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DES0120- Formação das Instituições Políticas Brasileiras - Análise do Século XIX - Resumo dos Textos

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O Liberalismo Europeu
Leitura obrigatória: LASKI, Harold. O Liberalismo Europeu. Editora Mestre Jou: São Paulo, 
1ª edição, 1973, pp. 09-21 (13 páginas) e pp.103-116 (14 páginas). (Total de 27 páginas). MOISÉS, 
José Álvaro - Cidadania, confiança e instituições democráticas, in Lua Nova, São Paulo, no. 
65:71-94, 2005. Disponível na internet: http://www.usp.br/nupps/artigos/moises_artigo1.pdf. 
CARVALHO, José Murilo de – Cidadania Tipos e Percursos. Estudos históricos, Rio de Janeiro, no. 
18, 1996. Disponível na internet: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/199.pdf 
Entre a Reforma da Revolução Francesa uma nova classe ascende ao poder e reclama para si 
os direitos à participação do Estado. Nesse contexto ocorrem diversas mudanças significativas:
1. Os privilégios resultantes do status e convertem-se em benefícios aos proprietários de 
terras;
2. O novo alicerce da sociedade passa a ser o contrato;
3. Ganha espaço a pluralidade de crenças e até o ceticismo. As novas Igrejas não mais 
reconhecem a supremacia de Roma;
4. A soberania nacional adquire poder concreto e irresistível;
5. O controle político passa a ser compartilhado com os proprietários de bens móveis;
6. As profissões liberais conquistam seu espaço;
7. A cidade e a mudança substituem o campo e a estabilidade;
8. O pensamento dos homens passa a ser modelado pela ciência, não mais pela religião;
9. O progresso e a razão são os ideais que movem a sociedade;
10.O indivíduo substitui o coletivo;
11.Surge o mercado mundial e tem início a busca desenfreada pela acumulação de lucros;
12.Grande aumento demográfico;
13.Descoberta da imprensa com decorrente alfabetização e irradiação cultural;
14. Imenso esforço colonizador de Portugal e da Espanha, depois o da França e da 
Inglaterra.
Toda essa reviravolta na sociedade tem um nome: LIBERALISMO. 
Para a doutrina liberal, nomes como Maquiavel, Calvino, Lutero, Copérnico, Henrique VIII, 
Tomas More, Richelieu, Luis XIV, Hobbes, Pascal foram fundamentais. Também o contexto dos 
descobrimentos, as invenções tecnológicas e as novas formas de vida econômica. Mesmo assim essa 
doutrina teve solavancos em seu aperfeiçoamento. Resistiu a revoluções e a guerras, bem como aos 
tradicionalismos perpetuados por meio milhar de anos e aos homens que, com base nestes, 
defendiam a manutenção de seus privilégios. 
Apesar desse aparente aspecto sólido, o liberalismo foi barrado por algumas características 
impregnadas naquele período. Por exemplo, a tentativa de expandir o comércio globalmente, o que 
não foi possível devido às implicações políticas do nacionalismo, que acompanhou de perto o 
nascimento e a evolução da doutrina liberal. Também no campo da propriedade o liberalismo foi 
barrado: tentava afastar toda e qualquer restrição ao direito de acumular propriedade, entretanto foi 
boicotado pelo proletariado. 
Sem sobra de dúvidas o liberalismo é regido pela liberdade. Ele surgiu justamente com o 
propósito de ir contra os privilégios provenientes da classe a que o indivíduo pertencesse ou ao do 
credo que adotasse. No entanto, essa liberdade não era universal – restringia-se aos homens 
proprietários(usar no trabalho de Dir. do Trabalho). Era pautado numa liberdade negativa, cerceando 
a autoridade política e defendendo um rol de direitos fundamentais que o Estado não pudesse violar. 
Mais uma vez, defendendo a propriedade e importando-se secundariamente com os trabalhadores. 
Buscou defender as atitudes tomadas no âmbito da legalidade, tendo em vista um alcance não tão 
abrangente da aplicação da lei. 
O liberalismo considerava as religiões como qualquer outro tipo de associação. Foi favorável 
ao governo representativo, mesmo quando esse modelo implicou a adoção do sufrágio universal. Até 
certo ponto foi tolerante com as reivindicações da minoria e defendeu arduamente a liberdade de 
pensar e de agir. 
Em relação à ação social, na maioria das vezes o liberalismo tomou uma atitude negativa. 
Encarou a uniformidade e a tradição como uma afronta ao direito do livre arbítrio. Tinha um quê de 
romântico, tendendo para o subjetivismo e para a anarquia. Defensor da liberdade, muitas vezes 
negava a igualdade pelo fato de ela conduzir à restrição da personalidade individual. Querendo 
estender-se a toda a sociedade, as condições históricas o limitaram e foi justamente essas limitações 
que explicam seu legado e seus tropeços. 
O fator motriz do liberalismo foi o surgimento de uma nova sociedade econômica, no final da 
Idade Média. E essa classe só ascendeu a uma posição de domínio político em virtude do 
embasamento liberal. O grande insight do liberalismo foi a criação de um Estado Contratual, 
limitando a intervenção política na medida em que fosse possível manter a ordem pública. A 
limitação do pensamento liberal provém justamente do contrato – a liberdade contratual jamais é 
absolutamente livre; ainda mais quando as partes têm poderes tão díspares. Nessa sociedade tinha 
mais poder aqueles que detinham propriedade e são esses os contemplados pelas vantagens do 
modelo liberal. Sendo os objetivos liberais guiados pelos donos da propriedade, sempre houve um 
vácuo entre as propostas e a prática. 
A mentalidade de acumulação de capital da época era inspirada no capitalismo. Enquanto na 
Idade Média o homem rico era uma espécie de curador, agindo em nome de toda a sociedade, com o 
advento do espírito capitalista, o conceito social de riqueza cedeu lugar ao individual. A produção 
voltada única e exclusivamente à subsistência foi rechaçada pela idéia da produção sem limites, só 
possível numa sociedade dinâmica e anti-tradicional. O autoritarismo era por sua vez repelido à 
medida que dava margem ao conservadorismo e ao regramento, algo impossível numa sociedade que 
tinha em vista inovações que permitissem mais e mais o lucro. 
O trunfo do capitalismo decorre da inadequação do velho sistema produtivo à realidade agora 
em voga, ao progresso e à explosão demográfica. Os novos métodos demonstravam que era possível 
criar uma riqueza nunca antes imaginada com base nos antigos parâmetros. Mesmo assim foi 
necessário vencer o descrédito da sociedade e defender a interferência mínima do Estado na 
economia, cujo auge se dá com a filosofia do laissez faire. 
O homem capitalista acolhe satisfeito o nacionalismo e as suas maiores garantias de paz 
interna. Beneficia-se com o ataque à Igreja, pois isso significa lutar contra o pecado da usura e as 
demais imposições obsoletas que partiam do clero. Argumenta ser o bem-estar social mais facilmente 
assegurado pela concessão ao individuo da maior iniciativa de ação possível. 
A essência da Revolução Liberal é, portanto, a emancipação do indivíduo. E justificando-se 
através de amplas satisfações que trouxe para a sociedade, foi gradualmente derrubando as barreiras 
que se erguiam em seu caminho. 
O Mercantilismo era uma ‘economia política considerada como ramo da ciência de um 
estadista ou legislador’, não um estudo ‘da natureza e das causas da riqueza das nações’. O 
intervencionismo era resultado da herança de uma mentalidade medieval onde tudo se regulava. O 
ideal da auto-suficiência, da intensidade das rivalidades nacionais. As oscilações de foco, de uma 
constante competição para garantir uma regulamentação favorável a cada um dos ramos comerciais. 
O Estado seiscentista é o momento em que se faz necessário impor ordem ao caos do século 
XVI. A solução encontrada é estabilizar tudo aquilo que trás incertezas à tona: a moeda, as condições 
de emprego, o fluxo do comércio e de imigração, o socorro à pobreza, o suprimento de metais 
preciosos, as leis de navegação, etc...
O pequeno impacto do liberalismo na economia, logo de início, é obvio. Primeiro a burguesia 
adaptou a religião, depois a cultura e somente na última etapa pode se ocupar do Estado. Somente 
depois de consolidar uma nova ordem de coisas e tornar coerente a interferência na ordem 
econômica éque a burguesia deferiu o assalto final.
A regulamentação econômica é um resultado direto de algo que é claro para os mercantilistas 
– a incongruência entre o interesse nacional e o bem-estar do comerciante. O Estado controla porque 
teme que a gana por lucros do comerciante possa prejudicar a sociedade. O liberalismo econômico, 
nesse panorama, era um redemoinho em meio a maré que fluía contra ele. Isso porque existia a 
pequena nobreza contra a classe mercantil, o empregado contra seu patrão, o produtor nacional 
contra o concorrente estrangeiro, o monopolista contra o proponente do livre comércio. 
Com o passar do tempo foi-se percebendo que o bem-comum consistia numa liberdade para 
todos, emancipada de qualquer intervenção. Várias circunstâncias colaboraram para tal: a ineficácia 
da administração pública, a impotência do governo para fazer frente ao contrabando, a incapacidade 
para controlar os salários e a situação de trabalho em geral. Ademais, os self-made men não estavam 
dispostos a serem governados por leis que inibissem, ameaçassem seu avanço. A visão em relação ao 
dinheiro era outra; admitia-se que o risco tinha direito a recompensa e, sendo assim, nada mais justo 
que cobrar juros nos empréstimos. Em resumo, concebeu-se que a liberdade econômica estava na 
própria natureza das coisas e que as regulamentações são insensatas se requerem uma supervisão 
para que se revistam de autoridade.
Resultado dessa nova filosofia – em que o ideal básico é a segurança – foi a criação de um 
Estado em que a propriedade era um título efetivo de cidadania, um Estado que era nada mais que 
uma congregação de homens prósperos. Isto é demonstrado, por exemplo, pelo colapso de todo o 
sistema de assistência pública. 
