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LFG - Direito Civil - Prof. Pablo.doc (1)

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“A derrota começa na mente”
Direito Civil
Professor : Pablo Stolze
Site: 
www.pablostolze.com.br
novodireitocivil.com.br
e-mail: pablostolze@terra.com.br
25/01/2011 (noite)
PERSONALIDADE JURÍDICA
Conceito - Aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na órbita do Direito, é a qualidade para ser sujeito de direito. (vide art. 1º, CC)
Pessoa Física ou Natural
Em que momento a pessoa física ou natural adquire personalidade jurídica? 
Resposta - Aparentemente a resposta encontra-se na primeira parte do art. 2° do código civil brasileiro – a personalidade da pessoa começa do nascimento com vida todavia, a própria concepção de nascimento com vida já inspira cuidados, devendo ser entendida como o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório do recém nascido, independentemente da sua aparência física, em respeito ao principio da dignidade da pessoa humana (em sentido contrário o art. 30 do código da Espanha exige forma humana e tempo mínimo de sobrevivência). 
Natureza Jurídica do Nascituro e Teorias Explicativas 
Segundo Limongi França, o Nascituro é aquele Ente já concebido, com vida intrauterina, mas ainda não nascido. 
Obs: Não devo confundir nascituro com natimorto e com concepturo . O Natimorto é aquele nascido morto e que nos termos do Enunciado 1 da primeira jornada do Direito Civil, gozaria de proteção quanto ao nome, imagem e sepultura. 
O Concepturo é também chamado de Prole Eventual: trata-se daquele que nem ainda foi concebido (ver art. 1799, inciso I, do CC) . 
A questão atinente à Personalidade Jurídica do nascituro é altamente controvertida na doutrina, havendo três teorias explicativas fundamentais: 
Teoria Natalista: Sustentada por grande parte da doutrina brasileira (Eduardo Espinola, Silvio Rodrigues, Vicente Ráo), aponta no sentido de que a personalidade jurídica somente é adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não deve tecnicamente ser considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito. Obs: A leitura da ADI 3510 (Ação Direta de Inconstitucionalidade), referente à Lei de Biossegurança, reforça a teoria natalista, embora esta matéria ainda não esteja pacificada. 
Teoria da Personalidade Condicional (Serpa Lopes): Para esta teoria, o nascituro gozaria de direitos personalíssimos desde a concepção (ex: direito a vida, direito à proteção pré-natal) , mas, somente consolidaria a sua personalidade para efeitos patrimoniais sob a condição de nascer com vida. 
Teoria Concepcionista: Defendida desde Teixeira de Freitas, passando por Clóvis Beviláqua e chegando a modernos autores como Silmara Chinelato, sustenta que o nascituro teria personalidade jurídica desde a concepção, inclusive para efeitos patrimoniais. 
 Obs: Se perguntarem na prova, qual é a melhor teoria: em conclusão, observamos que a temática pertinente à natureza jurídica do nascituro é altamente controvertida, parecendo-nos ser ainda muito atual o pensamente do Clóvis Bevilaqua nos “Comentários ao Código Civil dos Estados Unidos do Brasil” (Ed. Rio, 1975”, pg. 178), segundo o qual, aparentemente o codificador adota a teoria natalista por ser mais prática, mas, em diversos pontos experimenta a influência concepcionista, reconhecendo ao nascituro direitos como se fosse uma pessoa (veja o material de apoio, quadro esquemático de direitos do nascituro) 
Obs: O nascituro, segundo alguns julgados no Brasil, que reforçaram a lei 11804/2008, teria direito aos alimentos (alimentos gravídicos). Vale observar, ainda, que o STJ admitiu indenização por dano moral sofrido pelo nascituro (RESP. 399028/SP)
CAPACIDADE
- Quando se fala em capacidade, dois conceitos devem ser devidamente enfrentados: a capacidade de direito e a capacidade de fato. 
- Capacidade de Direito é uma capacidade genérica que qualquer pessoa tem. 
- Capacidade de Fato traduz a aptidão para pessoalmente praticar atos da vida civil, o que nem toda pessoa tem, diante das situações de incapacidade absoluta ou relativa (art. 3° e 4° do CC). 
Obs: 
- Segundo Orlando Gomes, a capacidade de direito confunde-se com personalidade, pois toda pessoa tem. 
- Qdo uma pessoa reúne as duas formas de capacidade (de direito e de fato) fala-se que ela tem a chamada capacidade civil plena (geralmente se dá quando a pessoa atinge os 18 anos). 
- Não posso confundir a noção de capacidade com o conceito de legitimidade. No dizer de Calmon de Passos, a legitimidade traduziria a pertinência subjetiva para a prática de determinado ato, ou seja, uma pessoa pode ser plenamente capaz, mas faltar-lhe legitimidade para a prática de um ato específico (ex: - Dois irmãos maiores e capazes não podem casar entre si, pois não há legitimidade para a prática deste ato (CC, art. 1521, IV) /Meu exemplo: Um ascendente é genericamente capaz, porém só estará legitimado a vender a um descendente se o seu cônjuge e os demais descendentes expressamente consentirem (CC, art. 496 ))
 
Incapacidade Absoluta : 
- Está prevista no art. 3° do CC: 
 I - menores de 16 anos (menores impúberes);
 II- os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
 III- os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade (ex: - uma pessoa sofre um acidente de transito e está em coma em um hospital; - uma intoxicação fortuita (beber um refrigerante sem saber que há ali uma droga que a deixa completamente alucinada.))
Obs:
- Em Processo Civil, estuda-se o procedimento de Interdição (arts. 1177 a 1186 do CPC) por meio do qual é aferida a incapacidade, nomeando-se ao incapaz um curador.
- Uma vez interditado o incapaz, qualquer ato que venha a praticar sem o seu representante, mesmo que em momento de lucidez, é inválido. 
- A despeito da nossa omissão legislativa (o que não havia na redação original do art. 503 do código da França), a nossa doutrina, por inspiração italiana (Orlando Gomes), afirma que o ato praticado pelo incapaz, ainda que não interditado, poderá ser impugnado, em havendo a concorrência de três elementos: I- a incapacidade, II- o prejuízo ao incapaz; III- a má-fé da outra parte (má-fé esta que pode ser circunstancialmente detectada). 
- O surdo-mudo incapaz de manifestar sua vontade, posto não tenha tratamento explícito no art. 3°, implicitamente poderá ser considerado absolutamente incapaz, conforme o inciso III do art. 3°. 
- A ausência, conforme veremos em tópico próprio, é considerada como causa de morte presumida. 
Incapacidade Relativa: 
- Art. 4° do CC :
	- Os maiores de 16 e menores de 18 anos (menores púberes);
	- Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido (Obs: Se a embriagues, a toxicomania e a deficiência mental reduzirem totalmente o discernimento, a incapacidade será absoluta) ; 
	- os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
	- os pródigos 
Parágrafo Único - A capacidade dos índios será regulada por Lei Especial (Lei 6001/73, art. 8°- “ São nulos os atos praticados entre o índio não integrado e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar competente.” ) 
*obs: 
- o pródigo padece de grave desvio comportamental, por gastar imoderadamente o seu patrimônio, podendo reduzir-se à miséria; 
- um dos elementos que pode levar à prodigalidade é o vício em jogo; 
- a proteção jurídica do pródigo, que é considerado incapaz, razão pela qual o seu curador deverá assisti-lo em atos de conteúdo patrimonial (art. 1782 CC), busca inspiração na teoria da proteção jurídica do patrimônio mínimo , desenvolvida por Luiz Edson Fachin. Segundo tal teoria, na perspectiva da dignidade da pessoa humana, as normas civis devem sempre resguardar um mínimo de patrimônio para que cada indivíduo tenha vida digna. 
- o curador do pródigo, vale lembrar, deverá manifestar-se previamente, na habilitação paracasamento, quanto ao regime de bens adotado.
Questões sobre capacidade: 
O que se entende por benefício de restituição (“restitutio in integrum”)?
	Restitutio in integrum – restituição integração (tradução da letra da palavra)
	Segundo a doutrina de Clóvis Bevilaqua, o benefício de restituição era conferido aos incapazes para que pudessem invalidar negócio jurídico celebrado com as observâncias da lei, simplesmente por alegarem prejuízo. O código velho vedava este beneficio dada a insegurança jurídica e, embora o novo código não seja explícito, entende-se que a vedação continua. 
Obs: No material de apoio ver comentários ao artigo 119 
- Sabendo-se que a maioridade civil fora reduzida dos 21 para os 18 anos, houve impacto no Direito de Família e Previdenciário?
Ex: Implicaria o cancelamento de benefícios previdenciários pagos até os 21 anos de idade sob o argumento que o beneficiário agora é maior aos 18 anos ? 
No âmbito previdenciário, a redução da maioridade civil para os 18 anos não implica o cancelamento de pagamento de auxílio , salvo exceções da própria lei previdenciária, sobretudo pelo fato de que é a própria lei especial que deve prever o limite do pagamento (Enunciado 3 da 1° jornada de Direito Civil e Nota SAJ n. 42/2003)
Obs: No REsp 1. 074.181/PB, entendeu o STJ ser inviável a prorrogação de Benefício Previdenciário, além do limite da lei especial, sob alegação de que o beneficiário ainda não atingiu os 24 anos ou não concluiu os estudos ( o que se pode prorrogar é pensão alimentícia, baseado no Direito de Família, a qual não se confunde com Benefício Previdenciário.) 
