MODIFICADAS; COLAS; ENZIMAS 
 1.040.674 242.935 
 
Total 193.276.261 178.026.421 
Fonte: Secex 
Chama a atenção a disparidade entre os níveis de exportação e importação registrados nos Quadros 
2.11 e 2.12. O Quadro 2.13, com o balanço comercial, mostra o déficit existente em quatro dos 
cinco capítulos da NBM selecionados, com destaque para o capítulo 29 (Produtos Químicos 
Orgânicos). 
 
 
 
 
 
17 
Quadro 2.13 - Balanço do comércio exterior para as categorias de produtos de origem vegetal 
aplicados a medicamentos 
CAPÍTULO NBM 1995 
US$FOB 
1996 (estimativa) 
US$FOB 
CAP. 12 - SEMENTES E FRUTOS OLEAGINOSOS; GRÃOS SEMENTES E 
FRUTOS DIVERSOS; PLANTAS INDUSTRIAIS OU MEDICINAIS; PALHAS E 
FORRAGENS 
 1.355.720 1.262.601 
CAP. 13 - GOMAS RESINAS E OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS (15.814.449) (14.256.689) 
CAP. 29 - PRODUTOS QUÍMICOS ORGÂNICOS (129.910.103) (142.796.003) 
CAP. 30 - PRODUTOS FARMACÊUTICOS (466.609) (3.790.040) 
CAP. 35 - MATÉRIAS ALBUMINÓIDES, PRODUTOS À BASE DE AMIDOS 
OU DE FÉCULAS MODIFICADAS; COLAS; ENZIMAS 
 (606.711) (187.127) 
 
Total (145.442.152) (159.767.257) 
Fonte: Secex 
O Quadro 2.14 mostra as 25 maiores empresas por faturamento em medic amentos contendo 
exclusivamente princípios ativos de origem vegetal. 
Quadro 2.14 - 25 maiores empresas por vendas em farmácia de medicamentos 
contendo exclusivamente princípios ativos de origem vegetal 
Empresa Vendas Totais 
US$ mil 
Vendas de m.o.v. (*) 
US$ mil 
% das Vendas 
Totais 
BYK QUIMICA E FARM 102.076 21.132 21 
BIOLAB/SEARLE 87.123 19.570 22 
KNOLL 80.673 17.861 22 
SANDOZ 99.358 14.671 15 
MERCK S.A. 72.999 12.770 17 
WELLCOME ZENECA 82.475 11.137 13 
MILLET-ROUX 16.018 9.386 59 
BARRENNE 8.371 8.371 100 
STIEFEL 33.544 6.574 20 
ASTA MEDICA 75.986 6.043 8 
CANONNE 5.687 5.687 100 
MERRELL/LEPETIT 132.672 5.050 4 
FRUMTOST 35.549 4.011 11 
HEBRON 10.209 3.968 39 
INFABRA 4.822 3.733 77 
VIRTUS 21.083 3.536 17 
BIOGALENICA 220.445 3.424 2 
BALDACCI 16.355 3.353 20 
CATARINENSE 10.854 3.339 31 
BOEHRINGER ANGELI 132.284 3.195 2 
MARJAN 19.155 3.017 16 
ALLERGAN-LOK 16.425 2.695 16 
BRISTOL MEYERS SQUIBB 252.847 2.530 1 
LUITPOLD 9.778 2.386 24 
FONTOVIT 3.287 2.229 68 
 Total Geral 1.550.075 179.668 
(*) Medicamento contendo um ou mais princípios ativos de origem vegetal exclusivamente 
Fonte: IMS, 1994. 
 
 
 
 
 
18 
A partir do Quadro 2.14, podemos montar os Quadros 2.15 e 2.16. No Quadro 2.15 estão 11 
empresas que figuram entre as 25 maiores empresas farmacêuticas por faturamento total (Quadro 
2.17), indicando que as grandes empresas têm forte presença no mercado de medicamentos obtidos 
a partir de plantas, com vendas variando entre 2,5 e 21 US$ milhões. Pode-se notar também que a 
participação desses medicamentos no total de vendas é pequena (máximo de 22%; 9% em média). 
O Quadro 2.16 é composto pelos 7 laboratórios cujas vendas de m.o.v. representam mais de 30% 
das vendas totais, isto é, por aqueles que estão mais fortemente direcionados para 
fitomedicamentos. Como se pode notar, são empresas farmacêuticas de menor porte, nenhuma das 7 
aparecendo na lista das 25 maiores. 
 
Quadro 2.15 - Empresas do Quadro 2.14 com vendas em farmácia superiores a 
US$ 70 milhões 
Empresa Vendas Totais 
US$ mil 
Vendas de m.o.v. (*) 
US$ mil 
% das Vendas 
Totais 
BRISTOL MEYERS SQUIBB 252.847 2.530 1 
BIOGALENICA 220.445 3.424 2 
MERRELL/LEPETIT 132.672 5.050 4 
BOEHRINGER ANGELI 132.284 3.195 2 
BYK QUIMICA E FARM 102.076 21.132 21 
SANDOZ 99.358 14.671 15 
BIOLAB/SEARLE 87.123 19.570 22 
WELLCOME ZENECA 82.475 11.137 13 
KNOLL 80.673 17.861 22 
ASTA MEDICA 75.986 6.043 8 
MERCK S.A. 72.999 12.770 17 
(*) Medicamento contendo um ou mais princípios ativos de origem vegetal exclusivamente 
Fonte: IMS, 1994. 
Quadro 2.16 - Empresas do Quadro 2.14 com participação de m.o.v. nas 
vendas em farmácia superior a 30% 
Empresa Vendas Totais 
US$ mil 
Vendas de m.o.v. (*) 
US$ mil 
% das Vendas 
Totais 
BARRENNE 8.371 8.371 100 
CANONNE 5.687 5.687 100 
INFABRA 4.822 3.733 77 
FONTOVIT 3.287 2.229 68 
MILLET-ROUX 16.018 9.386 59 
HEBRON 10.209 3.968 39 
CATARINENSE 10.854 3.339 31 
(*) Medicamento contendo um ou mais princípios ativos de origem vegetal exclusivamente 
Fonte: IMS 
 
 
 
 
 
