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História do Direito Penal

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História do Direito Penal
segunda-feira, 8 de março de 2010
 
Tópicos do Dia:
Direito Penal Pré-Humanista
Direito Penal Pós-Humanista
 
DIREITO PENAL PRÉ-HUMANISTA
 
Sanções primitivas: Nas sociedades primitivas, os fenômenos naturais maléficos eram recebidos como manifestações divinas contra a prática de atos, que exigiam reparação. Assim, punia-se o infrator para desagravar a entidade. O castigo aplicável consistia no sacrifício da própria vida do infrator. Assim, a pena, em sua origem distante, representa o simples revide à agressão sofrida pela coletividade, absolutamente desproporcional, sem preocupação com qualquer conteúdo de Justiça; eram cruéis, aplicadas por sacerdotes. Essa fase é denominada de fase da vingança divina, destacando-se como legislação típica dessa era o Código de Manu.
 
Com a evolução social, e para evitar a dizimação das comunidades, surge lei de talião, determinando a reação proporcional ao mal praticado: olho por olho, dente por dente. Essa foi a primeira tentativa de humanização da sanção criminal, adotada no Código de Hamurabi (Babilônia), dentre outros. Esse sistema, mais tarde, evoluiu para a composição , através do qual o infrator comprava a sua liberdade, livrando-se do castigo. Era o antecedente da moderna reparação do Direito Civil e das penas pecuniárias do Direito Penal.
 
Com a melhor organização social, o Estado afastou a vindita privada (vingança privada, princípio pelo qual o infrator é punido por sua própria vítima), assumindo o poder-dever de manter a ordem e a segurança social, surgindo a vingança pública, que, em seus primórdios, manteve absoluta a identidade entre poder divino e poder político. A primeira finalidade reconhecida desta fase era a proteção do soberano, mantendo-se as penas cruéis.
 
Direito Penal Romano: no período de fundação de Roma (753 aC.), a pena era utilizada com caráter sacral, confundindo-se a figura do Rei e do Sacerdote, que dispunham de poderes ilimitados, numa verdadeira simbiose de Direito e religião. Prevalecia o direito consuetudinário, formal e rígido. Ainda nos tempos de realeza surge a distinção entre crimes públicos e crimes privados, punidos pelo ius publicum e ius civile, respectivamente. Os primeiros eram constituídos por crimes contra o Estado (como a traição, a conspiração - perduellio - e o assassinato - delicta); os segundos eram ofensas ao indivíduo, como o furto, o dano e a injúria. Nessa época, o julgamento dos crimes privados era conferido ao próprio indivíduo ofendido, interferindo o Estado somente para regular o seu exercício. Já o julgamento dos crimes públicos era atribuição do Estado, através dos magistrados.
 
A Lei das XII Tábuas foi o primeiro código romano escrito, iniciando o período dos diplomas legais, impondo-se a limitação à vingança privada, adotando a lei de talião, além de admitir a composição. O núcleo do Direito Penal Romano aparece, entretanto, no conjunto de leis publicadas ao fim da República (80 aC.), com as leges Corneliae (crimes praticados nas relações interpessoais dos cidadãos) e as leges Juliae (crimes praticados contra o Estado), criando uma verdadeira tipologia de crimes. O fundamento da pena era essencialmente retributivo, embora, no período final, comece a viger o princípio da reserva legal, exigindo que s fatos incriminados e as sanções correspondentes estivessem previamente catalogados.
 
Pouco antes da Era Cristã, a vingança privada desaparece, tornando-se o Estado o único possessor do ius puniendi. A pena de morte ressurge com grande força no século II, com o aparecimento dos crimes extraordinários, tais como furto qualificado, estelionato, extorsão e crimes religiosos. A prisão, na Antiguidade, era conhecida apenas como prisão-custódia, onde os condenados aguardavam a execução da pena propriamente dita. Nessa época, os romanos já dominavam institutos como o dolo e a culpa, agravantes e atenuantes na medição da pena, o caso fortuito, a inimputabilidade, a menoridade, o concurso de pessoas, dentre outros. Os romanos distinguiam, dessa forma, entre crimina publica, delicta privata e delicta extraordinaria.
 
Direito Penal Germânico: o Direito Germânico primitivo era composto por normas consuetudinárias. Era concebido como a ordem da paz, sendo a sua transgressão a ruptura da paz, de natureza pública ou privada. A reação à perda da paz, por crime público, autorizava qualquer pessoa a matar o transgressor. No caso de crime privado, o transgressor era entregue à vítima e sua família para que estes exercessem o direito de vingança, que se tornava um verdadeiro dever; criava-se, portanto, uma guerra familiar.
 
Mais tarde, desenvolveu-se a compositio, que consistia no dever de compensar o prejuízo sofrido com uma certa importância em pecunia, objetivando a supressão da vingança privada. As leis bárbaras do século VI definiram detalhadamente a forma de pagamento das tarifas, parte das quais seria dada à vítima, parte das quais seria dada ao monarca (o preço da paz). Somente mais tarde foi adotada a lei de talião. O Direito Germânico tinha uma apreciação meramente objetiva do comportamento humano (responsabilidade objetiva), de acordo com a qual o que importa é o resultado causado, sem questionar se resultou de culpa ou dolo: o fato julga o homem.
 
Direito Penal Canônico: o Direito Canônico é formado pelo Corpus Iuris Canonici, que resultou de diversos decretos de Pontífices Romanos; o atual Código de Direito Canônico foi promulgado por João Paulo II em 1983.O Direito Canônico contribuiu consideravelmente para o surgimento da prisão moderna, especialmente no que se refere às primeiras ideias sobre a reforma do delinquente. Essa influência veio completar-se com o predomínio que os conceitos teológico-morais tiveram, até o século XVIII, no Direito Penal, já que se considerava que o crime era um pecado contra as leis humanas e divinas. Diz-se que a influência do Direito Canônico principiou as ideias de fraternidade, redenção e caridade da prisão moderna, bem como a individualização da pena conforme o caráter e temperamento do réu. Distinguia, também, entre poena medicionalis (destinada a melhorar a pessoa) e poena vindicativa (pena expiatória que castiga a transgressão de forma não mediata).
 