- A idade avançada (senilidade) é causa de incapacidade civil? 
Resposta: O simples fato da idade avançada não é causa de incapacidade civil
*Obs: A Lei 12.344 de 09 de dezembro de 2010 aumentou para 70 anos a idade a partir da qual se torna obrigatório o regime de separação de bens (antes a idade era de 60 anos). Porém isso não é um modelo de incapacidade civil. 
 01/02/2011 (manhã)
EMANCIPAÇÃO
Obs: esse assunto cai muito em prova!!!!
Questão: A pessoa atinge a maioridade civil no primeiro instante do dia do seu aniversário ou deve-se completar 24h do seu natalício? 
Washington de Barros Monteiro observava que a maioridade seria atingida no primeiro instante do dia do natalício. 
→Conceito:
A Emancipação, instituto tb encontrado em outros sistemas do mundo (a exemplo do art. 133 do cód. de Portugal), regulado no art. 5º do Cód. Civil, poderá ser , segundo a doutrina, de 3 espécies:
	- Emancipação Voluntária (art. 5 parágrafo único, inciso I, 1° parte)
	A Emancipação Voluntária é aquela concedida por ato dos pais (ou por um deles na falta do outro), mediante instrumento público, em caráter irrevogável, e desde que o menor tenha pelo menos 16 anos completos. 
Obs: A guarda unilateral ou exclusiva de um dos pais, não lhe confere legitimidade para, sozinho, realizar o ato emancipatório, sobretudo porque o Poder Familiar de ambos os pais será extinto. 
	A Doutrina Brasileira (Silvio Venosa) na linha de entendimento do próprio Supremo Tribunal Federal (RTJ 62/108, RT 494/92) já assentou entendimento no sentido de que a Emancipação Voluntária concedida pelos pais não afasta a sua responsabilidade civil (responsabilidade civil dos pais) até que o emancipado complete 18 anos de idade. 
	
- Emancipação Judicial ( art. 5, parágrafo único, inciso I, 2° parte)
- Por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos. 
- Na emancipação judicial, o menor está sob tutela, sendo a mesma concedida pelo juiz, desde que o menor tenha 16 anos completos, ouvindo-se o tutor. 
- Menores são colocados sob tutela qdo os pais estão mortos, destituídos do poder familiar, etc.
- Qdo o menor está sob tutela, quem emancipa é o juiz de direito. 
- Emancipação Legal ( art. 5, parágrafo único, incisos II a V) 
A Emancipação Legal é aquela que decorre diretamente da lei, regulada nos incisos II a V do art. 5, parágrafo único do CC:
1 - Pelo casamento (obs: A idade mínima para se casar no Brasil (idade núbil) é de 16 anos)
Obs: Veremos na aula de família, situações excepcionais em que se admite casamento abaixo dos 16 anos de idade, e analisaremos ali se tb há emancipação (art. 1520 do cc)
- Mesmo com o advento da separação ou do divórcio, a Emancipação obtida é mantida. Todavia, em caso de invalidade do casamento, considerando-se a eficácia retroativa da sentença de invalidação ( Flávio Tartuci, José Simão, Zeno Veloso), salvo em eventual hipótese de putatividade, é conseqüência lógica o retorno ao estado anterior de coisas. 
- Pelo Exercício de Emprego Público Efetivo
- Pela colação de grau em curso de ensino superior
- Pelo estabelecimento civil ou comercial ou pela existência da relação de emprego desde que em função de qq um deles o menor tenha economia própria. 
Obs: Não há necessidade de sentença declaratória de emancipação, a emancipação é dada por força da lei. 
- Estabelecimento civil – prestação de um serviço (ex: o menor é professor de música, alugou uma sala e ali ensina música)
- Estabelecimento empresarial – ex: menor que colocou um box na feira e ali compra e revende verduras. 
- Relação de emprego - Capacidade laboral advém a partir de 16 anos. Obs: Se o menor perder o emprego ele não perderá a emancipação
- Economia própria - À luz do Princípio da Operabilidade ( ver referência de texto do Prof. Miguel Reale no material de apoio), temos que “Economia Própria” traduz um conceito aberto , vago (Arruda Alvim) ou indeterminado que deverá ser preenchido pelo juiz, observado o ônus da argumentação jurídica (Robert Alexy) segundo as circunstâncias do caso concreto. 
Obs: 
Diferença entre Conceito Aberto e Cláusula Geral
Conceito Aberto – conceito vago, indeterminado, o qual deverá ser preenchido pelo juiz. Ex: economia própria
Respeitável doutrina ( Judith Martins-Costa) observa que Cláusula Geral é noção ainda mais abrangente, na medida em que, além de conter um conceito indeterminado, possui uma carga normativa mais acentuada, de observância obrigatória pelo próprio Juiz (José Ascensão). Ex: boa fé objetiva, função social 
Questões finais atinentes à Emancipação:
Um menor emancipado pode ser criminalmente processado?
A emancipação não antecipa a imputabilidade penal que só advém a partir dos 18 anos. O menor emancipado pratica ato infracional ( de acordo com o ECA).
Luiz Flávio Gomes – O menor emancipado pode ser civilmente preso (prisão civil não é prisão penal, ex: prisão civil por não pagar pensão alimentícia)
Obs: O menor emancipado pode falir, porém crime falimentar ele não comete. 
 Por que o Emancipado não pode dirigir?
Porque para dirigir é necessário que o condutor seja penalmente imputável (Art. 140, I , do Código de Trânsito) , razão porque o emancipado não tendo ainda imputabilidade penal, não poderá dirigir. 
MORTE
→Conceito:
Extinção da pessoa física ou natural
O estudo da morte, em medicina legal, é feito pela Tanatologia. Para efeito de estudo da Parte Geral, o critério estabelecido atualmente pela comunidade científica mundial para identificação do óbito, inclusive para fins de transplante, dada a sua irreversibilidade, é a MORTE ENCEFÁLICA (ver resoluções 1480/97 e 1826/2007 do Conselho Federal de Medicina). 
Obra: O Estado Atual do Biodireito – Maria Helena Diniz
Nos termos da LRP (Lei de Registros Públicos, 6015/73) , artigos 77 e seguintes, a morte deve ser atestada por um médico, ressalvada a hipótese de, não havendo profissional habilitado no local, duas testemunhas o declararem . 
→ Morte Presumida:
- Ausência - A ausência, conceitualmente, ocorre quando uma pessoa desaparece do seu domicílio, sem deixar notícia ou representante, nos termos dos art. 2° e seguintes do CC (ver detalhado resumo do tema na apostila 01). Nos termos do art. 6° do CC, durante o procedimentoda ausência, no momento em que há a sucessão definitiva dos bens do ausente, ele é considerado morto por presunção. Ex: Pessoa sai de casa para trabalhar e sem nenhum motivo aparente não retorna mais. 
- O art. 7° traz outras hipóteses de morte presumida que não se confundem com ausência:
I. Perigo de vida. Ex: Ulisses Guimarães
II. Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. 
 O que se entende por comoriência?
	Não pode ser confundido tal instituto com a denominada premoriência, que traduz um estado de pré-morte (é quando uma parte morre antes da outra) .
Na comoriência, diferentemente, opera-se uma situação de morte simultânea, não se podendo averiguar a seqüência temporal dos óbitos. Em tal hipótese, consideram-se os comorientes simultaneamente mortos, ABRINDO-SE CADEIAS SUCESSÓRIAS AUTÔNOMAS E DISTINTAS (Art. 8° do CC; Obs: A mesma ocasião não necessita ser o mesmo lugar, mas geralmente o é. Ex: Os mortos estavam no mesmo carro. )
Na Jurisprudência, ver no TJRS o Agravo de Instrumento AI 598.569.952 
PESSOA JURÍDICA
Conceito: 
Denominada: Ente de existência ideal (Teixeira de Freitas)
Também denominada: Pessoa Moral, Pessoa Social, Pessoa Mística
Seguindo o pensamento do sociólogo Antonio Luiz Machado Neto, podemos concluir que a pessoa jurídica, em primeiro plano, é decorrência do próprio fato associativo, da natural tendência humana de se agrupar para melhor atingir determinadas finalidades. Por isso, nessa linha inicial, podemos conceituar a pessoa jurídica como um grupo humano, criado na forma da lei e dotado de personalidade jurídica própria para a realização de fins comuns. 
Questão:
Pessoa Jurídica pode sofrer dano moral?
Corrente predominante no Brasil, não só na doutrina como na jurisprudência (Súmula 227 STJ, RESP 785777 MA), aponta no sentido da possibilidade jurídica de a pessoa jurídica sofrer dano moral. Vide Art. 52 CC. Outra linha de raciocínio que remonta à obra de Wilson Melo da Silva, nega o dano moral à pessoa jurídica especialmente pelo fato de inexistir a sua dimensão psicológica (de certa forma o Enunciado 286 da 4ª Jornada acaba por reforçar este entendimento que não prevalece na jurisprudência brasileira “ Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares desse direito”). 
