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Tutores (“braces”) de joelho: indicações e contra-indicações na prática esportiva* MÁRCIA UCHÔA DE REZENDE1, VÍTOR KEIHAN RODRIGUES MATSUDO2 RESUMO Os tutores (braces) para joelho são classificados em: profiláticos, reabilitativos e funcionais, conforme o obje- tivo a que se destinam. Fatores biomecânicos, como o pro- jeto da órtese (seu comprimento, rigidez e encaixe), o tipo e o número de dobradiça e hastes, os materiais usados na confecção de manguitos e das estruturas laterais, devem ser considerados juntamente com o conhecimento do lo- cal de aplicação de forças sobre as partes moles, da sus- pensão da órtese e da deformação das partes moles pela gravidade e pela concentração muscular. Os estudos clí- nicos somente agora encontram alguma efícácia para o tutor profilático, sendo as órteses funcionais as mais indi- cadas para pacientes portadores de instabilidade do joe- lho que se recusam a se submeter a tratamento cirúrgico ou na sua recuperação pós-operatória. As indicações das órteses reabilitativas estão restritas ao período precoce de reabilitação da lesão ligamentar do joelho (pós-opera- tório ou não), quando o paciente está fazendo uso de mu- letas (sem carga). Os tutores são somente um aspecto do programa de reabilitação das lesões ligamentares do joe- lho e não se deve esperar que controlem ou previnam le- sões do joelho. Cabe ao médico conhecer suas limitações e capacidade para tirar deles o melhor proveito. Unitermos – “Brace”; órtese; joelho; lesão ligamentar * 1. 2. Trab. realiz. no Centro de Estudos do Lab. de Aptidão Física de São Cae- tano do Sul (CELAFISCS). “Research Fellow” do CELAFISCS; Médica Assist. do Inst. de Ortop. e Traumatol. do Hosp. das Clín. da Fac. Med. da Univ. de São Paulo. Presid. do Centro de Estudos do Lab. de Aptidão Física de São Caetano SUMMARY Knee braces: indications and contraindications in sports practice Knee braces are categorized in: prophylactic, rehabilita- tive and functional, according to their prime objective. Bio- mechanical factors, such as the brace’s intrinsic design (it’s length, rigidity and fit), the number and type of hinges, side bars components and the materials used for both the cuff and side members must be considered with the knowledge of the location of force application in the brace, gravitational deformity of soft tissues and muscle contraction. Clinical stud- ies only now found some uselfulness to the prophylactic brace. Functional braces are the best choice for patients with an unstable knee who refuses undergoing surgical treatment or for those who are in the postoperative rehabilitation pro- gram. Rehabilitative braces are restrict to the early reha- bilitation phase of knee ligament injury (postoperative or not) of non-weight bearing. Bracing is only one aspect of the re- habilitation program of knee ligament injury and should not be expected to control or prevent injury to the knee. It de- pends on the physicians knowledge of the brace’s limitations and capabilities to effectively use them. Key words – Brace; knee ligament injury I N T R O D U Ç Ã O O objetivo de se usar um tutor, órtese ou brace é o de assistir, restringir, alinhar ou simular a função de uma parte do corpo (38 ,54 ) . Inicialmente, nos anos 60, as órteses eram destinadas a pacientes com artrite reumatóide, membro paralítico ou frou- xidão ligamentar após um trauma, com o inconveniente de do Sul (CELAFISCS). 700 serem pesadas e grandes. Rev Bras Ortop - Vol. 29, N° 10 - Outubro, 1994 TUTORES (“BRACES”) DE JOELHO: lNDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES NA PRÁTICA ESPORTIVA Em 1972, foi desenvolvida a Lenox Hill brace para o paciente atleta jovem(11) com lesão ligamentar do joelho, acre- ditando-se que a mesma controlaria instabilidades rotacio- nais do joelho(46). Como esclarecimento dos fenômenos que ocorrem no joelho, nas instabilidades ântero-laterais, por Galway & col.