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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 6 – mod XII Crises convulsivas e Epilepsia Crises convulsivas, suas causas e meus mecanismos fisiopatológicos Tipos de crises convulsivas, seu diagnóstico clínico, diagnóstico diferencial, laboratorial de imagem Bases de terapêuticas medicamentosas de crises convulsivas, epilepsia Droga: anticonvulsivantes Introdução - Crise epiléptica é definida por sinais ou sintomas transitórios, generalizados ou focais devido à atividade neuronal anormal, síncrona ou excessiva. - Crises focais se originam nas redes neuronais limitadas a um hemisfério cerebral, produzem sinais e sintomas correspondentes à região específica do cérebro que é afetada pela crise. - Crises generalizadas rapidamente afetam extensas redes neuronais em ambos os hemisférios cerebrais e seus sinais e sintomas são consistentes com envolvimento das substâncias de ambos os lados do cérebro. - Crises epilépticas não são sinônimo de epilepsia. Estas devem ser distinguidas de situações nas quais ataques cerebrais agudos causam 1 ou mais crises sem ser uma tendência crônica a ter crises. - Crises sintomáticas agudas, ou crises provocadas, constituem cerca de 40% de todos os casos de crises não febris, respondendo a TTO do fator desencadeante, e não requerem TTO a longo prazo com antiepilépticos. - As epilepsias são condições nas quais um distúrbio neurológico resulta em tendência crônica a ocorrência de crises recorrentes não provocadas. - A ocorrência de duas ou mais crises estabelece o diagnóstico de epilepsia. - Causas, tipos e expressão clínica das epilepsias são inúmeras e variadas. EPIDEMIOLOGIA Incidência e prevalência - Crises são comuns na população em geral. 1 a cada 10 pessoas vai ter uma crise durante sua vida. A maioria é provocada por eventos agudos e não são relacionadas com epilepsia. - Incidência de crises sintomáticas é 39/100.000, sendo maior em homens, com uma distribuição etária bimodal, com pico no primeiro ano de vida, estabilizando e aumentando após 75 anos. - Tem associação a causas metabólicas, infecciosas e encefalopáticas durante o período neonatal e doenças degenerativas e cerebrovasculares em idosos. - As epilepsias são comuns e afetam indivíduos de qualquer idade. - Incidência e prevalência são maiores em países em desenvolvimento, principalmente devido a maior frequência de ataques perinatais, trauma e doenças infecciosas cerebrais e ainda tratamento não ideal. Fatores de risco Traumatismo craniano (16%) AVE (16%) ↑ 20x chance Doenças infecciosas (15%) Distúrbios tóxicos-metabólicos (15%) Abstinência de drogas e álcool (14%) - Causas comuns: Metabólica: hiper/hiponatremia, hipóxia, hipo/hiperglicemia, insuficiência renal Induzida por medicamentos: meperidina, antidepressivos, quinolonas, anti-histamínico, ciclosporina, cocaína, anfetamina, ... Abstinência: álcool, benzodiazepínicos, barbitúricos Endócrino: hiper/hipotireoidismo Outras condições sistêmicas: crises de células falciformes, encefalopatia hipertensiva, lúpus eritematoso sistêmico, poliartrite, eclâmpsia, febre alta Distúrbios do SNC: trauma, AVE, hemorragia, encefalite, abscesso, meningite bacteriana. - Na infância, os fatores de risco são crises febris, traumatismo craniano, infecções cerebrais, retardo mental, paralisia e TDAH. - Na América Latina, o fator de risco mais frequentemente identificado é a infecção cerebral. Em áreas endêmicas, a neurocisticercose é responsável por cerca de 10% de todos os casos novos de epilepsia. FISIOPATOLOGIA Patogênese - Nas CRISES FOCAIS, neurônios corticais ou subcorticais desenvolverão surtos de potenciais de ação sódio-dependentes causados por mudança na condutibilidade do cálcio, gerando uma descarga típica de espícula no EEG. - A propagação do surto de despolarização para outros neurônios é prevenida por mecanismos inibitórios circulantes, como hiperpolarização e interneurônios inibitórios. - Quando um n° de neurônios está comprometido com a sustentação da despolarização, mais fenômenos excitatórios ocorrem, como o aumento da liberação de NT pelo acúmulo pré-sináptico de Ca, despolarização de neurônios pelo aumento de K e maior ativação neuronal causada pela despolarização induzindo ativação dos receptores NMDA. