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Livro Didático Digital Ergonomia e Medicina do Trabalho Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ELAINE CHRISTINE PESSOA DELGADO MARCOS RODOLFO DA SILVA GISELLY SANTOS MENDES AUTORIA Elaine Christine Pessoa Delgado Sou formada em administração de empresas pela Universidade Federal de Campina Grande (2007), e tenho uma experiência técnico- profissional de mais de 10 anos na área de gerência de empresas. Marcos Rodolfo da Silva Sou Graduado em Enfermagem, Pós-Graduado em Enfermagem do Trabalho, Técnico em Radiologia e Instrumentador Cirúrgico pelo Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB), 2010 - 2012 e 2008, respectivamente. Além disso, ao longo de minha carreira, participei de cursos na área de urgência e emergência e atuei como enfermeiro supervisor no Pronto Socorro Municipal Dr. Oscar Pirajá Martins, na cidade de São João da Boa Vista (SP), de março de 2011 a janeiro de 2014. Atualmente sou acadêmico do 5° ano do curso de Medicina no Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino Unifae, São João da Boa vista (SP). Além disso, desenvolvo materiais didáticos como professor conteudista nas áreas de saúde pública, saúde do idoso, direito à saúde e áreas correlatas. Giselly Santos Mendes Sou Mestre em Qualidade Ambiental, Tecnóloga em Polímeros, Administradora, Educadora com uma experiência técnico-profissional de mais de 12 anos na área de Processos Gerenciais e Educacionais. Somos apaixonados pelo que fazemos e gostamos de transmitir nossas experiências de vidas àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fomos convidados pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Medicina do Trabalho, Conceito e Legislação ................................ 10 Conceito de Medicina do Trabalho .................................................................................... 10 Legislação da Medicina do Trabalho ................................................................................ 12 Impactos do Trabalho Sobre a Saúde e Segurança dos Trabalhadores 17 Atividades Insalubres, Perigosas e a Toxicologia Ocupacional ..................................................................................................20 Atividades Perigosas.................................................................................................................... 20 Atividades Insalubres ...................................................................................................................24 A Toxicologia Ocupacional Relacionada com a Medicina do Trabalho ...27 Medidas Preventivas e Especiais de Proteção................................30 Medidas Preventivas de Medicina do Trabalho ....................................................... 30 Medidas Especiais de Proteção ...........................................................................................34 Conduta Médico - Operacional ............................................................39 Acidentes de Trabalho ................................................................................................................ 39 Doenças Ocupacionais ...............................................................................................................43 Conduta Médico-Operacional Pertinente à Medicina do Trabalho ........... 49 7 UNIDADE 04 Ergonomia e Medicina do Trabalho 8 INTRODUÇÃO Você sabia que a Medicina do Trabalho não busca apenas a prevenção de doenças e de acidentes do trabalho? Sabia que existem várias medidas preventivas de Medicina do Trabalho? A vida dos funcionários e o seu bem-estar são essenciais para conservar um bom ambiente laboral. Para que os locais de trabalho sejam efetivamente ambientes seguros, existem medidas obrigatórias que devem ser tomadas para evitar doenças ocupacionais e acidentes de trabalho, auxiliando nos casos de trabalhos insalubres ou perigosos. A Medicina do Trabalho busca a prevenção das doenças e dos acidentes de trabalho, a promoção da saúde e da qualidade de vida, com o intuito de possibilitar uma boa relação entre pessoas e o seu trabalho. Existem alguns programas que são fundamentais para auxiliar na prevenção às doenças e aos acidentes de trabalho, como o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional e o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Nesta unidade iremos compreender a Medicina do Trabalho e as normas referentes a esse campo, as atividades perigosas e insalubres, a toxicologia ocupacional e as respectivas medidas preventivas e especiais de proteção, como também as doenças ocupacionais, as doenças do trabalho e a atuação médica relacionada com a Medicina do Trabalho. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Ergonomia e Medicina do Trabalho 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Definir medicina do trabalho, compreendendo sua legislação e os impactos das doenças ocupacionais sobre a saúde e segurança dos trabalhadores. 2. Discernir sobre as atividades insalubres e perigosas, entendendo a toxicologia ocupacional e seus impactos sobre a saúde do trabalhador. 3. Descrever as medidas preventivas e as especiais de proteção da medicina do trabalho. 4. Analisar os acidentes de trabalho, identificando as doenças ocupacionais associadas e as respectivas condutas médico- operacionais relacionadas. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Ergonomia e Medicina do Trabalho 10 Medicina do Trabalho, Conceito e Legislação OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de identificar o conceito de Medicina do Trabalho, quem são os médicos do trabalho, explicar a legislação da Medicina do Trabalho e os impactos do trabalho sobre a saúde e segurança dos trabalhadores. E então, motivado para desenvolver esta competência? Avante!. Conceito de Medicina do Trabalho Macedo (2008) define a Medicina do Trabalho como a especialidade que aborda as relações entre a saúde dos homens e mulheres trabalhadores e seu trabalho, buscando não apenas a prevenção das doenças e dos acidentes de trabalho, mas também a promoção da saúde e da qualidade de vida, por meio de ações propícias para garantir a saúde individual e possibilitar uma relação saudável entre as pessoas e seu trabalho. Para Prazeres (2018), a Segurança e Medicina do Trabalho pode ser conceituada como uma das divisões do Direitodo Trabalho, encarregada de fornecer condições de proteção à saúde dos empregados no ambiente laboral e de sua recuperação quando não tiverem condições de realizar suas atividades. NOTA: Ela é uma especialidade médica que tem como propósito a promoção, a proteção e a recuperação da saúde das pessoas que laboram nos mais variados trabalhos e com as mais diferentes relações empregatícias, mencionam Bandini et al. (2017). Ergonomia e Medicina do Trabalho 11 A Medicina do Trabalho é baseada na ciência e deve buscar comprovadas tecnologias disponíveis como instrumentos de trabalho, assim como tem raízes no humanismo pragmático e engloba aspectos de relacionamento humano, ético, jurídico trabalhista e previdenciário, afirma Souto (2005). A Medicina do Trabalho deve ser compreendida como a arte de estudar, precaver e cuidar das doenças que derivam do trabalho, fazendo uso dos fundamentos técnico-científicos da Medicina em suas execuções pessoais e coletivas, tendo como ponto inicial as relações mútuas que conectam os problemas de saúde (Figura 1) ou doença dos trabalhadores