Admite-se o bem comum; desde que o homem já tenha provado o seu valor. Mas prova é a 
obtenção de um status social que, pela natureza do sistema, é negado à maioria dos homens que 
buscam alcançá-lo. Os cercados, os muros, as divisas separam o camponês da terra; as normas de 
propriedade comercial deixam os trabalhadores sem outra coisa para vender senão seu próprio 
trabalho. 
Enquanto isso, os homens de propriedade ganhavam um poder absoluto para dispor de tudo o 
que possuem como melhor lhes aprouver. Para isso, apoderaram-se da máquina do Estado. Dessa 
forma nasce a idéia de que os homens de propriedade são os governantes naturais da sociedade, já 
que o poder supremo não pode tirar de homem algum parte de sua propriedade sem o seu 
consentimento.
O liberalismo clássico nasceu da desconfiança diante das estruturas tradicionais de poder. 
Limitou a soberania dos cidadãos na medida em que instituiu um sistema de representação baseado 
na idéia de quem escolhe um representante delega a ele o seu poder de decidir. 
Hoje o conceito de cidadania está intimamente ligado à confiabilidade das instituições 
democráticas, as quais devem se fazer obedecer não só pelo poder burocrático que detém, mas 
porque são movidas à base da ética e de normas postas, e também porque realizam bem suas funções. 
Na reconstrução da democracia brasileira o tema dos direitos de cidadania foi posto em pauta 
para que se processasse a reforma das instituições políticas realizada pela Constituição Cidadã de 
1988. Isso porque a cidadania é capaz de articular as demandas por emancipação e por inclusão 
social que emergem no contexto do conflito de interesses divergentes que caracterizam as sociedades 
complexas, desiguais e diferenciadas. 
Entretanto, a reconquista da liberdade e a ampliação dos direitos sociais e da participação 
política não foram suficientes para frear o desencanto político e a baixa confiança dos cidadãos 
diante das instituições democráticas. Uma das formas de ensinar o cidadão ativo do papel da 
participação política são os mecanismos semi-diretos da democracia como o referendo, o plebiscito e 
a iniciativa popular de lei, mas mesmo eles não são suficientes para atingir um grau satisfatório de 
confiança nas instituições democráticas. 
A mudança na atitude dos cidadãos diante das instituições públicas, originando ou 
aprofundando a desconfiança política, se deu em várias partes do mundo e em diferentes momentos. 
Nas democracias consolidadas em meados do século XX, como Itália e Japão, ela se deu a partir das 
experiências continuadas de corrupção, engessamentos do sistema de partidos políticos e outros 
déficits de desempenho institucional. A variação mais dramática ocorreu nas democracias mais 
antigas – Estados Unidos, Inglaterra, França, Suécia e Canadá – onde apenas 25% mostram-se 
satisfeitos e confiantes com os governos, reagindo às crises, escândalos e à deterioração do padrão de 
funcionamento das instituições. Nesses casos caíram as taxas de identificação partidária, a 
mobilização dos eleitores por partidos, o comparecimento em eleições e o interesse por política. A 
situação é ainda mais preocupante nos regimes políticos nascidos com a “terceira onda” de 
democratização. Em boa parte dos países latino-americanos, de tradição democrática frágil e 
descontínua, apenas 20% do público tem alguma confiança em parlamentos e partidos políticos, 
polícia ou judiciário. São sentimentos de apatia ou de impotência política que levam os cidadãos a 
desconfiarem das instituições democráticas. 
Embora nos exemplos supracitados não haja preferência pelo regime antidemocrático, não é 
razoável supor que a democracia pode conviver com o descrédito em suas normas, procedimentos e 
instituições, os quais, por definição se prestam a mediar os interesses dos cidadãos e promover a 
convivência nas sociedades complexas. 
É necessário discutir o conceito de cidadania e contrapor a visão liberal clássica, em que ele é 
um status jurídico e administrativo, com a comunitarista, que pretende resgatar a noção cívico-
republicana do tema. 
A Questão da Cidadania – a noção de igualdade já se fazia presente nos textos religiosos da 
Antiguidade, onde era propagado que os homens eram iguais diante de Deus. No entanto, foi na 
Grécia que o conceito de igualdade e liberdade ganhou contexto dentro da polis, comunidade voltada 
para o bem público. As bases filosóficas do conceito foram desenvolvidas no contratualismo de 
Locke e Rousseau, sendo que ele foi adotado na prática pelo liberalismo e pelas revoluções inglesa, 
americana e francesa. As noções de liberdade, igualdade, fraternidade e Estado-nação passaram a ser 
relacionadas através de um vínculo jurídico-legal, as quais conferiram à cidadania o significado de 
pertencimento à comunidade política nacional e, ao mesmo tempo, a participação na escolha de 
governos e de representantes. 
O enfoque no cidadão tinha um viés protetor, garantindo de seus direitos e afastando-o da 
opressão. Era uma liberdade negativa que institucionalizava a ausência de coerção para evitar que o 
indivíduo fosse impedido de realizar seus interesses. Nessa mesma linha, a democracia minimalista 
restringe-se a uma estrutura jurídico-legal que assegura a separação de poderes, o funcionamento do 
sistema de representação e a obediência às leis. O que ela não concebe é que as diferenças de posses 
materiais, o poder ou o status social eliminam a igualdade diante da lei, fundamento da igualdade de 
direitos que é pressuposto para proteger o indivíduo de injustiças. 
No entanto, mesmo os autores que se preocupam com as exigências de justiça no sistema de 
cidadania reconhecem que os cidadãos usam os seus direitos essencialmente para alcançar os seus 
interesses próprios. Apesar de essa busca por realização pessoal dever se dar no contexto dos limites 
impostos pela exigência do direito dos outros, o indivíduo tem o direito de definir e buscar seus 
interesses privados e sua concepção particular de bem.
Esse ponto é criticado pelos comunitaristas, os quais entendem que a tradição liberal relegou 
as preocupações normativas da política ao campo da moralidade privada. A política teria sido 
destituídado seu componente ético para assumir uma concepção essencialmente instrumental, 
voltada para a realização de interesses privados definidos independentemente da discussão pública. 
Os interesses seriam previamente constituídos, sem vínculo ou raiz social, minimizando a 
importância da esfera pública para o desenvolvimento das virtudes cívicas necessárias ao 
funcionamento do bom governo. Isso teria esvaziado a noção de cidadania baseada na propensão 
natural dos cidadãos de juntar-se com os seus iguais para definir a ação coletiva necessária à 
realização do bem almejado pela comunidade política, o que teria culminado em um 
descomprometimento político. 
A solução, na visão comunitarista, seria retornar ao conceito cívico-republicano do bem 
público, buscando o bem comum como uma dimensão que se sobrepõe aos interesses privados. 
Porém, essa realidade só seria alcançada com a participação direta e ativa dos cidadãos no processo 
de tomada de decisões coletivas, num modelo de cidadania mais ativo. Essa prática é inconcebível 
dada a complexidade da sociedade atual, pois pressupõe que as divergências de interesses não afetam 
nas decisões de governo. Além disso, sufocaria conquistas da revolução democrática como as 
liberdades individuais e a noção de sociedade civil como expressão da diversidade de interesses que 
dá origem a objetivos políticos divergentes. 
Em face dos limites tanto do modelo liberal como da concepção comunitarista, alguns autores 
argumentam que uma concepção de cidadania adequada às exigências das sociedades complexas 
contemporâneas – desiguais, diferenciadas e reestruturadas por novos processos de produção e 
comunicação derivados da globalização – tem de articular as conquistas da revolução democrática 
dos três últimos séculos com aspectos da tradição cívico-republicana. A dimensão pública nesse 
sistema corresponde ao processo de construção da ação política como resposta a dilemas coletivos 
reconhecidos como tal pela comunidade política em que os cidadãos compartilham não a presunção 
de um consenso prévio, mas o compromisso derivado da decisão de reconhecer como legitimas as 
suas diferenças e de associar-se em função de sua decisão de agir em comum para alcançar objetivos 
públicos. 
Essa prática cívica, designada como República, estabelece as regras e as práticas que os 
cidadãos aceitam subscrever para agir em comum. A ação coletiva em tais condições envolve a 
divisão e o antagonismo da sociedade e inclui um complexo de normas, procedimentos e instituições 
cujo objetivo é regular o modo dos cidadãos reconhecerem e resolverem suas diferenças. Diferente 
da concepção usual, de que o império da lei é suficiente para legitimar a associação política 
necessária à garantia da liberdade e da igualdade, importa agora o conteúdo normativo de regras e 
instituições adotadas e isso, em última análise, está no centro da relação entre cidadãos e a esfera 
pública. 
A Questão da Confiança – a crescente complexificação da vida que caracteriza o mundo 
globalizado, interdependente e crescentemente condicionado por avanços tecnológicos implica em 
conhecimento limitado sobre os processos de tomada de decisões coletivas e as ações de governos 
que afetam a vida das pessoas. A velha demanda por coordenação social que está na origem do 
Estado Moderno se re-atualizou. 
Entretanto, para deixarem-se coordenar as pessoas precisam ter capacidade de previsão sobre 
o comportamento dos outros e sobre o funcionamento das regras, normas e instituições que 
condicionam esse comportamento – cujos efeitos afetam a sua vida. 
A resposta para essa situação seria a confiança, podendo ela ser interpessoal ou política. A 
primeira abrangeria as situações em que interesses mútuos, que geram benefícios comuns e eliminam 
os danos derivados de abuso de confiança, podem ser mobilizados. Para autores como Tocqueville a 
confiança interpessoal origina-se com base numa experiência social e em valores compartilhados, a 
qual favorece a disposição das pessoas para agir em comum, o que, por sua vez, levaria à 
acumulação de capital político favorável ao funcionamento do regime democrático. 
