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FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS DA TIREOIDE A levotiroxina sintética é a preparação de escolha para a terapia de reposição e supressão tireoidiana, em virtude de sua estabilidade, uniformidade de conteúdo, baixo custo, ausência de proteína estranha alergênica, determinação laboratorial fácil dos níveis séricos e meia-vida longa (7 dias), possibilitando a administração uma vez ao dia. Além disso, a T4 é convertida em T3 no interior da célula; por conseguinte, a administração de T4 resulta na produção de ambos os hormônios, e não há necessidade de administração de T3. Os preparados de levotiroxina genéricos proporcionam uma eficácia comparável e são mais custo-efetivos do que as preparações comercializadas. É preferível que os pacientes continuem com uma preparação de levotiroxina consistente entre os reabastecimentos para evitar alterações na biodisponibilidade. Uma cápsula de gel macio comercializado apresentou dissolução mais rápida e mais completa e foi menos afetada pelo pH gástrico ou pelo café do que uma formulação em comprimidos. Embora a liotironina (T3) seja três a quatro vezes mais potente do que a levotiroxina, não é recomendada para terapia de reposição de rotina, devido à sua meia-vida mais curta (24 horas) que exige múltiplas doses diárias, e à dificuldade de monitorar a adequação da reposição com exames laboratoriais convencionais. A T3 também deve ser evitada em pacientes com doença cardíaca, devido a elevações significativas dos níveis máximos e a um maior risco de cardiotoxicidade. O uso da associação em dose fixa de tiroxina e liotironina (liotrix) de maior custo e tireoide dessecada não demonstrou ser mais efetivo do que a administração isolada de T4. A T3 é mais bem reservada para a supressão em curto prazo do TSH. Há pesquisas em andamento para esclarecer se a T3 poderia ser mais apropriada para pacientes com polimorfismo no gene D2 que continuam relatando a ocorrência de fadiga, ganho de peso e comprometimento mental com o uso isolado de T4. O uso de tireoide dessecada em lugar de preparações sintéticas nunca se justifica, visto que as desvantagens da antigenicidade proteica, da instabilidade do produto, das concentrações variáveis do hormônio e da dificuldade de monitoração laboratorial superam, de longe, a vantagem de seu baixo custo. As quantidades significativas de T3 encontradas em alguns extratos tireoidianos podem produzir elevações significativas dos níveis de T3 e toxicidade. As doses equiefetivas são de 60 mg de tireoide dessecada, 88 a 100 mcg de levotiroxina e aproximadamente 37,5 mcg de liotironina. O prazo de validade das preparações de hormônios sintéticos é de cerca de dois anos, particularmente se armazenadas em frascos escuros para minimizar a desiodação espontânea. O prazo de validade da tireoide dessecada não está bem estabelecido, porém sua potência é mais bem preservada se o produto for mantido seco. AGENTES ANTITIREOIDIANOS A redução da atividade da tireoide e dos efeitos de seus hormônios pode ser obtida por fármacos que interferem na produção dos hormônios tireoidianos, por agentes que modificam a resposta dos tecidos a esses hormônios ou pela destruição da glândula com irradiação ou cirurgia. Os bociógenos são agentes que suprimem a secreção de T3 e de T4 para níveis subnormais, aumentando assim o TSH, que, por sua vez, produz aumento de tamanho da glândula (bócio). Os compostos antitireoidianos usados clinicamente incluem as tioamidas, os iodetos e o iodo radiativo. TIOAMIDAS As tioamidas metimazol e propiltiouracila constituem os principais fármacos para o tratamento da tireotoxicose. No Reino Unido, o carbimazol, que é convertido em metimazol in vivo, é amplamente usado. O metimazol é cerca de dez vezes mais potente do que a propiltiouracila e constitui o fármaco de escolha em adultos e crianças. Em virtude da tarja preta alertando sobre a ocorrência de hepatite grave, a propiltiouracila deve ser reservada para uso durante o primeiro trimestre de gravidez, na tempestade tireoidiana e em pacientes que apresentam reações adversas ao metimazol (outras que não agranulocitose ou hepatite). As estruturas químicas desses compostos são apresentadas na Figura 38-5. O grupo tiocarbamida é essencial para a atividade antitireoidiana. Farmacocinética O metimazol é totalmente absorvido, porém em taxas variáveis. Acumula-se rapidamente na glândula tireoide e apresenta um volume de distribuição semelhante ao da propiltiouracila. A excreção é mais lenta que