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MÓDULO 2 1. Toxicocinética I Estudo dos processos aos quais uma substância química está sujeita após entrar em contato com o corpo (humano / animal) em função da dose e do tempo. A ação do agente tóxico sobre o organismo faz parte do estudo da toxicodinâmica e os efeitos do organismo sobre o agente tóxico é o interesse da toxicocinética. Processos ADME, as quatro fazes pelos quais uma substância passa após entrar no organismo: Absorção; Distribuição; eliminação através do Metabolismo e da Excreção. ABSORÇÃO Processo pelo qual a substância chega à corrente circulatória quando é aplicada em um sítio extravascular. Observe o esquema: A capacidade de ser absorvida determinará a existência de toxicidade sistêmica da substância. Exemplo: ingestão de álcoois (são absorvidos) vs. Polímeros (não são absorvidos). Importante para a avaliação correta do risco à saúde decorrente da exposição (evitar superestimação de toxicidade sistemática). Exemplos: na ingestão do mercúrio via oral não ocorrerá grande toxicidade, pois não é absorvido no aparelho gastrointestinal, mas sim pelo contato da pele ou inalação do vapor; no caso do naftaleno a absorção ocorre pelo contato da pele ou inalação. MÓDULO 2 EXPOSIÇÃO => ABSORÇÃO: Oral ou retal => intestino => plasma; Percutânea => pele => plasma; Intravascular => plasma; Intramuscular => músculo => plasma; Inalatória => pulmão => plasma. PASSAGEM DE SUBSTÂNCIAS ATRAVÉS DE MEMBRANAS CELULARES DO MEIO EXTRACELULAR PARA O MEIO INTRACELULAR Difusão através de lipídeos: Processo favorecido para toxicantes de baixo peso molecular e com características lipofílicas. Ocorre pela existência de diferenças de concentração do toxicante a ambos lados da membrana de forma espontânea (sem gasto de energia). Difusão através de canais aquosos: Processo favorecido para toxicantes de baixo peso molecular com características hidrofílicas que podem passar junto com a água através dos canais. Passagem via transportadores: Processo mediado por proteínas encarregadas pelo transporte do toxicante através das membranas celulares; o processo envolve gasto de energia. Mecanismo também presente nos processos de excreção. MÓDULO 2 2. Toxicocinética II DISTRIBUIÇÃO No plasma as substâncias são distribuídas para os órgãos e tecidos: pele; músculo; cérebro; pulmão; placenta e feto; glândulas (sudoríparas, mamárias, salivares, outras); intestino; fígado; rins. Observe o esquema: As substâncias não têm a mesma afinidade, nem chegam a todos os órgãos e tecidos na mesma proporção, em vista das suas características químicas. Observe o esquema: MÓDULO 2 3. Toxicocinética III ELIMINAÇÃO Perda irreversível de substâncias que ocorre através do metabolismo (biotransformação) e da excreção. Observe o esquema: SUBSTÂNCIAS HIDROFÍLICAS São facilmente eliminadas pelos rins (mecanismo de excreção mais importante). SUBSTÂNCIAS LIPOFÍLICAS Não são suficientemente eliminadas pelos rins. Devem ser metabolizadas à produtos mais polares para poderem ser excretadas na urina. METABOLISMO Formalmente, usamos o termo metabolismo quando nos referimos a substâncias endógenas (glicose, proteínas, ácidos graxos) e o termo biotransformação no caso de substâncias exógenas (xenobióticos). Mas é importante enfatizar que ambos os termos só diferem pela semântica, pois o processo é o mesmo: Conversão enzimática de uma entidade química em outras; Geralmente são produzidos produtos de polaridade crescente, para facilitar a excreção renal. A biotransformação ocorre predominantemente no FÍGADO (sistema do citocromo P450), mas também pode ocorrer em outros tecidos (intestino, cérebro, rins, pulmões, plasma). Não existe relação entre a toxicidade do agente tóxico e seus metabólitos pois: O metabólito pode ser mais tóxico que o agente tóxico que o originou. Exemplo: N-acetil-p-benzoquinona imina (metabólito do paracetamol) é o responsável pela toxicidade hepática causada pelo fármaco em altas doses. MÓDULO 2 O metabólito pode ser tão tóxico quanto agente tóxico que o originou. Exemplo: diazepam (toxicante) e nordiazepam, oxazepam (metabólitos); O metabótlito pode ser menos tóxico que o agente tóxico que o originou. Exemplo: benzeno (toxicante) e glucuronato de fenila (metabólito). FATORES QUE INFLUENCIAM A BIOTRANSFORMAÇÃO: Espécie; Idade; Sexo; Variabilidade genética; Nutrição; Doença; Exposição a outros produtos químicos. MÓDULO 2 4. Toxicocinética IV EXCREÇÃO Saída da substância do corpo, de forma irreversível, seja quimicamente inalterada ou biotransformada. EXCREÇÃO RENAL Principal via de excreção. Ocorre pelos mecanismos usuais de: Filtração glomerular; Secreção tubular ativa; Difusão passiva através do epitélio tubular. OUTRAS VIAS DE EXCREÇÃO Biliar: excreção pelas fezes. Pulmonar: ocorre com substâncias voláteis que possam ser excretadas no ar expirado. Leite materno: importante para o lactente (mínima