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Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 12: PATOLOGIAS OSTEOMETABÓLICAS 1 1. Introdução Os ossos são compostos de um tecido metabolicamente ativo com duas funções básicas para o organismo: uma mecânica e outra bioquímica. Em função disso e seguindo vários sistemas de controle, sofre um processo contínuo de renovação e remodelação. Essa atividade é conseqüência, em sua maior parte, da ação de dois tipos celulares principais, característicos do tecido ósseo: os osteoblastos e os osteoclastos. O processo de remodelação óssea se desenvolve com base em dois processos antagônicos, mas intimamente acoplados: a formação e a reabsorção ósseas. O acoplamento dos dois processos permite a renovação e a remodelação ósseas e é mantido em longo prazo por um complexo sistema de controle, que inclui hormônios e fatores locais. Uma série de condições, como idade, doenças osteometabólicas, mobilidade diminuída, ação de drogas, entre outras, pode alterar esse equilíbrio entre a formação e a reabsorção, levando ao predomínio de um sobre o outro. A anamnese bem feita, mais exame clínico cuidadoso, ainda são as peças mais importantes no diagnóstico. A partir dos dados levantados pelo clínico, são indicados os exames necessários para a confirmação diagnóstica. É desnecessário lembrar a economia de recursos que uma anamnese e um exame clínico podem trazer, especialmente numa área onde os testes diagnósticos são, muitas vezes, complexos e dispendiosos. Na última década nossos conhecimentos sobre fisiologia e patologia ósseas evoluíram de maneira considerável. Novas metodologias diagnósticas e novos esquemas terapêuticos, bem como o crescente acúmulo de conhecimentos sobre as patologias mais prevalentes e sua evolução na população, tornam a investigação laboratorial das doenças osteometabólicas um processo cada vez mais abrangente e complexo. 2. Osteoporose É uma doença óssea metabólica caracterizada por uma baixa densidade do osso que o predispõe a um maior risco de fraturas Não causa dor, exceto na condição de fratura A qualidade óssea é modulada pela microarquitetura, taxa de remodelação, número de microfraturas e grau de mineralização Massa óssea Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 12: PATOLOGIAS OSTEOMETABÓLICAS 2 Epidemiologia ❖ Doença afeta 200 milhões de mulheres mundialmente ❖ 1 em cada 3 mulheres com mais de 50 anos sofrerão fraturas osteoporóticas ❖ 1 em cada 5 homens com mais de 50 anos ❖ 10 milhões de brasileiros são afetados pela doença ❖ No Brasil, custa 1,2 bilhão de reais anualmente ❖ 31% deste montante está associado à perda da produtividade ❖ As despesas com hospitalização representam 234 milhões de reais e os custos cirúrgicos 162,6 milhões de reais Fatores de risco ❖ Idade avançada ❖ Fraturas prévias ❖ Fratura por trauma de pequena intensidade em parente de primeiro grau ❖ Baixo peso ❖ Tabagismo ❖ Corticoterapia >3 meses ❖ Déficit visual ❖ Déficit estrogênico <45 anos ❖ Descontinuação da terapia estrogênica ❖ Demência ❖ Baixa atividade física ❖ Quedas recentes ❖ Mobilidade deficitária ❖ Baixa ingesta de cálcio Causas secundárias ❖ Drogas ❖ Hipogonadismo ❖ Abuso de álcool ❖ Deficiência de vitamina D Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 12: PATOLOGIAS OSTEOMETABÓLICAS 3 ❖ Hiperparatireoidismo ❖ Hipertireoidismo ❖ Síndrome de má digestão ❖ Mieloma ❖ Hipercalciúria ❖ Deficiência de cálcio Diagnóstico – densitometria óssea ❖ Entre -1 e -2,5 DP no T-Score → Osteopenia ❖ Menor que -2,5 DP no T-Score → Osteoporose ❖ Indicado para indivíduos maiores que 60 anos a cada 2 anos Avaliação laboratorial ❖ Hemograma ❖ Função renal ❖ Cálcio sérico ❖ TSH ❖ T4 livre ❖ T3 ❖ Vitamina D – Variável pelo ciclo circadiano ❖ Clearence de creatinina ❖ Calciúria em 24 horas ❖ Testosterona livre e total ❖ Estrogênio e progesterona ❖ PTH ❖ Eletroforese de proteínas → Importante para mieloma múltiplo ❖ Fosfatase alcalina Tratamento ❖ Não farmacológico ➢ Boa nutrição geral ➢ Adequada ingesta de cálcio ➢ Adequado aporte de vitamina D → Exposição ao sol por 15 minutos e suplementação dietética ➢ Exercícios regulares ➢ Evitar tabaco e álcool ➢ Prevenção de quedas ❖ Farmacológico ➢ Cálcio e vitamina D3 ➢ Calcitonina ➢ Teriparatida→ Único capaz de formar osso; demais medicamentos impedem a reabsorção; apresenta como efeitos colaterais dor muscular, fraqueza e vertigem. ➢ Raloxifeno ➢ Bisfosfonatos → Alendonato; Risedronato; Ibandronato; Zolendronato Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 12: PATOLOGIAS OSTEOMETABÓLICAS 4 *Bisfosfonatos parenterais → Nos primeiros estudos, casos de fibrilação atrial grave foram mais frequentes no grupo tratado com ácido zoledrônico. Os estudos mais recentes não comprovaram essa associação; Aumento do risco de fibrilação atrial e febre *Bisfosfonatos orais → Estão associados a alterações gastrointestinais, inclusive náusea e até esofagite ➢ Estrógeno (SERM) → Os SERMs podem ter efeito antiestrogênico e piorar sintomas de fogachos. ➢ Ranelato de estrôncio → Aumenta o risco de trombose; contraindicado a pacientes com histórico de trombose venosa profunda, pois nos estudos controlados com placebo houve aumento da incidência anual de tromboembolismo venoso (TEV), incluindo embolia pulmonar; causa deste achado é desconhecida ➢ Denosumabe → O denosumabe pode ser utilizado na falha, intolerância ou contraindicação aos bisfosfonatos orais e em situações especiais em primeira linha de tratamento como em pacientes com disfunção renal; pode levar a rash cutâneo no local da administração da medicação; pode levar a celulite no local da administração da medicação; pode provocar hipocalcemia, portanto os níveis séricos do cálcio devem ser corrigidos antes do início do tratamento 3. Fratura do colo do fêmur Mulher Média de 75 anos Caucasianas Relação com osteoporose Dor inguinal Membro em rotação externa e encurtado Tratamento Conservador ❖ Dor ❖ Escaras ❖ Pneumonia e ITU ❖ Perda da independência ❖ Demência Osteossíntese → Fratura sem desvio Artroplastia → Fratura desviada 4. Doença de Paget Prevalência aumenta com a idade → Incomum antes dos 40 anos História familiar positiva Descendentes do norte europeu Doença crônica e progressiva do sistema esquelético Alteração no número e hiperatividade dos osteoclastos → Reabsorção Alteração primária no turnover ósseo Excessiva formação óssea → Osteoblastos Quatro fases (3 quentes e 1 fria) ❖ Intensa atividade osteoclástica ❖ Atividade osteoblástica desorganizada → Aumento da vascularização ❖ Redução da atividade osteoclástica com predomínio da formação óssea Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 12: PATOLOGIAS OSTEOMETABÓLICAS 5 ❖ Redução da atividade osteoblástica com pouca ou nenhuma atividade de remodelação Fase quente – fase mista – fase fria Quadro clínico ❖ Dor, edema e calor local com piora à noite ou ao repouso ❖ Crescimento ósseo → Cabeça aumenta de tamanho ❖ Deformidades → Arqueamento, cifose ❖ Fraturas patológicas ❖ Neuropatias compressivas → Coluna e surdez ❖ ICC → Hiperfluxo ósseo Diagnóstico ❖ Aumento sérico da fosfatase alcalina (atividade óssea de formação; especialmente na fase inicial) e hidroxiprolina ❖ Aumento da hidroxiprolina urinária ❖ Hipercalcemia por hiperparatireoidismo secundário em 10% dos casos ❖ Elevação de ácido úrico → Gota secundária ❖ Uso de métodos de imagem → Radiografia; cintilografia *Achados radiológicos: Deformação em cajado de pastor; osso de padrão disforme com aumento de tamanho (mosaico) Tratamento ❖ Bifosfonados → Padrão ouro ❖ Calcitonica subcutânea → Pouco usado ❖ Analgesia → Especialmentena fase quente ❖ AINE → Especialmente na fase quente ❖ Cirurgia → Fraturas; deformidades; osteoartrite 5. Tumor ósseo Mieloma múltiplo Metástase Lesões pseudotumorais Tumores benignos Tumores malignos 6. Mieloma múltiplo Tumor maligno primário do osso que se origina na medula óssea Malignidade primária mais comum do osso Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 12: PATOLOGIAS OSTEOMETABÓLICAS 6 Predomina nos homens 2:1 Incidências entre a quinta a sétima década de vida Deve ser incluído junto com metástase no diagnóstico diferencial de qualquer paciente com mais de quarenta anos com tumor ósseo Diagnóstico ❖ Radiografias → Múltiplas lesões osteolíticas em “saca-bocado”; na coluna podem ser observadas múltiplas fraturas por compressão ❖ Cintilografia → Frequentemente normal ou hipocaptante; a substituição do tecido normal pelo plasmocitoma diminui a captação regional; só é positiva em áreas em que ocorre neoformação reacional ❖ RNM → Lesões com baixo sinal em T1 e alto sinal em T2 ❖ Anemia ❖ Aumento de VHS ❖ Hipercalemia ❖ Mielograma → Plasmócitos com atipia celular (15% com um ou mais núcleos atípicos) ❖ Presença de proteínas anormais no sangue e na urina → Destaque para a proteína de Bence-Jones ❖ A eletroforese de proteínas