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Psicologia_Aplicada_a_Justica__1_

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3 . 3 E d i ç ã o
Revista, Atualizada 
e Ampliada
( ) ngen . s d a P s i c o l o g i a C o g m t n a
B fé vc hi- tóricci cta Psico log ia Socia l
P r e s s u p o s t o s b á s i cos ; i t a P s i c o lo g i a S ó c i o - t . pgi r i t iya
O q u e é P s i c o l o g i a A p l i c a d a
' B r é v c ’h i s t ó r i c o tia P s i c o lo g i a .1 uríclica
( ) q u e c I s i co lo g i a Ju r í d i c a
 ^A p lic a ç õ e s da P s i c o lo g i a Ju r i d i c a
P s i c o l o g i a Po l i c ia l 
P s i c o l o g i a C r i m i n a l í s t i c a 
P s i c o l o g i a da l i n l r ev i s t a c In t cr rogatón i , - 
P s i c o lo g i a d o T e s t e m u n h o 
P s i co lo g i a A p l i c a d a a l i i v c s l i ga çá u c as 
V í t i m a s d o I r á f i eo d e P e s s o a s 
P s i c o l o g i a d o s J u i / c s 
P s i c o lo g i a d o s J u r a d o s 
Ps i còpa tp . l og i a I o r e n s c
P s i c o l o g i a P e n i t e n c i á r i a 1 9 H
Fernando dc Jesus , P W
Psicologia aplicada à Justiça
Os problemas apresentados para serem solucionados normalmente 
estão desestruturados, sem uma ordem lógica e coerente, com um número 
de variáveis sobre as quais não temos controle, tais como: pressão do tempo, 
falta de informações adequadas, interferência de outras variáveis latentes 
etc. O problema não é apresentado de forma clara.
Por exemplo: sabemos que algumas psicoterapias são adequadas para 
a solução de determinados tipos de problemas, no entanto não podemos 
garantir que teremos uma solução com 100% de eficácia. Da mesma maneira, 
poderíamos dizer que existem muitas formas populares de motivar os empre­
gados de uma empresa, mas essas formas populares teriam uma baixa 
possibilidade de resultado positivo em muitos casos.
Solução de problemas
A expressão “solução de problemas” possui um sentido muito amplo. 
Em um sentido estrito, referir-se-ia àquelas tarefas que exigem processos 
de raciocínio mais complexos e não simplesmente a uma atividade rotineira. 
Usualmente quando uma pessoa enfrenta um problema, de início, não sabe 
como resolvê-lo (SIMON, 1978). Existem problemas que são resolvidos 
em poucos segundos, embora outros demorem anos para serem resolvidos. 
A situação torna-se mais difícil ainda, quando temos um tempo marcado 
para podermos apresentar a solução de um determinado problema, ou outras 
variáveis ocultas dificultam a sua organização.
No exercício da Psicologia Aplicada, a solução de problemas é uma 
habilidade que necessita ser praticada. Estamos sempre decidindo o que 
vestir, onde comer, que carro comprar, se exerceremos a profissão x, y ou 
z etc., que exigem em responsabilidades similares na solução de problemas. 
E quando existe a variável de tempo de decisão, a situação se toma mais 
crítica (LESGOLD, 1988).
Primeiramente devem os identificar se estamos perante um bom 
problema ou não. Hastie (2001) enumerou os seguintes passos de identifi­
cação de um bom problema:
1. a sentença do problema é clara, compreensível e sucinta;
2. a sentença do problema é expressa de forma intuitivamente sensível 
e por meio de símbolos significativos;
3. o problema é difícil, porém acessível, pode-se dizer que é um desafio 
e não uma impossibilidade;
C a p ít u l o I V O que é psicologia aplicada
4. é possível avaliar corretamente uma possível solução;
5. a resposta ao problema está relacionada com um conhecimento 
corriqueiro; a solução para o problema está conectada com rami­
ficações em muitas outras teorias e práticas relacionadas.
Para podermos resolvei problemas de forma adequada, teríamos de 
atender aos seguintes componentes básicos (GLASS e HOLYOAK, 1986):
• o significado daquele problema para a vida da pessoa ou do grupo 
a qual pertence;
• um objetivo claro ou a formulação de um programa que iremos 
implementar como uma solução para o problema;
• objetos, materiais ou outros recursos que poderiam ser utilizados 
no esclarecimento do objetivo;
• o estabelecimento de uma série de operações e ações que devem 
ser tomadas de forma metodológica;
• uma série de regras que não podem ser violadas durante a resolução 
dos problemas.
Um problema bem definido e o objetivo a ser atingido bem clarificado 
significam um caminho importante para conseguirm os atingir a meta 
(SIMON, 1973). Muitas vezes, em um problema, necessitamos escrever 
esquemas ou gráficos para conseguirmos a solução. Como exemplo, temos 
n problema famoso dos ^.missionários e dos canibais: três missionários e 
três canibais estão na margem esquerda de um rio. Eles possuem um 
barco que leva somente duas pessoas. Se o número de canibais superar 
o número de missionários, na outra margem do rio (margem direita), os 
canibais comerão os missionários. Como nós os transportaremos para a 
outra margem do rio em condições de segurança?
Caso utilizemos uma representação gráfica, ficará muito mais fácil 
resolver o problema, pois buscaremos o caminho da situação em que nos 
encontramos até o nosso objetivo final (LESGOLD, 1988).
Simon (1973) defende a ideia de que um problema bem estruturado é 
uma ilusão; porém defende também que o processo de associação de pensa­
mento com os chamados problemas bem estruturados é similar ao uso das 
soluções aplicadas àqueles problemas que são mal estruturados.
31
Psicologia aplicada à Justiça
Muitos problemas, especialmente estes que enfrentamos cotidiana- 
m ente, p ossuem várias so lu çõ es porém algum as delas provocam 
consequências mais graves do que outras. Por isso, devemos possuir um 
pensamento crítico para as soluções (JOHNSON e ZECHMEISTER, 1992). 
Daí a necessidade de um feedback constante.
Poderíamos dizer que os princípios mais importantes para a solução 
de um problema seriam os seguintes (JOHNSON e ZECHMEISTER, 1992):
• esforce-se para obter um entendimento completo, cuidadosamente 
revisto, do que é dado e das possibilidades de solução;
• aprenda a utilizar representações externas do problema, usando 
lápis e papel para fazer anotações;
• reflita, não seja impulsivo, aloque parte do tempo da solução ád 
problema para pensar;
• não continue a trabalhar em um problema para o qual não possua 
os conhecimentos psicológicos específicos;
• pesquise, em sua experiência passada, sobre informações relevantes, 
inclusive sobre informações que você pode descobrir, ou sobre 
soluções apresentadas, pensando analogicamente;
• simplifique problemas complexos, criando subproblemas que o 
conduzirão ao objetivo;
• quando tentar resolver um problema, monitore seus esforços em 
uma tentativa de evitar a confiança em um sucesso previsível, mas 
já com procedimentos inapropriados, ou com modos habituais ou 
familiares de fazer coisas que criem obstáculos ao acesso das 
alternativas usadas para o objetivo.
O treinamento em técnicas de solução de problemas poderia auxiliar 
o psicólogo aplicado na difícil tarefa de tatear em um ambiente com excesso 
de informações das mais variadas formas, com o objetivo de encontrar 
evidências e provas que serão úteis na busca da solução do problema.
D ’Zurila (1986) e Nezu e colaboradores (1989) desenvolveram um 
esquema geral de solução de problemas que, adaptado às necessidades do 
psicólogo aplicado, seria o seguinte:
a) Orientação para o problema
• Percepção do problema
N ecessidade do reconhecimento da existência e classificação da 
complexidade do problema.