PERÍODO HUMANITÁRIO
 
No século XVIII, com a Revolução Francesa, começam a remover-se as velhas concepções arbitrárias: os filósofos, moralistas e juristas dedicam suas obras a censurar abertamente a legislação penal vigente, defendendo as liberdades do indivíduo e enaltecendo os princípios da dignidade do homem. As correntes iluministas e humanista realizam uma severa crítica dos excessos imperantes na legislação penal, propondo que o fim do estabelecimento das penas não deve consistir em atormentar a um ser sensível. A pena deve ser proporcional ao crime, levando-se em consideração, quando imposta, as circunstâncias pessoais do delinquente, seu grau de malícia e, sobretudo, produzir a impressão de ser eficaz sobre o espírito dos homens, sendo, ao mesmo tempo, a menos cruel para o corpo do delinquente.
 
Cesare de Beccaria: Beccaria publica em 1764 o seu famoso Dei Delitti e delle Pene, inspirado nas ideias iluministas e liberais. Os seus postulados marcam o início definitivo do Direito Penal moderno e das Escolas Clássicas de Criminologia e de Direito Penal. Alguns chegam a considerar Beccaria como um antecedente mediato dos delineamentos da Defesa Social, ao recomendar que "é melhor prevenir o crime do que castigar".
 
Beccaria foi influenciado pelo contratualismo e pelo utilitarismo. Seu grande mérito foi, através de sua eloquência e clareza, estimular os práticos do Direito a reclamar dos legisladores uma reforma urgente. Beccaria constrói um sistema criminal que substituirá o desumano, impreciso, confuso e abusivo sistema criminal anterior. Sob sua perspectiva contratualista e de igualdade absoluta entre os homens, nunca se questionava a imposição da pena, os alcances do livre-arbítrio, ou oproblema das relações que podia refletir uma determinada estrutura jurídica. Através do seu utilitarismo, concebia a pena como um exemplo para o futuro, e não uma vingança pelo passado. Defendia a proporcionalidade da pena e a sua humanização. O objetivo preventivo geral, segundo Beccaria, não precisava ser obtido através do terror, mas com a eficácia e certeza da punição. Nunca admitiu a vingança como fundamento do ius puniendi. Enfatizava, também, os princípios reabilitadores e ressocializadores da pena. Suas ideias, em seus aspectos fundamentais, não perderam vigência, tanto sob o aspecto jurídico como criminológico.
 
 
Princípio da Legalidade
segunda-feira, 22 de março de 2010
 
Tópicos do Dia:
Princípio da Legalidade
Sessão Especial de Justiça
 
Os princípios são garantias constitucionais do cidadão perante o poder punitivo estatal (ius puniendi), que controlam a intervenção estatal nas liberdades individuais, atuando como limites, no Estado Democrático de Direito. Embasam-se, hoje, no Direito Penal da culpabilidade, mínimo e garantista.
 
PRICÍPIO DA LEGALIDADE
Nul homme ne peut être accusé, arrêté, ni détenu que dans les cas déterminés par la Loi, et selon les formes qu’elle a prescrites. Ceux qui sollicitent, expédient, exécutent ou font exécuter des ordres arbitraires, doivent être punis ; mais tout Citoyen appelé ou saisi en vertu de la Loi doit obéir à l’instant : il se rend coupable par la résistance.
 - Article VII, Déclaration des Droits de l'homme et du Citoyen.
O princípio da legalidade pode ser sintetizado através da fórmula latina nullum crimen, nulla poena sine lege. Pode-se assumir que a elaboração de normas incriminadoras é função exclusiva da lei, que deve definir a conduta proibida com precisão e de forma cristalina.
 
Expressões vagas, equívocas e ambíguas são inadmissíveis em termos de sanções criminais. Isso permitiria uma ampla gama de interpretações pelo juiz, criando violações à segurança jurídica e implantando-se a arbitrariedade penal. É necessária a tipicidade penal, isto é, a expressão clara do crime no texto da lei. Isso estende-se, também para as consequências jurídicas, como a pena e a medida de segurança. 
 
As leis penais são irretroativas, isto é, ela não alcança fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor ou após a cessação de sua vigência (tempus regit actum). Admite-se, entretanto, a retroatividade da lei benigna, isto é, a lei nova que for mais favorável ao réu sempre retroage. Algumas leis temporárias ou excepcionais podem ser, entretanto, ultra-ativas.
 
 
Exemplo de aplicação prática: a Lei 11.343, artigo 28, prevê pena para "quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar"; assim, que somente utiliza a droga não comete infração alguma. Dessa forma, não pode haver incriminação.
No free man shall be seized or imprisoned, or stripped of his rights or possessions, or outlawed or exiled, or deprived of his standing in any other way, nor will we proceed with force against him, or send others to do so, except by the lawful judgement of his equals or by the law of the land. 
- Article XXXIX, Magna Carta.
Não há crime sem lei anterior que o defina,nem pena sem prévia cominação legal.
 - Art. 5, Inciso XXXIX, Constituição do Brasil ; Art. 1, Código Penal
 
 
Princípio da Insignificância
segunda-feira, 29 de março de 2010
 
Tópicos do Dia:
Tipicidade, Ilicitude
Princípio da Insignificância
 
TIPICIDADE E ILICITUDE
 
Tipicidade: engloba o elemento objetivo (subsunção da conduta humana à descrição de um crime na norma penal), os elementos subjetivos (por exemplo, uma determinada intenção especial do agente) e também o dolo ou a culpa. O dolo existe quando o agente quis ou assumiu o risco de produzir o resultado delituoso, e a culpa ocorre quando o agente não tinha intenção de cometer o crime, mas deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
 
Antijuridicidade: também chamada de ilicitude, é concebida em seus aspectos formais e materiais. Formalmente, representa a contrariedade entre a ação e o ordenamento jurídico. Uma conduta é ilícita por violar uma norma jurídica. Para verificar a ilicitude formal, deve-se observar se a conduta desobedece à lei e se ela não está justificada por alguma das causas de exclusão de ilicitude, como é a legítima defesa. A antijuridicidade material seria uma efetiva lesão ao bem jurídico protegido. No ensinamento de Magalhães Noronha, esta dá conteúdo à antijuridicidade formal, na medida em que orienta o legislador em consagrar na norma os bens jurídicos exigidos pela vida coletiva.
 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
 
A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente para configurar o injusto típico. Segundo esse princípio (princípio de bagatela), é imperativa uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se pretende punir e a drasticidade da intervenção estatal. Por vezes, condutas que se amoldam a determinado tipo penal, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma relevância material. Nessas circunstâncias, pode-se afastar liminarmente a tipicidade penal porque em verdade o bem jurídico não chegou a ser lesado.
 
