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Apostila IED 1 1a Unid-1

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CURSO DE DIREITO 
	APOSTILA
	INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO I
	
	PAULO RAMEH
	02 DE FEVEREIRO DE 2012
�
	Esta Apostila é um resumo das aulas ministradas pelo Professor Paulo Rameh, realizada ao longo dos últimos anos, e é resultado da compilação de trechos escolhidos retirados de livros didáticos de diversos autores nacionais e estrangeiros consagrados, com boa aceitação do público-alvo. 
�
SUMÁRIO
 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 03
 IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 04
 DISCIPLINAS CONEXAS E COMPLEMENTARES . . . . Pág. 04
 CIÊNCIA DO DIREITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 05
 SENTIDOS DA PALAVRA DIREITO . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 06
 SOCIEDADE E DIREITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 07
 INSTRUMENTOS DE CONTROLE SOCIAL . . . . . . . . . Pág. 08
 DIREITO E RELIGIÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 08
 DIREITO E MORAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 10
 O DIREITO E REGRAS DE TRATO SOCIAL . . . . . . . . Pág. 11
 CONCEITO DE DIREITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 12
 JUSTIÇA, EQUIDADE E PRINCÍPIOS GERAIS . . . . . . Pág. 13
 AS DIVISÕES DO DIREITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 17
 ORDENAMENTO JURÍDICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág.20
 NORMA JURÍDICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 21
 QUALIDADES DA NORMA JURÍDICA . . . . . . . . . . . . . . Pág. 23
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Introdução ao Estudo do Direito é uma das disciplinas do curso de Direito. Não se pode dizer que seja mais ou menos importante que qualquer outra integrante da grade curricular. No entanto, ela cumpre papel fundamental na formação do estudante de Direito.
Ocorre que o estudo do Direito, em razão da complexidade do seu objeto e da própria metodologia da ciência, exige que ao estudante seja oferecida uma disciplina básica e estruturadora, capaz de prepará-lo para apreender todo o conjunto de conhecimentos ao qual será apresentado, de forma consistente e duradoura. 
	A disciplina constitui um sistema de idéias gerais sobre o direito, revelando ao estudante uma visão geral do objeto de estudo e oferecendo ao iniciante uma idéia do conjunto. De acordo com Paulo Nader�, a disciplina tem a capacidade de revelar o Direito como um todo e de alinhar os seus elementos comuns
	A disciplina tornou-se obrigatória nos cursos jurídicos em 1931 com o nome de Introdução à Ciência do Direito. Pode ser chamada também de Introdução ao Direito. Alguns doutrinadores preferem a nomenclatura clássica Introdução à Ciência do Direito.
	Introdução ao Estudo do Direito é matéria de iniciação, que fornece ao estudante as noções fundamentais para a compreensão do fenômeno jurídico. Por si mesma não é ciência, mas disciplina integrante da Ciência do Direito.
	Seu fim especifico é reduzir o Direito a uma unidade sistemática. Para atingir tal finalidade, recorre a conceitos filosóficos, sociológicos, históricos e políticos, sem se confundir com Filosofia do Direito nem com Sociologia do Direito.
De acordo com Maria Helena Diniz�, Introdução ao Estudo do Direito é uma disciplina, um sistema de conhecimentos, que tem por objetivo fornecer uma noção global ou panorâmica da ciência do direito, propiciando ao estudante compreender os conceitos jurídicos comuns a todas as disciplinas do currículo do curso de direito e introduzindo-o na terminologia técnico-jurídica. É, por isso, uma enciclopédia, por conter não apenas os aspectos jurídicos da ciência do direito, mas também seus aspectos filosóficos, sociológicos e históricos.
	Os conceitos gerais de direito, tais como os conceitos de Direito, fato jurídico, relação jurídica, lei, justiça, segurança jurídica, jurisprudência, doutrina, e tantos outros, por serem aplicáveis a todos os ramos do direito, fazem parte do objeto de estudo desta disciplina. Os conceitos específicos do direito, como o conceito de crime, pena, ato de comércio, mar territorial, servidor público, desapropriação, aviso prévio, divórcio, contrato, expulsão e extradição, por exemplo, são particulares dos diversos ramos da Ciência do Direito e por isso fogem ao alcance da disciplina.
	Em resumo, é uma disciplina propedêutica, no sentido de que é introdutória, preparatória, informativa, estruturadora e formadora. 
Além disso, é uma disciplina epistemológica, ou seja, voltada para o estudo de todos os aspectos do direito como ramo do conhecimento humano, tais como a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento. 
Isso porque Introdução ao estudo do Direito não se dedica ao estudo do objeto da ciência do direito, e sim a responder questões como: o que é a ciência do direito, qual o seu objeto, qual o seu método, qual a sua natureza, etc, sem nunca se confundir com o estudo do direito em si.
Epistemologia é, em resumo, a Teoria do Conhecimento.  Epistemologia vem do grego episteme, (ciência, conhecimento); e logos, (estudo, discurso). É um ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados com a crença e o conhecimento. É o estudo científico da ciência (conhecimento), sua natureza e suas limitações.
	Podemos reduzir o objeto da disciplina Introdução ao Estudo do Direito a três pontos:
os conceitos gerais do Direito;
a visão de conjunto do Direito;
os elementos de formulação da técnica jurídica.
2. IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA
	Introdução ao Estudo do Direito coloca o estudante em contato com a Ciência do Direito em primeira mão, procurando atenuar as dificuldades que o aluno poderá vir a ter, ao entrar em contato com os conceitos fundamentais do Direito, sua terminologia e seu método, propiciando-lhe uma adaptação inicial, bem como o desenvolvimento de um raciocínio jurídico. É uma disciplina preliminar, destinada a permitir que os alunos conheçam o objeto e os fins da ciência jurídica.
Introdução ao Estudo do Direito não é uma ciência, mas uma disciplina introdutória, preparatória e propedêutica, que busca oferecer um conhecimento geral e enciclopédico introdutórios ao estudo da ciência jurídica.
É uma disciplina que não tem um objeto próprio. O objeto da disciplina é responder a questões como: o que é a Ciência do Direito? Qual o objeto do Direito? A que ciência o Direito pertence? Define e delimita os conceitos jurídicos fundamentais e familiariza o estudante com os princípios fundamentais do pensamento jurídico.
	Por se tratar de disciplina básica, Introdução ao Estudo do Direito permite que o estudante construa uma base teórica relevante, a qual será fundamental para permitir seu progressivo aprendizado.
Sua importância reside na sua capacidade de oferecer ao estudante, já na fase inicial do curso, uma visão geral da ciência do direito e do seu objeto, que é o próprio direito, permitindo-lhe avançar na apreensão dos demais conceitos e institutos jurídicos, tendo acesso concomitante à visão de cada etapa do aprendizado e à visão do conjunto do Direito.
	
3. DISCIPLINAS CONEXAS E COMPLEMENTARES
	Introdução se socorre de outras disciplinas conexas e complementares, tais como:
Filosofia do Direito: A Filosofia do Direito busca formular o conceito de direito, analisar as instituições jurídicas no plano do direito, levando em consideração a condição humana, a realidade objetiva, os valores, a segurança jurídica e a justiça. O estudante deve se deparar com essa disciplina quando já se familiarizou com os princípios gerais de Direito. É uma disciplina abstrata e metafísica. Procura responder à pergunta: O que é o Direito?
	A Filosofia do Direito procura solucionar o problema do conhecimento jurídico. A parte da filosofia do direito que se dedica a esse conhecimento se chama epistemologia do direito, que é a teoria da ciência jurídica. Já a gnoseologia é a teoriado conhecimento em geral.
Sociologia do Direito: É o estudo das relações entre a sociedade e o Direito, valendo-se da análise do comportamento humano frente aos fenômenos jurídicos provocados pela vida em sociedade. Pode ser entendida também como a parte da Sociologia que estuda o direito como fenômeno social, cultural e humano, identificando as formas e resultados da intervenção humana no direito e vice-versa. Todo grupo social institucionalizado possui normas internas de organização social, pois o direito emana da sociedade.
Investiga, entre outros,
a adaptação do Direito à vontade da sociedade que o criou;
o cumprimento pelo povo das leis vigentes e destas pelas autoridades;
a correspondência entre os objetivos visados pelo legislador e os efeitos sociais provocados pelas leis;
o Direito como fato social concreto.
Direito Comparado: é a disciplina que estuda as relações, as interferências, as similaridades e as diferenças entre os diversos sistemas jurídicos, bem como entre os direitos dos países pertencentes a uma mesma família de direitos, permitindo analisar e desenvolver o conhecimento sobre os institutos jurídicos de cada sociedade. A comparação de direitos diferentes serve de inspiração para a solução de problemas jurídicos. Apesar de não gerar normas de forma imediata, influencia os legisladores em sua tarefa.
História do Direito: É a disciplina que permite ao estudioso compreender as diferentes fases de elaboração do direito, comparando os institutos jurídicos do passado com os atuais, e permitindo uma melhor compreensão sobre sua evolução, contexto histórico, desenvolvimento e formação.
Teoria Geral do Direito: segundo Kelsen, é a formulação de conceitos gerais formuladores de conceitos gerais, destinados a facilitar a interpretação do direito positivo de qualquer país. Bobbio defende que TGD é uma teoria formal do direito, distinta das demais disciplinas particulares, que têm por objeto o conteúdo das normas. É a teoria do direito positivo universal, em contraposição à dogmática jurídica, que seria a teoria geral do direito positivo de determinada nação. 