32
C a p ít u l o T V O que é psicologia aplicada
• Atribuições da ocorrência do problema
Necessidade da busca da explicação do processo de atribuição causal 
do problema.
• Avaliação do problema
Compreensão da significação do problema na tarefa a ser desenvolvida 
e na sua solução.
• Controle pessoal
O problema deve ser percebido como controlável; que o profissional 
tenha capacidade de encontrarsua solução.
• Aceitação e compromisso de tempo e esforço
Aceitação da estimativa de tempo necessário à solução e o esforço 
proporcional à complexidade do problema a ser resolvido.
b) Definição e formulação do problema
• Busca de informação
- Informação sobre a tarefa a ser desenvolvida
Profissional e equipe devem estar informados previamente do 
nível de complexidade do programa a ser desenvolvido, e de 
qual a sua contribuição dentro da solução do problema.
- Informações estratégicas
Necessidade de obter informações a respeito do perfil das pessoas 
que irão atuar em equipe, como também do ambiente no qual serão desen­
volvidos os programas.
• Compreensão do problema
Organizar e categorizar as informações necessárias à correta compreensão 
do problema.
• Estabelecimento dos objetivos
Planejar o alcance de objetivos concretos, conforme a estimativa de 
tempo de solução.
• Reavaliação do problema
O problema, quando se encontra estruturado, necessita ser reavaliado 
com precisão, para que os objetivos sejam redefinidos.
33
Psicologia aplicada à Justiça
c) Levantamento de alternativas
• Princípio da quantidade
Levanta-se a informação de quantas alternativas estão disponíveis 
para a solução.
• Princípio de adiamento do julgamento
Obtenção da resposta, se no presente momento estamos preparados 
de forma evidente para a solução.
• Princípio da variedade
Obtermos informação sobre se este problema ocorreu anteriormente 
e sobre se alguém já solucionou esse tipo de problema.
d) Tomada de decisão
• Antecipar os resultados da solução
Avaliação dos resultados positivos e negativos de sua solução, aplicando 
o princípio da refutabilidade (POPPER, 1994).
• Avaliai' e julgar os resultados de cada solução encontrada
Mensuração do custo/benefício na solução do problema em todas as 
suas etapas.
• Preparação para a apresentação da solução
Decisão entre uma solução simples ou uma combinação entre as 
várias soluções encontradas.
e) Prática da solução e verificação
• Aplicação da solução encontrada
Caso não se encontre a solução, devido aos obstáculos encontrados 
no processo, deve-se voltar às etapas anteriores, em busca de uma solução 
alternativa, ou tentar eliminar os obstáculos existentes.
• Registro dos passos na solução de problemas
É necessário auto-observar-se e medir o desempenho individual na 
solução de problemas e nos resultados alcançados.
• Autoavaliação
Utilizar critérios de autoavaliação, tais como: bem-estar emocional 
com a solução encontrada, quantidade de tempo e nível de esforço empregado, 
avaliação do resultado custo/benefício.
34
C a p ít u l o I V 0 que é psicologia aplicada
• Utilizar feedback
Retomar, sempre que necessário, aos passos anteriores para constatar 
se as correções realizadas ajudar am a encontrar uma solução mais eficaz.
Sabem os que o esquema apresentado anteriormente não é uma 
panaceia, mas poderá auxiliar em muitas situações de enfrentamento de 
problemas complexos de Psicologia Aplicada.
O comportamento das pessoas é extremamente variável e a habilidade 
dos psicólogos para predizer o comportamento humano, através de sua 
história passada e do controle de variáveis, toma-se muito difícil. Além disso, 
existem muitos fatos pouco esclarecidos em Psicologia e não existe uma 
teoria absolutamente correta.
Os físicos defendem a ideia de que suas teorias necessitam sempre de 
revisões e nunca são totalmente verdadeiras. No entanto, sabemos que, em 
Física e Química, podemos utilizar o conhecimento para fazermos predições 
precisas. O ajuste de variáveis em Psicologia infelizmente não poderia ser 
enquadrado na mesma categoria da Física e da Química (POPPER, 1999).
Estaríamos então sem condições de solucionarmos os problemas psicoló­
gicos que nos são apresentados? Cremos que não. Embora tenhamos a consciência 
das dificuldades em predizennos totalmente o comportamento humano, em 
muitos casos existe a aplicação da Psicologia, com resultados excelentes.
A dificuldade reside no fato de que os estudos de Psicologia são 
aplicados para grupos de pessoas, sendo difícil termos uma predição correta 
do comportamento para os indivíduos desses grupos. Esses problemas ocorrem 
especialmente na área clínica e na educacional.
2. Habilidades básicas do psicólogo aplicado
2.1. Uso do método científico
As várias áreas de atuação do psicólogo aplicado exigirão dele o domínio 
de método científico específico para aplicar os conhecimentos da ciência 
Psicologia para solucionar os problemas apresentados. Poderíamos resumir 
da seguinte forma o método científico tradicional (COOLICAN, 1996,1999):
• observar o fenômeno, buscando informações, coletando dados 
numéricos e descrições;
• raciocinar indutivamente, utilizando a criatividade na formulação 
de hipóteses, de maneira a não se deixar influenciar totalmente 
pelas teorias existentes;
35
Psicologia aplicada à Justiça
• produzir uma teoria, procurando encontrar com o poderíamos 
predizer as relações encontradas, por exemplo, assumindo a ideia 
de que as pesquisas demonstram que os jurados graduados em 
Direito possuem uma tendência à culpabilidade;
• testar hipóteses, desenvolvendo uma investigação científica dese­
nhada para testar uma teoria, por exemplo: a variação de gênero 
(masculino/feminino) poderia afetar a tendência à culpabilidade, 
se o réu é feminino;
• coletar informações e analisar dados, procurando informações 
fáticas que possam auxiliar o estabelecimento das relações entre 
as variáveis estudadas;
• aceitar, refutar ou modificar uma teoria, os resultados encontrados 
irão influenciar a utilização de determinada teoria.
Os psicólogos aplicados utilizam entrevistas, pesquisas, questionários 
ou outros métodos, que irão auxiliar a organização de dados e a formulação 
de hipóteses, que serão testadas e posteriormente aceitas ou refutadas.
A diferença entre o uso do senso comum e o trabalho do psiçólogo 
aplicado é a utilização de um rigor metodológico em problemas do mundo 
real, de forma particularizada, objetivando uma mudança de comportamento.
A Psicologia não possui um único paradigma de atuação. Um paradigma 
é um modelo que guia a maioria das investigações realizadas por determinado 
campo científico, em que hipóteses são testadas e seus resultados são 
posteriormente incorporados jno corpo dessa ciência, desde que exista 
uma aceitação universal.
I
2.2. Utilização de um corpo teórico de Psicologia
Embora não exista uma teoria de Psicologia que responda de forma 
satisfatória a todas as perguntas sobre o pensar humano, ou uma habilidade para 
realizar predições exatas do comportamento humano, existe um corpo teórico 
para poder treinar e sustentar os resultados obtidos na solução de problemas 
psicológicos. Esse corpo teórico ajudará a construir uma extensão do resultado 
das pesquisas desenvolvidas até a aplicação delas nos problemas apresentados.
Muitas dessas habilidades são desenvolvidas durante os estudos 
acadêmicos, mas a prática psicológica é obtida através do exercício de aplicação 
que pode ser considerado, sob determinado aspecto, como a arte de aplicar 
o método adequado e a teoria adequada ao caso a ser resolvido.
