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Livro Didático Digital Ergonomia e Medicina do Trabalho Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ELAINE CHRISTINE PESSOA DELGADO MARCOS RODOLFO DA SILVA GISELLY SANTOS MENDES AUTORIA Elaine Christine Pessoa Delgado Sou formada em administração de empresas pela Universidade Federal de Campina Grande (2007), e tenho uma experiência técnico- profissional de mais de 10 anos na área de gerência de empresas. Marcos Rodolfo da Silva Sou Graduado em Enfermagem, Pós-Graduado em Enfermagem do Trabalho, Técnico em Radiologia e Instrumentador Cirúrgico pelo Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB), 2010 - 2012 e 2008, respectivamente. Além disso, ao longo de minha carreira, participei de cursos na área de urgência e emergência e atuei como enfermeiro supervisor no Pronto Socorro Municipal Dr. Oscar Pirajá Martins, na cidade de São João da Boa Vista (SP), de março de 2011 a janeiro de 2014. Atualmente sou acadêmico do 5° ano do curso de Medicina no Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino Unifae, São João da Boa vista (SP). Além disso, desenvolvo materiais didáticos como professor conteudista nas áreas de saúde pública, saúde do idoso, direito à saúde e áreas correlatas. Giselly Santos Mendes Sou Mestre em Qualidade Ambiental, Tecnóloga em Polímeros, Administradora, Educadora com uma experiência técnico-profissional de mais de 12 anos na área de Processos Gerenciais e Educacionais. Somos apaixonados pelo que fazemos e gostamos de transmitir nossas experiências de vidas àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fomos convidados pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Riscos Ergonômicos ................................................................................... 10 Os Riscos Ergonômicos ............................................................................................................. 10 Esforço Físico Intenso, Levantamento e Transporte Manual de Peso ........................................................................................................................................ 11 Imposição de Ritmos Excessivos e Jornada Prolongada de Trabalho............................................................................................................................... 15 Monotonia, Repetitividade e Situações de Estresse Físico e Psíquico ............................................................................................................................... 17 Biomecânica Ocupacional ......................................................................20 A Biomecânica .................................................................................................................................. 20 A Biomecânica Ocupacional ................................................................................23 Trabalho Estático e Trabalho Dinâmico ....................................25 Postura ............................................................................................................26 Movimentos Corporais e Força .......................................................28 Antropometria .............................................................................................. 31 A Antropometria ............................................................................................................................... 31 Tipos ......................................................................................................................................33 Antropometria Estática .........................................................................33 Antropometria Dinâmica ......................................................................35 Antropometria Funcional .....................................................................35 Variações das Medidas Humanas ................................................................... 36 Variações em Função do Gênero ............................................... 36 Variações em Função de Fatores Genéticos e Hereditários ...................................................................................................37 Variações em Função do Clima .................................................... 38 Variações em Função do Tipo de Alimentação ................ 38 Variações em Função do Biótipo ................................................. 38 A Ergonomia e as Doenças Ocupacionais .........................................40 As Doenças Relacionadas com a Ergonomia............................................................ 40 7 UNIDADE 02 Ergonomia e Medicina do Trabalho 8 INTRODUÇÃO Você sabia que os riscos ergonômicos são riscos ocupacionais que se originam em ambientes de trabalho cujas atividades oferecem danos à saúde do trabalhador, e que esses danos podem causar várias doenças ou até mesmo agravar outras já existentes? Que através da Biomecânica pode-se identificar as tensões que ocorrem nos músculos e articulações nas posturas e nos movimentos? E que a Antropometria estuda as dimensões e proporções do corpo humano? A Antropometria ajuda na elaboração de ambientes de trabalho adequados às necessidades posturais e a Biomecânica Ocupacional avalia os impactos causados pelos movimentos do corpo humano relacionados ao trabalho. Esses impactos associados a ambientes laborais inadequados e com riscos ergonômicos acabam acarretando malefícios aos indivíduos que estão exercendo essas atividades. Dessa forma, o projetista deve identificar as situações que são danosas ao trabalho adotando medidas necessárias para preservar os trabalhadores desses riscos. Nesta unidade iremos conhecer quais são os riscos ergonômicos, o que é a Biomecânica Ocupacional e a Antropometria, e as doenças ocupacionais que possuem relação com a Ergonomia. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Ergonomia e Medicina do Trabalho 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar e analisar os riscos ergonômicos no dia a dia laboral. 2. Entender a biomecânica ocupacional e sua aplicação na ergonomia. 3. Aplicar as técnicas da antropometria na solução de problemas ergonômicos. 4. Compreender, tipificar e analisar as doenças relacionadas com a ergonomia. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Ergonomia eMedicina do Trabalho 10 Riscos Ergonômicos OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender quais são os riscos relacionados com a Ergonomia. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!. Os Riscos Ergonômicos Conforme Macedo (2012), o bem-estar e a satisfação relativos ao serviço estão diretamente ligados com a qualidade de vida do trabalhador, que é um dos aspectos mais importantes a serem analisados. Dessa maneira, é essencial que o ambiente de trabalho seja continuamente fiscalizado e avaliado, para conferir e mensurar os riscos que ele pode oferecer à saúde do trabalhador. Os riscos ocupacionais se originam nas mais variadas atividades exercidas pelo trabalhador como cumpridor de uma determinada ocupação atualmente, sobretudo nas atividades insalubres e perigosas, cuja natureza, condições ou métodos de trabalho envolvem algum mal a sua integridade física e psíquica, explicam Barsano e Barbosa (2013). NOTA: Para que graus aceitáveis de eficiência, qualidade e produtividade sejam obtidos, é indispensável a utilização de políticas orientadas para implementação de ambientes de trabalho confiáveis e seguros (MACEDO, 2012). Os mais diversos riscos existentes no ambiente foram identificados como riscos ambientais e incluem os riscos químicos, físicos, biológicos, de acidentes e ergonômicos, como informa Macedo (2012). Ergonomia e Medicina do Trabalho 11 Mas o que é um risco? DEFINIÇÃO: O glossário da Norma Regulamentadora 10 define