Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Abdome Agudo Obstrutivo Introdução Definição: O abdome agudo obstrutivo é uma situação de emergência, na qual se encontra um fator obstrutivo responsável pelo exuberante quadro clínico. Apresenta gravidade variável e caráter evolutivo necessitando de rápida intervenção, em sua maioria, cirúrgica. Etiologia As causas de abdome agudo obstrutivo podem ser divididas em mecânicas e funcionais, originadas no intestino delgado ou grosso. Epidemiologia O abdome agudo obstrutivo apresenta alta morbimortalidade quando há retardo no diagnóstico e/ou manejo adequado, podendo alcançar elevadas taxas de mortalidade, de modo que o sofrimento das alças intestinais contribui para esse desfecho. Cerca de 80% dos casos de abdome agudo obstrutivo envolvem o intestino delgado, sendo as aderências (bridas) secundárias a cirurgias prévias na cavidade abdominal o fator etiológico mais comum nos países desenvolvidos. RESUMINDO: Aderências hérnias inguinais neoplasias intestinais. OBS: Bridas: Na obstrução do delgado por bridas devem-se manter as medidas iniciais por 48 horas, isto é, o paciente em jejum, com sonda nasogástrica aberta recebendo hidratação e suporte calórico adequado. A Tomografia contrastada oral tem um valor diagnóstico, pois irá topografar a obstrução e terá potencial terapêutico pelo efeito catártico do contraste. Caso o paciente não melhore após 48 horas ou piore antes, passa a ser indicado a laparotomia exploradora e lise das aderências. Já nos países em desenvolvimento, as hérnias compõem a primeira causa seguida por bridas, tuberculose e doença de Crohn. Enquanto isso, o câncer de cólon representa a principal causa de obstrução do intestino grosso. Ademais, volvo de sigmoide também representa uma causa frequente. OBS: Volvo de sigmoide: a palavra volvo denota torção. O volvo de sigmoide é uma torção em torno do mesocólon sigmoide. Esse quadro é muito importante, pois é uma obstrução em alça fechada e há grande risco de perfuração se não tratada a tempo. Portanto, não há conduta conservadora. Diagnosticado o volvo, o tratamento inicial, nos casos sem complicações, é a descompressão colonoscópica com aspiração de conteúdo fecal e passagem de sonda retal. Obtido sucesso, devemos aguardar 48-72 horas para realizar o tratamento definitivo que é a retossigmoidectomia. Já o tratamento de urgência é feito quando há sinais de complicações, sendo eles: sinais de peritonite, pneumoperitôneo, falha na descompressão colonoscópica e paciente grave No Brasil vale destacar o megacólon chagásico configurando uma frequente causa de obstrução intestinal, através de formação de fecalomas. Fisiopatologia Independente da etiologia, a interrupção do transito intestinal origina eventos que culminarão habitualmente com quadro obstrutivo. Obstrução do delgado: 80% dos casos (Bridas neoplasias hérnias estranguladas). O intestino delgado possui função secretória e absortiva, sendo que 20% da água corporal são provenientes desse processo. Interferências nessa dinâmica podem levar à depleção hidroeletrolítica significativa. À jusante (ou seja, mais para o final da obstrução) há absorção e eliminação de gás e fluidos pela mucosa intestinal, causando colapso desse segmento. Já à montante (ou seja, mais para o inicio da obstrução) haverá distensão devido ao acúmulo desses componentes. Devido à estase do intestino delgado há um supercrescimento bacteriano, cuja fermentação resulta no odor fétido do conteúdo intestinal presente nos vômitos. Esses vômitos frequentes exacerbam o DHE resultando em hipocalemia e hipovolemia grave. A perda de sódio e água para o lúmen intestinal aumenta progressivamente quanto à função absortiva é prejudicada gradativamente, ocasionando depleção do volume intravascular efeito, o que aciona os mecanismos mantenedores da volemia: SRAA Reduz a excreção de sódio e água, resultando em oligúria. Inicialmente pode haver aumento da peristalse, a fim de vencer o fator obstrutivo, evoluindo posteriormente para fadiga da musculatura lisa e parada dos movimentos intestinais. Obstrução do intestino grosso: 20% dos casos (Neoplasias Volvo sigmoide Doença diverticular). 2 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP A competência da válvula ileocecal determina o comportamento da obstrução do intestino grosso. - Em cerca 20-30% dos pacientes a válvula torna-se incompetente, o que consegue amenizar a pressão no interior do lúmen através do refluxo do conteúdo para íleo; - Em outros casos a válvula permanece competente e existirá a obstrução em alça fechada, o que leva a obstrução progressiva do cólon com posterior comprometimento vascular, necrose e perfuração do segmento acometido. Além disso, pode haver translocação bacteriana através da parede intestinal danificada gerando peritonite difusa ou localizada. Obstrução funcional: Distúrbios metabólicos e/ou Hidroeletrolíticos podem ocasionar obstrução intestinal sem fator mecânico existente, a exemplo da hipocalemia, uremia ou DM descompensado. Pode ser causadas por cirurgias abdominais de grande porte, uso de fármacos, principalmente anticolinérgicos, opioides, BCC. Quadro Clínico O quadro clínico é variável e depende de alguns fatores: - Sítio e tempo de obstrução; - Presença ou não de complicações, como sofrimento vascular e perfuração; - Grau de contaminação; - Status clínico do paciente. Mas de forma geral o quadro ocorre com: - Dor abdominal