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1 PUERPÉRIO FISIOLÓGICO, AMAMENTAÇÃO E PUERPÉRIO PATOLÓGICO Puerpério fisiológico O que é? É o período pós-parto, envolvendo os processos involutivos e de recuperação do organismo materno. Subdivisão temporal: Puerpério imediato: 1º ao 10º dia de pós-parto; Puerpério tardio: 10º ao 45º dia de pós-parto; Puerpério remoto: depois do 45º dia e pode durar até o 12º mês. Teremos mais contato com o puerpério imediato e tardio, tendo em vista que no período remoto, no geral, a paciente já recebeu alta. Na maioria dos casos, vamos pedir para que a paciente volte para consulta no 15º dia e no 45º dia, que é quando damos a alta do puerpério. Importância fisiológica: Esse período apresenta grande relevância dos processos de involução e reestabelecimento da mulher ao estado pré-gravídico sob o ponto de vista fisiológico, é um período fisiológico, porém, de intensas mudanças para a mulher. Importância psicossocial: Devemos lembrar que o puerpério é um período de luto. Lembrando das aulas sobre parto, o momento que no bebê nasce, aquela mulher precisa “morrer”, para que nasça uma mãe. O puerpério é o primeiro choque de realidade, onde a mulher percebe que não é mais quem era antes. Somado à isso, é um momento em que existe uma imensa demanda física e emocional da paciente, em que além da dependência da criança (amamentação, privação de sono), existe uma pressão social para que ela esteja sempre feliz, arrumada, de bom humor. Por isso, ter uma rede de apoio é muito importante nesse momento. “Parir é foda, criar é foda ao quadrado, puerpério é foda a quinta potência” 2 Fisiologia do puerpério: ✓ Pós-parto imediato: ocorre a crise genital: é o maior momento de involução de alguns órgãos (principalmente uterina), tem uma queda abrupta dos hormônios da gestação, a libertação do concepto do claustro materno, saída da placenta, “limpeza” de toda a cavidade. ✓ Pós-parto tardio: transição e recuperação genital: ocorre uma diminuição de velocidade de involução, o corpo vai, aos poucos, se recuperando e se preparando para uma nova gestação. Ou seja, primeiro temos um grande colapso fisiológico, onde tudo acontece muito rápido e depois essa velocidade vai diminuindo e o corpo vai voltando ao seu estado pré-gravídico. OBS: Esses períodos sofrem influência da amamentação. Fisiologicamente, vários sistemas são “afetados” durante esse período, passando por transformações específicas dentro de cada um, sendo eles: ➢ Sistema reprodutor: ☆ Globo de segurança de Pinard: responsável pelas ligaduras vivas de Pinard, ou seja, depois da expulsão do feto e da placenta, ocorre uma retração e contração uterina, com isso, ocorre uma obliteração vascular e trombose (na tentativa de parar sangramento). A gestação e o puerpério são períodos trombogênicos. ☆ Reflexo útero-mamário ou reflexo de Ferguson: quando o bebê vai ao peito, estimula a liberação de ocitocina (importante para ejeção do leite), porém, o hormônio também gera uma contração uterina, por isso, algumas mulheres referem cólicas quando estão amamentando. ☆ Remodelamento dos vasos pélvicos: pode causar um edema pós-parto Desaparecimento súbito dos hormônios placentários (importante na crise genital) ☆ Retorno dos catamênios (ciclo menstrual): ocorre no período de puerpério remoto. ☆ Útero: ‧Imediatamente após o parto o fundo uterino se encontra próximo à cicatriz umbilical e vai estar muito contraído, duro. ‧Cerca de 12 horas após o parto, vai se encontrar a aproximadamente 12 cm do púbis. ‧Já no 10º dia após o parto, o útero já está intrapélvico. Essas informações são importantes para saber o que esperar na hora de avaliar uma paciente, para analisar os padrões de normalidade ou não. ☆ Colo uterino: ‧12 horas após o parto: ainda pode ter de 3 a 4 cm de dilatação. IMPORTANTE: devemos fazer o toque na paciente pós-parto? Depende!! No geral, não. Porém, se foi uma paciente em que realizei alguma sutura devido à lesões perineais, preciso fazer o toque para garantir que está tudo certo. Outro caso em que é recomendado fazer é quando a paciente foi assistida por outro profissional, pois devemos conferir se nenhum material foi esquecido na mulher, como por exemplo, um chumaço de gaze. ‧9º ao 10º dia: orifício interno fechado e o externo com 1 polpa digital. 