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Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé Hipertensão A hipertensão é a doença cardiovascular mais comum. A pressão arterial elevada provoca hipertrofia do ventrículo esquerdo e alterações patológicas na vasculatura. É definida por uma elevação sustentada da PA de 140/90 mmHg ou mais. Princípios da terapia anti-hipertensiva A pressão arterial é o produto do débito cardíaco e da resistência vascular periférica (𝑃𝐴 = 𝐷𝐶 ∗ 𝑅𝑉𝑃). Os fármacos reduzem a pressão arterial ao agir na resistência periférica, no débito cardíaco ou em ambos. Os fármacos que levam à diminuição do DC inibem a contratilidade do miocárdio ou reduzem a pressão de enchimento do ventrículo. A redução na pressão de enchimento do ventrículo pode ser alcançada por meio de ações sobre o tônus venoso ou sobre o volume de sangue usando efeitos renais. Assim como os fármacos que levam à redução da RVP têm ação sobre o músculo liso, provocando relaxamento dos vasos de resistência, ou interferem na atividade dos sistemas que produzem constrição dos vasos de resistência. Diuréticos Esses fármacos e agentes diuréticos relacionados possuem efeitos anti-hipertensivos quando usados sozinhos e potencializam a eficácia de praticamente todos os outros fármacos anti- hipertensivos. O mecanismo exato da redução da PA pelos diuréticos não está claro. A ação inicial dos diuréticos tiazídicos consiste na redução do volume extracelular pela interação com um cotransportador de 𝑁𝑎𝐶𝑙 sensível a tiazidas expresso no túbulo contorcido distal do rim, intensificando a excreção urinária de 𝑁𝑎+ e resultando em diminuição do DC. Entretanto, o efeito hipotensor é mantido durante a terapia prolongada por causa da redução da RVP. O DC retorna aos valores pré-tratamento e o volume extracelular retorna quase ao normal graças às respostas compensatórias, como a ativação do sistema renina- angiotensina. A hidroclorotiazida pode abrir os canais de 𝐾+ ativados por 𝐶𝑎2+, causando a hiperpolarização das células do músculo liso vascular, que leva ao fechamento dos canais de 𝐶𝑎2+ tipo L e à menor probabilidade de abertura, resultando em redução da entrada de 𝐶𝑎2+ e em vasoconstrição reduzida. Esse fármaco também inibe a anidrase carbônica vascular. Benzotiadiazinas e compostos relacionados As benzotiadiazinas (tiazidas) e diuréticos relacionados são a classe de agentes anti- hipertensivos mais usada. Como os membros dessa classe possuem efeitos farmacológicos semelhantes, em geral eles são intercambiáveis com o ajuste adequado da dose. Entretanto, a farmacocinética e a farmacodinâmica desses fármacos diferem, de modo que eles podem não necessariamente ter a mesma eficácia clínica no tratamento da hipertensão. Quando usados como monoterapia, a dose diária máxima de diuréticos tiazídicos não deve exceder 25 mg. Embora uma maior diurese possa ser obtida com doses maiores, as evidências sugerem que doses maiores que essa não são mais eficazes na redução da PA. Dessa forma, se a redução adequada da PA com uma dose diária de 25 mg não for alcançada, indica-se o acréscimo de um segundo fármaco em vez de um aumento na dose do diurético. A perda de 𝐾+ pela urina pode ser um problema com as tiazidas. Os IECA e os BRA atenuarão em alguma extensão a perda de 𝐾+ induzida pelos diuréticos, e essa será uma questão caso seja necessário um segundo fármaco. Ao contrário da limitação da dose de diuréticos da classe das tiazidas usados como monoterapia, o tratamento da hipertensão grave que não responde a três ou mais fármacos pode exigir doses maiores desses diuréticos da classe das tiazidas. Portanto, é Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé adequado considerar o uso de diuréticos da classe das tiazidas em doses diárias de 50 quando o tratamento com as combinações adequadas e doses de três ou mais fármacos não obtêm o controle adequado da pressão arterial. Como alternativa, pode haver a necessidade de diuréticos de maior capacidade, como a furosemida, principalmente se a função renal não estiver normal. A eficácia das tiazidas é reduzida progressivamente quando a