10/02/2011 (manhã)
TEORIAS EXPLICATIVAS DA PESSOA JURÍDICA
Existem duas correntes básicas:
→Corrente Negativista (Brinz, Planiol):
Esta corrente negava a existência da pessoa jurídica, não aceitando a tese, sob diversos argumentos, a exemplo daquele que afirmava ser a pessoa jurídica uma mera reunião de pessoas físicas. 
→Corrente Afirmativista: 
Aceitava a categoria da pessoa jurídica. Existem três teorias fundamentais:
- Teoria da Ficção (Windscheid, Savigny) – vigente especialmente no século XVIII, na Alemanha e na França, esta teoria afirmava que a pessoa jurídica teria uma existência meramente abstrata ou ideal, fruto de uma técnica jurídica e desprovida de uma dimensão social. 
- Teoria da Realidade Objetiva (tb chamada de Teoria Organicista ou sociológica/ Clóvis Beviláqua) – Esta teoria, de natureza eminentemente sociológica, diferentemente da anterior, reconhecia a pessoa jurídica como um verdadeiro organismo social vivo, independentemente técnica jurídica. 
- Teoria da Realidade Técnica (Raymond Saleilles) – Para essa teoria, mais equilibrada, a pessoa jurídica a par de ser personificada pela técnica do Direito teria também uma dimensão social , integrando relações de variada ordem como sujeito de direito autônomo. 
Obs: 
- A Doutrina reconhece a existência de entes que, embora desprovidos de personalidade jurídica, têm capacidade processual, a exemplo do espólio, da massa falida, da herança jacente (art. 12 CPC) - Esses entes não são pessoa jurídicas, porém têm capacidade processual.
- Quanto ao condomínio, a polêmica é maior ainda, havendo autores que preferem reconhece-lo como ente despersonificado e outros que dizem ser uma pessoa jurídica especial ou sugêneris . ( Na visão do professor, o condomínio não é tecnicamente pessoa jurídica, é um ser despersonificado)
→ Criação ou surgimento da Pessoa Jurídica: art. 45 CC – A Pessoa Jurídica surge quando o seu Ato Constitutivo é levado ao respectivo Registro (o registro da pessoa jurídico é constitutivo de sua personalidade). O Registro de uma Pessoa Jurídica projeta seus efeitos para o futuro (“Ex Nunc”). O Ato Constitutivo é o Contrato Social ou Estatuto, e deverá ser registrado na Junta Comercial ou no CRPJ ( Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas). 
 Obs: Determinadas Pessoas Jurídicas, para se constituírem, mediante o necessário registro, dependem de uma autorização específica do Poder Executivo , a exemplo daquela dada pelo Banco Central para a criação e uma instituição financeira.
→Extinção da Pessoa Jurídica: 
Fundamentalmente há três formas de dissolução da Pessoa Jurídica:
1º Dissolução Convencional - É aquela deliberada pelos próprios sócios ou administradores, especialmente aplicada às sociedades. 
2º Dissolução Administrativa – deriva da cassação da autorização de criação e funcionamento de determinadas pessoas jurídicas, a exemplo dos bancos. 
3º Dissolução Judicial – É a dissolução operada por Sentença, a exemplo do que se dá no procedimento falimentar ou NOS TERMOS DO ART. 1218, VII DO CPC. 
→Espécies de Pessoa Jurídico de Direito Privado:
Art. 44 CC: 
- Associações
- Sociedades
- Fundações
- Organizações Religiosas
- Partidos Políticos
Obs: 
- O legislador cuidou de alterar o art. 44, fazendo explícita referência a organizações religiosas e partidos políticos, com o nítido propósito de, a luz do art. 2031 modificado , isentar estas entidades da obrigatoriedade de se adaptarem ao novo código civil (ver no material de apoio o item 9 em que se estuda esta problemática). 
- Em caso de não adaptação ao novo código, consequências de variada ordem podem ocorrer, a exemplo da responsabilidade pessoal dos sócios ou administradores enquanto esteve irregular, bem como a impossibilidade de obter linha de crédito ou participar de licitação. 
- Fundações Privadas: 
	- Conceito: Diferentemente das associações e sociedades, as fundações resultam da afetação de um patrimônio que se personifica para a realização de finalidade ideal (não lucrativa). (art. 62 CC). 
Obs:
- Finalidade Ideal – Fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. A receita gerada pela fundação é investida nela mesma, não pode existir uma finalidade lucrativa.
- Formas de criação de uma fundação: - Escritura Pública ou - Testamento (qq forma de testamento, não necessita ser testamento público)
- Requisitos para a criação de uma Fundação: 
A afetação ou destacamento de bens livres do instituidor
Instituição ou por Escritura Pública ou por Testamento
Elaboração do seu Estatuto (ato normativo e organizacional), que poderá ser feita pelo próprio instituidor, por um terceiro ou excepcionalmente pelo Ministério Público (art. 65 CC)
Elaborado o Estatuto, deverá o mesmo ser aprovado pelo Ministério Público ou excepcionalmente pelo Juiz (art. 1202 CPC)
Registro do Estatuto da Fundação que é feito no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas.
- O Ministério Público e as fundações Privadas: 
- O art. 66 CC é expresso no que tange à função fiscalizatória das fundações. Obs: 
- Obs: Art. 66 § 1º : (Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas. § 1º Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público Federal) – deverá ser lido da seguinte forma: a fundação que funciona no DF deverá ser fiscalizada pelo MP do Distrito Federal (vide ADIN nº 2794-8). 
- Merecem leitura, os art.67 a 69 CC
- salvo disposição em contrário, quando uma fundação acaba, seu patrimônio deverá ser incorporado em outra fundação, designada pelo Juiz, de fins iguais ou semelhantes. 
- Associações: 
- Conceito: As associações, pessoas jurídicas de Direito Privado, são formadas pela união de indivíduos, com o propósito de realizarem finalidade ideal ou não econômica (art. 53 CC) 
- Tem finalidade ideal – não lucrativa, pode realizar receita, porém tal receita deverá ser revestida na atividade da associação. Ex: O sindicato tem natureza associativa, conforme inclusive já decidiu o próprio STJ (Resp. 1.181.410/RJ).
- São constituídas por um Estatuto (art. 54) registrado no CRPJ. 
- A Assembléia Geral é o órgão mais poderoso da Associação (art. 59)
- Obs: 
-Nos termos do art. 55 CC, vale lembrar ser possível haver categorias diferentes de associados, mas, dentro de uma mesma categoria, discriminação não pode haver. 
- Vale lembrar tb , nos termos do art. 61, que , regra geral, dissolvida a associação, o seu patrimônio será atribuído a entidades de fins não econômicos designados do Estatuto, ou, omisso este, a uma instituição pública municipal , estadual ou federal de fins iguais ou semelhantes.
- O novo CC, em seu art. 57, é explícito qto a possibilidade de exclusão (expulsão) de um associado. 
Aula: 17/02/2011 
	- Sociedades:
- Conceito: 	A sociedade, espécie de pessoa jurídica de direito privado, formada pela união de indivíduos, dotada de personalidade jurídica própria e instituída por meio de contrato social, tem a finalidade de exercer atividade econômica e partilhar lucro (art. 981, CC). 
	Obs: Vale lembrar que o art. 977 do CC proíbe a sociedade formada entre cônjuges que estejam casados em regime de comunhão universal ou separação obrigatória de bens. O que o codificador quer é evitar fralde ao regime de bens. O próprio DNRC ( Departamento Nacional de Registro do Comércio) já consolidou o óbvio entendimento (parecer jurídico 125/2003) no sentido de que sociedades anteriores não podem ser atingidas pela norma restritiva constante no novo código à luz da garantia do ato jurídico perfeito. 
À luz do art. 982 do CC: sociedades empresárias e sociedades simples. Àluz do Art. 982 do CC, uma sociedade para ser empresária deve observar um requisito material (exercício de atividade típica de empresário, art. 966) e um requisito formal (registro na junta comercial); já as sociedades simples, são todas as demais que não sejam consideradas empresárias. 
Obs: 
Em geral, a sociedade empresária corresponde à antiga sociedade mercantil (comercial) e a sociedade simples à antiga sociedade civil. Mas, não se pode dizer que há absoluta identidade na medida em que a noção de empresa é mais abrangente de que a de comércio.
	Uma sociedade empresária é marcada pelo aspecto eminentemente capitalista da impessoalidade, sujeita-se à lei falimentar, tem registro obrigatório na junta comercial , e os seus sócios atuam como meros articuladores de fatores produtivos (capital, trabalho, matéria prima, tecnologia), de maneira que a sua própria atividade não integra o elemento da empresa; diferentemente, as sociedades simples , sujeitas à normas próprias de dissolução, não tem registro na junta (mas sim , em geral, no registro de pessoas jurídica), e além disso são marcadas pela pessoalidade, uma vez que a sua atividade é desempenhada ou supervisionada pessoal e diretamente pelo próprio sócio (por isso costumam ser prestadores de serviços, como as sociedades de médicos ou advogados). 