risco como sendo “a capacidade de uma grandeza com potencial para causar lesões ou danos à saúde das pessoas”. Salvatierra (2014) esclarece que são considerados riscos ergonômicos quaisquer fatores que possam causar interferência nas características psicofisiológicas do trabalhador, gerando desconforto ou prejudicando sua saúde. Os riscos ergonômicos podem ser, segundo Macedo (2012): esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, jornada prolongada de trabalho, monotonia e repetitividade, situações de estresse físico e psíquico. Vejamos alguns deles. Esforço Físico Intenso, Levantamento e Transporte Manual de Peso Kroemer e Grandjean (2005, p. 85) explicam que o trabalho pesado é qualquer atividade que estabelece grande esforço físico e é “caracterizado por um alto consumo de energia e grandes exigências do coração e do pulmão”. O consumo de energia e o esforço cardíaco estabelecem limites à atuação sob trabalho pesado, e estas duas funções são comumente usadas para aferir a rigidez do trabalho físico, relatam os autores. Ergonomia e Medicina do Trabalho 12 Figura 1 - Esforço físico Fonte: Freepik. O trabalho pesado causa grande quantidade de calor pelos processos metabólicos, assim, em espaços muito quentes, o organismo ganha uma carga complementar de calor por convecção e radiação, elucidam Iida e Buarque (2018). Em contrapartida, o único mecanismo à disposição para acabar com o calor corporal é a evaporação do suor. Dessa forma, qualquer desconformidade pode induzir ao aumento da temperatura corporal, podendo tornar-se muito perigoso. Iida e Buarque (2018) destacam três tipos de providências adequadas: • Agir sobre o ambiente – aperfeiçoar as condições ambientais para beneficiar a evaporação do suor, com ventilação e uso de roupas apropriadas. • Construir barreiras – levantar barreiras entre a fonte de calor e o trabalhador, colocando uma superfície refletora para o calor radiante ou roupa protetora, para que esse calor não alcance o corpo. Ergonomia e Medicina do Trabalho 13 • Reduzir o ritmo de trabalho – diminuir o ritmo ou dar pausas para que o trabalhador tenha tempo necessário para acabar com o calor acumulado no organismo. NOTA: Durante essas pausas, o trabalhador deverá se distanciar da zona quente, deslocando-se para locais menos quentes, explicitam Iida e Buarque (2018). O trabalho pesado é frequente na mineração, construção, agricultura, atividades florestais e transporte, compreendendo, por exemplo, manejo de bagagem pelo pessoal de transporte aéreo, informam Kroemer e Grandjean (2005). Kroemer e Grandjean (2005) afirmam que o manuseio de cargas (levantar, abaixar, empurrar, puxar, carregar, segurar e arrastar) comumente abrange muito esforço estático e dinâmico, o bastante para ser classificado como trabalho pesado. A Norma Regulamentadora 17 explica o transporte manual de cargas (Figura 2) como “todo transporte no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga”. Figura 2 - Transporte manual de cargas Fonte: Pixabay. Ergonomia e Medicina do Trabalho 14 Oliveira (2018) lembra que quando um trabalhador é apontado para o transporte manual de cargas, exceto as leves, deverá receber treinamento ou instruções suficientes quanto aos métodos de trabalho que ele deverá empregar no processo de transporte. Nos transportes de materiais em que a única opção é a força humana, torna-se indispensável a adoção de medidas para a prevenção de vários riscos resultantes da atividade que, por causa do processo contínuo e frequentemente exaustivo de uma determinada função, podem acarretar acidentes e perturbação física e mental no trabalhador, como é o exemplo de carregamento, descarregamento e empilhamento de sacos e outros tipos de materiais, esclarecem Barsano e Barbosa (2013). IMPORTANTE: Não deverá ser permitido o transporte manual regular de cargas que seja passível de comprometer a saúde ou a segurança do trabalhador, mesmo quando empregados equipamentos mecânicos de ação manual (OLIVEIRA, 2018). Essas funções demonstram preocupação contínua quanto às condições ergonômicas, pois os trabalhadores constantemente estão sujeitos a condições inapropriadas no cumprimento de suas atividades, como pisos escorregadios, escadas que não aguentam seu peso e o da carga, longas distâncias para as entregas, jornadas extensas de trabalho e ausência de pausa para descanso, o que pode causar lesões musculares e estresse físico e mental, informam Barsano e Barbosa (2013). Abrahão et al. (2009) descreve que no transporte de cargas devem ser consideradas: a distância horizontal em relação ao corpo; a frequência do levantamento; o trajeto a ser percorrido; a altura da carga a ser levantada e o tipo de pega do objeto. Existem algumas normas que regulamentam o transporte e o manuseio de cargas individuais, como as NRs 5, 11, 17 e 18, cita Abrahão Ergonomia e Medicina do Trabalho 15 et al. (2009). Barsano e Barbosa (2013) ainda mencionam que a Norma Regulamentadora 11 traz algumas condições que deverão ser seguidas para que sejam diminuídos os efeitos adversos e que elas devem ser respeitadas nos ambientes laborais. Um exemplo disso é a distância máxima percorrida para o transporte manual de um saco. Imposição de Ritmos Excessivos e Jornada Prolongada de Trabalho De acordo com Iida (2019), a fadiga é um dos principais fatores que contribuem para a diminuição a produtividade. Em algumas situações, a origem da fadiga tem relação com horários, trabalhos em turnos, programação da produção ou relações pessoais dentro e fora do trabalho. Em tarefas industriais foi verificado que as jornadas muito longas causam diminuição de desempenho (Figura 3). Na maior parte dos eventos, considera-se que a jornada de 8 a 8,5 horas é a máxima para que uma boa produtividade seja conservada. Contudo, se ocorrer o aumento para 9 horas ou mais, a produção não será muito diferente, a não ser que os trabalhadores apresentem ritmos forçados. Todavia, os erros começam a surgir com uma frequência cada vez maior, fazendo com que a qualidade da produção diminua, esclarece Iida (2019). Figura 3 - Diminuições de desempenho Fonte: Freepik. Ergonomiae Medicina do Trabalho 16 Por isso, em atividades que estabelecem atividade física pesada ou em ambientes desfavoráveis, como altas temperaturas ou excesso de ruídos, devem ser disponibilizadas pausas durante a jornada de trabalho, informa Iida (2019). IMPORTANTE: Geralmente, pausas de curta duração introduzidas no próprio período de trabalho são mais efetivas que aquelas longas, após a finalização desse trabalho (IIDA, 2019). Mattos e Másculo (2011) lembram que um ponto que deve ser observado no trabalho em turnos é que ele exige alguns cuidados para diminuir o estresse do trabalhador, como os elementos associados ao ritmo circadiano, diferenças individuais, tipo de atividade, desempenho, saúde e consequências sociais. O ciclo circadiano exerce influência na atuação do trabalhador em seu posto laboral, assim como algumas pessoas possuem mais facilidade em se ajustar ao turno da noite do que outros. No campo social, os trabalhadores noturnos possuem vida social e contato com os membros da família e da comunidade de forma mais restrita e também têm mais irritabilidade e cansaço, assim como úlceras e transtornos nervosos, afirmam Mattos e Másculo (2011). Regis Filho (2004) ainda complementa, dizendo que o trabalhador em turnos e noturno pode manifestar a síndrome da má adaptação ao trabalho em turnos, que abrange um conjunto de sintomas particulares, como consequência da inaptidão do indivíduo para inverter os ritmos biológicos e se adequar aos programas de rotação de turnos e ao trabalho noturno. Ergonomia e Medicina do Trabalho 17 Monotonia, Repetitividade e Situações de Estresse Físico e Psíquico Os sintomas mais significativos de monotonia, segundo