(21), as órteses foram sofrendo modificações, com o objetivo de construir uma órtese cujo eixo coincida com o do movimento do joelho, impedindo-lhe movimentos anormais (7 ,45) . Essas órteses eram indicadas para: 1) restringir a insta- bilidade anterior e lateral; 2) permitir movimento à articula- ção enquanto limitassem deslocamentos e rotações excessi- vas; 3) reabilitação pós-operatória; 4) proteção do joelho no 1º ano pós-operatório, para permitir a remodelação dos liga- mentos. Em 1979, Anderson & col.(2) descreveram a primeira ór- tese dita profilática, cujo objetivo inicial era o de proteger um joelho com lesão prévia do ligamento colateral medial (LCM) de novos traumas. Surgiram novas órteses profiláti- cas, que apresentavam em comum haste com dobradiça late- ral que pode estar incorporada a um molde plástico, a faixas de velcro ou a uma polaina de neopreno. Algumas têm has- tes medial e lateral(22,68). O uso de tais órteses foi amplamen- te difundido nos EUA, pelo fato dos traumas de joelho serem a lesão mais comum no futebol americano universitário(2,19, 22,43,59) . As órteses profiláticas para joelho foram introduzi- das como fator que poderia reduzir o número e o grau das le- sões (26) . Inicialmente, técnicos e atletas hesitavam quanto ao seu uso pela idéia de serem quentes, pesadas, causarem pistona- gem, escorregarem, restringirem os movimentos, causarem câimbras, enfraquecerem músculos de suporte e ligamentos e talvez aumentando os traumas pelos novos vetores de for- ç a( 1 7 , 4 3 ) . Seu uso se difundiu em outros esportes além do futebol americano (futebol, esqui, hóquei no gelo e grama, rúgbi) pelas pressões socioeconômicas, a despeito da falta de do- cumentação científica que comprovasse sua eficácia(5,17,l8,43) e do custo (equipar um único jogador por temporada nos EUA custa cerca de US$ 400.00)(27). Em 1984, a American Academy of Orthopaedic Surgeons (AAOS) classificou as órteses de joelho em três tipos: l) pro- filáticas - feitas para prevenir ou diminuir um lesão do joe- lho; 2) reabilitativas – indicadas para períodos de recupera- ção pós-trauma ou cirurgia; 3) funcionais – para uso prolon- gado em joelhos com instabilidade permanente. Rev Bras Ortop – Vol. 29, Nº 10 – Outubro, 1994 Algumas das órteses atuais combinam dois ou mais des- tes atributos. BIOMECÂNICA Órteses simulam a função de uma parte do corpo pelo seu modelo intrínseco e construção(54,67) . As órteses podem apresentar-se com ou sem dobradiça e esta pode ser simples (monocêntrica, uniaxial), biaxial, po- licêntrica ou multiaxial. Elas podem ser uni ou bilaterais, além de poderem ser equipadas de bloqueios de extensão e flexão, ajustando-as a qualquer amplitude de movimento. O tutor ideal deveria permitir os movimentos de rotação e translação normais do joelho durante o ciclo da marcha. No entanto, esse tutor ideal não existe. As órteses que se de- nominam anatômicas são multiaxiais e quase não fazem re- sistência à translação anterior a 20° de flexão(54). A eficiência mecânica das órteses feitas sob medida (Le- nox-Hill, Iowa, etc.), com dobradiças laterais, dependem de uma série de fatores: 1) matérias utilizados para a confecção do manguito e dos componentes laterais; 2) planejamento (modelo) de uma órtese individual; 3) aplicação de forças sobre partes moles; 4) suspensão da órtese; 5) o processo de molde e acabamento. Destaque-se que, na aplicação de forças numa órtese, deve-se lembrar: 1) localização das forças; 2) deformação gravitacional das partes moles; 3) contração muscular. Qualquer desencontro entre o movimento das dobradi- ças e da articulação do joelho causará deformação das partes moles e escorregamento da órtese(71). As variáveis primárias do modelo que determinam o con- trole do valgismo são comprimento, rigidez e encaixe da ór- tese (13). Carlson(13) defende que as órteses devem apresentar: 1) encaixe justo e materiais resistentes, para evitar a existên- cia e/oudesenvolvimento de angulação; 2) materiais com módulo de elasticidade alto, especialmente para as hastes laterais; 3) partes medial e lateral bem casadas estrutural- mente acima e abaixo do joelho, para fazer resistência con- tra varo/valgo; 4) estrutura rígida de extremo a extremo. Quando se usa uma única haste lateral rígida, não se deve manter contato da dobradiça com a articulação, por di- minuir a eficiência das óteses. Porém, quando se usa hastes medial e lateral, o afastamento deve ser mínimo, para me- lhor proteção do LCM (13,20,50,52) . A localização da dobradiça em relação ao joelho se mos- trou mais importante do que seu modelo, nas mudanças de força e momento através do joelho. A colocação posterior resultou na menor força e a anterior, na maior(57,71) . 