Na sociedade empresarial, o sócio é um mero administrador dos fatores de produção, a sociedade não necessita da supervisão e atuação pessoal do sócio para funcionar, ela é marcada pela impessoalidade (ex: Banco Itaú, Coca-cola). Já na sociedade simples, a presença e atuação direta do sócio é fundamental para o seu funcionamento; a atividade desta sociedade depende da atuação pessoal do próprio sócio, ela é marcada pela pessoalidade (ex: escritório de advocacia).
Obs: O parágrafo único do art. 982 estabelece que toda sociedade anônima é considerada empresária e cooperativa, sociedade simples. No que tange às cooperativas, tema da grade de direito empresarial, e que se caracterizam principalmente pela partilha de resultado na proporção do esforço de cada cooperado, existe grande discussão quanto ao seu registro, se deve ser feito na junta comercial (Lei 8934/94, Lei 5764/71, Enunciado 69 da I Jornada de Direito Civil) ou se o registro deve ser feito no CRPJ ( na doutrina: Julieta Lunz, Paulo Rego). 
DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA (Disregard Doctrine)
- O precedente da teoria ocorreu na Inglaterra, final do século XIX, no famoso caso Salomon e Salomon Company. A partir daí, a teoria da desconsideração seria especialmente desenvolvida na Alemanha (com Rolf Serick) e na Itália(com Piero Verrucoli) espalhando-se por todo o mundo. No Brasil, o primeiro jurista a tratar desse tema foi o grande professor Rubens Requião.
- Conceito: A doutrina da desconsideração pretende o afastamento temporário da personalidade de uma pessoa jurídica para permitir que os seus credores satisfaçam seus direitos no patrimônio pessoal do sócio ou administrador que cometera o ato abusivo. (obs: o juiz desconsidera temporariamente a personalidade da jurídica, safisfeitos os direitos do credor (através do patrimônio dos sócios ou administrador) , poderá a pessoa jurídica voltar a funcionar)
Obs: 
Essa doutrina é abrangente, podendo ser aplicada também para sociedades filantrópicas e também para as fundações.
A despersonificação da pessoa jurídica é medida ainda mais drástica uma vez que pretende a própria aniquilação da entidade , com o cancelamento do seu registro
O que é Teoria Ultra Vires Societatis? De origem anglo-saxônica e regulada pelo art. 1015 do CC, esta teoria sustenta ser nulo e ineficaz o ato praticado pelo sócio que extrapolou os poderes assim concedidos pelo contrato social (a sociedade pois, não responderia por tal conduta). Tal teoria é diferente da Teoria da Despersonalização da Pessoa Jurídica 
Como o direito brasileiro trata a desconsideração administrativa da pessoa jurídica? Ex: Pode a receita federal administrativamente desconsiderar a personalidade da pessoa jurídica para atingir o sócio? 
Em geral, entende a doutrina, diante do nosso direito positivo, que a desconsideração da pessoa jurídica é matéria sobe reserva de jurisdição, deve ser decretada pelo poder judiciário ( Edmar Andrade), todavia, em situações excepcionais de fralde à lei, a própria doutrina (Gustavo Terpedino) e o STJ (RMS 15166/BA) já admitiram a desconsideração em nível administrativo. 
	
- Tratamento Legal: Uma das primeiras leis de grande porte a disciplinar o tema foi o código de defesa do consumidor, em seu artigo 28 e, diferentemente do código anterior que era omisso, o novo código civil regula a desconsideração em seu artigo 50, exigindo a conjugação de dois elementos fundamentais: 1) o descumprimento da obrigação e 2) o abuso do sócio ou administrador caracterizado ou pelo desvio de finalidade ou pela confusão de patrimônio (ex: o sócio vendeu produtos que não existiam). 
Obs: A jurisprudência geralmente exige, para desconsiderar a personalidade jurídica, o descumprimento da obrigação em razão da insolvência da pessoa jurídica. 
Obs: Na linha de pensamento de Fábio Konder Comparato (livro: o poder de controle da sociedade anônima, ed. Forense), podemos concluir que a desconsideração da pessoa jurídica pode ser aferida objetivamente , dispensando-se o dolo específico do sócio ou administrador (não é necessário demonstrar em juízo a intenção do sócio e sim o abuso caracterizado ou pelo desvio de finalidade ou pela confusão de patrimônio). 
Obs: O código civil, em seu artigo 50, adotou a teoria maior da desconsideração da pessoa jurídica, na medida em que não se contenta com a simples insolvência da pessoa jurídica, exigindo prova do cometimentode um ato abusivo; entretanto, em outros tipos de relação jurídica, como na relação de consumo, a desconsideração é muito mais facilitada, na medida em que não se precisa provar o cometimento do ato abusivo, mas , apenas, o prejuízo sofrido (teoria menor). Ver no material de apoio Resp 744107/SP. 
- Questões especiais referentes à desconsideração da pessoa jurídica:
Obs: A título de complementação de pesquisa ver Projetos de Lei no material de apoio que pretendem disciplinar o procedimento de desconsideração da pessoa jurídica, consultar também em nível bibliográfico “ O novo direito societário” de Calixto Salomão Filho.
- É firme a jurisprudência a do STJ no sentido de que a desconsideração da Pessoa Jurídica é cabível no procedimento ou na fase de execução (Resp 920602/DF) respeitando-se por óbvio o contraditório. 
- A desconsideração, em respeito à própria causalidade, naturalmente deve atingir apenas o sócio ou administrador que cometer o ato abusivo ou dele se beneficiou (Enunciado 7 da I Jornada de Direito Civil) – ex: uma sociedade tem 12 sócios, somente um deles cometeu o ato ilícito; desconsidera-se a pessoa jurídica e atinge-se o patrimônio somente deste sócio que cometeu o ato abusivo (a medida é sancionatória, é punitiva). 
O que é desconsideração inversa? Trata-se de um tipo de desconsideração não expressamente prevista em lei, mas admitida em nosso direito (Resp 948117/MS), por meio da qual se pretende inversamente atingir o patrimônio da própria pessoa jurídica para alcançar o sócio ou administrador que cometera o ato abusivo ou fraudulento. (Na desconsideração inversa, a pessoa física não tem bens, então busca-se o ressarcimento do credor através da pessoa jurídica da qual a pessoa física é sócio ou controlador). 
Aula 04: 17/03/2011
DOMICÍLIO
Morada: A Morada é o lugar em que a pessoa física se estabelece temporariamente. Roberto Ruggiero utiliza a palavra “estadia” para caracterizar morada. Ex: Pessoa com domicílio em São Paulo e recebe uma bolsa para estudar 6 meses em Salvador (Salvador é a morada da pessoa).
Residência: (Obs: é mais do que morada). É o lugar em que a pessoa física é encontrada com habitualidade, com frequência. Ex: pessoa domiciliada e residente em são Paulo, porém de 15 em 15 dias passa final de semana em Santos (Santos então é considerada residência da pessoa pois ali ela também é encontrada com habitualidade).
Domicílio: 
- É mais do que residência. Em outras palavras, o domicílio da pessoa natural é o lugar em que fixa residência com ânimo de definitividade (“animus manendi”) transformando-o em centro da sua vida jurídica. (art. 70 CC)
- Art. 70 CC: O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. 
- O domicílio é uma residência com característica definitiva!
- Por influência do Direito Germânico, é possível haver pluralidade de domicílios (art. 71 CC)
- Obs: O novo código civil, na linha do art. 83 do código de Portugal, em seu art. 72, consagrou o denominado “domicílio profissional” que é ESPECÍFICO para aspectos do exercício da profissão. Obs: O domicílio profissional não é o domicílio geral, a pessoa pode ter os dois. O domicílio profissional é específico ao exercício da profissão. Ex: Um médico é domiciliado em São Paulo e trabalha quinzenalmente em uma clínica na cidade de Marília (a cidade de Marília é domicílio profissional). A empresa para a qual ele trabalha poderá demandar-lhe em Marília, pois ali é seu domicílio profissional (embora o foro competente, via de regra, seja o do domicílio do réu) . 
- O art. 74 de redação inusitada trata da mudança de domicílio.
- Questão: O que se entende por domicílio aparente ou ocasional? Trata-se de teoria desenvolvida especialmente pelo civilista belga Henri de Page, calcada em uma ficção jurídica para evitar que pessoas físicas fiquem sem domicílio. Assim, nos termos do art. 73 do CC, com base nesta teoria, as pessoas que não tenham residência habitual, como os profissionais do circo, reputam-se domiciliadas onde forem encontradas. 
- Espécies de Domicílio:
	a) Convencional ou Voluntário - o domicílio voluntário da pessoa física é o comum, fixado por simples ato de vontade. Obs: a natureza jurídica do ato que fixa o domicílio voluntário é de ato jurídico em sentido estrito (veremos isso posteriormente!!)
	b) Especial ou de Eleição – O domicílio especial é aquele estipulado pelas partes em um contrato, segundo o princípio da autonomia privada (art. 78 CC). Obs: Vale lembrar, nos termos do parágrafo único do art. 112 do CPC, que a nulidade da cláusula de eleição de foro prejudicial ao aderente (especialmente o consumidor) pode ser reconhecida de ofício pelo juiz que declinará da sua competência. 
	c) Legal ou Necessário (Obs: cai em concurso!!) – O domicílio legal ou necessário, baseado especialmente no art. 76 CC, é um tipo de domicílio determinado pela própria lei. 
