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Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé Renina e angiotensina Sistema renina-angiotensina O SRA participa na fisiopatologia da hipertensão, da insuficiência cardíaca congestiva, do infarto do miocárdio e da nefropatia diabética. SRA clássico Por meio das ações da angiotensina II (AngII), o SRA participa na regulação da PA, na liberação de aldosterona, na reabsorção de 𝑁𝑎+ dos túbulos renais, na homeostasia dos eletrólitos e líquidos e na regulação da modelagem cardiovascular. A AngII é derivada do angiotensinogênio em duas etapas proteolíticas: 1. A enzima renina cliva o decapeptídeo AngI da extremidade aminoterminal do angiotensinogênio; 2. Uma ECA remove o dipeptídeo carboxiterminal da AngI para produzir o octapeptídeo AngII. A AngII atua por meio de sua ligação ao AT1 e ao AT2, dois receptores acoplados à proteína G (GPCR) distintos. Renina A renina é o principal determinante da taxa de produção de AngII, e sua secreção é regulada por diversos mecanismos. A renina é sintetizada, armazenada e secretada por exocitose na circulação arterial renal pelas células justaglomerulares (JG) granulosas localizadas nas paredes das arteríolas aferentes que entram nos glomérulos. Ela é sintetizada como uma pré-pró-enzima que é, então, processada a pró-renina. Tanto a renina quanto a pró-renina são armazenadas nas células JG e, quando liberadas, circulam no sangue. A concentração de pró-renina na circulação é de aproximadamente 10 vezes maior que a da enzima ativa. Controle da secreção de renina A renina é secretada pelas células granulosas do aparelho JG e é regulada pelas seguintes vias: A via da mácula densa; A via dos barorreceptores intrarrenais; A via dos receptores β1 adrenérgicos. A via da mácula densa A via da mácula densa desempenha uma importante função na regulação da água e do sal pelo SRA. A ocorrência de alterações na absorção de 𝑁𝑎𝐶𝑙 pela mácula densa resulta na transmissão, para as células JG adjacentes, de sinais químicos que modificam a liberação de renina. Os aumentos no fluxo de 𝑁𝑎𝐶𝑙 ao longo da mácula densa inibem a liberação de renina, enquanto as reduções nesse fluxo a estimulam. A adenosina, o trifosfato de adenosina (ATP) e as prostaglandinas (PG) modulam a via da mácula densa. O ATP e a adenosina inibem a liberação de renina quando o transporte de 𝑁𝑎𝐶𝑙 aumenta. Já a PGE2 e a PGI2 estimulam a liberação de renina quando o transporte de 𝑁𝑎𝐶𝑙 diminui por meio do aumento na formação de AMPc. A regulação da via da mácula densa depende mais da concentração luminal de 𝐶𝑙− do que da de 𝑁𝑎+. E o transporte de 𝑁𝑎𝐶𝑙 na mácula densa é mediado pelo simportador de 𝑁𝑎+-𝐾+-2𝐶𝑙−. A concentração luminal de 𝑁𝑎+ na mácula densa é geralmente muito maior do que o nível necessário para o transporte, então as variações fisiológicas nessa concentração exercem pouco efeito sobre a liberação de renina. Em contrapartida, as alterações fisiológicas nas concentrações de 𝐶𝑙− na mácula densa afetam profundamente a liberação de renina. A via dos barorreceptores intrarrenais Aumentos da PA e da perfusão renal nos vasos pré-glomerulares inibem a liberação de renina, assim como reduções da PA e da perfusão renal Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé estimulam a liberação de renina. Acredita-se que o estímulo imediato para a secreção seja a redução da tensão dentro da parede da arteríola aferente. A liberação de prostaglandinas renais e o acoplamento biomecânico por meio de canais iônicos ativados por estiramento podem mediar, em parte, a via dos barorreceptores intrarrenais. A via dos receptores β1 adrenérgicos Essa via é regulada pela liberação de norepinefrina (NE) a partir dos nervos simpáticos pós- ganglionares. A ativação dos receptores β1 nas células JG aumenta o AMPc e a secreção de renina. Assim, o tratamento com β-bloqueadores reduz a secreção de renina e a atividade da renina plasmática. Regulação por retroalimentação O aumento da secreção de renina intensifica a formação de AngII, que