taxa de filtração glomerular cai para menos de 30 mL/min. Uma exceção é a metolazona, que é eficaz em pacientes com esse grau de insuficiência renal. A maioria dos pacientes responderá aos diuréticos tiazídicos com uma redução na PA em cerca de 4 a 6 semanas. Portanto, as doses não devem ser aumentadas com uma frequência maior do que 4 a 6 semanas. Diuréticos de alça Os diuréticos tiazídicos são agentes anti- hipertensivos mais eficazes do que os diuréticos de alça, como a furosemida e a bumetanida, em pacientes com função renal normal. É provável que esse efeito diferencial esteja relacionado com a curta dração dos diuréticos de alça. De fato, uma única dose diária de diuréticos de alça não provoca perda efetiva significativa de 𝑁𝑎+. Quando um diurético de alça é administrado 2 vezes/dia, a diurese aguda pode ser excessiva e provocar mais efeitos colaterais do que os que ocorrem com o diurético tiazídico, que é mais suave e de ação mais lenta. Os diuréticos de alça podem ser particularmente úteis em pacientes com azotemia ou edema grave associados a um vasodilatador, como minoxidil. Diuréticos poupadores de K+ A amilorida e o triantereno são diuréticos poupadores de 𝐾+ que possuem pouco valor como monoterapia anti-hipertensiva, mas que são importantes em associação com tiazidas para antagonizar a perda urinária de 𝐾+ e o risco concomitante de arritmias ventriculares. O uso concomitante de um BRA ou de um IECA aumenta o risco de hiperpotassemia com esses agentes. Agentes simpaticolíticos Com a demonstração em 1940 de que a excisão bilateral da cadeia simpática torácica poderia reduzir a PA, surgiu uma busca por agentes simpaticolíticos químicos eficientes. Os antagonistas dos receptores α e β- adrenérgicos têm sido o grande alicerce da terapia anti-hipertensiva. Antagonistas dos receptores β-adrenérgicos (β- bloqueadores) O antagonismo dos receptores β-adrenérgicos afeta a regulação da circulação por meio de diversos mecanismos, incluindo a redução da contratilidade do miocárdio e da frequência cardíaca. O antagonismo dos receptores β1 do complexo justaglomerular diminui a secreção de renina e a atividade do sistema renina- angiotensina. O labetalol e o carvedilol também são α1- bloqueadores e o nebivolol promove a vasodilatação dependente das células endoteliais por meio da ativação da produção de NO. Os β-bloqueadores fornecem uma terapia efetiva para todos os graus de hipertensão. Geralmente não provocam retenção de sal ou água e não é necessária a administração de diuréticos para evitar edema ou desenvolvimento de tolerância. Esses fármacos devem ser evitados em pacientes com doença reativa das vias respiratórias (asma) ou com disfunção no nó sinoatrial ou atrioventicular e não devem ser combinados com outros fármacos que inibem a condução atrioventricular, como o verapamil. O risco de reações hipoglicêmicas pode ser aumentado em pacientes diabéticos que tomam insulina. A interrupção súbita do uso de β- bloqueadores pode produzir síndrome de abstinência, Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé que provavelmente decorre da suprarregulação dos receptores β durante o bloqueio. Antagonistas dos receptores α1-adrenérgicos (α1- bloqueadores) A disponibilidade de fármacos que bloqueiam seletivamente os receptores α1-adrenérgicos sem afetar os receptores α2-adrenérgicos fornece outro grupo de agentes anti-hipertensivos. Inicialmente, os bloqueadores α1-adrenérgicos reduzem a resistência arteriolar e aumentam a capacitância venosa, o que provoca um aumentoreflexo mediado simpaticamente da frequência cardíaca e da atividade da renina plasmática. Durante a terapia prolongada, a vasodilatação persiste, mas o DC, a FC e a atividade da renina plasmática retornam ao normal. Reduzem as concentrações plasmáticas de triglicerídeos e colesterol LDL total e aumentam a de colesterol HDL. Esses efeitos favoráveis sobre os lipídeos persistem quando um diurético do tipo tiazida é administrado simultaneamente. Esses fármacos não são recomendados como monoterapia para pacientes hipertensos. Consequentemente, são usados principalmente em associação a