Tal ponto de vista tem que enfrentar a contradição de que a democracia nasceu justamente da 
desconfiança de que quem tem poder não é confiável, e de que os procedimentos usados para mantê-
lo precisam ser controlados para se evitar seu abuso. Ou seja, a democracia implica em supervisão e 
monitoramento do exercício do poder pelos cidadãos. Nesse caso, como falar em confiança política?
Outra idéia parte da premissa de algo como uma confiança negativa. Na impossibilidade de 
garantia absoluta de que o conflito de interesses divergentes possa ser resolvido pacificamente, a 
democracia moderna institucionaliza regras, normas e instituições que asseguram um padrão 
civilizado de competição política. Até mesmo porque para funcionar a democracia requer um grau 
razoável de confiança, por exemplo, na aceitação do pluralismo ou sobre o funcionamento dos 
procedimentos democráticos. 
As instituições não são neutras, mas mecanismos de mediação política informados por 
valores derivados das escolhas que a sociedade faz para enfrentar seus desafios políticos. Confiar em 
instituições não é a mesma coisa que confiar em pessoas, de quem se espera reciprocidade, 
indiferença ou hostilidade; é reconhecer a sua função permanentemente atribuída pela sociedade. 
Assim, a confiança política dos cidadãos depende de uma estrutura institucional que possibilite que 
eles conheçam, recorram ou interpelem os fins últimos das instituições – fins aceitos e desejados pela 
sociedade. 
Por fim, as experiências dos cidadãos que influem sobre a confiança política estão associadas 
com a vivência de regras, normas e procedimentos que decorrem do princípio de igualdade de todos 
perante a lei. Quando prevalece a ineficiência ou a indiferença institucional diante de demandas para 
fazer valer direitos assegurados por lei ou generalizam-se as práticas de corrupção, de fraude ou de 
desrespeito ao interesse público, instala-se uma atmosfera de suspeição, de descrédito e de 
desesperança, comprometendo a aquiescência dos cidadãos à lei e às estruturas que regulam a vida 
social; floresce, então, a desconfiança e o distanciamento dos cidadãos da política e das instituições 
democráticas. 
As diferentes tradições de cidadania podem ser estudadas de acordo com dois eixos 
analíticos. O primeiro indica a direção do movimento que produz a cidadania: de baixo para cima ou 
de cima para baixo. Exemplos de cidadania construída de baixo para cima são as experiências 
históricas marcadas pela luta por direitos civis e políticos, afinal conquistados ao Estado absolutista. 
Exemplos de movimento na direção oposta são os países em que o Estado manteve a iniciativa da 
mudança e foi incorporando aos poucos os cidadãos na medida em que ia abrindo o guarda-chuva de 
direitos. O outro eixo tem a ver com a dicotomia público-privado. A cidadania pode ser adquirida 
dentro do espaço público, mediante a conquista do Estado, ou dentro do espaço privado, mediante a 
afirmação dos direitos individuais, em parte sustentados por organizações voluntárias que constituem 
barreiras à ação do Estado.
Os dois eixos dão lugar a quatro tipos de cidadania. O primeiro é a cidadania conquistada de 
baixo para cima dentro do espaço público, representado pela trajetória francesa. A cidadania seria aí 
fruto da ação revolucionária e se efetivaria mediante a transformação do Estado em nação. No 
segundo, a cidadania seria também obtida de baixo para cima, mas dentro do espaço privado, como 
no caso norte-americano. O terceiro tipo refere-se a casos de cidadania conquistada mediante a 
universalização de direitos individuais (espaço público), mas com base em concepção do cidadão 
como súdito. Corresponderia ao caso inglês após o acordo que restaurou a monarquia. Finalmente, 
uma cidadania construída de cimapara baixo dentro de espaço privado poderia ser encontrada na 
Alemanha. Neste último caso, ser cidadão seria quase sinônimo de ser leal ao Estado. O cidadão 
alemão teria sido criado pelo Estado e não teria a energia associativa do cidadão norte-americano.
Quanto à cultura política também há quatro tipos: a paroquial (ou localista), a súdita, a 
participativa e a cultura cívica, seria a combinação dos três anteriores. A cultura paroquial é definida 
como completa alienação em relação ao sistema político, como redução das pessoas ao mundo 
privado da família ou da tribo. A cultura súdita seria aquela em que existe um sistema político 
diferenciado com o qual as pessoas se relacionam, no entanto, o relacionamento limita-se a uma 
percepção dos produtos de decisões político-administrativas. A cultura participativa acrescentaria 
uma percepção do processo decisório em si e uma visão do indivíduo como membro ativo do 
sistema. 
Na França, o surto revolucionário possibilitou aos cidadãos apoderarem-se do Estado e 
definir a cidadania de maneira universal, além dos limites do próprio Estado-nação. No caso 
brasileiro, a centralidade do Estado não indica seu caráter público e universalista. Isto porque, de um 
lado, o Estado coopta seletivamente os cidadãos e, de outro, os cidadãos buscam o Estado para o 
atendimento de interesses privados. Parece, portanto, que nosso lugar dentro da tipologia seria 
melhor definido ao lado da Alemanha.
Mas a solução ainda é insatisfatória de vez que subsistem diferenças importantes entre as 
cidadanias alemã e brasileira. A forte identidade nacional alemã, concebida em termos étnicos de 
germanidade, e a tradição de obediência rígida ao poder e às leis, segundo alguns de origem luterana, 
estão ausentes de nossa cultura, muito mais fragmentada e quase cínica em relação ao poder e às leis. 
Entre nós a grande dependência em relação ao Estado e o extremado legalismo se contrapõem à 
atitude freqüentemente desrespeitosa e anarquizante diante do poder e das leis. O privatismo 
brasileiro no século XIX estaria, então, mais próximo do paroquialismo do que o privatismo alemão, 
podendo este último enquadrar-se numa cultura súdita. Diante disso basta que a cidadania brasileira 
foi construída de cima para baixo.
Tipo e percurso brasileiro – nossa tradição oitocentista está mais próxima de um estilo de 
cidadania construída de cima para baixo, em que predominaria a cultura política súdita, quando não a 
paroquial. O tema da centralidade do Estado aparece reiteradamente, o que aponta para a importância 
do esforço de construção do Estado nacional no período pós-independência, assim como a 
consciência da tradição estatista que herdamos.
Os publicistas de 1800 tinham uma visão mais ampla da cidadania do que aquela que temos 
hoje. Pimenta Bueno via na cidadania ativa bem mais do que o direito de votar e ser votado. Segundo 
ele, cidadão político, ou ativo, era aquele que podia participar do exercício dos três poderes, que 
podia exercer a imprensa política, formar organizações políticas, dirigir reclamações e petições ao 
governo e resistir à ação ilegal das autoridades. Entre os direitos de participar do exercício dos três 
poderes, deve-se salientar o de ser jurado, participando de modo direto do exercício do poder 
judicial, participação mais freqüente e mais intensa, para os sorteados, do que aquela representada 
pelo exercício do voto. 
Pimenta Bueno acrescenta ainda, como direito político importante, a participação direta no 
poder judicial possibilitada pelo exercício da função eletiva de juiz de paz. A Constituição de 1824 
previa a existência de um juiz de paz, eleito pelo voto direto, em cada distrito do território nacional. 
O elenco de temas relevantes para a formação da cidadania política pode ser expandido para 
além do exercício de direitos. Se a cidadania é concebida como a maneira pela qual as pessoas se 
relacionam com o Estado, não há por que excluir de seu estudo o cumprimento de deveres cívicos 
como o serviço militar no Exército, na Armada e na Guarda Nacional. O cumprimento desses 
deveres requer contatos estreitos com instituições e autoridades do Estado e certamente contribui 
para a internalização de valores, positivos ou negativos, referentes ao poder público. Os estudos 
sobre o Exército e a Guarda Nacional, limitam-se a discutir o papel político dessas organizações, sem 
examinar seu possível impacto sobre o comportamento político de seus membros. Apesar disso, é 
conhecida a relação histórica entre o estado-nação moderno e a introdução do serviço militar 
universal e obrigatório. 
Nem mesmo um fenômeno marcante como as guerras têm merecido a devida atenção sob o 
ponto de vista aqui discutido. Não se pode pensar em nada mais dramático, e traumático, para o 
cidadão do que arriscar a vida para defender a pátria, do que ser submetido ao que foi corretamente 
chamado de imposto do sangue. A aceitação de uma entidade abstrata como a pátria como objeto de 
lealdade suprema, acima da família e de outros grupos primários, só pode constituir fator poderoso 
de criação de uma identidade nacional. Identidade nacional que tem sido reconhecida como 
ingrediente indispensável da cidadania. 
Outras intervenções estatais típicas do século XIX, sobretudo aquelas que visavam a 
aumentar o controle sobre a vida dos cidadãos, como o registro civil de nascimento, casamento e 
óbito e o recenseamento, constituem também momentos ricos para a análise da natureza da 
cidadania. Tais controles não têm caráter apenas negativo. O registro civil, por exemplo, é base legal 
para a reivindicação de vários direitos e para a celebração de contratos. 
Além da capacidade política de votar e ser votado, os principais pontos de contato entre o 
cidadão e o Estado no Brasil do século XIX foram a Guarda Nacional, o serviço militar, o serviço do 
júri, o recenseamento e o registro civil. Poderia ser acrescentada a incidência de impostos, sobretudo 
as tentativas de taxação direta da renda e da propriedade. 