19 
Quadro 2.17 - 25 maiores empresas farmacêuticas em vendas em farmácia 
EMPRESA US$ mil 
BRISTOL MEYERS SQUIBB 252.847 
ACHE 237.700 
BIOGALENICA 220.445 
ROCHE 198.229 
WYETH 153.832 
MERRELL/LEPETIT 132.672 
BOEHRINGER ANGELI 132.284 
PRODOME 128.261 
LILLY 113.575 
SCHERING PLOUGH 105.493 
SANOFI WINTHROP 102.669 
BYK QUIMICA E FARM 102.076 
RHODIA 101.174 
SANDOZ 99.358 
HOECHST 94.648 
MERCK SHARP DOHME 88.483 
BIOLAB/SEARLE 87.123 
WELLCOME ZENECA 82.475 
KNOLL 80.673 
ASTA MEDICA 75.986 
MERCK S.A. 72.999 
CILAG FARM.LTDA 72.709 
ORGANON 67.697 
ABBOTT 65.777 
FARMASA 57.414 
 Total 2.926.599 
Fonte: IMS 
Os Quadros acima sugerem a existência de pelo menos dois grupos distintos de empresas entre as 
maiores fabricantes de medicamentos de origem vegetal no Brasil. De um lado, grandes empresas 
farmacêuticas, cujo peso nesse mercado específico na verdade reflete seu porte e atuação no 
conjunto da indústria farmacêutica. A maior parte de suas vendas (na média, mais de90%) 
concentra-se em produtos sintéticos e a pequena parcela dos medicamentos de origem vegetal é 
composta principalmente de produtos cujos princípios ativos são obtidos por extração 
(fitofármacos). De outro lado, estão os laboratórios menores, com produção direcionada mais 
fortemente para medicamentos de origem vegetal, entre os quais, possivelmente, seja maior a 
participação de fitoterápicos em relação a fitofármacos. 
As do segundo grupo são, de modo geral, pequenas e médias empresas familiares. Dentre estas, 
apenas algumas poucas se destacam pelo profissionalismo e seriedade com que atuam na área de 
produtos naturais. Por exemplo, uma das empresas entrevistadas possui uma área de P&D 
estruturada, com 8 farmacêuticos, 2 químicos, 1 engenheiro químico e 3 técnicos, em grande 
 
 
 
 
 
20 
medida voltada para pesquisa em produtos naturais6. Seu faturamento está na casa dos US$ 17 
milhões (1994), dos quais aproximadamente 65% correspondem a produtos naturais puros ou 
associados (percentagem que vem crescendo continuamente desde 1990, quando atingia 45%). Essa 
empresa mantém acordos de cooperação com universidades, basicamente voltados para a realização 
de pesquisas pré-clínicas e clínicas com o objetivo de comprovar a eficácia terapêutica dos produtos 
e garantir sua qualidade e segurança desde o cultivo da planta até a extração dos princípios ativos. 
De todo modo, o exemplo acima deve ser encarado antes como a exceção do que a regra entre as 
empresas desse primeiro grupo. 
As do primeiro grupo não se distinguem de outras empresas farmacêuticas que trabalham 
unicamente com produtos sintéticos. Costumam especializar-se em determinadas classes 
terapêuticas que, em certos casos, pode implicar um maior número de produtos de origem natural, 
sem restringir necessariamente o uso de moléculas obtidas por outros meios - síntese química ou 
biotecnologia. As principais empresas desse tipo são multinacionais que preferem privilegiar um 
modelo que, sem descartar os fitofármacos, tem apreço relativamente pequeno pelos fitoterápicos. 
A principal restrição decorre da dificuldade de lidar com produtos que contenham uma grande 
quantidade de componentes, alguns dos quais, além de inefetivos, podem ser perigosos. Habituadas 
a um ambiente onde são severamente fiscalizadas pelas autoridades sanitárias, muitas empresas 
internacionais preferem a segurança de trabalhar com substâncias isoladas, descartando os 
fitoterápicos. 
O exemplo da Merck é ilustrativo. A empresa, uma das mais importantes em produtos naturais do 
país, possui plantações próprias de jaborandi e de fava d’anta para extração da pilocarpina e rutina, 
que comercializa como substâncias puras, principalmente no mercado externo7. Entretanto, os 
produtos naturais representam pouco mais de 20% das vendas da empresa, os sintéticos somando 
quase 80%, segundo dados da empresa8. 
Esse ponto deve ser destacado na análise das dificuldades para desenvolver a produção de 
medicamentos a partir de produtos naturais. As firmas, de modo geral, encaram esse segmento 
 
6 As atividades incluem otimização dos processos de extração, processos de separação, isolamento, identificação e 
doseamento dos princípios ativos das plantas e do produto acabado, busca de comprovação científica das atividades 
terapêuticas e segurança do produto, entre outras. 
7 Vale registrar a balança comercial positiva da Merck, atestada no Quadro 4, fato pouco usual na indústria farmacêutica 
brasileira. 
8 O dado do Quadro 2.15, limitado a vendas em farmácia, é de 17% para vendas de produtos de origem vegetal. 
 
 
 
 
 
