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CASO CLÍNICO PACIENTE: RAIMUNDO, 58 ANOS, INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA DE ETIOLOGIA CHAGÁSICA. SINTOMAS ➢ Edema de membros inferiores; ➢ Ascite; ➢ Disúria; ➢ Noctúria; ➢ Dispneia; ➢ Astenia. O TRYPANOSSOMA CRUZI ➢ Protozoário. ➢ FORMAS: • Epimastigota – não se desenvolve e nem multiplica; • Tripmastigota: extracelular; • Amastigota: intracelular. ➢ Organela especial: cinetoplasto. ▪ Mitocôndria modificada com alto conteúdo de DNA. CICLO BIOLÓGICO ➢ Heteroxênico: multiplicação extracelular no vetor e intracelular no hospedeiro invertrabado (humano). CICLO: I. Tripomastigotas metacíclicos nas fezes e urina dos triatomíneos. ▪ Após hematofagia. II. Penetração dos tripomastigotas no local da picada e ação do sistema mononuclear fagocitário. III. Parasitose intracelular nas células do sistema mononuclear fagocítico (macrófagos). ▪ Internalização: adesão, interiorização e formação do vacúolo. IV. Formação dos amastigotas. V. Multiplicação por divisão binária simples longitudinal. VI. Diferenciação de amastigotas em tripomastigotas. VII. Tripomastigotas na corrente sanguínea. Podendo: ▪ Atingir outros tecidos e cumprir um novo ciclo celular; ▪ Destruição pelo sistema imunológico; ▪ Ingestão por triatomíneos – onde cumprirão o ciclo extracelular. ➢ FASES DE INTERNALIZAÇÃO NA CÉLULA HOSPEDEIRA: • ADESÃO CELULAR: reconhecimento celular. • INTERIORIZAÇÃO E FORMAÇÃO DO VACÚOLO PARASITÁRIO: Ca2+ no citoplasma - recrutamento e fusão dos lisossomos no sítio de adesão do tripomastigota (lisossoma dependente). Invaginação da membrana plasmática da célula hospedeira - fusão de lisossomos que passam a fazer parte da membrana do vacúolo parasitóforo (lisossoma independente). OBS: A fusão do lisossomo com o vacúolo é essencial para reter os tripomastigotas no interior da célula hospedeira. Caso não aconteça, o tripomastigota altamente móvel escapa da célula e não estabelece uma infeção produtiva. ➢ Dentro da célula hospedeira: i. As formas epimastigotas são destruídas no vacúolo parasitório, enquanto as tripomastigostas resistem às enzimas lisossômicas. ii. Após 2-8 horas da invasão, os tripomastigotas rompem a membrana do vacúolo e se desenvolvem em amastigotas no citoplasma (24 horas após a interiorização). iii. As amastigotas se multiplicam por divisão binária a cada 12 horas – 9 gerações – 540 parasitos. iv. Diferenciação em tripomastigotas. v. Célula hospedeira, repleta de parasitos, é rompida, liberando tripomastigotas e amastigotas que ainda não sofreram diferenciação. CICLO NOS MACRÓFAGOS: 48 a 72 h. CICLO EM CÉLULAS NÃO FAGOCÍTICAS: 4 a 5 dias. EPIDEMIOLOGIA ➢ T. Cruzi II: • Ciclo doméstico; • Infecção em homens; • Predominância no Brasil Central. TRANSMISSÃO ➢ VETOR: triatomíneos. ➢ TRANSMISSÃO CONGÊNITA: placenta (ninhos de amastigotas) – circulação fetal (tripomastigotas). ➢ TRANSMISSÃO ORAL: amamentação (fase aguda), ingestão de alimentos contaminados com fezes e urina de triatomíneos infectados (Amazônia – açaí). ➢ OUTROS: coito, transplante, transfusão sanguínea. FASE AGUDA ➢ Pode ser sintomática ou assintomática. ➢ Manifestações locais. ➢ SINAL DE ROMANÃ • Edema bipalpebral unilateral. • 4 a 10 dias após picada do barbeiro. • Regressão em 1 a 2 meses. • Linfonodos pré-auriculares, submandibulares e outros aumentando o volume e palpáveis. • Celulite do tecido gorduroso periorbitário e palpebral. • Presença de parasitos extra e intracelulares em abundância. ➢ Formação do complexo cutâneo- linfonodal: • Chagoma primário (qualquer parte do corpo). ➢ Linfadenite satélite (inchaço dos linfonodos). ➢ CHAGOMA DE INOCULAÇÃO: • Inflamação aguda no local de entrada do parasito (picada do barbeiro). ➢ MANIFESTAÇÕES GERAIS: • Febre; • Edema localizado; • Edema generalizado; • Poliadenia; • Hepatomegalia; • Esplenomegalia; • Insuficiência cardíaca; • Perturbações neurológicas. ➢ Morte súbita. PATOLOGIA DA FASE AGUDA I. Chagoma de inoculação (porta de entrada). II. T. Cruzi na forma tripomastigota pode parasitar qualquer célula. As mais frequentes são: ✓ Macrófagos; ✓ Células de Schwann; ✓ Micróglia; ✓ Fibroblastos; ✓ Células musculares lisas; ✓ Células musculares estriadas. *Durante