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1 Louyse Jerônimo de Morais Trauma de tórax Referência: aula do prof. Isaac Newton Introdução Os traumas cavitários são extremamente importantes, porque são áreas de exposição muito grande no trauma e há órgãos frequentemente acometidos. Faz parte dos cenários de politrauma, muitas vezes, o trauma de tórax. Isso, em algumas situações, é bastante complicado, principalmente no cenário de politrauma, porque tem lesões em outros órgãos, que muitas vezes não são do tórax. Dessa forma, esses diagnósticos podem ser mascarados, assim como a recíproca é verdadeira – politrauma em que se foca no trauma de abdome, mas na verdade o paciente está com trauma torácico. Quando vem fechar diagnóstico, está um pouco tarde. Os cenários de trauma, de uma forma geral, qualquer que seja ele, envolve dois tipos de atendimento: • Avaliação inicial – ABC primário: para qualquer trauma, em que boa parte das vezes é realizado pelo generalista mesmo ou por um cirurgião geral que esteja no plantão. • Avaliação secundária: quando o paciente vai ser tratado dentro das suas respectivas especialidades, muitas vezes com especialista tratando as complicações. Trauma aberto vs. fechado O tórax é uma cavidade que envolve vários órgãos de vários sistemas – respiratório [pulmão, traqueia e brônquios], digestório [esôfago] e cardiovascular [coração e grandes vasos]. Então, o potencial de lesão é extremamente alto. Os traumas de cavidade, de uma forma geral, seja o trauma de tórax, de abdome ou crânio, apresentam algumas classificações. A primeira é em relação à contiguidade da cavidade com o meio externo: • Trauma de tórax aberto: quando há solução de continuidade da cavidade de tórax com o meio ambiente. Ex.: arma branca, arma de fogo, empalamentos, lacerações. • Trauma fechado: não há comunicação com o meio externo. Ex.: contusões. Os traumas fechados, normalmente, implicam uma maior dificuldade diagnóstica. Quando tem comunicação, é mais fácil de raciocinar e suspeitar da lesão. Se fechado, o diagnóstico é mais difícil e o mecanismo de lesão envolve uma dispersão de energia cinética muito grande. Tem-se, habitualmente, lesões complexas e distintas. É uma lesão difusa, normalmente mais grave. Além disso, também há lesões por desaceleramento, então o princípio da lesão no trauma fechado é a contusão. Essas lesões são muito irregulares, o que implica mais complicação. Mecanismos do trauma torácico • Trauma direto: lesões bem delimitadas – fraturas de costela, esterno. • Compressão: lesões difusas mal delimitadas – geralmente por esmagamento. • Desaceleração: contusão [gera inflamação do tecido, seja miocárdico ou pulmonar – edema de pulmão], ruptura em pontos de fixação [rotura da aorta; no cérebro, pode ter lesão axonal difusa]. • Penetrante: mais comum dos traumas abertos. A cavidade vai ser invadida de forma para dentro. o Arma branca: causa lesões mais regulares. o Arma de fogo: causa lesões difusas. o Iatrogenias de procedimentos Manifestações clínica É uma afecção, basicamente, do sistema respiratório. Nesse contexto, a maioria das lesões vai acometer esse sistema e/ou a sua mecânica. O principal 2 Louyse Jerônimo de Morais quadro é de insuficiência respiratória, mas os sinais encontrados vão depender do órgão lesado e da gravidade da lesão. • Insuficiência respiratória • Enfisema subcutâneo: fala a favor de extravasamento de ar. • Choque • Pneumotórax • Hemotórax • Tamponamento cardíaco • Contusão pulmonar • Lesão de grandes vasos A insuficiência respiratória, habitualmente, vai estar presente. A exceção, talvez, seja os traumas de esôfago, em que esta não é a principal manifestação clínica. Avaliação inicial – ABCDE • A: avaliação e manutenção da via aérea; estabilização de coluna cervical. • B: ventilação adequada. • C: circulação, volemia, controle de hemorragias. • D: avaliação