diuréticos, β-bloqueadores e outros agentes anti-hipertensivos. São interessantes para pacientes hipertensos com hiperplasia prostática benigna, visto que melhoram os sintomas urinários. Os efeitos adversos incluem o risco de desenvolver insuficiência cardíaca congestiva. Uma importante preocupação sobre o uso desses fármacos para a hipertensão é o fenômeno de primeira dose, no qual ocorre hipotensão ortostática sintomática dentro de 30 a 90 minutos após a dose inicial do fármaco ou após o aumento da dose. α1 e β-bloqueadores combinados O carvedilol é um β-bloqueador não seletivo com atividade antagonista do receptor α1. Esse fármaco está aprovado para o tratamento da hipertensão e da insuficiência cardíaca sintomática. O labetalol é uma mistura equimolar de quatro estereoisômeros. Um dos isômeros é um α1- bloqueador, o outro é um β-bloqueador não seletivo com atividade agonista parcial e os outros dois são inativos. Foi aprovado pelo FDA para o tratamento de eclâmpsia, pré-eclâmpsia, hipertensão e emergências hipertensivas. A principal indicação do labetalol é a hipertensão durante a gravidez. Fármacos simpaticolíticos de ação central Metildopa A metildopa, um agente anti-hipertensivo de ação central, é um profármaco que exerce sua ação anti-hipertensiva por meio de um metabólito ativo. Embora tenha sido frequentemente usada como agente anti-hipertensivo no passado, seu perfil de efeitos adversos limita o seu uso atual principalmente ao tratamento da hipertensão na gravidez. Clonidina e moxonidina Esses fármacos estimulam os receptores α2A-adrenérgicos no tronco encefálico, resultando em redução do efluxo simpático proveniente do SNC. Os efeitos no SNC são tantos que essa classe de fármacos não é a primeira opção para a monoterapia da hipertensão, são mais efetivos em pacientes que não respondem a combinação de outros fármacos. Sedação e xerostomia são efeitos adversos evidentes. A xerostomia pode ser acompanhada de mucosa nasal e olhos secos e edema e dor da glândula parótida. A interrupção súbita do uso desses fármacos pode provocar síndrome de abstinência, com cefaleia, apreensão, tremores, dor abdominal, transpiração e taquicardia. Bloqueadores dos canais de Ca2+ Esses agentes constituem um importante grupo de fármacos para o tratamento da hipertensão. A base para seu uso no tratamento da hipertensão vem da compreensão de que a Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé hipertensão é o resultado do aumento da resistência vascular periférica. Como a contração do músculo liso vascular depende da concentração de 𝐶𝑎2+ intracelular livre, a inibição do movimento transmembrana do 𝐶𝑎2+ por meio de canais de 𝐶𝑎2+ sensíveis a voltagem pode reduzir a quantidade total de 𝐶𝑎2+ que alcança os locais intracelulares. De fato, todos os bloqueadores dos canais de 𝐶𝑎2+ reduzem a pressão arterial ao relaxar o músculo liso arteriolar e diminuir a resistência vascular periférica. Os bloqueadores dos canais de 𝐶𝑎2+ estão entre os fármacos preferidos para o tratamento da hipertensão, tanto na forma de monoterapia quanto em combinação com outros agentes anti- hipertensivos. Exemplos de bloqueadores dos canais de 𝐶𝑎2+: anlodipino, felodipino, diltiazem e verapamil. Inibidores do sistema renina-angiotensina A AngII é um importante regulador da função cardiovascular. A capacidade de reduzir os efeitos da AngII com agentes farmacológicos representou um avanço importante no tratamento da hipertensão e de suas sequelas. Inibidores da enzima conversora de angiotensina O captopril foi o primeiro fármaco desse tipo a ser desenvolvido para o tratamento da hipertensão. Desde então, o enalapril, o lisinopril, o quinapril, o ramipril, o benazepril, o moexipril, o fosinopril, o trandolapril e o perindopril tornaram-se disponíveis. Esses fármacos são úteis no tratamento da hipertensão em virtude de sua eficácia e perfil favorável de efeitos adversos, aumentando, assim, a adesão do paciente. Bloqueadores dos receptores AT1 A importância da Angll na regulação da função cardiovascular levou ao desenvolvimento de antagonistas não peptídicos de um subtipo do receptor de AngII, o