Art. 76 CC: Tem domicílio legal ou necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso. Obs: Marítimo é o marinheiro da marinha particular é diferente do marinheiro da força armada o qual é militar. O domicílio do incapaz → é o do seu representante ou assistente (obs: vale lembrar, nos termos da Súmula 383 do STJ que a competência para julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, o foro do domicílio do detentor de sua guarda) ; o do servidor público→ o lugar em que exerce permanentemente suas funções (Ex: Pessoa domiciliada em São Paulo, passou em concurso para cargo efetivo na prefeitura de Guarulhos, o domicílio legal passa então a ser em Guarulhos para todos os aspectos. Obs: No caso de função comissionada não modifica o domicílio); o do militar → onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; e do preso → o lugar em que cumprir a sentença . 
Obs: No que tange ao domicílio da pessoa jurídica, a matéria é tratada pelo art. 75 do CC, de especial interesse para o direito administrativo e processual civil ( quanto a este último, especialmente quando se estuda competência, ver Resp. 723194 de Rondônia). 
Obs: O STJ no noticiário de 1º de março de 2011 (Resp. 1048937) fixou que as partes podem escolher foro competente para julgar ações sobre hipoteca. Ex: A pessoa vai até o banco Bradesco localizado em Salvador e lá contrai empréstimo e contrato de garantia hipotecária (hipotecando um imóvel localizado em Campinas → se o contrato convencionou que o foro é Salvador, a demanda ali correrá, não importando onde o bem esteja). 
BENS JURÍDICOS:
Bem de Família:
- Histórico do Bem de Família: Lei Texana de 1839 (Homestead Act) – tal lei consagrou a impenhorabilidade da pequena propriedade. 
- No Brasil temos duas espécies de bem de família: 
a) Voluntário (Art. 1711, CC): 
 - É aquele instituído, segundo o princípio da autonomia privada por ato de vontade do casal , da entidade familiar (ex: união estável) ou de terceiro (ex: terceiro doa um bem a um casal), mediante registro no Cartório de Imóveis (art. 167, I, 1, LRP – Lei de Registros Públicos. Lei nº 6.015/73).
- Constituído devidamente o bem de família voluntário, mediante registro, surtirá dois efeitos fundamentais: a impenhorabilidade limitada e a inalienabilidade relativa do imóvel residencial protegido. (Obs: Os efeitos serão Ex Nunc, ou seja, os efeitos correm após o registro no cartório do bem de família voluntário). No que tange à impenhorabilidade, o art. 1715 disciplina o referido efeito mitigando-o. Quanto à inalienabilidade, o art. 1717 estabelece que uma vez constituído o bem de família voluntário, ele só poderá ser alienado, com o consentimento dos interessados e seus representante legais, ouvido o Ministério Público se necessário. Obs: Ver em casa os artigos 1720 (que cuida da administração do bem) e também os artigos 1721 e 1722 (que cuidam do fim do bem de família voluntário).
-O bem de família voluntário é dotado de duas características fundamentais:
1) Nos termos do art. 1711, o valor do bem afetado não poderá ultrapassar o teto de 1/3 do patrimônio líquido dos instituidores. 
2) Nos termos do art. 1712 parte final, o novo código inovou, ao admitir que valores mobiliares (renda) também possam integrar o bem de família que se constitui. Obs: O professor entende que os valores mobiliares devem respeitar o 1/3 do patrimônio. Ex: Pessoa proprietária de uma casa e vive nela com a esposa, possui também uma poupança no valor de R$1000,00 (valor mobiliário). A lei brasileira permite que ao criar o bem de família, se vincule e integre o crédito da poupança. Então tal pessoa pode constituir como bem de família o imóvel residencial e a poupança. Obs: Vale advertir que o STJ, em situação diferenciada especialmente aplicada ao bem de família legal, tenha admitido a impenhorabilidade da renda obtida pela locação de um imóvel residencial considerado bem de família (Resp. 439920 SP, AgRg no Resp 975858 SP) Ex: Eu moro com minha família na minha casa própria, a situação fica séria, então mudo para a casa da sogra e alugo minha casa própria. Tal renda do aluguel da casa é impenhorável (renda proveniente do bem de família é impenhorável). 
b) Legal (L. 8009/90): 
- Lembra-nos Silvio Rodrigues que “o bem de família voluntário não alcançou maior sucesso entre nós”, na mesma linha de Álvaro Vilassa Azevedo que critica o fato de o próprio casal ter de comparecer ao cartório para constituir e registrar o seu imóvel residencial como bem de família. 
 
- Pelas razões acima, o denominado bem de família legal, regulado pela Lei 8.009/90, tem alcance social muito mais abrangente. Isso porque a referida lei consagra a imediata impenhorabilidade legal do bem de família, sem nenhuma necessidade de inscrição voluntária em cartório. 
Obs: 
- Vale lembrar que , nos termos do art. 5º da lei 8009/90, em havendo dois ou mais imóveis residenciais, a proteção automática do bem de família legal recairá no de menor valor , salvo se outro imóvel houver sido inscrito como bem de família voluntário.
- O STJ sumulou entendimento (Súmula 205) no sentido de que a proteção automática do bem de família legal consagrada pela lei 8009/90 aplicar-se-ia inclusive a penhoras realizadas antes da sua vigência. 
Pergunta: Qual é a extensão da proteção legal do bem de família, consagrado pela lei 8009/90?
Art. 1º da referida lei. 
Obs: O STJ, em mais de uma oportunidade (Resp. 207693 SC, Resp. 515122 RS) julgou no sentido de permitir em determinadas situações, o desmembramento do bem de família para efeito de penhora. Ex: foi permitido o desmembramento de parte de uma casa (mansão), permitindo a penhora da área de lazer (piscina, churrasqueira, etc), já que não descaracteriza a área residencial.
Art. 2º - Excluem-se: Os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. Vide também o § Único.
Pergunta: Que tipo de bens móveis estão abrangidos pela proteção legal? 
Televisão, máquina de lavar, antena parabólica, aparelho de ar condicionado, computador e até mesmo teclado musical (Resp. 218.882 SP)
Quanto à vaga de garagem, o STJ , não faz muito, sumulou o entendimento segundo o qual “vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora” (súmula 449).
Antes interpretava-se como impenhoráveis os bens mínimos necessários a subsistência, atualmente considera-se a impenhorabilidade dos bens necessários a uma subsistência digna. 
 A impenhorabilidade legal não é absoluta, uma vez que o art. 3º da própria lei 8009/90 consagra exceções ao bem de família (obs: segundo o professor , tal artigo se aplicaria aos bens de família voluntários): 
A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução (Regra geral!), salvo se movido :
Em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias. Obs: O STJ, julgando o Resp. 644733/SC, entendeu que trabalhadores meramente eventuais, como eletricista ou pintor, não estão abrangidos na exceção do inciso I de maneira que a proteção legal persistiria.
Pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato. Ex: Se a Caixa financiou a compra de seu apto, se você não pagar o financiamento, a Caixa Econômica poderá tomar seu apartamento. 
III – pelo credor de pensão alimentícia;
IV – para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar. Ex: IPTU. Obs: Despesa de condomínio não é tributo, porém o STF já firmou entendimento (RE 439003) no sentido de que taxa condominial poderá levar à penhora do referido bem; 
V – Se o processo foi movido para a execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar. Ex: Casal toma empréstimo junto ao Bradesco e voluntariamente dão em garantia sua casa, se posteriormente o casal não pagar a dívida ao banco, o imóvel poderá ser penhorado. O STJ, em julgado recente (AgRg no Ag 1152734 SP) aceitou que não se pode invocar a proteção do bem de família em face da execução de hipoteca constituída pelos próprios devedores. Porém em outros julgados (AgRg no Resp. 813.546 DF) , o STJ entendeu que se o devedor, no curso de uma execução, apenas indicou o seu bem de família a penhora, neste caso ele pode depois “voltar atrás” (invocando a proteção do bem de família). 
VI - Por ter sido adquirido como produto de crime ou para a execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
VII – por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação (RE 352.940 SP).
- Súmula 364 STJ - entende que a proteção legal do bem de família ampara inclusive a pessoa que vive só. Veja Resp. 450989 RJ. 
Aula: 22/03/2011
BENS JURÍDICOS
CONCEITO: Bem jurídico é toda utilidade física ou ideal, que seja objeto de um direito subjetivo.
Durante muito tempo, a doutrina brasileira divergiu, e a polêmica ainda é mantida no que se refere à distinção entrem bem e coisa ( veja: Orlando gomes, Maria Helena Diniz, Silvio Venosa e Barros Monteiro). 
Razoável é a teoria no sentido de que a noção de bem é genérica, compreendendo o conceito de coisa que, na linha do direito alemão (§ 90, BGB), restringe-se às utilidades corpóreas ou materiais (Orlando Gomes). Coisa, então é bem corpóreo, material e bem é mais amplo podendo ser bem jurídico o que não é coisa – exemplo: honra, vida, etc.