21 
como marginal e concentram-se fundamentalmente na produção de sintéticos. Uma grande empresa 
farmacêutica nacional, apesar de revelar um grande interesse na área de produtos naturais, 
acompanhando os desenvolvimentos internacionais, realiza menos de 3% de suas vendas com esses 
produtos. 
Por outro lado, os laboratórios que concentram suas vendas (acima de 30%) em produtos naturais 
são, quase sempre, pequenos e com baixa capacidade de investir no desenvolvimento da área. Não 
por acaso, a Portaria 123 de 1º de outubro de 1994 do Ministério da Saúde, regulamentando a 
comercialização de fitoterápicos, encontra forte resistência entre as empresas - com exceção de uma 
única, já mencionada acima como caso raro de empresa que investe em P&D e mantém acordos de 
cooperação com universidades. 
O principal argumento utilizado pelas empresas questionando a Portaria é a dificuldade inerente ao 
processo de caracterização química e farmacológica dos princípios ativos contidos nos materiais 
vegetais, o que exige tempo e recursos apreciáveis. Na verdade, essa reclamação atesta a 
incapacidade técnica e econômica dessas empresas para se enquadrar em um ambiente de maiores 
níveis de exigência, exagerados para os atuais padrões brasileiros, mas adequados ao quadro 
internacional. 
Em síntese, vários problemas dificultam a atuação das empresas farmacêuticas brasileiras na área de 
produtos naturais: 
1) O elevado grau de internacionalização da indústria farmacêutica (algo como 70% das vendas 
pertencem a empresas estrangeiras) define uma orientação dada pelas matrizes dessas grandes 
multinacionais. Como vimos acima, de modo geral, essa orientação privilegia as substâncias 
isoladas e obtidas por síntese. Embora, como apontado na seção anterior, essas grandes firmas 
revelem um interesse crescente pelos produtos naturais, os efeitos das mudanças em curso (como as 
aquisições do Quadro 2.8) ainda levarão algum tempo para repercutir no Brasil. 
2) São diminutos os investimentos em P&D. Isto também decorre, em parte, da orientação dada 
pelas grandes firmas internacionais. Estas tendem a concentrar suas atividades de P&D nas 
matrizes, diversificando no máximo para um segundo centro (em geral na Europa, quando se trata 
de firmas americanas, e nos EUA, quando são firmas européias). As firmas nacionais, que 
tenderiam a fazer pesquisa no país, simplesmente não têm porte suficiente para realizar os 
investimentos necessários (porte esse que, como apontado no capítulo 2, é cada vez mais 
expressivo). Tudo isto acaba favorecendo a aquisição de pacotes tecnológicos prontos. 
 
 
 
 
 
22 
3) Os baixos investimentos em P&D limitam drasticamente a interação universidade-empresa. Não 
existem mecanismos de comunicação eficientes entre essas instituições, a exemplo do que ocorre 
nos países desenvolvidos. Tecnologias simples, muitas vezes disponíveis na universidade, acabam 
não se tornando acessíveis a empresas que teriam a possibilidade de explorá-las. 
4) É baixa a qualificação dos recursos humanos. A oferta de pessoal técnico de bom nível é muito 
restrita e a disponibilidade de recursos das empresas para treinamento é limitada. 
5) Existem dificuldades no suprimento, armazenamento, padronização e cumprimento de prazos de 
entrega de matérias-primas. Os produtores de plantas medicinais não estão organizados e não 
mantêm um controle botânico de qualidade adequado. Além disto, o extrativismo destrutivo 
compromete o abastecimento futuro e leva a adulterações frequentes. 
Concluindo, a indústria nacional necessita realizar um grande esforço para atingir os padrões de 
qualidade que estão sendo exigidos mundialmente e até mesmo no país, a partir de medidas como a 
Portaria 123. Em um primeiro momento as empresas podem considerar impossível o atendimento 
de todas as exigências da Portaria, mas o fato é que se não caminharem rapidamente na direção por 
ela sinalizada estarão na contra-mão das tendências internacionais. 
A partir daí, pode-se imaginar alguns desdobramentos possíveis. Caso os investimentosdas 
empresas em pesquisa, melhor controle de qualidade, etc, não venham a ocorrer, a defasagem em 
relação às empresas de fitoterápicos de outros países irá se ampliar. Como estas empresas estão se 
internacionalizando, eventualmente associadas ou incorporadas a multinacionais do setor 
farmacêutico, é razoável supor que o futuro da produção brasileira de fitomedicamentos dependerá 
diretamente das estratégias das grandes empresas. A exemplo do que já ocorreu no segmento de 
medicamentos sintéticos, tenderá a haver uma internacionalização da produção, com a atuação das 
empresas nacionais restrita a nichos de mercado e com participação marginal. 
 
 
 
 
 
23 
3. A PESQUISA DE MEDICAMENTOS A PARTIR DE PLANTAS 
3.1 O processo de desenvolvimento de novos medicamentos 
Plantas medicinais para pesquisa de novas drogas 
O rápido desenvolvimento da biotecnologia e da biologia molecular a partir da década de 70 parecia 
tornar obsoleto o método tradicional de pesquisa de novos medicamentos através do screening de 
extratos de plantas. A compreensão dos mecanismos causadores das enfermidades em nível 
molecular e a capacidade de desenhar proteínas, com auxílio de novas ferramentas computacionais 
que também se desenvolviam rapidamente, abria a perspectiva de sintetizar novas drogas com muito 
maior eficácia, partindo apenas do saber científico acumulado. Por conta disto, diversas empresas 
farmacêuticas redirecionaram seus esforços de pesquisa, assignando um papel secundário ao 
screening. 
Essa percepção do screening como método ultrapassado, ou em vias de obsolescência, vêm se 
revelando precipitada nos anos recentes. Observa-se uma retomada por parte das empresas das 
pesquisas que partem de plantas medicinais, até mesmo em função das novas técnicas disponíveis. 
Novos ensaios biológicos, ditos robotizados, (High trougthput screening) permitem escrutinar 
dezenas de milhares de compostos por ano com esforço muito menor do que o despendido nos 
testes tradicionais. 
Esse movimento de “volta às raízes” (Scientific American, jan/1993) também decorre da 
comprensão de que a biotecnologia ainda não está em condições de competir com a natureza na 
formulação de moléculas com atividade terapêutica: 
“Nós ainda não atingimos o avanço científico que permita desenhar drogas rotineiramente a 
partir de princípios básicos, sem quaisquer pistas” (Lynn Caporale, diretor de avaliação 
científica da Merck, citado em Science, vol. 256, 22/5/1992). 
As empresas internacionais não esperam “descobrir” novos compostos de uso terapêutico a partir de 
plantas medicinais, ainda que isto tenha uma pequena chance de ocorrer. Elas procuram, na 
verdade, modelos na natureza (templates) que lhes permitam utilizar como ponto de partida para o 
desenho de drogas. Trata-se, portanto, de uma combinação de técnicas novas com o screening, e 
não a sua substituição. 
A SmithKline Beecham acaba de lançar no mercado um medicamento derivado de planta, o 
topotecam, para tratamento de câncer no ovário (FSP, jun/96). Essa droga é um análogo do 
 
 
 
 
 