Iida (2019), são uma sensação de fadiga, sonolência, morosidade e uma diminuição de vigilância. As experiências revelam que a atividades prolongadas e repetitivas de pouca dificuldade acabam aumentando a monotonia (Figura 4). Figura 4 - Monotonia Fonte: Pixabay. “Monotonia é a reação do organismo a um ambiente uniforme, pobre em estímulos ou pouco excitante” (IIDA, 2019, p. 358). Mattos e Másculo (2011 p. 345) complementam afirmando que, quando são realizadas operações monótonas e repetitivas, existe um aumento do sono, o que causa erros mais frequentes. EXEMPLO: Um operador observando um quadro de comando para identificar anormalidades que dificilmente acontecem encara uma situação pobre em excitação. Essa pode ser uma atividade extremamente monótona, exemplifica Iida (2019). A monotonia nos ambientes de trabalho pode ser diminuída com o alargamento (quando é alterada a função do funcionário, mas conserva as mesmas atividades psicomotoras desempenhadas antes) e enriquecimento do trabalho (compreende a mudança de função acrescentando novas ações cognitivas e responsabilidades), mencionam Mattos e Másculo (2011). Ergonomia e Medicina do Trabalho 18 Uma pessoa que exerce uma atividade monótona durante um tempo longo sofre diminuição de sua capacidade física e mental, por causa falta de desafios. Assim, uma tarefa excessivamente repetitiva, que não gera novos desafios às pessoas, tende a atrofiá-las, enquanto os ambientes que sempre ocasionam entusiasmo ou novos desafios tendem a desenvolvê-las. Contudo, não se pode exagerar, pois as pessoas sujeitas a desafios muito grandes ou intoleráveis tendem a apresentar comportamentos de fuga, sofrem de estresse e podem adoecer, explicita Iida (2019). SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos que você leia o artigo “Riscos ergonômicos são realidades no ambiente de trabalho”, clicando aqui. Iida e Buarque (2018) afirmam que os trabalhadores vivem crescentemente situações estressantes. As causas do estresse são muito variadas e têm um efeito cumulativo. As exigências físicas ou mentais excessivas causam estresse, mas este pode afetar mais intensamente aqueles trabalhadores já atingidos por outros fatores, como conflitos com a chefia ou até problemas familiares, informam os autores. Vejamos algumas dessas causas, segundo Iida e Buarque (2018): • Conteúdo do trabalho – pode ser a pressão para manter certo ritmo de produção e cumprir prazos, assim como as responsabilidades, conflitos, o baixo significado do trabalho para o trabalhador, entre outros. • Sentimentos de incapacidade – resultante da percepção pessoal de incapacidade de atender a demanda do trabalho ou terminá-la. • Condições de trabalho – abarca várias situações, como as condições físicas desfavoráveis, incluindo o excesso de calor, umidade saturada, ventilação deficiente, ruídos exagerados, luzes inadequadas, entre outros. Ergonomia e Medicina do Trabalho http://revista.algomais.com/bem-estar/riscos-ergonomicos-sao-realidade-no-ambiente-de-trabalho 19 • Fatores organizacionais – compreende o comportamento dos superiores hierárquicos, como chefes e supervisores, demonstrando exigências e críticas excessivas, como também questões de salário, carreira, horas extras, horários de trabalho e turnos. • Pressões econômico-sociais – envolve os conflitos com colegas de trabalho, amigos, familiares, assim como a pressão realizada pela sociedade de consumo ou o dinheiro para pagar as contas. Filho (2004) ainda destaca a existência de fatores que estão presentes no local do trabalho e que mais induzem à fadiga mental, física e crônica do trabalhador. São eles: os momentos de pausa insuficientes para o descanso regular durante o trabalho; a postura estática no posto de trabalho ao efetuar as tarefas e a execução das atividades laborais em ambientes insalubres e inadequados. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Você deve ter aprendido que os riscos ergonômicos fazem parte dos riscos presentes no ambiente e correspondem a qualquer fator que possa causar interferência nas características psicofisiológicas do trabalhador, gerando desconforto ou prejudicando sua saúde. Eles podem ser esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, jornada prolongada de trabalho, monotonia e repetitividade e situações de estresse físico e psíquico. Você viu também que o esforço físico é estabelecido no trabalho pesado, que no levantamento e transporte manual de peso o trabalhador deverá receber treinamento ou instruções suficientes quanto aos métodos de trabalho que deverá empregar no processo de transporte, que em jornadas prolongadas a qualidade da produção tende a diminuir e que, quando se realizam operações monótonas e repetitivas, existe um aumento do sono, o que pode causar erros mais frequentes. Por fim, você compreendeu que os trabalhadores vivem crescentemente situações estressantes, sendo as causas do estresse muito variadas e tendo um efeito cumulativo. Ergonomia e Medicina do Trabalho 20 Biomecânica Ocupacional OBJETIVO: Neste capítulo iremos conhecer o conceito de Biomecânica e suas áreas, discutir a Biomecânica Ocupacional, compreender os princípios relacionados com a Ergonomia, o trabalho estático e dinâmico, as posturas e movimentos corporais. Vamos juntos?. A Biomecânica Vamos compreender primeiramente o que é Biomecânica. Segundo Souza (2018), a palavra Biomecânica é formada pelo prefixo bio, que significa vida, e o termo mecânica, que se refere ao campo que estuda as ações das forças e suas interações com os objetos. Dessa forma, para Bottino e Costa (2012), a Biomecânica é um dos processos necessários para estudar a forma como os seres vivos (especialmente o ser humano) se adequam às leis da mecânica quando estão efetuando movimentos espontâneos. No estudo da Biomecânica, empregam-se as leis físicas da mecânica ao corpo humano, assim, podem-se avaliar as tensões que acontecem nos músculos e articulações durante uma postura ou um movimento, elucidam Dul e Weerdmeester (2012). A Biomecânica estuda áreas distintasque têm relação com o movimento do ser humano e animais, abrangendo: funcionamento de músculos, tendões, ligamentos, cartilagens e ossos; cargas e sobrecargas de estruturas específicas e fatores que influenciam a performance, descreve Souza (2018). Ergonomia e Medicina do Trabalho 21 NOTA: A Biomecânica é uma ciência muito vasta, que acaba assumindo conceitos de múltiplas áreas para que seu raciocínio seja desenvolvido (SOUZA, 2018). A Biomecânica pode ser dividida em quatro grandes campos, conforme Souza (2018): Cinemática, Cinética, Controle e Anatomia. Cada um desses campos verifica questões diferentes do movimento humano (Figura 5) e, para isso, faz uso de metodologias diferentes, como a Antropometria, a eletromiografia, a dinamométrica e a cinemetria, respectivamente. Figura 5 - Movimento Fonte: Pixabay. A Cinética, segundo Bueno (2019 p. 9), é “o ramo da dinâmica que lida com as forças que produzem, detêm ou modificam o movimento dos corpos. É a subdivisão da Biomecânica que estuda as forças que causam o movimento”. Ergonomia e Medicina do Trabalho 22 Ela consegue analisar, por meio da dinamometria, quais são as forças produzidas em virtude das ações motoras efetivadas, que podem ser internas ou externas, dependendo do tipo de informação que se almeja, esclarece Souza (2018). IMPORTANTE: Pode-se identificar, num ambiente laboral dentro de uma grande linha de produção de uma empresa, se a postura provoca sobrecargas que podem ser prejudiciais ao trabalhador, assim como quais são as adaptações nesse espaço que podem ser benéficas para a saúde e a produtividade (SOUZA, 2018). A Cinemática é a parte da Biomecânica que estuda os movimentos sem ter preocupação com as forças que acarretam esses movimentos, explica Bueno (2019). Ela