estima os receptores AT1 nas células JG, inibindo a liberação de renina – um efeito denominado retroalimentação negativa de alça curta. A inibição da liberação de renina devido a uma elevada PA dependente da AngII é denominada retroalimentação negativa de alça longa. Fármacos que afetam a secreção de renina Os diuréticos de alça estimulam a liberação de renina e aumentam a concentração de renina plasmática ao reduzir a PA e bloquear a reabsorção de 𝑁𝑎𝐶𝑙 na mácula densa. Os AINE inibem a síntese de prostaglandina, diminuindo, portanto, a liberação de renina. Os IECA, os bloqueadores do receptor de angiotensina e os inibidores da renina interrompem os mecanismos de retroalimentação negativa, aumentando, assim, a liberação de renina e a concentração de renina plasmática. Os agentes simpaticolíticos de ação central, assim como os antagonistas dos receptores β1- adrenérgicos, diminuem a secreção de renina ao reduzir a ativação dos receptores β1-adrenérgicos nas células JG. Enzima conversora de angiotensina 2 A ECA2 converte a AngII em Ang(1-7), mas também pode converter a AngI em Ang(1-9), que é, então, convertida em Ang(1-7) pela ECA. A ECA2 não é inibida pelos inibidores convencionais da ECA e não tem nenhum efeito sobre a bradicinina. A expressão reduzida ou a deleção da ECA2 estão associadas a hipertensão, defeitos na contratilidade cardíaca e níveis elevados de AngII. A inibição dos receptores AT1 pelos bloqueadores do receptor de angiotensina aumenta a expressão da ECA2. A hiperexpressão do gene ECA2 diminui a PA e impede a hipertrofia cardíaca induzida por AngII. As intervenções terapêuticas têm por objetivo inibir o eixo em vermelho e intensificar o eixo em verde. Funções e efeitos da angiotensina II A AngII aumenta a resistência periférica total e altera a função renal e a estrutura cardiovascular. Aumentos leves nas concentrações plasmáticas de AngII provocam uma elevação aguda da PA. Apesar de a AngII aumentar diretamente a contratilidade cardíaca (por meio da abertura dos Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé canais de 𝐶𝑎2+ regulados por voltagem nos miócitos cardíacos) e indiretamente a frequência cardíaca (mediante facilitação do tônus simpático, aumento da neurotransmissão adrenérgica e liberação de catecolaminas pelas suprarrenais), a rápida elevação da PA ativa reflexo barorreceptor, que diminui o tônus simpático e aumento do tônus vagal. Assim, dependendo do estado fisiológico, a AngII pode aumentar, diminuir ou não modificar a contratilidade, a frequência e o débito cardíacos. A AngII também produz uma resposta pressora lenta que ajuda a estabilizar a PA por um longo tempo. A infusão contínua de doses inicialmente supressoras de AngII aumenta a PA de modo gradual, sendo necessários vários dias para atingir o efeito máximo. Além de seus efeitos sobre a PA, a AngII estimula a remodelagem do sistema cardiovascular, causando hipertrofia das células vasculares e cardíacas e aumento na síntese e no depósito de colágeno pelos fibroblastos cardíacos. Inibidores do sistema renina-angiotensina Os fármacos que interferem no SRA desemprenham um papel de destaque no tratamento de doenças cardiovasculares. Além dos β1- bloqueadores que inibem a liberação de renina, as três classes de inibidores do SRA a seguir são utilizadas terapeuticamente: Inibidores da ECA; Bloqueadores do receptor de angiotensina; Inibidores diretos da renina. Todas essas classes de agentes reduzem as ações da AngII e a PA, porém, cada uma delas exerce efeitos diferentes sobre os componentes individuais doSRA. Inibidores da enzima conversora de angiotensina Os IECA inibem a conversão da AngI em AngII, o que reduz a PA e aumenta a natriurese. Inibindo a ECA, inibe-se também a degradação da bradicinina, aumentando seus níveis, o que tem benéficos efeitos anti-hipertensivos e protetores. Os IECA aumentam a liberação de renina e a taxa de formação de AngI, interferindo nas retroalimentações negativas na liberação de renina. A AngI acumulada é desviada para as vias metabólicas