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Preparo pré-operatório- da cirurgia à urgência

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1 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP 
Preparo pré-operatório – da cirurgia à urgência 
Introdução 
Um bom preparo pré-operatório é fundamental para sucesso 
de qualquer cirurgia. Neste sentido, temos que essa avaliação 
é imprescindível a fim de identificar e quantificar a gravidade 
de uma doença associada capaz de trazer prejuízo à cirurgia 
e à evolução pós-operatória. Precisamos fazer uma 
anamnese exame físico bem feitos, além de solicitar alguns 
exames complementares. A seguir, deve-se tratar uma 
conduta que minimizem a morbimortalidade perioperatória, 
ou seja, período intra-operatório até 48 horas pós-operatório e 
pós-operatória tardia (após 48 horas até 30 dias após a 
cirurgia). 
Risco Anestésico cirúrgico ou Risco cirúrgico 
O estresse fisiológico determinado pela cirurgia e pela 
anestesia traz riscos aos pacientes e quanto maior este risco, 
maior a probabilidade de complicações, neste sentido, é 
fundamental estimar e minimizar o risco anestésico-cirúrgico. 
Nesse contexto, faremos 4 perguntas: 
- O risco anestésico-cirúrgico está acima da média para a 
cirurgia proposta? 
- Quais são os exames necessários para estimar com precisão 
esse risco? 
- A cirurgia deve ser adiada, modificada ou contraindicada? 
- Quais as ações que devem ser implementadas para 
minimizar o risco? 
 
Para estimar o risco anestésico-cirúrgico devemos ter como 
base escores desenvolvimentos por diversos estudos. 
Risco anestésico (ASA): 
Durante sua realização são levados em consideração o 
estado físico do paciente e a presença ou não de 
morbidades. Embora seja utilizada de forma rotineira, é 
extremamente subjetivo e também não é específica para um 
determinado órgão do paciente. 
 
Risco cardiovascular: 
O risco cardiovascular representa a probabilidade do 
paciente apresentar eventos como IAM, parada cardíaca 
não fatal, BAVT e morte cardíaca. Nesse contexto, termos o 
Índice de risco cardíaco para procedimentos não cardíacos 
e o índice de risco cardíaco reviso ou índice de Lee. 
 
 
 
2 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP 
Risco pulmonar: 
As complicações pulmonares perioperatória ocorrem com 
frequência, neste sentido, existem algumas recomendações: 
- Todos os pacientes que vão se submeter a cirurgias não 
cardíacas devem ser avaliados para possibilidade de 
complicações pulmonares; 
 
- Pacientes submetidos aos seguintes procedimentos devem 
ser considerados de risco para complicações pulmonares, 
sendo eles: 
 Cirurgias de emergência ou procedimentos 
prolongados (> 3 horas); 
 Cirurgia de reparo de aneurisma de aorta 
abdominal; 
 Cirurgia torácica; 
 Neurocirurgia; 
 Cirurgia de cabeça e pescoço. 
- Paciente em alto risco para complicações pulmonares 
devem receber assistência da fisioterapia. A lém disso, o uso 
de cateter nasogástrico é altamente recomendado para 
condições como náuseas, vômitos ou distensão abdominal 
sintomática; 
- Espirometria pré-operatória de rotina, assim como 
radiografia de tórax são procedimentos que não parecem 
estimar o risco de complicações pós-operatórias, mas são 
apropriadas para pacientes com asma ou DPOC; 
- Procedimentos como monitorização hemodinâmica invasiva 
e modalidades de suporte nutricional não devem ser 
indicados com intuito de reduzir a taxa de complicações 
pulmonares pós-operatórias. 
Além disso, no preparo pré-operatório de cirurgias eletivas de 
pacientes com risco para complicações respiratórias 
devemos: 
- Orientar sobre cessa o tabagismo por aproximadamente 8 
semanas antes da cirurgia; 
- Asmáticos e DPOC devem receber glicocorticoides e 
broncodilatadores no período pré e pós-operatório; 
- Pneumopatias infecciosas devem ser tratadas antes da 
cirurgia. 
Exames pré-operatórios 
Os exames complementares deverão ser solicitados em casos 
selecionados. Neste contexto temos que: 
Quando solicitar e quais exames devem ser solicitados? 
- Cirurgia cardíaca ou torácica: nestes casos devemos 
solicitar: 
 ECG; 
 Hemograma e plaquetas; 
 Eletrólitos; 
 Creatinina; 
 Ureia; 
 TP e TTPA; 
 Radiografia de tórax. 
- Cirurgia vascular: 
 ECG; 
 Hemograma e plaquetas; 
 Eletrólitos; 
 Creatinina e ureia; 
 Glicemia. 
- Cirurgias intraperitoneais: 
 ECG; 
 Hemograma e plaquetas; 
 Eletrólitos; 
 Ureia e creatinina; 
 Glicemia; 
 Provas de função hepática  opcional. 
- Cirurgias com perda esperada de mais de 2 L de sangue ou 
cirurgias intracranianas: 
 ECG; 
 Hemograma; 
 Creatinina e ureia; 
 Glicemia; 
 TP, TTPA; 
 Tempo de sangramento. 
- Cirurgias ortopédicas: 
 Hemograma e plaquetas; 
 Eletrólitos; 
 Creatinina e ureia; 
 Glicemia; 
 Urinocultura e Bacterioscopia pelo gram da Urina. 
 