oferece informações sobre os movimentos efetivados, deslocamentos, velocidades, acelerações de segmentos e articulações que podem ser medidas e, assim, produzir padrões de movimentos mais eficientes, complementa Souza (2018). Souza (2018) diz que, no campo da Anatomia, avaliações antropométricas podem oferecer informações relacionados à média do tamanho dos segmentos corporais de uma população. NOTA: Isso permite que a indústria de vestuário estabeleça quais as medidas de blusas e calças que mais se ajustam às necessidades dos usuários (SOUZA, 2018). Já na área de controle, Souza (2018) explica que a eletromiografia permite analisar como conseguimos controlar nossos músculos e, como resultado, estabelecer quais são os responsáveis por esse ou aquele movimento. Ergonomia e Medicina do Trabalho 23 IMPORTANTE: Além dos esportes, as atividades diárias (como um simples caminhar) podem ser averiguadas sob as mais distintas perspectivas, como aquelas que envolvem alterações em razão do processo degenerativo motivado pelo envelhecimento (SOUZA, 2018). Conforme Zhang (2014), a Biomecânica se subdivide em cinco subáreas que são a Biomecânica Ocupacional, Biomecânica do Esporte, Biomecânica de Transporte, Biomecânica de Reabilitação e Biomecânica Ortopédica. Nosso foco será a Biomecânica Ocupacional. A Biomecânica Ocupacional Para Iida e Buarque (2018), a Biomecânica Ocupacional é um componente da Biomecânica Geral que se encarrega dos movimentos do corpo humano e forças que têm relação com o trabalho, buscando quantificar as cargas mecânicas quando esses movimentos são realizados, avaliando o seu impacto sobre o sistema osteomuscular. Segundo Iida (2019), ela trata das interações físicas do trabalhador (Figura 6) com o seu ambiente laboral, máquinas, ferramentas e materiais, buscando diminuir os riscos de distúrbios músculos-esqueléticos, avaliando essencialmente o aspecto das posturas corporais no trabalho e a aplicação de forças, assim como os seus resultados. Ergonomia e Medicina do Trabalho 24 Figura 6 - Interações físicas do trabalhador Fonte: Freepik. Dul e Weerdmeester (2012) citam alguns princípios importantes da Biomecânica para a Ergonomia, que são: • Para manter uma postura ou alcançar um movimento, as articulações devem ser preservadas, tanto quanto possível, na sua posição neutra. • Os pesos devem ser preservados próximos do corpo, na medida do possível. • Os períodos demorados com o corpo inclinado devem ser evitados sempre que possível. • Deve-se evitar torções do tronco, pois essas posturas causam tensões indesejáveis nas vértebras. • Deve-se evitar movimentos bruscos, pois podem gerar picos de alta tensão de curta duração. • As posturas e movimentos devem ser alternados, pois não devem ser conservados por longos períodos. Ergonomia e Medicina do Trabalho 25 • A duração do esforço muscular contínuo deve ser limitada, pois causa fadigas musculares localizadas. • A exaustão muscular deve ser evitada porque, se isso acontecer, existe uma demora de vários minutos para a recuperação. • Devem ser realizadas pausas curtas e frequentes para que seja reduzida a fadiga muscular. Trabalho Estático e Trabalho Dinâmico Alguns conceitos que são necessários entender diante da Biomecânica Ocupacional é sobre o trabalho estático e o trabalho dinâmico. O trabalho estático, de acordo com Teixeira e Valle (2010), é o que determina a contração constante de alguns músculos para preservar uma determinada posição (Figura 7). Kroemer e Gradjean (2005) complementam afirmando que ele se caracteriza por um estado de contração demorada da musculatura, o que na maioria das vezes implica um trabalho de manutenção de postura. Figura 7 - Preservar determinada posição Fonte: Freepik. Ergonomia e Medicina do Trabalho 26 Conforme Teixeira e Valle (2010), o elemento estático está presente em quase todos os meios laborais e pode ser adotado em circunstâncias comuns, como: efetuar tarefas que abrangem a torção do tronco para frente e para os lados; segurar coisas com as mãos; pôr o peso do corpo sobre uma perna enquanto a outra ativa o pedal; empurrar e puxar objetos pesados; elevar os ombros por grandes períodos, entre outros. EXEMPLO: Acontece com os músculos dorsais e das pernas, para manter a posição de pé, como também com os músculos da mão esquerda, para segurar a peça e martelar com a outra mão, exemplificam Teixeira e Valle (2010). Já o trabalho dinâmico é “caracterizado pela alternância de contração e extensão, portanto, por tensão e relaxamento. Há mudança no comprimento do músculo, geralmente de forma rítmica” (KROEMER; GRANDJEAN, 2005, p. 15). Esse movimento age como uma bomba hidráulica, ativando a circulação nos capilares, aumentando o volume do sangue circulado em até vinte vezes em relação à situação de repouso. Assim, o músculo passa a receber mais oxigênio, aumentando a sua resistência à fadiga, elucida Iida (2019). EXEMPLO: Acontece nas tarefas de martelar, serrar, girar um volante ou caminhar, exemplifica Iida (2019). Iida (2019) destaca que o trabalho estático, quando muito fatigante, deve ser evitado sempre que possível ou pelo menos aliviado, devendo- se tomar várias providências com a finalidade de diminuir as contrações estáticas dos músculos. Postura Postura, para Iida e Buarque (2018), é o estudo do posicionamento referente a partes do corpo, como cabeça, tronco e membros, no ambiente. A boa postura é fundamental para que o trabalho seja realizado sem desconforto e sem estresse. Trabalhando ou repousando, o corpo assume três posturas básicas (Figura 8): deitada, sentada e em pé. Ergonomia e Medicina do Trabalho 27 Figura 8 - Posturas básicas Fonte: Freepik. Na posição deitada não existe acúmulo de tensão em nenhuma parte do corpo. Sendo assim, ela é a mais indicada para repouso e recuperação da fadiga, entretanto, ela não é aconselhada para o trabalho, pois os movimentos são de difíceis execução, sendo muito cansativo elevar a cabeça, braços e mãos, explica Iida (2019). A posição em pé tem como vantagem a possibilidadede grande mobilidade corporal, pois os braços e pernas podem alcançar os controles das máquinas, assim como grandes distâncias podem ser percorridas andando. Todavia, ela é excessivamente fatigante, pois exige muito trabalho estático da musculatura envolvida para manter essa posição, esclarece Iida (2019). Já na posição sentada, o bem-estar e o rendimento no trabalho são mais expressivos, já que nessa posição a fadiga é menor. Contudo, Ergonomia e Medicina do Trabalho 28 se conservado por um longo tempo durante a jornada de trabalho, pode causar dores lombares, dorsais, nos ombros e no pescoço, explicam Teixeira e Villar (2010). A posição sentada tem como benefício a liberação das pernas para tarefas produtivas, aceitando grande mobilidade desses membros. Além disso, o assento possibilita um ponto de referência relativamente fixo, o que facilita a efetivação de trabalhos delicados com os dedos, informa Iida (2019). Movimentos Corporais e Força O movimento do nosso corpo acontece por uma mudança de postura e a troca da posição no espaço e no tempo, influenciada pelas forças. Esta ação motora (os movimentos) é conduzida pelo sistema nervoso, que estabelece o relaxamento e as contrações das fibras musculares, atividade que é operacionalizada pelo sistema musculoesquelético, descreve Abrahão et al (2009). Iida e Buarque (2018) explicam que, para fazer um determinado movimento, podem ser empregadas múltiplas combinações de contrações musculares, cada uma delas com distintas características de força, velocidade, precisão e alcance. Mas quais são os papéis desempenhados por cada um desses elementos? As forças das contrações dependem da quantidade de fibras musculares contraídas e, geralmente, somente dois terços das fibras de um músculo podem ser