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Introdução Este presente trabalho tem por objetivo explicar os aspectos da internacionalização do direito e da crise da soberania e a relação entre os dois, levando em consideração o âmbito do assunto e exemplificando de forma simples e clara os acontecimentos ocorridos em seus devidos tempos, objetivando analisar os elementos que caracterizam tais fenômenos. Promovendo uma breve reflexão sobre o direito exclusivo de uma autoridade suprema sobre um grupo de pessoas, denominando-se poder soberano, desde o seu apogeu á sua atualidade. E discorrer, também, sobre os limites de cooperação possível entre instâncias judiciais no processo de internacionalização do Direito. No transcurso de sua história, o Estado Moderno, erigido como tal a partir do século XVI, viu-se envolto em um largo processo de consolidação e transformação, caracterizado pelo motivo de passar por várias crises interconectadas. A primeira delas diria respeito à crise que atinge as suas características conceituais básicas, em particular a ideia de soberania, que poderia ser discutida sob a ideia de surgimento de pretensões universais da humanidade, referidas pela emergência dos direitos humanos. Foi a partir do Estado Moderno, com o esplendor da Revolução Francesa, que o conceito de soberania começou a ser concebido. Relaciona-se à autoridade suprema, geralmente no âmbito do país. É o direito exclusivo de uma autoridade suprema sobre um grupo de pessoas — geralmente uma nação. Há casos em que esta soberania é atribuída a um indivíduo, como na monarquia, na qual o líder é chamado genericamente de soberano. No período conhecido pelas gerações contemporâneas como período do Absolutismo, conceituava-se soberania, como um poder supremo, mas um poder exclusivo, inabalável, inquestionável e ilimitado do Monarca. Este poder era confirmado pela promiscuidade com que a igreja afirmava ser a soberania do monarca uma representação do poder divino, chamado poder temporal. Gradativamente, entretanto, o monarca foi se tornando independente do poder papal e se tornando realmente absoluto. É um poder, ou seja, uma faculdade de impor aos outros um comando a que lhes fiquem a dever obediência. É um comando perpétuo, pois não pode ser limitado no tempo, absoluto porque não está sujeito à condições ou encargos postos por outrem, também não recebe ordens ou instruções de ninguém e não é responsável perante nenhum outro poder. Caracterizasse também por ser uno e indivisível, de modo que não pode haver dois Estados no mesmo território; é próprio e não delegado, fazendo com que pertença por direito próprio ao Rei; é irrevogável, de acordo com o princípio de estabilidade política - o povo não possui direito de retirar do seu soberano o poder político que este possui por direito próprio; é supremo na ordem interna, pois não admite outro poder com quem tenha de partilhar a autoridade do Estado; é independente na ordem internacional, pois o Estado não depende de nenhum poder supranacional e só se considera vinculado pelas normas de direito internacional resultantes de tratados livremente celebrados ou de costumes voluntariamente aceitos. Tendo emergido como uma característica fundamental do Estado Moderno, a soberania é tratada teoricamente pela primeira vez por Jean Bodin, no ano de 1576. Antes disso, a construção deste conceito vem-se formando permeada pela ideia que lhe será fundante, como poder supremo, o que irá acontecer já no final da Idade Média, quando a supremacia da monarquia já não encontra poder paralelo que lhe faça sombra. O rei torna-se, então, detentor de uma vontade incontestável em face de outros poderes, ou melhor, de outros poderosos, os barões ou os senhores feudais nos limite de sua propriedade. Ou seja, deixa de existir uma concorrência entre poderes distintos, e ocorre uma conjugação dos mesmos em mãos da monarquia, do rei, do soberano. De acordo com Jean Bodin, considerado por muitos o pai da Ciência Política devido a sua teoria de soberania, na qual acredita que esta se refere à entidade que não conhece superior na ordem externa nem igual na ordem interna. Baseou-se na mesma teoria para afirmar que a legitimação do poder do homem sobre a mulher e da monarquia sobre a gerontocracia. Jean Bodin nasceu em Angers na França, no ano de 1530, e faleceu em Laon, também na França em 1596, foi um jurista