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 - Excitação aumenta, inibição diminui, neurônios adicionais são recrutados e há a propagação da crise. Mecanismos de tendência à despolarização: alterações nos NT, receptores de membrana, canais iônicos, sistemas de segundos mensageiros e expressão gênica de várias proteínas. - Sabe-se bem pouco sobre as CRISES GENERALIZADAS, mas elas dependem de circuitos tálamo-corticais. - Em crises de ausência, as descargas generalizadas registradas no EEG estão relacionadas com alterações nos ritmos oscilatórios gerados por circuitos que conectam o tálamo e o córtex e que envolvem Ca tipo T, no núcleo reticular do tálamo. - Nessas crises generalizadas, os neurônios corticais exibem despolarização prolongada durante a fase tônica, despolarização e repolarização rítmica na fase clônica. - Ativação de NMDA aumenta entrada de Ca, aumenta excitação neuronal. - Crise convulsiva tem envolvimento de aferentes colinérgicos, noradrenérgicos, serotoninérgicos e histaminérgicos, que modulam a excitabilidade dos mecanismos motores hemisféricos. Fatores genéticos - 15% dos pctes tem 1 ou mais familiares de 1° grau que também sofre de epilepsia e destes, 75% tem somente um parente afetado. - Aspectos genéticos categorizados em três grupos: 1. Condições nas quais a epilepsia faz parte de um transtorno mendeliano engloba 200 condições raras, com doenças neurocutâneas, distúrbios neurodegenerativos, erros inatos do metabolismo, entre outros. 2. Epilepsias que podem ser explicadas por herança mendeliana simples são raras e são 1% de todas as epilepsias. Mutações nos genes dos canais de K, Na, Cl, receptor GABA, acetilcolina, entre outros. 3. Doenças genéticas complexas: 50% dos pctes com epilepsia. Há genes múltiplos, cada um com efeitos pequenos, mas aditivos, que agem em conjunto com fatores ambientais e aumentam risco para epilepsia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Varia com o tipo de crise e das áreas cerebrais envolvidas pela atividade epiléptica. - Identificar o tipo ajuda na escolha do medicamento. CRISES FOCAIS 1. Crise Somatossensorial: envolve área rolândica, parietal, área sensitiva secundária, área sensorial-motora e suplementar. Formigamento contralateral, dormência, sensação de movimento, calor, frio, choque. Perda da capacidade de reconhecer objetos, membro fantasma, distorção de tamanho. Formigamento de membro ou tronco ipslateral ou bilateral, dormência ou dor. Muitas vezes envolve membros, língua, ponta dos dedos, pés. 2. Crise Motora: área rolândica sensorial-motora, suplementar e frontal. Contrações clônicas contralaterais, rítmicas, que podem ir para outras áreas do corpo. Pode acompanhar sintomas sensoriais na mesma área Contração tônica bilateral de membros, com mudanças posturais, podendo ter interrupção da fala Versão contralateral da cabeça e olhos, salivação, pode ter combinação com sinais motores dependendo da crise. 3. Crise Auditória: córtex auditivo Zumbido bi ou contralateral, tons únicos, sons abafados 4. Crise Olfatória: região órbito frontal e córtex Odor desagradável 5. Crise Gustatória: área parietal, ínsula Gosto desagradável, acídico, metálico, salgado, doce ou defumado 6. Crise Vertiginosa: junção occipitotemporal, lobo frontal Deslocação do corpo em várias direções 7. Crise Visual: occipital, temporal e junção occipitotemporal-parietal Luzes, formas ou pontos coloridos. Perda de visão completaou parcial, contra ou bilateral 8. Crise Límbica: amígdala, hipocampo, cíngulo, córtex Autonômico: náusea, borborigmo, dor peitoral... Psíquico: despersonalização, desrealização, estado de sonho, medo, alegria, tristeza, prazer sexual, alucinações, ... 