3 ➢ Lóquios: Eliminação dos elementos deciduais, células epiteliais descamadas do bebê, do útero, além de eritrócitos e bactérias. Esses lóquios vão ter diferentes aspectos no decorrer do tempo, sendo: ☆ Sanguinolentos/ Lochia rubra ou cruenta: até o 3º ou 4º dia; ☆ Serosanguinolento/ Lochia fusca: vai se tornando mais acastanhado; ☆ Serosos/ Lochia Flava ☆ Redução do conteúdo líquido com aumento de leucócitos/ Lochia Alba: 10º dia até 4 a 8 semanas. ➢ Sistema endócrino: ☆ Queda dos esteroides placentários (estrogênio e progesterona) e dos níveis de prolactina (leve queda); ☆ Hcg (hormônio da gonadotrofina coriônica) retorna a níveis fisiológicos em 4 a 6 semanas e depende da amamentação, mulheres que amamentam retornam mais rápido. ➢ Sistema sanguíneo: ☆ Pode haver leucocitose acentuada: até 30.000, com normalização para níveis gravídicos em 5 a 6 dias (20.000- 25.000). Isso acontece pois o parto é um momento de estresse fisiológico (não tem desvio) ☆ Hemoglobina retorna a níveis pré-gravídicos em 6 semanas pós-parto. É importante manter o uso do suplemento vitamínico. ☆ Hipercoagulação por 5 a 7 semanas, por isso, pacientes que fazem profilaxia de eventos tromboembólicos na gestação devem manter essa profilaxia por 5 a 7 semanas. Já as gestantes que tiveram algum evento tromboembólico, vamos manter por até 6 meses pós-parto, pois não é mais profilaxia e sim tratamento. ➢ Sistema urinário: ☆ Pacientes que possuem fatores de risco para disfunção vesical, como por exemplo perda urinária, algum grau de frouxidão do períneo, devem ser acompanhadas de perto durante o puerpério. ☆ Ureteres e pelve renal: retornam à sua situação pré gravídica em 2 a 8 semanas (durante a gestação sofrem uma dilatação fisiológica). ➢ Sistema cardiovascular: ☆ Eliminação de líquidos: durante a gestação, a mulher pode acumular até 6L de líquido; ☆ Frequência e débito cardíaco começam a diminuir cerca de 24 a 48 horas depois do parto e podem levar até 10 dias para alcançar a normalidade; ☆ Resistência vascular (que era diminuída na gestação): volta à normalidade em até 48 horas depois do parto. ➢ Peso: ☆ Imediatamente: aproximadamente 6kg ☆ Perda adicional: depois pode haver perda de 2 a 7 kg, retornando ao peso pré-gravídico. 4 ENTÃO O QUE FAZER? • Apoiar; • Encorajar; • Orientar; • Oferecer rede de apoio: uma mulher no puerpério deveria exclusivamente amamentar e, todo o resto, alguém deveria fazer por ela. OBS: ganho de peso normal na gestação: 8 a 12 kg Assistência pós-natal: ☆ Primeira hora pós-parto: é a hora critica no quesito sangramento, mas também é a hora crítica de conexão entre mãe e bebê, dessa forma, se estiver tudo bem com ausência de sangramento anormal, devemos deixar o bebê e a mãe juntos, estimular a amamentação nessa primeira hora. ☆ Higiene: se o parto for vaginal é muito importante ressaltar a lavagem com água e sabão, principalmente depois de urinar ou evacuar (deve evitar o uso de papel higiênico). Lembrar que esse a lavagem não prejudica os pontos, não fazem caí-los antes da hora e ainda ajudam a prevenir infecções. No parto cesárea, além de lavar com água e sabão, deve secar bem a cicatriz e passar álcool 70%. ☆ Medicações e medidas de suporte: analgesia para dor perineal ou anal, anti-inflamatórios. Lembrando que devemos dar preferência ao Paracetamol, pois Dipirona é contraindicado na amamentação. ☆ Deambulação precoce: devemos estimular que a paciente ande para evitar trombose; ☆ Temperatura: para avaliar risco deinfecção; ☆ Involução uterina; ☆ Função vesical: se está urinando bem, quantidade, incomodo; ☆ Vida sexual: se a mulher não tiver lesão perineal, pode voltar à vida sexual a hora que quiser, sempre lembrando que a decisão deve ser tomada por elas e não por seus maridos ou companheiros. ☆ Alta: avaliar necessidade de toque, receitar medicações para casa; ☆ Revisão: 7-15 dias para retirar os pontos da cesárea e em 6 semanas para orientação a cerca de anticoncepção (a literatura diz que até 6 semanas não precisa fazer anticoncepção e, depois desse período, não devem usar estrogênio devido à amamentação e ao maior risco tromboembólico). 5 Amamentação Cuidados com as mamas/amamentação: Existem algumas dúvidas muito comuns sobre esse tema, vamos falar sobre algumas delas agora... 