701 M.U. REZENDE & V.K.R. MATSUDO ÓRTESES PROFILÁTICAS O comitê da AAOS de medicina desportiva determinou que a órtese profilática ideal seria aquela que: 1) suplemen- tasse a resistência do joelho ao trauma, reduzindo a carga de estresses com ou sem contato; 2) não interferisse com a fun- ção normal do joelho; 3) não aumentasse o risco de lesões em outras localidades do membro inferior; 4) fosse adaptá- vel a várias configurações anatômicas; 5) não fosse prejudi- cial a outros indivíduos; 6) fosse durável e de custo acessí- vel; 7) tivesse eficácia documentada na prevenção de lesões do joelho(1). Não há órtese que preencha esses requisitos. Atualmen- te há dois tipos de órtese profilática: 1) com hastes laterais com dobradiças uni, bi ou multiaxiais. Com ou sem bloqueio da hiperextensão e suspensão feita por faixas ou fitas adesi- vas; 2) composta de uma armação de plástico com hastes mediais e laterais e dobradiça policêntrica. Este tipo é sus- penso por malhas elásticas e tiras(54). Biomecanicamente, encontrou-se que, em relação às ór- teses profiláticas (cronologicamente): 1) não reduzem o ân- gulo de abdução e mostram efeito pré-estressante em cadá- veres (4); 2) deslocamento do eixo central do joelho, contato prematuro com a articulação e escorregamento do brace em cadáver submetido a carga em valgo (braces: McDavid e Om- ni), sendo que nenhuma órtese protegeu significativamente o LCM (52); 3) os fatores mecânicos que determinam seu fun- cionamento sob carga dinâmica em valgo são absorção, dis- tribuição e transmissão de forças pela órtese(20,50); 4) não au- mentam a propriocepção do membro(20); 5) a órtese unilate- ral uniaxial oferece menor resistência a impacto em valgo, enquanto a unilateral biaxial apresenta maior resistência (ex.: Don Joy) (20); 6) capacidade limitada para proteger, em cadá- ver, o LCM em extensão e nenhuma capacidade em outras situações (5); 7) órteses que aumentam a duração do impacto parecem proteger mais o ligamento cruzado anterior (LCA) do que o LCM, a maioria das órteses testadas (cinco em seis) dá algum grau de proteção ao LCA sob impacto lateral dire- to (50) a associação de bandagem à Lenox Hill brace reduz significativamente a translação e a rotação ao nível do joe- lho de cadáver, comparada à associação com a Anderson knee stabler ou a cada um isolado(3). Clinicamente, os estudos relacionados à efetividade da órtese profilática em controlar lesões do LCM no futebol americano (25,26,59,62,68) e um não publicado, por Taft & col., mostraram problemas nos projetos de pesquisa e tamanhos 702 das amostras, não permitindo tirar conclusões contra ou a favor do seu uso(22). Em 1989, Sforzo(63) concluiu que as órteses podem ini- bir o desempenho em atletas assintomáticos e que o aprendi- zado não alterou a performance. Assim, entre os estudos clínicos, encontramos autores que defendiam o uso das órteses tanto em nível universitário e profissional(2,25,56) , quanto em nível colegial(55,62) , enquanto outros se mostravam mais cautelosos chamando a atenção para efeitos adversos ( 1 8 , 2 4 , 2 6 , 5 9 , 6 8 ) . Em 1990, a American Academy of Pediatrics Committee on Sports Medicine recomendou que as órteses unilaterais unidirecionais não fossem consideradas equipamento padrão, em virtude de sua inefetividade e potencial de lesão. Sittler & col.