ao ambiente físico e social no qual trabalham ou convivem, esclarece Souto (2005). Figura 1 - Problemas de saúde Fonte: Freepik. Macedo (2008) afirma que compete ao Serviço de Medicina do Trabalho adotar os variados instrumentos e mecanismos que estão ao seu alcance, com o propósito de resguardar a saúde dos trabalhadores, seja resolvendo os problemas existentes, seja na prevenção de futuros. O médico do trabalho tem um campo de atuação muito amplo, extrapolando o âmbito tradicional da prática médica. Não basta ao médico do trabalho ter conhecimento apenas na sua área, ele também necessita de uma noção ampla Ergonomia e Medicina do Trabalho 12 de outras áreas como Clínica Médica e Saúde Pública, por exemplo, para que possa realizar programas de prevenção, ou mesmo chegar a diagnósticos mais precisos. Também o médico do trabalho deve trabalhar com uma equipe multidisciplinar. Para isso, deve contar com o crucial auxilio de engenheiros de segurança do trabalho, técnicos em segurança do trabalho, fonoaudiologistas, fisioterapeutas e outros profissionais capacitados para a promoção da saúde no ambiente laboral. Vários são os campos de atuação para o médico do trabalho. Entre os principais destacam-se as empresas, perícia médica da previdência social e judicial, assessoria sindical, consultoria privada e toxicologia. (MACEDO, 2008, p. 23) Todas as ações médico-sanitárias operacionalizadas dentro de uma coletividade de trabalho devem ser incentivadas pela compreensão de que a saúde do trabalhador é um meio imprescindível ao desenvolvimento econômico e social, um motivo de valorização do homem e que, deste modo, garante sua participação efetiva no progresso e na paz social, expõe Souto (2005). Legislação da Medicina do Trabalho Conforme Oliveira (2017), para que o Estado cumpra seu papel fundamental para a garantia dos direitos relacionados aos ambientes do trabalho, é imprescindível que seja exigido dos empregadores o zelo pela segurança e pela saúde dos trabalhadores, em observância ao ordenamento jurídico. A legislação da Medicina do Trabalho é bem ampla e inclui vários diplomas legais, que vão desde a Constituição Federal até leis, convenções, normas regulamentadoras, entre outros. A Constituição Federal é a Carta Magna (Lei Soberana), destinada a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. Os demais dispositivos (CLT, Código Civil, Código de Processo Civil e legislação Previdenciária) são as leis infraconstitucionais, típicas ou comuns, aprovadas pela maioria dos parlamentares da Câmara dos Deputados Ergonomia e Medicina do Trabalho 13 e do Senado Federal presentes durante a votação. As Norma Regulamentares, por sua vez, constituem normas infralegais que tratam da segurança e saúde do trabalhador. (OLIVEIRA, 2017, p. 16) A Constituição Federal estabelece o direito à vida e à saúde como um direito de todos e garante acesso universal e igualitário, que deve ser garantido por políticas sociais e econômicas que busquem a redução dos riscos de acidentes inerentes ao trabalho, demonstra Oliveira (2017). IMPORTANTE: Merece destaque o art. 7º da CF, que estabelece os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, especialmente relativas à Segurança e Medicina do Trabalho previstas em seu Capítulo V, explicita Oliveira (2017). Prazeres (2018) menciona que a CLT trouxe muitos benefícios aos empregados, isto é, cada vez mais garantias de saúde, integridade física e outros benefícios são garantidos por essa lei, para que os empregados possam desempenhar suas tarefas de maneira segura e correta. A legislação previdenciária, conforme o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), tem como propósito garantir os benefícios acidentários (auxílio-doença acidentário, auxílio doença, aposentadoria por invalidez, aposentadoria especial, pensão por morte e reabilitação). Em resposta aos problemas que os acidentes de trabalho (Figura 2) manifestam, o Ministério da Previdência Social tem elaborado uma série de normas, com a finalidade de estimular o investimento em saúde e segurança no trabalho, prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, afirma Oliveira (2017). Ergonomia e Medicina do Trabalho 14 Figura 2 - Acidente de trabalho Fonte: Freepik. As normas regulamentadoras referentes à segurança e saúde do trabalhador são disposições complementares à CLT, fundamentando-se em obrigações, direitos e deveres a serem seguidos por empregadores e trabalhadores, com o objetivo de assegurar um trabalho seguro e sadio, prevenindo a ocorrência de doenças e acidentes de trabalho, esclarece Oliveira (2017). Pretti (2011) destaca que a Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho aprovou as normas que normatizam os compromissos relacionados com a segurança e medicina do trabalho, que ao longo do tempo sofreram modificações de toda ordem, e mais cinco Normas Regulamentadoras para o trabalhador rural. Entre essas normas destacam-se: • NR 2 – Inspeção prévia. • NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. • NR 6 – Equipamentos de Proteção Individual – EPI. • NR 7 – Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Ergonomia e Medicina do Trabalho 15 • NR 9 – Programas de Prevenção de Riscos Ambientais. • NR 15 – Atividades e Operações Insalubres. • NR 16 – Atividades e Operações Perigosas. Essas normas regulamentadoras são de cumprimento obrigatório pelas empresas públicas e privadas, órgãos da administração direta e indireta e dos Poderes Legislativo e Judiciário, que tenham empregados regidos pela CLT, relata Pretti (2011). Existem também diversas Convenções da Organização Internacional do Trabalho que abordam direitos dos trabalhadores e que foram ratificadas pelo Brasil. Essas convenções são Tratados Internacionais que estabelecem padrões e pisos mínimos a serem verificados e realizados por todos os países que os ratificam. ACESSE: Aprofunde-se nesse tema conhecendo as convenções ratificadas pelo Brasil clicando aqui. O Código Civil assegura o direito a indenizações por danos resultantes de acidentes ou doenças do trabalho. O Código de Processo Civil determina regras e procedimentos legais para o cumprimento de perícias judiciais acidentárias, aposentadoria, insalubridade, periculosidade, entre outros tópicos aplicáveis, e o Código Penal possibilita a responsabilização criminal do empregador por sujeitar a vida ou a saúde do trabalhador ao perigo direto ou iminente,explana Oliveira (2017). Ergonomia e Medicina do Trabalho https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/lang--pt/index.htm 16 Figura 3 - Perigo direto Fonte: Pixabay. Cabe ainda destacar que a CLT determina a obrigação do cumprimento dessas normas, tanto pelo empregador quanto pelo trabalhador: Art. 157 - Cabe às empresas: I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. Art. 158 - Cabe aos empregados: I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II do artigo anterior II - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste Capítulo. Ergonomia e Medicina do Trabalho 17 III - conhecer, em segunda e última instância, dos recursos voluntários ou de ofício, das decisões proferidas pelos Delegados Regionais do Trabalho em matéria de segurança e higiene do trabalho. (BRASIL, 1943) Oliveira (2017) afirma que a legislação de segurança e saúde do trabalhador tem como propósito a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e a prevenção e acidentes e de danos à saúde referentes ao