francês, membro do Parlamento de Paris e professor de Direito em Toulouse. Em seu livro intitulado Os Seis Livros da República, o francês teorizou o conceito de "soberania", neste sustentava a seguinte tese: a Monarquia francesa é de origem hereditária; o Rei não está sujeito a condições postas pelo povo; todo o poder do Estado pertence ao Rei e não pode ser partilhado com mais ninguém, seja clero, nobreza ou povo. A teoria de Bodin foi de extrema importância na afirmação dos princípios da territorialidade da obrigação política, da impessoalidade do comando público e da centralização do poder. O Autor utilizou o conceito de soberania tanto para definir o Estado quanto para justificar a legitimidade do poder sobre os indivíduos. Desta forma, definiu soberania como o “poder perpétuo e absoluto de uma República”. É importante destacar que o contexto histórico da vida de Jean Bodin, foi marcado por guerras religiosas na França entre católicos e protestantes, também por conflitos sociais e políticos. Escreveu obras consideradas relevantes para compreensão das leis e das instituições jurídicas, bem como os fundamentos sociais e políticos que regulavam a vida dos diversos povos da época. Neste sentido, é importante lembrar que Bodin definiu a República, como “o justo governo de várias famílias e do que lhes é comum, com poder soberano”. Para ele, esse governo deve usar um bem comum, ou seja, uma finalidade moral, reproduzindo assim, o pensamento de Aristóteles. Ainda de acordo com o Autor, as leis comuns às mesmas famílias são regidas pela República, pelo poder da República. Retomando o conceito de soberania, como o “poder perpétuo e absoluto de uma República”, podem-se destacar dois atributos da soberania: o caráter perpétuo e o caráter absoluto. Tal que a perpetuidade, se refere á um Estado ou uma república que não poderá ser soberana, se esta for limitada pelo tempo, sendo assim mais um atributo do Estado que do rei, mas ainda defende uma monarquia hereditária. Quanto ao absolutismo, são quatro as principais características: Superior, onde o detentor do poder soberano não pode estar submetido ou numa condição de igualdade em relação a outros poderes; Independente, onde o detentor do poder soberano tem plena liberdade de ação; Incondicionado, na qual o detentor do poder soberano está desvinculado de qualquer obrigação; e Ilimitado, onde é lícito afirmar que a própria ideia de limitação é incompatível com o poder soberano. O poder soberano é ilimitado em relação às leis civis. Para Bodin o poder é ilimitado para o direito positivo, mas limitado ao direito natural. Bodin enumera os direitos da soberania para o pleno entendimento dos limites de um soberano. Estes são: poder de legislar sem os consentimentos dos súditos e sem reconhecer poder superior; Declarar a guerra e fazer a paz; Instituir os funcionários públicos; Estabelecer a unidade de medida e o valor da moeda; Impor taxas e impostos ou isenções; Ser a ultima palavra em qualquer assunto; e Outorgar vantagens ou imunidades. Vale ressaltar que o Primeiro direito, o de legislar sem os consentimentos dos súditos e sem reconhecer poder superior é considerado o de maior importância, pois a partirdele, todos os demais são definidos, apresentados como uma decorrência desse poder de dar a lei. Ainda que a Soberania tenha caráter perpétuo e absoluto, é cabível destacar que o seu detentor não possui um poder arbitrário, que não conhece limites. Assim, o soberano está submetido às leis divinas, naturais e certas leis humanas comuns a todos os povos. Para Bodin, o detentor da soberania deve se inspirar na lei divina para criar a lei civil. A lei divina apresenta-se como uma lei eterna e imutável, expressa na vontade e na sabedoria de Deus, o qual é responsável pela criação e conservação de todas as coisas. Antes de tudo, o soberano é considerado um súdito de Deus, e por isso, não pode transgredir a lei divina, e sim, observá-la continuamente no exercício do seu poder. Como exemplo, podemos citar o respeito à propriedade privada (que é um direito natural do homem) e o respeito aos contratos (principio inerente ao direito natural), no qual os contratos devem ser cumpridos. Em suma, tanto a lei divina, quanto a natural expressam a vontade de Deus, diante das quais o poder soberano deve estar submetido. Assim, o detentor do poder soberano, deve ter respeito à Lei Sálica (lei de sucessão ao trono) a qual é considerada irrevogável, porque assegura a estabilidade necessária mantendo a legítima continuidade do poder, diferenciando o soberano autêntico do usurpador. Ainda, o detentor do poder soberano, deve ter respeito ao tesouro público, onde o mesmo não deve se servir deste dinheiro, englobando as propriedades públicas as rendas recebidas sob as formas de tributos ou confiscos. Desta forma, o poder soberano é exercido dentro do direito positivo, onde o soberano é de fato, considerado absoluto, já que é responsável por criar, corrigir, alterar e anular as leis civis de acordo unicamente com a sua vontade. Porém, fora da esfera do direito positivo, o seu poder torna-se arbitrário, sem justificativas para atuar. Portanto, a partir da obra de Bodin, a soberania tornou-se uma referencia obrigatória nas teorias políticas, uma noção ordenadora, a partir da qual foram discutidas as principais questões jurídicas e políticas, na modernidade. A partir de uma evolução histórica, o conceito de soberano foi lapidado, chegando ao que se tem hoje. Com o do tempo, soberania passa a ser entendida pela qualidade máxima de poder social por meio da qual as normas e decisões elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as normas e decisões emanadas de grupos sociais intermediários, tais como a família, a escola, a empresa, a igreja, entre outros. Neste sentido, no âmbito interno, a soberania estatal traduz a superioridade de suas diretrizes na organização da vida comunitária. A soberania se manifesta, predominantemente, pela constituição de um sistema de normas jurídicas capaz de estabelecer as pautas fundamentais do comportamento humano. No âmbito externo, a soberania traduz, por sua vez, a ideia de igualdade de todos os Estados na comunidade internacional. Com Rousseau, a soberania sai das mãos do monarca, e sua titularidade é consubstanciada no povo, tendo como limitações, apesar de seu caráter absoluto, o conteúdo do contrato originário do Estado. É esta convenção que estabelece o aspecto racional do poder soberano. A vontade geral incorpora um conteúdo de moralidade ao mesmo. Jean-Jacques Rousseau transfere o conceito de soberania da pessoa do governante para todo o povo, entendido como corpo político ou sociedade de cidadãos. Soberania segundo ele é inalienável e indivisível e deve ser exercida pela vontade geral, que é denominada por soberania popular. O que é, segundo Rousseau, a soberania? Não é outra coisa senão o exercício da vontade geral, sendo esta a vontade do povo e tende sempre ao bem comum. Do contrário, escreve ele, “não passa de uma vontade particular ou de um ato de magistratura, quando muito de um decreto”. Desse modo, a soberania não pode ser alienada e, assim como não pode ser dividida. A sociedade, como a concebe Rousseau, é mantida por laços formados pelo que há de comum entre os vários interesses. Do contrário, nenhuma sociedade poderia existir. Por isso, “a soberania, não sendo senão o exercício da vontade geral, jamais pode alienar-se e, [...], o soberano, que nada é senão um ser coletivo, só pode ser representado por si mesmo”. Renega-se a soberania, atribuindo-a a outrem, atribuindo-se desse modo senhores, desintegra-se enquanto tal e deixa de existir. “Se, pois, o povo promete simplesmente obedecer, dissolve-se por esse ato, perde sua qualidade de povo – desde que há um senhor, não há mais soberano, e, a partir de então, destrói-se o corpo político”. Pelas mesmas razões, a soberania não deve ser dividida. Ao dividir-se a soberania, divide-se a vontade geral, o que, consequentemente, causa a sua destruição, degenerando-a em vontade particular. A soberania é exercida pela vontade geral, que é a vontade do corpo político que, por sua vez, é o soberano. O conceito de vontade geral, por ser fundamental na construção da teória de Rousseau, é discutido incansavelmente e ponto de muita polêmica, apontado como contraditório ou, no mínimo, paradoxal. As objeções mais comuns ao modelo de soberania sistematizado por Rousseau giram em torno da sua legitimidade. O Estado, aquele ao qual se deu origem a partir do pacto social legítimo que nada mais é, para ele, que o homem é naturalmente bom, sendo a sociedade, instituição regida pela política, a culpada pela "degeneração" dele. O contrato social para Rousseau é um acordo entre indivíduos para se criar uma sociedade, e só então um Estado, isto é, o contrato é um pacto de associação, não de submissão; uma pessoa moral. Para manter-se, necessita da força de todos os membros, pois, diz Rousseau “assim como a natureza dá a cada homem poder absoluto sobre todos os seus membros, o pacto social dá ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus [...]”