(65) mostraram que a órtese unilateral biaxial reduziu significativamente a freqüência de lesão do joelho tanto no número total de indivíduos quanto no número de lesões do LCM. Porém, a redução de lesões do LCM depen- de da posição do jogador (mostrou-se efetiva na defesa) e a órtese não interferiu na gravidade da lesão. Este estudo foi conduzido na Academia Militar de West Point, onde as ca- racterísticas dos jogadores mostram-se compatíveis com o nível colegial americano. Neste trabalho, não foram encontradas diferenças em le- sões do tornozelo, como as achadas por Grace & col. (24). ÓRTESES REABILITATIVAS Estes tipos de brace foram projetados para permitirem mobilização precoce do joelho traumatizado tratado cirurgi- camente ou não, trazendo benefícios para o tecido cartilagi- noso e para a orientação do colágeno na cicatrização e remo- d e l a ç ã o l i g a m e n t a r ( 1 2 , 4 4 , 4 8 , 5 9 , 6 9 , 7 0 ) . O uso de tutores (braces) reabilitativos, permitindo am- plitude de movimento controlado logo após o trauma ou ci- rurgia ligamentar do joelho, é baseado em publicações desde a década de 60, prescrevendo contra imobilização articular (principalmente do joelho) devido a efeitos adversos, como: 1) alterações ultra-estruturais e biomecânicas da cartilagem articular pela imobilização(44); 2) redução rápida das proprie- dades osteoligamentares (elasticidade e força tênsil do LCA, em coelhos, que eram influenciados pelo exercício (70); 3) re- dução da rigidez ligamentar e alterações na capacidade fun- cional em resistir à carga e alongamento; reabsorção do osso cortical abaixo da inserção ligamentar e alteração na força do osso cortical(47); 4) “falsa idéia de segurança com alto ris- co de ruptura’’(39) . Rev Bras Ortop – Vol. 29, Nº 10 - Outubro, 1994 TUTORES (“BRACES”) DE JOELHO: lNDICAÇÕES E CONTRA-lNDICAÇÕES NA PRÁTICA ESPORTIVA Clinicamente, mostrou-se que usando órtese de gesso (cast brace) em lesões ligamentares graves do joelho há di- minuição do tempo de reabilitação, alta aceitação pelos pa- cientes, baixa incidência de complicações, mobilização pre- coce bem tolerada, e redução rápida do edema pós-operató- rio. Os resultados ruins não foram relacionados à mobiliza- ção precoce e não houve perda da estabilidade do joelho ope- rado ao longo do tempo(6). Na década de 80, expandiu-se o uso de CPM (continuous passive motion) pela sua ação na cicatrização da cartilagem articular, dissolução da hemartrose e prevenção de adesão intra-articular (48,60) , corroborando com a idéia do uso de braces para mobilização precoce. Hoffmann & col.(29), estudando seis órteses (funcionais e reabilitativas) diferentes, mostraram que todas melhora- ram a estabilidade anterior, em valgo e rotatória em joelhos com ligamentos seccionados, mas a maioria delas não repro- duziu a estabilidade normal. Cawley & col.(14) defendem que o objetivo principal de tal órtese é prover controle da amplitude de movimento, quer pela imobilização rígida do membro, quer pela flexão e ex- tensão controladas pela amplitude predeterminada. Deve-se lembrar que os dados biomecânicos dos estu- dos feitos com cargas abaixo do que o indivíduo realmente se submete durante o exercício se aplicam aos pacientes em tratamento com órteses reabilitativas, visto que estes, em ge- ral, fazem uso de muletas. Assim sendo, a integração dos componentes da órtese vai se mostrar o principal fator na eficiência da órtese em controlar os movimentos e a distri- buição de cargas ao nível do joelho. Outro ponto a ser lembrado é que a circulação normal do membro esta comprometida pela falta de atividade mus- cular; assim, braces que distribuam melhor a carga diminuem a poss ibi l idade da formação de pontos de pressão.Na conclusão do trabalho (l4), os autores mostram que a maioria das braces testadas diminui significativamente a translação e rotação relativas ao membro sem brace sob con- dições estatícas, lembrando que quando a reabilitação se tor- na mais dinâmica, com cargas progressivas, esta capacidade de controle reduz consideravelmente. Agora já existem órteses reabilitativas que podem ser convertidas em funcionais, ou mesmo órteses (braces) que agem como intermediário reabilitativo/funcional até que haja desenvolvimento muscular adequado para instalação de órtese funcional definitiva(54). Rev Bras Ortop – Vol. 29, Nº 10- Outubro, 1994 INDICAÇÕES Podestà & Sherman(54) têm usado estas órteses nas pri- meiras seis semanas pós-cirúrgicas do LCA ou LCP, nas pri- meiras semanas de tratamento não cirúrgico da ruptura do LCM, após reparo do mecanismo extensor do joelho e após realinhamento patelofemoral. Pieper & col.