24 
camptotecin, um composto extraído de árvores na China e na India (Camptotheca acuminata), 
descoberto nos anos 60 pelo Instituto Nacional do Câncer e considerado muito tóxico para tratar 
pacientes de câncer. A SmithKline e a Rhône-Poulenc criaram a partir da C. acuminata produtos 
similares, solúveis em água, e menos tóxicos. 
A Glaxo também está estudando análogos do camptotecin e está pesquisando novas plantas 
medicinais como parte de um consórcio de pesquisa com a Universidade de Illinois, Chicago, um 
dos mais importantes centros acadêmicos na área. 
O enfoque dessas grandes empresas farmacêuticas está na identificação de princípios ativos, e não 
na utilização direta de plantas medicinais. Estas podem eventualmente ser a matéria-prima para 
extração das substâncias puras (fitofármacos), embora as empresas naturalmente busquem 
desenvolver métodos de síntese. Mas o que deve ser sublinhado aqui é a importância renovada das 
plantas medicinais na descoberta desses novos princípios ativos, seja por utilização direta, hemi-
síntese ou síntese. 
Das 250.000 espécies de plantas no mundo, menos de 10% foram exaustivamente investigadas com 
vistas ao descobrimento de propriedades terapêuticas (Scientific American, jan/93 - segundo outras 
estimativas, o número de plantas investigadas é muito menor, inferior a 0,5%). A pesquisa desse 
enorme acervo, longe de ser relegada a segundo plano, ganha impulso com as novas técnicas 
biotecnológicas. 
Em um trabalho que busca estimar o valor de fármacos ainda não descobertos nas florestas 
tropicais, onde se encontram metade das plantas do mundo, Mendelsohn e Balick (1995) calculam 
em 375 o número potencial de drogas existentes naquelas florestas. Desse total, 47 já teriam sido 
descobertas, como a vincristina, vinblastina, curare, quinino, codeína e pilocarpina. 
Esta seguramente é uma das razões para que 125 das maiores empresas farmacêuticas mundiais, que 
não tinham qualquer projeto com plantas medicinais há cerca de 15 anos, estejam agora 
empenhadas em pesquisas nessa área. 
O desenvolvimento de novos medicamentos e as competências requeridas 
A Figura 3.1 mostra esquematicamente como são pesquisados, desenvolvidos, testados, produzidos 
e formulados medicamentos, incluindo o estudo de marketing. O esquema pode ser aplicado ao 
estudo integral de plantas medicinais visando novos medic amentos. 
Os conjuntos A e B existem eventualmente nas universidades, o conjunto C na indústria química e o 
conjunto D na indústria farmacêutica. Em nenhuma empresa, instituto de pesquisa ou universidade 
 
 
 
 
 
25 
estão presentes todos os quatro conjuntos, o que sublinha a necessidade de articulação e integração 
entre esses distintos elementos. 
Existem inúmeras dificuldades no percurso que vai da idéia de um medicamento até o mercado: 
tempo longo, custo alto, necessidade de domínio de tecnologias avançadas e de equipes bem 
treinadas e multidisciplinares. Isto faz com que apenas empresas grandes, competentes e com 
grande disponibilidade de recursos para investimento desenvolvam medicamentos. 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
Tomemos como exemplo as metodologias de P&D de medicamentos (que podem ser aplicáveis à 
P&D de qualquer outro produto derivado do metabolismo secundário de plantas, sejam inseticidas, 
cosméticos, corantes, etc.). Desde a idéia inicial até o produto ser colocado no mercado, consome-
se entre 7 a 20 anos. A média dos últimos anos (McChesney, 1993) atingiu 12,6 anos nos EUA e 
segundo outras fontes o valor pode chegar a US$ 600 milhões/medicamento, aí incluídos os custos 
com marketing, e demorados estudos biológicos, conforme já apontado na seção 2.1. Esses 
 
Figura 3.1 - a produção de novos medicamentos: da idéia ao mercado 
 
 Idéia A 
 ê 
 Pesquisa em laboratório 
 î 
 ê Screening B 
 P&D ê 
 
 ê C Ensaios pré-clínicos 
 Produção piloto ê 
 Ensaios clínicos 
 ê í 
 
 Produção industrial 
 ê 
 Formulação D 
 ê marketing 
 Mercado 
 
 
 
 
 
 
27 
números indicam que essa atividade é restrita a poucas e grandes empresas multinacionais 
farmacêuticas. 
Vários pesquisadores afirmam que quando um medicamento é originado de plantas medicinais o 
custo pode ser bem menor. McChesney (1993) mostra que um produto desenvolvido na University 
of Mississipi, Research Institute of Pharmaceutical Sciences custou US$ 35 milhões. 
Os 4 conjuntos A, B, C e D (Figura 3.1) raramente são executados pelo mesmo organismo mesmo 
na área empresarial.Na China há informações de que isto é algumas vezes realizado com base em 
decisões políticas de governo. 
No Brasil a P&D e produção piloto (conjunto C) raramente são realizadas, exceções feitas a 
algumas cópias de medicamentos sintéticos comerciais, desenvolvidas no passado pela Codetec e 
algumas poucas empresas brasileiras. 
A multidisciplinaridade e a interinstitucionalidade são fatores exigidos se se pretende desenvolver 
medicamentos à base de plantas, principalmente fitofármacos. 
Existe uma razoável capacitação técnica, mas a interação entre os atores principais é muito 
deficiente. 
Joint-venture para a descoberta de fitofármacos 
Nos anos 90 as companhias farmacêuticas se lançaram fortemente nas cooperações para a 
descoberta de novos produtos farmacêuticos (Drug Discovery Alliance). 
Empresas médias fizeram aquisições, fusões, mas sobretudo joint-ventures e acordos de cooperação 
para conseguir seus objetivos e metas. 
Metodologia para a descoberta de fitofármacos 
Vários métodos são usados por empresas internacionais farmacêuticas para a pesquisa de 
medicamentos de plantas medicinais: 
· Etnofarmacologia 
· Triagem e Erro 
· Estudos Micromoleculares 
· Busca em Banco de Dados 
 
 
 
 
 
