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Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes Tutoria 4: Câncer de tireoide ENTENDER o câncer de tireoide O câncer da tireoide é o mais comum na região da cabeça e pescoço e afeta três vezes mais as mulheres do que os homens. Segundo estimativa brasileira, é o quinto tumor mais frequente em mulheres nas regiões Sudeste e Nordeste, excetuando-se o câncer de pele não- melanoma. Os carcinomas diferenciados, que incluem o papilífero, o folicular e o de células de Hürthle, são os tipos mais frequentes. Mas existem ainda os carcinomas pouco diferenciados e os indiferenciados. → Etiopatogenia: • Alterações no gene BRAF: a causa mais comum do carcinoma papilífero da tireoide (PTC) é uma única mutação no gene BRAF. A BRAF é altamente expressa em neurônios e testículos e em menores níveis nas células hematopoiéticas e na tireoide. Estudos demonstraram que uma mutação no gene BRAF está presente na maioria dos casos de PTC. Trata-se de uma mutação somática, do tipo transversão de timina para adenina, no éxon 15 do BRAF, que causa a substituição na proteína do aminoácido valina por glutamato. Essa mutação provoca a ativação da BRAF quinase. Há evidências clínicas de que essa mutação está presente apenas em PTC e em alguns carcinomas anaplásicos de tireoide (ATC), mas nunca em carcinoma folicular da tireoide (FTC), neoplasias benignas da tireoide e carcinoma medular da tireoide (MTC). Além disso, é também a mutação mais prevalente entre todas as alterações genéticas no câncer de tireoide; • Rearranjos do gene RET: o gene RET não é expresso normalmente nas células foliculares da tireoide, porém a expressão de várias formas de RET pode ocorrer Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes exclusivamente no carcinoma papilífero da tireoide. A ativação do RET deve-se a rearranjos cromossômicos entre o gene RET e genes heterólogos, o que causa a fusão desses novos parceiros com a formação de genes quiméricos denominados RET/PTC. Além da exposição à radiação, outro fator que pode estar relacionado à presença de rearranjos tipo RET/PTC é a idade de aparecimento do tumor (mais comum em indivíduos jovens). Esses resultados sugerem que diferenças genéticas, de idade e/ou fatores ambientais podem alterar a frequência de rearranjo desse gene. → Fatores de risco: • História prévia de radioterapia na região anterior da cabeça e pescoço; • História familiar de câncer da tireoide; • Associação com dietas pobres em iodo. → Classificação: O câncer de tireoide é o tumor maligno mais comum do sistema endócrino e apresenta quadro clínico variável, desde aqueles com crescimento muito lento e compatível com expectativa de vida normal, até aqueles com péssima evolução e que causam o óbito em semanas ou meses. Pode ser originado de três tipos diferentes de células: foliculares, parafoliculares e de origem não tireoidiana. As células foliculares são responsáveis por cerca de 90% dos carcinomas tireoidianos. Os tumores desse tipo mostram diferenciação histológica evidente entre carcinomas bem-diferenciados, anaplásicos e pobremente diferenciado. Os diferenciados são subdivididos em carcinoma papilífero da tireoide e carcinoma folicular da tireoide. Os carcinomas medulares, por sua vez, derivam das células parafoliculares, produtoras de calcitonina. Já as células de origem não tireoidiana causam diversos tumores malignos da tireoide, como os linfomas, os sarcomas, as lesões Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes metastáticas, os teratomas e os hemangioendoteliomas. • Carcinoma papilífero de tireoide: mais comum em indivíduos entre a terceira e quarta décadas, podendo até acometer crianças, e corresponde a mais de 70% dos carcinomas tireoidianos; • Carcinoma folicular: ocorre em grupos etários mais avançados, com pico de incidência na quinta década de vida, e é três vezes mais comum em mulheres. Corresponde a cerca de 10% de todos os carcinomas tireoidianos e é mais prevalente em áreas deficientes na ingestão de iodo; • Carcinoma indiferenciado ou anaplásico: é mais prevalente em áreas de deficiência de iodo, predominando em mulheres (M:H = 3:1) e idosos, com pico