trabalho ou que aconteçam durante este, por meio da extinção ou diminuição dos riscos no local de trabalho. Impactos do Trabalho Sobre a Saúde e Segurança dos Trabalhadores O ambiente de trabalho é o campo primordial dos riscos profissionais e é nele que deve estar o foco das orientações dos trabalhadores referentes à segurança e saúde no trabalho, com o propósito de alcançar melhorias necessárias, informa Stonoga (2020). De acordo com Macedo (2008, p. 65), a “Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um perfeito estado de bem-estar físico, psíquico e social.” Embora a saúde seja a meta de todos, o trabalhador pode, em seu ambiente de trabalho, submeter-se a situações que o prejudiquem. Contudo, se o trabalho também é fundamental para sociedade e para o próprio indivíduo, a perda da saúde é um motivo da redução da capacidade laborativa e, no decorrer do tempo, pode ocasionar a diminuição da qualidade de vida. Muitos profissionais são acometidos por acidentes em seu local de trabalho ou por doenças que têm origem no próprio ambiente laboral, sejam elas ergonômicas, de intoxicações, psíquicas, entre várias outras. Além dos perigos de ambiente de trabalho característicos, trabalho e saúde estão relacionados a outros modos e causam maiores impactos em saúde (Figura 4), pois as condições de trabalho, tipo de trabalho, estado profissional e localização geográfica do ambiente de trabalho Ergonomia e Medicina do Trabalho 18 também têm um impacto intenso no estado social e bem-estar dos trabalhadores, elucida Stonoga (2020). Figura 4 - Impactos em saúde Fonte: Freepik. Stonoga (2020) afirma que muitos serviços de Medicina Ocupacional são limitados ao desempenho associado ao atendimento a acidentes de trabalho e, ocasionalmente, consultas médicas admissionais, periódicas e demissionais. Entretanto, Macedo (2008) explica que o Serviço de Medicina do Trabalho deve transcender esses serviços e contar com funções de prevenção, protegendo a saúde do trabalhador e, consequentemente, a conservação da força produtiva de trabalho. A grande pluralidade de problemas de saúde ocupacional relacionados com os riscos para a saúde e suas repercussões na esfera global têm uma quantificação muito complexa. Determinadas estimativas são fundamentadas para demonstrar os danos profissionais e doenças informadas em estatísticas oficiais. Contudo, um grande número de danos Ergonomia e Medicina do Trabalho 19 e doenças originados no ambiente de trabalho não é informado, lembra Stonoga (2020). RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Neste capítulo você deve ter entendido que a Medicina do Trabalho aborda as relações entre a saúde dos homens e mulheres trabalhadores e seu trabalho, promovendo a saúde, qualidade de vida e prevenção e doenças e acidentes de trabalho e que a saúde do trabalhador é um meio imprescindível para o desenvolvimento econômico e social, um motivo de valorização do homem e que, deste modo, garante sua participação efetiva no progresso e na paz social. Você viu também que a legislação da Medicina do Trabalho é bem ampla e inclui vários diplomas legais, que vão desde a Constituição Federal até leis, convenções, normas regulamentadoras, entre outros. Por fim, você compreendeu que muitos profissionais são acometidos por acidentes em seu local de trabalho ou por doenças que têm origem no próprio ambiente laboral, sejam elas ergonômicas, de intoxicações, psíquicas, entre várias outras, e que a Medicina do Trabalho não deve se limitar apenas ao atendimento a acidentes de trabalho e, ocasionalmente, consultas médicas admissionais, periódicas e demissionais, mas deve também ter funções de prevenção, protegendo a saúde do trabalhador e, consequentemente, a conservação da força produtiva de trabalho. Ergonomia e Medicina do Trabalho 20 Atividades Insalubres, Perigosas e a Toxicologia Ocupacional OBJETIVO: Neste capítulo iremos definir as atividades insalubres e perigosas e entender a toxicologia ocupacional, compreendendo seus principais pontos e como ela é encontrada no ambiente laboral.. Atividades Perigosas As atividades perigosas são aquelas que, por seu caráter ou processos de trabalho, põem em risco a vida dos trabalhadores diante da intensa exposição permanente sofrida. De acordo com a Norma Regulamentadora 16, são classificadas como atividades e operações perigosas aquelas que compreendem o trabalho associado com explosivos, produtos inflamáveis, segurança pessoal ou patrimonial, energia elétrica, locomoção em motocicletas, radiações ionizantes ou substâncias radioativas, demonstram Barsano e Barbosa (2018). A CLT aponta como perigosas apenas as situações que envolvem inflamáveis, explosivos, energia elétrica, roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial e as atividades de trabalhador em motocicleta. Contudo, a OJ – SD11 – 345 do TST reconhece como atividade perigosa a exposição à radiação ionizante ou substâncias radioativas. IMPORTANTE: A Constituição Federal de 1988, em seu art. 7º XXXIII, veda expressamente o trabalho em condições de periculosidade a menores de dezoito anos. Ergonomia e Medicina do Trabalho 21 A Norma Regulamentadora 16 indica como atividades ou operações perigosas as realizadas com explosivos submetidos a degradação química ou auto catalítica e ação de agentes exteriores, tais como calor, umidade, faíscas, fogo, fenômenos sísmicos, choque e atritos. Barsano e Barbosa (2018) destacam que as atividades de transporte de inflamáveis (Figura 5), líquidos ou gasosos liquefeitos, em todos os tipos de recipientes e a granel, são classificadas como situações de periculosidade – salvo para o transporte em pequenas quantidades, até o limite de duzentos litros para os inflamáveis líquidos e cento e trinta e cinco quilos para os inflamáveis gasosos liquefeitos. Figura 5 - Transporte de inflamáveis Fonte: Freepik. Ergonomia e Medicina do Trabalho 22 Correia (2018) afirma que o adicional de periculosidade cabe quando a exposição ao risco é permanente ou intermitente (com intervalos), mas é indevido se o contato for puramente casual ou se, mesmo que habitual, acontecer por tempo muito reduzido. Ou seja, o trabalhador tem direito ao adicional de periculosidade mesmo que existam intervalos na sua jornada, mas não tem direito caso passe pouco tempo sujeito à condiçãoperigosa. Mas o que é esse adicional de periculosidade? O adicional de periculosidade é uma porcentagem paga ao trabalhador como uma forma de compensação no desempenho dessas atividades perigosas. O adicional de periculosidade consistirá em 30% calculado sobre o salário-base, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios, etc. (CLT, art. 193, § 1º). SUM 132 O adicional de periculosidade, pago em caráter permanente, integra o cálculo de indenização e de horas extras (ex-Prejulgado nº 3). (ex-Súmula nº 132 - RA 102/1982, DJ 11.10.1982/ DJ 15.10.1982 - e ex-OJ nº 267 da SBDI-I - inserida em 27.09.2002) II - Durante as horas de sobreaviso, o empregado não se encontra em condições de risco, razão pela qual é incabível a integração do adicional de periculosidade sobre as mencionadas horas. (ex-OJ nº 174 da SBDI-I - inserida em 08.11.2000) Histórico: Súmula mantida - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 Nº 132 Adicional de periculosidade O adicional de periculosidade pago em caráter permanente integra o cálculo de indenização (ex-Prejulgado nº 3). Redação original - RA 102/1982, DJ 11.10.1982 