Votantes – A legislação brasileira sobre eleições, na parte que se refere à amplitude do 
sufrágio, era das mais liberais da época se comparada à dos países europeus. A Constituição francesa 
de 1814 exigia para os votantes o pagamento de contribuição direta de 300 francos e idade mínima 
de 30 anos. A Constituição de 1824, que significou um pequeno retrocesso em relação à legislação 
que regeu as eleições para a Constituinte do ano anterior, exigia pequena renda de 100 mil-réis, 
proveniente de propriedade ou emprego, para se ter direito ao voto nas eleições primárias. A idade 
mínima era de 25 anos, exceto para os casados, oficiais militares, bacharéis e clérigos, para os quais 
o limite caía para 21 anos. Não havia restrições quanto ao grau de instrução, isto é, os analfabetos 
podiam votar, assim como os libertos. O voto era obrigatório. 
A conseqüência do liberalismo da Constituição foi que nas eleições primárias votava grande 
número de pessoas. Em 1872, os votantes chegavam a um milhão, o que correspondia a 13% da 
população livre. A participação era alta para a época, de vez que envolvia no exercício do voto 
metade da população adulta masculina. Acrescente-se que, a partir de 1875, os votantes recebiam um 
título de qualificação eleitoral, o primeiro documento de identidade civil introduzido no país. Esta 
situação promissora da cidadania política sofreu grande golpe em 1881, quando foi introduzida a 
eleição direta. Os analfabetos foram excluídos do direito de voto, a renda mínima passou para 200 
mil-réis. Os mais de um milhão de votantes de 1872 foram reduzidos a pouco mais de 100 mil.
Naturalmente, a prática eleitoral e o sentido do ato de votar estavam muito distantes da idéia 
de participação embutida na legislação. Críticos da época não se cansavam de denunciar as 
falsificações de atas, a violência contra adversários, a aberta interferência do governo, a compra de 
votos,a motivação puramente pessoal e material dos votantes. “O votante [...] de política só sabe do 
seu voto, que ou pertence ao Sr. fulano de tal por dever de dependência (algumas vezes também por 
gratidão), ou a quem lho paga melhor preço”. Mas críticas semelhantes eram feitas em muitos outros 
países, inclusive na Inglaterra onde, até a década de 60 do século XIX, além de ser reduzida, a 
participação eleitoral era também viciada pela tradição dos “burgos podres”. O cidadão político não 
nasceu adulto em lugar nenhum, exigiu período de aprendizado, mais longo ou mais curto 
dependendo do país.
Jurados –Esse tipo de participação, feito mediante o serviço do júri, foi importação de 
práticas da tradição anglo saxônica, incluída na Constituição de 1824 e regulamentada no Código de 
Processo Criminal de 1832. Para ser jurado, as exigências eram idênticas às dos votantes do segundo 
grau (renda de 200 mil-réis, 400 mil-réis nas cidades maiores). Requeria-se, no entanto, a capacidade 
de ler e escrever, o que reduzia drasticamente o número de cidadãos aptos para a função, de vez que 
apenas 16% da população era alfabetizada.
Na opinião do conservador Pimenta Bueno, o júri era o baluarte da liberdade política, uma 
barreira contra os abusos do poder, uma garantia da independência judiciária, um tesouro que era 
preciso preservar e aperfeiçoar. A prática esteve longe desse ideal. Os relatórios dos ministros da 
Justiça, sobretudo dos que eram ou tinham sido juízes, como Euzébio de Queiroz e Nabuco de 
Araújo, estão cheios de queixas relativas ao funcionamento do sistema. Em pequenos povoados, por 
exemplo, todos eram conhecidos — “todos são parentes, amigos ou inimigos, influentes ou 
dependentes” —, o que dificultava o anonimato e acarretava um alto número de absolvições, seja 
para proteger amigos e parentes, seja por receio de represálias dos inimigos. Ou, então, o júri podia 
funcionar como instrumento de vingança. Em causas que envolviam pessoas poderosas, os jurados 
simplesmente não compareciam aos julgamentos.
Muitas das críticas não se aplicavam apenas aos jurados. Os juízes municipais, de nomeação 
do governo, e os juízes de direito, funcionários de carreira, eram objeto de censura parecida. Muitos 
se ausentavam de seus termos e comarcas, pediam licenças injustificadas, ou declaravam-se suspeitos 
para evitar participar de julgamentos politicamente perigosos. Faltava a muitos “coragem civil” para 
enfrentar os poderosos locais. Muitos magistrados eram antes “clientes do que juízes dos homens 
ricos e poderosos das localidades do interior que lhes prestam casa gratuita, meios de condução e 
outros auxílios”.
Liberais e conservadores concordavam que a causa do mal provinha dos costumes e hábitos 
vigentes no país, da pouca ilustração, da falta de diversidade de interesses. Pimenta Bueno defendia o 
júri dizendo que os ataques que se lhe faziam eram dirigidos antes ao “estado moral da nação”. 
Cumpria atuar sobre os costumes, sobre a moral nacional, e não abandonar a instituição.
Guardas nacionais e soldados – A Guarda Nacional teve como modelo a Garde Nationale 
francesa, criada em 1789, às vésperas da tomada da Bastilha. O objetivo da Garde era colocar a 
defesa do país nas mãos dos proprietários, dos cidadãos ativos como definidos logo depois pela 
Constituição de 1791. No Brasil, de início, os fins eram semelhantes. Criada em 1831, em meio a 
grandes agitações políticas, a Guarda deveria servir de proteção contra a anarquia que tomava conta 
do Exército e contra as revoltas populares que pipocavam em várias capitais. As exigências para ser 
membro da instituição eram bastante flexíveis, na realidade quase idênticas às estabelecidas para os 
votantes: l00 mil-réis de renda (200 mil-réis nas quatro maiores cidades) e idade entre 21 e 60 anos. 
A partir de 1850, a renda exigida foi uniformizada em 200 mil-réis e a idade mínima baixou para 18 
anos. Os liberais saudaram a Guarda como a milícia cidadã, como a democratização do Exército, 
assim como os juízes de paz e o júri seriam a democratização da Justiça e as eleições a 
democratização do Poder Executivo. Votantes, jurados e guardas nacionais seriam os cidadãos ativos 
do novo país.
A Guarda tinha inicialmente outra característica que lhe aumentava o caráter democrático: os 
oficiais eram eleitos pelos guardas. Esta característica era quase revolucionária para o Brasil da 
época e tornava a organização independente do governo. Em 1850, todos os postos de oficiais 
passaram a ser de nomeação do governo, que com isto adquiriu moeda fortíssima para negociar a 
lealdade dos senhores de terra. Daí em diante, a hierarquia da Guarda refletiu fielmente a hierarquia 
social.
O sentido político mais profundo da Guarda Nacional estava sem dúvida na cooptação dos 
proprietários pelo governo central. Ela, ou melhor, seu oficialato, foi o principal instrumento da 
construção da nação política, a nação limitada aos setores que tinham efetiva voz política. A 
socialização política misturava-se com a experiência de um reforço da autoridade dos “coronéis”, era 
uma socialização contaminada pelo privatismo. 
Muito distinta era a situação dos soldados do Exército. Embora os exércitos nacionais 
também tenham sido fruto da Revolução Francesa, no Brasil nunca se deu a ligação entre cidadania e 
serviço militar. Havia geral repugnância, se não pavor, ao serviço militar. Um decreto de 1835 
ordenava que em caso de não haver Voluntários, seria feito recrutamento forçado, o recruta seria 
conduzido preso e mantido em segurança até se conformar com a situação.
O serviço militar contribuiu pouco, ou nada, para a educação cívica por causa da maneira 
como era feito e pelo reduzido número de pessoas envolvidas. O efetivo legal do Exército, em época 
de paz, durante a segunda metade do século não ultrapassava 15 mil homens. Estes homens não eram 
cidadãos ativos: a lei proibia que praças de pré votassem.
Neste sentido, os soldados diferiam radicalmente de votantes, jurados e guardas nacionais: 
eram cidadãos inativos. A persistência do castigo físico, mesmo depois de abolido pela lei, indicava 
que aos soldados se negavam até mesmo direitos civis básicos como o da integridade física. Nisto, os 
soldados se aproximavam dos escravos e não foi por acaso que os marinheiros que se rebelaram em 
1910 contra o uso da chibata falaram em eliminar restos de escravidão.
Diferente situação foi a do contexto da Guerra do Paraguai, importantíssima para a formação 
de uma identidade nacional entre brasileiros, desde os habitantes da Corte até os das mais longínquas 
povoações. O surgimento de um inimigo comum despertou um sentimento de patriotismo nunca 
antes verificado. O hino nacional e a bandeira foram valorizados, o Imperador apareceu como chefe 
da nação, surgiram os primeiros heróis militares. Na música e na poesia popular o patriotismo foi 
exaltado, a pátria passou a disputar com a família a lealdade dos jovens, o Brasil passou a ser uma 
realidade concreta. Foi particularmente importante a participação dos negros livres e libertos, 
assim como dos libertados com o fim de serem recrutados. A situação dos libertados era irônica. 
Pedia-se a não-cidadãos, não só no sentido político como civil, que fossem lutar pela pátria que os 
escravizava. No entanto, eles foram em bom número. Os negros, livres ou libertos, formavam a 
maioria das tropas. Para os ex-combatentes negros, a guerra tinha representado a experiência de luta 
lado a lado com outros brasileiros, em defesa de uma pátria a que agora tinham conquistado e direito 
de pertencer. É de supor que tenha sido forte a marca sobre o sentimento cívico dessas pessoas.
Acrescente-se, ainda, a visibilidade alcançada por algumas mulheres, este outro setor da 
população totalmente excluído da cidadania ativa. Além de enfermeiras que se destacaram, houve o 
caso de Jovita Feitosa que, fazendo-se passar por homem, alistou-se como sargento para participarda 
luta como combatente. Segundo dizia, pretendia vingar-se das injúrias cometidas pelos paraguaios 
contra as brasileiras. Descoberta sua identidade, teve assim mesmo o alistamento aceito pelas 
autoridades provinciais. Recebeu inúmeras homenagens, tornou-se heroína nacional. Enfim, a guerra 
fez com que ex-escravos, mulheres e soldados, quase a soma dos cidadãos inativos, tivessem pela 
primeira vez um lugar ao sol no mundo real e simbólico da política.
