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Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé Dislipidemias A dislipidemia é uma importante causa de doença cardiovascular ateroslerótica, como doença arterial coronariana, doença vascular encefálica isquêmica e doença vascular periférica. Tanto distúrbios genéticos quanto estilo de vida contribuem para as dislipidemias, incluindo hipercolesterolemia e baixos níveis de HDL-C. Metabolismo das lipoproteínas plasmáticas As lipoproteínas são conjuntos macromoleculares que contêm lipídeos e proteínas. A ocorrência de mutações nas lipoproteínas ou em seus receptores pode levar a dislipidemias familiares e morte prematura em consequência de aterosclerose acelerada. Em todas as lipoproteínas esféricas, os lipídeos mais insolúveis em água (ésteres de colesteril e triglicerídeos) são os componentes centrais, enquanto os componentes hidrossolúveis mais polares (apoproteínas, fosfolipídeos e colesterol não esterificado) se localizam na superfície. Quimolícrons Os quilomícrons são sintetizados a partir dos ácidos graxos dos triglicerídeos e colesterol da dieta, absorvidos no intestino delgado pelas células epiteliais. Em indivíduos normolipidêmicos, os quilomícrons ficam presentes no plasma durante 3 a 6 horas após uma refeição contendo gordura. A absorção intestinal do colesterol é mediada pela NPC1L1, que parece ser o alvo da ezetimiba, um inibidor da absorção de colesterol. Remanescentes de quilomícrons Após remoção de grande parte dos triglicerídeos dietéticos mediada pela lipoproteína-lipase (LPL), os remanescentes de quilomícrons, com todo o colesterol dietético, desprendem-se da superfície capilar e, em poucos minutos, são removidos da circulação pelo fígado. Durante a hidrólise inicial dos triglicerídeos de quilomícrons pela LPL, a apo A-1 e os fosfolipídeos se desprendem da superfície dos quilomícrons e permanecem no plasma. Esse é um mecanismo pelo qual ocorre a geração de HDL nascente (precursora). As lipoproteínas participam de três ciclos básicos de transporte de lipídeos no plasma: Ciclo exógeno, no qual as gorduras são absorvidas no intestino e chegam ao plasma, sob a forma de quilomícrons, e, após degradação pela lipase lipoproteica (LPL), ao fígado ou a tecidos periféricos; Ciclo endógeno, em que as gorduras do fígado se direcionam aos tecidos periféricos; a lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL) é secretada pelo fígado e, por ação da LPL, transforma-se em lipoproteína de densidade intermediária e, posteriormente, em LDL, a qual carrega os lipídeos, principalmente o colesterol, para os tecidos periféricos; Transporte reverso do colesterol, em que as gorduras, principalmente o colesterol dos tecidos, retorna para o fígado; as HDL nascentes captam colesterol não esterificado dos tecidos periféricos pela ação da lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT), formando as HDL maduras; por meio da CETP, ocorre também a transferência de ésteres de colesterol da HDL para outras lipoproteínas, como as VLDL. Lipoproteínas de densidade muito baixa As lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) são produzidas no fígado quando a síntese de triglicerídeos é estimulada pelo aumento no fluxo de ácidos graxos livres e pelo aumento na síntese de novo de ácidos graxos pelo fígado. Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé Lipoproteínas de baixa densidade Praticamente todas as partículas de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) na circulação são derivadas das VLDL. O fígado expressa um grande complemento de receptores de LDL e remove cerca de 75% de toda a LDL do plasma. A modificação dietética (redução no consumo de gordura saturada e colesterol) e o tratamento farmacológico (com estatinas) mais efetivos para a hipercolesterolemia atuam no aumento da expressão dos receptores de LDL hepáticos. Lipoproteínas de alta densidade As lipoproteínas de alta densidade (HDL) são lipoproteínas protetoras que diminuem o risco de doença arterial coronariana, portanto é desejável a presença de níveis elevados de HDL. Esse efeito protetor pode resultar da participação das HDL no transporte reverso de colesterol, processo pelo qual o colesterol em excesso é adquirido das células e