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ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA 
Marcelo A. Cabral 
 
1
13) FARMACOS ANTIEPILEPTICOS 
 
 
O evento característico da epilepsia é a convulsão, que 
está associada à descarga episódica de alta freqüência de 
impulsos por um grupo de neurônios no cérebro. O local da 
descarga primária e a extensão de sua propagação é que 
determinam os sintomas, que vão desde um breve lapso de 
atenção até uma crise convulsiva completa, que dura vários 
minutos. Os sintomas particulares produzidos dependem da 
função da região cerebral que está afetada. 
A classificação clínica aceita da epilepsia reconhece 
duas categorias: as crises convulsivas parciais e as 
convulsões generalizadas, embora haja alguma 
superposição e muitas variedades em cada uma. 
As convulsões parciais são crises em que a descarga 
começa localmente e, com freqüência, permanece localizada. 
As convulsões generalizadas envolvem todo o cérebro, 
incluindo o sistema reticular, produzindo, assim, uma 
atividade elétrica anormal em ambos os hemisférios. A 
perda imediata da consciência é característica das 
convulsões generalizadas. As principais categorias são as 
convulsões tônico-clônicas e as ausências. A convulsão 
tônico-clônica consiste numa vigorosa contração inicial de 
toda a musculatura, causando espasmo extensor rígido. A 
respiração é interrompida, e, com freqüência, ocorrem 
defecção, micção e salivação. Essa fase tônica tem duração 
de cerca de um minuto e é acompanhada de uma série de 
espasmos sincrônicos violentos, que desaparecem 
gradualmente em 2 – 4 minutos. O paciente permanece 
inconsciente durante alguns minutos e, a seguir, recupera-se 
gradualmente, sentindo-se mal e confuso. 
As crises de ausência ocorrem em crianças; são muito 
menos dramáticas, mas podem ocorrer mais frequentemente 
do que as crises tônico-clônicas. O paciente interrompe 
bruscamente o que quer que esteja fazendo, parando 
algumas vezes de falar no meio de uma frase, e demonstra 
um olhar fixo e vazio por alguns segundos, com pouco ou 
nenhum distúrbio motor. O paciente não tem consciência 
daquilo que o cerca e recupera-se subitamente, sem nenhum 
pós-efeito. 
A descarga epiléptica repetida pode causar morte 
neuronal (excitotoxicidade). 
Do ponto de vista farmacológico, existe uma distinção 
clara entre os fármacos que são eficazes nas crises de 
ausência e os que são eficazes em outro tipo de epilepsia, 
apesar de a maioria exibir pouca seletividade com relação às 
outras subdivisões clínicas. 
Com a terapia farmacológica ótima, a epilepsia é 
totalmente controlada em cerca de 75% dos pacientes. 
 Dois mecanismos principais parecem ser importantes na 
ação das drogas anticonvulsivantes: 
 a) potencialização da ação do GABA 
(neurotransmissor inibitório). Isto pode ser obtido por uma 
potencialização da ação pós-sináptica do GABA 
(fenobarbital e benzodiazepínicos), inibição da GABA 
transaminase (vigabatrina) ou uso de drogas com 
propridades diretas GABA-agonistas.; e 
b) inibição da função dos canais de sódio, reduzindo a 
excitabilidade elétrica das membranas celulares, possivelmente 
através do bloqueio uso-dependente dos canais de sódio 
(fenitoína, carbamazepina, valproato e lamotrigina). 
Mais recentemente foi observada a importância de fármacos 
que inibem os canais de cálcio tipo T e HVA no tratamento da 
epilepsia.
 
Locais de ação de alguns fármacos antiepiléticos, e aumento 
da transmissão sináptica do GABA: 
 
ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA 
 
Marcelo A. Cabral 
 
2
Fármacos antiepilépticos: 
Fenitoína e Carbamazepina 
A fenitoina atua diretamente sobre os canais de Na+, 
diminuindo a velocidade de recuperação do canal de seu 
estado iniativado para o estado fechado. O canal de sódio 
existe em três conformações – fechada, aberta e inativada, e 
a probabilidade de um canal existir em cada um desses 
estados depende do potencial de membrana. Ao diminuir a 
velocidade de recuperação do estado inativado para o estado 
fechado, a fenitoína aumenta o limiar dos potenciais de ação 
e impede a descarga repetitiva. O efeito resultante é a 
estabilização do foco da convulsão ao impedir o desvio 
despolarizante paroxístico que inicia a convulsão parcial. 
Além disso, a fenitoína impede a rápida propagação da 
atividade convulsiva para outros neurônios, respondendo 
pela sua eficácia nas convulsões secundariamente 
generalizadas. 
A fenitoina atua sobre os canais de sódio de uma 
maneira dependente do uso, por conseguinte, apenas os 
canais que estão abertos e fechados em alta freqüência têm 
probabilidade de serem inibidos. Essa dependência diminui 
os efeitos da fenitpína sobre a atividade neuronal espontânea 
e evita muito dos efeitos adversos observados com os 
potencializadores do GABAa (que não são dependentes do 
uso). 
Esse fármaco é utilizado no tratamento das convulsões 
parciais e tônico-clônicas. Não é utilizada nas crises de 
ausência. 
A carbamazepina atua de maneira semelhante à 
fenitoína, sendo utilizada nas convulsões parciais devido a 
sua ação dupla na supressão dos focos convulsivos e 
prevenção da propagação da atividade. 
Etossuximida 
A etossuximida reduz as correntes dos canais de cálcio 
tipo T de baixo limiar de maneira dependente da voltagem. 
O canal de cálcio do tipo T é despolarizado e inativado 
durante o estado de vigília. Nas crises de ausência, acredita-
se que a hiperpolarização paroxística ativa o canal no estado 
de vigília, iniciando as descargas que caracterizam esse tipo 
de convulsão. 
A etossuximida é utilizada nas crises de ausências não 
complicadas, não sendo efetiva para o tratamento das 
convulsões parciais ou generalizadas secundárias. 
Ácido Valpróico 
O ácido valpróico diminui a velocidade de recuperação 
dos canais de Na+ do estado inativado. Em concentrações 
ligeiramente mais altas, limita a atividade do cnal de cálcio 
do tipo T de baixo limiar. 
Outro mecanismo de ação proposto ocorre em nível do 
metabolismo do GABA. Ele aumenta a atividade da ácido 
glutâmico descarboxilase, a enzima responsável pela síntese 
do GABA, enquanto inibe a atividade das enzimas que 
degradam o GABA. Acredita-se que esses efeitos em 
conjunto, aumentam a disponibilidade de GABA na sinápse 
e, portanto, aumentam a inibição mediada pelo GABA. 
Talvez em virtude de seus numerosos locais potenciais 
de ação, o ácido valpróico é um dos agentes antiepilépticos 
mais efetivos no tratamento de pacientes com síndromes de 
epilepsia generalizada com tipos mistos de convulsão. 
Gabapentina 
A gabapentina é um análogo estrutural do GABA, e visa 
aumentar a inibição mediada pelo GABA. Todavia, o 
principal efeito anticonvulsivante da gabapentina parace 
ocorrer através da inibição dos canais de cálcio HVA, 
resultando em diminuição da liberação de 
neurotransmissores (glutamato e aspartato). 
A gabapentina não parece ser um agente antiepiléptico 
particularmente efetivo para a maioria dos pacientes. 
 
Benzodiazepínicos: Diazepam, Lorazepam, 
Midazolam e Clonazepam 
Os benzodiazepínicos aumentam a afinidade do GABA 
pelo receptor GABAa e intensificam a regulação do canal de 
GABAa na presença de GABA, aumentando, assim, o 
influxo de Cl- através do canal . essa ação tem o duplo efeito 
de suprimir o foco Ada convulsão (através da elevação do 
limiar do do potencial de ação) e de fortalecer a inibição 
circundante. 
Esses fármacos são apropriados para o tratamento das 
convulsões parciais e tînico-clônicas, porém devido aos seus 
efeitos colaterais são empregados tipicamente apenas para 
interrupção aguda das convulsões. 
O diazepam, administrado por via intravenosa, é 
utilizado no tratamento do estado de mal epiléptico, uma 
condição potencialmente fatal, em que ocorrem crises 
epilépticas quase sem interrupção. Sua vantagem nessasituação reside na sua ação muito rápida em comparação 
com outros agentes antiepilépticos. A maioria dos 
benzodiazepínicos possui efeito sedativo demasiado e efeito 
antipsicótico muito curto, o que inviabiliza o seu emprego na 
terapia antiepiléptica de manutenção. 
 