a da propiltiouracila; 65 a 70% de uma dose é recuperada na urina em 48 horas. Em contrapartida, a propiltiouracila é rapidamente absorvida, alcançando níveis séricos máximos depois de uma hora. A biodisponibilidade de 50 a 80% pode ser decorrente de sua absorção incompleta ou de um acentuado efeito de primeira passagem no fígado. O volume de distribuição aproxima-se daquele da água corporal total, com acúmulo na glândula tireoide. A maior parte de uma dose ingerida de propiltiouracila é excretada pelos rins na forma de glicuronídeo inativo em 24 horas. A meia-vida plasmática curta desses fármacos (1,5 hora para a propiltiouracila e 6 horas para o metimazol) tem pouca influência sobre a duração da ação antitireoidiana ou sobre o intervalo entre as doses, visto que ambos os fármacos são acumulados pela glândula tireoide. No caso da propiltiouracila, é razoável administrar o fármaco a cada 6 a 8 horas, visto que uma dose única de 100 mg pode inibir a organificação do iodo em 60% durante 7 horas. Como a administração de uma dose única de 30 mg de metimazol exerce um efeito antitireoidiano por mais de 24 horas, a prescrição de uma dose diária única mostra-se efetiva no tratamento do hipertireoidismo leve a grave. Ambas as tioamidas atravessam a barreira placentária e concentram-se na tireoide fetal, exigindo cautela quando esses fármacos são usados durante a gravidez. Devido ao risco de hipotireoidismo fetal, ambas as tioamidas são classificadas na categoria D da FDA para gravidez (evidências de risco para o feto humano, com base em dados de reações adversas em pesquisa ou experiência do produto comercializado. Das duas tioamidas, a propiltiouracila é preferível durante o primeiro trimestre de gravidez, uma vez que se liga mais fortemente às proteínas e, portanto, atravessa a placenta com menos facilidade. Além disso, o metimazol tem sido associado, ainda que raramente, a malformações congênitas. Ambas as tioamidas são secretadas em baixas concentrações no leite materno, porém são consideradas seguras durante o aleitamento. Farmacodinâmica As tioamidas atuam por múltiplos mecanismos. A principal ação desses fármacos consiste em impedir a síntese de hormônio ao inibir as reações catalisadas pela tireoide peroxidase, bloqueando a organificação do iodo. Além disso, bloqueiam o acoplamento das iodotirosinas. Não bloqueiam a captação de iodeto pela glândula. A propiltiouracila, mas não o metilmazol, inibe a desiodação periférica da T4 e da T3. Como esses fármacos afetam mais a síntese do que a liberação dos hormônios tireoidianos, o início de ação é lento, com frequência exigindo 3 a 4 semanas para ocorrer depleção das reservas de T4. Toxicidade Ocorrem reações adversas às tioamidas em 3 a 12% dos pacientes tratados. A maioria das reações é observada precocemente, em particular náuseas e desconforto gastrintestinal. Pode ocorrer uma sensação alterada do paladar ou do olfato com o metimazol. O efeito colateral mais comum consiste em exantema pruriginoso maculopapular (4 a 6%), algumas vezes acompanhado de sinais sistêmicos, como febre. Os efeitos colaterais raros incluem exantema urticariforme, vasculite, reação semelhante ao lúpus, linfadenopatia, hipoprotrombinemia, dermatite esfoliativa, polisserosite e artralgia aguda. Foi relatado um risco aumentado de hepatite grave, algumas vezes levando à morte, com a propiltiouracila (tarja preta de alerta), de modo que seu uso deve ser evitado emcrianças e adultos, a não ser que não se disponha de outra opção. A icterícia colestática é mais comum com o metimazol do que com a propiltiouracila. Além disso, podem ocorrer elevações assintomáticas dos níveis de transaminases. A complicação mais perigosa consiste em agranulocitose (contagem de granulócitos < 500 células/mm3), uma reação adversa rara, porém potencialmente fatal. Ocorre em 0,1 a 0,5% dos pacientes em uso de tioamidas, porém o risco pode aumentar em pacientes de idade mais avançada, bem como naqueles que recebem terapia com mais de 40 mg/dia de metimazol. Em geral, a reação é rapidamente reversível com a interrupção do fármaco; entretanto, pode ser necessário instituir uma terapia com antibióticos de amplo espectro para as infecções que ocorrem como complicação. Os fatores de estimulação de colônias podem acelerar a recuperação dos granulócitos. A sensibilidade cruzada entre a propiltiouracila e o metimazol é de cerca de 50%; por conseguinte, não se recomenda substituir um fármaco por outro em pacientes com reações graves.
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