36
C a p ít u l o IV O que é psicologia aplicada
2.3. Intervenção e sua avaliação
0 objetivo principal do psicólogo aplicado é socorrer de uma forma 
imediata um problema real. Sendo assim, deverá utilizar-se de um programa 
de intervenção, conforme os seguintes passos:
a) Contato com o cliente ou organização
O cliente, inicialmente, apresenta-se um pouco hesitante em manter 
um contato com psicólogos. Existe uma certa resistência, por parte da popu­
lação, em sua maioria, em procurar intervenção psicológica. O cliente não 
espera que durante a intervenção seja questionado em seu comportamento, 
ativo.Quando lhe é exigido um papel diferente do que esperava, podem 
surgir dificuldades na velocidade do andamento da intervenção.
b) Informações iniciais
O psicólogo necessitará de informações prévias para que possa iniciar o 
seu raciocínio sobre o problema apresentado. Nessa etapa, deverá discutir, a 
fim de saber se realmente há um problema; deverá coletar os dados que possam 
ser importantes para a solução do problema e analisar o comportamento proble­
mático ou o sistema no qual serão procuradas as soluções adequadas.
c) Diagnose do problema
A partir desse ponto é que o conhecimento e a aplicação de métodos 
científicos são importantes para a busca da solução. Casos similares podem 
ser comparados e intervenções de sucesso podem ser analisadas, pela sua 
relevância para o caso estudado.
Poderão ser formuladas hipóteses iniciais que estejam de acordo com 
o modelo científico de intervenção adotado, predições podem ser realizadas 
e pode-se realizar os testes iniciais.
d) Elaboração de um programa de intervenção
O ,psicólogo, em conjunto com o cliente, iniciará o desenho de um 
programa de intervenção que possa solucionar o problema ou improvisar 
uma situação que consiga suspender o seu agravamento.
A participação do cliente nessa etapa é também muito ativa, pois deverá 
contribuir para que o programa seja desenhado como algo possível de ser 
realizado e não se tome uma utopia.
e) Implementação do programa de intervenção
A implementação de um programa de intervenção irá mobilizar uma 
grande quantidade de pessoas, que desempenharão diversos papéis. Nesse
37
Psicologia aplicada à Justiça
momento, o psicólogo, juntamente com o grupo de mudança, estará atuando 
no foco da mudança a ser implementada.
Deverá ser adotada uma conduta ética, que é extremamente importante 
na manutenção de um clima agradável no desenvolvimento do programa.
A utilização de um bom acompanhamento e a realização de constantes 
feedbacks possibilitarão um constante controle da direção do programa 
implementado, com o também poderão demonstrar os pontos de falha 
existentes no programa.
A avaliação do programa possibilitará o desenvolvimento e aperfei­
çoamento de novas técnicas e soluções que poderão ser implementadas 
futuramente, como também possibilitará efetuar uma análise crítica das 
decisões tomadas.
f) Desenvolvimento de prática e banco de dados
Os psicólogos aplicados, com a sua prática, desenvolvem teorias que sã o 
formadas através de suas falhas, sucessos e técnicas apropriadas. As teorias são 
chamadas de teorias aplicadas, pois foram o resultado de casos específicos, não 
podendo ser generalizadas para todos os casos. A formação desse corpo teórico 
possibilita aos profissionais desenvolver sua atividade de forma contínua.
A dinâmica da criação do conhecimento gerado pelas atividades do 
psicólogo aplicado consistirá na transformação do conhecimento tácito em 
conhecimento explícito por meio de quatro fases: socialização (de tácito em 
tácito); externalização (de tácito em explícito); combinação (de explícito em 
explícito) e intemalização (de explícito em tácito). O resultado desse processo 
será uma integração dinâmica de conceitos aparentemente opostos, na qual 
a essência da criação está baseada na construção e no gerenciamento da 
síntese, o que é chamado de conversão do conhecimento (MENDES, 2005).
A diferença fundamental entre a pesquisa básica e a aplicada reside no 
fato de que a aplicada procura solucionar algum problema prático de forma 
específica, não realizando generalizações, como a pesquisa básica. Já a pesquisa 
básica é orientada em direção à produção de mais teoria e não à solução de um 
problema específico de uma situação. As diferenças básicas seriam estas:
• contexto de investigação: laboratório (básica); campo (aplicada);
• natureza do problema: orientada para a teoria (básica); orientada 
para a solução de problema (aplicada);
• relevância do resultado: avanço da teoria (básica), aplicabilidade 
nos problemas do mundo real (aplicada).
C apítulo V
BREVE HISTÓRICO DA PSICOLOGIA JURÍDICA
1. Antecedentes
Os primeiros sinais do surgimento da Psicologia Jurídica iniciam-se 
no século XVIII. Um dos temas iniciais que estabeleceram a natural relação 
èntre Psicologia e Direito foi o sentimento jurídico do estabelecimento de 
normas para o convívio comum conforme às regras e normas de conduta 
estabelecidas por determinado grupo social.
A partir da relação dialética entre o Direito Natural e o Direito Positivo, 
surgiu a fundamentação do sentimento jurídico. N esse sentido podemos 
citar Ihering (1877), defensor da existência de um Direito Positivo e fonte 
do sentimento de justiça coletivo, em oposição aos pensamentos de Gustav 
Rumelin que defendia, em 1875, que o sentimento jurídico e a consciência 
são sistemas distintos da ordem e fonte do Direito (GARZÓN, 1989).
Rossi, em sua obra Psicologia Coletiva, reforça a ideia de que o 
surgimento do Direito deu-se a partir da consciência coletiva dos povos. 
Éssa discussão continuou no século XIX, embora tenha tido uma menor 
ressonância no campo da Psicologia.
Ao final do século XIX, são produzidas algumas reflexões sobre o 
Direito e a sua função na vida social, a partir de ciências próximas da Psico­
logia e também dela como as do filósofo alemão Fichte, com a sua obra 
Fundamentos do D ireito Natural segundo os princípios da doutrina da 
Ciência (1796), em que formula as relações do Direito com o Estado. Gabriel 
Tarde publicou La philosophie pénale em 1890 e Les transformations du droit 
em 1893. Nesse mesmo período Émile Durkheim lançou o conceito de anomia 
e Mead publicou The Psychology o f Punitive Justice em 1917.
Mittermaier (1834) em sua obra La doctrina de la prueba apresenta 
a nece.sa3ãde-.de..y iüúc^ .o .^ ^ ^ .JÊ sten iun ho-rià-d ^ iiãd judicial e as 
causas-qae^odem -éim inuir a responsahiIidade~k.gaL-de uma ação. Nesse 
momento a Psicologia Jurídica estava centralizada especialmente hõTcompor- 
tamentos delitivos. Como reflexo disso surgem outras obras tais como
Psicologia aplicada à Justiça
Psicopatologia Criminal (KRAFT-EBNIGS, 1892), Psicologia dei crimen 
(WULFFEN, 1908), Psicologia criminal y psicopatologia jurídico-penal 
(SOMMER, 1904).
italiano e sua grande influência na época do pensamento criminológico sobre 
criminaíidade.~ ATsicõTógia Criminai obteve também grande contribuição 
através deHans Gross (1898). jurista alemão, que apontou a importancia de 
conhecer ajg§icolog-ia-daqueles que ajudam a deterrriinãf õs Tatos na ação 
j ü d ie iã lconsi dcraodo.. que a PsIcoToglaríiirídícli com o uma Psicologia 
Aplicada estuda os fenômenos referentes a dinâmica d o 'dêlilü7lstõ é as 
decisões que estavam ocultas rio Coffipõrtamento crimmal7
Freud (1906), em uma conferência dirigida a juizes na Áustria, 
defende a ideia de que a Psicologia podia realizar aplicações práticas ao 
campo do Direito, registrando sua importância na interpretação da atividade 
judicial. Alguns anos depois, Watson (1913) também comentou que juristas 
e psicólogos possuem interesses comuns.
O século XX foi muito importante, pois a literatura gerou uma grande 
quantidade de trabalhos sobre as relações entre o Estado, a Sociedade e a 
Legislação. Dentre alguns, podemos citar o trabalho de Max Weber sobre a 
burocracia e a religião em ciência econômica.