Psicologia Forense: estuda o comportamento humano no que interessa à medicina legal e aos demais ramos do direito, especialmente em relação aos limites e modificadores da responsabilidade e da capacidade; às doenças mentais; às atenuantes e agravantes da norma relativas ao comportamento, etc. Ao estudar os fenômenos mentais ligados ao direito, a psicologia forense orienta o trabalho do jurista, do legislador e do magistrado, ao interpretar a lei à luz do comportamento humano.
Política Jurídica: é a ciência da organização do Estado, pertinente ao estudo as relações entre a autoridade política e os cidadãos, os meios jurídicos utilizados pelo Estado para agir frente às necessidades da sociedade e visando oferecer ao Estado os mecanismos de decisão para a atuação estatal. A política jurídica ocupa-se da valoração e das estruturas sociais que condicionam a elaboração das normas de direito desenvolvidas para atingir os fins da coletividade.
4. CIÊNCIA DO DIREITO
	Segundo definição de Paulo Dourado de Gusmão�, Ciência do Direito é o conjunto de conhecimentos, metodicamente coordenados, resultantes do estudo ordenado das normas jurídicas, com o propósito de apreender o significado objetivo das mesmas e de construir o sistema jurídico, bem como descobrir as suas raízes sociais e históricas.
É a Ciência Jurídica, que pode ser dividida em dois campos de estudo: a) ciência jurídica teórica, formuladora de conceitos e princípios gerais do direito, denominada Teoria Geral do Direito, que é uma síntese do conhecimento jurídico de determinada época; b) ciência do direito positivo, também chamada Dogmática Jurídica, que versa sobre o conteúdo das normas jurídicas, e que se subdivide em diversas disciplinas que tratam de cada um dos ramos do direito. 
Aborda o direito vigente em determinada sociedade e as questões referentes à sua interpretação e aplicação. Tem por objeto revelar o ser do Direito. Não é de natureza crítica. Cumpre apenas o papel de definir e sistematizar o conjunto de normas posto. Sua visão é limitada, fenomênica, insuficiente para revelar o conhecimento integral do Direito. 
A Dogmática Jurídica tem por função sistematizar e descrever a ordem jurídica vigente.
Seu objeto é o Direito Positivo imposto pelo Estado de cada sociedade. Por isso, para os positivistas é a ciência suficiente para o estudo o direito, enquanto que para os jusnaturalistas, é disciplina insuficiente, porque coloca de fora do campo de observação o Direito Natural e os valores, como a justiça.
Já a função da Teoria Geral do Direito é formular conceitos gerais que permitam facilitar a interpretação do direito positivo de qualquer país (Kelsen:1945)�.
O objeto de estudo da Teoria Geral do Direito seria, então, o conhecimento dos elementos formais, essenciais e comuns a qualquer norma jurídica, independente de seu conteúdo, bem como, a formulação de conceitos jurídicos fundamentais, indispensáveis ao raciocínio jurídico.
Não se ocupa dos fins, dos valores e da justiça, que são temas colocados a cargo da Filosofia do Direito, nem de questões sociológicas, como as relações de causa e efeito provocadas pelas normas jurídicas na sociedade e, no sentido inverso, da influência da sociedade sobre a produção das normas, assuntos afetos à Sociologia Jurídica.
5. SENTIDOS DA PALAVRA DIREITO
O que é o Direito? Existem inúmeras formas de conceituar o que é o Direito, dependendo do ponto de partida, ou seja, se quisermos alcançar uma definição mais ou menos científica, desprovida de valores que não estão contidos especificamente no direito, mais sociológica, mais moral, etc. 
O certo é que a palavra direito tem dois sentidos:
pode significar a norma agendi, ou seja, a regra jurídica, o que nos leva ao conceito de direito como um complexo de normas; 
pode significar a facultas agendi ou seja, o poder de exigir um comportamento alheio ou exercer uma faculdade da qual a pessoa é titular.
5.1. OS SENTIDOS SEMÂNTICOS DO TERMO
Direito: Nas línguas neolatinas, sua origem é apontada como sendo derivada da palavra - diRECTUM – direto, conforme a regra.
Justiça e Jurídico: derivam do termo latino jus (júris), que por sua vez significa direito. . Acredita-se que o termo jus tenha derivado de duas palavras com o mesmo radical:
Derivado de Jussum – particípio do verbo jubere (mandar ou ordenar)
Derivado de Justum – conforme a justiça
5.2. AS DIVERSAS ACEPÇÕES DO VOCÁBULO
Na língua portuguesa, a palavra assume vários sentidos, dependendo do uso. Direito pode significar:
norma
faculdade
algo que é justo
ciência
fato social
Direito como norma significa dizer que o direito é a lei. Direito no sentido de faculdade significa uma permissão, a potencialidade de agir. Quando dizemos que algo nos pertence por uma questão de justiça, temos o uso da palavra direito como algo que é justo. Quando nos referimos ao direito no sentido do conjunto de conhecimentos, estamos usando a palavra direito no sentido de ciência. Nesse caso, em geral se sua a palavra direito a inicial D maiúscula. Usa-se a palavra direito como um fato social quando estamos nos referindo a cada um dos direitos normalmente exercidos diariamente pelas pessoas. 
De acordo com Caio Mário da Silva Pereira�, “quando o indivíduo sustenta as suas faculdades e repele a agressão aos seus poderes, diz que afirma ou defende o seu direito; quando o juiz dirime a controvérsia invocando a norma ditada pelo poder público, diz que aplica o direito; quando o professor se refere ao organismo jurídico nacional, denomina-o direito de seu país...”.
Isto demonstra que o vocábulo tem múltiplos sentidos, a depender do que se quer dizer. Para ajudar a compreender cada um dos sentidos da palavra direito, é importante exercitar mentalmente, criando frases que contenham a palavra direito e verificar qual o sentido em cada caso.
6. SOCIEDADEE DIREITO
	Sociedade é todo aglomerado humano que se submete a regras jurídicas comuns, isto é, a um mesmo ordenamento jurídico.
	A sociedade sem o Direito não existiria, seria anárquica, teria um fim rápido. O Direito é a grande coluna que sustenta a sociedade. Criado pelo homem para corrigir sua imperfeição, o Direito representa um grande esforço para adaptar o mundo exterior Às suas necessidades de vida. O Direito não tem, por outro lado, existência em si mesmo, pois só existe na sociedade. A sociedade é ao mesmo tempo fonte criadora e área de ação do direito, seu campo de provas. Uma sociedade é conservadora, seu direito será conservador. Se ela é moderna e progressista, seu direito seguirá essa tendência. Porém, os fatos sociais influenciam o direito de forma determinante, mas não absoluta.
	O Direito, impulsionado por seus iluminados pensadores, muitas vezes a atividade legiferante aos grandes princípios do Direito natural, orientando as maneiras de agir, pensar e sentir do povo, redimensionando seu direito positivo. Nessas hipóteses, o Direito supera os próprios fatos sociais, impondo-lhes modificações, a exemplo das alterações nas leis racistas dos EUA e África do Sul e das modernas leis brasileiras. Veja-se que leis como o estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e a Lei Maria da Penha (2004), são exemplos de leis que colocam o Brasil na vanguarda da proteção aos direitos das minorias, estatuto reconhecido internacionalmente. 
Cabe ao Poder Legislativo a função da produção de leis. Atento aos reclamos sociais, o legislador deve captar a vontade coletiva e transpor para o ordenamento jurídico. Sem deixar de impulsionar a sociedade no sentido do progresso, ao mesmo tempo garantir os direitos do cidadão, promover o desenvolvimento social, econômico, político, cientifico, cultural do povo, favorecendo ainda a formação de uma consciência nacional.
Uma famosa citação atribuída ao ex-presidente da Suprema Corte Norte-Americana, Earl Warren (1953 a 1969), escrita no artigo “A busca da paz por meio da Lei”, de 26/11/1966, mostra a força da relação entre a lei e o comportamento da sociedade: “A história tem demonstrado que onde a lei prevalece, a liberdade individual do Homem tem sido forte e grande o progresso. Onde a lei é fraca ou inexistente, o caos e o medo imperam e o progresso humano é destruído ou retardado.”
A suprema missão do legislador, segundo Demolombe�, seria “conciliar o respeito devido À liberdade individual dos cidadãos com a boa ordem e harmonia moral da sociedade”. Em resumo, o Direito não é apenas instrumento de disciplinamento social. Sua missão é mais ampla:
garantir a segurança do homem, sua vida, liberdade e patrimônio;
promover o bem comum, por meio da busca pelos valores da justiça, segurança, bem-estar e progresso;
buscar a modernidade e o avanço social;
favorecer o desenvolvimento social, cientifico, econômico, político, cultural e educacional do homem.
Nesse sentido, a correspondência entre direito e sociedade vem sendo demonstrada pelos estudiosos, na medida em que o centro de gravidade do direito está, na verdade, na sociedade, e não no Estado. Cabe ao Estado a função de traduzir em leis o desejo da sociedade. Se a sociedade rejeitar determinada lei, esta transforma-se, com o tempo, em letra morta. 
A sociedade é regida por um complexo de normas, não apenas de natureza jurídica, mas também de cunho moral, ético e religioso, podendo ser entendida como ordem social estabelecida por normas sociais. Tendo em vista que o comportamento humano demanda limites e padrões de conduta, as normas sociais são acompanhadas de sanções, destinadas a exercer controle da sociedade , visando a manutenção da ordem e da estabilidade das relações sociais�.
O direito, portanto, é apenas uma das normas sociais, que se diferencia das demais normas sociais por ser acompanhado de sanções organizadas, institucionalizadas e coercitivas.
