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História do Direito Penal (Fases das vinganças) A doutrina penal tem adotado uma tríplice divisão para analisar a evolução histórica do Direito Penal. Essa divisão é representada pela VINGANÇA DIVINA, VINGANÇA PRIVADA E VINGANÇA PÚBLICA, todas elas fortemente marcadas pelo sentimento religioso e espiritual. Vingança Divina Nas sociedades primitivas os fenômenos naturais eram recebidos como manifestações divinas (“totem”) revoltadas com atos que exigiam reparação. Nessa fase punia-se o infrator (infração totêmica) para desagravar a divindade. VINGANÇA DIVINA Essa fase resultou da grande influência pela religião na vida dos povos antigos. O castigo consistia no sacrifício da própria vida do infrator, era baseada no revide à agressão sofrida, absolutamente desproporcional e sem qualquer preocupação com algum conteúdo de Justiça. Trata-se do Direito Penal Religioso, teocrático, sacerdotal, tendo como finalidade a purificação da alma do criminoso por meio do castigo. VINGANÇA DIVINA Pode-se destacar como legislação típica desta fase o Código de Manú, embora legislações com estas características tenham sido adotadas no Egito (Cinco Livros), na China (Livro das Cinco Penas), na Pérsia (Avesta), em Israel (Pentateuco) e na Babilônia. Obs: Além da severidade, que era característica principal da vingança divina decorrente de seu caráter teocrático, esse direito penal era aplicado pelos sacerdotes. Vingança Privada Envolvia desde indivíduos isoladamente até o seu grupo social, com sangrentas batalhas, causando muitas vezes a completa eliminação dos grupos. Com a evolução da sociedade, e para evitar a dizimação das tribos, surgiu a Lei de Talião, determinando a relação proporcional ao mal praticado: olho por olho dente por dente, sendo este o maior exemplo de tratamento igualitário entre infrator e vítima, representando de certa forma, a primeira tentativa de humanização da sanção criminal. VINGANÇA PRIVADA A Lei do Talião foi adotada no Código de Hamurábi (Babilônia), no Êxodo (Hebreus), na Lei das XII Tábuas (Romanos). Obs: Com o passar do tempo, como o número de infratores era grande, as populações iam ficando deformadas pela perda de membros, sentidos ou função que o direito talional propiciava. Uma das alternativas foi se evoluir para a composição, através da qual o infrator comprava a sua liberdade livrando-se do castigo. VINGANÇA PRIVADA A composição, que foi largamente aceita na época, constituiu um dos antecedentes da moderna reparação do Direito Civil e das perdas pecuniárias do Direito Penal. Com uma maior organização social, o Estado afastou a vingança privada, assumindo o dever de garantir a ordem e segurança social, surgindo assim a vingança pública. Vingança Pública Em seus primórdios esse modelo de direito penal manteve absoluta identidade entre o poder Divino e o poder Político. Nesta fase, uma das principais finalidades era garantir a segurança do soberano, por meio da aplicação da sanção penal, ainda dominada pela crueldade e desumanidade, característica do direito criminal da época. Obs.: A Grécia, por exemplo era governada em nome de Zeus, a Roma Antiga recebeu (segundo se acredita) a Lei das XII Tábuas. VINGANÇA PÚBLICA Na Grécia Antiga, crimes e penas continuaram a se inspirar no sentimento religioso, sendo essa concepção superada com a contribuição dos filósofos. Aristóteles antecipou a necessidade do livre-arbítrio, embrião da idéia da culpabilidade, firmado primeiro no campo filosófico e posteriormente transportado para o campo jurídico. Platão com – As Leis – antecipou a finalidade da pena como meio de defesa social, que deveria intimidar pelo rigor, advertindo os indivíduos para não delinqüir. VINGANÇA PÚBLICA Obs.: Juntamente com a Vingança Pública, os gregos ainda mantiveram por longo tempo as vinganças divina e privada. Na Roma Antiga, a pena também manteve seu caráter e foi, igualmente palco das diversas formas de vingança, mas logo os romanos partiram para a separação entre Direito e Religião. O Direito Romano oferece um ciclo jurídico completo, constituindo até hoje a maior fonte originária de inúmeros institutos jurídicos. VINGANÇA PÚBLICA No período da fundação de Roma (753 a.C), a pena era utilizada como caráter sacral já fundamentado. Durante a primitiva organização jurídica da Roma monárquica, prevaleceu o direito consuetudinário (rígido e formalista). A Lei das XII Tábuas foi o primeiro código romano escrito, iniciando o período dos diplomas legais, limitando à vingança privada, adotando a lei de talião e admitindo a composição. VINGANÇA PÚBLICA Já no início, Roma distingue os crimes Públicos (ius publicum) dos crimes privados (ius civile), onde os primeiros tratavam-se de crimes de traição ou conspiração política contra o Estado e os assassinatos. Enquanto que os segundos eram privados, por constituírem ofensas aos indivíduos, tais como: furto, dano, injúria. O julgamento dos crimes públicos eram feitos pelos magistrados nos tribunais especiais e geralmente a pena era de morte. O julgamento dos crimes privados eram confiados ao próprio ofendido, interferindo o Estado para regular o seu exercício. VINGANÇA PÚBLICA O Direito Romano Clássico, surge com o conjunto de leis publicadas aos fim da República (80 a.C), com as leges Corneliae e Juliae, que criam uma verdadeira tipologia de crimes, catalogando aqueles comportamentos que deveriam ser considerados criminosos. Duas ou três décadas antes de Cristo desapareceu a vingança privada sendo totalmente substituída pela administração estatal, vigendo o princípio da reserva legal. Características do Direito Penal Romano a) A afirmação do caráter público e social do direito penal; b) Amplo desenvolvimento já alcançado pela doutrina da imputabilidade, da culpabilidade e de suas excludentes; c) O elemento subjetivo doloso encontra-se claramente diferenciado; d) A teoria da tentativa, que embora não plenamente desenvolvida, já admitia a punição nos chamados crimes extraordinários; Características do Direito Penal Romano e) O reconhecimento, excepcional, das causas de justificação (legítima defesa, estado de necessidade); f) A relação pública da pena, sendo o Estado seu único aplicador; g) Distinção entre os crimes públicos e privados; h) Consideração do concurso de pessoas diferenciado autoria e participação.
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