de início súbito, evoluindo com náuseas, vômitos e parada de eliminação de gazes e fezes. A dor abdominal pode evoluir para contínua intensa e desproporcional ao exame: Sinal de estrangulamento. Obstrução de intestino delgado: - Dor abdominal em cólica, habitualmente na região periumbilical; - Vômitos precoces biliosos; - Distensão abdominal; - Parada de eliminação de fezes e fazes: sinal tardio; - Aumento dos RHA na tentativa de vencer o fator obstrutivo: peristalse de luta, que pode gerar um som metálico ou serem visíveis (Ondas de Kussmaul); - Dor constante de início súbito; - íleo paralítico: que é mais indolor. Obstrução da transição ileocecal e intestino grosso: - Parada de eliminação de fezes e platôs de forma precoce, sendo associada à distensão abdominal; - Náuseas e vômitos: sintomas tardios, sendo que quando presentes apresentam aspecto felacoide. Exame físico: Além dos sinais e sintomas anteriores, o paciente pode apresentar sinais de desidratação ou choque hipovolêmico. - Distensão abdominal mais central (na obstrução de delgado) e em flancos (na obstrução baixa); - Sensibilidade à palpação abdominal indica peritonite; - Massas abdominais: sugerem processo inflamatório ou neoplásico. OBS: Síndrome de Ogilvie: é uma pseudobstrução colônica aguda, geralmente associada a trauma, infecções, pós- operatório e doenças Sistêmicas graves. Radiologicamente é caracterizada por distensão colônica, principalmente em ceco; OBS1: Caso ocorra uma obstrução parcial, podemos ter diarreia paradoxal. Diagnóstico O diagnóstico de abdome agudo obstrutivo normalmente pode ser feito através da anamnese e exame físico criteriosos É necessário avaliar o estado geral do paciente, confirmar o diagnóstico e identificar a condição subjacente ao quadro obstrutivo. 3 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Exames laboratoriais: - Hemograma e glicemia: Concentração de HB e HT podem indicar desidratação; Aumento discreto de leucócitos com desvio à esquerda; Hiperglicemia: DM descompensando ocasionando obstrução funcional. - Ureia e creatinina: níveis altos de ureia podem indicar desidratação ou até IRA pré-renal na vigência de choque hipovolêmico; - Eletrólitos: Níveis séricos de cloro e sódio podem estar reduzidos devidoàs perdas hidroeletrolíticas para o lúmen intestinal; Depleção de potássio. - Gasometria arterial: Acidose metabólica pode ser evidenciada nos casos em que há comprometimento vascular, com aumento de lactato e redução do bicarbonato; Alcalose metabólica eventualmente pode ser detectada dependendo do grau de depleção do cloreto. Exames de imagem: - Radiografia em decúbito dorsal e ortostase: Pode evidenciar dilatação de alças com nível líquido intraluminal; Na dilatação do jejuno podemos encontrar o Sinal de Empilhamento de moedas; Na dilatação colônica verifica-se dilatação com padrão de moldura; No volvo de sigmoide identifica-se dilatação da alça associada ao megacólon. Caso haja impactação fecal iremos encontrar uma imagem em miolo de pão. - Enema opaco: podem auxiliar no diagnóstico e manejo, principalmente se obstruções parciais do delgado. Iremos visualizar uma parada do contraste. - Colonoscopia: Pode ser usada na Síndrome de Olgivie, pois servirá como tratamento ao aspirar o gás contido nas alças. - TC de abdome: pode ser usada quando há suspeita de neoplasia colorretal ou em Diverticulites perfuradas. OBS: Importante utilizar contrastes hidrossolúveis diante do risco de perfuração. Tratamento Os objetivos do tratamento são: - Analgesia; - Descompressão gastrointestinal: veia com sonda nasogástrica sob aspiração; - Reposição hidroeletrolítica: fluidos intravenosos, podendo ser usados ringer lactato; - Importante monitorar o débito urinário através de sonda vesical de permanência; - Antibioticoterapia antes da abordagem cirúrgica em pacientes com estrangulamento e/ou perfuração; - Terapêutica definitiva: conservador ou cirúrgico. Conduta conservadora: 4 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Feita em casos de bolo de áscaris, volvo ou torção de sigmoide, fecaloma, aderências e invaginação intestinal. - Volvo de sigmoide: descompressão por retosigmoidoscopia; - Intussuscepção intestinal: corrigida a partir do Enema opaco, quando o contraste vence o fator obstrutivo, desfazendo a invaginação; - Síndrome de Olgivie: a colonoscopia pode ser usada para descompressão. Tratamento cirúrgico: É indicado se existir causa subjacente que necessita de tratamento, a exemplo de tumor ou hérnias, ou quando o tratamento conversador falhar ou quando houver sinais de irritação peritoneal. Importante melhorar a condição clínica do paciente antes da cirurgia. Quando há estrangulamento, após a liberação das aderências, o cirurgião deve avaliar a viabilidade da alça acometida, sendo que sinais de viabilidade incluem: - Integridade da camada serosa; - Coloração rósea; - Peristaltismo visível; - Pulsação de vasos mesentéricos. Caso não esteja viável, deve-se proceder com ressecção do segmento com anastomose primária ou confecção de estoma. Complicações As principais complicações do abdome agudo obstrutivo são: - A secreção de líquidos para o lúmen e a disabsorção gera hipovolemia; - Desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos; - Supercrescimento bacteriano Sepse; - Comprometimento arterial necrose ruptura peritonite; - Alteração do nível de consciência: febre, dor intensa, descompressão dolorosa choque.
Compartilhar