. Uma leitura rápida e desatenta ou até mesmo parcial desta passagem leva a concluir-se que Rousseau está firmando os primeiros alicerces do totalitarismo, atribuindo um poder absoluto ao Estado em detrimento da liberdade dos indivíduos. Observando por esse aspecto, a vontade geral não é a vontade dos indivíduos. Votando de acordo com a vontade geral, estes não escolhem o que desejam. A vontade geral, desse modo, é coisa totalmente estranha ao ser humano e se impõe sobre qualquer outra vontade, exercendo assim um papel tirânico. Mas, tal como a concebe Rousseau, a vontade geral não é algo diverso da vontade dos indivíduos. Ela se refere à maneira pela qual o Estado deve estar organizado, sendo o povo soberano aquele que estabelece as leis de acordo com o bem comum. Assim, abre-se espaço para a justiça e o crescimento qualitativo da liberdade. A vontade geral expressa o que há de comum nos interesses de todos os indivíduos que formam o Estado. Dessa forma, ela não pode ser algo estranho à vontade de cada um. Para que as sociedades sejam possíveis, segundo Rousseau, é necessário realmente que haja um acordo entre os vários interesses particulares. “O que existe de comum nesses vários interesses forma o liame social e, se não houvesse um ponto em que todos os interesses concordassem, nenhuma sociedade poderia existir”. Não se trata, então, da anulação do indivíduo pela coletividade. O indivíduo permanece enquanto tal e, após o pacto social, além de ter a sua dignidade e seus direitos preservados e assegurados, torna-se um ser mais evoluído em relação ao seu estado natural, conhecedor da justiça e da moralidade. É a obediência à vontade geral “[...] a condição que, entregando cada cidadão à pátria,o garante contra qualquer dependência pessoal. Essa condição [...], é a única a legitimar os compromissos civis, os quais, sem isso, se tornariam absurdos, tirânicos e sujeitos aos maiores abusos”. A vontade geral, portanto, em momento algum nega o indivíduo e sua liberdade. Agindo de acordo com a vontade geral, cada indivíduo se reconhece como membro da coletividade e, enquanto cidadão, visa sempre ao interesse comum. Assim sendo, não há que se temer o abuso do poder soberano e a privação da individualidade. Todos aqueles que formam o corpo político participam da autoridade soberana, sendo desse modo cidadãos. Por outro lado, todos estão também submetidos às leis do Estado, ou seja, às convenções entre os que participam do pacto. Há, portanto, uma igualdade de condições gerada a partir do contrato social. “A igualdade torna-se [...] a base do sistema e a verdadeira garantia dos direitos de cada um” (Derathé, 1979, p. 353). Assim todos devem estar comprometidos com a totalidade do corpo político, ao passo que, ao assumir tal comprometimento, cada um está comprometido consigo mesmo. De acordo com Machado, no consenso da vontade geral, o egoísmo natural é transformado, no ser humano socializado, em senso de justiça. Na doutrina rousseauniana, não está prevista a anulação dos direitos individuais. Pelo contrário, Rousseau visa garanti-los, inclusive por um caminho que exige uma evolução e desenvolvimento das melhores qualidades humanas e o abandono do individualismo egoísta. A partir do século XIX foi elaborado um conceito jurídico de soberania, segundo o qual esta não pertence a nenhuma autoridade particular, mas ao Estado enquanto pessoa jurídica. A noção jurídica de soberania orienta as relações entre Estados e enfatiza a necessidade de legitimação do poder político pela lei. Falar em soberania, nos dias que correm, como um poder irrestrito, muito embora seus limites jurídicos, parece mais um saudosismo do que uma avaliação lúcida dos vínculos que a circunscrevem. Destes, muito já se falou de seus parâmetros democráticos que implicam um efetivo controle conteudístico de sua atuação. Ora, se o Estado caracteriza-se por uma instituição democrática, é evidente que a sua atuação fica vinculada inexoravelmente ao conteúdo mesmo da democracia e a tudo o mais que isto implica relativamente a