e DJ 15.10.1982 Nº 132 O adicional-periculosidade pago em caráter permanente integra o cálculo de indenização (ex-Prejulgado nº 3). (TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, 2020) Segundo a súmula 132 do TST, quando o trabalhador estiver de sobreaviso, ou seja, de plantão ou esperando o chamado para o serviço ou qualquer momento, não é considerado o adicional de periculosidade, pois ele não está em contato direto com a atividade perigosa. A mesma súmula determina, também, que esse adicional deverá incorporar o cálculo de indenizações e horas extras, caso seja pago em caráter permanente. Ergonomia e Medicina do Trabalho 23 A OJ-SDI1-259 do TST estabelece que o adicional de periculosidade deve fazer parte da base de cálculo do adicional noturno, pois neste horário o trabalhador também continua sob as condições de risco. Mas como se identifica a periculosidade de uma atividade? A atividade perigosa é atestada por meio de perícia. Barsano e Barbosa (2018) informam que é opcional às empresas e aos sindicatos das categorias profissionais interessadas solicitar ao Ministério do Trabalho, por meio das Delegacias Regionais do Trabalho, a efetuação de perícia na organização ou setor da empresa, com a finalidade de distinguir, especificar ou determinar a atividade perigosa (Figura 6). Figura 6 - Atividade perigosa Fonte: Freepik. Entretanto, existem muitas situações em que o trabalhador ingressa na justiça para requerer o adicional de periculosidade. Para isso, durante o curso da ação é chamado um perito, pois apenas por meio da prova técnica é que poderá ser atestado se o ambiente põe em risco a integridade física do trabalhador. Ergonomia e Medicina do Trabalho 24 Atividades Insalubres Conforme Correia (2018), as atividades insalubres são aquelas que sujeitam o trabalhador a agentes nocivos à sua saúde e que excedem o limite de tolerância, como os agentes químicos (chumbo), biológicos (bactérias) e físicos (ruídos). Art. 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. (BRASIL, 1943) O adicional de insalubridade é pago ao funcionário como uma maneira de compensar o trabalho em condições mais danosas à sua saúde. O Direito do Trabalho, com seu caráter protetivo, beneficia a saúde do trabalhador, de forma que o adicional de insalubridade não se integra, de maneira definitiva, ao patrimônio do empregado, pois quando interrompido o agente insalubre, também acabará o pagamento de adicional, esclarece Moura (2017). Para que o adicional de insalubridade seja concedido, é obrigatório que dois requisitos sejam preenchidos, segundo Correia (2018): • A atividade nociva deverá ser averiguada por meio de perícia por profissional habilitado, médico ou engenheiro do trabalho. • É obrigatório que o agente esteja compreendido na relação oficial do Ministério do Trabalho e Emprego. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos que você leia o texto “NR 15: Atividades e Operações Insalubres”, clicando aqui. Ergonomia e Medicina do Trabalho https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-15-atualizada-2019.pdf 25 Ao contrário da periculosidade, que tem apenas uma porcentagem para todos os casos, na insalubridade são estabelecidos graus de estabilidade. O máximo é um adicional de 40% sobre o salário, o médio é de 20% sobre o salário e o mínimo é de 10% sobre o salário. A súmula nº 47 do TST diz que o trabalho realizado em condições insalubres, em caráter intermitente, não afasta, só por essa circunstância, o direito à percepção do respectivo adicional. Ou seja, mesmo que o trabalhador tenha horários com intervalos, ele tem o direito de receber o adicional. Contudo, este entendimento não é válido para o trabalhador eventual, pois este não tem o adicional de insalubridade (Figura 7). Figura 7 - Insalubridade Fonte: Freepik. A CLT, em seu art. 191, estabelece que a extinção ou a neutralização da insalubridade acontecerá com: • A tomada de medidas que mantenham o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância. • O emprego de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que reduzam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. Ergonomia e Medicina do Trabalho 26 Diante dessa normativa, devemos observar duas súmulas do TST que são importantes: a súmula 80, que impõe que “a eliminação da insalubridade mediante fornecimento de aparelhos protetores aprovados pelo órgão competente do Poder Executivo exclui a percepção do respectivo adicional”, e a súmula 289, que determina que apenas o fornecimento do aparelho de proteção pelo empregador não o desobriga do pagamento do adicional de insalubridade, pois devem ser adotadas as medidas que levem à redução ou eliminação da nocividade, inclusive as referentes à utilização efetiva do equipamento pelo trabalhador. EXPLICANDO MELHOR: Para que seja excluído o adicional de insalubridade, não basta apenas a entrega dos equipamentos de proteção, mas é necessário que a insalubridade seja considera eliminada. Correia (2018) informa que o adicional de insalubridade integra as demais verbas trabalhistas quando este for pago com habitualidade, sendo incluído no décimo terceiro salário, nas férias, no FGTS e no aviso- prévio, ficando excluído deste o descanso semanal remunerado. Ergonomia e Medicina do Trabalho 27 A Toxicologia Ocupacional Relacionada com a Medicina do Trabalho Para Buschinelli (2020), a possibilidade de um trabalhador ficar doente pela exposição a um agente químico em um ambiente laboral é a preocupação inicial da Toxicologia Ocupacional. Por esse motivo, as análises dos ambientes e dos processos produtivos dos trabalhadores deve ser realizado com cautela, buscando sempre diminuir esta possibilidade o máximo possível. Macedo (2008, p. 26) define a intoxicação como sendo “toda e qualquer manifestação clínica ou laboratorial de efeitos adversos”. É um estado doentio originado por um agente químico que causa o desequilíbrio do organismo, provocando desde simples distúrbios de saúde até o óbito. A Toxicologia pesquisa as consequências danosas de substâncias químicas nos organismos vivos, levando em consideração a prevenção e, em situações de falha, o tratamento dos atingidos. Entretanto, não existem substâncias químicas (Figura 8) com ou sem efeitos danosos, mas sim quantidades de substâncias com potencial nocivo. Essa quantidade é a que pode ser efetivamente absorvida pelo organismo a ponto de afetá- lo, explicita Buschinelli (2020). Figura 8 - Substânciasquímicas Fonte: Freepik. Ergonomia e Medicina do Trabalho 28 A Toxicologia Ocupacional é altamente preventiva, sendo imprescindível para ela a adequada avaliação do risco ao qual o trabalhador está exposto. Para isso, o primeiro passo é a informação qualitativa, que é a verificação de quais são as substâncias que estão sendo empregadas ou produzidas no processo, menciona Buschinelli (2020). NOTA: É imprescindível que o profissional de saúde e segurança do trabalho (em específico o médico do trabalho e o higienista) entenda de química para tratar de modo correto os riscos químicos nos ambientes de trabalho (BUSCHINELLI, 2020). O ambiente de trabalho pode proporcionar vários fatores de risco para o trabalhador, contudo, a emissão de gases mediante vazamentos de alguns equipamentos é uma das principais causas de intoxicação no trabalho. Fatores como o armazenamento feito de forma inapropriada dos produtos tóxicos podem provocar acidentes que acarretam a intoxicação. Outro fator