A seleção dos bens jurídicos tuteláveis pelo Direito Penal e os critérios a serem utilizados nessa seleção constituem função do Poder Legislativo, sendo vedada aos intérpretes e aplicadores do direito essa função. O fato de determinada conduta tipificar uma infração penal de menor potencial ofensivo (artigo 98, inciso I, da Constituição Federal), não quer dizer que tal conduta configure, por si só, o princípio da insignificância. Os delitos de lesão corporal leve, por exemplo, já sofreram a valoração do legislador, que determinou as consequências jurídico-penais de sua violação. Assim, a insignificância de determinada conduta deve ser aferida não apenas em relação à importância do bem juridicamente atingido, mas especialmente em relação ao grau de sua intensidade, isto é, pela extensão da lesão produzida.
 
Portanto, a insignificância da ofensa afasta a tipicidade. Mas essa insignificância só pode ser valorada através da consideração global da ordem jurídica.
 
CF, art. 98, I. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.
 
 
Lei Penal no Tempo
segunda-feira, 5 de abril de 2010
 
Tópicos do Dia:
Conflito de leis penais no tempo
 
PRINCÍPIOS DA LEI PENAL NO TEMPO
 
Irretroatividade da lei penal: entre a entrada em vigor e a cessação de vigência de uma norma situa-se a sua eficácia. Assim, ela não alcança os fatos ocorridos antes ou depois dos limites extremos: ela não retroage nem tem ultra-atividade. É o princípio tempus regit actum. Em outros termos, a lei aplicável à repressão da prática do crime é a lei vigente ao tempo de sua execução. Essa é uma garantia de segurança jurídica, segundo a qual as normas que regulam as infrações penais não podem modificar-se após as suas exceções em prejuízo do cidadão. Ademais, o princípio da irretroatividade da lei penal também protege o indivíduo contra o próprio legislador, impedindo-o de criminalizar novas condutas, já praticadas por aquele que, desconhecendo tal circunstância, não tem como nem por que evitá-la. Tal princípio é relacionado ao princípio da anterioridade da lei penal, segundo o qual uma lei penal incriminadora somente podeser aplicada a determinado fato concreto caso estivesse em vigor antes de sua prática (nullum crimen, nulla poena sine praevia lege).
 
Retroatividade da lei mais benigna: uma lei anterior, quando mais favorável ao infrator, terá ultra-atividade e prevalecerá mesmo ao tempo de vigência da lei nova, apesar de já estar revogada. O inverso também é verdadeiro, isto é, quando a lei posterior for mais benéfica, retroagirá para alcançar fatos cometidos antes de sua vigência. Tal princípio está exposto na Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XL. Assim, o princípio da irretroatividade vige somente em relação à lei mais severa. Tal extra-atividade aplica-se nas hipóteses de reconhecimento de causas extintivas da punibilidade, tipificação de novas condutas, cominação de penas, alteração de regimes de cumprimento de penas, dentre outros. Toda lei pena que, de alguma forma, represente um gravame aos direitos de liberdade caracteriza lei penal mais grave. 
CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO
 
Com base, então, nos princípios citados, as hipóteses de choques entre a lei nova e a anterior são as seguintes:
 
Abolitio criminis: quando a lei nova deixa de considerar crime fato anteriormente tipificado como ilícito penal. Nessa hipótese, partindo da presunção de que a nova lei é a mais adequada, e de que o Estado não tem mais interesse na punição dos autores de tais condutas, aquela retroage para afastar as consequências jurídico-penais a que estariam sujeitos os autores. A abolitio criminis configura uma situação de lei penal posterior que deve atingir, inclusive, fatos definitivamente julgados, mesmo em fase de execução. Ela faz desaparecer todos os efeitos penais, permanecendo os civis. Se o condenado já tiver cumprido a pena, inclusive, terá sua folha de antecedentes inteiramente corrigida, para dela afastar a condenação que existiu, por fato que não é mais crime.
 
Novatio legis incriminadora: esta, ao contrário da abolitio criminis, considera crime fato anteriormente não incriminado. Ela é irretroativa e não pode ser aplicada a fatos praticados antes de sua vigência, segundo o nullum crimen sine praevia lege (CF, art. 5º, XXXIX, e CP, art. 1º).
 
Novatio legis in pejus: lei posterior que de qualquer modo agravar a situação da sujeito não retroagirá (CF, art. 5º, XL). Se houver um conflito entre duas leis, aplicar-se-á a mais benigna; a lei menos favorável denomina-se lex gravior, e, como tal, não pode ser aplicada a fatos ocorridos antes de sua vigência.
 
Novatio legis in mellius: pode ocorrer que a lei nova, mesmo sem descriminalizar, dê tratamento mais favorável ao sujeito. Mesmo que a sentença condenatória encontre-se em fase de execução, prevalece a lex mitior que, de qualquer modo, favorece o agente (CP, art. 2º). O dispositivo deixa claro que a retroatividade é incondicional. Tal previsão não fere o principio constitucional que preserva a coisa julgada (CF, art. 5º, XXXV.), pois essa normal constitucional protege as garantias individuais, e não o direito do Estado enquanto titular do ius puniendi. Assim, a lex mitior - seja abolitio criminis, seja qualquer alteração in mellius - retroage e aplica-se imediatamente aos processos em andamento, aos fatos delituosos cujos processos ainda não foram iniciados e, inclusive, aos processos com decisão condenatória já transitada em julgado.
LEIS EXCEPCIONAIS E TEMPORÁRIAS
 
Leis excepcionais e temporárias são leis que vigem por período predeterminado, pois nascem com a finalidade de regular circunstâncias transitórias especiais que, em situação normal, seriam desnecessárias. Leis temporárias são aquelas cuja vigência vem previamente fixada pelo legislador, e são leis excepcionais as que vigem durante situações de emergência.
 
Tais leis têm ultra-atividade (CP, art. 3º.). Assim, a circunstância de o fato ter sido praticado durante o prazo fixado pelo legislador (temporária) ou durante a situação de emergência (excepcional) constitui elemento temporal do próprio fato típico. Classifica-se a lei temporal como uma exceção ao princípio da retroatividade da lei mais favorável, já que uma lei desse tipo é aplicável aos fatos puníveis praticados sob sua vigência, embora tenha deixado de viger, pois a derrogação de uma lei temporal vem condicionada somente pelo desaparecimento do motivo que a originou e não por uma mudança na concepção jurídica. Caso contrário, a lei temporal perderia autoridade na medida em que fosse aproximando-se o termo final de sua vigência.
 
 
Lei Penal no Espaço
segunda-feira, 12 de abril de 2010
09:32
 
Tópicos do Dia:
Vigência da Lei no Espaço
 
VIGÊNCIA DA LEI NO ESPAÇO
 
A aplicação da Lei Penal no espaço é regida, no Código Penal Brasileiro, de acordo com o princípio da territorialidade, havendo exceções, nos princípios: real ou de proteção, universal ou cosmopolita, da nacionalidade ativa, da nacionalidade passiva e da representação.
 