9. Crise Discognitiva: envolvimento bilateral de estruturas límbicas As antigas crises parciais complexas, com alteração de consciência ou vigília. Envolvimento de DUAS das cinco componentes da cognição: percepção, atenção, emoção, memória e função executiva. Crises focais de qualquer região podem se tornar crises discognitivas. Aura: aponta para o início focal da crise, com alteração cerebral funcional ou anormalidade estrutural (tumor). Crises focais tem implicações importantes para TTO e prognóstico. A natureza dos sintomas aponta para a área do cérebro que origina a crise e que pode ser a área específica pra TTO cirúrgico. - A descarga neuronal que origina a crise focal pode ficar limitada ou pode se propagar envolvendo áreas cerebrais adicionais. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 - Crises focais unilaterais podem se propagar e envolver áreas bilaterais causando uma CRISE CONVULSIVA. Crises tônico-clônicas. - Uma descarga rítmica, localizada e simultânea evolui com aumento da amplitude e diminuição de frequência conforme a crise persiste. Pode ser difícil o diagnóstico. Crise discognitiva - Crise focal pode acontecer como eventos isolados com ou sem alteração discognitiva, gerando o estado de mal epiléptico focal. - Registros de EEG mostram anormalidades que não são as mesmas das crises isoladas no mesmo indivíduo. - Estado epiléptico focal com crise discognitiva é caracterizado por confusão mental com duração prolongada. - Alterações mais comuns: atividade de base lentificada superposta a ondas agudas de alta amplitude, rítmicas, ou descargas epileptiformes rítmicas e repetitivas. - Mais frequente nas crises do lobo frontal, podendo ser também no lobo temporal. - O estado de mal epiléptico não convulsivo é um estado de confusão ou estado mental comprometido em pctes com diagnósticos neurológicos que podem ser variados em UTI. - Episódios de estados confusionais prolongados, causados por descargas epileptiformes generalizadas e contínuas de onda aguda-onda lenta. CRISES GENERALIZADAS - Afetam ambos os hemisférios cerebrais, clínica combina com isso. - Crises convulsivas são crises de grande mal, consistem em contrações musculares anormais excessivas que podem ser sustentadas ou interrompidas, combinando fase tônica e clônica. - Pode envolver os dois hemisférios desde o início ou ser por propagação focal. - Essas crises assustam as testemunhas e causam certo impacto no pcte. Eles podem começar com um grito pelo movimento abrupto do ar com a contração tônica. Pcte se torna rígido. Pode haver pausa respiratória, cianose e incontinência urinária. - Depois de 15-45s, a contração tônica é substituída por clônica rítmica, algumas assimétricas, dos quatro membros. - As contrações vão ficando mais lentas até pcte ficar apneico, comatoso e diaforético, respirando ofegante. - Aos que tem crise em público, muitas vezes necessitam de esforço de ressuscitação, mesmo voltando sozinho dentro de 1 minuto. Pcte dorme de 2-8h e depois queixa de cefaleia intensa, dor muscular, língua mordida e ñ consegue se concentrar. Crise de ausência ou crise de pequeno mal, são o segundo tipo mais comum de crise generalizada. Há um lapso momentâneo de consciência, de início e término abruptos. Não tem nenhuma percepção de aspecto do evento e podem ou não perceber que aconteceu. - Como a consciência é perdida e recuperada, não há sintomas de aura ou sintomas pós-ictais. Crises que se iniciam na infância. Pode ocorrer muitas vezes por dia e podem ocorrer de forma contínua. Típica: cessação