 Barbitúricos: Fenobarbital 
 
O fenobarbital liga-se a um sítio alostérico no receptor de 
GABAa e, portnato, potencializa a ação do GABA endógeno ao 
aumentar acentuadamente a duração de abertura dos canais de 
Cl-. Esse aumento da inibição mediada pelo GABA, semelhante 
ao dos benzodiazepínicos, pode explicar a eficiência do 
fenobarbital no tratamento das convulsões parciais e tônico-
clônicas. 
Esse fármaco é utilizado primariamente como fármaco 
alternativo no tratamento das convulsões parciais e tônico-
clônicas. Entretanto, devido a seus efeitos sedativos 
pronucniados, o uso clínico de fenobarbital diminui com a 
disponibilidade de mecações antiepilépticas mais efetivas. 
 
Inibidor dos receptores de glutamato: Felbamato 
 
Os receptores de glutamato ionotrópicos medeiam os efeitos do 
glutamato, o principal neurotransmissor excitatório do SNC. A 
ativação excessiva das sinapses excitatórias constitui um 
ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA 
 
Marcelo A. Cabral 
 
3
componente essencial da maioria das formas de atividade 
convulsiva. Desta forma, estudos demonstram que a inibição 
dos subtipos NMDA e AMPA de receptores de glutamato pode 
inibir a geração de atividade convulsiva e proteger os neurônios 
da lesão induzida pela convulsão. Entretanto, nenhum dos 
antagonistas específicos e potentes dos receptores de glutamato 
tem sido utilizado clinicamente de modo rotineiro para o 
tratamento das convulsões, devido a seus efeitos adversos 
inaceitáveis sobre o comportamento. 
 O felbamato possui uma variedade de ações, incluindo 
a inibição seletiva dos receptores NMDA que possuem 
subunidades NR2B. como essa subunidade particular do 
receptor não é expressa de maneira ubíqua no cérebro, o 
antagonismo dos receptores NMDA pelo felbamato não é tão 
disseminado quanto aquele observado com outros antagonistas 
NMDA. Essa seletividade relativa pode explicar por que o 
felbamato carece dos efeitos adversos comportamentais 
observados com o uso dos outros agentes. 
 
 
O felbamato é um agente antiepiléptico extremamente 
potente e também possui o benefício adicional de não apresentar 
os efeitos sedativos comuns a muitos outros fármacos utilizados 
no tratamento da epilepsia. Entretanto, foi constatado que o 
felbamato esteve associado a certo número de casos de anemia 
aplásica fatal e insuficiência hepática, de modo que, hoje emdia, 
seu uso está essencialmente restrito a pacientes com epilepsia 
extremamente refratária. 
Duas drogas foram recentemente introduzidas no 
tratamento da epilepsia: a vigabatrina, que atua ao inibir a 
enzima GABA transaminase, que é a responsável pela 
inativação do GABA; e a tiagabina, que inibe a recaptação do 
GABA. Por conseguinte, ambas potencializam a ação do GABA 
como transmissor inibitório. 
 
Ж Ж Ж Ж Ж Ж 
 
 
 
 
 
 Referências Bibliográficas 
 
1. RANG, H. P. et al. Farmacologia. 4 edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001; 
2. KATZUNG, B. G. Farmacologia: Básica & Clinica. 9 edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006; 
3. CRAIG, C. R.; STITZEL, R. E. Farmacologia Moderna. 6 edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005; 
4. GOLAN, D. E. et al. Princípios de Farmacologia: A Base Fisiopatológica da Farmacoterapia. 2 edição. Rio de 
 Janeiro: Guanabara Koogan, 2009; 
5. FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L.; FERREIRA, M. B. C. Farmacologia Clínica. 3 edição. Rio de Janeiro: Guanabara 
 Koogan, 2004. 
6. GILMAN, A. G. As Bases farmacológicas da Terapêutica. 10 edição. Rio de Janeiro: Mc-Graw Hill, 2005. 
7. CONSTANZO, L. S. Fisiologia. 2 edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 
 8. PORTH, C. M. Fisiopatologia. 6 edição. Rio de Janeiro: Ganabara Koogan, 2004 
 
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