3 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP 
- Ressecção transuretral da próstata (RTU) ou histerectomia: 
 Hemograma e plaquetas; 
 Eletrólitos; 
 Ureia e creatinina; 
 Glicemia; 
Em pacientes sem comorbidades e que vão se submeter a 
procedimentos de baixo risco, muitas vezes não necessitamos 
de exames complementares. 
 
Considerações pré-operatórias adicionais 
Medicamentos: 
Na avaliação pré-operatória é fundamental ter 
conhecimento do uso dos medicamentos pelo paciente. 
- Anticoagulantes 
 Varfarina: devem ser suspensos cerca de 5 dias antes 
de cirurgias eletivas com RNI realizado no pré-
operatório imediato. 
 RNI < 1,5: permite a cirurgia; 
 Contudo, em pacientes que possuam alto 
risco tromboembólico, como presença de 
próteses cardíacas, história recente de TEP 
ou embolia arterial, devemos manter até o 
mais próximo possível da cirurgia. 
 Após interrupção do anticoagulante, o uso 
de Heparina não fracionada deve ser 
iniciada em bomba de infusão continua e 
mantida até 6 horas antes da cirurgia; 
 Em cirurgias emergenciais o plasma fresco 
congelado deve ser infundido na dose 15-
20 ml/kg para elevar a atividade dos 
fatores de coagulação. 
 Heparina de baixo peso molecular: caso esteja 
usando em dose anticoagulante a droga deve ser 
suspensa 24 horas antes da cirurgia, sendo reiniciada 
dentro de 12-24 horas pós-cirúrgico (se 
procedimentos com poucos riscos de sangramento). 
Se cirurgias com alto risco de sangramento o ideal é 
que no pós-operatório a heparina de baixo peso 
seja prescrita em uma dose menor por alguns dias. 
 Rivaroxabana: é uma droga que devemos 
suspender cerca de 2-3 dias antes do procedimento, 
com reinicio no pós-operatório assim que a 
hemostasia adequada for obtida. 
- Antiagregantes plaquetários: 
 Aspirina: caso não se encaixe nas condições abaixo, 
o AAS deve ser suspenso 7-10 dias antes do 
procedimento cirúrgico. 
 Endarterectomia de carótida: deve ser 
continuada em baixas doses (75-100 
mg/dia) durante todo o perioperatório em 
pacientes portadores de doença 
isquêmica miocárdica; 
 AAS e outras drogas antiplaquetárias 
devem ser continuadas, se possível, em 
pacientes com stent coronário ou em 
doentes que apresentam eventos recentes, 
tais como IAM, SCA e AVC; 
 Nos portadores de DAP que se submeterão 
a cirurgias vasculares, o AAS deve ser 
continuado; 
 Para outros pacientes que utilizem AAS 
como prevenção secundária os riscos e 
benefícios devem ser avaliados pelo 
cirurgião, cardiologista e neurologista. 
- AINES: devem ser suspensos por um período de 1- 3 dias nos 
pré-operatório; 
- Anti-hipertensivos: 
 IECA/BRA: devem ser suspensos na manhã da 
cirurgia, devido risco de hipotensão; 
 BCC, BB e agonistas alfa-2 centrais devem ser 
mantidos até a manhã da cirurgia; 
- Antidiabéticos orais e insulinas: 
 Hipoglicemiantes orais devem ser suspensos no dia 
da cirurgia, ou seja, sua última dose deve ser 
administrada na noite anterior ao procedimento. 
- Antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da 
serotonina (ISRS): 
 Deve-se continuar estas medicações por todo 
período perioperatório, com exceção das 
neurocirurgias e usoconcomitante de terapia de 
duplo bloqueio plaquetário, uma vez que os ISRS 
interferem na agregação plaquetária, aumentando 
o risco de sangramento. 
- Estrógeno, Tamoxifeno e agentes antiosteoporose: 
 Em cirurgias de alto risco tromboembólico deve-se 
suspender 4 semanas antes do procedimento. 
OBS: Medicamentos que devem ser mantidos até o dia da 
cirurgia: estatinas, broncodilatadores, inibidores dos 
leucotrienos, cardiotônicos, anticonvulsivantes, 
glicocorticoides, Levotiroxina e drogas antitireoidianas. 
Tricotomia e preparo da pele: 
A tricotomia aumenta a taxa de infecção do sitio cirúrgico, 
principalmente se for feita na noite anterior à cirurgia, sendo 
assim, o melhor momento para realizar é imediatamente 
antes da cirurgia e com uso de máquinas elétricas. 
Idealmente, na véspera da cirurgia devemos orientar o 
paciente sobre uma boa higiene, banho com soluções 
degermantes antissépticas, levando, em especial a região 
que será feita a incisão. 
Cateterismo: 
A aspiração gástrica pré-operatória deve ser realizada em 
pacientes que apresentam condições associadas a 
esvaziamento gástrico prejudicado: estenose pilórica, 
 