Sob um ponto de vista político, podemos mencionar o trabalho_de 
Laswell, (1956) nO qüàl comenta sobre os processos de decisão-judieial, 
afirmando que os juizes não são tão livres em suas decisões, sendo influen­
ciados por componentes inconscientes. - ^ , ^ Vi, .0 ,
Hayeck (1959, 1973, 1976), economista e representante da escola 
austríaca de pensamento econômico, formulou reflexões de grande interesse, 
a partir dos conteúdos interdisciplinares existentes entre Política, Economia, 
Psicologiae Direito, proporcionando uma visão social do que era entendido 
classicamente como sentimento [jurídico, isto é, o problema da ordem social 
natural em contraponto com a ordem derivada da ação intencional e 
propositiva, como também da própria atividade judicial.
^ntenormente ao século XX, eram os próprios juristas que reclamavam 
a necessidade de, um contMximento^ psicolóaíco pãr& poder realizar sua 
atividade judicial. Nesse pensamento, podemos citar Eckardts Hausen que 
publicou A necessidade de conhecimento psicológico para ju lgar os delitos 
(1792), J. Schaumann que escreveu A Ideia de uma Psicologia Criminal 
(1792) e Munch que publicou a Influência da Psicologia Criminal sobre um
40
------------------ I - b
C a p ít u l o V Breve histórico da psicologia jurídica
Sistema de D ireito Penal (1799). Podemos constatar que a preocupação 
com a necessidade do conhecimento psicológico na Justiça não é muito ^ 
recente (GARZÓN, 1989).
No século XIX foi que surgiu a necessidade explícita da aplicação da 
^ sico log íã jõ^ irê ito .T ã l^comò A Psicologia em suas
principais aplicações à administração da Justiça (1808). Feuerbach, jurista, 
reconhece a necessidade em sua obra Exposição Documentada de Crimes 
Célebres e seu discípulo Mittermaier, através de sua obra A Doutrina da 
Prova (1834) demonstra a necessidade da valoração do peso do testemunho 
para uma decisão judicial e as causas que podem fazer diminuir a responsa-
O termo Psicologia Judicial apareceu pela primeira vez através da 
publicação da obra Manual Sistemático de Psicologia Judicial (1835), em 
que o autor ressaltava a importância da Antropologia e da Psicologia no 
auxílio de uma atividade judicial correta. Com a publicação da obra de Zitelman 
O Erro e a Relação Jurídica: uma investigação jurídica-psicológica, o 
raciocínio judicial e a necessidade de o juiz compreender conceitos psico­
lógicos fica definitivamente evidenciada.
No final do século XIX ocorreu um decréscimo no interesse pela Psico­
logia Jurídica pelas razões do desenvolvimento interno da recém-nascida 
ciência experimental Psicologia, como também da própria ciência do Direito, 
que se encontrava amalgamando seus princípios fundamentais.
Quando as ciências iniciaram sua libertação da Filosofia, ocorreu 
uma atenção exageradamente voltada para os processos internos, em que 
somente possui validade o que lhe é próprio. Como resultado disto, qualquer 
saber social deve ser autossuficiente, se quer ser um conhecimento científico.
O Direito também teve o seu processo de independência através do 
negativismo reativo, afastando a contribuição que a Psicologia poderia 
fornecer à prática judicial.
No início do século XX, após um período estéril, ressurgiram a Filosofia 
e a Psicologia do Direito, tendo os juristas voltado a defender a existência de 
problemas psicológicos no seu corpo teórico.
Uma série de acontecimentos^estabeleceu a definitiva relação da 
Psicologia com o Direito (GARZÓN, 1989):
_s-j a) as ciências médicas e a aproximação da Psicologia e da Fisiologia
fizeram surgir obras como Psicopatologia Judicial, de Krafft-Ebinigs (1892) 
e Psicologia Criminal de Giessen em que a psicopatologia tomou-se o tema-Ceatral;-
41
Psicologia aplicada à Justiça
Nessa ocasião, adquiriram especial relevância^asjeorias desenvolvidas 
por T .omhros<v'médjm italiano, que criou uma escola de_pensamento sobre 
a criminalidade, tendo-se então a Psicologia Criminal convertido em uma 
psicopatologia criminal.
Lombroso defendia_âJelaçãQ-&ntm_aS-j:aracterísticas físicas e a 
criminalidade, a partir de estndos-realizados-em-prisões-italíanas. Sua obra 
La Psicologia dei testimoni nei processi penali foi publicada em 1906. 
Durante muito tempo a Psicologia Criminal utilizou-se do pensamento de 
Lombroso, apesar da existência de escolas contrárias. Podem ser citadas 
como obras contemporâneas de análise de conduta delinquente o trabalho 
de Glueck e Glueck Physique and delinquency (1956), de H. J. Eysenck 
Crime and Personality e de Feldman Criminal Behaviour: A Psychological 
Analysis (1977).
O debate sobre conduta criixdnalioiimportante para o ressurginienta da 
Psicologiá Juridicã'cõmõlambém para a ampliação das suas áreas de atuação, a^ 
partir dasldelas de Hans Grossjí.lS98T. TiSsti alemão. que, embora reconhecendo 
a importância da Psicologia Criminal, defendia a necessidade da aplicação dos 
conhecimentos deTsicõIõgia aos outros .me.mhms da-IiLsiiça.
b) surgem novamente obras que tratam da Psicologia Jurídica, tais 
como a de Fiore Manuale di Psichologia Giudiziaria e a de Altavilla Psico­
logia Judicial (1925). Bartol e Bartol (1987) dizem que houve a consolidação, 
de um lado da análise psicológica da conduta humana relacionada com os 
aspectos legais (conduta criminal, testemunhos etc.) e de outro lado da 
Psicologia Aplicada, que é utilizada tanto em assuntos penais com qem civis, 
tais como responsabihdade-civilT-eustódiainfantil etc. f
2. Psicologia Jurídica no século XX
Os estudos desenvolvidos por J. M. Cattel (1895) sobrg_processos 
dejnem áriâ3^3BIgm ü^õs7^úe^foram apontados por alguns psicólogos 
jçómo o infcio da ^ i cologi^ngrcm tpSjüHaico. tiveram grande repercussão^ 
assim como os estudos desenvolvidos por Freud Psycfw-dnãlysis and the 
ascertaihihg oftruih ih coufts o fla w (1906), indicando a importância que a 
Psicologia possui no campo legal. Na América, Watson apontava os interesses 
comuns entre juristas e psicólogos (GARZÓN, 1989).
Nas primeiras décadas do século XX, os psicólogos do continente 
europeu (Alemanha e França) desenvolveram trabalhos empírico-experimentais 
sobre o testemunho e sua participação nos processos judiciais.
C a p ít u l o V Breve histórico da psicologia jurídica
Hugo Munstenberg, psicólogo alemão, discípulo de Wundt que foi 
convidado a ir à Universidade de Harvard, teve um papel relevante nesse 
novo campo da Psicologia. Em 1907, esse autor publicou o livro On the 
witness stand, que lançou a ideia da utilização de um teste de assnr.iaçãode 
palavras para ajudar a estabelecer a culpabilidade ou a inocência de acusados, 
tgn3õ~si'd~ò' àfâcado~ duramente belos juristas da época.
Zimbardo (1975) apresenta uma situação que pode ser exemplar no 
cotidiano de um julgamentcTnõjúri, para que o profissional da JiIs:tiçá põ.ssa 
reconhecer ãTnecessidade do desenvolvimento da percepção psicológica;
Os jornalistas sentaram-se na primeira fileira de cadeiras. Um escreveu que os
I meus ouvintes estavam tão surpresos com meu discurso que resultou em um
V)' grande silêncio; outro, que eu era interrompido constantemente por aplausos, e
^ C que ao final da apresentação durou vários minutos. O primeiro escreveu que eu 
\ não deixava de sorrir durante o discurso de meu opositor, e o segundo anotou que 
\ meu rosto estava sério sem nenhum sorriso. De acordo com um, eu estava 
’ ruborizado; segundo outro, estava pálido como uma parede branca (ZIMBARDO,
1975, pp 35-36).
