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TIREOIDE EMBRIOLOGIA DA TIREOIDE • A tireoide é a primeira glândula endócrina a se desenvolver (24 dias), sob influencia de vias de sinalização Notch e Hedgehog, a partir do espessamento endodérmico no assoalho da faringe primitiva, formando evaginação no ápice do forame cego na língua em desenvolvimento, o primórdio da tireoide (massa sólida de céls. endodérmicas), cujos componentes laterais formam as céls parafoliculares e os da linha mediana as foliculares. • À medida que o embrião e a língua crescem, a tireoide em desenvolvimento desce pelo pescoço. Na 7ª semana, a tireoide adquiriu seu formato definitivo e geralmente está situada no final no pescoço. Nessa altura, o ducto tireoglosso (tubo que liga a tireoide à língua) normalmente já degenerou e desapareceu. • Na 10ª semana, os cordões dividem-se em pequenos grupos celulares. Um lúmen se forma em cada aglomerado celular, e essas células ficam dispostas em uma única camada em torno dos folículos tireoidianos. • Na 11ª semana, o coloide (material semifluido nos folículos) começa a aparecer; depois disso, a concentração de iodo e a síntese de hormônios da tireoide podem ser demonstradas. • Na 20ª semana, os níveis de TSH e da tiroxina começam a aumentar, alcançando níveis adultos com 35 semanas. TIREOIDE ECTÓPICA • Defeito congênito raro, localizado geralmente no trajeto do ducto tireoglosso (por isso, o tecido tireoidiano lingual é o mais comum), em função da falha na descida, sequestro de nódulos por tireoidites ou traumatismos, presença de tecido tireoideano na cápsula de linfonodos cervicais, formação teratomatosa e anomalias branquiais. Cintilografia. • Em função do mal posicionamento, ocorre hipotireoidismo congênito. Lara Mattar | Funções Biológicas IV | Medicina UFR FISIOLOGIA DA TIREOIDE • A tireoide é composta por inúmeros folículos, cada um circundado por uma única camada de células e preenchido por coloide, constituído de tireoglobulina. • Síntese e liberação de hormônios tireoidianos: iodo ingerido > convertido em iodeto > absorvido no intestino > grande parte do iodeto é excretada pelos rins, remanescente captado e concentrado na tireoide por meio da bomba de iodeto ou simporte sódio-iodeto > oxidação do iodeto a iodo pela tireoperoxidase > síntese da tireoglobulina pelas céls. foliculares > secretada no coloide > iodinação MIT e DIT (mono e di-iodotirosina) e acoplamento: iodo se liga à tirosina da tireoglobulina, formando T3, RT3 e T4 > proteólise, deiodinação e secreção (liberação de T3/T4 exige proteólise da tireoglobulina): entra coloide do lúmen pra célula folicular, se funde aos lisossomos e as proteases lisossomais liberam T3, RT3 e T4 livres > iodo livre é reutilizado. • Transporte e metabolismo: Ao entrar no sangue, T3 e T4 se ligam a proteínas plasmáticas (globulina ligadora de tiroxina TBG, albumina), ficando apenas 0,1% de T4 livre (que é captado por tecidos). A maioria de T3 plasmático tem origem no T4 circulante que foi deiodinado nos tecidos (T4 é considerado pró-hormônio, pois a maioria é convertida em T3, que possui afinidade muito maior com os receptores). • Funções teciduais: o Transcrição: Quando entram na célula, se ligam aos receptores nucleares no DNA, modificando a transcrição de genes > síntese de novas proteínas (metabolismo = aumentam número e atividade mitocondrial, desenvolvimento = músculos, SNC, cardiovascular = aumento frequência, força de contração, débito), sexual = libido, menstruação. As ações da T3 são mais rápidas e potentes, pois está menos fortemente ligada às proteínas plasmáticas e possui mais afinidade com o receptor nuclear. EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-TIREOIDE • Eixo: O TRH é sintetizado nos neurônios parvocelulares do núcleo paraventricular do hipotálamo e liberado pelas terminações nervosas da eminência mediana, a partir da qual é transportado por meio do plexo capilar porta até a adeno-hipófise. O TRH liga-se a um receptor acoplado à proteína G na adeno-hipófise, levando a um aumento da concentração intracelular de Ca2+, que resulta em estimulação da exocitose e liberação do TSH na circulação sistêmica. O TSH estimula a glândula tireoide a aumentar a síntese e a secreção de T4 e T3 na circulação. A T4 e a T3 inibem a secreção de tireotrofina, tanto direta quanto indiretamente, pela inibição da secreção de TRH. Outros fatores que inibem a liberação de TSH incluem os glicocorticoides, a somatostatina e a dopamina. • A secreção de