7. INSTRUMENTOS DE CONTROLE SOCIAL
	O Direito não é o único responsável pela harmonia da vida. A moral, a religião e as Regras de Trato Social são outros processos normativos que condicionam a vivência do homem na sociedade. De todos, porém, o Direito é o que possui maior pretensão de efetividade, pois não se limita a os modelos de conduta social, simplesmente sugerindo ou aconselhando. Ele se impõe através da coação, se for o caso. Os meios de que o Direito pode se utilizar para garantir sua efetividade são:
coação: é o ato de constranger alguém, física ou moralmente, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, sob o fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família ou a seus bens (Art.151 do CC). É a potencialidade da utilização da força. É a força em estado latente.
coerção: é o ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela força, intimidação ou ameaça. É a aplicação da força para a consecução do ato que se quer seja praticado.
coercibilidade: a possibilidade concreta de se utilizar a coerção.
No mundo primitivo não havia distinção entre as diversas espécies de ordenamentos sociais Direito, religião, moral e usos sociais se encontravam em um estado de homogeneidade indefinida e incoerente. A partir da Antiguidade Clássica (Grécia e Roma) começou-se a cogitar das diferenciações.
8. DIREITO E RELIGIÃO
	Desde a pré-história o Direito era considerado como expressão da vontade divina, se encontrava mergulhado na Religião; a classe sacerdotal possuía o monopólio do conhecimento jurídico. Os julgamentos tinham que ser levados à autoridade religiosa.
	Direito e religião se relacionam, apresentando pontos de semelhança e pontos de distinção, dependendo do ponto de vista.
No início, a Religião exercia domínio absoluto sobre o homem. O Direito nada mais era do que expressão da vontade divina. A classe sacerdotal possuía o monopólio do conhecimento jurídico. Durante a Idade Média, ficaram famosos os Juízos de Deus com suas ordálias�. As decisões ficavam condicionadas a jogo de sorte e azar, pois Deus interferia diretamente no julgamento. Um prato de louça era jogado ao alto. Se ao cair se quebrasse, o réu seria considerado culpado, caso o prato não se quebrasse, absolvia-se o infeliz.
Foi só a partir do século XVII que o Direito começou a se laicizar. Realmente, Direito e Religião, apesar de fazerem parte da Ética, têm campos distintos. Temos, para diferenciá-los, que partir de seus objetivos. O objetivo da Religião é o de integrar o homem com a divindade. Cuidar do mundo espiritual. Sua preocupação fundamental é a de orientar os homens na busca e conquista da felicidade eterna.
Já o objetivo do Direito é o bem comum da sociedade. É orientar o homem na busca da harmonia e felicidade terrenas. Para isso, ele tenta, com seus instrumentos normativos, promover a paz, a segurança e a ordem sociais.
Vemos, assim, que Direito e Religião são fenômenos distintos. Não obstante, a todo momento, buscam inspiração um no outro. Há normas jurídicas de conteúdo religioso, como a proibição do aborto, da bigamia etc. Ora, ao tentar organizar a vida em sociedade, o Direito não pode se esquecer das preocupações de cunho religioso, tão importantes para o homem. Além do mais, a preocupação com o bem é inerente a ambos, Direito e Religião.
Podemos dizer, pois, que a Religião forma com o Direito um conjunto de círculos secantes, em que o Direito busca inspiração na Religião.
	A religião, que pode ser definida como conjunto de crenças em uma determinada divindade ou força sobrenatural, é uma criação humana que busca explicações para o mundo e para os vários questionamentos sociais. Qualquer religião estipula valores e princípios a serem seguidos pelo homem para serem obedecidos durante a vida. Valores esses que induzem seus fiéis a determinadas condutas sociais e proibições para que o objetivo final, que é o bem, seja atingido.
Nesse aspecto, o Direito e a religião se parecem por expressarem mecanismos de controle social, que impõem condutas e valores e que têm como finalidade o bem comum.Como aspecto de divergência, pode-se apontar o caráter de insegurança trazido pela religião, pois a Igreja oferece respostas que teriam credibilidade pela fé, sendo seus principais pressupostos inatingíveis. Já o Direito parte de pressupostos concretos e fornece segurança e proteção ao indivíduo nas suas relações entre os semelhantes e o Estado.
	A laicização do direito recebeu grande impulso no século XVII (1645), através de Hugo Grócio, que pretendeu desvincular a idéia de Direito Natural da Religião. É dele a se: “O Direito natural existiria mesmo que Deus não existisse ou, se existisse, não cuidasse dos assuntos humanos”.
	Atualmente, os Estados Modernos separam o Estado da Igreja, ficando cada qual com seu ordenamento próprio. No mundo muçulmano, por exemplo, isso não aconteceu.
	Há vários pontos de convergência entre Direito e Religião:
a busca do bem e da justiça;
ambos são instrumentos de controle social;
ambos se dirigem a dispor sobre conduta humana, porém o direito em seu aspecto externo, intersubjetivo, e a Religião em seu aspecto interno, entre o crente e a divindade.
Em resumo, o Direito e a Religião, apesar de fazerem parte do conceito de Ética, possuem objetivos divergentes. Enquanto o objetivo da Religião é integrar o homem ao mundo espiritual, em atitude de constante busca e conquista pela felicidade eterna através dos ensinamentos de Deus, no Direito pretende-se a harmonia da convivência em sociedade, também direcionada à felicidade, terrena. 
Para isso, porém, o Direito objetiva, através de um conjunto de normas impostas coercitivamente pelo Estado, um equilíbrio na vida social. Preleciona Caio Mário Pereira (2011, p. 5), que o direito é “o princípio de tudo o que é bom e justo para a adequação do homem à vida social”.
Enquanto o objetio da Religião é promover a integração entre o homem e a Divindade, cuidando dos aspectos relativos ao mundo spiritual, para o Direito o objetivo principal é garantir que os aspectos relativos à sobrevivência do homem em sociedade sejam reforçados, através da adoção de instrumentos de harmonização das relações humanas, voltados para a manutenção da paz e da ordem social.
 Apesar de serem fenômenos distintos, encontra-se nas normas jurídicas conteúdo religioso, como, por exemplo, a proibição do aborto e da bigamia. Verifica-se, assim, na sutil inter-relação entre Direito e Religião que ambos objetivam respeito ao próximo e formas pacíficas para a convivência em sociedade.
Vemos, assim, que Direito e Religião são fenômenos distintos que, não obstante, buscam inspiração e sofrem influências um do outro. Inúmeras normas jurídicas são criadas para garantir a aplicação de preceitos de natureza religiosa pertencentes às legislações de todos os países do mundo.
9. DIREITO E MORAL
A Moral, por sua vez, é o conjunto de normas, regras e princípios historicamente variáveis que regulam o comportamento de um indivíduo para com outro e de ambos para com a sociedade. A Moral diferencia-se das normas do Direito, que também regulam as relações entre os homens, por possuir poder coercitivo emanado do Estado. Portanto, a diferença está no fato de que a Moral apoia no peso da opinião social, na convicção interior de cada um e na força dos costumes. Os conceitos do bem e do mal, do dever e da honestidade, da consciência e da honra, funcionam como categorias morais.
Direito e Moral são instrumentos de controle social que se completam e se influenciam mutuamente. O Direito é profundamente influenciado pela Moral, de quem recebe substancial interferência. 
A Moral se identifica com o conceito de bem, ou melhor, pelo caminho pelo qual se deve chegar à noção de bem.
Para os estóicos� o homem sábio obedece a lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo. Para eles, o bem consistia no desprendimento, na resignação, em saber suportar serenamente o sofrimento, pois a virtude seria a única fonte da felicidade.
Em contraposição, o epicurismo� propunha uma vida de contínuo prazer como chave para a felicidade, esse seria o objetivo de seus ensinamentos morais. Para Epicuro, a presença do prazer era sinônimo de ausência de dor, ou de qualquer tipo de aflição: a fome, a abstenção sexual, o aborrecimento, etc. A finalidade da filosofia de Epicuro não era teórica, mas sim bastante prática. Buscava sobretudo encontrar o sossego necessário para uma vida feliz e aprazível, na qual os temores perante o destino, os deuses ou a morte estavam definitivamente eliminados. Tal filosofia identifica a idéia de bem com o prazer, concebido dentro de uma escala de importância.
Modernamente, considera-se bem tudo aquilo que promove o homem em seu desenvolvimento pleno e que, ao mesmo tempo, não afete o igual interesse dos demais membros da sociedade.
A Ética é a ciência da Moral, a ciência da conduta humana norteada pela consciência e pela virtude. Por isso se diz que a pessoa que não busca o honesto, o justo e a virtude é imoral.
A Moral pode ser dividida em duas: a Moral Natural e a Moral Positiva. A Moral Natural seria aquela advinda do próprio gênero humano, independente de convenções, captada diretamente da natureza, e que envolve a relação entre o homem e os outros objetos naturais. Corresponde a uma idéia de bem que não varia no tempo e no espaço e que serve de critério à moral positiva.
A Moral Positiva, por sua vez, se divide em três esferas distintas:
Moral autônoma;
Ètica superior dos sistemas religiosos;
Moral Social.
A Moral Autônoma é a noção de bem pertencente a cada consciência. O homem, aqui é o legislador de sua própria conduta. A vontade livre do homem dirige sua consciência individual, livre de qualquer condicionamento.
	A Ètica Superior dos Sistemas Religiosos consiste nas noções fundamentais sobre o bem que as religiões consagram e transmitem a seus seguidores. Aqui, os preceitos não são acatados com vontade própria, mas em obediência à crença em uma força superior, apesar de existir, por parte do homem, uma faixa de liberdade que permite a aceitação ou não daqueles princípios.
	A Moral Social é um conjunto predominante de princípios que, em cada sociedade e em cada época, orienta a conduta dos indivíduos. Aqui o individuo atua de acordo com a conduta exigida pelo meio social em que vive, assumindo um caráter heterônomo que impõe aos indivíduos uma norma de agir elaborada pela consciência coletiva, e não pela sua própria consciência.