de atividades, olhar vago e imóvel, perda de consciência 10s. Ataque termina subitamente, pcte retorna a suas atividades normais imediatamente. Atípica: duração maior, muitas vezes acompanhada de características autonômicas, atônicas, tônicas e mioclônicas, além de automatismos. Com mioclonia: ausência de componentes mioclônico de intensidade variável. Crise mioclônicas consistem de episódios breves de contração motora súbita, que pode ser focal, envolvendo apenas um braço, ou bilateral e maciço, envolvendo tronco e dos MMSS bilateralmente. - A consciência é preservada mas pode ser difícil de avaliar por serem crises breves. - São repentinas, breves, semelhantes a choques, involuntárias, únicas ou de múltiplos músculos em várias localizações. Atônico: fase mioclônica fase atônica Tônico: fase mioclônica fase tônica 3. Tônica: aumento da concentração muscular durante segundos a minutos. 4. Clônica: contrações prolongadas repetidas regularmente envolvendo os mesmos grupos musculares na razão de 2-3 ciclos/s. 5. Atônica: perda repentina ou diminuição do tônus muscular 1-2s, envolvendo cabeça, tronco, mandíbula ou musculatura dos membros. 6. Tônica-clônica: fase tônica fase clônica. DIAGNÓSTICO - Estabelecido pela história clínica, que geralmente dá a resposta básica sobre os episódios serem ou não crises, mesmo com o EEG, imagens e labs. - Como a epilepsia é definida pela ocorrência de duas ou mais crises não provocadas, a história clínica é importante. Diagnóstico diferencial EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 - Outras condições que provocam disfunção neurológica episódica: síncope, AIT, enxaqueca, transtornos de movimento e crises não epilépticas psicogênicas. Crise Síncope Contexto clínico e circunstância Condição neurológica que predispõe a crises, histórico familiar de. Fadiga mental, privação de sono, uso ou abstinência de álcool, doença sistêmica Distúrbios cardiovasculares, desidratação, anemia, histórico familiar de síncope Desencadea dores Nenhum, geralmente Hipotensão ortostática, punção venosa, estímulos dolorosos e nocivos, estresse emocional, micção, Valsalva Características clínicas Início Sem aviso prévio, a menos que tenha aura. Perda abrupta de consciência, enrijecimento generalizada e queda. Ocorre em qlqr posição. Cansaço, náuseas, perda de consciência por poucos segundos e queda. Geralmente ocorre quando em pé Curso Fase tônica proeminente, movimentos clônicos 1min, cianose, dispneia, pode morder língua ou bochecha, às vezes incontinência Perda de tônus, palidez, abalos mioclônicos multifocais < 15s, incontinência, sem morder língua e bochecha Compensaçã o Sonolência pós- ictal, confusão por horas, dor de cabeça, mialgia Recupera em segundos ou menos de minutos, sem confusão, dor de cabeça ou mialgia. Pode ter fadiga. - Prestar atenção no relato dos acompanhantes. - História detalhada, EEG e RM podem dar diagnóstico definitivo e sua causa em até 50% dos pctes. Crises únicas: crises sintomáticas agudas tem causa conhecida geralmente e sua investigação deve ser guiada para elas. - Quando nenhuma causa é determinada, são ditas não provocadas. Avalia por TC ou RM (10%). ECG pós crise pode demonstrar anormalidades com prognóstico em 20- 25%. - Labs não são muito específicos. Punção lombar se suspeita de infecções do SNC e em pctes com HIV. Eletroencefalograma – EEG - Avalia função cerebral geral e o tipo, localização e qtd de descargas epileptiformes (espículas). Determina a síndrome epiléptica e a escolha de medicamentos antiepilépticos adequados. - Pode ter falha se o foco da crise for pequeno. Vai ser anormal em crises de ausência e crises convulsivas generalizadas. - EEG pode ser normal mesmo com diagnóstico de epilepsia. Nas generalizadas, as espículas são mais comuns e mais fáceis de aparecer. - O tipo de anormalidadesugere a