neurológica rápida. • E: exposição e controle de temperatura. Principais lesões torácicas 1. Fraturas No que se refere às fraturas, estas podem ocorrer nas costelas e no esterno. No caso das costelas, as fraturas podem ser simples ou complexas, sendo que, neste último caso, pode acontecer uma entidade denominada “tórax instável”. • Fratura simples de costelas: fratura de apenas um ponto da costela. Por mais que seja doloroso para o paciente, isso não altera a dinâmica ventilatória. Na maioria das vezes, o tratamento é conservador. • Afundamento torácico [tórax instável]: quando ocorre fratura em mais de uma costela e em mais de um local; normalmente ocorre em um cenário de trauma muito grave. Se a fratura for de mais de uma costela e mais de um local, altera-se a dinâmica ventilatória. É uma situação grave, em que toda vez que o paciente for inspirar, como isso ocorre por pressão negativa, o local fraturado vai afundar, comprimindo ainda mais o pulmão. Além do mais, a fratura pode ser em galho verde, em que não há ruptura total do osso [basicamente um “trinco”], mas pode ter fraturas em que a costela rompe completamente, lesa-se o plexo venoso que passa na borda inferior da costela, gerando lesão vascular associada. A costela pode, inclusive, perfurar a pleura, causando pneumotórax. Não é incomum, principalmente nas fraturas de múltiplas costelas, mesmo que simples, haver presença de pneumotórax ou até hemotórax associado. • Esterno: é um osso extremamente forte, pois a sua função é proteger o que está por baixo, que é o coração. Quando tem fratura do osso esterno, é porque a intensidade do trauma foi muito grande, então há uma chance alta de se ter lesão de órgãos maciços, como coração e sistema traqueobrônquico. Apesar de ser uma fratura rara, ela é uma fratura de alta morbimortalidade, primeiro pela possibilidade de passar despercebido [incidência radiológica específica é necessária] e segundo pela possiblidade de lesão de outros órgãos associados. Como se dá diagnóstico? Como é uma lesão óssea, o diagnóstico parte da clínica – história de trauma de tórax, com dor ventilatório-dependente muito grande e algum sinal de equimose ou instabilidade do tórax. A confirmação é feita pela radiografia de tórax. Na imagem a seguir, temos fraturas de costelas, inclusive com cavalgamento delas. As setas apontam para soluções de continuidade nos arcos torácicos. É válido ressaltar que, apesar de serem múltiplas faturas, são consideradas simples. Indicador de trauma de energia cinética muito grande: fratura de primeiros arcos costais [primeiro e segundo arcos costais], porque esses arcos estão protegidos pela clavícula, então quando vem ter lesão, é porque a intensidade do trauma foi muito grande. 3 Louyse Jerônimo de Morais Fraturas simples de costela Além disso, pode haver lesões associadas. Veja abaixo que há espículas de osso, as quais podem perfurar o pulmão. O pulmão direito está mais branco, o que indica hemorragia intralveolar – lesão por esmagamento / afundamento. Além da lesão das costelas, tem compressão do pulmão, bem como ar no subcutâneo, isto é, enfisema subcutâneo. Afundamento A seguir, temos uma fratura de esterno que é muito difícil de se diagnosticar apenas com radiografia de tórax. Desconfia por conta do mecanismo do trauma, porque normalmente é trauma direto [paciente arremessado contra a direção, quando está dirigindo, ou trauma direto no tórax]. O paciente vem com história de muita dor e, ao exame, há crepitação. O melhor diagnóstico é através de tomografia de tórax. Na imagem a seguir, a fratura ocorreu na junção do manúbrio com o corpo do esterno, com abaulamento importante deste osso. É uma fratura grave e, diferentemente das costelas, sempre iremos levar para a cirurgia. Fratura de esterno Tratamento • Fratura simples de costela: normalmente nãoprecisa de cirurgia, mas necessita de analgesia