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1 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Distúrbios Morfológicos da Tireoide BÓCIO • Definição: o Bócio é qualquer aumento de volume glândula tireoide o Para termos uma noção de aumento, o lobo normal da tireoide é do tamanho da polpa digital do paciente • Classificação: o Anatômica ▪ Bócio difuso → A glândula está toda aumentada ▪ Bócio nodular → Aumento localizado ❖ Uninodular → 1 nódulo ❖ Multinodular → Mais de 1 nódulo o Funcional ▪ Bócio atóxico (não-funcionante) → Não produz hormônio tireoidiano ▪ Bócio tóxico → Produz hormônio tireoidiano • Padrão: o Bócio difuso atóxico → O bócio endêmico não existe mais no Brasil, eram os pacientes com deficiência de iodo ▪ Eventualmente veremos bócio difuso atóxico no paciente com Hashimoto o Bócio difuso tóxico → Doença de Graves o Bócios nodulares → Pode ter 1 nódulo hiperfuncionante (bócio uninodular / Doença de Plummer), mais de 1 nódulo hiperfuncionante ou nódulos que não produzem hormônio (atóxico) • Abordagem: o Primeira coisa que fazemos no paciente com bócio é a dosagem de TSH, para saber se é funcionante ou não NÓDULO TIREOIDIANO • Epidemiologia: o Nódulo é muito comum → 4 a 7% da população terá nódulo tireoidiano palpável ao exame físico o No estudo anatomopatológico (necrópsia), 30 a 50% das pessoas têm nódulo da tireoide o Apenas 5% dos nódulos palpáveis são malignos (câncer de tireoide) • Causas de nódulos de tireoide: o Benignas ▪ Cistos → Mais comum e muito relacionado com doença autoimune da tireoide ▪ Adenoma folicular → Nódulo geralmente único, funcionante ou não PROF. ADILSON LAMOUNIER 2 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Adenoma de células de Hurtlhe → Algumas literaturas consideram como lesão pré-maligna o Malignas ▪ Câncer diferenciado → Papilífero e folicular ▪ Câncer moderadamente diferenciado → Carcinoma medular ▪ Câncer bem diferenciado → Carcinoma anaplásico ▪ Metástase → Tireoide pode ser sítio de metástase de outros cânceres (pulmão, mama etc.) ▪ Linfoma • Indicação de investigação: o Se nódulo palpável → Investigar sempre o Se nódulo não-palpável → Investigar quando > 1 cm e com critérios de suspeição DIAGNÓSTICO • USG de tireoide: o 1º exame, é a imagem que define principalmente os critérios de suspeição de malignidade o Pode ser usado com a finalidade de guiar punção aspirativa (PAAF) o Critérios de suspeição de malignidade → Nódulo hipoecoecoico, limites imprecisos, presença de microcalcificações no nódulo e presença de vascularização dentro do nódulo ▪ Essas características em qualquer nódulo, mesmo que < 1 cm, é recomendado que se faça a investigação • Punção aspirativa por agulha fina (PAAF): o 2º exame, que vai definir se é benigno ou maligno o Em custo-benefício, é o exame que mais tem importância para avaliação do nódulo tireoidiano o Com a PAAF, reduzimos 50% de cirurgias em nódulos de tireoide, mas aumentamos a assertividade de cirurgias em casos realmente de câncer de tireoide o Serve como diagnóstico inicial o Há controvérsias na literatura de quais nódulos devem ser puncionados → Algumas diretrizes falam para puncionar todos os nódulos palpáveis, outras só os ≥ 1 cm ou suspeitos no USG, além de outras divergências, mas vamos seguir a recomendação da sociedade brasileira de endocrinologia ▪ Nódulo < 0,5 cm não punciona (até porque tem dificuldade técnica) ▪ Nódulo > 0,5 cm em paciente com alto risco para malignidade ou com critérios de suspeição punciona ▪ Nódulo > 1 cm e hipoecogênico todos são puncionados ▪ Nódulo > 1,5 cm e iso/hiperecogênico também devem ser puncionados ▪ Nódulo > 2 cm todos são puncionados o Na maioria das vezes, deve ser guiada por ultrassom (↑ valor preditivo positivo) o Há algumas possíveis interpretações da PAAF ▪ Benigno (70%) → Na maioria das vezes, a punção mostra características benignas na citologia ▪ Padrão insatisfatório (15%) → Não conseguiu celularidade boa, sangrou, deu coloide etc. 3 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Maligno (5%) → Na punção, já conseguimos definir 5% de malignidade ▪ Padrão indeterminado (10%) → Célula folicular com atipia nuclear, em que a citologia não define se é um adenoma folicular ou carcinoma folicular ❖ A diferença dos 2 é que o carcinoma tem invasão vascular, então só na citologia é impossível ver • Classificação de Bethesda: o Define grau de suspeição de lesão maligna a partir da PAAF ▪ Classe I → Padrão insatisfatório (repetir a punção depois de 3-4 meses) ▪ Classes II e III → Benigno (seguimento com observação) ▪ Classe IV → Padrão indeterminado (neoplasia folicular que não conseguimos definir, na maioria das vezes encaminha para a cirurgia) ▪ Classe V → Suspeita de malignidade (encaminha para cirurgia) ▪ Classe VI → Definida como maligna pela citologia (encaminha para cirurgia) CÂNCER DE TIREOIDE Fizemos a punção do nódulo e temos o diagnóstico de lesão maligna (ou seja, câncer de tireoide). • Tipos de câncer da tireoide: o Diferenciado (papilífero e folicular) → Quase benigno, evolução/sobrevida muito boa, risco baixo de metástase o Moderadamente diferenciado (medular) → Agressividade intermediária o Indiferenciado (anaplásico) → Bastante agressivo o Outros (linfomas e metástases) • Fatores de risco para doença maligna da tireoide: o Nódulo em homem (menos comum, geralmente pode ser câncer)* o Extremos de idade (nódulo em muito jovem ou muito idoso, geralmente pode ser câncer)* o História de radiação cervical durante a infância (tratamento de linfoma, leucemia etc.)* o Diagnóstico prévio de câncer de tireoide o História familiar de câncer de tireoide ou das síndromes hereditárias associadas (principalmente neoplasia endócrina múltipla do tipo 2) o Nódulo com crescimento rápido, sintoma compressivo, que causa disfagia, paralisia de corda vocal etc. o Nódulo de tireoide detectado incidentalmente em paciente com outro câncer (possível metástase) CÂNCER DIFERENCIADO DA TIREOIDE • Carcinoma papilífero: o É o tipo mais comum de câncer de tireoide (40 a 85% dos casos) o Pode ocorrer em todas as idades o Possui crescimento lento o Agressividade muito baixa o Risco de metástases muito pequeno (e se dá, geralmente é linfonodo cervical, eventualmente pulmonar/óssea) 4 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Prognóstico pior quanto mais jovem o paciente (< 40 anos) • Carcinoma folicular: o 2º tipo mais comum de câncer de tireoide (10 a 30% dos casos) → Às vezes é o padrão indeterminado na PAAF o Acomete indivíduos com idade um pouco mais avançada (pico de incidência aos 50-60 anos) o Possui crescimento lento o Agressividade muito baixa o Geralmente dá metástase, principalmente distante (pulmonar/óssea) ▪ 15-20% dos casos, o diagnóstico do carcinoma folicular vai ser por fratura patológica ou nódulos no pulmão o O prognóstico é pior quanto mais velho o paciente (> 40 anos) CÂNCER MODERADAMENTE DIFERENCIADO DA TIREOIDE • Carcinoma medular: o Câncer da tireoide de agressividade moderada o Pode acontecer em qualquer idade o Geralmente tem evolução um pouco mais rápida que os diferenciados, mas com crescimento moderado o Geralmente dá metástases locais (linfonodos) e à distância (pulmão, osso e fígado) o A maioria é de origem esporádica (75%), mas em torno de 25% temos que pensar nas formas familiares ▪ Se histórico familiar de neoplasia endócrina múltipla devemos rastrear, pois é a forma familiar mais comum o Pode ter diarreia (produz calcitonina, que aumenta o trânsito intestinal e gera diarreia) o O tratamento é a tireoidectomia total • Forma familiar de carcinoma medular: o A forma mais comum é a neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (MEN-2) ▪ Tanto a MEN-2A, quanto a MEN-2B, têm o carcinoma medular da tireoide como manifestação clínicao Outra manifestação clínica da MEN-2 é o feocromocitoma → Tumor de célula cromafin, que na maioria das vezes está na medula da suprarrenal ▪ É um tumor secretor de catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina) ▪ Quando o paciente tem a síndrome endócrina múltipla com o feocromocitoma, antes de mexer no câncer da tireoide, devemos operar o feocromocitoma (porque a indução anestésica nesse paciente pode gerar descarga adrenérgica e matar o paciente) o Sempre na presença de carcinoma medular de tireoide, investigar a presença de feocromocitoma CÂNCER INDIFERENCIADO DA TIREOIDE • Carcinoma anaplásico: o Câncer mais grave da tireoide o Forma mais rara (1 a 3% dos casos) o Geralmente é mais comum em mulheres (3:1) e em pessoas mais idosas (pico de incidência em 65-70 anos) o Prognóstico muito ruim 5 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Sobrevida muito pequena (em torno de 2 a 12 meses) o Geralmente quando dá o diagnóstico, o paciente já está em estado terminal (com várias metástases) o O tratamento normalmente é paliativo e para manter uma qualidade de vida razoável do paciente ▪ Tireoidectomia total e tratamento descompressivo ABORDAGEM NO CÂNCER DE TIREOIDE • Recomendações: o Dosar TSH para todo mundo o Se TSH suprimido → Fazer cintilografia da tireoide (mostra se o nódulo é hipercaptante ou hipocaptante) ▪ Nódulo hipocaptante → Maior risco para câncer ▪ Nódulo