hormônios é regulada principalmente pelo TSH (tireotopina), cuja secreção pela hipófise aumenta pela ação do hormônio liberador da tireotropina (TRH) e é inibida por feedback negativo pelas T4 e T3 circulantes. Embora ocorra alguns feedbacks no hipotálamo influenciando a secreção de TRH, o feedback predominante ocorre na hipófise. Como a T4 é deiodinada a T3 na hipófise, a T3 parece ser a efetora final que faz a mediação do feedback negativo. • A tri-iodotironina é cerca de 4 vezes mais potente do que a tiroxina, mas está presente no sangue em quantidades muito menores, persistindo por um período de tempo muito mais curto em comparação com a tiroxina. HIPOTIREOIDISMO • Hipotireoidismo primário: origem tireoidiana, sendo a tireoidite de Hashimoto (crônica autoimune) a causa mais comum, além do tratamento do hipertireodismo com radioiodo, tireoidectomia, evolução de tireoidites, deficiência grave de iodo, drogas interferentes com a síntese / liberação de HT (antitireoidianos, amiodarona, iodo, lítio, contrastes iodados), doenças infiltrativas, ectopia ou agenesia da tireoide, disormonogênese. • Hipotireoidismo secundário: origem na hipófise (diminuição secreção TSH), como tumor, trauma, cirurgia, radioterapia, doenças infiltrativas, infecções, hipofisite linfocítica crônica, lesões congênitas, drogas interferentes na biossíntese e liberação do TSH (glicocorticoide em altas doses, dopamina, interrupção terapia com L-tiroxina). • Hipotireoidismo terciário: origem no hipotálamo (diminuição secreção TRH), como cirurgia, tumor, TCE. Ainda menos frequente é a ocorrência de hipotireoidismo por resistência ao hormônio tireoidiano ou ao TSH, assim como mutações em genes envolvidos com TSH e TRH (mutações em receptores ou hormonais). • A terminologia hipotireoidismo central é preferível, porque nem sempre é possível distinguir entre causas hipofisárias e hipotalâmicas. • Hipotireoidismo periférico ou extratireoidiano: resistência à ação periférica dos HT ou metabolização aumentada. • Hipotireoidismo congênito: detectado no período neonatal (TSH no teste do pezinho = TSH > 20mUI/L deve ser seguido de determinação de T4). Causa retardo grave de crescimento e deficiência mental. A disgenesia causa 85% dos casos. Pode ser permanente ou transitório. As principais causas do transitório são ingestão excessiva (ou deficiente) de iodo pela mãe; ingestão de tionamidas (metimazol ou propiltiouracil) por mães portadoras de hipertireoidismo; e passagem placentária de anticorpos maternos bloqueadores do receptor de TSH. Habitualmente, reverte até 3 anos. SINAIS E SINTOMAS • Diminuição da taxa metabólica, diminuição da tolerância ao frio, obesidade leve, diminuição do apetite, sonolência e lentidão, hiporreflexia, bradicardia, hipertensão leve diastólica, cardiomegalia, edemas e mixedema (espessamento pele por deposição glicosaminogicanos SC), palidez, intolerância ao frio, fadiga, náuseas e constipação, redução da libido e fertilidade, pele seca, queda de cabelos, unhas brilhantes. • Hipotireoidismo intraútero ou infância: retardo mental irreversível, crescimento prejudicado (cretinismo). • Bócio: relacionado à deficiência de iodo. Os níveis elevados de TSH estimulam a glândula. FATOR GENÉTICO • Cerca de 15-20% dos casos de hipotireoidismo congênito têm causa genética conhecida. Em 2% dos casos de disgenesia tireoidiana, a causa são mutações em genes responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento da glândula tireoide (como NKX2-1, FOXE1, TSHR ePAX8). PARÂMETROS LABORATORIAIS DIAGNÓSTICOS • Na maior parte dos casos, a etiologia da falência tireoideana pode ser estabelecida por meio da história clínica: tratamento com I131, tireoidectomia, uso de medicamentos antitireoideanos ou histórico familiar. • A dosagem de TSH é indispensável para o diagnóstico de hipotireoidismo e para diferenciar o hipotireoidismo primário (patologia primária da tireoide) do secundário ou terciário (central hipofisário ou hipotalâmico). • Em geral, os TPOAb encontram-se elevados em pacientes com tireoidite autoimune (Hashimoto). A positividade reflete a autoimunidade tireoidiana e constitui um importante fator de risco para a disfunção da tireoide. • Como os níveis séricos do T4 total sofrem alterações dependentes da concentração sérica das proteínas carreadoras, a determinação dos níveis séricos de T4 livre é recomendada. o Hipotireoidismo primário: TSH alto associado a T4L baixo e depois T3 baixo (nem sempre). o Hipotireoidismo secundário: TSH normal ou