Princípio da Territorialidade: por tal princípio, aplica-se a lei penal brasileira aos fatos puníveis praticados no território nacional, independentemente da nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico lesado. A lei brasileira adota essa diretriz como regra geral, ainda que de forma atenuada ou temperada (CP, art. 5º, caput.), uma vez que ressalva a validade de convenções, tratados e regras internacionais. O fundamento desse princípio é a soberania política do Estado.
 
Princípio da Defesa: esse princípio permite a extensão da jurisdição penal do Estado titular do bem jurídico lesado (CP, art. 7º, I.), independentemente do local onde o crime foi praticado ou da nacionalidade do agente infrator.Protege-se, assim, determinados bens jurídicos que o Estado considera fundamentais.
 
Princípio da Nacionalidade: aplica-se a lei penal do agente, pouco importando o local em que o crime foi praticado. O Estado tem direito de exigir que o seu nacional no estrangeiro tenha determinado comportamento. Esse princípio pode apresentar-se sob duas formas: personalidade ativa - caso em que se considera somente a nacionalidade do autor do delito (CP, art. 7º, II, b.); personalidade passiva - nesta hipótese importa somente se a vítima do delito é nacional (CP, art. 7º, §3º.). Esse princípio tem por objetivo impedir a impunidade de nacionais por crimes praticados em outros países, que não sejam abrangidos pelo critério da territorialidade.
 
Princípio da Universalidade: por esse princípio, as leis penais devem ser aplicadas a todos os homens, onde quer que se encontrem. É característico da cooperação penal internacional, pois permite a punição, por todos os Estados, de todos os crimes que forem objeto de tratados e de convenções internacionais. Aplica-se a lei nacional a todos os fatos puníveis, sem levar em conta o lugar do delito, a nacionalidade de seu autor ou do bem jurídico lesado (CP, art. 7º, II, a.).
 
EXTRATERRITORIALIDADE
 
Extraterritorialidade incondicionada: aplica-se a lei brasileira sem qualquer condicionante, na hipótese de crimes praticados fora do território nacional, ainda que o agente tenha sido julgado no estrangeiro, na hipótese de crimes praticados fora do território nacional, com fundamentos no princípio da defesa e da universalidade (CP, art. 7º, I). A importância dos bens jurídicos justifica, em tese, essa incondicional aplicação da lei brasileira. O Poder Jurisdicional é exercido independentemente da concordância do país onde o crime ocorreu, da licitude ou da extinção da punibilidade em tal país. Pode, inclusive, ser julgado à revelia, sem a entrada do infrator em território nacional. Caso ocorra sanção no país do crime, há compensação da sanção aplicada no estrangeiro. Nesses casos, a pena cumprida no exterior pode ser compensada no Brasil (CP, art. 8º), amenizando a excessiva preocupação do Direito brasileiro com a punição de tais infrações.
 
Extraterritorialidade condicionada: aplica-se a lei brasileira quando satisfeitos certos requisitos (CP, art.7º, II e § 2º e § 3º), com base nos princípios da universalidade, a personalidade, da bandeira e da defesa. Refere-se a crimes que, por tratado, o Brasil obrigou-se a reprimir; praticados por brasileiros; praticados em aeronaves ou em embarcações brasileiras, mercantes ou privadas, cometidos no estrangeiro , e aí não sejam julgados; e praticados por estrangeiros contra brasileiros fora do Brasil. Neste caso, claramente, também pode aplicar-se a compensação da pena (CP, art. 8º).
 
CF, art. 5º, XXXV. A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
CF, art. 5º, XXXIX, e CP, art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
CF, art. 5º, XL. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
CP, art. 2º. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
CP, art. 3º. A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
CP, art. 5º, caput. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
CP, art. 7º, I. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
CP, art. 7º, II. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes:a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território
estrangeiro e aí não sejam julgados.
CP, art. 7º, § 1º. Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
CP, art. 7º, § 2º. Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
CP, art. 7º, § 3º. A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça.
TERRITÓRIO NACIONAL
 
O território nacional compreende a superfície terrestre (solo e subsolo), as águas territoriais (fluviais, lacustres e marítimas) e o espaço aéreo correspondente. Entende-se, ainda, como espaço nacional, as embarcações e aeronaves, por ficção jurídica. Em sentido estrito, território abrange solo (e subsolo) contínuo e com limites reconhecidos, águas interiores, mar territorial (plataforma continental) e respectivo espaço aéreo. Quando os limites são fixados por montanhas, dois critérios podem ser utilizados: o da linha das cumeadas e do divisor de águas. Quando os limites fronteiriços são determinados por um rio ou lago, há duas soluções possíveis: a divisa pode ser uma linha mediana do leito do rio, determinada pela equidistância das margens; ou uma divisa que acompanhará a linha de maior profundidade do rio (talvegue).
 
Os navios podem ser públicos ou privados. Os primeiros são os de guerra, em serviços públicos (polícia marítima, alfândega, dentre outros) e aqueles que são colocados a serviço de Chefes de Estado ou representantes diplomáticos. Independentemente de se encontrarem em mar territorial brasileiro, estrangeiro ou em alto-mar, são considerados território nacional. Por isso, qualquer crime cometido dentro de um desses navios deverá ser julgado pela Justiça brasileira (CP, art. 5º, § 1º.). Analogamente, os crimes praticados em navios públicos estrangeiros, em águas territoriais brasileiras, serão julgados de acordo com a bandeira que ostentem. Já os navios privados, por sua vez, são os mercantes, de turismo etc. Quando em alto-mar, seguem a lei da bandeira que ostentam; quando estiverem em portos ou mares territoriais estrangeiros, seguem a lei do país em que se encontrem (CP, art. 5º, § 2º). As aeronaves adotam o mesmo critério dos navios.
 
CP, art. 5º, § 1º. Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
CP, art. 5º, § 2º. É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
 
LUGAR DO CRIME
 
O locus commissi delicti, ou lugar do crime, é sujeito a determinações por algumas teorias. Há a teoria da atividade, que prevê que o lugar do delito é aquele onde se realizou a conduta típica, ou a teoria do resultado , que diz que o lugar do delito é aquele em que ocorreu o evento ou resultado, isto é, onde o crime se consumou. O Direito brasileiro adota a teoria pura da ubiquidade, que diz que o lugar do crime tanto pode ser o da ação como o do resultado, ou ainda o lugar do bem jurídico atingido (CP, art. 6º.). Com a doutrina mista evita-se o inconveniente dos conflitos negativos de jurisdição do Estado e soluciona-se a questão do crime a distância, em que a ação e o resultado realizam-se em lugares diversos. A eventual duplicidade do julgamento é superada pelo estabelecimento de compensação de penas, uma modalidade de detração penal (CP, art. 8º.).
 