As oposições existentes entre os atores legais conseguiram impulsionar 
ainda mais o desenvolvimento da Psicologia do Testemunho, fazendo com 
que os psicólogos abrissem ainda mais os aspectos de investigação, tais 
como os sistemas de interrogatório, os tipos de fatos delitivos. a deteccão 
de falsos testemunhos,.as amnésias simuladas..os testemunhos de crianças, 
_as rodas de identificação etc. Nas décadas de 50 e 60, a Psicologia do 
Testemunho surge com vigor, a partir de pressupostos da P sicologia 
Cognitiva (GARRIDO, 1994).
Ao mesmo tempo, ocorre o desenvolvimento da Psicologia Criminal. 
De um lado os psicólogos clínicos começam a colaborar com os psiquiatras 
nos exames psicológicos legais e de outro lado, como dizem Bartol e Bcnol 
(1987), os psicólogos clínicos colaboram em distintos aspectos com os 
sistemas de justiça juvenil e provocam um grande desenvolvimento nos 
estudos psicométricosutilizados nos laudos psicológicos.
Em relação à Psicologia Policial, Terman e Thurstone na década de 
20 e 30, já utilizavam testes psicométricos na seleção de policiais.
Na década dos anos 50, o psicólogo forense é devidamente incorporado 
como perito que testemunha, utilizando os conhecimentos da Psicologia 
nos Tribunais.
43
Psicologia aplicada à Justiça------------------------------------------------------------
Clark, que é psicólogo, participou em 1955 como perito judicial em 
audiências produzidas pelo juiz Brown, em que estava sendo debatida a 
segregação escolar. Clark apresentou dados empíricos e psicológicos que 
apontaram os efeitos prejudiciais do segregacionismo escolar para o desen­
volvimento cognitivo e escolar, tendo sido este resultado acolhido pelo Tribunal 
Supremo dos Estados Unidos da América. Essa decisão afirmava explicita­
mente que as Ciências Sociais demonstraram que a educação separada entre 
brancos e negros promove a segregação racial (GARRIDO, 1994).
Os juristas do realismo legal tinham a concepção de que as decisões 
judiciais eram uma atividade com uma grande margem de atuação discricio­
nária em sua aplicação legal aos casos reais. As decisões estavam apresentando 
mais um fundamento psicológico do que um juízo lógico-dedutivo. Baseando-se 
nessa fundamentação psicológica, multiplicaram-se os textos realizados por 
juristas, que enfatizavam a necessidade de fundamentação psicológica não 
somente no Pir^to-mas-também na prática do ftmstãTCahn, nos anos 50 
^defendia a ideia .da_apUcaçã© dos-eonhed.mentos das Clenciãs~Sõa ã is às 
jurisprudências.
Os juristas passaram a utilizar os conhecimentos psicológicos basi­
camente em dois sentidos (GARZÓN, 1989):
• com o objetivo de traduzir osxoneeitQft. abstratos das .leis em termos 
empíricos, isto é^ traduzir a linguagem dos fatos ejn_ conceitos 
operacionais;
» proporcionar conceitos e técnicas que permitem apresentar claramente 
a-tealidarie psicológica e social para auxiliar, com infonnações 
especializadas, as decisões da justiça.
Embora os juristas se mostrassem entusiasmados com o desenvolvi­
mento da Psicologia Jurídica, os psicólogos se mostravam mais pessimistas e 
preocupavam-se com as deficiências que ainda existiam na experimentação 
’ psicológica, despertando a atenção para a necessária atitude de prudência na 
aplicação dos conhecimentos das Ciências Sociais aos contextos legais.
Kalven (jurista) e Zeisel (sociólogo) publicaram em 1966 a obra 
The American Jury, que foi o resultado de um grande projeto de pesquisa 
iniciado na Universidade de Chicago e que tinha como objetivo a análise do 
comportamento dos jurados. Nessa pesquisa, estudaram as .semelhanças e 
diferenças das avaliações de juizes e jurados apresentando os níveis de 
acordo e desacordo e as variáveis que poderiam influenciar essas decisões.
44
C a p ít u l o V Breve histórico da psicologia jurídica
Thibaut e Walker, em 1975, terminaram um ambicioso programa de 
investigação psicológica experimental, que não estudou somente as dimensões 
psicológicas da percepção da justiça, mas iniciou um novo campo, que é o 
da percepção da justiça processual. Essa obra deu impulso ao surgimento, 
mais tarde, de outra importante obra, que foi The Social Psychology o f 
Procedural Justice, publicada por Lind-Tyler em 1988.
Os anos seguintes são o resultado de um notável desenvolvimento da 
Psicologia Jurídica, especialmente nos países de língua anglo-saxônica. 
Nos países de língua latina partiu da Espanha, onde o crescimento e a apli­
cação foram também de destaque, até os países da América Latina, que 
estão iniciando e também consolidando em algumas áreas específicas a 
regulamentação e a aplicação da Psicologia na Justiça.
45
Psicologia aplicada à Justiça
A decisão mais relevante que os julgadores tomam é a de atribuir um 
comportamento ao estado interno da pessoa observada, chamada de atribuição 
disposicional ou a fatores externos presentes no ambiente, denominada de 
atribuição situacional. Considerando por exem plo que uma pessoa está 
respondendo a um processo judicial, pode-se inferir que cometeu algum 
crime, estava envolvido em um fato delituoso, é testemunha de algum fato 
jurídico, enfim podem existir causas internas (cometer crime) ou externas 
(estar envolvido em fato delituoso).
O que poderá determinar a atribuição de certo ato à vontade individual 
ou à situação na qual a pessoa se encontra? Deve-se considerar a força da 
pressão situacional em que a pessoa está envolvida. Essa pressão pode 
implicar em exigências de desempenho de papel normativo. Por exemplo: 
supõe-se que um juiz decide por uma pena de muitos anos de reclusão ao 
cometimento de um crime menos grave; podemos inferir que este juiz é 
rigoroso na penalidade. Quando sabemos que o aumento da criminalidade 
naquele estado foi significativo podemos inferir que a penalidade mais 
grave é uma forma de punição exemplar da justiça, como modelo para o 
não cometimento daquele tipo de crime (atribuição externa). \
Este raciocínio tem sido explicado como sendo uma regra subtrativa, 
que determina que ao fazer-se atribuições relativas a disposições internas 
(pessoais) o julgador subtrai da disposição pessoal envolvida pelo próprio 
comportamento o impacto das variáveis situacionais.
O estilo de julgamento das pessoas tende a ser influenciado pelo locus 
de controle interno ou externo. Caso seja interno possui uma tendência mais 
autoritária em razão de atribuir a ocorrência de determinado fato ao desejo 
de realizá-lo ou, caso seja externa, como a ocorrência ter sido decorrente de 
variáveis externas contrárias ao seu desejo. Este conceito possui uma ampla 
aplicação nos estudos de Psicologia Jurídica e de Investigação. Como nos 
diz Ashworth (1995) quando da elaboração de uma sentença judicial o 
c magistrado consciente ou inconscientemente utiliza de seu estilo de atribuição 
interna ou externa para fundamentar a causa da ocorrência do fato jurídico 
sob exame.