diminuído associado a T4L baixo. = RM sela túrcica. o Tireoidite de Hashimoto ou tireoidite pós parto: anticorpos antitireoperoxidase (AntiTPO) altos. o A determinação de T3 não é útil no diagnóstico do hipotireoidismo (normal em 20 a 30% dos casos). • Outras possíveis alterações laboratoriais são anemia leve a moderada, aumento do colesterol total (por aumento do LDL e triglicerídeos), alterações enzimáticas (aumento das transaminases e creatinofosfoquinase), bem como hiperprolactinemia (com ou sem galactorreia) nos casos de hipotireoidismo primário. • O hipotireoidismo central pode estar associado à deficiência de outros hormônios hipofisários – neste caso, deve ser solicitada ressonância magnética da hipófise para definição da etiologia. • Cintilografia de tireoide com 131I não está indicada na investigação do hipotireoidismo – a captação será baixa ou ausente, independentemente da etiologia, tanto nos casos de origem primária como central. TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL TIREOIDIANA • O único tratamento efetivo para o hipotireoidismo, a menos que a alteração seja causada pela deficiência de iodo (tratada com iodeto), é administrar os hormônios tireoidianos em si, como terapia de reposição em 6 sem. • T4 (levotiroxina) e T3 (liotironina) sintéticas, idênticas aos hormônios naturais, são administradas por VO. A levotiroxina é o fármaco de primeira linha. A ação da liotironina tem início mais rápido, mas duração menor. Ela é reservada, em geral, para emergências como o coma mixedematoso. • A dose inicial a ser prescrita depende do grau de hipotireoidismo, da idade do paciente, bem como do seu estado geral de saúde. Pacientes jovens e saudáveis, sem doença cardiovascular e com hipotireoidismo moderado podem iniciar o tratamento com doses completas de reposição. No outro extremo, pacientes idosos com doença cardíaca devem iniciar a reposição com doses pequenas e a dose deve ser aumentada em intervalos de 2 a 3 meses, com avaliação clínica e laboratorial cuidadosa. O objetivo do tratamento é a normalização dos níveis de TSH. Em pacientes com hipotireoidismo central, o controle deve ser feito pela medida dos níveis de T4L, mantendo seus níveis no limite superior da normalidade. • CUIDADOS: Poderá haver interferência da alimentação sobre a absorção da levotiroxina (T4L) e, portanto, a tomada regular em jejum ao acordar deve ser recomendada, pelo menos 30 minutos antes do café da manhã, para garantir uma boa absorção do hormônio e estabelecer uma rotina. Recomenda-se pelo menos com quatro horas de antecedência em relação à tomada de outras medicações ou vitaminas. A absorção da levotiroxina pode ser afetada por doença de má absorção, pela idade do paciente e por algumas drogas, como colestiraminas, sulfato ferroso, cálcio, e alguns antiácidos que contêm hidróxido de alumínio. Drogas como anticonvulsivantes, rifampicina e sertralina podem acelerar o metabolismo da levotiroxina e, neste caso, a dose precisa ser ajustada. • Recomenda-se manter níveis séricos do TSH dentro dos seus limites da normalidade. Recomenda-se evitar nível baixo ou suprimido do TSH sérico, pois isto indica dose excessiva, aumentando o risco de fibrilação atrial e de perda de massa óssea em mulheres menopausadas. • A dose de L-tiroxina necessária para normalizar o TSH é muitas vezes suprafisiológica e alguns pacientes persistem sintomáticos = reposição da fração circulante do T3 secretada pela tireoide. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MOORE, K.; PERSAUDE, T. Aparelho faríngeo, face e pescoço. In: Embriologia Clínica. 11 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. p. 146-148. SCHOENWOLF, G. et al. Desenvolvimento do Aparelho Faríngeo e da Face. In: Larsen Embriologia Humana. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. p. 458-461. GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Hormônios Metabólicos da Tireoide. In: Tratado de Fisiologia Médica. 13 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 2740-2776. RITTER, J. M. et al. Tireoide. In: Rang & Dale Farmacologia. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. p. 448-454. WAJNER, S.; MAIA, A. Hipotireoidismo. In: Rotinas em endocrinologia. 1 ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. p. 204-208. SBEM. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar. Hipotireoidismo: Tratamento. Associação Médica Brasileira e Agência Nacional de Saúde Complementar, 2011. 17p.
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