síndrome epiléptica. Magnetoencefalografia - Mede os pequenos campos magnéticos gerados pela atividade elétrica do cérebro. - Usado para pctes candidatos a cirurgia de epilepsia, para mapear as descargas e a localização da função cerebral. Imagens - RM pode demonstrar lesões e deve ser feita nos pctes com crises de início recente. - Usar sequências fluido-atenuadas de recuperação inversa aumenta a sensibilidade para detectar anormalidades. - TC com pósitrons analisa metabolismo e TC com fóton determina fluxo sanguíneo e ajuda a localizar áreas para cirurgia. Síndromes epilépticas - São distúrbios nos quais a epilepsia é uma característica predominante, e existem evidências suficientes (p. ex., por observações clínicas, eletroencefalográficas, radiológicas ou genéticas) em favor de um mecanismo subjacente comum. EPILEPSIA MIOCLÔNICA JUVENIL (EMJ) - Não é tão comum (5 a 10% das epilepsias) - Início na adolescência - Crises ocorrem frequentemente ao despertar e podem ser causadas por privação do sono. - É um distúrbio convulsivo generalizado de causa desconhecida, se caracteriza por abalos mioclônicos bilaterais que podem ser isolados ou repetitivos. - A consciência é preservada, a menos que a mioclonia seja intensa. - Associação com convulsões tônico-clônicas generalizadas, e até um terço tem crises de ausência. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 - Muitas vezes, há história familiar de epilepsia, e estudos de ligação genética sugerem uma causa poligênica. - EEG: atividade epiléptica poliponta-onda generalizada e fotos sensibilidade (várias espiculas e uma onda lenta) - Tratamento de escolha: ácido valproico. SÍNDROME DE LENNOX-GASTAUT - Ocorre em crianças e é definida pela seguinte tríade: 1. Múltiplos tipos de crises, como convulsões tônico- clônicas generalizadas (drop attack), atônicas e crises de ausência atípicas a criança fica tensa por alguns segundos e melhora. 2. EEG típico; ponta-onda lentas generalizada (< 3 Hz) 3. Disfunção cognitiva na maioria dos casos, mas não em todos. - É multifatorial, tem associação com a doença/disfunção do SNC de várias etiologias, como mutações de novo, anormalidades do desenvolvimento, hipoxia/isquemia perinatal, traumatismo, infecção e outras lesões adquiridas. Isso sugere que se trata de uma resposta inespecífica do cérebro à disfunção neuronal difusa. - A criança tem um desenvolvimento inicial normal (1 a 5 anos), porém começa com regressão das habilidades que coincidem com o início das crises convulsivas que ficam descontroladas. - Muitos pacientes têm prognóstico ruim devido a doença subjacente do SNC e das consequências físicas e psicossociais da epilepsia grave mal controlada. SÍNDROME DE EPILEPSIA DO LOBO TEMPORAL MESIAL (ELTM) - É a síndrome mais comum associada a convulsões focais com comprometimento da consciência e mais comum na idade adulta. - Pode haver generalização secundária - Aura epigástrica (“borboletas no estomago”) ou odor forte (acometimento do uncus) - Postura distônica no membro contralateral ao foco (se a região do foco é direita e distonia será no membro esquerdo) disfasia com foco no hemisfério dominante - Olhar fixo, movimentos orofaciais/mastigatórios, automatismos gestuais - Epilepsia do uncus: sensação olfativa desagradável - Desorientação pós-ictal, parada do comportamento/olhar fixo, perda de memória, automatismos complexos, postura unilateral. - História: história de convulsões febris, raras convulsões generalizadas, história familiar de epilepsia; convulsões podem remitir e reaparecer, início precoce - Reconhecer essa síndrome é importante pois ela tende a ser refratária ao tratamento com anticonvulsivantes, mas responde bem à intervenção cirúrgica Exames laboratoriais: - Pontas temporais anteriores unilaterais ou bilaterais no EEG - Hipometabolismo na PET interictal - Hipoperfusão