Cidadãos em negativo – O avanço do Estado oitocentista na direção de cooptar e regular a 
sociedade provocava também reações negativas. Três iniciativas despertaram de modo especial a ira 
da população: o alistamento militar, o registro civil e a introdução do sistema métrico. 
A reação contra o alistamento propriamente dito deu-se a partir da aprovação da lei de 
setembro de 1874, regulamentada em fevereiro de 1875. Seriam incluídos no alistamento os homens 
de 19 a 30 anos que não se beneficiassem de alguma isenção. Já no ano de 1875 houve revoltas em 
oito províncias. Grupos de 50 a 400 pessoas invadiam as igrejas durante as reuniões das juntas e 
rasgavam listas, livros e exemplares da lei, resultando não raro mortes de ambos os lados. Em alguns 
casos, a ira popular não poupou nem mesmo as imagens dos santos nas igrejas. Os grupos eram 
formados de homens e mulheres. A reação foi mais forte em Minas Gerais, a província mais 
populosa, onde se deram revoltas em muitas freguesias. Os revoltosos foram descritos como sendo 
na maioria analfabetos. Os distúrbios repetiram-se em 1878, 1882, 1885, 1887.
A reação ao registro civil foi menos intensa, mas merece referência. Em 1850, o governo fez 
aprovar uma lei que mandava fazer o primeiro censo demográfico do país e introduzia o registro civil 
de nascimentos e óbitos. Os registros deviam ser feitos pelos escrivães dos juízes de paz. O batismo 
religioso era mantido, mas deveria ser realizado após o registro civil. A lei foi regulamentada em 
1851 e deveria ser executada a partir de janeiro de 1852. Desde o final de 1851, começaram reações 
violentas. A população, incluindo homens e mulheres, ameaçava e expulsava juízes de paz e seus 
escrivães, invadia igrejas para impedir a leitura do regulamento, desarmava a força policial. A reação 
forçou o governo a paralisar o trabalho de registro já em 1852, assim como a suspender o censo. Este 
último só foi feito em 1872, e novo decreto regulando o registro civil, agora incluindo o registro de 
casamentos, foi aprovado em 1874. 
A introdução do novo sistema de pesos e medidas provocou revolta mais séria. O sistema 
métrico foi adotado por lei em 1862, com prazo de dez anos para vigência. Em 1871 houve uma 
primeira reação no Rio de Janeiro, quando pesos e medidas foram quebrados e destruídos pela 
população, dando origem à expressão “quebra-quilos”. A reação rural veio em 1874 nas províncias 
de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Multidões de até 800 pessoas invadiram 
feiras para destruir os novos padrões, atacaram câmaras municipais, coletorias e cartórios, para 
destruir documentos públicos, assaltaram cadeias para soltar presos.
Em todos esses movimentos, e em outros ainda maiores que se deram após a queda do 
Império, como a guerra de Canudos de 1897 e a revolta da Vacina de 1904, não se pode dizer que 
houve arbítrio da parte do governo, pelo menos até que a revolta se estabelecesse. Tratava-se de 
iniciativas que todos os Estados iam tomando à medida que burocratizavam e secularizavam os 
serviços públicos retirando-os das mãos da Igreja e dos grandes proprietários. Algumas dessas 
iniciativas, como a do registro civil, eram condição para a garantia judicial de vários direitos civis e 
mesmo de direitos políticos. Mas eram ao mesmo tempo mudanças que interferiam no cotidiano dos 
cidadãos, alteravam comportamentos tradicionais, aumentavam o controle do governo e despertavam 
insegurança. Elas estendiam as malhas do governo e tiravam as pessoas de seu mundo privado, 
colocando-as dentro do campo da cidadania civil. Representavam a criação de cidadania de cima 
para baixo. As reações a elas não podem, no entanto, ser consideradas simplesmente como recusa de 
cidadania. Elas eram sem dúvida recusa de uma regulação vinda de cima, sem consulta e sem 
respeito por costumes e valores tradicionais. Dizendo não, os rebeldes estavam de alguma maneira 
afirmando direitos, estavam fazendo política para garantir direitos tradicionais. Não deixava de ser 
um tipo de cidadania, embora em negativo.
Que cidadão? – Da exploração preliminar aqui feita pode-se, no entanto, inferir que uma 
vasta transformação aconteceu no campo da cidadania durante o século. Grande número de 
brasileiros que durante a colônia se mantinha totalmente afastados da vida pública, presos a seu 
mundo privado, saíram de seu paroquialismo e passaram a se relacionar com o Estado. Eles o 
fizeram, sem dúvida, nas eleições, posto que desordenadamente e tumultuadamente. Mas o fizeram 
também ao servir na Guarda Nacional, no júri, no Exército e na Armada, e ao lutar na defesa do país; 
eles o fizeram ainda ao serem contados no censo e ao terem que procurar agentes do governo para 
registrar os principais acontecimentos de suas vidas. No mínimo, pode-se dizer que muitos se 
tornaram conscientes da presença do Estado; em alguns foi despertada a consciência da nação como 
comunidade de pertencimento. Na terminologia que venho usando, pode-se dizer que passaram do 
paroquialismo para a condição de súditos.
Não é difícil apontar razões sociológicas para explicar a diferença na cidadania brasileira. 
Entre elas, a escravidão, que negava a cidadania, mesmo civil, a boa parte da população; o 
patriarcalismo, que a negava às mulheres; o latifúndio que fazia o mesmo com seus dependentes. 
Como vimos, os membros mais esclarecidos da elite política e da burocracia queixavam-se 
constantemente dos obstáculos à operação das instituições importadas. Referiam-se aos costumes, ao 
estado moral do país, à falta de luzes e ilustração, ao baixo nível de educação e civilização, à 
influência dos potentados locais, à ausência de uma opinião pública. Referiam-se, enfim, a uma 
sociedade que mal começava a engatinhar na vida civil e política. 
No episódio da guerra é possível mesmo que o Estado, ou pelo menos os símbolos nacionais 
que ele administrava, tenham exercido alguma atração. Mas, pelo resto, a cara do Estado que a 
população viu era pouco atraente, como no serviço da Guarda, na exigência de registro civil, no 
recenseamento. Em alguns casos ela era repulsiva. As leis reformadoras e os novos deveres cívicos 
introduziam na vida cotidiana mudanças cujo sentido não era compreendido. 
Nesse sentido é que foi usada a expressão de cidadãos em negativo. Havia um potencial de 
participação que não encontrava canais de expressão dentro do arcabouço institucional e que, 
também, não tinha condições de articular arcabouço alternativo. O brasileiro foi forçado a tomar 
conhecimento do Estado e das decisões políticas, mas de maneira a não desenvolver lealdade em 
relação às instituições.
A Geração De 1790 E A Idéia Do Império Luso-Brasileiro
Autor: MAXWELL, Kenneth. Chocolate, Piratas e Outros Malandros. Ensaios Tropicais. São 
Paulo: Editora Paz e Terra, 1ª edição, 1999, pp. 157-207.
As mudanças ocorridas entre 1796 a 1808 nas atitudes dos brasileiros e portugueses iriam 
repercutir profundamente no desenvolvimento subseqüente da América portuguesa.
Durante a visita de Thomas Jefferson, em 1786, à França, recebeu uma carta da Universidade 
Montpellier assinada apenas com o pseudônimo Vandek. Depois de conseguir um canal seguro de 
comunicação, Vandek revelou ser brasileiro pedindo auxílio aos EUA para quebrar o julgo português 
no Brasil. Vandek, José Joaquim Maia e Barbalho marcou encontro secreto com Thomas Jefferson 
próximo a Nêmes; Era do Rio de Janeiro e estudava Medicina em Montpellier e fazia parte deum 
grupo de estudantes que durante os primeiros anos da década de 1780 uniram-se em Coimbra 
jurando trabalhar pela independência de sua Pátria.
O relato da resposta encorajadora chegou ao Brasil traduzido por Domingos Vidal Barbosa. 
Assim como Maia e Vidal Barbosa, outros estudantes das Universidades de Coimbra e Montpellier, 
nascidos no Brasil eram influenciados pelos escritos do abade Raynal que exerceu influência 
dominante sobre o pensamento de muitos brasileiros educados na década de 1780. Sua Historie 
philosophique et politique des établissements et du commerce des Européens dans le deux Indes, 
continha um extenso relato sobre o Brasil e descrevia Portugal em tom de desprezo condenando a 
influência política e econômica britânica sobre Portugal, recomendando que os portos brasileiros 
fossem abertos ao comércio das nações.
Mesmo nos confins mais longínquos da América portuguesa divulgava-se as idéias e as 
opiniões subversivas para o sistema colonial português. Minas Gerais era tida como líder potencial 
da futura colônia emancipada havendo se tornado centro cultural. Entre os brasileiros natos de cor 
branca havia uma elite altamente letrada e desses uma maioria eram mineiros; Assim como Cláudio 
Manuel da Costa, um advogado de posses de Vila Rica que havia sido nomeado secretário do 
governo de Minas, cargo que ocupou duas vezes. 
A casa do poeta Cláudio Manuel da Costa era um local de reuniões para os intelectuais da 
capitania tais como: Tomás Antônio Gonzaga, um legalista ambicioso ouvidor de Vila Rica,Ignácio 
José de Alvarenga Peixoto, ouvidor de São João del Rei e Luis Vieira, cônego da catedral de 
Mariana, sede episcopal de Minas Gerais.
O círculo de Vila Rica não era o único grupo de homens inteligentes e de idéias semelhantes 
que se reuniam informalmente para discutir poesia, filosofia e os acontecimentos na Europa. Em São 
João del Rei e em outras partes da Capitania também se reuniam advogados e escritores.