1) Devemos lavar as mamas antes das mamadas? Não 2) Oferecer as 2 mamas em todas as mamadas? Não. 3) Intercalar a mama do inicio da mamada? Não. 4) Esvaziar um mama por completo para depois passar para a outra mama devido ao leite anterior, mais rico em água, e leite posterior, mais rico em gorduras e normalmente ocorre no final da mamada? Não. A secreção do leite anterior e posterior não é matemática, durante a amamentação os dois leites podem sair concomitantemente. Não existe isso que um sai no inicio e outro no final da mamada. Depende de fatores como a sucção do bebê, psicológico da paciente, entre outros. 5) É preciso expor a mama ao sol? Não, além disso, não precisamos usar bucha de banho, nem toalha de banho, manobras de Hoffman não são indicadas. 6) É importante usar a concha mamária? Não, ela esquenta e umidifica a região, aumentando a chance de infecção no local. 7) É importante o uso de intermediário de silicone? Pode ser uma alternativa para mamas que estão muito machucadas, porém, deve ser feito com data para colocar e para retirar, como forma de resguardar aquela amamentação. 8) O que aplicar nas mamas? Passar o próprio leite é uma boa alternativa para hidratar aquela mama e em alguns casos podemos recorrer à medicações. 9) É importante o uso de sutiã? Não. Inclusive devemos tomar cuidado com aqueles que possuem uma haste de metal ou silicone mais duro, pois eles podem dobrar a mama e dificultar a saída do leite. 10) Devemos amamentar de 3 em 3 horas? Não. A amamentação é feita por livre demanda, o bebê não vai ao peito só quando tem fome, ele também vai porque precisa vivenciar a exterogestação (a criança demora aproximadamente 1 mês para entender que já saiu do útero, por isso precisa de colo e aconchego). 11) Pega e posição: as vezes pode até ter influência, mas tem muita coisa além. 12) Sucção nutritiva X sucção não nutritiva: na nutritiva você consegue ouvir a deglutição, já a não nutritiva é quando ele só quer sugar; 13) Apojadura das mamas: é a descida do leite, ocorre até o terceiro dia pós-parto. Quando acontece, devemos orienta a mãe a esvaziar a mama e fazer compressas frias (ajudam a diminuir um pouco a produção). Importante lembrar que as compressas não podem ser geladas, pois pode acontecer um efeito rebote, depois que a mama esquentar vai voltar a produzir muito. OBS: alguns consultores de amamentação indicam o uso de folha de repolho, ela tem o formato de uma concha, cortamos o espaço para o mamilo e leva ao congelador. Um tempo depois colocamos sobre a mama, dura cerca de 20 a 30 segundos, podemos usar 3 folhas após o esvaziamento na apojadura. Patologias da lactação: ☆ Hipogalactia: é uma diminuição da produção de leite, que pode ser primária (hipogenesia mamaria, ou seja, pouco tecido mamário; questão hormonal da mulher) ou secundária (mulheres que fizeram reduação mamária, obstrução de ductos). ☆ Ingurgitamento mamário: todo leite que fica parado na mama sofre um processo de transformação que faz com que ele fique mais viscoso e passa a ter uma dificuldade de drenagem, formando um ciclo vicioso. É aquela mama grande, endurecida e avermelhada. Pode ter uma febre mais expressiva. 6 Importante: o que marca a diferença entre o ingurgitamento e a apojadura é que na apojadura o leite mamário flui, já no ingurgitamento existe uma intensa dificuldade para retirá-lo. ☆ Bloqueio de ducto: os ácinos e alvéolos mamários vão se confluir em ductos e depois em um único ducto que vai sair no mamilo, se eu tenho algum processo mecânico que bloqueie esses caminhos, ocorre uma reação local, ficando mais endurecido e avermelhado. ☆ Fissuras mamilares: muito relacionada à pega e a posição do bebê, por isso, precisamos rever essas posições, procurar alguma alteração anatômica na cavidade oral. ☆ Mastite: muitas vezes decorrente do ingurgitamento não tratado. O leite fica muito tempo parado ali, sendo um importante meio para proliferação de bactérias, gerando infecção. Resultando em uma mama quente, vermelha, dolorosa, pode apresentar aspecto de casca de laranja e sinais de infecção (febre alta, astenia). ☆ Abscesso mamário: quando a mastite não é tratada de forma adequada pode evoluir para abscesso, que muitas vezes