Obs: O que se entende por Patrimônio Jurídico? Para os clássicos, patrimônio traduziria principalmente a representação econômica da pessoa (Clóvis Beviláqua). Lembra-nos inclusive o mesmo autor que cada pessoa deve ser titular de um patrimônio único, ainda que os bens tenham origens diversas. Complementando esta noção clássica, autores modernos, a exemplo de Carlos Alberto Bittar e Rodolfo Pamplona Filho, reconhecem também o denominado “Patrimônio Moral” da pessoa, vale dizer, o seu conjunto de direitos da personalidade. Vale lembrar que, nas primeiras aulas do curso, já vimos o que se entende por “Patrimônio Mínimo” (Luiz Edson Fachin”). 
Pergunta: O que se entende por “Patrimônio de Afetação” ? Consagrado pela lei 10.931/2004, o Patrimônio de Afetação visa a imprimir maior segurança nas relações imobiliárias, destacando um patrimônio específico para a garantia da conclusão do empreendimento, em outras palavras, é um regime especial de garantia, nos termos da lei específica, que constitui um patrimônio em separado, autônomo, para a garantia de determinada obra. 
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS JURÍDICOS: 
Obs: Ver no material de apoio 03 a detalhada classificação dos bens jurídicos, valendo destacar, para concurso público, especialmente, as seguintes categorias:
“Imóvel por força de lei”? Trata-se daquele bem consideradode natureza imobiliária por expressa dicção do art. 80 do CC: “Consideram-se imóveis para os efeitos da lei: I- Os direitos reais sobre imóveis e as ações que nos asseguram (ex: direito de propriedade, direito de hipoteca – os quais são registrados no cartório de registro de imóveis) ; II- O direito à sucessão aberta ( É o direito à herança, mesmo que a herança seja um bem móvel ou semovente. O direito à herança tem natureza imobiliária por força de lei para cerca-lo de formalismos. Veja art. 1793). 
“Bem móvel empregado em construção” – Trata-se de categoria de fácil compreensão regulada no art. 84 do CC : “Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio”. Obs: Os tijolos enquanto não utilizados na construção da casa são considerados bens móveis, após utilizados na construção incorporarão a ela (imóvel). Se a casa for demolida, os escombros adquirem a condição de bens móveis. 
Obs 1: Qual é a natureza jurídica do sémen do boi? Nos termos do art. 83, I, CC, as energias que tenham valor econômico são consideradas bens móveis por força de lei. Desta forma, o sémen é uma energia que tem valor econômico. Outro exemplo é a energia elétrica. 
Obs 2: Vale observar que o Código de Defesa do Consumidor adota um critério classificatório que não integra o sistema da parte geral do Código Civil: Em seu artigo 26, reconhece a existência de bens duráveis e não duráveis, especialmente para se exercer o direito potestativo de se reclamar por vício em 90 ou 30 dias. 
 3)Quais são os principais aspectos que devem ser destacados no que tange aos bens principal e acessórios? Bem Principal é aquele que existe por si mesmo; ao passo que o Bem Acessório pressupõe a existência do bem principal. Ex 1 : A árvore é o bem principal e seu fruto é o bem acessório. Ex 2 : A vaca é o bem principal, já o bezerro que está em seu ventre é o bem acessório. 
Obs: O que se entende por “Princípio da Gravitação Jurídica”? Trata-se da regra segundo a qual o acessório segue o principal. 
→ Dentre os bens acessórios temos:
Frutos – é aquela utilidade que a coisa principal periodicamente gera, e cuja percepção não diminui a substância da coisa principal (ver na apostila a subclassificação dos frutos); Ex: As laranjas de uma laranjeira (são utilidades que se renovam ao longo do tempo). 
Obs1: Os denominados rendimentos são frutos civis que se renovam ao longo do tempo, a exemplo do aluguel e dos juros. 
Obs2: Trata-se de expressão consagrada pelo próprio STJ para caracterizar a indevida cobrança de juros compensatórios por parte da construtora ou incorporadora, antes da entrega das chaves da imóvel (Resp. 670117/PB)
Produtos – são utilidades não renováveis e cuja percepção esgota a coisa principal; Ex1: Pedras de uma pedreira (as pedras de uma pedreira são produtos, pois na medida que são extraídas as mesmas se esgotam, não se renovam), Ex2: Petróleo. 
Pertenças – É aquela coisa que, sem fazer parte integrante do bem principal, acopla-se ao mesmo para a sua melhor utilização (Art. 93 CC). A pertença se encaixa na coisa principal para melhor servi-lo. Ex: O aparelho de ar condicionado. 
Obs: O que são bens imóveis por acessão intelectual? (Obs: Acessão = união de uma coisa a outra) Acessão é um modo de adquirir propriedade. A expressão significa bem imóvel por união intelectual. O Enunciado 11 da 1ª Jornada de Direito Civil entende haver sido banida a categoria do imóvel por acessão intelectual, aquele bem que intencionalmente o proprietário ou possuidor emprega no solo ou na construção. Parte da doutrina (Tartucci, Simão) discorda de tal enunciado. De fato, se observarmos bem, a própria noção de pertença traduz a ideia que se pretende afastar no enunciado. Ex: Maquinário agrícola empregado na fazenda. Escada de incêndio colocada em uma construção. 
Benfeitorias - A benfeitoria é toda obra realizada pelo homem, na estrutura de uma coisa, com o propósito de conservá-la (benfeitoria necessária), melhorá-la (benfeitoria útil) ou proporcionar deleite ou prazer (benfeitoria voluptuária). Art. 96 e 97 CC. Obs1: Toda benfeitoria é artificial – “obra realizada pelo homem”. O cocô que cai dos pássaros que sobrevoam uma fazenda adubando o solo não é considerado benfeitoria. Obs2: Na prática não é fácil a distinção entre benfeitoria e acessão artificial (construções); todavia, é importante pontuar que, tecnicamente, uma acessão artificial (construção) não é uma simples benfeitoria, na medida em que aumenta o volume da coisa principal e tem regramento legal específico (art. 1253 e seguintes do CC). A benfeitoria é uma obra na estrutura da coisa, a acessão artificial é mais, pois aumenta o volume da coisa principal. Ex1: A construção de um curral na fazenda. Ex2: O “puxadinho” (segundo andar) de uma casa é considerado uma acessão. Obs: A piscina de uma casa é considerada geralmente como benfeitoria voluptuária (pois é uma obra que aproveita a estrutura da casa). Porém uma piscina de um colégio é uma benfeitoria útil. Uma piscina em uma clínica de fisioterapia é uma benfeitoria necessária. O mais importante é pontuar que uma acessão aumenta o volume da coisa principal, aumentando a própria propriedade, diferentemente da benfeitoria que é uma simples reforma na própria estrutura da coisa. 
Obs: “Res Nullius” - é a coisa de ninguém que permite apropriação imediata. Ex: é aquela coisa fora do comércio jurídico (como uma pedrinha) ou aquela coisa abandonada (“Res Derelictae”). Diferentemente é a “Res Deperdita”, ou seja, aquela coisa perdida que se presume ser ainda de interesse do proprietário (ex: um relógio perdido). “Achadego” é o direito de recompensa em favor da pessoa que acha coisa perdida. 
FATO JURÍDICO
CONCEITO: É todo acontecimento natural ou humano que deflagra efeitos na órbita do Direito, ou seja, é todo aquele fato relevante para o Direito (Agostinho Alvim). Obs: Uma chuva em alto mar não é fato jurídico, porém uma chuva no Rio de Janeiro é fato jurídico se gera efeitos na órbita do Direito. 
ESPÉCIES DE FATO JURÍDICO:
Fato Jurídico em Sentido Estrito – É aquele acontecimento natural que deflagra efeitos na órbita do Direito, podendo ser ordinário( como o decurso do tempo, uma chuva de verão, o nascimento natural de uma criança) ou extraordinário (um “tsunami” no Brasil, uma nevasca na Bahia). 
Ato-Fato Jurídico (Pontes de Miranda) – Pergunta: Qual é a natureza jurídica do ato realizado pela criança de 4 anos que compra um doce no “boteco” da esquina? A compra de um doce por uma criança em tenra idade merece melhor explicação na categoria do Ato Fato. Ato Fato trata-se daquele comportamento que, embora realizado por um ser humano, é completamente desprovido de vontade consciente na projeção do resultado pretendido e do próprio comportamento realizado, e que, ainda, assim, deflagra efeitos na órbita do Direito. Uma criança de 4 anos não realiza um contrato, e sim um ato fato, pois a mesma não tem consciência do que está fazendo. Ex: Um sonâmbulo sai de casa inconsciente e volta com uma moeda rara (ele não teve consciência na apreensão da moeda, porém, a moeda é dele, pois ele realizou um Ato Fato)
Ações Humanas :
c.1- Ato Jurídico (ato lícito) – Ato de finalidade lícita. 
	c.1.1 – Ato Jurídico em Sentido Estrito – Também chamado de Ato Não Negocial, regulado apenas no art. 185 do CC, é aquele comportamento humano voluntário e consciente que determina a produção de efeitos jurídicos legalmente previstos, ou seja, no Ato em Sentido Estrito não há liberdade ou autonomia alguma na escolha dos efeitos jurídicos produzidos. Ex1: No momento em que uma pessoa pega uma conchinha na praia, aquele ato da pessoa voluntariamente pegar a pedrinha e colocar no bolso é ato de apropriação, é ato em sentido estrito, gerando um efeito jurídico automático (A ação é humana(pegar a conchinha), mas os efeitos (apropriação) é a lei que dá, não é a pessoa que escolhe). 
	c.1.2 – Negócio Jurídico (obs: será visto na próxima aula!!!!) – No negócio jurídico sempre haverá, em maior ou menor grau, uma liberdade/ autonomia privada na escolha dos efeitos jurídicos que se quer produzir. O negócio jurídico, categoria especialmente desenvolvida pela Escola Pandectista Alemã, traduz uma declaração de vontade, emitida segundo a regra fundamental da autonomia privada, pela qual a parte pretende atingir determinados efeitos jurídicos escolhidos, respeitados os parâmetros limitativos da função social e da boa-fé objetiva. Existe aqui, em maior ou menor grau, liberdade na escolha dos efeitos jurídicos que se pretende atingir, diferentemente do que ocorre no mero ato em sentido estrito. São exemplos de negócio jurídico o Contrato e o Testamento. 
c.2- Ato Ilícito – Ato desvalioso. 