vigorosa, porque dói muito – o plexo vascular e neurológico passa na borda inferior da costela. A analgesia é importante também para que o paciente possa respirar e não causar atelectasia. Muitas vezes, necessita até de bloqueio intercostal para controlar a dor. • Tórax instável: como a dinâmica ventilatória está também comprometida, vai necessitar de analgesia vigorosa e ventilação mecânica – com pressão positiva. Em algumas situações, muito raramente, precisa de cirurgia para fixar essas costelas. É claro que se o paciente, na vigência de um quadro de fratura de costela, tiver hemotórax ou pneumotórax associado, vai precisar de drenagem torácica. • Esterno: analgesia vigorosa e fixação cirúrgica. Pela intensidade do trauma, pode haver lesões de outros órgãos, necessitando também do tratamento delas. 2. Contusão pulmonar • 30 – 75% dos traumas • Edema intersticial • Hemorragia 4 Louyse Jerônimo de Morais Normalmente é um trauma indireto na parede torácica, em que a energia cinética de dissipa para o pulmão. Isso gera lesão por inflamação, por conta da ruptura de pequenos vasos, extravasamento de sangue para o espaço alveolar e edema de alvéolos, culminando em SARA [síndrome da angústia respiratória aguda]. É uma coisa parecida com as lesões do COVID. Vai ser caracterizado por uma hemorragia intralveolar e edema intersticial. Não há nada que possa ser corrigido cirurgicamente, necessitando apenas de tratamento clínico. Habitualmente, o diagnóstico é feito em paciente com trauma de tórax fechado, que evolui com insuficiência respiratória. O murmúrio vesicular vai estar presente, mas vai haver crepitações no[s] lado[s] acometido[s]. O raio x de tórax mostra um infiltrado e o diagnóstico mais específico é feito com tomografia, com padrão de vidro fosco. O tratamento é o da SARA, ou seja, ventilação mecânica e tratar as complicações que vão surgir, porque se tem sangue dentro do alvéolo, isso é meio de cultura, então o paciente vai ter pneumonia. Ademais, as lesões de edema podem ser substituídas por fibrose e o paciente pode começar a perder parênquima pulmonar. 3. Pneumotórax • Ar na cavidade pleural, gerando atelectasia e compressão estruturas torácicas. Ocorre quando a cavidade pleural é lesada, gerando extravasamento de ar do pulmão para a pleura ou do meio externo para a pleura. Então, haverá o espaço pleural sendo ocupado por ar. Assim, o pulmão colaba, para que esse ar preencha a cavidade pleural, consequentemente, ocorre atelectasia associada. O pneumotórax pode ser classificado de duas formas: em relação ao mecanismo – aberto e fechado, e em relação à repercussão hemodinâmica – simples e hipertensivo. • Fechado: não há comunicação do meio externo para a cavidade pleural. • Aberto: exposição e comunicação da cavidade pleural com o ambiente. O paciente vai se apresentar com insuficiência respiratória. Trata-se de um indivíduo que teve manipulação torácica, punção venosa central ou está em ventilação mecânica que começa a piorar, manifestando- se com insuficiência respiratória. • Sinais e sintomas: dispneia, dor pleurítica, enfisema subcutâneo [se tiver ar extravasando para a pele]. • Exame físico: assimetria de ausculta, FTV diminuído, percussão vai mostrar hipertimpanismo do tórax. Caso o paciente esteja grave, vai ter sinais de gravidade, como hipotensão e sinais de choque. Com relação à repercussão clínica, o pneumotórax pode ser simples ou hipertensivo. O hipertensivo é aquele pneumotórax que provoca pressão muito grande no espaço pleural, empurrando os órgãos do mediastino para o espaço contrário, causando grave instabilidade hemodinâmica. No simples, ainda não há desvio do mediastino, então há sinais de insuficiência respiratória, mas não de instabilidade hemodinâmica. O pneumotórax hipertensivo é uma emergência e tem que ser resolvido rapidamente. Diagnóstico É dado pelo quadro clínico e por raio X, que