a fase aguda, o macrófago é a célula com maior chance de adesão. III. Interiorização do parasito, formação da forma amastigota e multiplicação no citoplasma. IV. Degeneração da célula e liberação dos parasitas, juntamente com as organelas citoplasmáticas da célula hospedeira. V. Surgimento de uma inflamação aguda local (lise celular – DAMPS – e patógenos – PAMPS -). VI. Formação de imunidade adquirida na segunda semana. VII. Os parasitos remanescentes que não são detidos no foco inflamatório inicial irão parasitar qualquer órgão (aleatório). EFEITOS ➢ O coração pode ser lesado intensamente. ➢ Grande parasitismo. ➢ Ninhos de amastigotas nos(as): ▪ Células musculares; ▪ Histiócitos (macrófagos); ▪ Fibroblastos; ▪ Células da glia; ▪ Neurônios dos plexos nervosos. ➢ Miocardite devido o rompimento dos ninhos. ▪ Lise celular. ▪ Formação de um mosaico antigênico estimulador da resposta imune humoral e celular. ➢ Formação de exsudato inflamatório de células mononucleadas: ▪ Linfócitos; ▪ Macrófagos; ▪ Granulócitos: neutrófilos e eosinófilos (menos). ➢ Focos inflamatórios proporcionais à presença de ninhos de parasitos. ➢ A inflamação de início focal pode acometer um órgão inteiro, tornando- se difusa e grave, podendo levar à morte. • Miocardite chagásica aguda. • Meningoencefalite. ➢ Efeitos macroscópicos: • Hidropericárdio; • Cardiomegalia; • Coração globoso, flácido e muito congesto; • Endocardite; • Miocardite; • Pericardite. FASE CRÔNICA ASSINTOMÁTICA ➢ 10 a 30 anos após a fase aguda. ➢ Forma indeterminada. ➢ Características: • Positividade de exames sorológicos e parasitológicos. • Ausência de sinais e sintomas. • ECG normal (depende). • Coração, esôfago e cólon normais (depende). ➢ Lesões semelhantes à da fase aguda (bem menos intensas). ➢ Miocardite discreta. ➢ Intensa desenervação do SNA. ➢ Presença de anticorpos líticos. FASE CRONICA SINTOMÁTICA ➢ Mudança na fisionomia anatômica do miocárdio e do tubo digestivo. ➢ Reação imunológica intensa, provocando danos nesses órgãos mediante processo inflamatório. ➢ O parasito se encontra extremamente escasso nessa fase. FORMA CARDÍACA: CARDIOPATIA CHAGÁSICA CRÔNICA SINTOMÁTICA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA (FATO CLÍNICO PRINCIPAL). ➢ Arritmia. ➢ Cardiomegalia. ➢ Redução da massa muscular cardíaca: ✓ Substituição por áreas de fibrose. ➢ Destruição do SNA simpático e parassimpático; ➢ Exsudato (edema com alto teor de proteínas) inflamatório em atividade. ➢ Aneurisma de ponta: • Lesão no miocárdio do ápice ventricular, causando perda de miócitos e herniação do endocárdio – coração dilatado. ➢ Retardamento da circulação. ➢ Hipóxia. FENÔMENOS TROMBOEMBÓLICOS ➢ 76% dos casos. ➢ Trombos que formam êmbolos que podem originar infartos no coração, pulmões, rins, baço, encéfalo, causando morte súbita. COMPROMETIMENTO DO SNA ➢ Regulador das contrações cardíacas. • Nodo sinusal. • Nodo atrioventricular. • Feixe de His. ➢ Perturbações: • Formação dos estímulos (arritmia e extrasístoles). • Propagação (bloqueio atrioverntricular de grau variável, bloqueio do ramo direito do feixe de His – patognomônico). ➢ Sintomas: • Arritmias; • Extrassístoles; • Bloqueio atrioventricular de grau variável; • Bloqueio do ramo direito do feixe de His (patognomônico) – BRADICARDIA!!➢ Mecanismos de compensação cardíacos se tornam incapazes de superar as deficiências de sua força de contração. ➢ Surgimento do quadro de ICC. • Dispnéia de esforço; • Insônia; • Congestão visceral; • Edema dos membros inferiores; • Dispnéia contínua; • Anasarca; • Morte; • Cardiomegalia intensa. PATOLOGIA DA FASE CRÔNICA CARDÍACA CARACTERÍSTICAS DO CORAÇÃO: ➢ Cardiomegalia (aumento em volume e em peso). ➢ Congestão com espessamentos nodulares branco-peroláceos no epicárdio ao longo das coronárias. ➢ Hipertrofia das paredes ventriculares e atriais; ➢ Dilatação dos anéis das válvulas tricúspide e mitral. ➢ Presença de lesão verticular ou aneurisma de ponta. HISTOLOGICAMENTE: ➢ Miocardite crônica fibrosante em focos sistematizados; • Intenso exsudato de células mononucleadas; • Formação de colágeno (fibrose) que disseca e altera os feixes de fibras musculares. ➢ Fibrose difusa intersticial entre os interfascicular; ➢ Despopulação neuronal grave – danos severos em nervos e gânglios; ➢ Danos severos nos miócitos; ➢ Raros ninhos de amastigotas. IMUNIDADE NA DOENÇA DE CHAGAS ➢ A infecção por T. Cruzi mobiliza mecanismos da imunidade inata e adquirida que controlam a infecção. ➢ No entanto, esses mecanismos não eliminam o parasita, o que resulta em: • Baixa parasitemia; • Persistente parasitismo tecidual. ➢ As lesões causadas pela resposta imune prolongada devido à permanência do parasita no tecido são provedoras da patogênese de diversas formas clínicas da doença. ETAPAS 1. Ao atingir a corrente sanguínea, o T. Cruzi se torna um alvo da via do complemento. ▪ Sistema do complemento: proteínas solúveis que interagem com estruturas do patógeno e ativam uma cascata de proteases que eliminam microrganismos invasores. ▪ Via clássica, alternativa e lectina: i. Independentemente da via escolhida, há a produção (por essas vias) da C3 convertase. ii. Depois, é produzida uma convertase C5 que conduz à formação do complexo de ataque à membrana (MAC). 2. As formas tripomastigotas são capazes de bloquear a via do complemento através de moléculas, como: • Proteína reguladora do complemento (gp160 kDA) – inibe a formação da C3 convertase – impede a formação do complexo de ataque à membrana (MAC). 3. Receptores da imunidade inata - receptores do tipo toll, TLR - promovem reconhecimento de PAMPS. 4. A ligação de moléculas de T. Cruzi nos TLRs induz a produção de citocinas pró-inflamatórias, principalmente TNF- alfa (ação na NK) e IL-12(ação no Th1) que induzirão a produção de IFN-gama e o aumento do poder fagocítico do macrófago (produção de formas de oxigênio e nitrogênio reativos). • IL-12: feita por células dendríticas leva o desenvolvimento do linfócito Th1, o qual produz IFN- gama. 5. Estabelecimento da imunidade inata mediada por células e a produção de novos anticorpos (estabelecimento de uma imunidade protetora). 6. Ativação de linfócitos T mediado pela inflamação presente e ativação de linfócitos B na produção de imunoglobulinas (ação da imunidade humoral). IMUNIDADE HUMORAL ▪ 1 a 2 semanas pós-infecção: IgM e IgG precoces. ▪ Quinta semana: IgM e IgG – resistência ao aumento da parasitemia. ▪ Queda da parasitemia. ▪ Após 3 meses ou mais: IgM – desaparece na fase crônica. ▪ IgG aumentam por mais uns meses e decrescem lentamente até nível estável – detecção na fase crônica. • Altos níveis de IgM em cardiopatia chagásica crônica. • Altos níveis de IgE e anti-T.Cruzi na forma cardíaca. - O mecanismo LMCo (lise mediada por complemento) ocupa um papel fundamental na manutenção da parasitemia em níveis reduzidos– ação de anticorpos líticos IgG1 e IgG2 (atuam apenas sobre tripomastigotas vivos; presentes em infecções ativas). - Anticorpos antigal (reconhecem galactosil alfa- 1-3-galactose) exercem atividade lítica independente da presença do complemento. Elevam-se na fase aguda e permanecem elevados na crônica. IMUNIDADE CELULAR ➢ O parasita aciona as células NK: • Produção de IFN-gama; • Citotóxica. ➢ Linfócitos TCD-4 e TCD-8 também produzem IFN-gama (estágios posteriores). ➢ Liberação de IL-12 e TNF-alfa pelos macrófagos. • IL-12: diferenciação de linfócitos TCD4+ em Th1(libera IFN-gama); ação na célula NK que libera mais IFN-gama. • IFN-gama aumenta o poder fagocítico do macrófago. • TNF-alfa é produzida pelos macrófagos, induzindo o recrutamento de neutrófilos e ageindo de forma autócrina na liberação de IL-1 (síntese de proteínas da fase aguda no fígado). ➢ O macrófago produz IL-10 que age na formação de linfócitos Th2 e induz a forma M2 do macrófago na remediação tecidual. ➢ FORMA INDETERMINADA DE CHAGAS: muita IL-10. ➢ FORMA CARDÍACA: alta produção de TNF-alfa e IFN-gama em relação à IL- 10. ➢ Os linfócitos TCD4+ são mais importantes na proteção contra T.Cruzi na fase aguda, devido à produção de IFN-gama e pelo estímulo de produção de anticorpos líticos (destruição de parasitas intra e extracel.). ➢ As células TCD8+ (citotóxicos) têm mais importância na forma crônica da infecção e na gênese das lesões, promovendo as manifestações cardíacas e intestinais da doença, pois causam: • Citólise; • Fibrose tecidual.
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