controles públicos, limites procedimentais, garantias cidadãs etc. Mas, ao lado de tais circunscrições, outras assumem relevância. Neste viés, pode-se apontar, além dos vínculos criados pelo Estado constitucional, a crise do Estado Moderno em apresentar-se como centro único e autônomo de poder, sujeito exclusivo da politica, único protagonista na arena internacional. Categorias básicas da Modernidade são abaladas. O Estado Moderno, juntamente com seu principal corolário, a Soberania, entra em crise e não é mais capaz de lidar com a dinâmica de um mundo cada vez mais globalizado e interconectado. Isso quer dizer que a validade dos atos estatais não depende mais apenas de suas formas de produção, mas deve coerência com uma série de princípios básicos do sistema jurídico estatal. Dentre as opiniões de diversos autores, a de Ferrajoli chama a atenção dizendo que a Soberania é uma categoria antijurídica, vez que ela “[...] é a ausência de limites e de regras, ou seja, é o contrário daquilo em que o direito consiste”. A combinação entre princípio da legalidade e constitucionalismo, pluralismo político e necessidade de respeito à dignidade, liberdade, igualdade e fraternidade entre os seres humanos tem por resultado inevitável a revisão dos limites do poder estatal, que não mais pode se considerar absolutamente soberano. Ainda assim, o Estado Constitucional Moderno permanece bastante apegado ao conceito de Soberania. Tal fato deve-se, em grande parte, à contundente afirmação de sua Soberania Externa face aos demais Estados, a fim de assegurar sua independência e rechaçar qualquer intervenção de um poder exterior. Os espaços transnacionais vão além da concepção de Soberania e são marcados pela desterritorialização dos relacionamentos político-sociais e pela ultravalorização do sistema econômico capitalista, que articula ordenamento jurídico mundial à margem das Soberanias dos Estados. No plano internacional, em especial, observa-se fenômeno semelhante relacionado ao caráter de independência dos Estados soberanos, como capacidade de autodeterminação. A interdependência que se estabelece contemporaneamente entre os Estados aponta para uma cada vez maior atrelamento entre as ideias de soberania e de cooperação jurídica, econômica e social, oque afeta drasticamente a pretensão à autonomia. Por mais que se argumente no sentido de que esta colaboração só é possível em razão da própria soberania, a qual permitiria a um Estado vincular-se a outro(s) em questões que lhe interessem ou para fazer frente a situações paradigmáticas, oque se observa na pratica é a revisão radical dos postulados centrais da mesma. A consequência de diversos processos históricos, tais como a revolução tecnológica da informação, a crise econômica do capitalismo e do estatismo, o afloramento dos movimentos sociais, o liberalismo, a luta pelos direitos humanos, o ambientalismo e tantos outros pontos são caracterizados como o efeito da globalização. As interações entre esse processos desencadearam a remodelagem da base material da sociedade, a qual passou a ser uma sociedade em rede. A internacionalização do direito é um processo de operação comum do âmbito jurídico por diferentes atores, em diferentes territórios. É uma mesma maneira de atuar judicialmente, por diferentes pessoas, em diferentes lugares, trazendo consigo uma ideia de rompimento da territorialidade. As chamadas comunidades supranacionais – Comunidade Econômica Europeia / CEE / UNIÃO EUROPEIA, NAFTA, MERCOSUL etc. – particularmente a primeira, impuseram uma nova logica ás relações internacionais e, consequentemente atingiram profundamente as pretensões de uma soberania descolada de qualquer vinculo ou limitação. O que se percebe, aqui, é uma radical transformação nos poderes dos Estados-Membros, especialmente no que se refere a tarifas alfandegárias, aplicação de normas jurídicas de direito internacionais sujeitas a apreciação de Cortes de justiça supranacionais, emissão de moeda, alianças militares, acordos comerciais etc. Voltando ao âmbito do próprio Estado, deve-se referir que a sociedade se consolidou através de novos tipos de relações sociais, tendo como protagonistas sujeitos que não os indivíduos isolados. Dessa forma, os sindicatos e as organizações empresariais, e movimentos sociais, passaram a influenciar de forma mais constante em certas atividades, produzindo certas decisões