Obs: Alguns autores, a exemplo do filósofo Antônio Machado Neto, preferem colocar o ato ilícito como espécie de ato jurídico. Entretanto, não é a linha que nós adotamos. Seguindo o pensamento de autores como Zeno Veloso, Flávio Tartuce, Fernando Simão, e considerando especialmente o fato de o próprio Código Civil tratar o ato ilícito em título separado, concluímos tratar-se de categoria própria (distinto dos atos jurídicos). 
Aula: 31/03/2011
NEGÓCIO JURÍDICO
Negócio Jurídico traduz uma declaração de vontade, emitida segundo a autonomia privada, pela qual o declarante, nos limites da função social e da boa fé objetiva, persegue determinados efeitos jurídicos escolhidos e possíveis. Ex: Contrato
Obs: Mesmo nos Contratos por Adesão, haverá uma margem, ainda que mínima, de autonomia privada no que toca a liberdade de aderir ou não ao que fora proposto (Obs: A regra moral nas obrigações civis – Georges Ripert)
- Na Teoria Geral do Contrato, a ideia de autonomia privada será retomada, na perspectiva de autores como Judith Martins Costa e Luigi Ferri, que bem demonstram os parâmetros de contenção que a liberdade negocial deve experimentar. 
- TEORIAS EXPLICATIVAS DO NEGÓCIO JURÍDICO:
- Teoria ou Corrente Voluntarista: Conhecida também como “Teoria da Vontade” ou “Willens Theorie”, que tem raiz no Direito Alemão. Esta corrente sustenta que, a pedra fundamental, a matriz explicativa do negócio jurídico é a própria vontade interna ou a intenção do declarante. Tal teoria influenciou especialmente o nosso Código Civil, conforme se vê no art. 112: “Nas declarações de vontade se atenderá mais a intenção nelas consubstanciada no que ao sentido literal”. 
- Teoria ou Corrente Objetivista ou da Declaração (Erklarungstheories) – Para esta corrente, o que explica , o que justifica o próprio negócio não é a intensão do declarante, mas sim, a sua própria vontade externa ou declarada. 
- Em verdade, as duas teorias acima se complementam, na medida em que o negócio jurídico deve ser explicado segundo a conjugação da vontade interna com a vontade que se declara. Havendo um descompasso entre a vontade interna e a que se declara, haverá um vício de vontade, o negócio jurídico estará viciado. 
- Questão: O que é Teoria da Pressuposição? Na linha de entendimento de Windscheid , a Teoria da Pressuposição sustentava a invalidade do negócio jurídico quando a certeza subjetiva do agente se modificasse na execução do contrato. O negocio jurídico deixaria de ser válido se a certeza do agente se modificasse na execução do contrato. Ex: Pedro vai até Rodrigo e diz: Eu gostaria de celebrar uma contrato de locação de sua casa de praia para janeiro do ano vem, pois estarei de férias nesse período. Chegado o mês de janeiro, Pedro evoca a Teoria da Pressuposição para rescindir o contrato, pois sua empresa não lhe concedeu as férias que ele havia programado. 
PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO:
- Este tópico é influenciado por Pontes de Miranda.
O negócio jurídico deve ser dividido em três planos de análise:
1º - Plano de Existência
↓
2º - Plano de Validade
↓
3º - Plano de Eficácia
1) Plano de Existência: 
	- Também chamado de plano substantivo do negócio jurídico.
	- Neste plano serão analisados os elementos que compõem a existência do negócio. Serão estudados os pressupostos existenciais do negócio jurídico. Faltando qualquer um desses elementos, o negócio jurídico será considerado inexistente. 
	- Obs: Alguns autores não consideram o Plano de Existência do Negócio Jurídico, partindo diretamente para o Plano de Validade. 
	- Elementos que compõem a existência do negócio (pressupostos existenciais:
	a) Manifestação de Vontade – Não existe Negócio Jurídico sem vontade. Conjugação da vontade interna com a vontade que se declara.
	b) Agente - Em geral, este agente emissor da vontade é uma pessoa física ou jurídica, podendo ser também um órgão. 
	c) Objeto do Negócio Jurídico - O objeto é o bem da vida, sem o objeto o negócio jurídico não existe. Ex: Contrato celebrado com o Bradesco para empréstimo de dinheiro. Porém, por equívoco, não é mencionado no contrato valores. Desta forma o negócio jurídico é inexistente por falta do objeto.
	d) Forma do Negócio Jurídico – A forma, enquanto elemento existencial do negócio, é o necessário meio pelo qual a vontade se manifesta, ou, na linha de Vicente Ráo, traduz o revestimento exterior do próprio negócio. A forma é o meio pelo qual se declara a vontade. O negócio jurídico, em geral, para existir pressupõe a observância de uma determinada forma de exteriorização da vontade que poderá ser: escrita, verbal ou até mímica. Obs: Lembra-nos Caio Mario da Silva Pereira que, normalmente, “o silêncio é o nada”, de maneira que não serviria para completar a estrutura existencial do negócio. Todavia, na vereda dos Sistemas Belga, Francês , Alemão e Suíço, e também a teor do art. 218 do Código de Portugal, o art. 111 do nosso Código Civil admite que em determinadas situações o silêncio é forma de manifestação da vontade, como no caso da doação pura ( é a doação sem nenhum encargo, veja art. 539 do CC).
	Obs: Ausente qualquer dos elementos acima o negócio jurídico é inexistente!!!
	 
2) Plano de Validade:
- O plano de validade é o plano qualificativo do negócio jurídico. Art. 104 CC.
- Para que o negócio jurídico seja válido, ele deve ter aptidão para gerar efeitos.
- Para que o negócio jurídico seja válido, deve-se pegar os pressuposto de existência e os qualificar:
	a) Manifestação da Vontade → vontade livre e de boa fé
	b) Agente → agente capaz e legitimado
	c) Objeto→ Objeto lícito, possível e determinado (ou ao menos determinável)
	d) Forma→ forma livre ou prescrita em lei
Obs1: Mesmo havendo a presença de todos os pressupostos de existência (ou seja, o negócio existe!), se não houver a presença de algum dos pressupostos de validade, o negócio será considerado inválido. 
Obs2: Autores como Orlando Gomes observam que licitude não é apenas legalidade estrita, mas também, subsunção ao padrão médio de moralidade. Ex: No negócio jurídico de serviço sexual, o objeto (serviço sexual) é ilícito pois é inadequado ao padrão moral médio, logo o negócio jurídico é inválido, por falta de um dos pressupostos de validade. 
- Os defeitos no negócio jurídico como: erro, dolo, coação, lesão, etc, atacam a vontade. A vontade existe, porém é viciada, invalidando o negócio jurídico. 
- Obs: Nos termos do art. 107 CC, vigora no Brasil o Princípio da Liberdade da Forma para os negócios jurídicos: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. Todavia, em algumas situações, a própria lei exige ou prescreve determinada forma para efeito probatório (Negócio “ad probationem” – Ex: art. 227 CC), ou prescreve determinada forma como pressuposto de validade do próprio negócio (Negócio “ad solemnitatem”, Ex: art. 108 CC). Em algumas situações, portanto, como se lê no artigo 108 CC, a inobservância daforma prescrita em lei poderá resultar na própria invalidade do negócio. Art. 108: Não dispondo a lei em contrário, negócios jurídicos imobiliários, com valor superior a 30 salários mínimos vigente no país, a escritura pública é pressuposto de validade. Obs: Independentemente do valor, não se exige escritura pública para contratos de promessa de compra e venda imobiliária (art. 1417 CC) bem como naqueles garantidos por meio de alienação fiduciária de imóveis (art. 38 da Lei 9514/1997) ou que tenham por objeto aquisição de imóvel sujeito ao sistema financeiro de habitação (SFH), art. 61 da lei 4380/64. – Nos exemplos acima enumerados, mesmo que o negócio jurídico imobiliário supere o valor de 30 salários mínimos, poderá ser celebrado através de escritura particular. 
3) Plano de Eficácia:
- Serão estudados aqui os elementos acidentais. 