vai mostrar uma área de hipertransparência, ou seja, área preta sem ver vasculatura. Veja, na imagem abaixo, do lado esquerdo, que o mediastino está centrado, o que nos indica que é um pneumotórax simples. Já no caso acima, do lado direito, observa-se tudo branco no pulmão esquerdo, com tórax muito maior, espaços intercostais bem maiores e mediastino desviado. A pressão no tórax está tão grande que empurra o mediastino para o outro lado. Nesses casos, em geral, o paciente está tão grave que não dá tempo de fazer radiografia de tórax. Por fim, é válido ressaltar que não necessariamente precisa haver colabamento total do pulmão – na maioria das vezes isso não ocorre. Na radiografia a seguir, temos retificação da cúpula e nível hidroaéreo, com espaço intercostal esquerdo velado. Isso ocorre porque tem líquido – o ar empurra o líquido para baixo. 5 Louyse Jerônimo de Morais O pulmão murchou um pouco, mas não completamente, então se vê o delineamento do resto de pulmão ainda expandido [setas]. Consegue-se ver vasculatura em uma região, mas não na outra. Como não causa pressão grande no tórax, o mediastino ainda está centralizado. Calcula-se a área do pneumotórax e, se ele ocupar até 30% da área torácica, não necessariamente precisa drenar. Conduta Pode ser desde uma conduta expectativa até a necessidade de uma descompressão de urgência. Quando não faz nada? Quando paciente está eupneico, sem insuficiência respiratória e o pneumotórax ocupa menos de 30% da cavidade pleural. Isso é comum quando é por iatrogenia, em punção venosa central, por exemplo, em que, por acidente, perfura-se a pleura. • Hipertensivo: descompressão de urgência, drenagem fechada. Pode fazer, inicialmente, uma descompressão torácica, através de um jelco calibroso no tórax para que o ar saia e o mediastino volte para o lugar. Depois, faz drenagem assim que possível. Isso se chama toracocentese, a qual pode ser realizada no quinto espaço intercostal, a nível da linha axilar média, ou no segundo espaço intercostal, a nível da linha hemiclavicular [chance maior de lesar algo]. Quinto espaço intercostal – linha axilar média Segundo espaço intercostal – linha hemiclavicular • Aberto: curativo de 3 pontas, drenagem fechada. No pneumotórax aberto, por outro lado, há uma solução de continuidade do meio ambiente com a cavidade pleural. Isso normalmente ocorre nas lacerações - facada. Nessa situação, o paciente continua respirando por pressão negativa, então, quando ele enche o peito, o ar vem pelo buraco e entra, empurrando o pulmão que está ali. Inicialmente, de urgência, é preciso evitar que o ar entre. Em uma lesão dessa, também lesa até o parênquima pulmonar, então o ar continua saindo do pulmão para a pleura também. Nesse contexto, a segunda coisa a se fazer é evitar que o ar acumule no espaço pleural. Inicialmente, portanto, deve-se fazer curativo de três pontas. O curativo de três pontas é feito para funcionar como um bolsinho de camisa, então quando o paciente respirar por pressão negativa, o bolsinho vai colabar, evitando que o ar de fora entre dentro do tórax. Em contrapartida, quando o paciente expirar, o ar do espaço pleural vai sair por essa abertura, evitando que o paciente faça um pneumotórax hipertensivo. Drenagem torácica A drenagem torácica deve ser feita com a maior técnica asséptica possível. Deve-se fazer no quinto espaço 6 Louyse Jerônimo de Morais intercostal, na linha axilar média [mais ou menos no espaço abaixo do mamilo]. Começa infiltrando com anestésico no espaço em que vai cortar, um espaço para cima e outro para baixo. Quando vai infiltrar, toca na costela, recua um pouco a agulha e tenta infiltrar na borda inferior do osso, que é onde vai estar passando o feixe vásculo-nervoso.Vai incisar a pele [incisão de uns 2 cm mais ou menos], divulsionar o tecido e, com uma pinça, tentar perfurar a musculatura e a pleura, até cair na