contraídas de forma voluntária por vez. Para realizar grandes forças, deve-se empregar, de preferência, a musculatura das pernas, que são mais resistentes, assim como deve- se sempre usar a gravidade e a quantidade de movimento a seu favor, explanam Iida e Buarque (2018). EXEMPLO: Para suspender um peso de uma altura para outra, é mais aconselhável que se use uma roldana e que a força seja exercida para baixo, pois assim o peso do próprio corpo será usado para ajudar a suspender, exemplifica Iida (2019). Ergonomia e Medicina do Trabalho 29 Os movimentos (Figura 9) com maior precisão são efetivados com a ponta dos dedos. Caso o movimento envolva, de forma sucessiva, o punho, cotovelo e ombros, a força será aumentada, porém a precisão será prejudicada, menciona Iida (2019). Figura 9 - Movimentos Fonte: Freepik. Quanto ao ritmo, Iida (2019) afirma que: os movimentos devem ser suaves, curvos e rítmicos, pois acelerações ou desacelerações bruscas, ou rápidas mudanças de direção são fatigantes, porque exigem maiores contrações musculares. (IIDA, 2019, p. 175) A velocidade de um movimento muscular geralmente é inversamente proporcional à sua força. Desse modo, os braços podem ser movimentados com mais agilidade e precisão do que as pernas, mas estas podem desempenhar maiores forças. Para efeito do trabalho, os movimentos dos dedos são considerados mais rápidos e precisos, excedendo os movimentos dos punhos e dos braços, elucidam Iida e Buarque (2018). Ergonomia e Medicina do Trabalho 30 No ambiente de trabalho, as exigências de forças e torques devem ser adequadas às capacidades do operador nas condições operacionais legítimas. No caso de uma alavanca, por exemplo, a força deve ser medida na posição adequada em que ela estiver localizada, na postura corporal determinada e com o tipo de deslocamento que será efetuado, como também a força para movimentar essa alavanca deve estar dentro de uma faixa que um operador mais fraco consiga movimentá-la e também ter um certo atrito ou inércia, para evitar acionamentos acidentais, relata Iida (2019). RESUMINDO: Neste capítulo você deve ter compreendido que a Biomecânica estuda a maneira como os seres vivos se adaptam às leis da mecânica quando estão realizando movimentos espontâneos, que ela pode ser dividida em Cinemática, Cinética, Controle e Anatomia e que se subdivide em Biomecânica Ocupacional, do Esporte, de Transporte, de Reabilitação e Ortopédica. Você viu também que a Biomecânica Ocupacional se ocupa dos movimentos do corpo humano e das forças que têm relação com o trabalho, quantificando as cargas mecânicas na realização desses movimentos e avaliando seu impacto sobre o sistema osteomuscular. Por fim, você conheceu os princípios importantes da Biomecânica para a Ergonomia, o que são o trabalho estático e o trabalho dinâmico, assim como as posturas deitada, sentada e em pé, como são os movimentos do nosso corpo e a força. Ergonomia e Medicina do Trabalho 31 Antropometria OBJETIVO: Neste capítulo iremos descrever a Antropometria, suas principais características, conhecer os seus tipos e as variações das medidas humanas.. A Antropometria Conforme Iida e Buarque (2018), a Antropometria está relacionada com as medidas físicas do corpo humano. A palavra Antropometria origina-se do grego anthropos, que quer dizer homem, e metrikus, que significa mensuração. Dessa forma, ela é descrita como a ciência que a Ergonomia utiliza, sendo associada às dimensões do corpo humano e à relação existente entre as várias partes corporais, descreve Moraes (2014). Para Dul e Weerdmeester (2012 p.22), a “Antropometria ocupa-se das dimensões e proporções do corpo humano”. Moraes (2014) explica que a Antropometria estuda as dimensões do corpo humano e as diferenças dimensionais apontadas por trabalhadores, com a finalidade de projetar ambientes laborais que obedeçam às necessidades posturais de ao menos 90% dessa população. Um estudo antropométrico compreende os métodos e técnicas que nos permitem alcançar um conjunto suficiente de medidas e conformações do corpo ou partes do corpo humano, relatam Másculo e Vidal (2011). As dimensões antropométricas têm relação direta com os alcances motores de um indivíduo e às posturas seguidas por ele. Deste modo, o método antropométrico consiste na mensuração sistemática e na análise quantitativa das variações dimensionais do corpo humano, esclarece Moraes (2014). Ergonomia e Medicina do Trabalho 32 NOTA: É preciso levar em consideração as pessoas mais altas, para estabelecer o espaço necessário para acomodar as pernas, e também as mais baixas, para que elas atinjam uma determinada altura (MORAES, 2014). A indústria necessita, cada vez mais, de medidas antropométricas que sejam confiáveis e mais delineadas. Essa exigência é feita, de um lado, pelas necessidades da produção em massa de produtos como vestuários e calçados e, por outro lado, pelo surgimento de muitos sistemas de trabalho complexos. É imprescindível que sejam tomados os cuidados durante o projeto e dimensionamento desses sistemas, mencionam Iida e Buarque (2018). Conforme Moraes (2014), na Ergonomia a Antropometria revela as relações entre diferentes dimensões corporais (Figura 10) que podem ser utilizadas no planejamento ou na avaliação de produtos. Seu emprego pode diminuir a necessidade de que os indivíduos se adaptem às situações desfavoráveis no trabalho, o que pode reduzir a tensão dos tecidos musculoesqueléticos. Figura 10 - Dimensões corporais Fonte: Freepik. Ergonomia e Medicina do Trabalho 33 A análise antropométrica, para Másculo e Vidal (2011), é uma fase fundamental para a determinação do projeto. Sua correção dimensional é por meio de verificação estática e ela tem responsabilidade direta por uma fração essencial da dinâmica dos movimentos. Se porventura o aspecto dimensional de um ambiente laboral for elaborado de forma inadequada, decerto o operador terá que adotar posturas forçadas em algum momento, ou fazer uma sequência de movimentos sem equilíbrio numa configuração dinâmica.EXEMPLO: Essas situações podem ser observadas com facilidade em postos de trabalho nos quais os pontos de atuação estão muito altos, fazendo com que o operador alongue os ombros ou flexione os punhos, exemplificam Másculo e Vidal (2011). Tipos Iida e Buarque (2018) consideram a existência de três tipos de medidas antropométricas que condicionam as medições e a consecutiva utilização dos resultados alcançados. Esses tipos devem ser escolhidos conforme o objetivo a ser atingido. Os tipos de medidas são: estática, dinâmica e funcional. Vejamos cada um deles a seguir. Antropometria Estática De acordo com Iida e Buarque (2018), na Antropometria Estática (ou Estrutural) as medições são efetuadas nos segmentos corporais entre pontos anatômicos identificados de forma clara, com o corpo parado. Segundo Másculo e Vidal (2011), a Antropometria Estática busca, primeiramente, determinar o melhor dimensionamento plausível para o alcance, emprego, manuseio, deslocamento, encaixe ou acesso. Ergonomia e Medicina do Trabalho 34 REFLITA: Pense na altura das gôndolas nos supermercados. Essas prateleiras têm produtos expostos em alturas em torno de 1,80m, chegando, em alguns casos, a 2,00m. Entretanto, as mulheres brasileiras têm, em média, 1,57m. Então, isso demonstra uma situação crítica, informam Másculo e Vidal (2011). É aconselhado que sejam dimensionados os produtos e locais de trabalho onde acontecem somente pequenos movimentos corporais, como no caso do mobiliário em geral (Figura 11). Contudo, isso não acontece na maioria das vezes, pois as pessoas estão quase sempre fazendo movimentos de maior amplitude, manipulando, operando, andando ou transportando algum objeto, como explicam Iida e Buarque (2018). Figura 11 - Mobiliários em geral Fonte: Freepik. Ergonomia e Medicina