28 
A etnofarmacologia é uma ciência ainda mal desenvolvida e mal compreendida no Brasil, onde há 
poucos profissionais que se definem como etnofarmacólogos e a disciplina praticamente não existe 
nos cursos de pós-graduação. Além isso é pouco acreditada por amplos setores da ciência oficial. 
No entanto a etnofarmacologia é um elemento metodológico hoje fundamental para empresas dos 
EUA e Europa buscar medicamentos de plantas nos trópicos. 
A empresa inglesa Hutton Molecular Development e a Shaman Pharmaceuticals dos EUA, adotam a 
etnofarmacologia para a sua estratégia de pesquisar medicamentos. O NIH nos anos 90 publicou 
um edital internacional o seu interesse de pesquisar plantas medicinais das áreas tropicais para 
AIDS e Câncer .O mais interessante é que o edital exigia a pesquisa de informações diretamente 
com curandeiros e outros profissionais não reconhecidos pela ciência ortodoxa. 
Com relação aos estudos micromoleculares, são quase sempre estudos de fitoquímica clássica: 
extração, isolamento, purificação e identificação de substâncias naturais de plantas. São também 
chamados, “estudos de substâncias do metabolismo secundário”, como os alcalóides, glicosídeos, 
esteróides, terpenos, flavonóides, e outras moléculas de baixo peso molecular (< 1000), e que 
frequentemente são os princípios ativos das plantas medicinais. 
Os estudos micromoleculares aliados a botânica algumas vezes são advogados (Gottlieb, 1993) 
como uma metodologia alternativa para a busca de fitofármacos. No entanto, não foi demonstrado, 
até agora, que esta metodologia possa substituir os meios ortodoxos como a etnofarmacologia e 
etnobiologia aliada à busca on-line em banco de dados. 
Banco de dados bem organizados e acessíveis como o NAPRALERT da Univ. de Illinois (Prof. N. 
Farnsworth), tem sido usados por importantes empresas estrangeiras na área de Produtos Naturais, 
para a descoberta (drug discovery) de novos medicamentos (Seidl, 1993) 
Triagem e erro e estudos micromoleculares têm sido usados em pequena escala por empresas 
farmacêuticas usando medicamentos naturais. 
No Simpósio Brasileiro de Plantas Medicinais, sediado em Florianópolis, em setembro de 1996, o 
Dr. Michael Tempesta, da empresa Farmacêutica LAREX (EUA), informou que sua empresa está 
fazendo um amplo estudo fitoquímico de plantas farmacologicamente ativas. Larex desenvolveu 
um processo quimio-mecânico que permite o isolamento e a separação em larga escala (tons de 
plantas/hora) de 200 até 500.000 diferentes moleculas de baixo peso molecular(<1000amu). De 
cada planta é possivel retirar 100 diferentes moleculas que serão oferecidas a empresas 
farmacêuticas para o desenvolvimento de ensaios biológicos. Este é um exemplo de empresa que 
 
 
 
 
 
29 
poderia proliferar no Brasil, já que, como veremos, não falta ao país competência científica, mas 
objetivos e metas. 
3.2 A pesquisa científica em plantas medicinais no Brasil 
Infraestrutura 
O Brasil possui a maior base universitária e técnica das Américas, excluindo os EUA. Nossos 
cientistas publicam nas melhores revistas internacionais. O sistema de pós-graduação tem bom 
nível, com 36.000 bolsas de estudos no país e 4.000 no exterior (Barreto de Castro, 1993). 
Há uma inegável capacitação científica, nas áreas de química de produtos naturais (pelo menor 900 
profissionais) e farmacologia (pelo menos 1500 outros), que permite o desenvolvimento de 
fitofármacos. As outras áreas afins como medicina, botânica, farmácia e engenharias, estão 
igualmente bem qualificadas e em número adequado. 
São aproximadamente 70 os grupos lidando com a pesquisa de produtos naturais no Brasil, 
especializados em química e farmacologia. Alguns destes grupos estudam especificamente plantas 
medicinais. 
Recursos 
Embora regrados, nos últimos anos os recursos para a pesquisa de plantas medicinais existem, como 
se pode observar pelo que foi dispendido pela CEME-MS desde a sua criação. 
Em 1995 o MCT teve um orçamento de US$ 1 bilhão, sendo US$ 550 milhões atribuídos ao CNPq. 
Outros recursos para a pesquisa científica foram fornecidos pelas FAP’s, FINEP, CAPES, FIPEC, 
PADCT, e outros internacionais. No capítulo 4 estão indicados os valores destinados à área de 
produtos naturais e afins. Infelizmente, não foi possível destacar desse total quanto foi alocado para 
a pesquisa de plantas medicinais. 
O parque de equipamentos analíticos nas universidades brasileiras é, em alguns casos, equivalente 
aos das melhores universidades estrangeiras. 
Apesar dessa razoável base científica, a distância necessária para realizar P&D de compostos bio-
ativos é ainda muito grande. Conforme apontado acima, os custos de desenvolvimento são muito 
altos, o tempo é longo e são exigidas equipes multidisciplinares e competentes para a tarefa 
específica. Devido à complexidade e custo para colocar um novo medicamento no mercado, quase 
sempre são as multinacionais as que conseguem desenvolver novos produtos farmacêuticos. O fator 
 
 
 
 
 