cavidade torácica. O ideal é fazer a incisão em uma altura, entrar com a pinça e perfurar a cavidade torácica em um espaço intercostal acima, para isso servir como um mecanismo de válvula. Se o buraco e o dreno ficarem no mesmo espaço intercostal, cria-se uma fístula – um caminho. Prende-se o dreno com a pinça e a insere novamente junto com o dreno ali dentro. Em seguida, conecta o sistema de drenagem a um reservatório que contém água dentro. O nível do dreno fica abaixo do nível da água, pois o tubo deve ficar coberto por ela, a fim de que, quando o paciente respirar, o ar não suba para dentro do tórax. 4. Hemotórax Refere-se ao acúmulo de sangue na pleura, presente em até 70% dos traumas de tórax. Quando maior que 1500 ml, diz-se que é maciço. Como vamos ver, é uma situação cirúrgica de urgência. Pode acontecer por lesão dos intercostais, mas também por lesão de coisa mais grave, como de ramos pulmonares, da aorta etc. • Diagnóstico: clínica, raio x de tórax, tomografia • Clínica: dispneia, IRPA, macicez ou submacicez à percussão, murmúrio reduzido ou abolido, sinais de gravidade. O diagnóstico é feito pela clínica de um paciente com insuficiência respiratória e história de trauma ou manipulação do tórax. Isso é importante porque muitas vezes o paciente chega instável hemodinamicamente, com lesão de outros órgãos, e você pode pensar que é por conta disso, mas na verdade é por hemotórax. Assim como o acúmulo de ar, o acúmulo de sangue vai comprimir o pulmão, gerando atelectasia associada. Como é um trauma, dificilmente se consegue fazer raio-X com o paciente em pé, mas no hidrotórax, por exemplo, observa-se esse sinal denominado “curva de Damoiseau”, ou seja, o líquido vai respeitar ao máximo as incisuras pulmonares. O que se vê, na maioria das vezes, é um borramento difuso, porque o raio-X, na maioria das vezes, é feito com o paciente deitado. Quando o tórax está todo branco, chamamos de “velamento”. Conduta • Drenagem: > 300 ml • Toracotomia o Drenagem > 1500 ml; o Drenagem > 300 – 500 ml/h em 3-4h; e/ou o Sinal radiológico de coágulos. A conduta, na maioria das vezes, vai ser drenagem, porque quando o líquido vem aparecer na radiografia de tórax, é porque tem pelo menos 300 ml. Na vigência do cenário de trauma, que é onde vamos ver o hemotórax mais frequentemente, normalmente vamos drenar o hemotórax. Quando drena o tórax e se retira mais que 1500 ml, o paciente tem que ir para uma toracotomia de urgência para ver o que está sangrando. Da mesma forma, tal medida também é indicada na vigência de drenagem de sangue que continua a sair ao longo de horas. 7 Louyse Jerônimo de Morais Se, ao drenar o tórax e o esvaziar, mas, na imagem radiológica, há sinais de que há coágulos, a toracotomia exploradora também está indicada. Normalmente, não se formam coágulos no tórax. Isso permite, inclusive, que ao fazer a drenagem em um trauma torácico com cavidade pleural íntegra, possa reinfundir o sangue drenado no paciente, desde que seja um ferimento limpo. Por outro lado, se passar muitos dias com sangue dentro da cavidade, vai acabar coagulando. Sendo assim, na vigência de sinais de coágulo no tórax, tem que fazer toracotomia para retira-los, uma vez que eles normalmente comprimem o pulmão, gerando atelectasia. Muitas vezes, tem que fazer decorticação – retirar pedaços do pulmão que não estão mais expandindo, porque atelectasiaram definitivamente. 