	Christian Thomasius formulou o primeiro caráter diferenciador entre o Direito e a Moral. Com sua teoria, pretendeu limitar a área do direito ao foro externo das pessoas, reservando à moral o foro interno.
	Kant e Fichte levaram adiante a idéia de Thomasius, com alguns acréscimos. Para Kant, uma conduta está de acordo com a Moral quando tem respeito unicamente ao dever, ao amor e ao bem, enquanto que ao Direito não cabe se preocupar com os motivos que determinam a conduta humana e sim com os aspectos exteriores dessa conduta. Já o direito, para Kant: “procede exteriormente de modo que o uso do arbítrio do homem possa coexistir com o arbítrio dos demais, segundo uma lei universal de liberdade”.
	Fichte avança ainda mais, dizendo que o Direito permite situações com as quais a Moral não concorda, como por exemplo, um credor poder levar um devedor à pobreza.
	As distinções entre Direito e Moral podem ser assim formuladas:
o direito é concreto e a Moral abstrata;
o direito é bilateral e a moral é unilateral, pois a cada direito corresponde, por parte do outro, um dever. A esta qualidade chama-se alteridade.
O direito é exterior e a Moral é interior;
O direito é heterônomo (no sentido de vontade imposta) e a moral é autônoma (vontade expontânea);
O direito é coercível e a moral incoercível, no sentido de que o direito pode se utilizar de força para a consecução de seus objetivos, apesar de a moral contar com certo grau de intimidação.
10. O DIREITO E AS REGRAS DE TRATO SOCIAL
	As Regras de Trato Social são padrões de conduta social elaboradas pela sociedadeque visam tornar o ambiente social mais ameno, sob pressão da própria sociedade, sem se preocupar com os aspectos morais e jurídicos. São as regras de cortesia, etiqueta, protocolo, cerimonial, modo, linguagem, educação, companheirismo, amizade, etc.
	Enquanto o Direito busca a segurança do homem, religião e moral buscam seu aperfeiçoamento espiritual e social, as Regras de Trato Social buscam propiciar um ambiente de convivência saudável, tornando agradável a convivência, aprimorando as relações sociais, constituindo-se numa complementaridade aos preceitos éticos obserevados pela Moral.
	Os preceitos das Regras de Trato Social são exteriores, unilaterais, heterônomos, incoercíveis, dotados de sanções indeterminadas.
	O quadro abaixo traz graficamente as diferenças entre as características das normas jurídicas, morais, religiosas e das regras de trato social.
	DIREITO
	MORAL
	REGRAS DE TRATO SOCIAL
	RELIGIÃO
	Bilateral
	Unilateral
	Unilaterais
	Unilaterais
	Heterônomo
	Autônoma, exceto Ética Superior e Moral Social
	Heterônomas
	Em geral autônomas (há exceções no mundo islâmico)
	Exterior
	Interior
	Exterior
	Interior
	Coercível
	Incoercível
	Incoercíveis
	Incoercíveis
	Sanção prefixada
	Sanção difusa
	Sanção difusa
	Sanção prefixada
	O Direito é influenciado por diversos fatores, dependendo da visão própria de cada sociedade: geografia, clima, recursos naturais, demografia, antropologia, cultura, economia, moral, religião, ideologia, educação, política, são causas que determinam as distinções entre os diversos direitos nacionais.
11. CONCEITO DE DIREITO
A conceituação do Direito exige localizar seus elementos essenciais e a que faixa ontológica ele pertence. Ontologia é (do grego onta (ontos) + logoi (logos) = “conhecimento do ser”), é a parte da filosofia que trata da natureza do Ser, ou seja, da realidade, da existência dos entes e das questões metafísicas em geral. É também chamada de Metafísica. A ontologia pode ser chamada também de Teoria dos Objetos. Objetos no sentido de coisas que existem na natureza ou no pensamento, sejam construções físicas ou mentais.
	O Direito, como processo de controle social, é produzido pelas forças sociais, com o objetivo de garantir a ordem na sociedade, segundo os princípios de justiça. Assim, o Direito é criado pelo homem, ou seja, existe e é dotado de valor, e é apreensível pela experiência humana. O Direito é, ontologicamente, um objeto cultural. Agora estamos prontos para definir o Direito.
	A síntese preliminar da noção ou conceito de Direito seria a seguinte:
relação social (fato)
justiça como meta a ser perseguida (valor)
regras impostas pelo Estado (norma).
No entanto, não podemos ficar por aqui. Precisamos alcançar uma noção mais próxima de um conceito técnico-jurídico.
	Podemos dizer também, em outras palavras, que direito é:
a regra de conduta obrigatória (direito objetivo);
o sistema de conhecimentos jurídicos (ciência do direito);
a faculdade ou os poderes uma pessoa tem ou pode ter, ou seja, o direito de exigir de alguém uma prestação de conduta positiva ou negativa (direito subjetivo);
	
11.1. DEFINIÇÕES DE DIREITO
	Podemos conceituar o Direito a partir de dois tipos de definições:
Nominais, que podem ser: a) etimológicas; b)semânticas.
Reais ou lógicas.
A definição etimológica procura explicar o conceito a partir da origem da palavra, a sua genealogia. A palavra direito é oriunda do adjetivo latino directus, directa, directum (qualidade do que está conforme à reta; o que não tem inclinação, desvio ou curvatura); palavra que provém do verbo dirigere, que significa guiar, conduzir, traçar, alinhar. Esse vocábulo surgiu na Idade Média. Os romanos utilizavam o vocábulo jus para designar o que era lícito e injuria para ilícito. Para alguns autores, direito vem da palavra jussum (mandado), originado do verbo jubere, que significa mandar, ordenar. Para outros, vem da palavra justum (aquilo que é justo). Da palavra jus surgiram as palavras justiça, juízo, juiz, júri, etc. O uso da palavra direito se popularizou por possuir um significado mais amplo que a palavra jus.
Semântica é a parte da gramática que registra os vários sentidos que uma palavra pode alcançar. A definição semântica procura explicar o conceito de direito através dos diversos sentidos que a palavra possui em seu uso corrente. Direito então seria a qualidade daquilo que está de acordo ou conforme a lei; seria a própria lei; seria um conjunto de leis; a ciência que estuda as leis; etc.
As definições nominais oferecem contribuições, mas não são decisivas para a formação de um conceito científico de Direito.
As definições lógicas delimitam o objeto de forma a distingui-lo de qualquer outro, a partir da escolha de um método adequado.
11.2. DEFINIÇÕES HISTÓRICAS DO DIREITO:
	Ulpiano definiu o direito como uma virtude moral: “Direito é a constante e permanente vontade de dar a cada um o que é seu”.
	Celso coloca em evidência a finalidade do objeto: “Direito é a arte do bom e do justo”.
	Dante Alighieri, escritor do século XIII, expôs um critério político-jurídico de alta qualidade, pois distingue direitos reais de pessoais, traz a noção de alteridade, que é justamente a relação intersubjetiva, e fundamenta o direito como sustentáculo da sociedade: “Direito é a proporção real e pessoal de homem para homem que, conservada, conserva a sociedade e que, destruída, a destrói”.
	Hugo Grócio, no século XVII, considerado o pai do Direito Natural e do Direito Internacional Público, formulou a seguinte definição: “ O Direito é o conjunto de normas ditadas pela razão e sugeridas pelo appetitus societatis.” Appetitus societatis é o desejo de viver em sociedade. Como crítica, podemos dizer que essa definição deixa de fora os valores da segurança e da justiça.
	Immanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII: “Direito é o conjunto das condições segundo as quais o arbítrio de cada um pode coexistir com o arbítrio dos outros, de acordo com uma lei geral de liberdade”. O termo “conjunto das condições”, usado por Kant, é muito vago para construir uma definição científica.
	Hans Kelsen, jusfilósofo alemão do século XX: “Direito é a ordenação coercitiva da conduta humana”.
Miguel Reale, jurista brasileiro: “Direito é a concretização da idéia de justiça na pluridiversidade de seu dever histórico, tendo a pessoa como fonte de todos os valores”.
Paulo Nader: “Direito é um conjunto de normas de conduta social, imposto coercitivamente pelo Estado, para a realização da segurança, segundo os critérios de justiça”.
Henrique Pedrosa: “Direito é o veiculo para a realização da justiça e a justiça é a meta da ordem jurídica; Direito é a norma de conduta social obrigatória para a consecução da justiça”.
Rousseau, iluminista francês: “Direito é a expressão da vontade geral”.
Paulo Dourado de Gusmão: “Direito é a norma que, se inobservada, poderá ser aplicada coercitivamente pelo poder competente, estatal ou internacional”.
Rudolph von Ihering, jurista alemão do século XIX: “Direito é o conjunto de condições da vida social, asseguradas pelo poder do Estado, mediante a coerção externa”.
	
12. JUSTIÇA, EQUIDADE E PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO
12.1 JUSTIÇA
	Do latim justitia, algo que está de acordo com o direito.
    	Conformidade com o direito, virtude de dar a cada um o que é seu; faculdade de julgar segundo o direito e a melhor consciência; alçada; magistratura; conjunto de magistrados judiciais e pessoas que servem junto deles; o pessoal de um tribunal.
A justiça é considerada a mais elevada forma de virtude moral. Em Ulpiano, célebre jurisconsulto romano, encontra-se a seguinte definição de justiça: Justitia est constans et perpetua voluntas jus suum cuique tribuendi: "A justiça consiste em dar a cada um o que é seu". Qual o seu de cada um, porém? Para se poder dar a cada um o que é seu, seria preciso saber, desde logo, o que pertence a cada um. Ora, o princípio da justiça é invocado exatamente para dirimira disputa entre partes que invocam aquilo que é seu.