na SPECT interictal - Déficits de memória específicos no teste do amobarbital intracraniano (teste de Wada) Achados na RM: - Hipocampo pequeno com sinal hiperintenso nas sequências ponderadas em T2 - Lobo temporal pequeno - Corno temporal aumentado Achados patológicos: perda altamente seletiva de populações celulares específicos do hipocampo na maioria dos casos. - A RM pode detectar a esclerose hipocampal típica que parece ser essencial à fisiopatologia da ELTM em muitos pacientes. Resumo de Epilepsia | Ligas - Sanar Medicina TRATAMENTO DA EPILEPSIA Atendimento Pré-Hospitalar do Paciente em Crise ➢ Avaliação das vias aéreas, padrões respiratórios e circulação, se possível avalia saturação com oximetria de pulso, glicemia capilar (se <60 faz dextrose 50% IV: mantem células cerebrais com glicose para fazer atividades metabolicas) e ECG ➢ Colocar o paciente em decúbito lateral, para evitar a broncoaspiração, paciente não deve ser segurado, amarrado ou ter sua língua segurada. ➢ Terapia medicamentosa de 1° linha: benzodiazepínico (potenciação inibitória GABAergica ou inibição excitatória glutamatergica): Diazepam 5mg até no máximo 20 mg EV, Lorazepam 2 mg até o máximo de 10 mg, Midazolam 10 mg, podendo ser EV, IM ou IN. https://www.sanarmed.com/resumo-epilepsia-com-mapa-mental-ligas EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 Atendimento do Paciente no Departamento de Emergência: se persistir a convulsão no momento do atendimento: ➢ Terapia de 2° linha: Fenitoína 20 mg/kg IV, até 50 mg/min (modula canais de sódio bloqueando propagação dos potenciais de ação e estabilizando membranas neuronais), Fosfenitoína 20 PE/kg IM ou IV até 150 mg/min, Ácido Valpróico 20-40 mg/kg a 3-6 mg/kg/min ➢ Terapia de 3° linha, usada caso os medicamentos acima não tenha resolvido: intubação orotraqueal, EEG, administra Pentobarbital 5mg/kg IV, Fenobarbital 20 mg/kg IV, Midazolam 0,2 mg/kg IV, Propofol 2 mg/kg IV Fármacos antiepiléticos: Divididos em 3 gerações - 1ª Geração: brometo de potássio, fenobarbital e várias moléculas derivadas da estrutura dos barbitúricos: fenitoína, pirimidona, trimetadiona e etossuximida. - 2ª Geração: carbamazepina, valproato e benzodiazepínicos - 3ª Geração: progabida, gabapentina, vigabatrina, tiagabina, lamotrigina e topiramato - Para escolha do tratamento, deve se priorizar a qualidade de vida do paciente. Utiliza fármacos que possuem efetividade, visando menor qtd possível de efeitos colaterais. Caso seja necessário, deve ser feita a associação de medicamentos, evitando os fármacos com interações complexas e mecanismos de ação diferentes. - Medicações podem ser reduzidas ao longo de 4 a 6 meses em pacientes que ficaram livres de crises por 2 anos ou mais e com exames neurológicos normais Escolha da Conduta Terapêutica, com base no guideline da international league against epilepsy (ILAE): os seguintes fármacos anticonvulsivantes são preferíveis nos quadros clínicos de: ➢ Adultos com epilepsia focal: Carbamazepina, Fenitoína e Ácido valproico ➢ Crianças com epilepsia focal: Carbamazepina ➢ Idosos com epilepsia focal: Lamotrigina e Gabapentina ➢ Adultos e crianças com crises tônico-clônica generalizada, crianças com crises de ausência, epilepsia rolândica, epilepsia mioclônica juvenil e Crises generalizada: usualmente são utilizados o Ácido valpróico (1° escolha), Lamotrigina e Etossuximida. Critérios Para Troca de Medicamento: confirmada a adesão do tratamento, recomenda-se a troca de medicamentos nas seguintes opções: Intolerância a primeira monoterapia em doses adequadas. Falha no controle ou presença de exacerbação de crises Critérios para Utilização de associação Medicamentosa: pode ser utilizado associações nos seguintes casos: Controle inadequado de crises com duas monoterapias sequenciais. Paciente de alto risco para agravamento de