do Trabalho https://br.freepik.com/vetores-gratis/compradores-em-conceitos-de-supermercado_9399267.htm 35 Se o produto ou posto de trabalho for dimensionado com informações da Antropometria Estática, deverão ser realizadas, em seguida, algumas regulações para adaptar as principais movimentações do corpo, explanam Iida e Buarque (2018). Antropometria Dinâmica Já a Antropometria Dinâmica, para Iida e Buarque (2018), mensura os alcances dos movimentos corporais. Dessa forma, as medidas são realizadas entre pontos anatômicos, adotados com o sujeito efetuando algum movimento. Elas complementam os dados da Antropometria Estática e colaboram para a produção de projetos com maior precisão. São adquiridas informações relativas aos ângulos das articulações, aos alcances, às posturas naturais e confortáveis. Essas medidas têm relação com as dimensões que possibilitam aos indivíduos um certo grau de liberdade dos movimentos, de maneira que possam apresentar posturas naturais para a realização de movimentos ou um bom desempenho de atividades específicas, explanam Pinheiro e Crivelaro (2014). EXEMPLO: O alcance máximo das mãos com a pessoa sentada em uma linha de montagem, exemplifica Iida e Buarque (2018). Segundo Iida e Buarque (2018), a Antropometria Dinâmica deve ser empregada em situações de trabalho que requerem uma grande quantidade de movimentos corporais ou quando se deve manusear partes que se mexem em máquinas ou postos de trabalho. Antropometria Funcional A Antropometria Funcional tem relação com as medidas concernentes à verificação de tarefas em postos de trabalho, explicam Pinheiro e Crivelaro (2014). Ela se aplica quando existe uma reunião de diferentes movimentos corporais para a execução de determinadas tarefas específicas, descrevem Iida e Buarque (2018). EXEMPLO: Segundo Pinheiro e Crivelaro (2014), para o alcance das mãos deve ser medido o movimento dos ombros, a rotação do tronco, a inclinação das costas e o tipo de atividade a ser realizada pelas mãos. Ergonomia e Medicina do Trabalho 36 Pinheiro e Crivelaro (2014) ainda lembram que as Antropometrias Dinâmica e Funcional também compreendem as amplitudes de movimento das articulações e dos membros, assim como a força desempenhada em diversas ações. Os dados adquiridos são aproveitados para o pré- dimensionamento de produtos e ambientes de trabalho. Variações das Medidas Humanas Segundo Pinheiro e Crivelaro (2014), podem haver variações de medidas antropométricas por fatores como gênero, fatores genéticos, caracteres hereditários, clima e alimentação. Vejamos, a seguir, como cada uma dessas variações ocorre. Variações em Função do Gênero Homens e mulheres têm formações diferentes desde o nascimento. Os meninos nascem, em média, 0,6 cm mais compridos e 0,2 kg mais pesados que as meninas, apresentando crescimentos parecidos (Figura 12) até o final da infância, esclarecem Iida e Buarque (2018). Figura 12 - Crescimentos parecidos Fonte: Freepik. Ergonomia e Medicina do Trabalho https://br.freepik.com/vetores-premium/parede-de-medidor-com-menino-e-menina-ilustracao-vetorial_4771759.htm 37 As diferenças entre eles tendem a ressurgir na puberdade, e as meninas começam tal fase com crescimento mais rápido. A diferença de altura média da vida adulta entre homens e mulheres varia por volta de 6 a 11%, mencionam Pinheiro e Crivelaro (2014). Iida e Buarque (2018) complementam explicando que a estatura alcança o ponto máximo próximo aos 20 anos e conserva-se praticamente sem alteração até os 50 anos. A partir dos 55 anos, todas as dimensões lineares começam a declinar. Entretanto, outras medidas, como peso e a circunferência dos ossos, podem aumentar. Variações em Função de Fatores Genéticos e Here- ditários Diferentes estudos antropométricos feitos durante várias décadas demonstraram que a etnia influencia nas alterações das medidas antropométricas, relatam Iida e Buarque (2018). Em termos de diferenças étnicas, as variações extremas são encontradas na África. Os menores são os pigmeus da África Central, que medem, em média 143,8 cm para homens e 137,2 cm para mulheres. O menor homem pigmeu mede cerca de 130cm. Os povos de maior estatura também estão na África. São os negros nilóticos que habitam a região sul do Sudão. Os homens medem 182,9 cm, com desvio padrão de 6,1 cm e as mulheres 168,9 cm com desvio padrão de 5,8 cm. Os homens mais altos do Sudão medem cerca de 210 cm. Isso significa que a diferença entre o homem mais alto (sudanês) e o mais baixo (pigmeu) é de 62% em relação ao mais baixo. (IIDA, 2019, p. 101) IMPORTANTE: Existem muitos exemplos de inconformidade dos produtos que foram exportados para outros países sem levar em consideração as necessidades de adequação aos usuários (IIDA; BUARQUE, 2018). Atualmente, esses problemas demonstram ser mais graves devido ao aumento do comércio internacional. Assim, um mesmo produto deve Ergonomia e Medicina do Trabalho 38 ser produzido em diferentes versões ou apresentar regulagens suficientes para se adaptar às diferenças antropométricas de diversas populações, elucidam Iida e Buarque (2018). Variações em Função do Clima Conforme Pinheiro e Crivelaro (2014), o clima é um fator de influência antropométrica de acordo com a região, pois os povos que vivem nas regiões de clima mais quente têm, geralmente, o corpo mais fino e os membros superiores e inferiores relativamente mais longos. Já aqueles das regiões mais frias têm o corpo mais cheio, sendo mais volumoso e arredondado. Essa constatação foi verificada porque os corpos mais finos possibilitam a troca de calor com o ambiente e os mais volumosos possuem maior facilidade de manter o calor corpóreo, informam Pinheiro e Crivelaro (2014). Variações em Função do Tipo de Alimentação O tipo de alimentação também influencia, pois as grandes diferenças de nutrição entre os indivíduos agem como condição para a saúde das diferentes esferas sociais e regiões de um país, afirmam Pinheiro e Crivelaro (2014). Ao longo do tempo, mudanças antropométricas são estudadas e abrangem diversasgerações de grupos sociais. Vários estudos científicos confirmam que as pessoas têm aumentado de peso e de dimensões corporais nos últimos séculos. A explicação disso são a melhoria da alimentação e do saneamento ambiental, a diminuição do trabalho infantil e a adoção de práticas desportivas, lembram Pinheiro e Crivelaro (2014). Variações em Função do Biótipo Para Pinheiro e Crivelaro (2014), as diversas populações humanas são formadas por pessoas de diferentes tipos físicos ou biótipos. Por causa isso, o pesquisador antropométrico William Sheldon (1940) estudou, de forma detalhada, as dimensões antropométricas com 4.000 estudantes norte-americanos. Ele utilizou fotografias feitas de frente, perfil e costas e definiu uma amostra de uma população constituída basicamente por três tipos físicos básicos, sendo eles: Ergonomia e Medicina do Trabalho 39 • Ectomorfo – formas alongadas, corpo e membros longos e finos, o mínimo de gordura e músculos, ombros largos e caídos, pescoço fino e comprido, rosto magro, tórax o abdome estreitos e finos. • Mesomorfo – musculoso, formas angulosas, cabeça cúbica, ombros e peito largos e abdome pequeno, membros musculosos e fortes e pouca gordura subcutânea. • Endomorfo – formas arredondadas e macias, grandes depósitos de gordura, menores em cima e maiores embaixo, abdome grande e cheio, braços e pernas curtos e flácidos, ombros e cabeça arredondados e os ossos pequenos. Iida (2019) destaca que, naturalmente, a maioria das pessoas não fazem parte de forma rigorosa de nenhum desses tipos básicos e misturam as características desses três tipos, podendo ser mesoformo- endofórmica, ectomorfo-mesofórmica e assim por diante. RESUMINDO: Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a Antropometria é a parte da