que caracteristicamente se incluiriam no rol do poder soberano do Estado. A passagem do modelo de estado mínimo ao feitio liberal clássico para o tipo de Estado de Bem-Estar social impõe a reconsideração do fenômeno da soberania. Conceitos de Estado ao longo dos anos: Estado mínimo: pressupõe um deslocamento das atribuições do Estado perante a economia e a sociedade; Estado liberal: ordem política sob a qual todos os indivíduos são livres e independentes, não submetidos ao poder de nenhuma outra pessoa, mas todos igualmente submetidos à lei; Estado de bem estar social: modo de organização no qual o Estado se encarrega da promoção social e da economia. Enquanto o modelo liberal incorporava uma ideia de soberania como poder incontrastável, próprio a uma sociedade de “indivíduos livres e iguais” para os quais importava apenas o papel de garantidor da paz social atribuído ao Estado, o modelo de welfare state (bem estar social) adjudica a ideia de uma comunidadesolidaria onde ao poder público cabe a tarefa de produzir a incorporação dos grupos sociais aos benefícios da sociedade contemporânea. Nesta função de patrocínio da igualdade transfere-se ao Estado um novo atributo que contrasta com este poder ordenador, qual seja a solidariedade. O caráter solidário do poder estatal, para muitos, substitui a sua característica soberana para incorporá-lo na batalha cotidiana de superação das desigualdades e de promoção do bem-estar social, percebido como um benefício compartilhado pela humanidade toda. Por fim, o papel marcantemente interventivo assumido por alguns organismos internacionais que acabam por respaldar, sob as alegações as mais variadas ações contraditórias às possibilidades de atuação desvinculada dos Estados, o que tanto pode gerar situações de interferência direta, como também tomada de atitudes por organismos públicos dos Estados centrais que afetam direta ou indiretamente interesses de alguns países. O quadro esboçado impõe que repensemos o caráter soberano atribuído ao Estado contemporâneo. Percebe-se, já, que não se trata mais da constituição de uma ordem todo-poderosa, absoluta. Parece que se caminha para a sua transformação como elemento caracterizador do poderio estatal. Em nível de relações externas, mais visivelmente, percebe-se a construção de uma ordem de compromissos, e não de soberanias. Gustavo Zagrebelsky e a Soberania Estatal Ensinou direito constitucional e teoria de estado, é considerada uma das mentes mais brilhantes do judiciário, um apoiador do potencial de desenvolvimento da democracia, um forte defensor da constituição e do estado laico. Segundo ele, pode-se resumir esta corrosão da noção de soberania estatal a partir de quatro vertentes distintas, porem não excludentes: 1. O pluralismo político-social interno, que se opõe à própria ideia de soberania e de sujeição; 2. Formação de centros de poder alternativos e concorrentes com o Estado que operam no campo politico, econômico, cultural e religioso, frequentemente em dimensões totalmente independentes do território estatal; 3. A progressiva institucionalização de “contextos” que integram seus poderes em dimensões supra estatais, subtraindo-os à disponibilidade dos Estados particulares e; 4. A atribuição de direitos aos indivíduos, os quais podem fazê-los valer perante jurisdições internacionais em face dos Estados a que pertencem. O mundo é uma sociedade de Estados, na qual a integração jurídica dos fatores políticos ainda se faz imperfeitamente. Quando é parte da sociedade mundial, o Estado é uma pessoa jurídica de direito público internacional. Para Jorge Americano, “o objeto do DI é o estabelecimento de segurança entre as nações, sobre princípios de justiça para que dentro delas cada homem possa ter paz, trabalho, liberdade de pensamento e de crença”. Ainda, para Antônio de Vasconcellos Menezes de Drummond (1867). “o DI é o complexo dos direitos individuais e recíprocos entre as mesmas nações”, e acrescenta Nicolas Politis, DI é o “conjunto de regras que governam as relações dos homens, pertencentes aos vários grupos nacionais”. No entanto, apesar de todas as restrições de teóricos, o reconhecimento de um Estado como pessoa jurídica de direito público internacional, necessita da comprovação de possuir soberania. Independente de atos formais de reconhecimento, oque se exige é que a sociedade política tenha condições de assegurar