(53) indicam somente o uso de órteses fun- cionais/reabilitativas para atletas em reabilitação após cirur- gia ligamentar do joelho ou que recusam a se submeterem ao tratamento cirúrgico. ÓRTESES FUNCIONAIS Projetadas para assistir ou promover estabilidade ao joe- lho instável. Há basicamente dois modelos: 1) haste, dobra- diça e um “cartucho” (shell), para englobar a coxa e a pan- turrilha (CTi, Generation II, RKS); 2) dobradiça, haste e fai- xas (straps) (ex.: Lenox-Hill, Don Joy 4-point braces). Estudos experimentais mostraram que, dependendo do modelo, as órteses funcionais podem: 1) prover estabilidade anterior, em valgo e rotacionais(29); 2) podem proteger o LCM em situações de abdução e rotação externa do joelho (ex.: esquiador) (4); 3) diminuir o deslocamento anterior no joelho sem LCA com ligamentos colaterais intactos ou não (Lenox- Hill brace) (73); 4) diminuir o deslocamento ântero-posterior, rotações interna e externa, em cadáver, quando associada a bandagem (Lenox-Hill brace) (73); 5) limitar estresses em ab- dução e rotação sobre o LCM em flexão e extensão(5). No estudo de 11 modelos diferentes, com análise rela- tiva entre comprimento e rigidez das órteses, Carlson & French (13) mostraram que as órteses mais efetivas eram as funcionais (ex.: Lenox-Hill brace). Duas órteses funcionais estudadas durante a corrida mos- traram diminuição significativa da flexão do joelho durante as fases de balanço e apoio; da rotação; e dos movimentos de valgo/varo num joelho experimental. Também alteraram o membro experimental criando impulsos maiores nas dire- ções verticais e anterior na fase inicial de contato(37). Estes estudos devem ser encarados com prudência, vis- to que as forças e momentos usados nos experimentos são muito inferiores aos enfrentados pelos atletas. Estudos clínicos com braces funcionais mostraram que: 1) Diminui o desempenho atlético e aumenta o gasto energético medido pelo lactato sérico(30); 2) Em joelhos instáveis, resulta num aumento de 4,58%. do VO2 máximo durante corrida horizontal a 16lm/min (74); 3) Aumenta o consumo de O2 e custo metabólico de 3 a 6% em indivíduos assintomáticos(28); 703 M.U. REZENDE & V.K.R. MATSUDO brace têm aumento da resistência ao deslocamento ante- 4) Aumenta a pressão intramuscular no compartimento anterior da perna, podendo induzir fadiga muscular prema- tura por perfusão insuficiente do músculo exercitado(66); 5) Pacientes com lesão do LCA usando a Lenox-Hill brace mostraram tendência a reduzir a rotação interna e o torque durante a fase de apoio da corrida, porém não uma diferença significativa(36); 6) Ao exame físico do joelho, a instabilidade rotatória ântero-medial (AMRI) e o teste de Lachman melhoram com o uso da órtese, o que não ocorre com a instabilidade rotató- ria ântero-lateral (ALRI) e com as combinadas AM-ALRI, em que 70% continuam com episódios de falseio, apesar do aparelhamento (7,15) ; 7) Revisando a eficácia das órteses no controle das ALRI usando duas órteses diferentes em 85 pacientes, achou-se que o modelo da AC brace (Canadá) oferece maior estabilidade (71%), comparada aos 50% oferecidos pela brace anti-rota- cional (17) ; 8) Pacientes com lesão do LCA usando a Lenox-Hill r i o r ( 7 , 8 , 1 5 ) . 9) O uso de braces efetivamente diminui a flexão do joelho e a rotação total da tíbia durante corrida em reta(37); 10) Inconsistência entre a aprovação subjetiva da órtese pelo paciente e os dados objetivos mostrando sua eficácia(11, 15);o uso de brace não controla efetivamente a instabilidade, mas reduziu os sintomas de instabilidade no atleta (não de elite), possivelmente através do aumento relativo da resis- tência à subluxação; 11) Testando-se três órteses funcionais em indivíduos com deficiência do LCA, encontrou-se diminuição dos sin- tomas de instabilidade e no deslocamento anterior da tíbia em todos os pacientes (e esta diminuição não aumenta com o aumento da força do KT- 1000)(58); 12) CTi brace (marca feita sob medida) permite desem- penhos significativamente melhores na corrida e na mudan- ça de direção em atletas com ruptura do LCA. Atletas que não alcançaram 90% da força do quadrícepes, medida pela Cybex, mostraram ainda melhor resposta ao uso de brace (16); 13) Considerando quatro modelos (RKS, Lenox-Hill, Don Joy 4-point e CTi), a migração da órtese foi a queixa principal. Todas diminuem os episódios de falseio, grau do pivot