5. Trauma traqueobrônquico Normalmente é um problema grave, podendo haver trauma desde a traqueia [cervical e torácica] até os brônquios. A depender disso, o tratamento pode ser cirúrgico de urgência. O trauma na traqueia cervical, acontece, muitas vezes, de forma iatrogênica. Por exemplo, quando vai intubar um paciente e é uma intubação difícil, pode perfurar a traqueia [relativamente comum] ou nos traumas cervicais, principalmente os transfixantes [facada no tórax, tentativa de suicídio cortando o pescoço]. Esse paciente se apresenta em franca insuficiência respiratória, muitas vezes com traqueia exposta. Na maioria das vezes, precisa fazer traqueostomia de urgência. Não pode intubar paciente com traqueia lacerada, porque pode terminar de romper esse órgão. Caso não seja transfixante e não corte mais de 50% da circunferência da traqueia, pode fazer broncoscopia para ver o grau de lesão antes de fazer alguma coisa. TRAQUEIA CERVICAL TRAQUEIA TORÁCICA E BRÔNQUIOS CAUSA Trauma cervical Desaceleração Transfixante Enfisema grave CLÍNICA Cornagem, estridor, IRPA IRPA Crepitação de anéis Dreno com grande escape CONDUTA Broncoscopia se possível Broncoscopia se possível Traqueostomia Intubação seletiva Além disso, pode ter lesão da árvore brônquica mais distal, isto é, da carina para baixo ou mesmo da laringe para baixo – traqueia torácica. Nessa situação, as lesões são por desaceleração [pontos de fixação geram ruptura dessas estruturas] ou por perfurações do tórax [bala, faca]. Esses traumas, tanto de brônquios quanto de traqueia torácica, vão ser caracterizadas por enfisema muito grave. O paciente vai ficar cheio de ar na pele – enfisema extenso subcutâneo indica lesão de traqueia torácica ou brônquios. Se lesão unilateral, pode seletivar a intubação para poder tratar o paciente. O diagnóstico vai ser pela história. No exame clínico, é um paciente com insuficiência respiratória importante, com enfisema difuso. O ar sai dissecando a pele e pode dissecar até o rosto. Quando palpa o paciente, palpa o ar. No raio-X, vê muito ar fora da pleura. Ele vai dissecando pele e fibras musculares, vendo bem direitinho essas fibras e o ar fora delimitando bem a imagem. Enfisema subcutâneo Tem que fazer drenagem torácica no lado da lesão, muitas vezes bilateralmente. Vai ter que intubar e drenar o tórax até o especialista corrigir a lesão. Palpação do ar sob a pele 6. Trauma de esôfago É um trauma muito importante, porque boa parte é causado por iatrogenia. É uma lesão silenciosa, que tem uma repercussão catastrófica – mediastinite. Lembre-se que o esôfago passa no mediastino posterior e é lesado, muitas vezes, na manipulação do órgão. Portanto, é o paciente que vai passar sonda nasogástrica ou nasoentérica, que vai fazer endoscopia 8 Louyse Jerônimo de Morais digestiva ou um eco transesofágico, por exemplo. Muitas vezes, a lesão é puntiforme, então passa desapercebido e só vai notar quando o paciente desenvolve esofagite. Quando for trauma transfixante, é fácil de pensar. Sempre que o paciente tiver ferimentos transfixantes de pescoço, ele precisa fazer broncoscopia e EDA, para avaliar lesão de traqueia cervical e de esôfago. Além da causa interna [iatrogênica] e externa [transfixante], pode ocorrer de forma silenciosa. Nesse contexto, seria um paciente que teve manipulação do esôfago ou se engasgou e ficou entalado, melhorou, mas depois começa a evoluir com odinofagia e disfagia, até começar com sinais de infecção sistêmica, com febre, taquicardia e sepse. Esse paciente está com mediastinite. O diagnóstico pode ser feito com esofagograma, o qual mostra extravasamento de contraste. Se o paciente já estiver com mediastinite, faz diagnóstico com TC de tórax. Há alta taxa de mortalidade. Trata com ATB de largo espectro e, muitas vezes, desbridamento do mediastino e drenagem de abscesso que comumente se forma. Muitas vezes, tem que excluir o esôfago do TGI, então é feita uma esofagostomia – expõe esôfago pelo pescoço, para deixar drenando, e para a dieta do paciente [parenteral] para permitir que a lesão cicatrize. Algumas vezes, arrisca até perder o esôfago. Esofagograma• Diagnóstico: dor após sondagem, transfixantes do mediastino, dor, febre, sepse. o Transfixantes do mediastino: esofagograma, endoscopia. • Conduta o Agudo: toracotomia e correção + jejum oral o Tardio: ATB + desbridamento + jejum