Ergonomia que estuda as dimensões e proporções do corpo humano com o objetivo de projetar ambientes de trabalho que obedeçam às necessidades posturais da maioria da população. Viu também os tipos de medidas antropométricas que são a Antropometria estática, que são as medidas efetuadas com o corpo parado; a Antropometria dinâmica que mede os alcances dos movimentos corporais; e a Antropometria funcional que se relaciona com as medidas no momento da execução das tarefas em postos de trabalho. Por fim, você conheceu as variações das medidas antropométricas que podem ocorrer por fatores como gênero, fatores genéticos, caracteres hereditários, clima, alimentação e ainda pelo biótipo. E que o biótipo se constitui basicamente de três tipos físicos básicos que são o ectomorfo, o mesomorfo e o endomorfo, porém, a maioria das pessoas não fazem parte de nenhum desses tipos básicos de forma rigorosa, mas misturam os três tipos. Ergonomia e Medicina do Trabalho 40 A Ergonomia e as Doenças Ocupacionais OBJETIVO: Neste capítulo iremos discutir as doenças relacionadas com a Ergonomia, quais são as principais causas de aparecimento e as principais características delas.. As Doenças Relacionadas com a Ergonomia Conforte Abrahão et al. (2009), o trabalho causa marcas nos trabalhadores, sendo algumas bem aparentes e identificáveis, como aquelas resultantes de acidentes com máquinas ou de algumas doenças profissionais. Contudo, existem outras que não são tão visíveis e que só podem ser reconhecidas por olhos mais experientes. NOTA: Geralmente as pessoas associam as doenças ergonômicas a apenas àquelas que têm ligação como a coluna ou os tendões, mas não é bem assim. Entre elas podemos citar aquelas derivadas da forma de organização do trabalho e do ambiente laboral. Elas apresentam as marcas do desgaste físico e mental que surgem não na forma de doenças específicas, mas sim de agravamento de doenças, de fadiga crônica, de sofrimento mental, de hábitos alimentares pouco saudáveis ou ainda de envelhecimento precoce, esclarece Abrahão et al. (2009). Macedo (2012) complementa afirmando que os riscos ergonômicos podem causar uma série de malefícios para o trabalhador, como: cansaço, dores musculares, fraqueza, hipertensão arterial, úlceras, doenças Ergonomia e Medicina do Trabalho 41 nervosas, agravamento do diabetes, alterações do sono, da libido, da vida social (com reflexos na saúde e no comportamento), acidentes, problemas na coluna vertebral, taquicardia, cardiopatia (angina, infarto), agravamento da asma, tensão, ansiedade, comportamento estereotipados e medo. Uma grande causa de tensão laboral são as condições ambientais inapropriadas, como excesso de calor, ruídos, vibrações e gases nocivos. Esses fatores provocam incômodo, ampliando o risco de acidentes e podem causar danos consideráveis à saúde, mencionam Iida e Buarque (2018). Para cada uma das variáveis ambientais existem determinadas características que são mais danosas ao trabalho. Dessa forma, incumbe ao projetista identificar essas situações e, na medida do possível, adotar as medidas necessárias para preservar os trabalhadores fora das áreas de risco. Contudo, quando isso não for possível, devem ser avaliados os possíveis malefícios (Figura 13) à atuação e à saúde dos trabalhadores, para que seja empregada a opção menos prejudicial, tomando-se todas as medidas preventivas oportunas em cada situação, explanam Iida e Buarque (2018). Figura 13 - Possíveis malefícios Fonte: Freepik. Ergonomia e Medicina do Trabalho 42 O trabalho físico em condições extremas de calor pode levar o trabalhador a sofrer desidratação, pelo excesso de suor e reposição insuficiente de sais minerais. Nessas circunstâncias extremas, a pressão sanguínea cai e o sangue não chega em quantidade satisfatória aos órgãos vitais, como cérebro e rins. A pele torna-se rosada, quente e seca, e a pessoa pode sofrer um colapso se não for imediatamente retirada do ambiente quente e colocada em um ambiente bem ventilado, sem as roupas, informa Iida (2019). Outra situação que merece atenção diz respeito aos ruídos, pois eles compõem a principal causa de reclamações sobre as condições ambientais e têm como consequência mais clara a surdez, que pode se apresentar de forma temporária, reversível ou até mesmo permanente, lembram Iida e Buarque (2018). IMPORTANTE: O ouvido humano é capaz de alcançar uma determinada quantidade de intensidades sonoras, sendo o ruído equivalente ao do avião a jato praticamente o máximo que o ouvido humano pode aguentar. Acima disso está o limite da percepção dolorosa, que pode trazer danos ao aparelho auditivo, afirmam Iida e Buarque (2018). Abrahão et al. (2009) explica que a exposição contínua ao ruído pode estar associada a um quadro de cefaleia leve, sensação de ouvido cheio, fadiga e tontura. A ininterrupção de exposição por diversos anos poderá proporcionar perda auditiva e, progressivamente, influenciar a vida social das pessoas, da mesma maneira que pode acarretar vertigens, náuseas, vômitos, sudorese e até incapacidade de locomoção. Além disso, Iida (2019) afirma que ruídos acima de 90 dB começam a causar reações fisiológicas danosas ao organismo, aumentando o estresse e a fadiga, assim como aborrecimentos, por causa da parada involuntária da atividade ou aquilo que as pessoas gostariam de estar Ergonomia e Medicina do Trabalho 43 desempenhando, como conversar ou dormir, o que ocasiona tensões e dores de cabeça. Um outro elemento que causa danos é a vibração, que é “qualquer movimento oscilatório que o corpo ou parte dele executa em torno de um ponto fixo.” (IIDA e BUARQUE, 2018, p. 403). Iida (2019) complementa explicando que existem muitas ferramentas manuais – como furadeiras, grampeadores, martelos elétricos e pneumáticos – que produzem vibrações nos braços e mãos, causando isquemias e dores locais. A exposição constante pode acarretar lesões irreversíveis. Os efeitos da vibração direta sobre o corpo humanopodem ser excessivamente graves, podendo comprometer alguns órgãos de forma permanente. EXEMPLO: Os trabalhadores florestais que usam motosserra acabam adquirindo degeneração regressiva do tecido vascular e nervoso, o que causa perda da capacidade manipulativa e o tato das mãos, dificultando o controle motor. Em casos mais graves, a circulação do sangue nos dedos é afetada, tornando-os descoloridos e provocando o fenômeno do “dedo branco”, fazendo com que os dedos fiquem insensíveis e até sofram necrose, exemplifica Iida (2019). Iida e Buarque (2018) mencionam que a vibração intensa disseminada por ferramentas manuais (Figura 14), como furadeiras elétricas, debitadores, peneiras vibratórias e motosserras, acaba se espalhando pelas mãos, braços e corpo do operador e pode causar dormência dos dedos, perda de coordenação motora, enjoos, interferência na fala e confusão visual. Sua exposição constante pode levar a lesões da coluna vertebral, desordem gastrointestinal e perda do controle muscular de partes do corpo. Ergonomia e Medicina do Trabalho 44 Figura 14 - Ferramentas manuais Fonte: Freepik. O trabalho em pé por tempo prolongado, além de provocar a fadiga da musculatura encarregada pelo trabalho estático, causa também desconforto devido às condições divergentes do fluxo de retorno do sangue venoso. Essas condições divergentes da circulação acabam originando muitas doenças das extremidades inferiores, contribuindo para a ocorrência de dilatação das veias das pernas (varizes), edemas de tecidos dos pés e das pernas (edema do tornozelo) e ulceração da pele edemaciada, analisam Kroemer e Grandjean (2005). SAIBA MAIS: Aprofunde-se nesse tema lendo o artigo “Ministério do Trabalho: Como prevenir doenças ocupacionais”, clicando aqui. Ergonomia e Medicina do Trabalho