Letrada e de mente aberta a elite intelectual de Minas Gerais mostrou-se criativa e original: 
Cláudio Manuel da Costa, no poema épico Vila Rica; Alvarenga Peixoto em seu canto gentílico. 
Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e o cônego Luis Vieira envolveram-se numa conspiração para 
fomentar um levante armado contra a Coroa portuguesa em fins de 1788 e início de 1789.
A Revolução Americana foi considerada pertinente porque os conspiradores viram nela 
semelhanças notáveis com os grandes tributos exigidos pelo governo português e a derrama sobre a 
população mineira. A intenção era criar um estado republicano e constitucional em Minas com 
Parlamentos, Universidade e revogação de todas as leis e códigos do papado.
Não está claro até que ponto as instituições copiavam as da América do Norte. Gonzaga 
imortalizou nas suas “Cartas Chilenas” a polêmica entre ele e o governo mineiro de Luis da Cunha 
Menezes sobre os perigos de um poder arbitrário.
A conspiração mineira foi traída, mas se projetou num contexto mais amplo. Nenhuma 
conspiração anterior tivera motivações tão conscientemente nacionalistas e anti-colonialistas, vindas 
de um grupo social no qual o governo confiava, inspirados no exemplo da América do Norte e na 
teoria política da época, ousaram questionar o inquestionável.
A conspiração mineira ocorreu num momento especial, o plano foi tramado antes da 
Revolução Francesa. A relação cronológica da conspiração mineira é importante. Os oligarcas de 
Minas acreditavam que podiam manipular a vontade popular tomando como exemplo a Revolução 
americana sem levar em consideração as repercussões espetaculares da Revolução Francesa nas 
Américas. A independência de São Domingos (Haiti),representou um terrível despertar para os 
senhores de escravos que haviam falado de república e revolta sem perceberem as conseqüências 
sociais e raciais.
A revolta dos artesãos mulatos da Bahia no decorrer de 1798 teve impacto social, pois 
demonstrou o que alguns brancos já haviam percebido: as idéias de igualdade social propagadas 
numa sociedade onde apenas um terço da população era branca, seriam interpretadas em termos 
raciais. João de Deus e seus compatriotas foram inspirados nos sans-culottes.
Ao contrário, a liberdade que os fazendeiros desejavam era a liberdade sobre o preço do 
açúcar “a liberdade de ganhar o maior lucro com seu trabalho”. A liberdade para iniciativa 
capitalista, não era a liberdade de João de Deus. Como Dom Fernando percebeu, os principais 
opositores das reivindicações dos mulatos da Bahia, seriam os grandes fazendeiros baianos, que 
lucravam com os altos preços alcançados pelo açúcar, fazendo-os explorar todas as terras disponíveis 
no cultivo da cana-de-açúcar, em detrimento das lavouras de subsistência.
O professor Luis dos Santos Vilhena condenava os produtores de açúcar por deixarem de 
plantar mandioca em quantidade suficiente e advertia que isso poderia trazer o risco de grandes 
fomes. Afirmava também que haviam ”idéias européias” como o controle dos preços da carne e da 
mandioca era responsáveis pela carestia e que tais idéias não deveriam ser aplicadas no Brasil e que 
deveria ser dada maior atenção aos fatores locais. As tais “idéias européias” eram de Adam Smith e 
J.B Say. Ambos os economistas foram usados por João Rodrigues de Brito e Manuel Ferreira da 
Câmara para documentar e justificar sua rejeição a interferência do Estado na regulamentação da 
produção e no controle dos preços. Para eles a ingerência do Estado deveria limitar-se a três pontos: 
liberdade, facilidades (serviços públicos) e instrução (ensino). 
O ponto de vista dos grandes agricultores não estava em desacordo com interesses de 
Portugal. Enquanto o alferes Joaquim da Silva Xavier afirmava que uma vez liberto e tornado uma 
república como a América Inglesa, o Brasil poderia tornar-se ainda maior por causa dos seus recursos 
naturais melhores. Também havia brasileiros menos estreitamente ligados aos interesses dos 
plantadores de açúcar que chegaram à conclusão de que a questão básica era a escravatura em si.
A sugestão de emancipação dos escravos era anátema para os grandes plantadores de açúcar. 
O que aconteceria com a agricultura do Brasil e conseqüentemente com o comércio e a prosperidade 
de Portugal se a escravidão fosse abolida? Para Azeredo Coutinho a necessidade não tem lei e a 
necessidade exigia a continuidade da escravidão.
Ninguém estava propondo a abolição imediata, mas um pequeno grupo de homens estava 
começando a ver a escravatura como fonte das mazelas sociais do Brasil e pensando em termos de 
um modelo alternativo para o desenvolvimento brasileiro, no qual a imigração européia e os 
trabalhadores livres substituiriam os escravos. 
A questão da escravatura era tomada não com objetivos humanitários, mas porque desejavam 
ver os negros eliminados, já que o acontecido em São Domingos consolidou os preconceitos de José 
da Silva Lisboa que os expressou publicamente:”... O progresso de São Paulo, Rio Grande do Sul era 
devido à raça branca...deveria evitar-se que o Brasil se tornasse uma negrolândia”.
Novaes de Almeida e Vilhena viam a população negra como inimigos dentro de casa e José 
da Silva Lisboa acreditava que o Brasil não ia se desenvolver sem a criação de uma forma de 
trabalho livre e sem a europeização ou embranquecimento da população.
Depois do fracasso do republicanismo no aborto da revolta mineira e pelas associações 
sociais e raciais os brasileiros discordavam sobre questões fundamentais, abrindo espaço para uma 
solução de compromisso com a metrópole. Em termos psicológicos a situação era propicia à 
acomodação, o que produziu impacto no futuro desenvolvimento do Brasil.
Em 1788, Luis Pinto de Sousa Coutinho tornou-se ministro das relações exteriores de 
Portugal, de volta a Lisboa entrou em contato com intelectuais brasileiros, enviando Luis Pinto, dois 
jovens brasileiros e um colega português a tour de instrução pela Europa (Manuel Ferreirada 
Câmara e José Bonifácio de Andrada e Silva). Manuel Ferreira tinha vínculos com os acontecimentos 
de Minas Gerais, mas isso não foi impedimento já que Luis Pinto tinha visão política.
Nas observações de Manuel Ferreira da Câmara recomendava que as empresas de mineração 
fossem incentivadas e que não deveria ser monopólios, mas empresas, organizações capazes de 
mobilizar capital. Os trabalhos tanto de Dom Rodrigo, quanto de Manuel Ferreira sugeriam que as 
imposições fiscais sobre Minas Gerais haviam sido um erro e que necessitavam de reformas e 
moderna tecnologia.
Com a Revolução Francesa as conseqüências geopolíticas para Portugal ameaçavam ser uma 
escolha para as grandes potências. Dom Rodrigo percebeu mais agudamente a oportunidade 
oferecida pelas circunstâncias e a necessidade de reformas esclarecidas, ele aconselhou a coroa a 
conservar seus domínios na América sem os quais Portugal se veria reduzido a si só, sendo reduzido 
a uma província de Espanha.
Em 1780, Dom Rodrigo implementou as reformas que tanto anelava: foi abolido o monopólio 
do sal e permitida a manufatura do ferro e nesse ínterim a guerra na Europa forçou Portugal a 
escolher, o que Dom Rodrigo havia previsto. 
Em 1807, teve início o confronto entre Grã-Bretanha e França em relação a Portugal. Dom 
Rodrigo foi chamado de volta ao governo e o fato de Dom João ter chegado ao Brasil tão bem 
preparado foi de grande importância para o sucesso do estabelecimento da monarquia na América 
portuguesa. A colaboração entre os intelectuais brasileiros e os ministros esclarecidos, produziu uma 
idéia imperial de inspiração luso-brasileira que foi além do nacionalismo em direção a uma solução 
mais ampla de caráter imperial tentando desarmar as tensões Metrópole-Colônia.
Se o Brasil de fato foi feliz em sua solução monárquica, sendo poupado das agonias porque 
passou a América espanhola durante o século XIX parte da causa para tal, deve ser buscada não na 
falta de imaginação, instrução ou esclarecimento dos brasileiros,nem vagos atributos do caráter 
nacional, mas na perspicácia da geração de 1790, que emprestou racionalidade à análise dos 
problemas coloniais e com fé otimista projetou um grandioso conceito de império luso-brasileiro.
A Interiorização Da Metrópole (1808-1853)
A separação política do Brasil com a metrópole (1822) não coincidiu com a consolidação da 
unidade nacional (1840-1850), nem foi marcada por um movimento nacionalista ou revolucionário. 
Assim, será desvinculado o estudo do processo de formação da nacionalidade brasileira no correr das 
primeiras décadas do século XIX da imagem tradicional da colônia em luta contra a metrópole. 
Sérgio B. de
Hollanda refere-se á independência como uma guerra civil entre portugueses desencadeada aqui pela 
Revolução do Porto.
1.822 não teria tanta importância na evolução da colônia para o império. Já era fato 
consumado desde 1.808 com a vinda da Corte e a abertura dos portos e por motivos alheios à 
vontade da colônia ou da metrópole.
A preocupação de nossos historiadores em integrar o processo de emancipação política com 
as pressões do cenário internacional (pressões inglesas, invasões napoleônicas), contribui para o 
apego á imagem da colônia em luta contra a metrópole, deixando em esquecimento o processo 
interno de ajustamento às mesmas pressões que é o de enraizamento de interesses portugueses e, 
sobretudo o processo de interiorização da metrópole no centro-Sul da colônia. O fato é que a 
consumação formal da separação política foi provocada pelas dissidencias internas de Portugal.
A vinda da Corte, por si só, já havia causado uma ruptura. Os sacrifícios da época da invasão 
francesa fizeram criar ciúmes e tensões entre portugueses.