shift e teste da gaveta anterior. Ao teste funcional, sal- to unipodálico e tiro de 40 jardas, os valores médios não se alteram significativamente pelo uso da órtese(41); 14) Na fase de apoio, membros com deficiência de LCA mostraram diminuição da atividade do quadrícepes e gas- 704 trocnêmio e aumento dos isquiotibiais, comparados com controles normais. Esta alteração do padrão de ativação mus- cular pode ter efeito protetor do membro lesado devido ao aumento da atividade muscular sirérgica ao LCA. A ativi- dade reduzida da musculatura antagonista pode ainda me- lhorar esse efeito. O uso de brace não altera o padrão eletro- miográfico, comparado ao membro sem brace. Todos os mús- culos mostraram redução semelhante na atividade, sugerin- do que o brace não tem influência proprioceptiva significa- t i v a( l l ) . Tradicionalmente, a instalação de brace representa so- mente uma faceta do tratamento da instabilidade do joelho, devendo ser combinada com reabilitação adequada, para re- tornar ao esporte após tratamento cirúrgico ou não (6,9,15,17,23,31- 33,35,40-42,46,49,51,53,54,61,64) e, em alguns casos, mudança de ativi- dade esport iva ( 7 , 1 0 , 4 6 , 5 8 ) . INDICAÇÕES Nicholas (45) indica braces funcionais para: 1) joelho ins- tável com lesão do LCA (em pacientes que não serão subme- tidos a cirurgia; ou em paciente após um programa de reabi- litação para retomar aos esportes); 2) joelho vulnerável, pre- viamente lesado; 3) entorse grau II ou III do LCM com insta- bilidade anterior clinicamente mínima e o médico/paciente não deseja uma cirurgia recontrutiva 4) bloqueios periódi- cos com pivot shift; 5) após cirurgia reconstrutiva. Braces funcionais também podem ser indicados para le- sões do LCP, LCM, LCL isoladas ou associadas. A escolha de órtese para controlar uma ou mais destas instabilidades vai depender da capacidade da órtese em controlar os deslo- camentos ântero-posterior, varo-valgo e/ou rotacionais do joe- lho. A capacidade individual de cada órtese em controlar um ou mais destes movimentos do joelho difere e deve-se tomar cuidado na prescrição da órtese correta para cada situação específica (54) . Autores como Pieper & col. e Wirth & Kohn restringem as indicações de braces funcionais para as primeiras 12 se- manas pós-operatórias, para programa de reabilitação preco- ce objetivando flexão ativa de 100-110º (53,72) . Em atletas, suas indicações aumentam como mencionado previamente(53). “A prescição de uma órtese deve ser considerada como um aspectode um programa de reabilitação e da órtese sozi- nha não se deve esperar que controle ou previna uma lesão do joelho(53). O médico pode minimizar o risco e assegurar a com- plascência, certificando-se de que o paciente entende a limi- tação inerente à órtese. Rev Bras Ortop - Vol. 29, Nº 10 – Outubro, 1994 TUTORES (“BRACES”) DE JOELHO: lNDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES NA PRÁTICA ESPORTIVA CONCLUSÃO O uso de braces ainda é um assunto controverso. Tuto- res (braces) para joelho podem ser classificados em três gru- pos básicos: 1) profiláticos; 2) reabilitativos; e 3) funcionais. A órtese profilática é de pequena eficácia, não justifi- cando os custos de seu uso. Os principais fatores afetando a escolha da órtese reabi- litativa/funcional são: 1) o número, arranjo e média de faixas na interface com a órtese; 2) o modelo e alinhamento das barras com dobradiça, incluindo a presença ou ausência de contato com a interlinha articular; 3) a maneira de colocação das barras articuladas em contato com o membro, incluindo a presença e área dos cartuchos (shells), o arranjo e a área para materiais de fixação no cartucho (shell), bem como as propriedades dos materiais das shells; 4) modelo da dobradi- ça (ou articulação). O uso efetivo destas órteses depende do conhecimento do médico sobre suas limitações e capacidades. REFERÊNCIAS 1. AAOS-American Academy of Orthopedic Surgeons: Knee Brace Semi- nar Report. August 17-18, Chicago, IL, USA, 1984. 2. Anderson,G., Zeman, S.C. & Rosenfeld, R.T.: The Anderson knee sta- bler. Phys Sports Med 7: 125-127, 1979. 3. Anderson, K., Wojtys, EM., Loubert, P.V. & Miller, R. 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