importante é a resistência física do trabalhador, pois quanto mais baixa a resistência, maior o risco de contaminação, afirma Macedo (2008). Macedo (2008) lembra que o próprio trabalhador pode cometer alguns erros que acabam provocando a intoxicação, como a falta ou o uso incorreto dos equipamentos de proteção individual (EPIs). Outro erro é quando, em um ambiente aberto, os trabalhadores aplicam produtos tóxicos contra o vento, o que também pode provocar intoxicações. Ergonomia e Medicina do Trabalho 29 RESUMINDO: Neste capítulo você deve ter compreendido que as atividades perigosas põem em risco a vida dos trabalhadores, por causa da exposição intensa e permanente à atividades associadas com explosivos, produtos inflamáveis, segurança pessoal ou patrimonial, energia elétrica, locomoção em motocicletas, radiações ionizantes ou substâncias radioativas e que, por causa desse risco, os trabalhadores tem direito a um adicional de 30% nos casos de exposição permanente ou intermitente. Você viu também que as atividades insalubres sujeitam o trabalhador a agentes nocivos a sua saúde, como os agentes químicos, biológicos e físicos. Nessas situações, o trabalhador receberá adicionais de 40, 20 ou 10 por cento, dependendo do grau de insalubridade detectado. Por fim, você compreendeu a Toxicologia Ocupacional, que é altamente preventiva, imprescindível para ela a adequada avaliação do risco ao qual o trabalhador está exposto e que o ambiente de trabalho pode proporcionar vários fatores de risco para o trabalhador, contudo, a emissão de gases mediante vazamentos de alguns equipamentos é uma das principais causas de intoxicação no trabalho. Ergonomia e Medicina do Trabalho 30 Medidas Preventivas e Especiais de Proteção OBJETIVO: Neste capítulo iremos descrever as medidas preventivas de Medicina do Trabalho e as medidas especiais de proteção. Vamos lá!. Medidas Preventivas de Medicina do Trabalho Segundo Pretti (2011), a Segurança e Medicina do Trabalho abrange uma série de medidas preventivas que devem ser seguidas no ambiente de trabalho, buscando tornar mínimos os acidentes e as doenças ocupacionais, como também proteger a integridade e a capacidade de trabalho do empregado. A CLT, em seu art. 168, determina que os empregadores deverão providenciar, obrigatoriamente, exame médico em caso de admissão, demissão e periodicamente, respeitando as condições estabelecidas na Lei e nas instruções emitidas pelo Ministério do Trabalho em casos de demissão e em situações complementares. O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional é proposto para a prevenção e o controle da saúde dos empregados. Ele é realizado por meio da gestão de inspeções médicas permanentes e tem como finalidade a prevenção dos casos de doenças ocupacionais. Refere-se a um programa de caráter preventivo, que realiza o rastreamento e o diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho, inclusive daqueles que acontecem sem manifestação de sintomas. Além disso, verifica a existência de casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores. Desse modo, seu planejamento e implementação devem ser baseados nos riscos à saúde dos trabalhadores, explica Oliveira (2018). Ergonomia e Medicina do Trabalho 31 É por meio desse programa em que são executados e acompanha- dos os resultados dos exames médicos obrigatórios segundo as ativida- des desenvolvidas na empresa. Gattai (2020) esclarece que o exame admissional deve ser feito antes da contratação efetiva do novo empregado, e o exame tem como propósito avaliar o estado de saúde física e psíquica indispensável para o desempenho do cargo que o novo funcionário irá executar. Outro intuito é o de oferecer orientação para as pessoas em situações especiais de saúde que ocuparão a vaga de emprego. Além do mais, o exame admissional é uma forma da organização se proteger e comprovar que está contratando uma pessoa inteiramente capaz de realizar aquele trabalho. NOTA: Médicos especializados em Medicina do Trabalho são os encarregados de realizar os exames admissionais, demissionais e periódicos e são eles que detectam as enfermidades ocupacionais. Os exames devem ser renovados a cada ano (exame periódico) e também são obrigatórios quando acontece a demissão de empregados (exame demissional), menciona Gattai (2020). Figura 9 - Exame médico Fonte: Freepik. Ergonomia e Medicina do Trabalho 32 O exame demissional, de acordo com Rojas (2015), é uma garantia para o trabalhador, já que ele precisa demonstrar ser capaz de exercer suas atividades em outras empresas, e para o empregador, que fica informado das condições de saúde do ex-funcionário, impedindo, dessa forma, futuros problemas com reclamações trabalhistas e ações indenizatórias. Todo exame efetuado pelo médico do trabalho deve ser seguido do atestado de saúde ocupacional (ASO) e, conforme a Norma regulamentadora 7, deverá compreender, no mínimo: • O nome completo do trabalhador, o número de registro de sua identidade e sua função. • Os riscos ocupacionais específicos existentes, ou a ausência deles, na atividade do empregado, de acordo com as instruções técnicas expedidas pela Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho – SSST. • Apontamento dos procedimentos médicos aos quais o trabalhador foi submetido, abrangendo os exames complementares e a data em que foram realizados. • O nome do médico coordenador, quando existir, com o devido CRM. • Indicação de apto ou inapto para a função específica que o trabalhador vai ocupar, ocupa ou ocupou. • Nome do médico responsável pelo exame e endereço ou meio de contato. • Data e assinatura do médico responsável do exame e carimbo, assim como seu número de inscrição no CRM. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) encara como a principal finalidade dos exames médicos ocupacionais a verificação da efetividade das medidas de controle do ambiente de trabalho. Outros propósitos são: a constatação de anormalidades clínicas ou pré-clínicas em um momento no qual uma intervenção é benéfica à saúde dos indivíduos; a prevenção de um futuro desgaste da saúde dos trabalhadores; a contribuição do aconselhamento relativo aos métodos de trabalho seguros e de Ergonomia e Medicina do Trabalho 33 manutenção da saúde; a avaliação da aptidão para um verificado tipo de trabalho, sendo a principal preocupação a adequação do ambiente de trabalho para o trabalhador, explicita Buschinelli (2020). A Consolidação das Leis Trabalhistas ainda determina que deverá ser mantido no estabelecimento o material indispensável à prestação de primeiros socorros médicos (Figura 10), conforme o risco da atividade. Figura 10 - Primeiros socorros médicos Fonte: Pixabay. Outro ponto importante é a realização de exames toxicológicos, pois a Consolidação de Leis Trabalhistas estabelece que serão exigidos esses examesantes da admissão e em casos de demissões de trabalhadores que atuem como motoristas profissionais, sendo resguardado o direito à contraprova, caso o resultado tenha sido positivo e garantido que esses resultados sejam confidenciais. Ergonomia e Medicina do Trabalho 34 Medidas Especiais de Proteção A CLT estabelece outras medidas especiais de proteção, sendo a primeira delas referente ao uso de equipamentos de proteção individual em obras de construção, demolição ou reparos, e às medidas de prevenção de acidentes. Oliveira (2017) explica que podem ser empregados equipamentos de proteção coletiva ou equipamentos de proteção individual, contudo, deve-se sempre dar prioridade à proteção coletiva. Ao implantar as medidas de proteção, as organizações devem verificar cada local de trabalho e procurar a opção mais apropriada para oferecer ao trabalhador uma boa condição de trabalho. A NR 6 define que os equipamentos de proteção individual (EPI) são os dispositivos ou produtos de uso individual utilizados pelo trabalhador. Eles são adotados para a proteção contra riscos eu ameaçam a segurança e a saúde dos trabalhadores. Além disso, a NR 6 regulamenta o uso dos equipamentos de proteção individual e estabelece: 6.3 A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento, nas seguintes circunstâncias: a) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho; b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e, c) para atender a situações de emergência. