1 GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA II RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Sofrimento Fetal Agudo INTRODUÇÃO Sofrimento fetal agudo (SFA) é algo que com muita frequência vamos encontrar em plantão e não em ambulatório. • Causas de sofrimento fetal: o O sofrimento fetal agudo normalmente está relacionado com 3 coisas (hipóxia, sangramento e infecção) ▪ Infecções → Na maioria das vezes, infecções agudas importantes da mãe (Ex.: Sinusite importante, pneumonia, pielonefrite) são circunstâncias que levam ao sofrimento fetal (em função de bacteremia) ❖ A bactéria circulando no organismo materno atravessa a placenta e chega no feto ❖ Qualquer foco infeccioso materno pode gerar sofrimento fetal agudo (não precisa estar séptica) ▪ Descolamento prematuro de placenta (DPP) ou placenta prévia (PP) → O problema é o sangramento, quando a placenta sangra, sangra a mãe e o feto ❖ Volume sanguíneo é proporcional ao peso, então qualquer sangramento no feto leva a uma repercussão hemodinâmica importante ▪ Compressão ou circular de cordão → Causa hipóxia ❖ Apenas 1 circular de cordão ainda é possível fazer parto vaginal, mais que 1 dificulta ▪ Taquissistolia (contratilidade uterina intensa e de intervalo curto) → Causa hipóxia ▪ Parto com expulsão prolongada • Manifestações clínicas: o Infecção materna (clínica e laboratorial) → Sempre que tiver infecção, avaliar se o feto está bem o Sangramento uterino → Sempre que tiver sangramento, avaliar se o feto está bem o Mecônio (secreção intestinal provocada muitas vezes por reflexo vagal) ▪ Um feto em apresentação pélvica com trabalho de parto (TP) avançado vai eliminar mecônio obviamente, mas um feto em apresentação cefálica e no início do TP eliminar mecônio é porque tem algo errado (hipóxia) ▪ Mecônio fluido em período expulsivo não precisamos nos preocupar (mecônio fluido é um mecônio que ainda vai ficar espesso, então se não estiver em TP avançado, devemos nos preocupar) ▪ Mecônio no início ao meio do TP temos que nos alertar para acelerar o nascimento (possível cesárea) ▪ O problema do mecônio espesso é que ele entra no pulmão e gruda na via respiratória e o bebê não respira o Bradicardia ou arritmia fetal → A taquicardia o mecanismo de defesa inicial, então enquanto o feto está taquicárdico ele está tentando compensar algo, quando vai para bradicardia é como se não tivesse mais força o Expulsão prolongada → Período expulsivo é quando o feto está lá embaixo no meio da estrutura óssea da pelve, se esse período é prolongado há compressão craniana, causando hipóxia e lesão neurológica o Taquissistolia → É quando tem uma contração em cima da outra, pode ocorrer por iatrogenia (mais frequente, principalmente por ocitocina exagerada) ▪ Quando o útero contrai, baixa a perfusão sanguínea uteroplacentária → Se continuamente, leva à hipoxia PROFA. CÉLIA REGINA 2 GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA II RAUL BICALHO – MEDUFES 103 CAUSAS E IMPACTOS NO SOFRIMENTO FETAL AGUDO • Descolamento prematuro de placenta (DPP): o No descolamento da placenta, fica com sangue atrás dela o Se a placenta descola toda, o feto já tem parada cardíaca ▪ A preocupação da DPP tem que ser quando inicia a descolar, porque se pegarmos ela toda descolada já teremos a morte fetal (não tem perfusão) o A borda da placenta descola e começa a sangrar, esse sangue vivo vai vazar e podemos identificar, então avaliamos o batimento cardíaco ▪ Se o descolamento começou a pouco tempo, o feto estará taquicárdico ▪ Se já está avançado, o feto estará bradicárdico → Maior urgência, provavelmente tem apenas um pedaço da placenta aguentando • Placenta prévia (PP): o Pode ser marginal, completa ou baixa ▪ Marginal/parcial → A borda dela ocupa/cobre o orifício interno do colo ▪ Completa → Placenta toda colocada sobre o colo do útero ▪ Baixa → Fica com a borda junto com o orifício do colo (só pega a