https://br.freepik.com/fotos-premium/o-trabalhador-trabalha-com-uma-serra-eletrica-motosserra-de-perto-o-lenhador-ve-a-arvore-com-serra-de-cadeia-homem-cortando-madeira-com-serra-poeira-e-movimentos_5391101.htm https://www.anamt.org.br/portal/2017/08/08/ministerio-do-trabalho-como-prevenir-as-doencas-ocupacionais/ 45 Quando falamos sobre Ergonomia, é comum que as pessoas pensem dores musculares. Para Iida (2019), as dores musculares são motivadas sobretudo pela manipulação de cargas pesadas ou posturas inadequadas, como a torção da coluna, assim como outras atividades, como puxar e empurrar cargas, podem acarretar as dores. As dores podem acontecer também com o alongamento de forma excessiva e inflamação dos músculos, tendões e articulações, e são relacionadas comumente à forças, posturas e repetições exageradas dos movimentos. A manipulação de cargas na maioria das vezes exige bastante esforço, tendo e o principal problema disso é o desgaste da coluna, principalmente dos discos intervertebrais da região lombar, o que gera um gradativo risco de distúrbios, explicam Kroemer e Grandjean (2005). NOTA: Os problemas de coluna podem ser dolorosos e diminuir a mobilidade e vitalidade de uma pessoa (KROEMER; GRANDJEAN, 2005). Macedo (2008) entende que as dores musculares são um exemplo de doenças da coluna vertebral (Figura 15), principalmente as dores em coluna lombar, designadas lombalgias, como também problemas posturais, que podem provocar desvios no eixo ou ampliação da curvatura preexistente da coluna vertebral. Esses desvios são chamados de cifose, lordose e escoliose. Osteofitose e hérnias discais também são razões comuns de dores na coluna. Ergonomia e Medicina do Trabalho 46 Figura 15 - Doenças da coluna vertebral Fonte: Freepik. Vejamos como Macedo (2008) descreve cada uma delas: • A lombalgia pode acontecer em decorrência de problemas mecânicos posturais, por causa de posturas viciosas, obesidade, esforços repetitivos, ergonomia inapropriada, entre outros. • A cifose é caracterizada pelo acréscimo anormal da concavidade posterior da coluna vertebral e tem como razões mais significativas a má postura e condicionamento físico inadequado. • A lordose se apresenta como o aumento atípico da curva lombar, induzindo a uma acentuação da lordose lombar anatômica e a dor acontece sobretudo em atividades que abrangem a extensão Ergonomia e Medicina do Trabalho 47 da coluna lombar, como conservar-se em postura ortostática por muito tempo. • A escoliose nada mais é que a curvatura lateral da coluna vertebral. • A osteofitose é conhecida de forma popular como bico de papagaio, acarreta a aproximação das vértebras e pode comprimir a raiz nervosa, provocando fortes dores. • As hérnias de disco são decorrência de múltiplos pequenos traumas da coluna, que vão, gradualmente, lesionando as estruturas do disco intervertebral. O sistema musculoesquelético pode ser sobrecarregado por um encadeamento de traumas que, de maneira isolada, não ocasionam prejuízos, mas seus efeitos cumulativos podem levar à sobrecarga. Eles têm sido relacionados com trabalhos repetitivos, como escrever à mão, explicitam Kroemer e Grandjean (2005). VOCÊ SABIA? O compositor Robert Schumann perdeu a capacidade da mão direita por causa da lesão por esforço repetitivo contraída pelo uso do piano (KROEMER; GRANDJEAN, 2005). “Os esforços prolongados e repetitivos podem gerar desgaste e lesões nas articulações, ligamentos e tendões. Estes problemas são geralmente sumarizados sob o termo distúrbios musculoesqueléticos” (KROEMER; GRANDJEAN, 2005, p. 19). Ergonomia e Medicina do Trabalho 48 Figura 16 - Lesões Fonte: Freepik. Iida (2019) explica que os traumas musculares são motivados pela falta de compatibilidade entre as exigências do trabalho e as capacidades físicas do trabalhador e acontecem essencialmente devido a duas causas: impacto e esforço excessivo. O trauma por impacto acontece quando a pessoa é acertada por uma força inesperada, durante um curto espaço de tempo, em uma região específica do corpo. Isso pode ocasionar contusões e traumatismos sérios, como lacerações de tecidos e fratura ósseas. Já o trauma excessivo acontece sobretudo quando existem cargas excessivas, sem a concessão das devidas causas, assim como por movimentos altamente repetitivos. Normalmente ele provoca lesões como tendinite, tenossinovites, compressões nervosas e distúrbios lombares, informa Iida (2019). Essas lesões por traumas repetitivos são conhecidas pelas seguintes siglas: • DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho • LTC – Lesões por Traumas Cumulativos • LER – Lesões por Esforços Repetitivos. Ergonomia e Medicina do Trabalho 49 NOTA: A sigla DORT é mais abrangente e inclui a LTC e a LER (IIDA, 2019). Kroemer e Grandjean (2005) dividem os sintomas de sobrecarga em dois grupos, que são os problemas reversíveis e os persistentes. Os sintomas reversíveis são de curta duração e as dores são predominantemente situadas na musculatura e nos tendões e desaparecem assim que a carga é removida: são as dores de fadiga. Os sintomas persistentes também são situados nos músculos e tendões, mas também atingem as articulações e os tecidos adjacentes, as dores não desaparecem e permanecem após o trabalho ser interrompido. As queixas persistentes são conferidas aos processos inflamatórios e degenerativos nos tecidos sobrecarregados. Os maiores problemas no trabalho, na maioria das vezes, são derivados dos traumas por esforços repetitivos e eles são os responsáveis pela maior parte de distanciamento dos trabalhadores, em decorrência das doenças e lesões no sistema musculoesquelético, lembra Iida (2019). RESUMINDO: Neste capítulo você deve ter compreendido que existem doenças que se originam no ambiente laboral, assim como algumas decorrem de agravamento de doenças, tendo nas condições ambientais a grande causa de tensão laboral, como excesso de calor, ruídos, vibrações e gases nocivos. Você viu que o trabalho físico em condições extremas de calor pode levar o trabalhadora sofrer desidratação pelo excesso de suor e reposição insuficiente de sais minerais; que a exposição contínua ao ruído pode estar associada a um quadro de cefaleia leve, sensação de ouvido cheio, fadiga e tontura; que a vibração intensa, disseminada por ferramentas manuais, pode causar dormência dos dedos, perda de coordenação motora, enjoos, interferência na fala, e confusão visual, e sua exposição constante pode levar a lesões da coluna vertebral, desordem gastrointestinal e perda do controle muscular de partes do corpo. Ergonomia e Medicina do Trabalho 50 Você aprendeu, também, que o trabalho em pé contribui para a ocorrência de dilatação das veias das pernas (varizes), edemas de tecidos dos pés e das pernas (edema do tornozelo) e ulceração da pele edemaciada. Por fim, você entendeu que a manipulação de cargas, na maioria das vezes, abrange bastante esforço, tendo como principal problema o desgaste da coluna, principalmente dos discos intervertebrais da região lombar, como o gradativo risco de distúrbios; que são exemplos de doenças da coluna vertebral as dores em coluna lombar, designadas lombalgias, como também problemas posturais, que podem provocar desvios chamados de cifose, lordose, escoliose, assim como osteofitose e hérnias discais. Você também viu que os esforços prolongados e repetitivos podem gerar desgaste e lesões nas articulações, ligamentos e tendões, conhecidas pelas siglas DORT, LTC E LER. Ergonomia e Medicina do Trabalho 51 REFERÊNCIA BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Controle de riscos: prevenção de acidentes no ambiente Ocupacional. São Paulo: Érica, 2013. BOTTINO, A. G.; ARAÚJO, R. C. Saberes plurais: educação, leitura e escola. Vila velha: Opção Editora, 2012. BUENO, G. Biomecânica básica. Sorocaba: Kindle, 2019. 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