As tensões internas e inerentes ao processo de reconstrução e modernização de Portugal 
viriam exacerbar e definir cada vez mais as divergências de interesses com os portugueses no Brasil. 
A nova Corte, dedicada à consolidação de um novo império no Brasil, que deveria servir de baluarte 
do absolutismo, não conseguiria levar a bom termo as reformas moderadas de liberalização e 
reconstrução que se propôs executar no reino, aumentando as tensões que vão culminar na revolução 
do Porto.
Consumada a separação política, que aceitaram mas não quiseram, os políticos da geração da 
independência eram bem conscientes da insegurança, das tensões internas, sociais, raciais, da 
fragmentação, dos regionalismos, da falta de unidade que não dera margem ao aparecimento de uma 
consciência nacional que desse força a um movimento revolucionário capaz de reconstruir a 
sociedade. 
Essa consciência nacional viria através da integração das diversas províncias e seria uma 
imposição da nova Corte no Rio (1.840-1850) conseguida a duras penas através da luta pela 
centralização do poder e da “vontade de ser brasileiros” que foi talvez umas das principais forças 
políticas modeladoras do império; a vontade de se constituir e de sobreviver como nação civilizada 
européia nos trópicos, apesar da
sociedade escravocrata e mestiça da colônia, manifestada pelos portugueses enraizados no centro-sul 
e que tomaram a si a missão de reorganizar um novo império português. 
A dispersão e fragmentação do poder, somada à fraqueza e instabilidade das classes 
dominantes, requeriam a imagem de um estado forte que a nova corte parecia oferecer. As diretrizes 
fundamentais da historiografia brasileira já estão bem definidas, mas as peculiaridades da sociedade 
colonial precisam ser melhor elaboradas por estudos que nos permitam uma compreensão mais 
completa deste processo de interiorização da metrópole, que parece a chave para o estudo da 
formação da nacionalidade brasileira. 
A semente da integração nacional seria pois lançada pela nova corte como um prolongamento 
da administração e da estrutura colonial, um ato de vontade de portugueses adventícios, cimentada 
pela dependência e colaboração dos nativos e forjada pela pressão dos ingleses que queriam desfrutar 
do comércio sem ter que administrar. A insegurança social cimentaria a união das classes dominantes 
nativas com a “vontade de ser brasileiros” dos portugueses imigrados que vieram fundar um novo 
império nos trópicos. Aluta entre facções levaria fatalmente à procura de um apoio mais sólido no 
poder central. 
Os conflitos inerentes à sociedade não se identificam com a ruptura política com a mãe pátria, 
e continuam como antes sendo relegados para a postridade.
As tradições da colonização portuguesa e o afã de integração e conquista dos recursos 
naturais delineavam a imagem do governo central forte, necessário para neutralizar os conflitos da 
sociedade e as forças de desagregação internas.
Esta “tarefa” de reforma e construção absorveu os esforços dos ilustrados brasileiros a serviço 
da corte portuguesa e nela se moldaria a geração da independência. Não se deve subestimar as 
conseqüências advindas desse engajamento numa política de estado portuguesa; marcaria 
profundamente a elite política do primeiro reinado e teria influencia decisiva sobre todo o processo 
de consolidação do império, principalmente no sentido de arregimentação de forças políticas,pois 
proviria em grande parte daquela experiência a imagem do estado nacional que viria a se sobrepor 
aos interesses localistas. Algumas décadas após a independência (1.830-1.870) chegariam os 
ilustrados brasileiros a definir seu nacionalismo didático, integrador e progressista e uma consciência 
social eminentemente elitista e utilitária.
Os Pródromos Da Independência
1. A vida rural do começo do século XIX: a autarquia agrícola. Este item apresenta 
a situação do país no início do século XIX. Com a decadência das exportações, as unidades agrícolas 
tendem para um isolamento e auto-suficiência. 
Nesse contexto, as unidades agrícolas alteram seu modo de produção, que era baseado na 
exportação de sua produção monocultura e na importação dos demais gêneros. Passama produzir os 
gêneros antes importados, obrigados pela queda de receita
advinda da exportação. Apesar de a sociedade continuar girando em torno do proprietário rural, há 
uma alteração em sua formação. Antes esta era formada
basicamente pelo proprietário rural, sua família e agregados de um lado e escravos de outro. Agora, 
com a mudança na dinâmica produtiva, surgem camadas intermediárias, como os arrendatários. 
Nesse período, apesar do fortalecimento da influência local do proprietário rural, há uma diminuição 
de sua influência fora de sua região. O prestígio outrora haurido das implícitas delegações de
autoridade se transmuta no de senhor de um pequeno reino, que produz quase tudo.
Isolamento, menor dependência do exterior, confinamento às localidades do campo, esse o 
caráter rural do começo do século XIX. O comércio, fortemente vinculado ao estamento 
governamental, perde a supremacia absoluta nas fazendas. Ele se articula em antagonismo ao 
latifúndio, gravitando em torno da metrópole. Perde, de outro lado a hegemonia, com o crescimento 
dos comerciantes ingleses a partir de 1.808.
2. A transmigração e a frustrada reorganização política e administrativa. Em decorrência 
das invasões napoleônicas, a corte portuguesa se transfere para o Brasil, sustentáculo do reino, com 
ajuda inglesa. A resistência secular ao domínio inglês, esboroa-se, paradoxalmente, pelas armas de 
Napoleão.
Instalada no Rio de janeiro, organizou-se aqui um sistema político e administrativo idêntico 
ao que havia em Portugal, deixando de lado as necessidades do Brasil. Assim, desde logo, montou-se 
um sistema burocrático baseado no favoritivismo, com órgãos decorativos e dispendiosos. 
Com as tarifas privilegiadas aos ingleses em 1.810, o controle da economia deixa de ser 
possível, reduzindo o governo a mero cobrador de impostos. Desse modo, são tomadas medidas 
buscando esse controle, como a criação do Banco do Brasil, a fundação da siderurgia nacional, a 
liberdade industrial, a instituição do ensino superior. A monarquia portuguesa, rebelde à absorção 
estrangeira, voltou-se para a ex-colônia, numa obra quase nacionalista capaz de converte-la numa 
nação
independente.
Diante do forçado retraimento da classe mercantil, uma outra classe emerge: proprietários 
rurais de São Paulo, Rio e Minas. Atraídos pelo brilho da Corte passam a freqüenta-la. Entretanto a 
lua-de-mel durou pouco. A vacuidade das honrarias logo apareceram e com elas o irremediável 
confronto entre as duas nacionalidades. O obstáculo à fusão vem da ordem política e administrativa 
tradicional, incapaz de
absorver os nativos. 
Os fazendeiros desenvolvem a consciência de que eles são a nação e,
com isso, logo haveria confronto.
3. O dissídio e a transação. Ocorre conflito entre proprietários e a cúpula burocrática,
vinculada ao comércio urbano e internacional (de raízes portuguesas). A aliança entre propriedade 
agrária e liberalismo, visível nos demagogos letrados, ensaia seus primeiros passos. 
A revolução de 1.820 em Portugal aproxima a corte dos interesses brasileiros como 
imperativo de sobrevivência monárquica mas o elo era fraco, pois Portugal precisava do Brasil pra 
reanimar sua economia.
Com a fraqueza da burocracia civil e anemia do comércio luso, prenuncia-se uma nova 
aliança: D. Pedro, a agricultura e o comércio estrangeiro (inglês).
Em Portugal, as cortes manifestavam a intenção de recolonizar o país. A promessa aos 
representantes brasileiros (constituintes) de não tocar na organização do Brasil, não estava mais de 
pé. 
A iminência da volta de D. Pedro a Portugal abriria espaço para a república. Com isso, os 
fragmentos das diversas tendências e camadas – comércio nacionalizado, realistas, burocratas – se 
unem momentaneamente sob a liderança de D. Pedro, ressentido com a conduta da tropa portuguesa, 
sempre fiel às medidas das cortes. Sob a influência de José Bonifácio, paulista de família influente, 
mas
desvinculada de interesses agrários, com mentalidade formada na burocracia portuguesa, D. Pedro 
aceita o título de Defensor perpétuo do Brasil.
Em um ano, os dilemas – separação/reino unido, monarquia/república – perdem a sua 
agressividade explosiva. Uma transação ocupa o lugar das soluções extremas.
Sobre quatro colunas – SP, RJ, MG, RS – o centro de poder volta às
mãos do príncipe. O fim do consulado de Bonifácio (1822-23) indicará o retorno das normas 
estamentais de organização política mediante o mecanismo tutelador de uma constituição outorgada. 
Texto 4 -Visconde De Cairu
Introdução. O autor procura engrandecer a pessoa do Imperador, ressaltando que é uma 
pessoa de qualidades e que deve ser engrandecida pelos seus, mas que deve também assegurar a 
prosperidade da nação. É em auxilio a essa ultima tarefa que Visconde de Cairu tentará aconselhá-lo 
e dar-lhe uma diretriz.
Prólogo. Buscando defender o que considera “mais útil para o Reino”, Visconde considera 
necessário discutir a importância da Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, que decretou a abertura 
dos portos do Brasil. Sendo considerada por Visconde como meio para elevar o Estado a um maior 
grau de independência e riqueza.
Segunda Parte. (Nessa parte o autor busca engrandecer a Inglaterra, destacando as 
qualidades de seu comercio e dos métodos de produção adotados por esse país, faz isso para 
demonstrar que ela é um modelo a ser seguido. Além disso, procura justificar porque considera a 
Grã-Bretanha melhor que a França)
A franqueza do comércio com todas as nações é útil ao Brasil e imprescindível que façamos 
comercio com os ingleses, por necessidade, interesse, política e gratidão. 
O comércio com a Inglaterra é essencial, pois se não for permitido como franco e leal, 
instaurar-se-á um comércio clandestino e ilegítimo que privaria o Estado de muitas rendas, já que a 
costa brasileira é imensa e assim de fácil acesso para a prática de comercio clandestino.