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1978) Outra medida está relacionada com os depósitos, armazenagem e manuseio de combustíveis, inflamáveis e explosivos, além do trânsito e continuação nas áreas relativas, assim como o trabalho em escavações, túneis, galerias, minas e pedreiras, especialmente quanto à prevenção de explosões, incêndios, desmoronamentos, soterramentos, eliminação de poeiras, gases, entre outros. Ergonomia e Medicina do Trabalho 35 SAIBA MAIS: Aprofunde-se nesse tema lendo a NR 19, que trata dos explosivos, e a NR 20, que aborda a segurança e a saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis, clicando aqui. Deve existir proteção contra insolação, calor, frio, umidade e vento, especialmente no local de trabalho a céu aberto, com o fornecimento de água potável, alojamento e profilaxia de endemias, determina a Consolidação das Leis trabalhistas. A NR 21 regulamenta os trabalhos realizados a céu aberto (Figura 11) e determina que “serão exigidas medidas especiais que protejam os trabalhadores contra a insolação excessiva, o calor, o frio, a umidade e os ventos inconvenientes”. Figura 11 - Céu aberto Fonte: Freepik. A CLT, em seu art. 200, VI, prevê a proteção do trabalhador exposto a substâncias químicas nocivas, radiações ionizantes e não ionizantes, ruídos, vibrações e trepidações ou pressões anormais ao ambiente de trabalho. Ergonomia e Medicina do Trabalho https://enit.trabalho.gov.br/portal/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-menu/sst-normatizacao/sst-nr-portugues?view=default 36 Cabe ao Ministério do Trabalho regulamentar a especificação das medidas cabíveis para extinção ou diminuição desses efeitos, dos limites máximos quanto ao tempo de exposição, da intensidade da ação ou de seus efeitos sobre o organismo do trabalhador, assim como regulamentar os exames médicos obrigatórios, os limites de idade, o controle permanente dos locais de trabalho e as demais exigências imprescindíveis. Um programa muito importante para a saúde dos trabalhadores é o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais e, de acordo com a NR 9, é estabelecido que: Esta Norma Regulamentadora - NR estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1978) Os riscos ambientais são os agentes físicos, químicos e biológicos presentes no ambiente de trabalho que podem causar danos à saúde quando estão acima dos limites toleráveis. Deve existir, também, proteção contra incêndios com a medidas preventivas adequadas, como portas e paredes com revestimentos especiais, construção de paredes contrafogo, saídas amplas e protegidas etc., como estabelece a CLT. NOTA: A NR 23 (proteção contra incêndio) estabelece que os empregadores devem seguir as medidas de prevenção de incêndios disponibilizadas pelos respectivos estados e as normas técnicas correspondentes. Ergonomia e Medicina do Trabalho 37 Não se deve esquecer, ainda, a higiene nos locais de trabalho. Devem existir medidas como: instalações sanitárias, fornecimento de água potável, condições de limpeza no ambiente laboral, tratamento de resíduos industriais, entre outros, determina a CLT. Souto (2005) informa que, na política de medicina do trabalho subordinada à aprovação da Direção Superior da Empresa ou Instituição, devem estar contidos, pelo menos, os seguintes princípios e propósitos: • Trocar, controlar ou diminuir as situações adversas do trabalho. • Determinar requisitos para o atendimento imediato de acidentes, oferecendo transporte rápido e efetivo de acidentados para atendimento médico-hospitalar. • Apresentar formas de tratar as manifestações transitórias de doenças que aconteçam na empresa durante o período de trabalho. • Seguir as medidas que fazem parte da legislação específica de medicina do trabalho; se apropriado, oferecer apoio aos programas disponibilizados por ações voluntárias extramuro; se for o caso, fazer a negociação coletiva de trabalho, na existência de condições determinadas sobre medicina do trabalho; oferecer os meios para efetuação de outras ações que sejam aceitas e acordadas pela empresa. • Oferecer garantia de que os trabalhadores serão ouvidos e incentivados a contribuir em todas as fases do processo de gestão de medicina do trabalho. • Possibilitar os meios administrativos e financeiros para que exista uma contínua preocupação de aperfeiçoar o sistema de gestão de Medicina do Trabalho da empresa. Por meio desses princípios, a direção demonstra o compromisso de garantir proteção para todas as pessoas que trabalham na empresa, mediante medidas preventivas. Ergonomia e Medicina do Trabalho 38 Todas as medidas adotadas no ambiente de trabalho devem levar em consideração que a saúde do trabalhador é muito importante para os trabalhos efetuados nas organizações. RESUMINDO: Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que as medidas preventivas visam diminuir os acidentes e as doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do empregado, sendo uma dessas medidas a obrigatoriedade de exame médico em casos de demissão, admissão e periódicos, conforme o programa de controle médico de saúde ocupacional. Você compreendeu, também, que deve existir materiais de primeiros socorros nos estabelecimentos e que a realização de exames toxicológicos é necessária. Você viu que existem várias medidas especiais de proteção, como o uso de equipamentos de proteção individual; os trabalhos com depósitos armazenagem e manuseio de combustíveis e líquidos inflamáveis; trabalho com escavações, túneis, galerias, minas e pedreiras, especialmentequanto à prevenção de explosões, incêndios, desmoronamentos, soterramentos, eliminação de poeiras, gases; trabalhos realizados a céu aberto; exposição a substâncias químicas, radiações, ruídos, vibrações e trepidações; prevenção contra incêndios e a higiene no local de trabalho. Por fim, você entendeu alguns princípios relativos à medicina do trabalho que devem ser considerados nos ambientes laborais. Ergonomia e Medicina do Trabalho 39 Conduta Médico - Operacional OBJETIVO: Neste capítulo iremos analisar os acidentes de trabalho, identificar as doenças ocupacionais e esclarecer a conduta médico - operacional.. Acidentes de Trabalho O processo de trabalho deve ser devidamente planejado, pois quando isso não acontece, são geradas várias formas de perdas – principalmente relacionadas com os trabalhadores – que afetam a saúde e bem estar, por meio de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais. Mas o que é um acidente de trabalho? A Lei nº 8.213/91 define o acidente do trabalho como toda lesão