A justiça judicial é aquela dada pelo juiz, exigindo paridade entre o dano e a reparação, o crime e a pena a este cominada.
    	A justiça é idéia, valor e ideal. Como idéia, é a representação abstrata do estado de pleno equilíbrio da vida social; como valor, poder-se-ia dizer que as coisas não constituem bens em si mesmas, sendo preciso lhes atribuir um valor. O que é valor? Valor é a importância que se atribui a um bem. Mas a valoração dos bens varia no tempo e no espaço. Os valores sociais têm existência histórica, não são perpétuos. Ora, tendo como pressuposto um valor, a idéia de justiça varia constantemente: o que era justo para os antigos talvez não seja para nós, embora possa voltar a sê-lo no futuro. Modernamente, por exemplo, o valor predominante é a igualdade, como a liberdade o foi por ocasião da Revolução Francesa.
Para Aristóteles�, o justo é o igual, algo que fica no meio-termo entre as aspirações de uma e de outra pessoa. Com isso, pode-se dizer que o Direito seria uma ciência que busca preservar a igualdade, tendo como ideal o alcance da justiça.
Segundo Rosa Maria de Andrade Nery�, pode-se dizer que o direito é a ciência da proporção, que tem como finalidade conter os excessos possíveis da atuação do indivíduo no âmbito do convívio social, impedindo a desmesura, o desarranjo social.
No entanto, o Direito não tem a justiça como único e exclusivo objetivo, pois, tratando-se de um valor, uma decisão judicial não será justa em todas as hipóteses. Isso porque o sistema legal pode conter regras injustas ou regras que possam gerar conseqüências injustas. Nesses casos, é preciso ir além das regras, em busca de justiça. Não é sem razão que se diz que a equidade não é um poder de corrigir a regra injusta, mas de evitar as conseqüências injustas da regra. A heurística do direito não se esgota na aplicação da lei.
Essa noção de que da norma também pode advir injustiça foi apontada por Cícero, com a expressão summum ius, summa injuria, que significa o excesso na aplicação do Direito pode levar à suprema injustiça. Cícero preconizava que, em havendo conflito entre a norma e os princípios gerais de direito, estes devem prevalecer.
    	É melhor correr o risco de salvar um homem culpado do que condenar um inocente". (Voltaire);
"Apenas o tempo revela o homem justo; basta um dia para pôr a nu um pérfido". (Sófocles);
"A justiça inflexível é frequentemente a maior das injustiças". (Terêncio);
"É belo ser justo. Mas a verdadeira justiça não permanece sentada diante da sua balança, a ver os pratos a oscilar. Ela julga e executa a sentença". (Romain Rolland);
"À força de ser justo, é-se muitas vezes culpado. (Pierre Corneille);
"Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente". (Sócrates)
"Justiça é não fazer a outrem o que não queríamos que nos fizessem". (Félicité Lamennais);
Rudolf Stammler, jurista alemão: “O conteúdo de uma norma jurídica é justo quando ela concorda com o ideal social”.
12.2. EQUIDADE
	Do latim aequitas, equidade, igualdade; retidão.
Equidade é o princípio que pode flexibilizar, moderar ou modificar a aplicação da lei, quando se evidencia excessivo rigor, inadequação ou injustiça. Equidade é o sentimento do justo, por meio da adaptação do direito ao fato. Ao aplicar uma norma jurídica, o juiz pode perceber que a aplicação pura e simples desta, sem atentar para as peculiaridades do caso concreto, pode levar a uma injustiça. Pode e deve, portanto, sem fugir ao preceito jurídico, amoldar a norma fria do texto ao elemento humano do caso. Eis a eqüidade: aplicação ideal da norma ao caso concreto, como a definiu Aristóteles.
    	A eqüidade é princípio do direito natural e a ela se refere magistralmente Victor Cathrein, Filosofia do Direito (O Direito Natural e o Positivo), edição espanhola, Instituto Editorial Reus, p. 166: "A lei natural está acima da lei positiva e serve, às vezes, para corrigir as lacunas desta. Como a lei positiva tem um conteúdo geral e não abrange os casos excepcionais, pode ocorrer que, se for aplicada rigidamente, segundo um texto geral, em certos casos, conduzirá a injustiças que não se acham na intenção do legislador.
    	Em tais casos, é necessário interpretar ou emendar racionalmente a lei positiva conforme a intenção do legislador e as exigências da justiça natural, e esta correção do direito positivo pelo natural constitui a eqüidade ou direito eqüitativo".
    	Para Aristóteles, a eqüidade vem a ser a norma que o legislador teria prescrito para um caso singular: "Há certos casos sobre os quais não se pode estatuir convenientemente por meio de disposições genéricas. Assim, em todas as questões a respeito das quais é absolutamente inevitável decidir de maneira puramente geral, sem que seja possível fazê-lo corretamente, a lei se restringe aos casos mais ordinários, sem que dissimulem as lacunas que deixa. A lei não deixa de ser, por isto, menos boa, pois a falta não está nela, nem no legislador que a dita; está na própria natureza das coisas, porque esta é, precisamente, a condição de todas as coisas práticas”.
    	Portanto, quando a lei dispõe de maneira genérica, e nos casos particulares há algo excepcional, então, vendo que o legislador não se manifesta ou tenha se enganado por ter falado em termos genéricos, é indispensável corrigi-la e suprir seu silêncio, falar em seu lugar, como ele mesmo o faria se estivesse presente, isto é, fazendo a lei como ele faria, se tivesse podido conhecer os casos particulares de que se trata. A característica da eqüidade é, precisamente, restabelecer a lei nos pontos em que esta se estagnou, em virtude da fórmula geral de que se serviu.
    	Tratando-se de coisas indeterminadas, a lei deve permanecer indeterminada como elas, como a régua de chumbo de que se utilizam os arquitetos de Lesbos, a qual se amolda à forma da pedra que mede".
    	A eqüidade, portanto, funda-se na idéia de igualdade, sendo aplicada para a consecução do justo, pois, como já diziam os juristas romanos, amparados em sua milenar sabedoria: jus ars boni et aequi est. A eqüidade representa aquele sentido de justiça que, por vezes, se separa da lei para atender a circunstâncias concretas que, se não levadas em consideração, cometer-se-ia a pior das injustiças. O verdadeiro sentido da eqüidade é o de se evitar a aplicação mecânica da lei, sem que o juiz propenda, com isso, parasuas convicções pessoais, pois ele deve aplicar a lei e não julgar da bondade intrínseca do texto, pois, se assim agisse, estaria sendo arbitrário. A eqüidade vincula-se, diretamente, à isonomia (igualdade de tratamento perante a lei), pois "devem-se dar coisas iguais aos iguais, e coisas desiguais aos desiguais; se as pessoas são desiguais, não se devem dar-lhes coisas iguais", conforme o ensinamento de Aristóteles. Numa interpretação autêntica do texto legal, isto é, aquela realizada pelo próprio legislador, o CPC de 1939, revogado desde 1973, dispunha no Art. 114, definindo a própria eqüidade, o seguinte: "Art. 114. Quando autorizado a decidir por eqüidade, o juiz aplicará a norma que estabeleceria se fosse legislador".
    	No dizer de Hélio Tornaghi, eminente processualista, o julgamento por eqüidade é excepcional, e somente ocorre quando alguma lei expressamente o permite ou determina (Comentários ao Código de Processo Civil, 2ª ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1976, vol. 1, pp. 396-397). Já para Celso Agrícola Barbi (Comentários ao Código de Processo Civil, 2ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 1981, v. 1, pp. 520 e segs.), o disposto no Art. 127 do CPC vigente não significa excluir a aplicação da eqüidade fora dos casos de autorização, pois o direito continua a ser ars boni et aequi; de forma que, ao aplicar a lei ao caso concreto, o magistrado não deixará de atenuar o rigor excessivo do texto abstrato da lei, empregando a eqüidade. Em verdade, prossegue este autor, a eqüidade, como meio de interpretação da norma legal,para uma justa aplicação ao caso concreto sujeito a julgamento, não depende de autorização expressa do legislador.
    	Esta somente é necessária para os casos em que o juiz deve aplicar a eqüidade, em vez de aplicar o texto legal. Como exemplos práticos de eqüidade, extraídos da nossa legislação, podem ser citados: - D. 24.150, de 20.4.1934 (Lei de Luvas) - revogado pela , L-008.245-1991, Locação dos Imóveis Urbanos - Lei do Inquilinato, Art. 16: "Art. 16. O juiz apreciará, para proferir a sentença, além das regras de direito, os princípios de eqüidade, tendo, sobretudo, em vista das circunstâncias especiais de cada caso concreto, para o que poderá converter o julgamento em diligência, a fim de melhor se elucidar". 
    	Outro exemplo interessante da eqüidade nos é dado pelo Art. 38, parágrafo único, da L. 6.649, de 16.5.1979, in verbis: "Ressalvada a preferência do locatário, o sublocatário legítimo, desde que satisfaça as exigências do Art. 35 e ofereça uma das modalidades de garantia previstas no Art. 31, sub-rogar-se-á nos direitos decorrentes desta, com relação ao prédio. Parágrafo único. Se houver mais de um pretendente, o juiz, ouvido o locador, decidirá por eqüidade, concedendo a locação a um dos interessados".
    	Ocorre, então, um misto de jurisdição legal e jurisdição de eqüidade: o juiz aplica a norma contida na lei, mas este lhe permite levar em consideração as peculiaridades do caso concreto.