CP, art. 6º. Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
 CP, art. 8º. A pena cumprida no estrangeiro atenua a imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
 
Imunidade Diplomática: a Convenção de Viena, promulgada no Brasil pelo Decreto n. 56.435/65, estabelece para o diplomata imunidade de jurisdição penal, ficando sujeito à jurisdição do Estado a que representa. Constitui causa pessoal de exclusão da pena; essa imunidade não pode ser renunciada pelo agente diplomático, mas somente pelo Estado acreditante. A imunidade dos funcionários diplomáticos, por regra, aplica-se na jurisdição administrativa e judiciária pelos atos realizados no exercício das funções consulares, a não ser que outras condições sejam estabelecidas por tratado.
 
EXTRADIÇÃO
 
Extradição é o ato pelo qual um Estado entrega a um indivíduo acusado de fato delituoso ou já condenado como criminoso "a justiça de outro Estado, competente para julgá-lo e puni-lo. É resultante da solidariedade internacional na luta contra o crime, regulando-se pelas normas convencionais do Direitos das Gentes.
 
A extradição pode ser ativa, quando em relação ao Estado que a reclama; passiva, quando em relação ao Estadoque a concede; voluntária, quando há anuência do extraditando; imposta, quando há oposição do extraditando; ou reextradição, quando ocorre que o Estado que obteve a extradição (requerente) torna-se requerido por um terceiro Estado, que solicita a entrega da pessoa extraditada. O Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80) é a principal fonte legislativa regulam a matéria. 
 
No passado, sustentava-se que se não houvesse lei ou tratado não se poderia conceder a extradição e que a reciprocidade e o direito costumeiro, por si sós, não autorizavam a entrega do infrator estrangeiro. Constata-se que os tempos modernos alteraram completamente esse entendimento político-doutrinário e o princípio da reciprocidade assumiu a condição de dispensar a existência da lei ou tratado internacional para viabilizar a extradição. O princípio básico, por fim, que orienta o instituto da extradição reside no fato de que a punição do crime deva ser feita no local em que foi praticado, como resposta da comunidade ao abalo que a infração penal lhe causou.
 
A extradição é condicionada a princípios e condições. Seus princípios informadores são os seguintes:
 
Quanto ao delito:
 
Princípio da legalidade: por este princípio não haverá extradição se o crime imputado ao extraditando não estiver especificado em tratado ou convenção internacional. Esse princípio, contudo, encontra-se mitigado pelo princípio da reciprocidade, segundo o qual, na ausência de tratado ou convenção entre o requerente e o requerido, basta que o país requerente assuma o compromisso de dar o mesmo tratamento ao país requerido, em casos semelhantes, quando a posição de ambos se inverter.
 
EE, art. 91, I. Não será efetivada a entrega sem que o Estado requerente assuma o compromisso de não ser o extraditando preso nem processado por fatos anteriores ao pedido.
 
Princípio da especialidade: significa que o extraditado não poderá ser julgado por fato diverso daquele que motivou a extradição. Esse é um compromisso político que o Estado requerido normalmente tem dificuldade de controlar, na medida em que não tem ingerência na soberania interna do país requerente. Confia-se na lealdade que deve existir entre países amigos, embora nada impeça que o país requerente solicite a extensão dos fundamentos do pedido de extradição para incluir a solução de outras infrações atribuídas ao extraditando.
 
Princípio da identidade da norma: o fato que origina o pedido de extradição deve consistir em crime também no país ao qual a extradição foi solicitada. Esse princípio, também conhecido como dupla incriminação, constitui um pressuposto do pedido de extradição; por isso, se o fato imputado não for punido como crime em qualquer dos dois Estados, não será permitida a extradição. Nesse princípio inclui-se também a prescrição, ou seja, não pode ter transcorrido o lapso prescricional do fato objeto da extradição tanto no país requerente como no requerido.
 
EE, art. 77, II. Não se concederá a extradição quando o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente.
 
Quanto à pena e à ação penal:
 
Princípio da comutação: como corolário do princípio de humanidade, a extradição concedida pelo Brasil é condicionada à não aplicação de pena de morte, prisão perpétua ou pena corporal. Se o país que a requerer tiver a cominação de tais penas para o delito imputado, terá de comutá-las em penas privativas de liberdade.
 
EE, art. 91, III. Não será efetivada a entrega sem que o Estado requerente assuma o compromisso de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte, ressalvados, quanto à última, os casos em que a lei brasileira permitir a sua aplicação.
 
Princípio da jurisdicionalidade: pretende impedir que o extraditando seja julgado, no país requerente, por Tribunal ou Juízo de exceção. Implicitamente procura garantir o princípio do juiz natural .
 
O princípio do juiz natural estabelece que deve haver regras objetivas de competência jurisdicional, garantindo a independência e a imparcialidade do órgão julgador. Tal princípio está intimamente ligado à vedação dos Tribunais de exceção, visto que nestes não há prévia competência constitucional.
 
EE, art. 77, VIII. Não se concederá a extradição quando o extraditando houver de responder, no Estado requerente, perante Tribunal ou Juízo de exceção.
 
Princípio non bis in idem: em primeiro lugar, considera-se um conflito positivo de competência, que impede a concessão da extradição quando o Brasil for igualmente competente para julgar o caso; em segundo lugar, a necessidade de assumir a obrigação de comutar o tempo de prisão que foi imposto no Brasil, em decorrência do pedido de extradição.
 
EE, art. 77, III. Não se concederá a extradição quando o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando.
EE, art. 91, II. Não será efetivada a entrega sem que o Estado requerente assuma o compromisso de computar o tempo de prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição.
 
Princípio da reciprocidade: a extradição institui-se basicamente sobre o princípio da reciprocidade, que convém a dois Estados soberanos, especialmente porque o delito deve ser punido na comunidade onde foi praticado e porque expulsa do território nacional um delinquente, naturalmente indesejável, que um Estado estrangeiro deseja julgar e punir. As condições para extradição vêm enumeradas no art. 77 (condições negativas) e no art. 78 (condições positivas) do Estatuto do Estrangeiro.
 