crises,definido por epilepsias generalizadas sintomáticas, que esteja em uso de anticonvulsivante de espectro estreito. - Há evidência de sinergismo entre o ácido valproico e a lamotrigina quando utilizados em combinação para crises focais e generalizadas. - Também há evidência de que carbamazepina com lamotrigina podem favorecer o aparecimento de efeitos colaterais neurotóxicos, o que torna a associação ruim. Critérios de Interrupção do Tratamento: pode ser interrompido o tratamento nas seguintes situações: - Falha de Tratamento: quando o período de tratamento é maior que 3 meses, sendo utilizado doses máximas de todos os medicamentos testados, e que mesmo assim não haja resposta efetiva,sendo necessário adicionar um segundo medicamento ao esquema terapêutico. - Em remissão de Crises: paciente é considerado livre de crises quando elas não ocorrem por pelo menos 2 anos, durante o tratamento com dose inalterada nesse período. Caso o paciente tenha uma crise após esse período, é considerado refratário. - Período de reavaliação das medicações pelo médico é de 3 meses TRATAMENTO CIRURGICO: ressecção ou desconexão da região cerebral que tem o foco da crise, alguns casos fazem procedimento cirúrgico paliativo como calosotomia e transecção subpial múltipla: esses casos tem menos sucesso e só faz quando a ressecção cirúrgica não é possível. ANTICONVULSIVANTES FENOBARBITAL - Mecanismo de ação GABAérgica, aumenta afinidade do GABA com receptor. Usado nas crises focais e tônico clônica generalizada. - Tem interação medicamentosa com indutor enzimático, usa nas doses de 100-200mg usado em qualquer idade. - Efeitos adversos: ataxia, tontura, Disartria, fadiga, cefaleia, irritabilidade, vertigem, Nistagmo e depressão. ÁCIDO VALPROICO ou divalproato de sódio - Mecanismo de ação GABAérgica, bloqueio do canal de cálcio tipo T e no canal de sódio. - Pode ser usado em crises focais e generalizadas, tendo indicação em monoterapia e terapia adjunta de pctes > 10 anos e com qualquer forma de epilepsia, podendo ser usado como estabilizador de humor. - Interação medicamentosa com indutor enzimático. - Efeitos adversos: náusea, cefaleia, aumento do tempo de sangramento, trombocitopenia, tremor, alopecia, astenia, sonolência, diplopia, tontura, dispepsia, zumbido, nistagmo, vômitos e diarreia. FENITOÍNA EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 - Bloq canal de sódio, usado em crises focais complexas e tônico clônico generalizadas. - Pode ser usado na Sd. Lennox Gastaut (crises tônicas) e na prevenção/tratamento de crises epilépticas durante ou depois de uma neurocirurgia. Tem interação medicamentosa com indutor enzimático. - Efeitos adversos: ataxia, tontura, Disartria, Nistagmo, atrofia cerebelar, bradicardia, bloqueio de condução, hipertrofia gengival e anemia megaloblástica. CARBAMAZEPINA - Bloq canal de sódio e discreta ação anticolinérgica. Pode ser usado em crises focais e tônico clônico generalizados (qdo > 1 ano). - Interação medicamentosa com indutor enzimático, é de baixo custo. - Efeitos adversos: ataxia, tontura, sonolência, náuseas e vômitos. OXCARBAZEPINA - Bloq do canal de sódio, pode ser utilizada em gestantes, usa doses de 600 a 1800 mg. Crises focais e Tonico- clônica generalizada. - Efeitos adversos: tontura, ataxia, cefaleia, náuseas, nistagmo, sonolência, alteração da marcha, tremor, dor abdominal, fadiga, vertigem, anormalidades visuais. LAMOTRIGINA - Bloq do canal de sódio, tem espectro de ação amplo, podendo ser usado nas focais e generalizadas. Não possui efeito no citocromo P450, mas seus níveis são influenciados por inibidores ou indutores. - Tem classificação C na teratogenese, podendo ser usado com cautela. Dosagem de 200-600. Monoterapia para crises focais com ou sem generalização secundária> 12 anos em situações de intolerância ou refratariedade a