    	Concluindo: a eqüidade é a justiça do caso particular, destinando-se a abrandar o rigor excessivo da lei positiva. A eqüidade não destrói a lei, pelo contrário, a completa. Por isso, Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, afirma que o equitativo é também justo e vale mais do que o justo em determinadas circunstâncias. É uma feliz retificação da justiça rigorosamente legal. A aplicação extremamente rigorosa de normas inflexíveis e invariáveis, não temperadas pela eqüidade, pode resultar em extrema injustiça; por isso, dizia Cícero, que summum jus summa injuria.
12.3 PRINCIPIOS GERAIS DE DIREITO
Princípios gerais de direito são os princípios que decorrem do próprio fundamento da legislação positiva, que, embora não se mostrem expressos, constituem os pressupostos lógicos necessários das normas legislativas. Muito embora não estejam expressos, tais princípios existem, consistindo na manifestação do próprio espírito de uma legislação.
    	Os princípios gerais de direito têm grande importância no preenchimento das lacunas da lei, em face de seu caráter normativo à falta de lei ou costume aplicável ao caso concreto.
    Vejamos um exemplo prático, haurido no direito positivo, mais precisamente no CTN (L. 5.172, de 25.10.1966, arts. 108 e 109): "Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada: I - a analogia; II - os princípios gerais de direito tributário; III - os princípios gerais de direito público; IV - a eqüidade. § 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei. § 2º O emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido.    	
    	As relações sociais, produto de um regime político-econômico, são reguladas pelo direito positivo, e fica claro, portanto, que cada regime tem seus princípios gerais de direito, de caráter particular, diferentes dos princípios gerais do chamado direito natural. Assim, cada regime pune determinados delitos mais ou menos gravemente, é adotada ou não a pena de morte, as penas são mais ou menos brandas, etc.
   	Exemplos de princípios gerais de direito: 
- todos são iguais perante a lei; 
- cogitationis poenam nemo patitur (ninguém deve ser punido por seus pensamentos);
- narra mihi factum dabo tibi jus (diz-me o fato e te darei o direito);
- jura novit duria (o juiz conhece o direito);
- ad impossibilia nemo tenetur (ninguém está obrigado ao impossível);
- impossibilium, nulla obligatio est (se a prestação é impossível, inexistente a obrigação;
- accessorium sequitur principale (o acessório segue o principal);
- in dúbio, pro reo (na dúvida, decide-se a favor do réu);
- non liquet (o juiz tem que decidir);
- Ignorantia legis non excusat (não é possível alegar o desconhecimento da lei como defesa
- Nemo tenetur se ipsum accusare (ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo);
- dormientibus non sucurrit jus (O direito não socorre os que dormem).
13. AS DIVISÕES DO DIREITO
13.1 DIREITO NATURAL E DIREITO POSITIVO 
	O Direito Natural é um direito espontâneo, que se origina da própria natureza social e gr do homem e que se revela pela experiência da vida em sociedade. È um direito não escrito, não é criado pela sociedade nem é formulado pelo Estado. É constituído por um conjunto de princípios, não de normas, de caráter universal, eterno e imutável. Exemplos desses princípios são o direito à vida e à liberdade.
	Ao entrar em contato com a realidade concreta, esses princípios são transformados pelos legisladores em normas jurídicas, adequadas a cada momento histórico. O Direito Natural fornece ao legislador os princípios fundamentais de proteção ao homem, que depois são inseridos nas legislações, a fim de obter-se um ordenamento jurídico justo.
	O Direito Natural é conhecido também como Jusnaturalismo, que é um termo que apareceu recentemente, mas que tem a ver com a retomada dos estudos da influência do Direito Natural sobre a criação do Direito Positivo, durante o Iluminismo, principalmente após os estudos de Espinoza, Comte e Fichte.
	O Direito positivo é o Direito institucionalizado pelo Estado. É a ordem jurídica obrigatória em determinado tempo e lugar. Não é necessariamente escrito, ou seja, não é feito apenas de regras escritas. Os costumes, que em geral são transmitidos oralmente, também são Direito Positivo, assim como a doutrina, a jurisprudência e a toda a legislação vigente. 
	O Direito positivo é o conjunto de regras de organização e conduta que, consagradas e protegidas pelo Estado, se impõem coativamente, visando à disciplina da convivência social, em determinado tempo e lugar.
As leis que perdem a vigência passam a fazer parte da história do direito e não mais do direito positivo.
13.2 DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO
Direito Objetivo e Direito Subjetivo não são duas realidades distintas, mas dois aspectos de um mesmo objeto. Entre ambos não há antítese ou oposição. Do ponto de vista objetivo, o direito é a norma. É o amplo complexo de normas jurídicas que regem o comportamento humano. Conjunto de todas as normas jurídicas de um Estado.
É gênero, do qual o direito positivo, vale dizer, as normas jurídicas emanadas do Estado, é espécie. São normas de direito objetivo: a Constituição, a lei, o decreto, a circular, a portaria e outros tantos atos administrativos; entretanto, as cláusulas de um contrato de locação, por exemplo, embora jurídicas, não são normas de direito positivo, pois não emanam, imediatamente, do Estado, mas sim da vontade dos particulares contratantes. O direito positivo, assim denominado porque é o que provém diretamente do Estado (do lat. jus positum: imposto, que se impõe), vem a ser também, como oportunamente acentua Goffredo Telles Jr., "a base da unidade do sistema jurídico nacional". Enfim, todo direito positivo é direito objetivo, mas nem todo direito objetivo é direito positivo. 
O direito objetivo é a norma obrigatória, de caráter abstrato e geral, válida e observada (aplicada) em determinado tempo e lugar.
O Direito Subjetivo é a possibilidade ou o poder de agir que a ordem jurídica garante a alguém. O direito subjetivo é o direito personalizado, em que o direito projeta-se na relação jurídica concreta, para permitir uma conduta ou estabelecer conseqüências jurídicas. 
Quando dizemos que “César tem direito a uma indenização”, afirmamos que ele possui direito subjetivo. É a partir do conhecimento do Direito Objetivo que deduzimos os direitos subjetivos de cada parte dentro deuma relação jurídica. Direito subjetivo é, portanto, a permissão jurídica para fazer ou deixar de fazer alguma coisa ou, ainda, exigir reparação de algum mal sofrido.
13.3. DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO
	As divisões e subdivisões dos vários campos do direito têm uma utilidade mais didática do que prática, pois hoje em dia há uma interpenetração entre os diversos campos jurídicos. No entanto, desde o período da República na Roma antiga já havia a distinção entre o jus publicum, que abrangia as relações políticas e a administração estatal e o jus privatum, que dizia respeito às relações entre os cidadãos e os limites de atuação do indivíduo. 
Em linhas gerais, Direito Público é a parte do Direito onde prevalecem relações e institutos jurídicos onde predomina o interesse público, e nas quais há uma relação de subordinação, aparecendo o Estado em posição de vantagem em relação aos particulares.
Em regra, as normas de direito público possuem o caráter de cogência ou obrigatoriedade, não podendo os interessados dispor diferentemente do que determinam
	Direito Privado é a parte do Direito onde prevalecem relações e institutos jurídicos de interesse privado, nas quais há uma relação de coordenação, aparecendo o Estado em posição neutra e eqüidistante da partes, exercendo o papel de fiel da balança, promovendo as condições necessárias para dirimir os litígios entre as partes. No direito privado encontram-se normas dispositivas, que são chamadas a atuar apenas quando os interessados nada dispõem sobre a relação jurídica de direito objetivo que estão tratando. 
	O direito privado pode também ser definido como a parte do ordenamento jurídico que regula as relações dos particulares entre si, com base em sua igualdade jurídica e sua autonomia privada. No entanto, há parcelas do direito privado onde o interesse público atua de forma considerável, em razão da necessidade de proteção do tecido social, como por exemplo no direito de família, nas relações entre pessoas jurídicas de direito privado, e nas relações entre as associações e seus membros.
	Na França e na Alemanha, a divisão entre esses campos do direito é mais nítida, pois existem claramente definidas as jurisdições administrativa e civil, o que não ocorre no Brasil, tendo em vista que aqui entre nós não há tribunais administrativos.
Deve-se chamar a atenção para um fato da atualidade, pois vem ocorrendo um fenômeno no campo do direito chamado “publicização do direito privado”, devido à freqüência com que o Estado tem intervindo e invadido as esferas e o âmbito privado do indivíduo, mesmo em Estados Democráticos. Trata-se de um fenômeno universal de socialização das relações jurídicas, da propriedade privada (no caso, colocando-a como um direito limitado ou supervisionado aos interesses sociais), dos contratos e de boa parte do direito privado.
Para concluir, apenas para fins didáticos, podemos dizer que direito público é o direito que disciplina o Estado e as relações deste com os cidadãos, no exercício de seu poder soberano, ao passo que o direito privado disciplina as relações jurídicas dos cidadãos entre si ou deles como o Estado, no exercício de suas atividades econômicas e particulares.
	Fazem parte do Direito Público, entre outros, o Direito Constitucional, Administrativo, Direito Financeiro, Direito Tributário, Direito Judiciário, Penitenciário, Penal e Processual (Civil e Penal) e o Direito Eleitoral, Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado.
	O Direito Privado reúne, entre outros, o Direito Civil, o Direito Comercial, atualmente chamado de Direito Empresarial, e Direito do Trabalho. Após o Código Civil de 2002, o Direito Comercial foi integrado ao Código Civil brasileiro, com o título de Direito Empresarial, ficando o Código Comercial de 1850 válido apenas para as normas de Direito Marítimo, naquilo que não foi revogado por leis especiais.