Não se deve ser hostil aos ingleses, pois a pratica mercantil mostra que é mais vantajoso 
comerciar com os indivíduos de países ricos e industriosos que com indivíduos e países inertes e 
pobres.
Quanto mais uma nação pode oferecer em quantidade e variedade dos produtos e frutos de 
sua terra maior a facilidade de com ela efetuar-se trocas, isso impulsiona os demais países a 
prosseguir no respectivo trabalho e tráfico com intuito de acumular riquezas para posteriores trocas.
A superioridade da nação inglesa é atestada pelo fato de contar com negociantes de grosso 
capital, notório crédito, pontualidade nos ajustes, franqueza em dar abonos, fazer avanços, além de 
comprar muito, e com a possibilidade de emprestar e fiar a longos prazos.
A Inglaterra era a nação mais industrializada e rica da Europa, e isso provinha da “sua 
sabedoria e regularidade do seu anual trabalho produtivo”.
Para a sua indústria a Grã-Bretanha aproveita “todas as idades, capacidade, e estações, 
empregando em seu serviço os entes animados e inanimados”, ate mesmo a força da natureza, 
estando sempre presente o espírito de invenção e perfeccionismo. E isso torna suas mercadorias mais 
baratas e competitivas o que, junto com a sua riqueza para honrar seus compromissos, torna-a a 
melhor indústria.
Os ingleses procuram fabricar mercadorias em abundancia, de boa qualidade e baratas, de 
forma a lucrar mais com a facilitação do acesso ao consumo a grande parcela da população. O seu 
governo tem tudo subordinado aos interesses do comercio e da navegação que mantém e amplifica os 
demais ramos do geral trabalho da nação.
A Inglaterra tornou-se o centro do comércio mundial por aproveitar todos os meios 
disponíveis para alcançar todos os pontos da Terra de forma a estabelecer com eles comercio.
A análise dessas características inglesas é feita com o intuito de o Brasil buscar seguir os 
mesmo cominhos, pois, atesta o autor, que temos meios para isso se contarmos com uma “legislação 
iluminada e uma administração firme que consagrecomo máxima do Estado o crescimento franco e 
legal”. Outro objetivo é o de que a continuidade do comercio com os ingleses deve propiciar-nos 
uma maior habilidade na pratica mercantil, além de ser possível conseguir deles capital para expandir 
nossas indústrias e o comércio.
A contínua relação com os ingleses tende a produzir três efeitos:
• Dar saída aos nossos gêneros;
• Estender a nossa indústria;
• Inspirar-nos a imitação da sua língua e imitação de seu espírito público.
1. Os mercadores que vierem comerciar com o Brasil não hão de voltar com os navios vazios 
de modo a não perderem o frete do retorno, por isso é provável que importem os produtos de 
exportação do país.
2. É princípio econômico que a satisfação das necessidades não induz ao crescimento 
econômico e sim a busca pelo prazer e o gozo, pelo enriquecimento e independência, que 
levam, por conseqüência, a extensão e o aperfeiçoamento da indústria.
3. A literatura inglesa é grandiosa nos temas morais, econômicos, históricos, políticos, etc. Na 
coleção de memórias do Instituto Nacional de Paris, na classe de economia política encontra-
se um documento que explica o porque de os americanos terem preferido comerciar com os 
ingleses e não com os franceses, já que a opção mais provável seria os franceses uma vez que 
estes o ajudaram na libertação e aqueles o oprimiram, com eles guerrearam e tentaram reduzi-
los a uma forma de escravidão.
A justificação para essa escolha é que os EUA ambicionavam crescer rapidamente e a 
Inglaterra poderia fornecer todos os artigos manufaturados para suprir suas necessidades básicas e 
para serem empregados na produção para a exportação.
As causas desse monopólio( comércio EUA-Inglaterra) podem ser assinaladas como:1-a 
imensidade das obras que saem das oficinas inglesas;2-a divisão do trabalho nas manufaturas 
inglesas que barateia o custo dos artigos de uso comum;3-adiantamento de capitais e concessão de 
créditos a longo prazo, isso é possível devido ao estabelecimento de relações comerciais continuas 
entre os dois países que acabam por cobrir os débitos passados e permitem a concessão de novos 
créditos.
Os EUA em um curto período de tempo, e após ser devastado pela guerra de independência 
atingiu um considerável crescimento econômico, isso se deve ao fato de, alem de sua extensão e 
fertilidade, ter admitido francamente a importação de bens e mercadorias dos estrangeiros e também 
a de suas pessoas e indústrias úteis (por serem os braços e engenhos dos homens habilidosos e 
morais uns dos mais produtivos capitais das nações). Essa análise é importante na medida em que o 
Brasil, estando em situação favorável para a correspondência mercantil em todas as partes do globo, 
tendo boas terras e excelentes portos, compreendendo variedades de climas, cheio de produções e 
podendo naturalizar outras e possuindo riquezas naturais, também pode gozar desse crescimento 
populacional, de riquezas, de indústrias e potencia se adotar, com firmeza, política igual à americana.
Além dessas vantagens, o Brasil ainda goza da posição geográfica em frente à África o que 
pode, no futuro, constituir um importante entreposto comercial; também o sul da América está 
submetido às nossas especulações comerciais; outro fator a ser considerado é o de os portugueses 
terem mais estabelecimentos e vasto comercio no continente asiático o que aumentaria a 
possibilidade de ganhos; o Brasil também poderia representar um posto de escala para os 
estrangeiros que tivessem retornando da África ou da Ásia.
O estabelecimento de regulares companhias de seguro e bancos de desconto, franquias, casas 
de depósitos, com módicos direitos de baldeação e importação levarão ao crescimento da renda do 
Estado e do emprego do povo.
É necessária e útil a franqueza do comercio com os ingleses, pois desse modo participaremos 
da vantagem de seu comercio, e partilharemos da sua segurança, independência e força, além da 
honra e gloria. Sem uma aliança com a Inglaterra seria impensável a abertura dos portos brasileiros.
As relações comerciais são importantes, pois “quanto mais de uma ou outra parte crescer a 
população, riqueza e potência tanto haverá, na mesma proporção, maior progresso de fundos, forças 
e facilidades para o mútuo comércio, auxilio recíproco e perene complacência”.
Outra vantagem da aproximação com os ingleses é a proteção marítima que poderíamos 
lograr da “rainha dos mares”.
Visconde de Cairu não acredita que a França seja um modelo a ser seguido, crê, antes, que 
esse país não terá tanta prosperidade quanta o Inglaterra por buscar a subjugação dos países vizinhos 
e não sua amizade, por sua população ser “subversora” da ordem e não buscar a prosperidade de suas 
indústrias, não prezar pelas relações comerciais transparentes, por desacreditar na importância de 
uma esquadra marinha (que é imprescindível para o comercio com todo o globo), e ainda não prezar 
a boa-fé das relações, excitar guerras, corromper os gabinetes, buscar obter ganhos com contrabando 
e lucrar com a miséria e calamidade, pretendendo monopolizar o comércio do mundo subjugando as 
nações à força, o que levaria, não a seu crescimento, mas à miséria dessas nações, e ainda buscar, 
pela difamação e ameaça, denegrir a imagem da Inglaterra, não respeitar as leis, os usos, os climas e 
as opiniões dos homens das outras nações.
A aliança entre portugueses e a ingleses tem razoáveis motivos, e o governo britânico sempre 
deu sinais de seu respeito à independência da coroa portuguesa não intentando interferir nas 
instituições civis e religiosas, nem turbar a administração do Reino, não obstou ao estabelecimento 
de fábricas protegidas por tantas leis protecionistas. 
As vantagens que os ingleses tinham em virtude dos tratados não nos eram prejudiciais, pois 
incentivavam os ramos da indústria rural e mercantil, sendo eles os maiores compradores e 
pagadores dos nossos gêneros. Além disso, toda nação que celebra tratado busca, de alguma forma 
obter vantagens, por isso não se deve repugnar os ingleses por suas praticas, pois estavam apenas 
seguindo a lógica do mercado. Mas também é de se esperar que com essa nação tão esclarecida e 
liberal possam ser os tratados de comércio ajustados de acordo com as circunstancias sobre as bases 
da reciprocidade e observância dos direitos humanos das duas nações, portuguesa e inglesa.
Os ingleses, em momentos de aperto nosso, sempre nos socorreram com armas, naus e 
dinheiro. Não têm fundamento as acusações de que os ingleses têm enriquecido às nossas custas, 
pois suas riquezas provêm de diversas partes do globo, além disso, o ouro que antes foi nosso e que 
agora pertencem aos ingleses foram trocados por mercadorias que nos eram necessárias, não havendo 
motivo para reter o ouro em nossas terras e privar-nos de gêneros essenciais além de atrair o interesse 
das outras nações para as nossas riquezas podendo desencadear uma guerra.
A Inglaterra não visa empobrecer as nações nem destruir vidas com guerras, quer somente 
que sua gente se ocupe de trabalho produtivo (comércio), e a guerra ocupa grande parte dos braços e 
capitais que deixam, assim, de produzir. Só utiliza da guerra contra a França cuja ambição de seu 
governo desequilibrou a Europa, obstando melhoramentos, encadeando o comércio e constituindo o 
império francês um poder colossal em que só predomina violência e simulação.
O interesse dos ingleses é que as nações prosperem para melhor pagarem os produtos de suas 
terras e indústrias. Nem mesmo a França consegue passar sem o comercio inglês.
Onde entram as embarcações inglesas se vê a venda de produtos, trocando-os principalmente 
por materiais de manufatura, artigos de subsistência ou outras produções dos países com que tratam, 
não ofendendo nem repelindo os competidores nacionais ou estrangeiros (se excluem algum 
concorrente no mercado geral fazem-no pela relativa barateza e superioridade de suas fazendas; 
acresce

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