30 
limitante, e isto transparece das entrevistas feitas, não são os recursos alocados mas outros fatores 
como a vontade política de fazer medicamentos e a cooperação entre grupos multidisciplinares. 
Base técnico-científica brasileira 
A universidade brasileira é o centro de pesquisas e eventualmente do desenvolvimento de 
medicamentos de plantas medicinais. As empresas brasileiras, como vimos na seção 2.3, não 
apresenta capacidade de pesquisa na medida das necessidades do setor. 
Sem dúvida, a massa crítica capaz de desenvolver pesquisas em plantas úteis/medicinais está nas 
universidades (Redwood, 1995). As universidades e institutos de pesquisa brasileiros, apesar das 
dificuldades, têm contribuído fortemente para a descoberta de novas moléculas que poderão vir a 
ser aproveitadas para a pesquisa fitofarmacêutica de plantas medicinais. 
Os modernos métodos de prospecção disponíveis hoje para a identificação de micromoléculas 
(Gottlieb, 1993) assim como outras metodologias químicas permitiram um avanço considerável nos 
últimos anos, levando à descoberta de protótipos (synthons e templates), moléculas modelo para a 
produção de fitofarmacêuticos. 
Muitas patentes que deram origem a medicamentos hoje comercializados por empresas 
multinacionais tiveram origem em universidades brasileiras, através de pesquisas financiadas pelo 
governo brasileiro (Gottlieb, 1980; Pharma 1994; Napralert, 1995). 
Inclusive, muitas plantas que nãosão consideradas medicinais podem vir a ser a base de novas 
moléculas biologicamente ativas, se exploradas dentro de um programa adequado voltado para a 
P&D e produção de novos fármacos (Barata, 1976 e 1994). Para um programa deste tipo é 
necessário um trabalho multidisciplinar, envolvendo botânicos, biólogos, farmacológos, médicos, 
agrônomos, economistas, químicos e engenheiros químicos, mas ainda isto não é suficiente. É 
necessário uma metodologia adequada e objetivos e metas bem definidas. 
Não existem no Brasil institutos de pesquisa como a Caltech e o MIT (EUA), ou de apoio como o 
BTG (Inglaterra), dirigidos à pesquisa aplicada/tecnológica, e a universidade brasileira, cuja 
competência para produzir recursos humanos é inegável, não revela o mesmo dinamismo na 
pesquisa aplicada. Entretanto, ela poderia ser mobilizada nesta direção, como indicam os cerca de 
70 grupos de pesquisa em química e farmacologia de produtos naturais no Brasil que poderiam 
participar do esforço da produção de medicamentos no país (Quadro 3.1). 
 
 
 
 
 
31 
Quadro 3.1 - Grupos de pesquisa em química de produtos naturais, botânica e farmacologia. 
Amapá IRDA - ex-Icomi, atual Grupo CAEMI 
Museu Costa Lima SEPLAN Gov. Estado 
Pará UFPa - Depto. Química 
POEMA - Eng. Química 
MPEG - Museu Paraense Emílio Goeldi 
Instituto Evando Chagas 
Embrapa - PA 
Amazonas INPA (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazonia) 
UFAm 
Embrapa - AM 
Ceará UFCe - Inst. Química 
Instituto de Biologia 
PADETEC 
Embrapa - CE 
Paraíba UFPb: IQ e LTF (Laboratório Tecnologia Farmacêutica) 
UFPb – FCM (Faculdade de Ciências Médicas) 
Pernambuco UFPe: IQ e Instituto de Antibióticos 
Embrapa – PE 
Alagoas UFAL - Grupo de Biotecnologia 
Bahia UFBa-IQ 
EMBRAPA-BA 
Minas Gerais UFMG: IQ e Fac. Farmácia 
Univer.Fed. Viçosa 
FIOCRUZ Inst. Reneé Rachou 
Embrapa-MG 
Brasília UNB-IQ 
CENARGEM 
EMBRAPA 
Rio de Janeiro UFRJ: NPPN; Instituto Carlos Chagas e Instituto Biofísica 
FIOCRUZ-RJ 
UFF-IQ 
UFRRJ-Rural 
UERJ 
EMBRAPA-RJ 
São Paulo USP- SP: IQ; IB; Fac. Farmácia; RP- 
USP-RP: Fac. Farmácia e FCM 
USP – S. Carlos 
UNESP: Botucatu e Araraquara 
UNESP- 
ESALQ-Piracicaba 
UNICAMP: IQ; IB; FCM; HC;CPQBA e FEA - Lab. Óleos e Gorduras 
IAC-(Instituto Agronômico de Campinas) Grupos de Fitoquímica e Plantas Medicinais 
EPM (atual UFSP) 
EMBRAPA- Jaguariuna 
ITAL 
Instituto Butantã 
Instituto Adolpho Lutz 
Instituto Florestal 
Instituto Biológico 
UF São Carlos - IQ 
Univ. MetodistaPiracicaba-UNIMEP 
Paraná UFPr: IQ e Fac. de Farmácia 
UE Maringá 
Santa Catarina UFSC - Depto. de Química e Farmacologia 
Rio Grande do Sul UFRGS: IQ e IB 
Sta Maria 
Mato Grosso UFMT - Inst. Biologia 
 
 
 
 
 
32 
Goiás UFGo 
 
 
Perfil dos grupos de pesquisa 
Na área química, Seidl (1991) aponta que 27,6% dos orientadores de projetos atuam em química 
orgânica, e destes 31,2% estão em produtos naturais e 35,8% em sínteses orgânicas. A absoluta 
maioria (99,9%) seriam doutores em tempo integral na academia. 
São aproximadamente 45 os grupos de Fitoquímica no Brasil. (Quadro 3.1). Estão distribuídos pelo 
Norte, Nordeste (15 grupos) Sudeste (25) e alguns poucos no Sul (5). Estão localizados sobretudo 
nas universidades e apenas 10 em instituições governamentais e outras. Estão sediados sobretudo 
nos institutos de química mas também em faculdades de farmácia, e mais raramente nos institutos 
de biologia. Na sua imensa maioria fazem parte do sistema de pós-graduação e como consequência 
geram teses de mestrado e doutorado, além de publicações. 
A imensa maioria dos grupos é coordenada por pesquisadores seniors com titulação mínima de 
doutor em ciência, muitos com pós-doutorado no exterior. 
São fitoquímicos com pós-graduação no país sendo formados em diferentes cursos de graduação, 
sobretudo química mas também farmácia e biologia além de outras. 
Das equipes fazem parte um vasto número de bolsistas de iniciação científica9, mestrandos, 
doutorandos e técnicos. Mas são raros os contratados como free-lancer para projetos específicos. As 
bolsas de especialização são muito difíceis de obter e em S. Paulo o Programa RHAE-CNPq é sub-
utilizado. 
As condições de trabalho variam enormemente, de laboratórios de excelente qualidade estrutural a 
outros com condições até precárias. No entanto, a qualidade acadêmica do trabalho é boa, mesmo a 
dos grupos abrigados em laboratórios que deixam a desejar. 
Os grupos de pesquisa de produtos naturais quase sempre fazem parte dos departamentos de 
química orgânica, distribuídos por 15 universidades e outras instituições governamentais. De fato, 
um terço dos orientadores na área de química orgânica pertence a grupos de produtos naturais 
(SEIDL, 1991)10. 
 