hipercaptante → Geralmente nódulo bem diferenciado o Dosar calcitonina nos casos familiares o Fazer cintilografia no paciente com padrão folicular (que é o padrão indeterminado) ▪ Nódulo hipocaptante → Maior risco para câncer ▪ Nódulo normocaptante → Sugere tecido tireoidiano normal • Tratamento do câncer diferenciado de tireoide: o Tireoidectomia → Tratamento de escolha, na maioria das vezes total ▪ Tireoidectomia total → Em nódulo bilateral, histórico de radiação prévia, citologia indicativa de suspeita, critérios ultrassonográficos e nódulo > 4 cm o Estudo de cadeia ganglionar → Deve ser feito no paciente com carcinoma papilífero além da tireoidectomia (podendo ou não fazer o esvaziamento cervical, decidido no intraoperatório) o Lobectomia → Em algumas situações, há recomendação de só retirada do nódulo (nódulo < 4 cm, sem critérios de suspeição na USG e citologia de baixa malignidade) ▪ Carcinoma < 1 cm diagnosticado por USG é recomendada lobectomia (considerado curativo) o Complementação do tratamento cirúrgico com iodo radioativo (radioablação) → Recomendado em 3 situações ▪ Quando se sabe que não conseguiu tirar todo tecido tireoidiano ▪ Paciente com risco alto/intermediário de recidiva (geralmente paciente com linfonodo acometido) ▪ Paciente de baixo risco com tireoidectomia total que aumentou tireoglobulina no seguimento • Seguimento do paciente operado: o Avaliação com a tireoglobulina e antitireoglobulina ▪ Paciente que fez lobectomia → Tireoglobulina normal, então vamos acompanhar a possibilidade de recidiva pelo aumento exponencial de tireoglobulina (se está aumentando, devemos pensar em recidiva) ▪ Antitireoglobulina → É um anticorpo contra a tireoglobulina, pode estar presente em toda população geral ❖ Se AATg positivo a título alto inicialmente, mostra que a Tg e a AATg serão de baixo impacto clínico ❖ Se AATg for baixo inicialmente e depois positiva, ela pode mascarar o aumento de tireoglobulina (que será destruída por ela), então nesse caso o aumento de anti já é indício de recidiva 6 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Quando faz tireoidectomia total, a tireoglobulina esperada é 0, então damos TSH recombinante para o paciente e dosamos a tireoglobulina (se aumentou, recomenda-se radioablação) ▪ TG e AntiTG devem ser feitos depois da cirurgia e da radioablação, no 1º ano a cada 3 meses e a partir do 2º ano de 6 em 6 meses o Cintilografia de pesquisa de corpo inteiro → Sempre que fez tireoidectomia total com radioablação ▪ Espera-se que não tenha mais tecido captante de iodo, se aparecer deve ser recidiva ou metástase ▪ Fazer após a radioablação, a cada 6 meses no 1º ano e depois anualmente o O seguimento na endocrinologia é feito por 5 anos → Se nesse tempo tudo for negativo, encerra o acompanhamento e trata o paciente como qualquer hipotireoidismo ▪ Se teve alguma alteração nesse intervalo, zera o tempo de contagem do seguimento o Outra coisa que se recomenda é suprimir o TSH do paciente nos bem diferenciados porque o tecido responde ao TSH → Ao bloquear o TSH, estaria bloqueando a resposta também desse tecido maligno ▪ Terapia supressiva com levotiroxina (dose suprafisiológica para suprimir o TSH, mas sem causar hipertireoidismo franco/clínico) ▪ Paciente de baixo risco (sem metástase) → Manter TSH < 0,1 ▪ Paciente de alto risco (metástase) → Manter TSH < 0,01 • Tratamento do carcinoma medular: o Tireoidectomia total o Esvaziamento cervical o Radioterapia se metástase local o Não adianta fazer iodo radioativo • Tratamento do carcinoma anaplásico: o Faz o que dá para fazer o Tireoidectomia total o Tratamento descompressivo NÓDULO BENIGNO Fizemos a punção do nódulo e temos o diagnóstico de lesão benigna (ou seja, não é câncer). • Recomendações: o Atualmente não se faz mais supressão de TSH, porque há o risco de hipertireoidismo e de fazer osteoporose, fibrilação atrial, sarcopenia etc. em detrimento de algo sem risco (nódulo benigno) ▪ Diferente do câncer, que os riscos da supressão acabam sendo melhores na balança o Quando o nódulo é cístico → Esvaziar o cisto e injeta uma substância para esclerosar a parede interna o Algumas situações podem ser tratadas com iodo radioativo em dose baixa (bócio uninodular tóxico ou multinodular tóxico, com nódulos pequenos) → O iodo vai preferencialmente no nódulo hiperfuncionante porque a tireoide está suprimida (↓TSH), então destrói o nódulo e a tireoide volta a funcionar normalmente o Nódulo > 4 cm → Indicado tratamento cirúrgico, mesmo benigno, por questões compressivas
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