28
C a p ítu lo IV 
O QUE É PSICOLOGIA APLICADA
O termo “Psicologia Aplicada” sugere a imagem de psicólogos traba­
lhando em um ambiente especial, com clima de laboratório, com controle 
de variáveis; realizando pesquisas sobre comportamento humano, áreas 
cerebrais, formas de desenvolvimento acelerado de inteligência, análise de 
estudos de personalidade e resolvendo problemas associados ao desempenho 
de atletas etc. Essas atividades são comuns ao exercício da profissão de 
psicólogo, embora muitas dessas pesquisas básicas não se encontrem 
direcionadas para a solução de um problema específico do mundo real 
(COOLICAN, 1996).
O ponto de partida para compreendermos a área de atuação da 
Psicologia Aplicada é compreendermos a necessidade de solucionarmos 
problemas no mundo real. O psicólogo que está interessado em pesquisa 
pura e básica procurará entender e explicar o comportamento humano 
em condições controladas. A Psicologia Aplicada procurará, na maior 
parte dos casos, aplicar os conhecim entos psicológicos anteriormente 
produzidos em laboratório, de forma a mudar o comportamento humano 
e solucionar problemas específicos no mundo real (BRAVO, 1995).
1. O psicólogo aplicado como solucionador de problemas
O trabalho normal do psicólogo aplicado é solucionar um problema 
em forma de intervenção. A pesquisa básica produzida será o guia que o 
psicólogo aplicado usará para conseguir solucionar os problemas apresen­
tados; em consequência, auxiliará no desenvolvimento de pesquisas que 
nascerão com as intervenções realizadas.
Raramente, em sua atuação, o psicólogo aplicado encontrará em sua 
biblioteca ou em sua experiência passada a solução para os problemas que 
acontecerão em sua atividade profissional. Nos problemas apresentados, 
por mais que possuam alguma semelhança com algum anteriormente solu­
cionado, sempreocorrerá uma distinção de forma a ser individualizado.
29
Psicologia aplicada à Justiça
As especialidades que a Psicologia Jurídica poderá abrir são diversas, 
podendo ser citadas:
• Psicologia Aplicada a Tribunais;
• Psicologia da Delinquência;
• Psicologia Penitenciária;
• Psicologia Judicial (juizes, jurados e testemunhos);
• Psicologia Policial e das Forças Armadas;
• Mediação Familiar;
• Vitimologia etc.
A Psicologia Jurídica deve se restringir aos conteúdos psicológicos 
da norma, sem procurar explicar se ela é ou não é justa, nem pretende^ 
argumentar sobre seus fms, pois não cabem ao campo de atuação do psicólogo 
esses questionamentos. Entretanto, não deve ela ser impedida de proporcionar 
informações que, colateralmente, podem ser interpretadas pelos juristas como 
uma amostra de disfuncionalidade de certos objetivos. D essa maneira, 
estaremos formando a base de uma Psicologia não somente empírica, mas 
empírico-crítica (BAYÉS, M UNNÉ e SABATÉ, 1980).
N o confronto entre P sico log ia e L ei, sob um •ponto de vista 
epistemológico, poderíamos esclarecer ós métodos divergentes utilizados 
pelo Direito e pela Psicologia. Enquanto o Direito se vale da jurisprudência a 
.partir de uma metodologia He.rinh.va rie análise de casos, utilizanda-mmnodelo 
de p r a c e s s a m e nto_ de inform ação top-dow n, com base em normas de 
coerência com decisões previamente tomadas, a Psicologia éjmais criativa, 
através do empírico, sendo suajãeoÍQgia a descrição e a explicação, que 
estão ernõposiçãõli prescrição da norma jurídica (JESUS, 1996, 2000).
De maneira que possamos esclarecer as diferenças existentes entre 
Psicologia e L e i , citamos Haney (1980) que chega a enumerar oito formas 
de diferenciação:
1. a Psicologia acadêmica enfatiza as visões criativas; os psicólogos 
são formados desde o início de sua carreira para serem inovadores 
e utilizarem soluções criativas. Por outro lado, o modelo da Lei é 
de utilização de decisões fixas, isto é, os juristas tendem a basear 
suas decisões em casos precedentes, evitando o uso de argumentos 
baseados em raciocínios inovadores;
50
2. o método utilizado na busca da verdade em Psicologia é especial­
mente o método experimental; método que procura ressaltar a 
objetividade e trata de eliminar distorções e erros. O método legal 
para alcançar a objedvidade é de adversários ou de confrontação; 
sendo as distorções uma parte aceita e assumida pelo método;
3. os Tribunais de Justiça são parte de um sistema hierárquico que é 
autoritário. Podem ocorrer recursos superiores de decisões tomadas, 
de forma que aqueles com a posição mais alta são os que possuem 
a última palavra. A Psicologia é uma ciência empírica baseada em 
dados de fundamentação, e embora os juristas possam fazer 
uso de dados de casos anteriores, esse aspecto empírico não é 
científico, já que somente é utilizado para provar algo concreto. 
As leis são estáveis e apesar de que possam mudar, a mudança 
será lenta;
4. a Lei é ._prescritiva, diz-às~pessnas .com o,devem comportar-se; em 
contraposição a Psicologia é descritiva;
5. a Lei busca dar uma aparência de segurança, embora em um 
processo, em um julgamento, se manejem conceitos de uma certa 
relatividade, de dúvida razoável no sistema jurídico anglo-saxão, 
uma vez que tomada a decisão, esta se considera como verdade e 
quase sempre é irrevogável. A Psicologia baseia-se em dados 
empíricos e em probabilidade;
6. a Lei é centralizada em um caso único e por isso considerada 
idiográfica; a Psicologia busca ser nomotética, tendendo a estabe­
lecer princípios gerais ou paradigmas. A o Direito interessam os 
casos individuais; e à Psicologia os padrões de pensamento e de 
comportamento;
7. a Psicologia é proativa, é livre para decidir que áreas devem investigar 
e como dirigirá a investigação. Os interesses individuais são os 
determinantes principais de sua escolha e a motivação econômica 
não possui um valor importante em suas decisões embora estas 
possam ter uma relação direta com demandas governamentais ou 
de entidades privadas. Os- juristas são reativos, somente podem 
atender aos casos e às demandas apresentadas formalmente;
8. a investigação psicológica é geralmente acadêmica ou investigação 
pura. A maioria da investigação psicológica não se apresenta como 
uma forma de resolver problemas em um mundo real; a Lei, ao
C a p ít u l o VI firw' —(7 ; V j ^ ; 1_____ Q que é psicologia jurídica
51
Psicologia aplicada à Justiça
contrário, é uma disciplina operacional, existindo para resolver 
problemas do mundo real e é aplicada a questões da vida real. 
Enquanto os psicólogos estão formados para observar e para usar 
adequadamente métodos a fim de definir processos, os advogados 
estão formados para intervenção. Os advogados manipulam a 
aparência externa enquanto os psicólogos examinam o processo 
interno de uma situação ou de um caso.
2. Definição e características
AJBsicojogia Jurídica constitui-sede um campo de investigação psico- 
lógicoespecializãdõ. cuia tinahdãdêTo_esiudQ do comportamentodoü_aloxcs 
jurídicos no âmbitcTHo Direito-daJeLe da iustica.
É reconhecida internacionalmente como Psicologia Jurídica e/ou Forense. 
Contudo, em nossa opinião, ficaria mais adequado chamá-la de Psicologia 
Jurídica, tendo-se em vista que esse termo abrange um campo muito maior que 
o termo forense, que estaria aplicado somente às atividades exercidas no foro.