medicamentos de primeira linha. Terapia adjuvante para crises focais em pacientes >2 anos de idade, e adjuvante nas crises generalizadas na síndrome de Lennox Gastaut. - Efeitos adversos: tontura, diplopia, cefaleia, ataxia, turvação visual, rinite, sonolência, alergia e rash cutâneo, aumenta a dose de 25-25mg tentando não agravar os efeitos colaterais, se usar inibidor enzimático faz de 12,5- 12,5. TOPIRAMATO - Bloq do canal de sódio, GABAérgicos, antagonista do receptor de AMPA/Kinase. Usado em monoterapia para crises focais ou primariamente TCG (tonicoclonicas generalizadas) em > 10 anos com intolerância ou refratariedade a outros medicamentos de primeira linha. Terapia adjuvante para crises focais, primariamente generalizadas ou crises associadas com a síndrome de Lennox-Gastaut em pacientes > 2anos. Dose 200 a 400 mg. - Efeitos adversos: redução de bicarbonato sérico, tontura, fadiga, ataxia, nervosismo, parestesia, lentificação psicomotora, visão anormal, anorexia, confusão, alteração de memória e fala. Não tem efeito no citocromo P450. - Risco fetal (classificação D teratogenese). LEVETIRACETAM - Ligação com proteína SV2A (na vesícula sináptica): impede que o neurotransmissor alcance a fenda sináptica, ou seja, atua na condução sináptica. Espectro de ação amplo (focais e generalizadas). Dose 1 a 3g. - Efeitos adversos: astenia, cefaleia, HAS, sonolência, fadiga, anorexia, fraqueza, tosse, depressão. Classificação C na teratogenese podendo ser usado em gravidas com cautela. Não possui efeito no citocromo P450. PROGNÓSTICO - Favorável na maioria dos pctes com crises ñ provocadas ou uma das epilepsias. Prognóstico após crises febris - Crises febris são comuns e geralmente são tônico- clônicas generalizadas. Provocadas por febre e não são consideradas epilepsia. - Crises começam após 6 meses e param antes dos 6 anos. Geralmente, crises febris ñ são tratadas por terem bom prognóstico. Quando ocorrem numa anormalidade neurológica ou se são prolongadas ou complicadas, o risco de epilepsia posterior é maior. Prognóstico após crise única ñ provocada - Crises recorrentes após crise não provocada varia de 21-69% aos 2 anos de idade e de 34-70% aos 5 anos. - O risco é menor na população em geral do que em estudos de base hospitalar. Probabilidade de recorrência diminui com o tempo, 50% em 6 meses e 76-96% em 2 anos. - Caixa neurológica para a crise, descoberta na RM cerebral ou exame neurológico e um EEG anormal, com lentificação ou alterações epileptiformes. - Risco de recorrência aumenta se mais de uma crise ocorreu; após 2ª crise ñ provocada, o risco de ter uma 3ª é 73% e após esta, chance para 4ª é de 76%. Prognóstico da epilepsia - Epilepsia não tratada mostra que 30-40% dos pctes tem remissão de 5-10 anos sem TTO. - Países desenvolvidos, com TTO iniciado após duas crises não provocadas, a probabilidade de remissão em 5 anos é cerca de 60%. Se o período de crises não controladas se estender por 4 anos, a chance de alcançar o controle definitivo é de apenas 10%. - Menos de 40% dos pctes com epilepsia do lobo temporal recém-diagnosticada serão controlados com medicações, embora casos familiares sejam mais facilmente tratados clinicamente. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8 - Pcte com epilepsia têm risco de evoluir de forma não satisfatória nos aspectos psicossociais, depressão e maior mortalidade. - Risco de morte é de 2-3x maior em epilepsia do que na população em geral, e pode ser até 6x maior em pctes com frequentes crises generalizadas e epilepsia resistente aos medicamentos. - Principais causas de morte são por condições subjacentes, como AVC e pneumonia. Morte súbita inesperada na epilepsia ocorre em 1/1.000 pctes-ano e é devastadora pois afeta indivíduos jovens com crises frequentes sem controle.
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