importância para a mãe). Saliva, suor, pele, cabelo: vias de menor importância. MÓDULO 2 5. Toxicodinâmica I Estudo dos mecanismos de ação dos toxicantes nos organismos vivos, isto é, sua toxicidade; Descreve a interação dinâmica de um toxicante com as moléculas alvo e as consequências biológicas dessa interação. TOXICANTE Agente químico tóxico (xenobiótico), capaz de agir de maneira nociva, provocando alterações estruturais e/ou funcionais, ao entrar em contato ou ser introduzido no organismo vivo, de forma específica ou não específica (atua em mais de um alvo biológico). FATORES DE SUSCETIBILIDADE Variam de acordo com o indivíduo, com respostas biológicas diferentes, além da presença de algumas doenças que podem acelerar os efeitos tóxicos observados. TOXICIDADE DO AGENTE QUÍMICO É característica inerente dele e não pode ser mudada, sem que ocorra mudança do agente químico. TIPOS DE TOXICIDADE Característica INTRÍNSICA IDOSSINCRÁTICA Dependência à dose Com frequência sim Nem sempre Predisposição particular Normalmente não Totalmente dependente e imprevisível Frequência Mais comum Rara Severidade do efeito Variável, na maioria das vezes de média gravidade Variável, mas proporcionalmente mais grave Prognóstico Alta morbidade e baixa mortalidade Baixa morbidade e alta mortalidade Modelos experimentais Usualmente reproduzível em animais Não reproduzível em animais MÓDULO 2 MÓDULO 2 6. Toxicodinâmica II O toxicante se liga a um alvo específico (receptor) formando um complexo (toxicante-receptor), capaz de promover alterações celulares / moleculares e, por fim, os efeitos biológicos ou toxicológicos, podendo ser mediados por diferentes tipos de alvos. Alvos celulares e moleculares são componentes da célula que interagem com o agente / tóxico e inicia a cadeia de eventos celulares e bioquímicos, que conduzem aos efeitos (tóxicos ou terapêuticos), podendo ser: Receptores localizados na membrana das células ou no citoplasma; Canais iônicos (cálcio, sódio, potássio, outro); Enzimas (como no caso dos agrotóxicos); Transportadores (do meio extracelular para o meio intracelular). Dependendo do tipo de alvo, a resposta intracelular ou molecular pode ser imediata, rápida, moderada ou prolongada. Primeira etapa / barreira - fatores toxicocinéticos: Absorção; Distribuição; Biotransformação; Excreção. Segunda etapa / barreira - tipos de reações: Ligação não covalente: interações apolares, ligação iônica e ponte de hidrogênio: receptor; Ligação covalente: formação de aduto covalenteentre agentes eletrofílicos e nucleofílicos; Abstração de elétrons: radicais livres; Transferência de elétrons: oxidação do Fe++ a Fe+++. Terceira etapa / barreira - observação do efeito biológico / toxicológico / clínico. Alterações da função reguladora ou da manutenção da célula. ESTÁGIO DA TOXICIDADE e MECANISMO MOLECULAR Molecular Interação do toxicante/droga com o alvo molecular Receptor tirosina quinase Celular Transdução amplificação do sinal Translocação de GLUT4 Síntese e Ativação enzimática MÓDULO 2 Tecidos Efeitos na função do tecido Transporte de glicose gliconeogênese Sistemas Efeitos na função do sistema Em excesso, suporte energético inadequado EFEITOS ESPECÍFICOS Quando o agente interage com um único alvo, sendo possível reverter com o uso do antagonizante, neutralizando a ação. A administração da insulina, por exemplo, fora das doses terapêuticas pode causar efeitos tóxicos / adversos graves. MÚLTIPLOS MECANISMOS INDUZEM MÚLTIPLOS EFEITOS Por exemplo, o chumbo (Pb) pode levar a: Efeitos hematológicos por inibir enzimas com grupamento sulfidrila; Efeitos neurotóxicos por alterara a neurotransmissão; Hipertensão por induzir este oxidativo e aumentar os níveis de cálcio. RELEVÂNCIA DO ESTUDO TOXICODINÂMICO Estabelecer procedimentos para antagonizar os efeitos tóxicos; Desenvolver fármacos ou produtos químicos mais seguros; Elucidar os mecanismos de toxicidade dos toxicantes conduz a uma melhor compreensão dos processos fisiológicos e bioquímicos, que vão desde a neurotransmissão até o reparo do DNA; Avaliar a probabilidade de uma substância causar efeitos adversos / deletérios. MÓDULO 2 7. Para Saber Mais Goodman & Gilman's The Pharmacological Basis of Therapeutics – 12ª ed. McGraw-Hill (NY), 2011. Katzung – Farmacologia – Básica e Clínica – 12ª ed. AMGH Editora, Porto Alegre 2014. National Toxicology Program (NTP). Web site: https://ntp.niehs.nih.gov/ Nyman A-M , Schirmer K, Ashauer R. Toxicokinetic-toxicodynamic modelling of survival of Gammarus pulex in multiple pulse exposures to propiconazole: model assumptions, calibration data requirements and predictive power. Ecotoxicology (2012) 21:1828–1840. Chen CY, Lu TH, Liao CM. Integrated toxicokinetic/toxicodynamic assessment modeling reveals at-risk scleractinian corals under extensive microplastics impacts. Sci Total Environ. 2021 Oct 14:150964.
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