EE, art. 76. A extradição poderá ser concedida quando o governo requerente se fundamentar em tratado, ou quando prometer ao Brasil a reciprocidade.
EE, art. 78. São condições para concessão da extradição: I - ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse Estado; II - existir sentença final de privação de liberdade, ou estar a prisão do extraditando autorizada por juiz, tribunal ou autoridade competente do Estado requerente, salvo o disposto no artigo 82.
 
Existem alguns requisitos prévios para a concessão da extradição. São eles:
 
Exame prévio pelo Supremo Tribunal Federal: pela Constituição Federal, a decisão jurídica sobre a concessão de extradição compete ao plenário do STF. A ação de extradição é de natureza constitutiva, objetivando a formalização de um título que autoriza o Executivo a entregar um estrangeiro a outro país soberano para responsabilizá-lo pela prática de um crime. O exame político é do Executivo, enquanto o exame jurídico é do Judiciário.
 
CF, art. 102, I, g. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe processar e julgar, originariamente, a extradição solicitada por Estado estrangeiro.
 
Existência de convenção ou tratado firmado com o Brasil, ou, em sua ausência, o oferecimento de reciprocidade: os tratados e convenções, via de regra, decorrem da manifestação de vontade do Presidente da República. Havendo conflito entre lei internacional e lei interna, deve prevalecer, de acordo com o STF, a vontade da lei interna quando for mais recente.
 
Existência de sentença final condenatória ou decreto de prisão cautelar: é indispensável que a sentença condenatória imponha pena privativa de liberdade (a condenação a penas alternativas não autoriza o pedido de extradição). Antes do trânsito em julgado, exige-se que exista decreto de prisão preventiva ou qualquer modalidade de prisão cautelar, determinada por autoridade competente do Estado requerente.
 
Ser o extraditado estrangeiro: a Constituição Federal de 1988 não permite a extradição de brasileiros, independentemente de serem natos ou naturalizados. Para brasileiros naturalizados, há duas exceções: ter sido obtida a naturalização após o fato que motivou o pedido de extradição; e quando for comprovado o envolvimento com tráfico de entorpecentes e drogas afins.
 
CF,art. 5º, LI. Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
 
O fato imputado deve constituir crime perante o Estado brasileiro e o Estado requerente.
 
A extradição será proibida quando se tratar de crime político puro. Sobre o conceito de delito político, existem as teorias: objetiva, segundo a qual o que importa é a natureza do bem jurídico, como a organização política do Estado; subjetiva, de acordo com a qual o decisivo é o fim perseguido pelo autor, qualquer que seja a natureza dos bens lesados; e mista, que combina as anteriores, requerendo que tanto o bem jurídico atacado como o objetivo do agente sejam de caráter político. Assim, o delito político puro dá-se quando os aspectos objetivos e subjetivos são de ordem política.
 
Atos de terrorismo, como os atos contra a segurança da aviação, previstos na Convenção de Haia e na Convenção de Montreal, bem como a tomada de refém ou sequestro arbitrário, atentado contra pessoa que tem proteção diplomática, ou a utilização de bombas, granadas ou outros instrumentos que acarretem perigo às pessoas, não alcançam a proibição de extradição.
 
EE, art. 77, § 3º. O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crimes políticos os atentados contra Chefes de Estado ou quaisquer autoridades, bem assim os atos de anarquismo, terrorismo, sabotagem, sequestro de pessoa, ou que importem propaganda de guerra ou de processos violentos para subverter a ordem política ou social.
 
DEPORTAÇÃO E EXPULSÃO
 
Deportação: consiste na saída compulsória do estrangeiro para o país de sua nacionalidade ou para outro que consinta em recebê-lo. Verifica-se a deportação nos casos de entrada ou estada irregular do estrangeiro. O deportado pode reingressar no território nacional sob certas condições.
 
EE, art. 58. A deportação consistirá na saída compulsória do estrangeiro. Parágrafo único. A deportação far-se-á para o país da nacionalidade ou de procedência do estrangeiro, ou para outro que consinta em recebê-lo.
EE, art. 57, caput. Nos casos de entrada ou estada irregular de estrangeiro, se este não se retirar voluntariamente do território nacional no prazo fixado em Regulamento, será promovida sua deportação.
EE, art. 64. O deportado só poderá reingressar no território nacional se ressarcir o Tesouro Nacional, com correção monetária, das despesas com a sua deportação e efetuar, se for o caso, o pagamento da multa devida à época, também corrigida.
 
Expulsão: ocorre quando o estrangeiro atentar, de qualquer forma, contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à convivência ou aos interesses nacionais. É passível, também, de expulsão o estrangeiro que: praticar fraude a fim de obter sua entrada ou permanência no Brasil; havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação; entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro. A expulsão não é pena, mas medida preventiva de polícia. Cabe ao Presidente da República deliberar sobre a conveniência e a oportunidade de expulsão. O art. 75 do Estatuto do Estrangeiro arrola as causas impeditivas da expulsão.
 
EE, art. 65. É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais. Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o estrangeiro que: a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil; b) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação; c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro.
 
EE, art. 75. Não se procederá à expulsão: I - se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira; ou II - quando o estrangeiro tiver: a) Cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de cinco anos; ou b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente.
 
 
Teoria do Delito
segunda-feira, 19 de abril de 2010
00:16
 
Tópicos do Dia:
Tipicidade, culpabilidade, antijuridicidade
Conceitos de delito
Classificação das infrações penais
 
TIPICIDADE, ANTIJURIDICIDADE, CULPABILIDADE
 
Tipicidade: tipicidade é a conformidade do fato praticado pelo agente com a moldura abstratamente descrita na lei penal. É a correspondência entre o fato praticado pelo agente e a descrição de cada espécie de infração contida na lei penal incriminadora. Um fato, para ser adjetivado de típico, precisa adequar-se ao modelo descrito na lei penal, isto é, a conduta praticada pelo agente deve subsumir-se na moldura descrita na lei.
 
Antijuridicidade: antijuridicidade é a contradição da ação com uma norma jurídica; injusto é a própria ação valorada antijuridicamente. A antijuridicidade é um predicado e o injusto, um substantivo. O injusto é a forma de conduta antijurídica propriamente: a perturbação arbitrária da posse, o furto, a tentativa de homicídio. A antijuridicidade, por sua vez, é uma qualidade dessa forma de conduta, mais precisamente a contradição em que se encontra com o ordenamento jurídico. Todas as matérias de proibição, reguladas nos diversos setores do Direito, são antijurídicas para todo o ordenamento jurídico.
 