entre 65 e 70 anos (raramente ocorre em pessoas com menos de 50 anos); • Linfoma primário: relativamente raro, ocorre geralmente em mulheres idosas com tireoidite de Hashimoto; • Outros: neoplasias que podem levar a metástases tireoidianas são melanoma, câncer de mama, hipernefroma, câncer de pulmão e câncer de cabeça e pescoço. → Diagnóstico: Começa com a história clínica e o exame físico. Quando sintomático, o paciente pode referir presença de uma massa na região anterior do pescoço, desconforto à deglutição e, em casos mais avançados, disfonia e falta de ar. Para o diagnóstico, é realizada uma ultrassonografia do pescoço, de modo a identificar um possível nódulo na tireoide. Dependendo de suas características, é feita a punção aspirativa do nódulo e o consequente diagnóstico do tumor. Geralmente, essa punção é classificada de acordo com a classificação de Bethesda (grau de suspeição). A depender do tamanho do tumor, outros exames podem ser necessários. → Prognóstico: • Carcinoma papilífero de tireoide: apresenta crescimento lento, baixo grau de malignidade e, de modo geral, bom prognóstico (cerca de 80% dos pacientes estão vivos 10 anos após o diagnóstico). O carcinoma papilífero é um processo essencialmente benigno nos adultos jovens, dificilmente levando pacientes abaixo dos 40 anos a óbito. Lesões multicêntricas são comuns e, por ocasião da apresentação, 25% dos pacientes Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes têm metástases cervicais (não estão relacionadas com pior prognóstico em indivíduos jovens), 20% têm invasão extratireoidiana e 5% apresentam metástases à distância, principalmente no pulmão. Casos de carcinoma papilífero com pior prognóstico incluem pacientes que apresentam idade mais avançada ao diagnóstico, presença de lesões aderentes às estruturas vizinhas, presença de metástases invasivas cervicais ou à distância e variantes celulares mais agressivas (células altas e esclerosante difusa); • Carcinoma folicular: pode apresentar metástases à distância, principalmente para pulmão e ossos, e raramente para linfonodos cervicais. Considera-se que a idade é o fator mais importante, apresentando melhor evolução os pacientes com idade ao diagnóstico menor que 45 anos. Tumores com alto grau de invasão dos vasos e da cápsula de tireoide têm pior prognóstico. Além disso, a presença de metástases também está associada a uma evolução pior; • Carcinoma indiferenciado ou anaplásico: forma mais agressiva e resistente, com crescimento rápido, invasão local precoce e prognóstico extremamente desfavorável. Quase todos os pacientes acometidos por carcinoma anaplásico morrem da doença. ENTENDER os tratamentos possíveis para lesões benignas e malignas na tireoide → Lesões benignas: • Acompanhamento regular, para controle do crescimento e do formato; • Cirurgia ou radiofrequência para nódulos benignos grandes, que causam desconforto, engasgo, alterações de voz e impactos estéticos; • Cirurgia, radiofrequência ou iodoterapia para nódulos benignos tóxicos, que podem produzir mais hormônio do que o necessário. Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes → Lesões malignas: • Câncer diferenciado da tireoide: cirurgia, seguida da ablação do tecido remanescente ou tratamento das metástases diferenciadas com 131I e terapêutica substitutiva com levotiroxina; •O objetivo da cirurgia é remover todo o tecido tumoral da região cervical e é o principal tratamento para quase todos os tipos de câncer de tireoide, com exceção do carcinoma indiferenciado; • Os principais tipos de cirurgia incluem a lobectomia, indicada para carcinomas diferenciados (papilífero ou folicular), em que o lobo contendo o câncer é removido, e a tireoidectomia, que pode ser total ou parcial. Após a tireoidectomia, o paciente precisa fazer reposição hormonal diariamente; • Tratamento pós-cirúrgico com radioiodo do carcinoma papilífero e folicular: permite a ablação dos remanescentes tireoidianos, destrói focos microscópicos de câncer e trata as metástases quando utilizado em altas doses; • Supressão com levotiroxina (L- T4): a terapia supressiva com L- T4 é importante, uma vez que o TSH estimula o crescimento dos carcinomas diferenciados