fecha o diagnóstico a partir da identificação de um pico monoclonal de imunoglobulinas → Pico de IgG, depois IgA e, posteriormente, IgM; inversão na proporção entre a concentração de albumina Tratamento ❖ Quimioterapia é o principal → Hematologista ❖ Lesões ósseas sintomáticas respondem rapidamente à radioterapia ❖ Radioterapia nas lesões isoladas ❖ Prognóstico ruim ❖ Fixação profilática se existir o risco de fratura 7. Metástase óssea Êmbolos neoplásicos ou invasão de células neoplásicas que habitam tecidos vizinhos Em 15-30% dos casos o local primário é desconhecido Estadiamento identifica 85% das lesões A maioria da próstata e mama posteriormente, pulmão, rim, tireoide e trato gastrointestinal Nos pacientes em que se desconhece o sítio primário, as malignidades mais comuns são pulmão e rim É estimada a incidência de 50-80% de metástases ósseas na ocasião da morte de pacientes portadores de carcinoma Estadiamento → Busca pelo sítio primário ❖ História clínica e exame físico ❖ Exames de mama, próstata e tireoide ❖ Exames gerais → Hemograma; UR; CR; Na; K; Ca; T3; T4; TSH; PTH; AST; ALT; GGT; FA ❖ PSA ❖ Ca 125 ❖ Urina 1 ❖ Eletroforese de proteínas → Diagnóstico diferencial para mieloma ❖ Imagem → Radiografias locais; TC de tórax, abdome e pelve; cintilografia; PET-CT; RNM Tratamento ortopédico ❖ Evitar fraturas Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 12: PATOLOGIAS OSTEOMETABÓLICAS 7 ❖ Score de Mirels ➢ 4-7 pontos → Tratamento conservador ➢ 8 pontos → Avaliar características do doente ➢ 9-12 pontos → Cirúrgico 8. Lesões pseudotumorais Parece tumor, mas não é Cisto ósseo simples → Cavidade repleta de um líquido claro ou sanguinolento revestida por uma membrana de espessura variável As fraturas patológicas são comuns e costumam modificar as características macroscópicas e microscópicas das lesões Características clínicas ❖ Infância e adolescência ❖ Metástase proximal do úmero (50%), fêmur, tíbia próxima e distal ❖ Homes → 2:1 ❖ Tipicamente apresenta-se com dor; com ou sem fraturas ❖ Achados no exame Tratamento ❖ Acompanhamento → Clínico e radiográfico ❖ No caso de piora da dor ou risco aumentado de fratura por fragilidade indica-se a curetagem seguida por preenchimento com excerto autólogo ou homólogo ❖ Possibilidade de injeção local de corticosteroides após esvaziamento do conteúdo cístico com bons resultados → Técnica de Scaglietti (1976) 9. Tumores benignos Osteocondroma Encondroma Osteoma osteóide/ osteoblastoma Tumor de células gigantes → É tumor de osteoclasticos; possui caráter agressivo, necessitando intervenção cirúrgica Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 12: PATOLOGIAS OSTEOMETABÓLICAS 8 Tratamento ❖ Quimioterapia neoadjuvante ❖ Cirurgia → Ressecção ou amputação ❖ Quimioterapia adjuvante ❖ Possibilidade de radioterapia 10. Tumores malignos Osteossarcoma → Tumor formador de osso; destrói cortical; padrão diferente do osteocondroma; mais comum em jovens (<30 anos) Condrossarcoma → Evolução lenta; comum em idosos; não responde ao tratamento; intervenção cirurgia é a melhor opção Tumor de Ewing → Tumor mais medular de pequenas células; destrói cortical; típico de crianças (<8 anos); possui a cara da infecção (pegadinha) Tratamento ❖ Quimioterapia neoadjuvante ❖ Cirurgia → Ressecção ou amputação ❖ Quimioterapia adjuvante ❖ Possibilidade de radioterapia 11. Margem cirúrgica Intralesional → Plano de dissecção cirúrgica é dentro do tumor; pode ser descrito como redução de massa, pois deixa para trás tumor macroscópico; pode ser usado para lesão benigna assintomática Marginal → É obtida quando o plano de dissecção mais próximo passa através da pseudocápsula; usado para tratar lesões benignas e algumas malignidades de baixo grau; esta ressecção portanto deixa para trás a doença microscópica que pode levar a recorrência local Ampla → Obtida quando o plano de dissecção é o tecido normal; está opção constitui o objetivo da maioria dos procedimentos para malignidade de alto grau; é o tumor mais 3cm de tecido livre Radical → Obtida quando todos os compartimentos que contém o tumor são removidos em bloco; para tumores isso inclui a ressecção do osso todo; amputação Referências bibliográficas Aula de Dr. Davi Veiga (17/05/2021) Vieira, J. G. H. (2007). Diagnóstico laboratorial e monitoramento das doenças osteometabólicas. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, 43(2), 75-82.
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