Culpabilidade: culpabilidade é a possibilidade de reprovar o autor de um fato punível porque, de acordo com os fatos concretos, podia e devia agir de modo diferente. Sem culpabilidade não pode haver pena, e sem dolo ou culpa não pode existir crime.
 
CONCEITOS DE DELITO
 
Conceito clássico de delito: elaborado por Von Liszt e Beling, é um conceito representado por um movimento corporal (ação), produzindo uma modificação no mundo exterior (resultado). Uma estrutura simples, fundamentava-se num conceito de ação eminentemente naturalístico, que vinculava a conduta ao resultado através do nexo de causalidade. Essa concepção clássica do delito mantinha em partes absolutamente distintas o aspecto objetivo, representado pela tipicidade e antijuridicidade, e o aspecto subjetivo, representado pela culpabilidade.
 
O conceito clássico de delito foi produto do pensamento jurídico característico do positivismo científico, que afasta qualquer contribuição das valorações filosóficas, psicológicas e sociológicas. Essa orientação, que pretendeu resolver todos os problemas jurídicos nos limites exclusivos do Direito positivo e de sua interpretação, deu um tratamento exageradamente formal ao comportamento humano que seria definido como delituoso. Assim, a ação, concebida de forma puramente naturalística, estruturava-se com um tipo objetivo-descritivo, a antijuridicidade era puramente objetivo-normativa e a culpabilidade, subjetivo-descritiva.
 
No conceito clássico de delito, eram entendidos quatro elementos:
 
Ação: era um conceito puramente descritivo, naturalista e causal, valorativamente neutro. Era um conceito essencialmente objetivo; embora se sustentasse que tinha origem na vontade, não se preocupava com o conteúdo desta, mas tão somente com o aspecto objetivo da causação do resultado externo. Foi Von Liszt que, sob influência do positivismo naturalista, definiu a ação como "a inervação muscular produzidas por energias de um impulso cerebral, que, comandadas pelas leis da natureza, provocam uma transformação no mundo exterior.Tipicidade: o tipo e a tipicidade representavam o caráter externo da ação, compreendendo somente os aspectos objetivos do fato descrito na lei. Deixa fora do tipo e da tipicidade todas as circunstâncias subjetivas ou internas do delito, que pertenciam à culpabilidade. Na primeira fase, a tipicidade apresentava um caráter descritivo, valorativamente neutro; mais tarde, Mayer acrescentou que a tipicidade, na verdade, era um indício da antijuridicidade, isto é, toda conduta típica é provavelmente antijurídica, salvo se ocorrer uma causa de justificação.
 
Antijuridicidade: é um elemento objetivo, valorativo e formal. A constatação da antijuridicidade implica um juízo de desvalor, isto é, uma valoração negativa da ação. No entanto, o caráter valorativo recai somente sobre o aspecto objetivo, a provocação de resultados externos negativos, indesejáveis juridicamente. Assim, a antijuridicidade é um juízo valorativo puramente formal: basta a comprovação de que a conduta é típica e de que não ocorre nenhuma causa de justificação.
 
Culpabilidade: era concebida como aspecto subjetivo do crime, tendo também caráter meramente descritivo, pois se limitava a comprovar a existência de um vínculo subjetivo entre o autor e o fato. A diversidade de intensidade desse nexo psicológico faz surgir as formas ou espécies de culpabilidade, dolosa ou culposa.
 
Conceito neoclássico de delito: esse conceito corresponde à influência no campo jurídico da filosofia neokantiana, dando-se especial atenção ao normativo e axiológico. Foi substituída a coerência formal de um pensamento jurídico circunscrito em si mesmo por um conceito de delito voltado para os fins pretendidos pelo Direito Penal e pelas perspectivas valorativas que o embasam (teoria teleológica do delito).
 
Com essa nova orientação, todos os elementos do conceito clássico do crime sofreram um processo de transformação, a começar pelo conceito de ação, cuja concepção, puramente naturalista, constituía o ponto mais frágil da teoria clássica, principalmente no referente aos crimes omissivos, culposos e de tentativa. A tipicidade, por sua vez, com o descobrimento dos elementos normativos, que encerram um conteúdo de valor, bem como o reconhecimento da existência dos elementos subjetivos do tipo, afastaram definitivamente uma concepção clássica do tipo. A antijuridicidade, igualmente, que representava a simples contradição formal a uma norma jurídica, passou a ser concebida sob um aspecto material, exigindo-se uma determinada densidade social. Esse novo entendimento permitiu graduar o injusto de acordo com a gravidade da lesão produzida. Dessa forma, onde não houver lesão de interesse algum, o fato não poderá ser antijurídico. A teoria da antijuridicidade material permitiu, inclusive, o desenvolvimento de novas causas de justificação, além das legalmente previstas. A culpabilidade também foi objeto de transformações, recebendo a noção de reprovabilidade pela formação de vontade contrária ao dever.
 
Conceito finalista de delito: Welsel procurou conduzir a ação humana ao conceito central da teoria do delito, considerado o ponto de vista ontológico. O surgimento do sistema finalista praticamente coincide, cronologicamente, com a origem da teoria social da ação e com o auge do direito penal de autor. Opondo-se ao conceito causal de ação e, especialmente, à separação entre vontade e seu conteúdo, o finalismo retirou todos os elementos subjetivos que integravam a culpabilidade, nascendo, assim, uma concepção puramente normativa. O finalismo deslocou o dolo e a culpa para o injusto, retirando-o da culpabilidade, levando a finalidade para o centro do injusto. Assim, há culpabilidade somente naquelas circunstâncias que condicionam a reprovabilidade da conduta contrária ao Direito, e o objeto da reprovação (conduta humana) situa-se no injusto.
 
Houve, assim, a separação entre tipos dolosos e culposos, não mais sendo eles espécies de culpabilidade, mas integrantes da ação e do injusto pessoal, além da criação de uma culpabilidade puramente normativa. Welsel deixou claro que, para ele, o crime só estará completo com a presença da culpabilidade. Dessa forma, também para o finalismo, o crime continua sendo a ação típica, antijurídica e culpável.
 
Conceito analítico de crime: além dos conceitos formal (crime é toda ação ou omissão proibida por lei, sob ameaça de pena) e material (crime é a ação ou omissão que contraria os valores ou interesses do corpo 
social, exigindo sua proibição com a ameaça de pena), há o conceito analítico de crime. Para Carmignani, a ação delituosa compor-se-ia do concurso de uma força física e de uma força moral. Na força física estaria a ação executora do dano material do delito, e na força moral situar-se-ia a culpabilidade e o dano moral da infração penal. A elaboração definitiva do conceito analítico de delito deu-se com a contribuição de Beling, com a introdução do elemento tipicidade. Assim, o conceito analítico, predominante, passou a definir o crime como a ação típica, antijurídica e culpável.
 
