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PEDIATRIA – TCE Vinheta 12 – TCE TCE é um insulto traumático do crânio capaz de produzir alterações físicas, intelectuais, emocionais e sociais. Cabe ressaltar que a criança tem espaço subaracnóideo menor, consequentemente menos líquor deixando mais vulnerável aos traumas, além de que está em grande processo de mielinização e o trauma pode afetar esse desenvolvimento. Entretanto tem maior capacidade de resolver o edema cerebral, devido a barreira hematoencefálica com algumas particularidades, não permitindo lançar prognóstico então. Fisiopatologia: O cérebro necessita de componentes passados pelo fluxo sanguíneo e esse fluxo cerebral só é conseguido através da Pressão de perfusão cerebral (PPC), lembrando que PPC = PAM – PIC (pressão intracraniana). No trauma temos edema vasogênico que aumenta a PIC, reduzindo assim a perfusão cerebral. Entretanto o cérebro faz mecanismos para restabelecer esse fluxo com redução da produção de líquor ou maior absorção e outros mecanismos de autorregulação a depender das necessidades metabólicas e com funcionamento da BHE. Se conseguir, ótimo, mas se não conseguir a criança vai ter hipertensão intracraniana, o que pode gerar a herniação do tecido cerebral que é uma emergência médica. Lesões primárias do TCE: Acontecem por impacto, aceleração ou desaceleração. Ex: ruptura de vasos, lesão axonal difusa, contusão cerebral, fraturas, lacerações. Lesões secundárias: resultados das lesões primárias, ou seja, eventos bioquímicos e celulares que ocorrem após trauma e podem se perpetuar por meses, levando a lesões e morte de células neuronais. Ex: hipóxia, hipercapnia, hipotensão arterial, hipertensão craniana, hipertermia, hiperglicemia. Sinais de hipertensão intracraniana: Cefaleia, vômitos, letargia, podendo ter sintomas focais devido a lesões ocasionando síndromes de herniação. Sinais de hipertensão craniana grave (iminência de herniação cerebral): TRÍADE DE CUSHING (bradicardia, alteração do padrão respiratório e hipertensão arterial sistêmica). Anamnese: questionar mecanismo e tipo do trauma. Se queda qual foi a altura. Se acidente qual foi meio, qual velocidade, se estava com capacete. Se espancamento, qual foi o objeto utilizado. Observar e questionar sintomas relacionados como: perda de consciência (mais ou menos de 5 min), cefaleia, vômitos, letargia, sonolência (se sim, começou quanto tempo após o trauma), mudança de comportamento, se tem discrasia sanguínea, etc. Exame físico: Suporte avançado de vida em pediatria – ABCDE Monitorização (capnografia, FR, Oximetria, Temperatura, Glicemia, PA, FC, ECG) A= Via Aérea: colar cervical B= Ventilação: inspeção, palpação, ausculta e percussão, oxigenação C= Circulação: sinais de choque como alteração de consciência, analise de pele, pulso, perfusão D= Deficit neurológico: pupilas e Glasgow E= Exposição Classificação de TCE (Leve, moderado e grave): Avaliamos por meio da escala de Glasgow 15-14: leve 9-13: moderado <=8: grave Mas vamos relembrar a escala de Glasgow? Avaliação: avaliar o couro cabeludo para buscar fontes de sangramentos (lembrando que as fraturas podem ser lineares ou não lineares – cominutivas, afundamento de crânio); a radiografia só permite análise de ossos, sendo então desnecessária nesse contexto; quando notar otorragia, rinoliquorreia, equimose retroauricular e equimose periorbitária bilateral, pensar em fratura de base de crânio. Lesões intracranianas: Hematomas (epidural e subdural) Lesões difusas (contusão cerebral, concussão cerebral, lesão axonal difusa e lesão microvascular difusa) Lesões secundárias ao TCE Hematoma epidural ou extradural: Acontece principalmente em lesões lineares que acompanham regiões de irrigação da artéria meníngea média (temporal e parietal), leva ao efeito de massa gerando hipertensão intracraniana ou levando à herniação. É caracterizado por um período lúcido entre o trauma e a deterioração neurológica, sendo a TC normal logo após o trauma. Seu tratamento é por drenagem cirúrgica. Hematoma subdural: Quando hematoma ocorre entre dura-máter e aracnoide, decorrendo de rompimento de veias no ponto em que drenam sangue venoso para o seio sagital superior. Tem elevado índice de mortalidade, sendo mais comum em <2 anos e idosos, sendo uma causa comum de morte ou sequela neurológica grave em crianças sacudidas ou jogadas para cima (Síndrome do bebê sacudido). Na TC vemos a imagem em “banana ou meia-lua” (aspecto côncavo-convexo). Contusão cerebral: Decorre da ação direta sobre o tecido neural ou vascular no local da ação ou por contragolpe. Elas podem evoluir para hematoma intracraniano e por isso devemos repetir TC em 12- 24h. Concussão cerebral: Decorre do cisalhamento das fibras mielínicas por aceleração/desaceleração rápida. Gera breve perda de consciência (<6h) e amnésia. Leve: Só distúrbio neurológico sem perda de consciência Clássica: perda temporária de consciência, por no máximo 6h e se ao retornar não lembrar do que aconteceu imediatamente antes da concussão. Lesão axonal difusa (LAD): QC: coma >6h. Na TC excluímos formação de lesões expansivas e hipertensão craniana como causa do coma e vemos apresentações clássicas de LAD como discreta hemorragia no corpo caloso e centro semioval. Na RNM após alguns dias podemos ver lesões difusas de substância branca. Lesão microvascular difusa: Lesão frequente em TCE grave resultado de edema cerebral por desajuste na regulação do fluxo sanguíneo cerebral. Na TC vemos diminuição simétrica dos ventrículos laterais e cisternas e isquemia hipoxêmica principalmente no hipocampo. Conduta: Primeiramente eleger os casos que necessitam de TC e/ou observação hospitalar e/ou liberação para casa. Os TCE grave e moderado precisarão de UTI pediátrica, intubação e ventilação. Para guiar as tomadas de decisões temos várias diretrizes como RECARN, CHALICE, CATCH. Aqui vamos seguir agora pelo protocolo RECARN (de acordo com faixa etária). <2 ANOS: o ALTO RISCO: Glasgow <=14, alteração de nível de consciência, fratura de crânio palpável. o RISCO MODERADO: hematoma subgaleal parietal, temporal ou occipital, perda de consciência >5s, mecanismo de trauma importante, mudança de comportamento. >2 ANOS: o ALTO RISCO: Glasgow <=14, alteração de nível de consciência, sinais de fratura de base de crânio o RISCO MODERADO: perda de consciência, vômitos, mecanismo de trauma importante, cefaleia importante. O que é alteração de nível de consciência? Agitação, sonolência, fala repetitiva, resposta lenta a comunicação verbal O que é mecanismo de trauma importante? Atropelamento, acidente automobilístico com morte de ocupante ou arremesso para fora do veículo, quedas >90cm em <2anos ou >150cm para >=2 anos, trauma de alto impacto. Se for alto risco: fazer TC Se for risco moderado: observação hospitalar 6h e se necessário TC Se baixo risco (nenhum dos acima): não precisa fazer TC Observar as crianças assintomáticas por 2h e se manter da mesma forma, liberar para observação familiar. Resumindo, um fluxograma para <2 anos: Resumindo, um fluxograma para >2 anos:
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