oral. 7. Trauma cardíaco O trauma cardíaco, obviamente, é muito grave. Primeiro porque o coração é muito protegido – camada muscular, arcabouço torácico, esterno e pericárdio. Portanto, qualquer que seja o trauma, indica intensidade muito grande, o que revela possibilidade alta de ter trauma de outros órgãos além do coração. O trauma miocárdico pode ser: • Penetrante: ruptura do coração, por algo que entrou no tórax, ou explosão de câmara cardíaca. o Ex.: arma branca, arma de fogo, empalamento. • Contuso: normalmente indireto no coração, ou seja, há um trauma na parede torácica e a energia cinética de dissipa, lesando o miocárdio, o que leva à hemorragia e edema do órgão. o Ex.: impacto direto, compressão, desaceleração. o Diagnóstico: ICC, arritmias, choque sem causa aparente. O trauma cardíaco contuso é relativamente frequente – 60 a 100% de autópsias de pacientes que morreram em acidentes têm contusão miocárdica. Como ele vai se manifestar por hemorragia e inflamação no músculo cardíaco, vai causar inflamação e necrose miocárdica, assim como ocorre no infarto. Nesse sentido, um trauma contuso se comporta exatamente como um infarto, porque vai ter contusão, edema, falta de sangue no miocárdio e necrose. Então, a clínica acaba sendo semelhante. Dentre os traumas contusos, um que é bastante comum é o chamado “commotio cordis” – quando alguma coisa atinge muito violentamente o tórax, ocorrendo dispersão de energia cinética para o miocárdio. Commotio cordis: comum em jovens praticantes de esportes; manifesta-se por arritmia ventricular após trauma cardíaco fechado. A contusão miocárdica é um grande problema, porque, imagine um cara em um cenário de politrauma, arremessado contra o volante. Ele vai ter um monte de coisa. Como pensar que há contusão miocárdica? Ele vai 9 Louyse Jerônimo de Morais se apresentar com sinais de insuficiência cardíaca [por conta da necrose muscular], aparecimento de arritmias, sobretudo as ventriculares, ou pode estar em choque sem causa aparente [sem pneumotórax, hemotórax ou lesão de órgão abdominal]. Nesta última situação, portanto, provavelmente a causa é choque cardiogênico. Diante disso, a dosagem de enzimas cardíacas vai estar elevada – troponina, CK-MB, pró-BNP. No ECG, vemos sinais de isquemia e arritmias ventriculares. O ecocardiograma transtorácico e transesofágico, por sua vez, vai mostrar lesões estruturais e disfunção miocárdica – sinais de disfunção ventricular segmentar. Se tiver extravasamento de sangue para o pericárdio, o paciente vai ter tamponamento. Outros exames que devem ser solicitados são o FAST e a TC de tórax. • Condução na contusão cardíaca: oxigenação, analgesia, reposição volêmica, controle de arritmia ventricular, controle de arritmia supraventricular, DVA, ECMO. A condução deve ser feita tratando a dor [analgesia], melhorando a oxigenação e tratando arritmias que o paciente possa desenvolver, seja com droga [amiodarona] ou até terapias elétricas, se fizer taquiarritmias com instabilidade. Trauma cardíaco grave É aquele que apresenta lesão de uma das câmaras cardíacas. Geralmente está presente no cenário de politrauma. Para ter trauma cardíaco grande, com ruptura ou perfuração de câmara, é preciso estar em um cenário de politrauma ou lesão por arma, seja tiro ou facada na região do precórdio. O trauma cardíaco grave vai se apresentar, na maioria das vezes, com tamponamento, que nada mais é do que o esvaziamento de sangue de dentro das câmaras cardíacas para o pericárdio, causando compressão do coração. O diagnóstico é feito pela tríade de Beck – instabilidade hemodinâmica, gerando 1) hipotensão, 2) abafamento de bulhas cardíacas e 3) turgência jugular – como o sangue não consegue desaguar no átrio, as jugulares ficam cheias. A depender da situação, pode fazer pericardiocentese – punção do pericárdio, para esvaziar e dar espaço para o coração bater, até