	O Direito do Trabalho possui uma particularidade, pois é entendido por alguns autores como um ramo autônomo, chamado Direito Social, por conter normas de caráter coletivo e pelo interesse público que as normas de proteção ao trabalho e ao trabalhador despertam na sociedade, e também por usar princípios tanto de direito público quanto de direito privado. De qualquer forma, a posição do direito do trabalho não encontra unanimidade entre os doutrinadores, e qualquer discussão a respeito de a qual campo pertence o direito do trabalho será exaustiva e inócua.
13.4. OS DIVERSOS DIREITOS ESPECIALIZADOS
	O Direito Constitucional é o ramo que estuda os princípios e normas relativos à estrutura fundamental do Estado e baseia-se na Constituição Federal, embora não se prenda exclusivamente a ela. As normas constitucionais são o direito positivo do direito constitucional. Além disso, há um sentido político e social em suas normas, a questão da soberania, da autoridade, da administração pública, as liberdades e os direitos individuais e coletivos. É o ramo mais importante do direito público. Há o direito constitucional estadual e o direito constitucional federal.
	O Direito Administrativo compreende o estudo das normas que regulam o serviço público e regulamentam as relações entre a Administração, seus respectivos órgãos, os administradores, os administrados, os servidores públicos, os serviços públicos, independentemente de qual dos Poderes da República emanam os atos administrativos (se do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário). No entanto, especificamente, estuda os atos da Administração Pública emanados do Poder Executivo.
	O Direito Financeiro estuda o funcionamento orçamentário dos entes públicos, princípios normas e regulamentos, disciplinando as finanças públicas. No passado, esteve ligado ao direito administrativo. O Direito Tributário é um ramo do direito público e sub-ramo do direito financeiro, que regula a arrecadação de tributos e a relação entre o Fisco (estadual, federal ou municipal) e o contribuinte.
	O Direito Processual, subdividido em direito processual civil, penal, trabalhista, administrativo, etc, é o direito que ordena a forma pela qual a pessoa pode obter do Estado, por meio do Poder Judiciário, uma decisão judicial acerca de um conflito de interesses. È um direito eminentemente público, vez que somente o Estado pode regular o direito de acesso à justiça, de demandar perante o Judiciário e de definir as competências e o limite da jurisdição.
	O Direito Penal é o conjunto dos preceitos legais fixados pelo Estado para definir os crimes e aplicar aos infratores as correspondentes penas e medidas e de segurança. Regulamenta o poder punitivo do Estado.
	Direito Internacional Público é o ramo do direito público interno que estuda as regras de direito internacionais, tanto referentes à relação entre Estados soberanos, quanto em relação a um Estado e quanto aos organismos internacionais.
	Direito Internacional Privado é o ramo do direito público interno que estuda as regras de direito que entram em conflito quanto a sua validade em diferentes Estados, ou seja, as hipóteses de aplicação de direito estrangeiro no território nacional e de direito nacional em território estrangeiro.
	O Direito Civil é o ramo que engloba as normas reguladoras das relações jurídicas entre os particulares, as capacidades das pessoas, os bens, os negócios jurídicos e as relações patrimoniais.
	O Direito Comercial é, atualmente, parte do Direito Civil, mas que já possuiu código de leis próprias, editado em 1850, e cujas normas referentes ao direito marítimo continuam em vigor. No caso do direito comercial propriamente dito, atualmente há uma tendência a ser compreendido como direito empresarial, tendo em vista as transformações pelas quais as atividades de comércio, indústria e serviços vêm passando.
Atualmente o Direito Comercial é conhecido como Direito Empresarial na maior parte dos cursos jurídicos, por se tratar de terminologia mais moderna e atual que engloba não apenas o Direito Comercial, mas também as inovações do mundo empresarial. É uma terminologiamais adequada e moderna. 
	Evidentemente, muitos outros ramos do direito há, à medida em que surgem novas relações sociais, novos conflitos derivados destas, e novos ramos completos do direito, como Direito Cibernético, Direito Espacial, Direito Ambiental, Direito do Consumidor, Direito Desportivo e Bio-Direito, cada um deles com seus institutos próprios, conceitos e normas, mas seria desnecessário mencioná-los.
	
ORDENAMENTO JURÍDICO
INSTITUTO JURIDICO
	Instituto Jurídico é a reunião de normas jurídicas afins, que regem um tipo de relação social ou interesse e que se identifica pelo fim que procura realizar. É uma parte da ordem jurídica que possui uma qualidade especifica, voltada para determinado tipo de relação jurídica ou interesse. Alguns dos principais institutos jurídicos são: adoção, tutela, curatela, divórcio, poder familiar, naturalização, casamento, hipoteca, posse, etc.
	Há institutos de direito material e institutos de direito processual. A falência, o usufruto, a prescrição e a decadência são institutos de direito material. A intervenção de terceiros, os recursos, e a execução são institutos de direito processual.
	Tais institutos não estão regulamentados por apenas uma norma, mas por um conjunto de normas afins, desenvolvendo uma seqüência lógico-jurídica de mesma natureza, estabelecendo uma idéia que representa um direito, protegido pela ordem jurídica.
	
14.2. INSTITUIÇÃO JURÍDICA
Os institutos jurídicos não se confundem com as instituições. As instituições são um conjunto mais extenso de normas, que englobam um certo número de institutos jurídicos e que desempenham uma função na sociedade. Em outras palavras, um conjunto de normas que estabelece um órgão, uma entidade ou um complexo de institutos que desenvolvem determinada finalidade social. 
As principais instituições da vida social são família, a propriedade e o Estado. Outros exemplos são a Presidência da República, as universidades, as escolas, o Congresso, os tribunais, os sindicatos, etc, cada uma delas integradas por institutos jurídicos e regulamentadas por um conjunto amplo de normas.
O Congresso é a instituição. Um de seus institutos jurídicos é o regulamento interno, outro é o procedimento de produção legislativa. A propriedade é a instituição, os seus institutos são o exercício da posse, a aquisição, o esbulho, etc.
	Diversos institutos jurídicos afins formam um ramo jurídico e o conjunto de ramos forma a ordem jurídica.
14.3. ORDEM JURIDICA
	É o ordenamento jurídico, regulado por princípios coerentes e harmônicos que reúnem as normas jurídicas, vinculadas entre si, dando-lhe uma fundamentação unitária.
	A idéia de ordem compõe uma unidade sistemática que procede de diversas fontes, encabeçadas pela Constituição Federal, à qual devem ajustar-se as diversas leis, decretos, costumes, dando-lhe uma coerência lógica. Os conflitos porventura contidos dentro da ordem jurídica devem ser solucionados mediante a interpretação sistemática e a hermenêutica jurídica, redefinindo o Direito Positivo como uma unidade lógica. A ordem jurídica é o próprio sistema jurídico, com todas as suas normas, princípios, regras, costumes, procedimentos, regulamentos, etc.
	As normas constitucionais estão no topo da pirâmide hierárquica de normas integrantes do ordenamento jurídico. As leis complementares explicam, regulam e definem as normas constitucionais dependentes de regulamentação. As leis denominadas ordinárias subordinam-se ás normas constitucionais e complementares constitucionais. Por sua vez, os decretos subordinam-se aos limites definidos pelas leis ordinárias, e assim por diante, permitindo compreender o ordenamento jurídico como um todo unitário. As normas jurídicas inferiores devem estar em harmonia com as normas superiores.
15. NORMA JURIDICA
	Norma Jurídica é a expressão da conduta exigida ou do modelo imposto de organização social tendente a harmonizar as relações sociais, ou seja, o instrumento de definição da conduta exigida pelo estado. Em outras palavras, a fórmula semântica e sintática que traduz qual é o comportamento exigido pelo Estado.
	Também podemos conceituar norma jurídica da seguinte forma: é a proposição normativa inserida em uma fórmula jurídica (lei, regulamento, tratado, decreto, etc), garantida pelo poder público (direito interno) ou pelas organizações internacionais (direito internacional), que pode disciplinar ações ou atos, tipos de organizações, impostos, condutas, de forma coercitiva, provida de sanção. 
	Isso significa que a norma tem uma forma e um conteúdo. A norma é descrita através de uma fórmula, ou seja, a descrição de uma hipótese que prevê a produção de certos efeitos. O conteúdo é a ação que o Estado deseja ver realizada.
	Quando um fato descrito pela norma ocorre, diz-se que houve a subsunção do fato à norma. Se a norma for descumprida, há a aplicação de uma sanção para o sujeito que a infligiu.
	A norma impõe determinado comportamento, positivo ou negativo. O comportamento positivo é uma determinação para agir, para fazer algo. O comportamento ou a conduta negativa é a exigência de se omitir uma ação, um não-fazer.
	Normalmente, a forma da norma jurídica é imperativa, geral e abstrata. Compõe-se, na maioria das vezes, de um preceito e uma sanção. O preceito define a conduta e como deve ser observada e a sanção estabelece a pena.
	
15.1 ESTRUTURA DA NORMA JURIDICA
15.2. OS IMPERATIVOS DE IMMANUEL KANT
Immanuel Kant foi um jusfilósofo alemão do século XIX. Distinguiu dois tipos de imperativos: o imperativo categórico e o imperativo hipotético. O imperativo categórico, próprio dos preceitos morais, obriga de maneira incondicional, pois a conduta é sempre necessária, apesar de não ser coercitiva. Exemplo: honrar pai e mãe. O imperativo hipotético, próprio das normas jurídicas, é condicional, de acordo com as condições especificadas na própria norma.Impõe-se nas condições especificadas na própria norma, como meio para alcançar alguma outra coisa que se pretende. Ex: se alguém quer votar, deve ter 16 anos de idade ou mais.