9 Em 1995, havia em todo o país aproximadamente 15.000 bolsistas de I.C. do CNPq e menos que 1000 da FAPESP. 
10 SEIDL, P.R. - Potencial da Pesquisa Química nas Universidades Brasileiras, Estudos e documentos no 17, CNPq 
(1991) 
 
 
 
 
 
33 
Há registro de apenas alguns poucos grupos de pesquisa e desenvolvimento de produtos naturais 
ligado a empresas ( ex.: CAEMI, ex-ICOMI, Brasmazon ,Estado do Amapá e Centroflora -SP). É 
certo que outras empresas eventualmente fazem convênios ou contratos com universidades para 
estudos específicos, mas estes dados não puderam ser levantados. Há ainda um competente exemplo 
na Universidade do Ceará (UFCe), coordenado p/ Prof. Afranio Aragão Craveiro, que instalou 
várias empresas de Produtos Naturais numa incubadora dentro da Universidade. São empresas que 
já tem produtos no mercado como a empresa Selachii. Muitos dos empresários são originados da 
área de pesquisa da própria Universidade. 
Em Belém-PA, na UFPa, o Programa de Incubação de Empresas de Base Tecnológica, coordenado 
pelo Prof. Gonzalo Enriquez, é um caso interessante a citar por estar desenvolvendo a cooperação 
Universidade-Empresa na Amazônia. No entanto, este projeto, mesmo já tendo 5 empresas 
instaladas no local, ainda está longe de ter o sucesso de sua correspondente na UFCe. 
Quadro 3.2 - Relações já existentes entre empresas -universidades na área de 
produtos naturais 
empresa universidade 
The Body Shop UFPa, Dpto. Química 
IRDA, CAEMI FEA-UNICAMP e Nucleo de Produtos Naturais da 
FIOCRUZ-Rio 
Laboratório Catarinense UFSC, Dpto. Química e Farmacologia e Unicamp 
Rhodia CPQBA e IQ UNICAMP e UFPb 
Aché UNICAMP – CPQBA 
Diversas Empresas Incubadora de Empresas-UFPa 
Diversas empresas PADETEC, UFCe 
 PHYTOpharmaceuticals (EUA) ESALQ - Lab. Biotecnologia da ESALQ,Piracicaba 
 
 
3.3 Avaliação dos estudos experimentais com plantas medicinais 
O item 3.2 mostrou que a pesquisa com produtos naturais no Brasil está praticamente vinculada às 
instituições universitárias, onde são desenvolvidas as pesquisas com plantas medicinais. Tais 
instituições apresentam recursos técnicos e pessoal capacitado, além de razoável apoio financeiro. 
Baseado nesses fatos, nosso objetivo principal neste item 3.3, foi apontar, através de análise das 
publicações em eventos nacionais, as linhas de pesquisa preponderantes, as instituições e 
pesquisadores envolvidos, bem como a divulgação dos resultados em revistas internacionais 
indexadas. 
 
 
 
 
 
34 
Metodologia 
Realizou-se uma análise quantitativa dos trabalhos de pesquisa experimental com plantas medic-
inais no Brasil, assim como as instituições que desenvolveram esses trabalhos e as áreas que 
despertaram maior interesse nesse tipo de pesquisa. Para isso montou-se um banco de dados dos 
trabalhos publicados no Brasil que foram desenvolvidos em universidades, por pesquisadoresseniores, estudantes de graduação e pós-graduação. 
Como em qualquer área de pesquisa, esses trabalhos na sua maioria são divulgados em congressos e 
simpósios regionais e nacionais, sob forma de pôsters e/ou comunicações orais. Por isso, os 
números obtidos e os resultados apresentados em seguida são baseados em trabalhos coletados de 
livros de resumos de eventos de divulgação científica ocorridos a nível nacional, no período de 
1986 até 1995. 
Alguns resumos não foram computados devido a dificuldade de obtenção de alguns livros ou por 
alguns eventos não ocorrerem anualmente. 
Foram escolhidos todos os resumos nos quais constatou-se a presença de trabalhos experimentais 
com substâncias extraídas de plantas e que apresentaram uma possibilidade de aplicação futura nas 
diversas áreas ligadas a saúde. Não foram datados resumos referentes à pesquisa em nutrição, ou 
aspectos de aproveitamento dessas plantas como alimento. A atenção voltou-se para os resumos dos 
trabalhos de pesquisa básica ou clínica que tiveram importância em farmacologia, toxicologia e 
terapêutica. 
Realizou-se o levantamento através da leitura e seleção de resumos publicados em 7 eventos 
nacionais importantes que apresentaram de trabalhos com plantas medicinais, dentre esses eventos 
cita-se: 
Congresso Nacional de Botânica - BOT. 
Reunião Anual da FESBE (Federação de Sociedades de Biologia Experimental) - FESBE. 
Congresso Nacional de Genética - GEN. 
Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química - QUI. 
Reunião Anual Sobre Evolução, Sistemática e Ecologia Micromoleculares - RESEM. 
Congressos da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência - SBPC. 
Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil - SPM. 
 
 
 
 
 
35 
Os quadros a seguir mostram a quantidade de resumos analisados, assim como os respectivos anos 
em que os trabalhos dos diversos grupos de pesquisa em plantas medicinais foram divulgados nos 
eventos científicos. 
Quadro 3.3 - Número total de resumos referentes a plantas medicinais 
classificados por congressos/simpósios e ano de publicação 
Classificação dos Resumos 
 
Nºde publicações 
 
Anos de Publicação 
 
BOT 
 
47 1988,1989,1991,1994,1995 
FESBE 
 
655 1986,1987,1988,1989,1990,1991,1992,1993,1994, 
1995 
GEN 
 
45 1990, 1993,1994, 1995 
QUI 
 
150 (1) 1992,1993,1994,1995 
RESEM 
 
85 1987,1988,1989,1994,1995 
SBPC 
 
475 1986,1987,1989,1990,1991,1992,1993,1994 
SPM 
 
506 (2) 1986,1988,1990,1994 
OBS.: (1) Os resumos do congresso de química eram apresentados até o ano de 1991 junto com os da SBPC. 
 (2) O congresso da SPM é bianual. 
Quadro 3.4 - Número de resumos referentes a plantas medicinais, em eventos nacionais por ano de 
publicação. 
 