alternativas, resultando na produção aumentada de peptídeos vasodilatadores, como Ang(1-9) e Ang(1-7). Com a exceção do fosinopril, do trandolapril e do quinapril (que possuem eliminação hepática e renal equilibrada), os IECA são depurados predominantemente pelos rins. O comprometimento da função renal diminuiu significativamente a depuração plasmática da maioria dos IECA, devendo- se reduzir a dose desses fármacos em pacientes com comprometimento renal. Os IECA são efetivos no tratamento da hipertensão, da disfunção sistólica ventricular esquerda, do infarto agudo do miocárdio, da insuficiência renal crônica e em pacientes com alto risco de eventos cardiovasculares. Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé Em geral, esses fármacos são tolerados de modo satisfatório. Entretanto, pode ocorrer hipotensão após a primeira dose de um IECA em indivíduos com ARP elevada; tosse seca mediada pelo acúmulo de bradicinina, substância P ou prostaglandina nos pulmões; hiperpotassemia em pacientes com insuficiência renal ou diabetes; insuficiência renal aguda; e angioedema. Além disso, os IECA têm potencial fetopático, sendo associados a defeitos no desenvolvimento renal quando administrados durante a gravidez. Exemplos de IECA: captopril, enalapril, enalaprilate, lisinopril e quinalapril. Bloqueadores dos receptores de angiotensina II Esses bloqueadores se ligam ao receptor AT1 com alta afinidade, inibindo a maioria dos efeitos biológicos da AngII, como: Contração do músculo liso vascular; Respostas pressoras rápidas; Respostas pressoras lentas; Sede; Liberação de vasopressina; Secreção de aldosterona; Liberação de catecolaminas suprarrenais; Aumento da neurotransmissão noradrenérgica; Aumento do tônus simpático; Alterações da função renal; Hipertrofia e hiperplasia celulares. Diferenças entre BRA e IECA Tanto os BRA quanto os IECA têm a capacidade de bloquear o SRA, porém eles diferem em vários aspectos importantes: Os BRA reduzem a ativação dos receptores AT 1 com mais eficácia do que os IECA. Como os BRA bloqueiam esse receptor, as ações da AngII por meio desses receptores são inibidas; Em contraste com os IECA, os BRA permitem a ativação dos receptores AT2. Os IECA aumentam a liberação de renina, mas bloqueiam a conversão da AngI em AngII. Os BRA também estimulam a liberação de renina, porém, esse efeito provoca um aumento nos níveis circulantes de AngII. Como os BRA bloqueiam os receptores AT1, os níveis aumentados de AngII estão disponíveis para ativar os receptores AT2; Os IECA e os BRA aumentam os níveis de Ang(1-7) por diferentes mecanismos; Os IECA aumentam os níveis de vários substratos da ECA, incluindo bradicinina. Todos os BRA são aprovados para o tratamento da hipertensão. Além disso, alguns são indicados para nefropatia diabética, profilaxia de derrame e redução da mortalidade em pacientes com disfunção ventricular. Em geral, os BRA são bem tolerados. A incidência de angioedema e tosse com o seu uso é menor do que a observada com IECA. Como ocorrem com os IECA, os BRA têm potencial teratogênico e devem ser interrompidos durante a gravidez. Exemplos de BRA: eprosartana, irbesartana, losartana, olmesartana e valsartana. Inibidores diretos da renina O angiotensinogênio é o único substrato específico da renina. Os IDR inibem a clivagem da AngI a partir do angiotensinogênio pela renina. O alisquireno é o único IDR aprovado para uso clínico. O alisquireno se liga ao local ativo da renina para bloquear a conversão do angiotensinogênio em AngI, reduzindo, assim, a produção de AngII. Ele também reduz os níveis plasmáticos e urinários da aldosterona e potencializa a natriurese. O alisquireno é bem tolerado e os efeitos adversos são suaves. Os efeitos adversos incluem cefaleia, nasofaringite, tontura, fadiga, infecção das vias respiratórias superiores, dor lombar, angioedema, tosse e sintomas GI leves, como diarreia com altas doses. Além disso, o alisquireno reduz em 50% a absorção da furosemida.
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