corporal ou perturbação funcional que acontece com o empregado durante suas atividades a serviço da empresa, provocando a morte, a perda ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para o trabalho. Segundo Macedo (2008, p. 117), “Essa lesão pode ser caracterizada apenas pela redução da função de determinado órgão ou segmento do organismo, como os membros, por exemplo.” Monteiro e Bertagni (2016) afirmam que se refere a um episódio único, inesperado, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e de resultados, na maioria das vezes, imediatos. IMPORTANTE: Adversidades no ambiente de trabalho podem acabar resultando em danos graves e até fatais, meses ou anos após o seu acontecimento, sendo exigido o nexo de causalidade e a lesividade, explana Macedo (2016). Ergonomia e Medicina do Trabalho 40 Dessa forma, para que algo seja considerado como acidente de trabalho, deve existir a lesão e também a relação clara entre o acidente, o dano causado e o trabalho (Figura 12). Figura 12 - Dano causado e trabalho Fonte: Freepik. Mattos e Másculo (2011) afirmam que, hoje em dia, entende-se que o acidente de trabalho começa a ocorrer quando algum componente do processo laboral passa a não funcionar como planejado, isto é, quando ele apresenta uma alteração. Essa alteração não se apresenta somente como originária de falhas ou quebras, ou seja, não é decorrência apenas do não alcance completo do resultado principal do produto, mas pode acontecer também de um resultado secundário, que não tenha função positiva no processo de produção, informam Mattos e Másculo (2011). Ergonomia e Medicina do Trabalho 41 De acordo com a Lei 8.213: Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. (BRASIL, 1991) Ergonomia e Medicina do Trabalho 42 Assim, Macedo (2008) separa os tipos de acidentes em três, sendo eles: • O acidente típico, que é aquele resultante da natureza da atividade profissional que o trabalhador desempenha. • O acidente de trajeto, que acontece no trajeto entre a residência do trabalhador e o lugar de trabalho e vice-versa. • As doenças profissionais ou do trabalho, que são provocadas pela execução de determinada função, peculiar a um emprego específico. A caracterização do acidente de trabalho ocorre por meio de uma observação pericial, que deve determinar uma relação direta entre o acidente e a lesão gerada. Quando isto acontecer, o médico perito examinará o paciente e poderá determinar se ele poderá voltar ou não às atividades normais designadas ao seu cargo. Caso o perito determine o afastamento, será definido também, a partir de sua avaliação clínica, se o funcionário permanecerá em afastamento temporário ou definitivo do emprego, explícita Macedo (2008). NOTA: O afastamento definitivo ou temporário dependerá do grau da lesão sofrida, se esta lesão será revertida com o tempo ou se é um tipo de lesão definitiva, que impossibilita a atividade laboral. Mattos e Másculo (2011) destacam o fato de que preocupar-se exclusivamente com o agente causador da lesão pode ser uma atitude limitada com relação à prevenção de acidentes. Villela (2010) lembra que a culpa do empregado não impossibilita a qualificação do acidente de trabalho, contudo, o dolo do empregado, que ocorre quando este se acidenta propositalmente e de forma espontânea, retira as consequências ocupacionais do fato. Ergonomia e Medicina do Trabalho 43 Doenças Ocupacionais As doenças ocupacionais se dividem em doença profissional e doença do trabalho. De acordo com Râmissa (2019), a doença profissional e a doença do trabalho são classificadas como espécies do gênero de doença ocupacional que, por sua vez, é espécie de acidente do trabalho. Vejamos a diferença entre elas. Segundo Monteiro e Bertagni (2016), as doenças profissionais também são chamadas de ergopatias, tecnopatias ou doenças profissionais típicas, e são aquelas produzidas ou desencadeadas pelo exercício profissional peculiar à determinada atividade. Derivam de micro traumas que habitualmente acometem e vulneram as defesas biológicas e, por conta do efeito cumulativo, acabam vencendo-as, provocando o processo doentio. Já as doenças do trabalho (Figura 13), também conhecidas como mesopatias ou moléstias laborais atípicas, são aquelas desencadeadas por condições especiais em que o trabalho é realizado, se relacionando diretamente com ele. Elas também derivam de micro traumas mas, por serem atípicas, determinam a constatação do nexo de causalidade com o trabalho, normalmente por meio da vistoria do ambiente de trabalho, esclarecem Monteiro e Bertagni (2016). Figura 13 - Doenças do trabalho Fonte: Freepik. Ergonomia e Medicina do Trabalho 44 Furtado et al. (2016) explica que, na esfera da Saúde do Trabalhador, é comum a utilização da classificação de Schilling para caracterizar a relação existente entre as doenças ocupacionais. Schilling assegurou que o trabalho poderia se relacionar com as doenças, agrupando-os de três formas distintas, que são: • GRUPO I: engloba as situações nas quais o trabalho é causa necessária da doença, representadas pelas doenças profissionais em seu sentido literal, e pelas intoxicações agudas de procedência ocupacional, como quando há a intoxicação por chumbo.• GRUPO II: compreende as situações nas quais o trabalho é um fator de risco e não a principal causa da doença, como nos casos das doenças triviais, mais regulares ou que ocorrem mais cedo em certos grupos ocupacionais e para as quais o nexo causal é de natureza eminentemente epidemiológica, como neoplasias malignas (cânceres), em alguns grupos ocupacionais ou profissões. • GRUPO III: abrange as situações nas quais o trabalho é motivador de um possível distúrbio, ou até mesmo intensifica uma doença já instituída ou preexistente, caracterizadas pelas doenças alérgicas de pele e respiratórias e pelos distúrbios mentais, em certos grupos ocupacionais ou profissões, como a asma e as doenças mentais. A Lei 8.213/ determina alguns casos que não são considerados como doença do trabalho: § 1º Não são consideradas como doença do trabalho: a) a doença degenerativa; b) a inerente a grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. (BRASIL, 1991). Ergonomia e Medicina do Trabalho 45 IMPORTANTE: Nos casos em que a doença não provoca o afastamento do trabalho, não é reconhecido o acidente do trabalho, pois a cobertura do seguro acidentário está atrelada à atividade laborativa, esclarece Villela (2010). Macedo (2008) afirma que as doenças ocupacionais podem ser provocadas por alguns agentes existentes no ambiente laboral que causam riscos, podendo ser caracterizados como físicos, ergonômicos, biológicos ou químicos. Os riscos físicos são aqueles originados por agentes capazes de alterar as propriedades físicas do meio ambiente, o que, posteriormente, originará agressões em quem estiver nele presente, explicam Mattos e Másculo (2011). EXEMPLO: Os ruídos capazes de gerar danos ao aparelho auditivo, iluminação, calor, vibrações, radiações etc. Macedo (2008) destaca que algumas das consequências indesejadas dos ruídos podem ser psicológicas (Figura 14), como nervosismo e neuroses, além de perda de audição, dor de cabeça, vômitos, diminuição do controle muscular, entre outros. Nos casos das vibrações, elas podem originar síndromes dolorosas de origem vertebral, desordens gastrintestinais, aumento da frequência cardíaca, etc. Já as radiações podem acarretar conjuntivites e cataratas, além de queimaduras e lesões