15.3. A CONCEPÇÃO DE HANS KELSEN
	Estrutura lógica da norma segundo Kelsen: “Em determinadas circunstâncias, um determinado sujeito deve observar tal ou qual conduta; se não a observa, outro órgão do Estado deve aplicar ao infrator uma sanção”.
Segundo Hans Kelsen, a estrutura lógica da norma pode ser enunciada do seguinte modo: o sujeito deve observar determinada conduta. Se não o fizer, um órgão do Estado deve aplicar ao infrator uma sanção. Há duas partes na formulação de Kelsen: denominadas a) norma secundária; e b) norma primária. A norma secundária estabelece uma sanção para a hipótese de violação do dever juridico, ou em outras palavras, para a não prestação. Dada não P deve ser S. Ou: dada a não prestação deve ser aplicada a sanção. A norma primária define o dever jurídico em face da situação de fato. Dado Ft deve ser P. Ou: dado um fato temporal deve ser feita a prestação. A norma primária define a conduta que deve ser tomada diante do fato concreto:
Norma secundária: Dada uma não prestação deve ser uma sanção. Ou: Dado ñP, deve ser S. Ex: se não houver o pagamento de uma divida na data estipulada, deve haver uma penalidade.
Norma primária: Dado um fato deve ser prestada uma conduta. Ex: se há a dívida, deve ser feito o pagamento.
	Hans Kelsen também distinguiu proposição normativa de norma jurídica. A proposição normativa é a linguagem que descreve a norma jurídica. É um enunciado dado ao conhecimento. É um esquema de interpretação. As normas jurídicas não são juízos, mas mandamentos, comandos, imperativos. A norma jurídica é um comando imperativo. A proposição normativa é a forma pela qual se vale a Ciência do Direito para expressar o Direito Positivo.
15.2 A CONCEPÇÃO DE CARLOS CÓSSIO
	O jurisconsulto argentino concebe a norma como um juízo disjuntivo, que reúne também duas normas: endonorma e perinorma. Pode ser esquematizada da seguinte forma: Dado A deve ser P ou dado ñ Pdeve ser S. sendo A o fato, P a prestação, ñP a não prestação e S a sanção. A endonorma seria o juízo que impõe uma prestação P ao sujeito que se encontra em determinada situação de fato A e equipara-se à norma primária de Kelsen. Ex: um individuo que assume uma dívida (A) deve efetuar o pagamento na data acordada (P). 
 	A perinorma impõe uma sanção S ao infrator, isto é, ao sujeito que não efetuou a prestação à qual estava obrigado (ñP) e corresponde à norma secundária de Kelsen. Ex: o devedor, ao não efetuar o pagamento na data prevista, deverá pagar multa e juros.
	Na realidade, a não prestação de conduta obrigatória não é opção. A própria norma se encarrega de sancioná-la. Assim, endonorma e perinorma, ou norma secundária e norma primária devem ser vistas como uma estrutura una, na qual a sanção se integra: se A é, deve ser B, sob pena de S, onde A é o fato, B é a conduta exigida e S é a sanção aplicável.
	A diferença entre as concepções é que, enquanto a norma primária e a norma secundária se justapõem, formando um todo único, a endonorma e a perinorma estão unidas pela conjunção “ou”, o que dá um sentido de ação apenas quando a situação prevista não se concretizar. Porém, na visão de Miguel Reale, ambos estariam errados, porque nem toda norma possui em seu enunciado qualquer determinação, como por exemplo artigos que apenas definem um conceito, ou fazem uma declaração. Nesse caso, a sanção estaria fora da norma, localizada nos demais dispositivos do ordenamento jurídico.
	A observância das normas não se faz de forma espontânea do direito, razão pela qual a sanção é necessária, pois é o meio pelo qual se pode aplicar a coação e, consequentemente, a coerção. A observância espontânea é, na verdade, resultante do receio da sanção. Mesmo quando não há coerção física, a coerção psicológica funciona em seu lugar. 
	Existem aqueles que negam ser a coercibilidade a nota característica da norma jurídica, por haver normas desprovidas de sanção. Na verdade muitas normas administrativas, explicativas e de direito constitucional realmente não possuem sanção em si mesmas. Porém há sanções indiretas, localizadas dentro do ordenamento jurídico, as quais são aplicadas para os casos em que aparentemente não há sanção.
15.3 CARACTERES DA NORMA JURIDICA
Na opinião predominante dos autores, os caracteres da norma jurídica são: bilateralidade, generalidade, abstratividade, imperatividade, coercibilidade. 
	Bilateralidade – vincula sempre duas ou mais pessoas. Atribui poder a uma e impõe dever a outra. A norma jurídica possui dois lados: um representado pelo direito subjetivo e outro pelo dever jurídico. Há sempre um sujeito ativo, portador do direito subjetivo, e um sujeito passivo, que possui o dever jurídico.
	Generalidade – a norma jurídica é preceito de ordem geral, que obriga a todos. Todos são iguais perante a lei. A generalidade garante o tratamento isonômico a todos que se acham em igual situação jurídica. A norma não regula um caso particular, mas todos aqueles que ocorrem da mesma forma. É na generalidade da norma que está seu caráter de imparcialidade.
	Abstratividade – visa atingir o maior número de situações. A norma é abstrata, não trata do caso concreto, não é casuística. A lei não consegue abranger todas as situações jurídicas existentes, por isso se dirige ao máximo de situações possíveis, sem tratar de casos concretos.
	Imperatividade – para atingir a segurança de que será respeitada, a norma jurídica é imperativa. A norma não imperativa não é norma jurídica. Mesmo as normas explicativas ou declarativas, que não possuem em sua expressão sintática um mandamento, vão buscar sua imperatividade no conjunto do ordenamento jurídico. As normas não imperativas contidas no ordenamento jurídico devem ser vistas como complementares ou supletivas, pois estão na dependência da ocorrência de outras hipóteses inseridas no ordenamento.
	Coercibilidade – possibilidade de uso da coação – possui os elementos psicológico e material. O primeiro é o uso da intimidação, através das sanções. O segundo é a força propriamente dita, acionada quando a hipótese ocorre e o sujeito age em desconformidade com o preceito. Coação e sanção não se confundem. A sanção é a medida punitiva adotada para atacar a hipótese da violação da norma. A coação é uma reserva de força que está a serviço do Direito, quando o indivíduo não cumpre a regra espontaneamente. A coercibilidade é a latência da coação. Coação em estado latente.
15.4 SANÇÃO
	A norma jurídica é acompanhada normalmente de sanção eficaz, estabelecida anteriormente, tendo em vista o princípio da legalidade (nullum crimen sine praevia lege), independentemente do arbítrio do poder público. Sanção é a conseqüência jurídica danosa prevista na própria norma, ou em outras normas do ordenamento jurídico, aplicável no caso de sua inobservância, não desejada por quem a transgride, sendo-lhe aplicável pelo poder público ou pelo direito internacional.
	A sanção procura neutralizar, desfazer ou anular o mal causado pelo ilícito, criando uma situação desfavorável para o agressor. Só podem ser aplicada sanções previamente previstas em lei, não tendo o juiz qualquer discricionariedade nesse sentido. No direito civil as sanções são, em geral, obrigações de fazer, não fazer, ou obrigações pecuniárias (multas, ressarcimento de danos, devolução dos valores pagos, etc). No direito penal, as penas em geral restringem ou diminuem a liberdade das pessoas
	As sanções são, em geral, de seis tipos: repressivas, preventivas, executivas, restitutivas, rescisórias e extintivas. Na repressiva, destaca-se a sanção penal (privativas ou restritivas de liberdade); as preventivas visam a evitar a repetição de delitos, como por exemplo retirar uma carteira de habilitação; a sanção executiva obriga o faltoso a cumprir a obrigação através de uma “execução forçada”, amealhando-se parte do patrimônio do devedor para satisfazer a obrigação; as restitutivas visam restabelecer situações anteriores, como as ações de perda e danos, voltadas para a reparação do dano causado ao patrimônio de alguém; as rescisórias rescindem contratos e dissolvem sociedades e por fim as sanções extintivas extinguem relações jurídicas e direitos pela ocorrência de prescrição e decadência, preclusão ou por sentença. 
16. QUALIDADES DA NORMA JURÍDICA
	Vigência – É a qualidade da norma que lhe dá validade formal. Ocorre quando a norma ingressa no ordenamento jurídico, e atinge os efeitos para os quais foi formulada. Para isso ela precisa preencher os requisitos técnico-formais, ou seja, ela deve ser produzida por um órgão do Estado competente para sua formulação, respeitar a vacatio legis prevista na própria norma, ingressar no mundo jurídico e produzir seus efeitos. Diz-se vigente uma lei quando passa a atuar no sistema. É a publicação que provoca o plano da vigência. São os aspectos extrínsecos da norma. norma vigente pode não ser aplicável, assim como se dá a aplicação de regras jurídicas que não estão mais em vigor.Art. 1º - Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada.
No sistema brasileiro, a vacatio legis é de 45 dias após a publicação, como regra geral, caso a norma não preveja outro prazo – p.ex: o Novo Código Civil teve uma vacatio legis e mais de um ano. Quando a aplicação da lei brasileira for admitida no estrangeiro, a vacatio legis será de 3 meses (art. 1 da LICC).
A perda da vigência pode ocorrer nas seguintes hipóteses: a) revogação por outra lei; b) decurso do tempo; c) desuso.
A revogação pode ser total ou parcial. Chama-se ab-rogação a revogação total de uma lei e derrogação a revogação parcial. A revogação da lei pode ser expressa ou tácita. A revogação expressa é aquela que ocorre quando a lei nova determina especificamente a revogação da lei anterior. A revogação tácita é aquela que ocorre quando uma lei nova disciplina de forma totalmente diferente determinada matéria de forma que uma outra lei,

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