3. Funções
As funções do psicólogo jurídico, no exercício de suas atribuições, 
poderiam ser assim sintetizadas:
• avaliar e diagnosticar: em relação às condutas psicológicas dos 
atores jurídicos;
• assessorar: orientar e/ou assessorar, como perito, órgãos judiciais 
em questões próprias de sua área, a fim de trazer para os autos 
informações psicológicas essenciais para a tomada de decisão;
Y • intervir: planejar e realizar programas de prevenção, de tratamento, 
de reabilitação e de integração de atores jurídicos na comunidade, 
no meio penitenciário, tanto individual quanto coletivamente;
• formar e educar: treinar e selecionar profissionais do sistema legal 
' (juizes, policiais, promotores, advogados, agentes penitenciários etc.)
em conteúdos e técnicas psicológicas úteis em seu trabalho;
• colaborar com campanhas de prevenção social contra a crimina- 
' lidade em meios de comunicação: elaborar e assessorar campanhas
de informação social para a população em geral e para a que vive 
em área de risco;
52
C a p ít u l o V I 0 que é psicologia jurídica
• pesquisar: estudar e pesquisar os problemas da Psicologia Jurídica;
-4 / • ajudar a vítima: pesquisar e contribuir para a melhoria da situação 
da vítima e para sua interação com o sistema legal;
• mediar: apresentar soluções negociadas aos conflitos jurídicos, 
através de uma intervenção mediadora que contribua para diminuir 
e prevenir o dano emocional e social, e que possa oferecer uma 
alternativa à via legal, em que as partes tenham um papel predomi­
nante.
4. Formação
Conteúdos básicos e fundamentais:
O psicólogo jurídico necessita de uma formação especializada, que 
pode estar estruturada em uma grade de disciplinas gerais e específicas.
Conhecimentos específicos e inter-relacionados com outras matérias:
1. Psicologia e Lei
Introdução à Psicologia Jurídica
Pressupostos e conceitos comuns e divergentes entre Psicologia e 
Direito
2. Psicologia da família e das relações familiares 
Direito de família
Evolução familiar e características das crises e conflitos familiares 
Avaliação familiar
3. Psicologia e sistema penitenciário, família e proteção de menores: 
acolhimentos, adoção nacional e internacional
O contexto do sistema carcerário
Efeitos psicológicos do encarceramento
Alternativas de encarceramento, direito penitenciário e avaliação 
psicológica no contextopenitenciário
Programas de intervenção
Reinserção do egresso na sociedade e na família
53
C a p ítu lo V I 
O QUE É PSICOLOGIA JURÍDICA
1. Introdução
Não seria possível explicar, sob nossa opinião, o método jurídico 
através da Psicologia, com o qual existiria a possibilidade de interferir na 
política finalista do Direito por meio de critérios psicológicos. Sendo assim, 
essas duas formas de pensamento poderiam corresponder à Filosofia do 
Direito e à Psicologia Geral, mas não as consideramos válidas para a 
construção de uma Psicologia Jurídica de orientação científica (BAYÉS, 
MUNNÉ e SABATÉ, 1980).
Conforme Garrido (1994), não poderíamos deixar de citar a contri­
buição de Munstenberg, em 1908 (apud BALU, 1984), sojjreji grande 
necessidade de a lei positiva conhecer e aplicar os des£flbri,mentQS-_da 
Psicologia científica,'especialmente no campo destinado-a testem unhos
Um acontecimento histórico nns F.IIA foi a decisão sobre a proibição, 
da ed u caçã^ d lsm ffiin ad S l^ e brancos-e-negros, Nessa decisão ^afirma-se 
claramente que as ciências sociais demonstraram que^a educação separada 
promove a segregãçSoTactal ÇGARRIDO, 1994).
Em 1894 o Tribunal Supremo dos EUA emitiu uma sentença judicial 
acerca dos separados mais iguais nas relações sociais, normatizando que a 
segregação social não violava a constituição. Em 1954, o Tribunal Supremo 
reformou esta decisão anterior, ao declarar que a segregação racial legalizada 
em escolas públicas é intrinsecamente desigual, violando assim, os direitos 
constitucionais. Essa decisão foi tomada baseada em um grande número de 
pesquisas em Ciências Sociais. — ^ 1 •’ xrfty p A<5 oK_/
Nesse momento, as ciências sociais, entre elas a Psicologia, ofereceram 
a realídãdesõcIãiTque põssm sentido prático, anlicando concretamente a lei, 
ãüxíITãndo quem necessita aplicá-la e oferecendo um sentjjda-vardadgirQ.J 
'aplicação da lei. Este sentido verdadeiro é construído através da conscien- 
"HzaçãcTdos operadores do Direito das variáveis legais e extralegais as quais 
estavam influenciando sem que ocorresse sua valoração.
47
Psicologia aplicada à Justiça
Uma outra data importante foi o ano de 1962, com a manifestação do 
juiz Bazelon (apud BALU, 1984), pois psicólogos e psiquiatras não estavam 
de acordo com um diagnóstico de doença mental de Yenkins. O juiz admitiu 
a qualificação do psicólogo para diagnosticar doenças mentais. Balu (1984) 
demonstrou, através das provas de Poythress e Petrella (POYTHRESS, 1979; 
PETRELLA e POYTHRESS, 1983) e através de estudos comparativos e 
representativos, que os diagnósticos realizados por psicólogos forenses 
podiam ser melhores que os dos psiquiatras.
A j f o cologia Jurídica é fundamentada como uma especialidade que 
desenvolve um grande e específico campo de relações entre os mundos dõ 
D ir^õT ê3C Psicõlõ|ía;^s'ãspècfõs~fôóiffcõs7íxpIícãiivos e de pesquisa, 
como_Jambém^na_-apllGaçãQ, na avaíiação e nò tratamento (COLÉGIO
formal da conduta humana, embora a Lei compreenda a Psicologia sob um 
ponto de vista de.enüdade-fixa e não de.conduta aprendIdarnds~TevãHiralfulíijc) 
pontos de contato. O primeiro, supondo a Psicologia como fundamento da 
Lei Positiva; o segundo, como auxiliàr da Lei Positiva; o terceiro, como objeto 
de estudo da Lei Positiva, na medida que o comportamento legal é objeto de 
estudo em si mesmo, isto é, o fenômeno legal é o laboratório da conduta 
humana; o quarto estudará como a Lei influencia o comportamento humano, 
sendo, pois, uma relação inversa dos pontos anteriores (GARRIDO, 1994).
Com toda a certeza, a Psicologia e o Direito teriam de se encontrar, 
por mais que tentassem permanecer distantes (ARCE, PRIETO e SOBRAL, 19^4): 
a Psicologia, por um lado, procurando coropreender..e_explicar o compor- 
tgTTTemrrRumãnniroDireito, por outro, possuindoumxoni unlQ-dejgeocupações 
sõBre como regularx4 )re.\!^d^ermÍQados-tápos-dfr-60tapertamento, com o 
objetivo .de estabelecer iim -cnnlrato ..soc ial de convivêncisLcomunitâria ^
Podemos perceber, então, a complementaridade que a Psicologia pode 
fornecer ao Direito, sem desejar ir além do que lhe compete.
Parece-nos importante a consciência dos limites de intervenção da 
Psicologia no Direito, porque, caso isso não ocorra, possibilita-se um 
psicologismo que, nesse início de formação da Psicologia Jurídica brasileira, 
seria traumático no que se refere à consolidação do espaço que pode-se 
conquistar perante o Direito.
Quando a Psicologia ou outra ciência social pretende converter-se 
em juiz, as relações entre a Psicologia e a Lei tomam-se difíceis, pois esta 
não é a sua verdadeira finalidade.
OFICIAL DE PSICÓLOGOS, 1997).
e a Lei possuem a mesma concepção.
48
C a p ít u l o V I O que é psicologia jurídica
A posição anteriormente citada, caso fosse mantida, conduziria os 
profissionais a atitudes e decisões arbitrárias, fazendo com que o surgimento 
de conflitos inibisse o crescimento de um novo campo, que se encontra 
consolidado em muitos países, como EUA, Inglaterra, Espanha etc.