conseguir abrir e corrigir a alteração. Nos traumas cardíacos em que há ruptura da parede – normalmente em traumas fechados, ocorre compressão do esterno contra o coração e deste último contra a coluna. Isso ocasiona ruptura de uma das câmaras. Normalmente, nessa situação, a câmara que mais rompe por compressão é o ventrículo direito, porque ele possui paredes musculares finas e está em relação direta com o esterno. Esse paciente vai ter extravasamento de muito sangue para o pericárdio, com alta chance de morrer. Como as câmaras direitas apresentam pressão muito baixa, são capazes de tamponar rapidamente o sangramento. Por outro lado, em uma lesão no ventrículo esquerdo, o ferimento não para de sangrar sozinho, porque tem alta pressão e ejeta com força. O diagnóstico é dado de urgência, isto é, não dá tempo de fazer exame complementar. É um paciente com trauma grave que está tamponado, em eminência de parada cardíaca ou até já em parada cardíaca na emergência. A conduta é destamponar o paciente, fazendo pericardiocentese, se for o caso, ou toracotomia e correção da lesão. Toracotomia na sala de emergência A correção deve ser feita por um cirurgião cardíaco. A chance de fazer isso na urgência é 0%. Jamais vai conseguir corrigir uma lesão dessa em situações ótimas. O que acontece, na maioria das vezes, é fazer toracotomia de urgência, tentando descomprimir o pericárdio e rafiar a lesão que seja possível rafiar. É claro que a chance de um doente desse sobreviver é muito pequena. Esse cara devia ter um ferimento por arma de fogo e o cirurgião usou um método muito rápido e criativo para fechar a lesão – sonda de foley, insuflou e puxou. Uma outra situação seria uma perfuração no coração durante um procedimento, como cateterismo ou ablação. Nesses casos, pode fazer toracotomia. É um ferimento pequeno, que fica sangrando, o paciente tampona e faz PCR. A conduta é destamponar, pois se o ferimento for apenas puntiforme, só o fato de destamponar já resolve. Em contrapartida, quando é 10 Louyse Jerônimo de Morais ruptura de coronária durante angioplastia, tem que abrir e suturar coronária ou até mesmo fazer ponte. 8. Trauma fechado de aorta torácica O trauma fechado da aorta torácica é a causa mais comum de hemopericárdio [a primeira é dissecção aórtica]. A mortalidade é altíssima [70 a 80%]. É a segunda causa de morte mais frequente no trauma contuso e, mesmo que o paciente consiga chegar no hospital, a mortalidade em 4 meses é de 90%. Então, a chance de sobreviver é mínima. O mecanismo normalmente é por desaceleração, porque temos um ponto fixo da aorta. Na vida intrauterina, temos o ducto arterioso, que é o que mantém o fluxo para o feto. Ao nascer, o ducto se fecha e se transforma em ligamento arterioso, que é um ponto de fixação da aorta. Quando há desaceleração, a aorta vem para frente, rodando, mas fica presa a esse ponto, então ela rasga ou se rompe completamente nesse local. É um paciente que chega com instabilidade hemodinâmica grave na emergência, podendo ter sinais de hemotórax. No raio-X, se der tempo fazer, vai ter alargamento de mediastino, mas normalmente chega muito grave e não dá tempo. Quando descomprimir hemotórax, vai sair mais de 1500 ml, o que indica toracotomia, que vai mostrar a aorta rompida. Alargamento de mediastino Se o paciente der a sorte de não ter rompimento total de todas as camadas da aorta [romper apenas íntima e média, mas a adventícia sustentar], a chance de sobrevivência é maior e pode fazer alguma coisa. O tratamento pode ser cirúrgico de emergência. Na toracotomia, resseca parte daaorta e coloca um tubo de Dacron, substituindo o vaso, mas, se o serviço dispor, coloca endoprótese ou faz tratamento percutâneo, colocando stent recobrindo o local de ruptura. A mortalidade é muito alta e a chance de chegar vivo é menor que 20%.
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