NOME DOS 
RESUMOS 
 
ANO DE PUBLICAÇÃO 
 
NÚMERO DE 
 RESU MOS 
 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 
BOT -- -- 05 07 -- 09 -- -- 16 10 047 
FESBE 32 39 54 57 64 86 78 79 37 129 655 
GEN -- -- -- -- 10 -- -- 23 12 -- 45 
QUI -- -- -- -- -- -- 31 23 35 60 150 
RESEM -- 19 30 17 -- -- -- -- 03 04 85 
SBPC 158 112 -- 173 07 02 02 11 10 -- 475 
SPM 81 -- 115 -- 114 -- -- -- 196 -- 506 
TOTAL 
RESUMOS 
271 170 204 254 195 97 11 136 309 203 1 950 
 
 
 
 
 
 
 
36 
Os resumos analisados foram divididos em 4 grandes categorias destacando-se fitoquimica, 
toxicologia e farmacologia e ação em sistemas 
1. FITOQUÍMICA 
A.Substâncias Químicas Isoladas 
B. Screening Químico 
C. Ambos 
2. TOXICOLOGIA 
A. Geral 
B. Mutagênese 
C. Ambas 
3. FARMACOLOGIA 
A. Inflamação 
I. Antiinflamatórios/Antipiréticos. 
II. Antiinflamatórios/Analgésicos 
III. Antiinflamatórios/Cutâneos 
IV. Cicatrizantes 
V. Outros (Agentes Flogísticos) 
B- Anticancerígenos 
 C- Antiparasitários/antibacterianos/antifúngicos. 
 D- Antialérgicos 
4- ACÃO EM SISTEMAS 
A- Sistema Cardiovascular 
I. Pressão Arterial, Freqüência Cardíaca 
II. Coagulação/Ateroesclerose 
III. Infarto/Perfusão 
IV. Outros 
B- Trato Gastro-Intestinal (TGI) 
 
 
 
 
 
37 
I Gastro-Protetores 
II. Antidiarréicos 
IV. Outros 
C- Sistema Nervoso Central (S.N.C.) 
I. Anticonvulsivantes 
II. Analgésicos 
III. Neuroprotetores 
IV. Psicoestimulantes 
V. Antidepressivos 
VI. Outros 
D- Sistema Renal e Urogenital 
I. Musculatura Lisa Urogenita 
II. Filtração/Excreção/etc. 
III. Outros 
E- Hepático 
I. Secreção/Metabolismo 
II. Outros 
F- Sistema Respiratório 
I. Antiasmático/Broncodilatador 
II. Outros 
G- Sistema Imunológico 
I. Imunologia Celular 
II. Imunologia Humoral 
III. Outros 
H- Reprodutor 
I. Fertilizantes 
 
 
 
 
 
38 
II. Anticoncepcionais 
III. Outros 
I- Endócrino 
I. Eixo Hipotálamo-Hipófise 
II. Glândulas 
III. Outros 
Resultados 
Seguindo a ordem de classificação apresentada acima, os gráficos a seguir indicam o número de 
resumos distribuídos nas categorias que mais se destacaram - número de resumos superior a 20 - o 
que corresponde aproximadamente a 1% do total de resumos (1950). A percentagem que 
corresponde ao número de resumos em relação ao total levantado apresenta-se entre parênteses. 
Também é mostrado número de resumos e o percentual das respectivas subdivisões dentro das 
categorias analisadas. Os números indicativos das categorias de Antiparasitários / antibacterinos / 
antifúngicos e Antialérgicos, foram irrelevantes. 
Cada resumo classificado pode aparecer em mais de uma categoria, por exemplo: um resumo de 
trabalho publicado por um grupo de pesquisa que realizou a análise fitoquímica de uma planta, pode 
somar-se aos resultados de outros grupos que pesquisaram os efeitos toxicológicos das substâncias 
ativas dessa planta, assim como as ações antiinflamatórias das substâncias isoladas. 
 
FITOQUÍMICA 1103 resumos (56,56%)
Substância 
química isolada 
(707) 64,10%
Ambos (93)
8,43%
"Screening" 
químico (303)
27,47%
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
TOXICOLOGIA 187 resumos (9,59%) 
Geral (120)
64,17%
Ambos (10)
5,35%
Mutagênese (57)
30,48%
 
 
INFLAMAÇÃO 235 resumos (12,05%) 
Antiinflamatório 
cutâneo (13) 6%
Cicatrizantes (07)
3,17%
Antiinflamatório 
antipirético (22)
10%
Agentes flogísticos 
(45)
20%
Antiinflamatório 
analgésico (134)
61%
 
 
 
ANTICANCERÍGENOS 40 resumos (2,05%)
in vitro 
23%
ambos
49%
in vivo 
28%
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
CARDIOVASCULAR 120 resumos (6,15%)
P. Arterial/F. 
Cardíaca (67)
14,58%
Coagulação 
Aterosclerose (16) 
33,33%
Outros (19)
39,58%
Infarto/Perfusão 
(06) 12,50%
 
 
TRATO GASTRO-INTESTINAL 136 resumos (6,97%) 
Antidiarréicos (22) 
17%
Outros (44) 35%
Gastro-Protetores 
(60)
48%
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
SNC 112 resumos (5,74%)
Outros (05) 4%
Antidepressivos 
(01) 0,88%
Analgésicos (56)
49,56%
Psicoestimulan-
tes (13) 12%
Neuroprotetores 
(06) 5%
Anticonvulsivan-
tes (32) 28%
 
RENAL/UROGENITAL 64 resumos (3,28%)
Filtração/ 
Excreção (29)
47,54%
Musculatura lisa 
urogenital (25)
40,98%
Outros (07)
11,48%
 
 
 
SISTEMA RESPIRATÓRIO 40 resumos (2,05%)
Outros (24)
55,81%
Antiasmático (19) 
44%
 
 
 
 
 
 
 
42 
SISTEMA IMUNE 80 resumos (4,1%)
Imunologia 
Celular (55)
77,46%
Imunologia 
Humoral (09)
12,68%
Outros (07)
9,86%
 
 
 
 
SISTEMA REPRODUTOR 33 resumos (1,69%)
Anticoncepcio-
nais (15) 47%
Outros (14)
43,75%
Fertilizantes (03)
9,38%

Outros materiais