o máximo de eficácia no ordenamento do território e que isso ocorre permanentemente. Oque distingue o Estado das demais pessoas jurídicas de direito internacional público é a circunstância de que somente ele tem soberania. Está que do ponto interno do Estado é uma afirmação de poder superior a todos os demais e do ponto externo é uma afirmação de independência. Observa-se que há falhas na regulação jurídica, mas houve um progresso considerável, desde que, há aproximadamente quatrocentos anos foi iniciado sistematicamente a vigor para submeter às relações entre os estados às regras jurídicas. De fato, a experiência tem demostrado à relatividade do conceito de soberania no plano internacional, havendo quem afirme que se deve reconhecer que só tem soberania os Estados que dispõem de suficiente força para impor uma vontade. Como observam Kaplan e Katzenbach, o simples fato de um Estado procurar dar aparência jurídica a suas decisões já representa um avanço que não deve ser visto como hipocrisia, pois é esse tipo de comportamento que torna possível a existência de um direito internacional. Se todos usassem a força de que dispõem, como dizia Hobbes, seria a “guerra de todos contra todos” e só haveria perdas com isso. Outro aspecto importante a observar, é que os Estados vivem em situação de anarquia, pois embora haja uma ordem jurídica em que todos se integram, não existe um órgão superior a que todos se submetem. Mas nos últimos tempos têm sido criadas organizações internacionais dotadas de um órgão de poder que modificou a relação entre ambos os Estados. O exame das organizações dos Estados existentes no mundo em grande número depois da Segunda Guerra Mundial permite a identificação de três espécies: Organizações para fins específicos: se constituíram em função de um único objetivo; podem agrupar Estados de uma só região ou de todas as partes do mundo. Exemplos dessas organizações: Comunidade Europeia do carvão e do aço e a Organização mundial do comércio. Organizações regionais de fins amplos: tem circunstancia de só agruparem Estados de determinada região do mundo. Seus objetivos não são limitados a questões econômicas, militares, jurídicas ou de qualquer natureza especifica. Em lugar disso, tem competência para conhecer de todos os assuntos que possam interessar aos Estados. Um exemplo é a Organização dos Estados americanos (OEA) Organizações de vocação universal: estas, sem duvida alguma, são as de maior importância, porque pretendem reunir todos os Estados do mundo e tratar de assuntos que possam interessa-los. Exemplos são a Sociedade das Nações e a Organização das Nações Unidas (ONU). Conclusão Diante do que foi exposto, conclui-se que o instituto da soberania sofreu uma constante evolução do Estado moderno até o atual. Partimos de um modelo soberano como a representação da vontade do monarca, o poder absoluto e inquestionável exercido unicamente por esta figura. Hoje, entende-se por soberania a vontade do povo, representada pela supremacia do poder estatal, garantido pela Carta Constitucional. Com a crescente aproximação dos Estados e consequentemente com a fragilização da soberania, organizações passam a ser estabelecidas fazendo com que os Estados participantes não tenham total autonomia; estes obviamente têm a opção de não assinar tratados, no entanto com a globalização torna-se difícil um Estado isolar- se. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Faculdade de Direito Ciência Política e Teoria Geral do Estado - TGE A Internacionalização do Direito e A Crise da Soberania Bianca A. de Souza Brenda Kazmirowski Júlia dos Santos Leticia Miranda Maiara Sandri Roberta De Conto Professora Sandra ResminiErechim/RS 2015 Referências Bibliográficas 1. http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8786 2. http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1658/1 581 3. http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/direitopub/article/view/11487/1127 6 4. file:///C:/Users/User/Downloads/7091-21538-1-PB.pdf 5. http://filosofia.fflch.usp.br/sites/filosofia.fflch.usp.br/files/publicacoes/Discurs o/Artigos/D27/D27_O_Conceito_de_Soberania.pdf 6. http://palcodavida09.blogspot.com.br/2010/08/jean-bodin-conceito-de- soberania.html 7. Livro: “Ciência Política e Teoria do Estado”, de Lenio Luiz Streck e José Luiz Bolzan de Moraes
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