cutâneas. Ergonomia e Medicina do Trabalho 46 Figura 14 – Consequências psicológicas Fonte: Freepik. Os riscos químicos compreendem substâncias, compostos ou produtos que possam adentrar no organismo, por conta da exposição crônica ou acidental. Assim, o contato com esses produtos pode causar várias consequências, tais como o aparecimento de câncer, mutações, doenças sistêmicas, entre outros, informam Mattos e Másculo (2011). Barsano e Barbosa (2013) definem os riscos ergonômicos como aqueles que podem provocar distúrbios psicológicos e fisiológicos nos trabalhadores, como nos casos de esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inapropriada, monotonia e repetitividade etc. Já os riscos biológicos abrangem os agentes que contaminam os ambientes ocupacionais, que são os micro-organismos como vírus, bactérias, protozoários, fungos, artrópodes, parasitas e derivados de animais vegetais (agentes que causam alergias). Geralmente eles estão em hospitais, ambientes de serviços de saúde em geral, matadouros, Ergonomia e Medicina do Trabalho https://br.freepik.com/fotos-gratis/empresaria-exausta-sentado-no-escritorio_3938733.htm 47 laboratórios de análises e pesquisas, empresas de coleta e reciclagem de lixo, entre outros, descreve Brevigliero et al. (2020). Mattos e Másculo (2011) ainda mostram os riscos mecânicos, que são aqueles que se caracterizam por agir em pontos específicos do ambiente laboral, geralmente atuando sobre usuários diretos do agente causador do risco e acarretando, algumas vezes, lesões agudas e imediatas. EXEMPLO: Os materiais cortantes, os aquecidos, os perfurocortantes, os que estão em movimento, os energizados etc. Existem diversas doenças ocupacionais que atingem os trabalhadores. Vamos observar apenas algumas delas, que são muito recorrentes, conforme Rojas (2015): • O distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho (DORT), que atinge os membros superiores em torno do ombro e da região cervical por causa do uso repetitivo dos músculos ou de postura imprópria na execução das atividades profissionais. • Perda Auditiva induzida pelo ruído ocupacional (PAIR), que surge com a redução gradual da audição resultante da exposição contínua a níveis elevados de ruídos. • Dermatoses ocupacionais, que podem ser causadas por agentes biológicos, físicos e mecânicos, e podem aparecer como dermatite irritativa de contato (que é aquela causada pela manipulação de detergentes, solventes orgânicos e inorgânicos, resinas, óleos de corte e outros produtos) e como dermatite alérgica de contato (que é a ocasionada pelo contato com borracha e seus aditivos, cromatos, resinas, metais plásticos, tintas, pigmentos e madeiras). • Distúrbios neurológicos, que podem ser causados por toxinas que estão no ambiente laboral, como solventes orgânicos, metais e pesticidas. Ergonomia e Medicina do Trabalho 48 • Doenças associadas ao estresse, que podem ser a irritabilidade, fadiga, medo de acidente, de assalto e de desemprego, sonolência, ansiedade, depressão, tensão e distúrbios do sono. Râmissa (2019) menciona uma dessas doenças, que é a síndrome do esgotamento profissional, conhecido também como síndrome de Burnout. Essa doença é o resultado de um estresse sem fim, que provoca uma exaustão emocional e física relacionada a um trabalho muito desgastante, no qual a exigência é alta, as metas são quase impossíveis de serem atingidas ou, ainda, quando existe uma carência de reconhecimento do profissional. O Burnout, nos dias atuais, tem sido objeto de definições em diversas áreas, contudo, todos concordam que o campo profissional é o ambiente mais favorável para o aparecimento do esgotamento. Ergonomia e Medicina do Trabalho 49 Conduta Médico-Operacional Pertinente à Medicina do Trabalho Os médicos desempenham um papel muito importante no auxílio ao trabalhador. Macedo (2008) explica que muitos dos serviços de Medicina Ocupacional limitam-se ao desempenho associado ao atendimento de acidentes de trabalho e, eventualmente, consultas médicas admissionais e demissionais. Figura 15 - Medicina Ocupacional Fonte: Freepik. Outra atuação que merece destaque é quanto ao médico perito. Barros e Teixeira (2015) afirmam que, em geral, os médicos peritos do trabalho são responsáveis por verificar se o trabalhador está ou esteve doente e determinar se a doença tem nexo de causalidade com o trabalho, como também avaliar se existem sequelas que diminuam a capacidade laborativa. Ergonomia e Medicina do Trabalho 50 NOTA: Em litígios na justiça que envolvam trabalhadores, são constantes os diagnósticos relacionados com depressão, síndrome do pânico, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade generalizada, síndrome de Burnout e assédio moral, informam Barros e Teixeira (2015). O Conselho Federal de Medicina, em sua resolução nº 2.183, de 21 de junho de 2018, determina que: Art. 13. São atribuições e deveres do médico perito judicial e assistentes técnicos: I - examinar clinicamente o trabalhador e solicitar os exames complementares, se necessários; II - o médico perito judicial e assistentes técnicos, ao vistoriarem o local de trabalho, devem fazer-se acompanhar, se possível, pelo próprio trabalhador que está sendo objeto da perícia, para melhor conhecimento do seu ambiente de trabalho e função; III - estabelecer o nexo causal,considerando o exposto no artigo 2º e incisos (redação aprovada pela Resolução CFM nº 1.940/2010) e tal como determina a Lei nº 12.842/2013, ato privativo do médico. (CFM, 2018) Macedo (2008) ainda lembra que é fundamental que os profissionais de Medicina do Trabalho tenham o seu trabalho abalizado nos Códigos de Ética Médica e de Conduta do Médico do Trabalho. Ergonomia e Medicina do Trabalho 51 RESUMINDO: Neste capítulo você deve ter compreendido que o acidente de trabalho é toda lesão corporal ou perturbação funcional que acontece com o empregado durante suas atividades laborais, que os tipos de acidentes podem ser acidente típico, acidente de trajeto e doenças profissionais ou do trabalho. Você viu que as doenças profissionais são aquelas produzidas ou desencadeadas pelo exercício profissional peculiar à determinada atividade e que as doenças do trabalho são aquelas desencadeadas em função de condições especiais em que o trabalho é realizado, assim como também entendeu que elas podem ser provocadas pelos agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos. Por fim, você conheceu como deve ser a conduta do médico do trabalho e do perito: pautadas na ética e na conduta médica do trabalho. Ergonomia e Medicina do Trabalho 52 REFERÊNCIAS BANDINI, M., et al. (orgs.) Questões éticas na prática da Medicina do Trabalho: sigilo profissional e confidencialidade. São Paulo: Editora ANAMT, 2017. BARROS, D. M.; TEIXEIRA, E. H. Manual de pericias psiquiátricas. Porto Alegre: Artmed, 2015. BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Controle de riscos: prevenção de acidentes no ambiente ocupacional. São Paulo: Érica, 2013. BRASIL, Resolução nº 2183 de 21 de setembro de 2018. Conselho Federal de Medicina. Brasília, DF, 2018. Disponível em: https://sistemas. cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2018/2183. Acesso em: 19 set 2020. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm. Acesso em: 08 set 2020. BRASIL.. Decreto-Lei nº 5.452 de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis Trabalhistas. 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