AT1. A losartana, a candesartana, a irbesartana, a valsartana, a telmisartana, a olmesartana e a eprosartana foram aprovadas para o tratamento da hipertensão. Ao antagonizar os efeitos da AngII, esses agentes relaxam o músculo liso e, dessa maneira, promovem a vasodilatação, aumentam a excreção renal de sal e de água, reduzem o volume plasmático e diminuem a hipertrofia celular. Inibidores diretos da renina O alisquireno, primeiro IDR efetivo por via oral, foi aprovado pela FDA para o tratamento da hipertensão. Esse fármaco é um agente anti- hipertensivo efetivo, mas que não foi estudado o suficiente como monoterapia para a hipertensão. A combinação do alisquireno com outros inibidores do SRA é contraindicada. Vasodilatadores Hidralazina A hidralazina foi um dos primeiros anti- hipertensivos ativos por via oral comercializados no EUA, porém, no início, raramente era utilizado, devido à ocorrência de taquicardia e taquifilaxia. Assim, esse fármaco foi associado a agentes simpaticolíticos e a diuréticos, sendo observado um maior sucesso terapêutico. Entretanto, seu papel no tratamento da hipertensão diminuiu significativamente com a introdução de novas classes de anti-hipertensivos. A hidralazina relaxa diretamente o músculo liso arteriolar, com pouco efeito sobre o músculo liso venoso. Os mecanismos moleculares que medeiam essa ação ainda não foram bem esclarecidos, mas podem envolver, em última análise, uma queda das concentrações intracelulares de 𝐶𝑎2+. Os mecanismos potenciais incluem inibição da liberação de 𝐶𝑎2+. dos locais de armazenamento intracelular induzida por trifosfato de inositol, abertura dos canais de 𝐾+. ativados por 𝐶𝑎2+.de alta condutância nas células musculares lisas e ativação de uma via de ácido araquidônico, COX e prostaciclina que explicaria a sensibilidade aos AINE. Não é mais um fármaco de primeira esclha na terapia da hipertensão. Entretanto, pode ter utilidade no tratamento de alguns pacientes com hipertensão grave e em emergências hipertensivas em gestantes. Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé Minoxidil A descoberta da ação hipotensora do minoxidil, em 1965, representou um avanço significativo no tratamento da hipertensão, visto que ele se demonstrou eficaz para pacientes com formas mais graves e resistentes de hipertensão. O minoxidil não é ativo in vitro, mas deve ser metabolizado pela sulfotransferase hepática à molécula ativa, o N-0 sulfato de minoxidil. O sulfato de minoxidil relaxa o músculo liso vascular em sistemas isolados onde o agente original é inativo. Ele também ativa o canal de 𝐾+ modulado pelo ATP, possibilitando o efluxo de 𝐾+, e provoca hiperpolarização e relaxamento do músculo liso. Nitroprusseto de sódio O nitroprusseto é um nitrovasodilatador que atua por meio da liberação de NO. O NO ativa a via GC- AMPc-PKG, resultando em vasodilatação, simulando a produção de NO pelas células endoteliaisvasculares, que está comprometida em muitos pacientes hipertensos. Dilata tanto as arteríolas quanto as vênulas e a resposta hemodinâmica à sua administração resulta de uma combinação de acúmulo venoso e redução da impedância arterial. É um vasodilatador não seletivo e a distribuição regional do fluxo sanguíneo é pouco afetada pelo fármaco. Em geral, o fluxo sanguíneo renal e a filtração glomerular são mantidos e verifica- se um aumento na atividade da renina plasmática. O nitroprusseto de sódio é utilizado principalmente no tratamento de emergências hipertensivas, porém também pode ser utilizado quando se deseja obter uma redução em curto prazo da pré-carga ou pós-carga cardíaca. Ele tem sido utilizado para reduzir a pressão arterial durante a dissecção aguda da aorta, para melhorar o débito cardíaco na insuficiência cardíaca congestiva, particularmente em pacientes hipertensos com edema pulmonar que não respondam a outros tratamentos e para diminuir a demanda de 02 do miocárdio após IAM. Além disso, o nitroprusseto é usado para induzir hipotensão controlada durante a anestesia, de modo a diminuir o sangramento em procedimentos cirúrgicos.
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