transferido para o fígado para ser excretado. Os efeitos das HDL também incluem supostas atividades anti-inflamatórias, antioxidativas, antiagregantes plaquetárias, anticoagulantes e pró-fibrinolíticas. A apo A-1 é a principal apoproteína das HDL e sua concentração plasmática é um indicador reverso mais poderoso do risco de DAC do que o nível de HDL-C. A síntese de apo A-I é necessária para a produção normal das HDL. Estatinas Esses fármacos são inibidores competitivos da HMG-CoA-redutase, que catalisa uma etapa inicial e limitadora da velocidade na biossíntese do colesterol. As estatinas mais potentes (atorvastatina, sinvastatina e rosuvastatina) em doses mais altas também podem reduzir os níveis de triglicerídeos causados pela elevação dos níveis de VLDL. As estatinas afetam os níveis sanguíneos de colesterol ao inibir a síntese hepática de colesterol, resultando no aumento da expressão do gene do LDLR. Redução de 35-45% dos níveis de triglicerídeos; Aumento de 5 a 10% dos níveis de HDL-C; Redução de 20-55% dos níveis e LDL-C. Sequestradores de ácidos biliares Os sequestradores de ácidos biliares estão entre os fármacos hipolipidêmicos mais antigos e são, provavelmente, os mais seguros, visto que não são absorvidos pelo intestino. Existem três fármacos dessa classe: colestiramina, colestipol e colesevelam. As resinas podem ser utilizadas como segundo agente se a terapia com estatinas não reduzir suficientemente os níveis de LDL-C ou em caso de intolerância às estatinas. Os sequestradores de ácidos biliares exibem cargas altamente positivas e se ligam a ácidos biliares de carga negativa. Em virtude de seu grande tamanho, as resinas não são absorvidas e os ácidos biliares ligados são excretados nas fezes. Como mais de 95% dos ácidos biliares são normalmente reabsorvidos, a interrupção desse processo causa depleção do reservatório de ácidos biliares e aumento na síntese hepática de ácidos biliares. Em consequência, o conteúdo hepático de colesterol declina, estimulando a produção de receptores de LDL, um efeito semelhante ao das estatinas. O aumento dos receptores hepáticos de LDL aumenta a depuração das LDL e reduz os níveis de LDL- C. O uso desses fármacos pode reduzir a absorção de outros fármacos como tiazidas, furosemida, propranolol, digoxina, varfarina e estatinas. Ácido nicotínico A niacina é uma vitamina do complexo B, entretanto os seus efeitos hipolipidêmicos exigem doses mais altas do que as necessárias para seus efeitos como vitamina. No tecido adiposo, a niacina inibe a lipólise dos triglicerídeos pela lipase sensível a hormônios (LSH), reduzindo, portanto, o transporte de ácidos graxos livres para o fígado e a síntese hepática de triglicerídeos. A redução da síntese de triglicerídeos diminui a produção hepática de VLDL, responsável pelos níveis Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé reduzidos de LDL. A niacina também aumenta a atividade da LPL, uma ação que promove a depuração dos quilomícrons e dos triglicerídeos VLDL. A niacina eleva os níveis de HDL-C ao diminuir a fração de depuração da apo A-1 nas HDL em vez de aumentar a síntese de HDL. Fibratos O clofibrato é um derivado halogenado do ácido fíbrico. A genfibrozila é um ácido não halogenado que é distinto dos fibratos halogenados. Foram desenvolvidos vários análogos do ácido fíbrico (etofibrato, fenofibrato, bezafibrato, ciprofibrato), que são usados atualmente na clínica. Os fibratos se ligam ao PPAR-αe reduzem os triglicerídeos por meio de estimulação mediada pelo PPAR- α da oxidação dos ácidos graxos; de aumento na síntese de LPL; e de expressão reduzida da apo C-III. Os aumentos dos níveis de HDL-C mediados por fibratos ocorrem devido à estimulação da expressão da apo A-1 e da apo A-II pelo PPAR-α, com aumento dos níveis de HDL. Inibidor da absorção de colesterol A ezetimiba é o primeiro composto aprovado para reduzir os níveis de colesterol total e LDL-C que inibe a absorção do colesterol pelos enterócitos no intestino delgado. Ela diminui os níveis de LDL-C em cerca de 20% e pode ser usada como terapia adjuvante com estatinas. Inibe a captação luminal de colesterol pelos enterócitos jejunais por meio da inibição da proteína de transporte NPClLl.
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