Outra diferenciação referente às relações entre a Psicologia e o Direito 
é a distinção concernente a Psicologia e Lei, Psicologia na Lei e Psicologia 
da Lei. Bartol e Bartol (1994) apontam:
a) Psicologia na Lei tem sido a relação mais comum entre as duas 
disciplinas, onde os profissionais da lei são os que tomam a iniciativa e 
rlemanijarn a atna^ãn dos psi ^ o(ias.j^ ii3rrnecessitam. ou quando pensam 
que terão alguma vantagem devido a orientação da Psicologia, finalizando a 
relação assim que seus objetivos são alcançados. Trata-se assim de uma 
psicologia aplicada especialmente à sotueão-de-nroblema específico, contro­
lando assim os profissionais da lei à aplicação dos conhecimentos psicológicos 
conforme sua conveniência. Essa forma limita a capacidade de participação 
e de contribuição da Psicologia no mundo jurídico;
b) Psicologia e Lei responde a um tipo de relação equilibrada quando 
nem a Psicologia e nem õ DTfeito prevalecem e onde~aPsiCürõgiá analisa os 
componentes psicológicos existentes no Direito, desenvolvendo investigação 
e teoria. A realização de estudos bem planejados e sustentados teoricamente 
conforme, a contextualizàçãb do muriHõTegal ppd<»r^
relevantes aos atores jurídicos. Alguns críticos pontuam que a relação não 
chega a ser totalmente interdisciplinar em razão da necessidade de mudança 
de paradigmas;
c) a Psicologia da Lei representa uma aproximação abstrata da lei 
como determinante do comportamento. Como a lei afeta a s^ iH a d g7 A H 
■é_efetiva?-F.m que grau a lei é útil na modificação de comportamento-dos 
yioladores?
Blackbum (1996) sumariza a aplicação da Psicologia no Direito de 
uma forma bem útil. Aponta que a Psicologia na Lei faz referência a aplicação 
específica da Psicologia no contexto do Direito, em campos como fiabilidade 
de testemnnhos, estado mental de um acusado de delito, percepção de teste­
munhas em crimes. O termo Psicologia e T.e.i serja usado como reflexão 
sobre a atuação dos atores jurídicos: inízes. promotores, advogados, policiais, 
jurado^vãnqttfflfitõ a Psieoíogia da Le i-se. refere a questões como a razão 
-■pela qual as pessoas obedecem ou não à lei, o desenvolvimento moraLe-a 
percepção pública perante as sanções penais.
49
C a p ítu lo V II 
APLICAÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA
1. Psicologia Policial
1.1. Introdução
A Psicologia Policial está se convertendo em uma área de grande 
importância no mundo e se encontra já estabelecida em alguns países europeus 
e notadamente nos anglo-saxões.
O desenvolvimento e a aceitação da Psicologia Policial foram lentos e 
gradativos pois os paradigmas das diversas linhas da Psicologia fizeram 
com que houvesse uma desconfiança muito grande sobre ela, por parte dos 
policiais.
Atualmente, ainda encontramos resistência à compreensão do objetode estudo da Psicologia. Um dos pontos mais polêmicos reside no fato de 
como seria a utilização da Psicologia em uma organização policial, tendo-se 
em vista que a sociedade, de uma forma genérica, entende a Psicologia 
somente como uma aplicação clínica.
Além disso, a organização policial manteve-se durante muito tempo 
afastada da sociedade, e em consequência, dos profissionais da Psicologia.
A abertura dos regimes políticos possibilitou a abertura da organização 
policial, de maneira a permitir a possibilidade de que houvesse a entrada de 
profissionais de outras áreas no mundo policial.
A utilidade dos sistemas mais eficazes de controle e busca da integração 
do sujeito, prevenindo qualquer desvio, se faz presente quando nos referimos 
à principal ferramenta: a polícia.
Observamos que o controle social cada vez mais é exercido de 
cima para baixo, transformando-se de um controle social no sentido 
clássico para um controle da sociedade por parte de quem possui o poder 
para esse fim.
O aparato policial encontra-se então limitado pela situação política 
do momento. Embora os regimes políticos possam variar, a percepção do
57
Psicologia aplicada à Justiça
b) Conteúdos complementares
Nos casos em que a formação se aplica à população com necessidades 
especiais, devem ser incluídos conteúdos específicos próprios de tais áreas, 
tais como: deficientes físicos, terceira idade, marginalizados etc.
5. Conclusão
King (1986) sugere que o conhecimento científico não poderia 
fornecer uma'explicação definitiva e abrangente da realidade social, devido 
ao fato de a conduta humana ser intrinsecamente subjetiva e complexa, 
necessitando logo de uma revisão crítica do conceito de Psicologia Aplicada 
e de seus diferentes modelos de aplicação. Por conseguinte, as técnicas e os 
procedimentos empregados pela Psicologia moderna necessitam de um marco 
conceituai, que não poderia ser reduzido a uma inocente utilização de uma 
teoria psicológica, mas deveria consistir em uma teoria dentro do mundo 
legal, de maneira que possa haver uma integração entre os campos psicológico 
e legal (JESUS, 1996).
O desafio para a Psicologia Jurídica brasileira está lançado. Esperamos 
que a nossa Psicologia possa responder adequadamente aos anseios do mundo 
jurídico, de maneira rápida e eficaz, tendo em vista a necessidade 
intervencionai imediata na práxis jurídica e a necessidade de compreensão 
do indivíduo em sua complexidade.
A Psicologia Jurídica está em um importante momento de desenvol­
vimento de sua identidade, de forma a estar de acordo com as mudanças 
socioeconômicas e as realizações da sociedade dinâmica do século XXI.
t
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Psicologia aplicada à Justiça
4. Família e proteção de menores, acolhimentos, adoção nacional e 
internacional, atendimento a vítimas de tráfico de pessoas
Análise da guarda de menores e elaboração do documento compe­
tente à tomada de decisão
Preparação psicológica para acolhimento e adoção
Atendimento às vítimas de tráfico de pessoas nos aspectos relacio­
nados ao dano psíquico e reintegração
5. Avaliação psicológica forense
a) Aspectos metodológicos:
Prova pericial
Técnicas de avaliação psicológica e forense 
Desenvolvimento de instrumentos de avaliação forense 
Laudo psicológico
b) Perícia psicológica, âmbito de aplicação:
Avaliação psicológica de responsabilidade
Implicações psicológicas forenses dos principais transtornos 
Psicopatológicos
Aspectos psicológicos da separação, do divórcio e da Adoção 
Análise psicológica de medidas legais com respeito a Menores
6 . Sistema judicial e processos psicológicos 
Tomada de decisões legais
Psicologia do Testemunho e Psicologia dos Jurados 
Aspectos psicológicos da corrupção 
Psicologia e meios de comunicação
7. Psicologia da delinquência
Modelos de intervenção 
Psicologia da conduta criminal
C a p ít u l o V I O que é psicologia jurídica
8 . Psicologia Jurídica do menor 
Sistema legal de proteção à infância 
Justiça de menores
9. Mediação 
Mediação: conceito 
Técnicas de mediação 
Modelos e programas de mediação
10. Vitimologia
A vítima perante o sistema jurídico - avaliação psicológica de 
vítimas
Programas de atenção à vítima
11. A Psicologia e os órgãos de segurança 
Psicologia Policial e Militar 
Psicologia de Investigação 
Políticas de prevenção criminal
12. A Perícia psicológica 
A prova pericial
Laudo psicológico - aspectos psicológicos da separação, divórcio 
e adoção
Análise psicológica de medidas legais com respeito a menores
13. Aspectos deontológicos
a) Conhecimentos auxiliares:
Princípios gerais de Direito 
Ordenamento jurisdicional
Conceitos Básicos de Direito Civil, Penal e Processual 
Conceitos complementares de Direito Penitenciário, Canônico, 
Trabalhista e do Menor
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