4 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP 
distensão por suboclusão ou oclusão intestinal e cirurgias de 
emergência. 
O cateterismo vesical só deve ser indicado quando o 
paciente necessita de monitorização de perfusão tecidual, 
além de cirurgias pélvicas e de vias urinárias. 
Antibioticoprofilaxia: 
Tem como objetivo diminuir a probabilidade de determinado 
paciente vir a desenvolver infecção do sitio cirúrgico. Quanto 
maior o grau de contaminação, maior o risco desta 
complicação. 
Para decidir se existe ou não a necessidade de usar ATB, 
devemos classificar a cirurgia quanto a seu grau de 
contaminação. 
 
- Pacientes sujeitos a risco de infecção do sítio cirúrgico ou 
aqueles com baixo risco, porém alta morbidez e mortalidade: 
se beneficiam com o uso profilático de ATB. 
- As cirurgias classe I: não precisam de Antibioticoprofilaxia, 
todavia, devem ser usadas em cirurgias ortopédicas, cirurgias 
que envolvem a incisão de osso, cirurgias cardíacas, 
neurocirurgias e cirurgias de grandes vasos abdominais e 
periféricos; 
 Cefalosporina de 1ª geração, principalmente 
Cefalozina. 
- As cirurgias de classe II e classe III: deve-se utilizar o 
antibioticoprofilático. 
 Cefalosporina de 1ª geração, principalmente 
Cefalozina; 
 A associação de fluoroquinolonas e metronidazol, 
Cefalozina e metronizadol também são 
recomendadas. 
- As cirurgias de classe IV não necessitam de profilaxia e sim 
de terapia antibiótica. 
- Doses: 
 A primeira dose é realizada durante a indução 
anestésica ou um pouco antes; 
 Segunda dose é administrada em um intervalo que 
corresponde 2x a meia-vida da droga em questão. 
- Interrupção da Antibioticoprofilaxia: 
 Ao término da cirurgia, o ATB pode ser interrompido 
ou estendido, de modo que na maioria dos casos 
não há vantagens para prolongar o uso. Contudo, 
existem cirurgias que necessitam de profilaxia 
prolongada por até 24 horas de pós-operatório, 
como cirurgias cardíacas, neurocirurgias, cirurgias 
vasculares, cirurgias de cabeça e pescoço e 
procedimentos ortopédicos. 
Avaliação nutricional: 
Uma correta avaliação nutricional faz parte do preparo pré-
operatório adequado. 
- Histórico de perda de peso; 
- História de vômitos repetidos, disfagia, hiporexia ou anorexia. 
No exame físico devemos avaliar atrofia de músculos, perda 
da bola de Bichat, caquexia e sinais de edema. Bem como 
realizar peso, IMC, dobra cutânea e circunferência muscular 
da região mediana do braço. 
Em pacientes com perda ponderal significativa a nutrição 
enteral é importante, porém necessita de pelo menos 4 
semanas para alcançar seu objetivo. 
Avaliação hematológica: 
Na ausência de perda hemorrágica aguda, a anemia se 
desenvolve de forma lenta e uma adaptação é esperada: o 
aumento do volume plasmático (anemia normovolêmica). 
Neste sentido, precisamos fazer transfusão pré-operatória 
caso: 
 HB <6 g/dL; 
 HB entre 6-10 na presença de doença isquêmica do 
miocárdio ou doença cerebrovascular; 
 HB entre 6-10 em procedimentos cirúrgicos que 
acompanham de uma perda de mais de 30% da 
volemia. 
Importante salientar que uma trombocitopenia <100.000/mm³ 
impede a realização de cirurgias oftalmológicas e 
neurocirurgias e <50.000/mm³ impede qualquer cirurgia. 
Além disso, é importante identificar pacientes que são 
propensos à doença tromboembólica como: idade, tipo de 
procedimento, TEP prévio, câncer, obesidade, presença de 
veias varicosas, DII, Síndrome nefrótica, gravidez e uso de 
estrogênio.

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