Definição de crime no Brasil: a Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-lei n. 3.914/41) define: "considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multas, ou ambas, alternativa ou cumulativamente".
 
A lei limitou-se apenas a destacar as características que distinguem as infrações penais consideradas crimes daquelas que constituem contravenções penais, as quais, como se percebe, restringem-se à natureza da pena de prisão aplicável. O entendimento dominante, atualmente, no Brasil, é o conceito analítico.
 
CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES PENAIS
 
Crime e contravenção: ontologicamente, não há diferença entre crime e contravenção. As contravenções são condutas que apresentam menor gravidade em relação aos crimes, por isso sofrem sanções mais brandas. O fundamento da distinção é puramente político-criminal e o critério é simplesmente quantitativo ou extrínseco, com base na sanção assumindo caráter formal. O nosso ordenamento jurídico aplica a pena de prisão, para os crimes, sob as modalidades de reclusão e detenção, e, para as contravenções, a de prisão simples.
 
Crimes doloso, culposo e preterdoloso: essa classificação refere-se à natureza do elemento volitivo caracterizador da infração penal. Diz-se o crime doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Preterdoloso é o crime cujo resultado total é mais grave que o pretendido pelo agente.
 
CP, art. 18, I. Diz-se o crime: doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. 
CP, art. 18, II. Diz-se o crime: culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
 
Crimes comissivo, omissivo e comissivo-omissivo: o crime comissivo consiste na realização de uma ação positiva visando um resultado tipicamente ilícito. A maioria dos crimes do Código Penal e na legislação extravagante é constituída pelos delitos comissivos. Já o crime omissivo consiste no fato de o agente deixar de realizar determinada conduta, tendo a obrigação jurídica de fazê-lo; configura-se com a simples abstenção da conduta devida, quando podia e devia realizá-la, independentemente do resultado. No crime comissivo-omissivo, a omissão é o meio através do qual o agente produz um resultado. Nestes crimes, o agente responde não pela omissão simplesmente, mas pelo resultado decorrente desta, a que estava, juridicamente, obrigado a impedir.
 
CP, art. 13, § 2º. A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado.O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
 
Crime instantâneo e permanente: crime instantâneo é o que se esgota com a ocorrência do resultado; é o que se completa num determinado instante, sem continuidade temporal, como a lesão corporal. Instantâneo não significa praticado rapidamente, mas significa que uma vez realizados os seus elementos nada mais se poderá fazer para impedir sua ocorrência. O fato de o agente continuar beneficiando-se com o resultado, como no furto, não altera a sua qualidade de instantâneo. Permanente é o crime cuja consumação se alonga no tempo, dependente da atividade do agente, que poderá cessar quando este quiser, como cárcere privado, sequestro. Não pode ser confundido com crime instantâneo de efeitos permanentes, como o homicídio, furto, cuja permanência não depende da continuidade da ação do agente.
 
Crimes material, formal e de mera conduta: crime material descreve a conduta cujo resultado integra o próprio tipo penal, isto é, para sua consumação é indispensável a produção de um dano efetivo no mundo exterior causado pela conduta humana. A não ocorrência do resultado significa a tentativa. Nos crimes materiais a ação e o resultado são cronologicamente distintos, como o homicídio, furto.
 
Crime formal também descreve um resultado que, contudo, não precisa verificar-se para ocorrer a consumação. Basta a ação do agente e a vontade de concretizá-lo, configuradoras do dano potencial, o eventus periculi, como a ameaça, a injúria verbal. Afirma-se que no crime formal o legislador antecipa a consumação, satisfazendo-se com a simples ação do agente.
 
Crime de mera conduta é o crime no qual o legislador descreve somente o comportamento do agente, sem se preocupar com o resultado, como a desobediência, invasão de domicílio. Os crimes de mera conduta são sem resultado; os crimes formais têm resultado, mas o legislador antecipa a consumação à sua produção.
 
Crime comum, próprio e de mão própria: crime comum é o aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa, como a lesão corporal, estelionato, furto. Crime próprio é aquele que exige determinada qualidade ou condição especial do agente. Pode ser condição jurídica (acionista); profissional ou social (comerciante); natural (gestante, mãe); parentesco (descendente); dentre outros. Crime de mão própria é aquele que só pode ser praticado pelo agente pessoalmente, não podendo utilizar-se de pessoa interposta, como o falso testemunho, o adultério, a prevaricação.
 
 
Causalidade
sábado, 24 de abril de 2010
14:22
 
Tópicos do Dia:
Relação de causalidade
 
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
 
Somente os crimes de resultado (ou materiais) apresentam relevância à questão do nexo de causalidade. Nesses delitos, deve-se indagar a respeito da existência de um nexo de causalidade entre a ação do agente e o resultado produzido. Assim, o Código Penal determina em seu artigo 13 que: "o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido". Consagra-se, aqui, a teoria da equivalência das condições, também conhecida como teoria da conditio sine qua non.
 
Essa teoria não distingue como prevalente ou preponderante nenhum dos antecedentes causais de um determinado resultado. Todo fator, seja ou não da atividade humana, que contribui, de alguma forma, para a ocorrência do evento, é causa desse evento. Causa, para esta teoria, é a some de todas as condições, consideradas no seu conjunto, produtoras de um resultado.
 
Para que se possa verificar se determinado antecedente é causa do resultado, deve-se fazer o juízo hipotético de eliminação: imagina-se que a conduta do agente não se efetuou, e procura-se verificar se o resultado teria surgido mesmo assim, ou se o resultado desapareceria em consequência da inexistência do comportamento suprimido. Se concluir-se que o resultado teria ocorrido mesmo com a supressão da conduta, então não há relação de causa e efeito entre um e outra; se, ao contrário, eliminada mentalmente a conduta, verificar-se que o resultado não se teria produzido, essa conduta é condição indispensável para a ocorrência do resultado, e, sendo assim, é sua causa.
 
A teoria da equivalência das condições tem a desvantagem de levar ad infinitum a pesquisa do que seja a causa. No exemplo do homicida que mata a vítima com um tiro de revólver, além de ser a sua conduta causa do evento, o comerciante que lhe vendeu a arma também foi indispensável na ocorrência do evento, bem como a fabricação da arma, e até os pais do criminoso, que o geraram. Essas conclusões tornar-se-iam inconciliáveis com os propósitos do Direito Penal.

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