pontinha do colo) o Quando sangra, todas costumam aparecer o sangramento externamente o A placenta baixa às vezes vai para o parto normal, mas na hora que o feto começa a empurrar, pode descolar a ponta e sangra muito (sangue vivo) → Indicação de cesárea o Na completa é impossível o parto normal (indicação absoluta de cesárea) e nessa paciente muitas vezes temos que interromper a gestação precocemente, porque ela tem ataques de sangramento o OBS.: Sempre que tiver um sangramento vivo descarado e franco pensar em DPP ou PP • Atonia uterina: o Quando há descolamento de placenta pode ocorrer hipotonia/atonia uterina (útero não contrai), porque o sangue acumulado começa a penetrar na musculatura do útero o Quando o útero ainda é viável (rosinha) e queremos mantê-lo, pode ser feita a sutura de períneo (sutura de B- Lynch) apertando o útero para melhorar sua contratilidade 3 GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA II RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Outra medida possível é a infusão de ocitocina no corpo uterino onde insere a trompa, que é onde começa a contratilidade uterina • Útero de Couvelaire: o É um útero cheio de hematoma, infiltrado etc. (não é rosado/brilhante, fica roxinho e aparenta morto) o Quando observamos um útero nessas características, tentamos ocitocina para ver se contrai e tudo mais, mas provavelmente irá acabar em histerectomia o É um útero que está muito infiltrado e esse infiltrado não deixa a musculatura contrair, como não conseguimos resolver já vamos tirar o útero • Acretismo placentário: o Toda vez que temos uma placenta prévia total, temos que observar se há acretismo placentário, que é a invasão da parede (se tiver e puxarmos essa placenta haverá sangramento extenso e a paciente choca e morre) o Isso é visto com um bom ultrassonografista porque na hora que ele jogar o Doppler ele conseguirá perceber que tem placenta invadindo a parede do útero ▪ No terço inicial do endométrio → Placenta acreta (dependendo do local, não precisa de histerectomia) ▪ Chega no meio da musculatura → Placenta increta (histerectomia sempre) ▪ Ultrapassa a musculatura e vai parar na serosa → Placenta percreta (histerectomia sempre) o Se não é possível perceber pela USG, é feita RM perto do parto (7º-8º mês) para ver até onde a placenta invadiu • Circular de cordão umbilical: o O cordão pode circular no feto de forma frouxa sem apertar o pescoço, mas em algum momento pode apertar o O cordão pode gerar um nó simples que no movimento fetal trava e isso leva ao sofrimento fetal e morte Sutura de B-Lynch 4 GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA II RAUL BICALHO – MEDUFES 103 CARDIOTOCOGRAFIA • Progressão do sofrimento fetal agudo: o Teremos uma hipoxia, que gera perda do estímulo neurológico (estímulo eferente simpático), bradicardia, perda da variabilidade cardíaca e bradicardia/desacelerações tardias (e óbito) ▪ Vemos praticamente tudo no USG (placenta, hematoma, se o feto está vivo, circular de cordão, frequencia cardíaca, oxigenação do cérebro etc.), menos a variabilidade (fazemos a cardiotocografia) • Cardiotocografia: o Nos dá uma avaliação indireta, não vemos o feto, mas avaliamos ele cardiologicamente o Temos 3 transdutores, um se coloca onde achamos o batimento cardíaco fetal (BCF), outro no fundo do útero (para ver a contratilidade uterina) e o terceiro colocamos no outro BCF em caso de gemelaridade ou colocamos para que a paciente perceba movimento fetal (toda vez que ela percebe ela aperta um botão) o Nós podemos encontrar taquicardia na CTG ▪ Pode ser provocada por vários motivos → Infecção, febre, movimentação fetal excessiva, cetose, sofrimento fetal, uso de determinadas substâncias lícitas ou ilícitas, imaturidade fetal, taquiarritmias etc. ▪ Pode ser classificada em leve (160-180 bpm), moderada (180-200 bpm) e grave (> 200 bpm) o Existe CTG computadorizada que vemos no monitor