de tireoide. ENTENDER o processo de metástase → A metástase é o processo pelo qual células cancerosas deixam o local de desenvolvimento primário do tumor e se instalam em sítios secundários e distantes de onde se iniciarem; → Para alcançarem outros órgãos, as vias mais comumente utilizadas pelas células tumorais são a hematogênica e a linfática; → As metástases são responsáveis por cerca de 90% da letalidade de cânceres; → O processo de metástase é estocástico e sequencial; → Células do tumor primário adquirem progressivamente características que Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes as fariam adquirir a capacidade de migrar pelo organismo, invadir a circulação sanguínea e/ou linfática, sobreviver em circulação, alojar-se em um território tecidual à distância do tumor primário, invadi-lo e proliferar; → Acredita-se que as metástases derivam de células cancerosas que escaparam da massa do tumor primário; → Todavia, nem todos os tumores são metastáticos e nem todas as células no interior dos tumores metastáticos são capazes de sofrer metástase; → De modo a superar os controles de crescimento homeostático, o ataque imunológico e as restrições ambientais, características como instabilidade genética e fenotípica são fundamentais para o desenvolvimento de células tumorais resistentes; → A cascata metastática é composta por várias etapas que devem ser concluídas por uma célula tumoral, de modo que seu nicho metastático seja atingido; → Essas etapas incluem mudanças na migração e propriedades de adesão célula-célula, degradação e invasão da membrana basal e da matriz extracelular, entrada/intravasamento na corrente sanguínea e sobrevida em seu interior, identificação de um órgão adequado no qual se estabelecer e extravasamento seguido pela invasão do órgão metastático; → A angiogênese no local alvo também é fundamental nesse processo; → Transição epitelial-mesenquimatosa (TEM) no desenvolvimento do câncer: • Desintegração da adesão célula- célula, com a perda de marcadores epiteliais e o ganho de marcadores mesenquimatosos; • Perda de polarização basoapical e aquisição de polarização frente- costas; • Remodelagem do citoesqueleto, com alterações na actina cortical e fibras de actina sob estresse; • Mobilidade aumentada; • Podem apresentar resistência à apoptose. → Remodelagem da membrana basal (MB) e matriz extracelular (MEC): Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes • Invasão e rompimento da membrana basal e da matriz extracelular que circunda as células tumorais; • Migração das células cancerosas da massa do tumor para o estroma do tecido conjuntivo reativo onde sofrem disseminação, atravessando a parede endotelial dos vasos linfáticos para a circulação linfática e sistêmica. → Intravasamento, resistência à apoptose, extravasamento e invasão secundária: • As células tumorais, após invadirem a MB epitelial e a MEC, podem entrar em contato com a microvascultura associada ao tumor; • Por meio da ação da integrina, as células tumorais podem interagir e atravessar as células endoteliais da MB, aderir e passar entre as células do endotélio vascular e, depois, entrar na circulação sistêmica; • As células metastáticas também devem escapar dos efetores imunológicos ou convocar células imunes/inflamatórias para ajuda-las a concluir a cascata metastática e resistir a turbulência dentro dos vasos (forças de cisalhamento hidrostáticas); • As células metastáticas também devem desenvolver mecanismos de resistência à apoptose; • As células tumorais podem, então, aderir, estimular a reação celular e passar através do endotélio microvascular, degradando a MB subjacente por meio da secreção de proteases e, em seguida, estabelecendo um tumor secundário em um novo local; • Fatores secretados por tumores primários podem promover, mesmo antes da chegada das células metastáticas, a migração de células progenitoras derivadas da medula óssea para futuros tecidos metastáticos (nichos pré- metastáticos), fornecendo “solo” promotor de crescimento para as células tumorais disseminadas e tropismo metastático local para um determinado tipo de tumor primário.
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