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2015 EpidEmiologia Prof. Margot Friedmann Zetzsche Copyright © UNIASSELVI 2015 Elaboração: Prof. Margot Friedmann Zetzsche Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 616.9 Z61e Zetzsche, Margot Friedmann Epidemiologia/ Margot Friedmann Zetzsche. Indaial : UNIASSELVI, 2015. 174 p. : il. ISBN 978-85-7830-909-1 1. Epidemiologia. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III aprEsEntação Caro acadêmico, seja muito bem-vindo à nossa disciplina! Este caderno irá auxiliar seus estudos e compreensão daquele que considero o mais matemático de todos os nossos conteúdos: a Epidemiologia. Se você não é aficionado das ciências exatas, nossa intenção não é assustá-lo! Explicamos que a principal ferramenta para planejar ações em saúde, realizar orçamentos, priorizar investimentos, comprar insumos, contratar pessoas, é o conjunto de dados, gráficos, estatísticas, informações que a Epidemiologia nos traz. Qualquer gestor que trabalhe com saúde, seja na área pública ou privada, e em quaisquer dos níveis de atenção, necessitará destes conhecimentos. A Epidemiologia pode ser definida como ciência que se dedica ao “estudo dos fatores que determinam a frequência e distribuição das doenças nas coletividades humanas” (ROUQUAYROL, 2003, p. 17). Esta definição é a que está também publicada na IEA (Associação Internacional de Epidemiologia) em seu “Guia de Métodos de Ensino” (IEA, 1793 apud ROUQUAYROL, 2003, p. 17). Os que trabalham na gestão de qualquer estabelecimento que se dedique a promover a saúde, educar em saúde, realizar ações profiláticas como vacinas ou controle de diabéticos, realizar tratamentos, cirurgias, internações e procedimentos em geral, necessitam conhecer os dados epidemiológicos de seu público, clientela ou da sua população de abrangência. Isto, em outras palavras, quer dizer que é necessário conhecer: • Do que adoece e morre aquela população? • Quais as doenças que causam mais óbitos? • Quais as doenças que causam mais afastamentos no trabalho, custos de tratamento, internações etc.? • Quais as doenças transmissíveis e como se transmitem? • O que causa estas doenças? • O que pode diminuir a propagação destas doenças? • Quais doenças tendem a se tornar crônicas? • Quais são as medidas a tomar para diminuir a carga de doenças? Enfim, é um vasto campo de conhecimentos que se expressará em números, gráficos e estatísticas. E será baseado nestes dados que, por exemplo, o governo de nosso país, por intermédio do Ministério da Saúde, decidirá quais vacinas colocar ou não à disposição do público gratuitamente. IV Como assim? Se você observar as vacinas disponíveis em uma clínica privada de vacinação, poderá notar que há uma variedade bem maior do que aquela ofertada na rede pública de atenção à saúde. Quais seriam os critérios utilizados para escolher quais vacinas ofertar? Podemos responder que os critérios são, em grande parte, os epidemiológicos: • Quais doenças causam mais óbitos? • Quais são transmitidas com mais facilidade? • Quais prejudicam o desenvolvimento das crianças? • Quais doenças atingem os grupos mais vulneráveis (idosos, gestantes, crianças)? A lista de tópicos acima constitui parâmetros para que se calcule o custo-benefício de agregar vacinas à lista de disponibilidade. Mas devemos lembrá-los de que o fato de uma vacina não ser escolhida para figurar no Calendário Básico de Vacinação não quer dizer que esta vacina não é boa ou não funcione. Quer dizer que a relação custo-benefício de sua incorporação à rede pública não indicou a inclusão. Os subsídios para este cálculo são, na maioria das vezes, os dados epidemiológicos. Outro aspecto da epidemiologia é poder olhar dos dados e números que esta nos apresenta com visão crítica. À medida que as condições socioeconômicas de uma população melhoram, os índices mostrados pelos dados epidemiológicos apresentam níveis de saúde melhores, menor incidência de doenças, menos mortes. E a melhora dos índices não tem a ver diretamente com investimentos em saúde, mas em melhor alimento, saneamento, oferta de água de boa qualidade, emprego e moradia digna, acesso ao lazer, redução da carga de estresse e diminuição na violência urbana, seja no trânsito, seja entre pessoas. E por falar em violência, nos encontraremos também ao longo da disciplina para falar um pouco da epidemiologia da violência, ou morte e doença por causas externas: níveis elevados de acidentes de trânsito, traumas, suicídios e crimes. Estes são importantes indicadores de que as coisas não estão bem em uma sociedade. A desigualdade social e de renda aumenta os números negativos dos incidentes violentos – também chamados de causas externas. E estes são dados epidemiológicos. Outra ilustração de como a epidemiologia não se restringe a números, investimento e planejamento é a existência das chamadas doenças negligenciadas, tais como a hanseníase, a doença do sono, doença de Chagas e úlcera de Buruli. Estas doenças são hoje chamadas de Doenças Negligenciadas, porque os laboratórios pararam de investir em tecnologia para desenvolver os tratamentos e seus medicamentos específicos deixaram de ser fabricados. Os indivíduos acometidos pelas doenças negligenciadas vivem, em sua maioria, em áreas remotas, ou pobres, em níveis de pobreza ou miséria extrema e em locais onde a presença do Estado é pouco V expressiva e/ou ineficiente. Este conjunto de fatos faz com que as indústrias farmacêuticas percam o interesse. Os acometidos por elas são muito pobres e não representam um mercado consumidor de bom retorno. Mas estes também são dados para nos fazer pensar. Seria a lucratividade o critério maior para impulsionar a pesquisa científica quando se trata de saúde e de vidas? Qualquer doença, por mais remota que seja a população atingida, pode mudar seu comportamento epidemiológico e se tornar uma ameaça global, como os jornais nos fazem lembrar a todo momento da expansão do ebola. No entanto, surtos do ebola já existiam há mais de 20 anos em proporções restritas e recrudesceram espontaneamente – até que o comportamento da doença mudou. Para melhor compreensão de nossa disciplina, dividimos este caderno em três unidades. A primeira unidade vai falar em dados estatísticos em saúde focando em exemplos práticos que muitas vezes vocês, caros acadêmicos, reconhecerão em seu cotidiano. Nesta parte descreveremos os principais tipos de estudos e pesquisas epidemiológicos e como estes se transformam em dados e estatísticas. Faz também parte desta unidade o estudo da mortalidade e como seus registros são recolhidos, analisados e sistematizados. As doenças de notificação compulsória também são importantes para compor este panorama. É pelo estudo do comportamento destas doenças que se direcionam os investimentos na área hospitalar e de saúde pública, preparando o sistema de saúde público ou privado para as ações que deverá empreender para fazer face às suas diferentes demandas. Finalizaremos a Unidade 1 com os principais conceitos da disciplina e com os quais qualquer trabalhador da área de saúde deverá estar familiarizado. Na segunda unidade faremos um interessante estudo de demografia, abordando o perfil da população brasileira e ponderando sobre os diferentes aspectos desta, tais como: natalidade, envelhecimento, migrações, comportamentos, perfil alimentar, correlacionando-os com a ocorrência das principais doenças e seus agravos. Isto fará você entender muito de como o adoecimento ocorre, em termos macro