são cirúrgicos e precisam ser drenados, dificultando o processo de amamentação. OBS: posso colocar o bebê para mamar na mama com mastite? Sim. A sucção do bebê é a melhor bomba de esvaziamento mamário. No abscesso também podemos colocar a criança para mamar. Bloqueio de ducto (lembra a mastite, porém só em uma área da mama). Fissuras mamárias Mastite Abscesso Mastite com uma área de fissura mamilar 7 Caso clínico: No dia seguinte, ao olhar as mamas, ainda não apresentava nenhum sinal flogístico. Nesses casos, devemos trabalhar com interdisciplinaridade. A consultora de amamentação sugeriu que talvez a prótese estivesse encapsulada. Foi pedido uma ultrassonografia de mama, que apresentou o seguinte laudo: Na mama direita foi evidenciada uma área complexa cístico sólida, sugestiva de abscesso corelacionada com mastite próximo à prótese, com isso, o indicado seria abrir a mama e retirar a prótese. Durante a cirurgia, foram tiradas fotos (autorizadas pela paciente), sendo elas: 8 Na primeira foto, notamos a diferença de tamanho entre as mamas, foi possível retirar 500 ml de líquido da mama dessa paciente, além da retirada da prótese. O liquido foi encaminhado para avaliação da histologia, citologia e cultura (não apresentou nada) e os outros ainda aguardamos resultados. Mama com dreno logo após a cirurgia. Nessa parte da aula o professor mostrou um vídeo de como a drenagem da mama aumentou e melhorou após a cirurgia, o leite saia com muita facilidade. Então, o que possivelmente aconteceu ali é que todo o liquido presente na mama estava pressionando os ductos e impedindo a passagem do leite, além das lesões anteriormente citadas. Relatos de mulheres incríveis: 1) 9 2) 3) A paciente Bianca teve um parto muito complicado, tinha dificuldade na aceitação, problemas financeiros, queria muito um parto vaginal e teve descolamento prévio de placenta. O bebê nasceu bem naquele momento, porém, fez uma sondrome de aspiração meconial e foi para UTI neonatal, a criança ficou em estado gravíssimo, a ponto da equipe chamar a família por pensar que ele não sobreviveria, mas não desacreditaram em sua recuperação. Segue o relato dessa mãe: 10 Palavras do professor: “Hoje eu vou a todas as festas de aniversário do Benjami, e choro em todas elas, porque ele quase morreu.” 4) Puerpério patológico Infecção puerperal: ➢ Fatores de risco: ☆ Cesariana: é o principal ☆ Amniorrexe prolongada: quando rompe a bolsa ☆ Trabalho de parto prolongado: colo aberto por muito tempo ☆ Exames pélvicos excessivos; ☆ Debilidade imunológica; ☆ Desnutrição; ☆ Obesidade; ☆ Trauma cirúrgico; 11 ☆ Retenção de restos placentários;☆ Baixo nível sócio-econômico-cultural. Prevenção: ☆ Na cesárea: antibioticoterapia profilática ☆ Reduz a infecção puerperal em 2/3 ☆ Dose única de cefalosporina 1ª geração ☆ Ideal é fazer até 30 minutos antes da incisão Etiopatogenia da infecção puerperal: ☆ É polimicrobiana (por isso não adianta usar antibiótico de baixo espectro) Quadro clínico: ✓ Geral: febre, mal estar geral e pode haver leucocitose. ✓ Relembrando: nem toda leucocitose sem desvio é infecção, pode ser fisiológico, temos que ver o quadro todo. ☆ Períneo: vulvovaginites: dor perineal, secreção vaginal; ☆ Infecção da episiotomia/laceração: são alterações mais específicas daquele local, podem ser dividas em: simples, infecção da fascia, necrose fascial, mionecrose (não vamos entrar nesses detalhes); ☆ Endometrites: infecção do endométrio; ☆ Parametrites: infecção dos paramétrios; ☆ Anexite: infecção dos anexos do útero (tuba, ovário); ☆ Peritonite; ☆ Tromboflebite pélvica: pequenos êmbolos infectados, causando embolites pélvicas infectadas. Devemos suspeitar em casos de dor pélvica e febre que não melhoram com 24-48 horas de antibiótico. E nesses casos, devemos associar anticoagulação para essas pacientes. ☆ Choque séptico. Tratamento: No geral, devemos internar essas mulheres para fazer o uso de antibióticos de largo espectro. Em infecções simples e locais (infecção da laceração) podemos fazer tratamento oral e em casa. Geralmente o tratamento dura de 7 a 14 dias, dependendo do grau de infecção. ☆ Dúvida: considera infecção puerperal até quantos dias pós-parto? Até 45 dias pós-parto.
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