- Serão estudados: condição, termo, encargo (Tais elementos poderão ou não ocorrer). 
Obs: O plano de eficácia será estudado em aula futura!!!!
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO:
- Se encontram no Plano de Validade do negócio jurídico.
1º) Erro:
	- O código chama o erro também de “ignorância” (Art. 138 CC).
	- Teoricamente afirma-se que o erro é uma falsa percepção positiva da realidade, ao passo que a ignorância traduziria um estado de espirito negativo, completo desconhecimento a respeito do fato. Erro é quando uma pessoa age de uma maneira equivocada, já a ignorância é quando uma pessoa desconhece algo. Na prática, entretanto, existe uma sinonímia. Para o que mais no interessa, é importante frisar que o erro é defeito do negócio jurídico que o invalida (causa de anulação), desde que, na linha da doutrina tradicional (Clóvis Bevilaqua), e segundo julgado do próprio STJ (Resp 744311/MT) dois requisitos concorram: 1º - O erro deve ser essencial ou substancial ; 2º - O erro deve ser escusável ou perdoável (ou seja, qualquer pessoa naquela situação cometeria tal erro) . 
- Os autores mais modernos, conforme notamos da leitura do próprio Enunciado 12 da Primeira Jornada de Direito Civil, corretamente, até pelo acentuado grau de abstração, entendem dispensável o requisito da escusabilidade do erro, segundo o Princípio da confiança. 
	 
	→Espécies de Erro: Na linha da doutrina de Roberto de Ruggiero, à luz do art 139 CC, fundamentalmente , temos quatro tipos de erro: 
- 1º) Erro sobre o objeto – é aquele que diz respeito às características essenciais do próprio objeto do negócio jurídico. Ex: compro uma estátua de osso de animal, achando que é de marfim. 
- 2º) Erro sobre o negócio - incide na própria declaração negocial de vontade. Ex: Pessoa imagina ter celebrado um negócio de doação, quando na verdade era um empréstimo. 
- 3º) Erro sobre pessoa – trata-se de erro que incide nas características essenciais de um dos declarantes, com especial aplicação no Direito de Família, no campo da anulabilidade do casamento (art. 1556 CC). Ex: Um homem casa-se com um transexual , achando que o mesmo era na verdade uma mulher. Na jurisprudência, ver TJRS, apelação Civil 7001.680.7315 
05/04/2011 (continuação)
- 4º) O que se entende por Erro de Direito? Ele é admitido no Brasil? O Erro de Direito traduz a ideia do erro incidente sobre a licitude do próprio ato negocial, ou seja, é uma modalidade de erro que, sem consistir em intencional recusa ao império da lei, está presente no próprio âmbito de atuação permissiva da norma. O erro de direito, em geral, é um erro interpretativo. A parte, ao celebrar o negócio, imagina ser juridicamente possível o que é proibido. Esse erro de direito fora finalmente consagrado no Código Civil, no art. 139, III. Vale lembrar ainda que o art. 144 dispõe que, inexistindo prejuízo não haverá erro. Obs: Nas aulas de teoria geral do contrato deverá ser vista a diferença entre erro e vício redibitório
O QUE É ERRO IMPRÓPRIO? Segundo a doutrina de Ana Magalhães, a Teoria do Erro Impróprio, derivada do pensamento de Savigni, seria aquele que incide, não na vontade interna, mas na vontade declarada do agente. É também chamado de erro obstáculo. É o que se dá, por exemplo, quando, ao celebrar o negócio, em vez de dizer “venda” a parte diz “locação”. O Direito brasileiro não se ocupa com esta distinção!!
DOLO:
Conceito: 
- Segundo Clóvis Bevilaqua, o dolo é o artifício ou expediente astucioso empregado para induzir a parte a praticar um ato negocial que a prejudica. Em outras palavras, o dolo nada mais é do que o erro provocado. O dolo também é causa de anulabilidade do negócio jurídico. 
- Não podemos olvidar que o próprio Direito Romano já conhecia este permicioso vício traduzido na expressão “dolus malus”, que não pode ser confundida com a forma socialmente admitida de “dolus bônus”, especialmente utilizada como técnica possível de publicidade. (Obs: Nos anúncios de propaganda, a imagem realçada dos produtos é possível, desde que não deturpem a suas características reais). A denominada mensagem subliminar, aquela que não pode ser captada diretamente pelos sentidos humanos, mas que é percebida pelo inconsciente, conduzindo a comportamento não desejado, caracteriza uma forma de atuação dolosa permiciosa vedada pelo sistema (ex: imagens rápidas, fleches de luz, etc. Ex2: Em uma propaganda de cerveja, em dado momento, um personagem chega ao seu ouvido de outro e diz: Experimente aqui agora ou enfio a garrafa no teu rabo!!! Isso é falado muito rápido na propaganda, porém o inconsciente do espectador capta sem perceber, induzindo-o a consumir aquele determinado produto) . Vale mencionar, a respeito das mensagens subliminares, os projetos de lei 4068/2008 e 4825/2009. 
- No campo dos negócios jurídicos, o dolo que anula, deverá sempre ser principal (art. 145) uma vez que, o dolo meramente acidental, aquele que não ataca a essência do próprio negócio, nada invalida, impondo apenas a obrigação de indenizar (art. 146). Ex: Uma empresa de carros em São Paulo vende um veículo a um cliente em Salvador, prometendo a entrega do bem em Salvador, o que não o faz. O dolo é acidental, pois não ataca a essência do produto (o veículo), mas sim aspectos secundários do negócio jurídico: a entrega do bem em Salvador. Desta forma, não invalida o negócio, mas gera a obrigação de indenizar os gastos do consumidor para se buscar o veículo em São Paulo. 
O que é dolo negativo? À luz do princípio da boa-fé objetiva, o chamado “dolo negativo” é uma forma vedada de omissão intencional de informação, nos termos do art. 147, que também pode conduzir à invalidade do negócio. 
Dolo Bilateral: Em havendo dolo bilateral, nos termos do art. 150 do CC, nenhuma das partes poderá alegá-lo, nem pleitear indenização. 
Dolo de Terceiro: A matéria é tratada no art. 148 do CC, consagrando a regra geral segundo a qual, em havendo dolo proveniente de terceiro, O NEGÓCIO SÓ DEVE SER ANULADO se o beneficiário sabia ou devesse saber da atuação dolosa. Ex: “C” (terceiro) vende a “A” produtos de “B” sabendo que os mesmos estavam estragados. Se “B” (beneficiário) não sabia de nada (nem do negócio e nem que os bens estavam estragados), o negócio não será anulado, devendo somente “C” indenizar os prejuízos a “A”. Porém se “B” sabia da negociação e que os bens estavam estragados, então o negócio poderá ser anulado e o prejudicado (“A”) deverá demandar contra “B” e “C” ( e cada um paga na medida de sua culpa).
COAÇÃO:
Conceito: 
Coação Física (vis absoluta) – Ataca a existência do negócio, de maneira que se houver coação corporal, o negócio é inexistente. 
Coação Moral (vis compulsiva) - É um defeito do negócio jurídico que gera a sua invalidade (anulabilidade do negócio jurídico). Este tipo de coação moral traduz uma violência psicológica que leva o coagido a celebrar, mediante ameaça real e séria, negócio jurídico que a sua vontade interna não deseja pactuar. É a ameaça, a qual é uma coação psicológica. Não retira completamente a vontade do negócio, porém embaraça a vontade do negócio Ex: Ou vocêassina este contrato ou eu vou botar fogo em sua fazenda. Enquanto o dolo é o engano, a coação é a ameaça. O próprio código civil, no art. 151, define a coação. No apreciar a coação, nos termos do art. 152, não se deve utilizar a figura abstrata “do homem médio”, uma vez que as características pessoais do coagido importam. Obs: Vale lembrar ainda, nos termos do art. 153, que o temor reverencial e a ameaça do exercício regular de direito não caracterizam coação. Ex: Carta da operadora de cartão dizendo que se eu não efetuar o pagamento, meu nome será negativado. Tal advertência não é coação pois é uma ameaça do exercício regular de um direito. O próprio TJ-RJ (Apelação Cível 2004.001.34437) já decidiu que a ameaça de negativação de nome por dívida legítima não caracteriza coação. Temor reverencial é o respeito em face de determinada autoridade (ex: - o sargento tem temor reverencial em face do general; - o filho tem temor reverencial em face do pai, etc). 
Coação de Terceiro - Na coação de terceiro, em linha semelhante ao dolo de terceiro, regra geral, o negócio jurídico será anulado apenas se o beneficiário soubesse ou devesse saber da coação (art. 154 e 155 CC). Ex: Ex: “C” (terceiro) ameça “A” a comprar produtos de “B”, sob pena de morte. Se “B” (beneficiário) não sabia da coação de terceiro, o negócio será mantido, devendo somente “C” indenizar os prejuízos a “A”. Porém se “B” sabia ou tinha como saber da coação de terceiro, o negócio será anulado , sendo que “A” responderá solidariamente com o terceiro (“C”) por perdas e danos (ou seja, a vítima poderá pedir indenização integral a qualquer um dos dois). É importante notar que, em caso de coação de terceiro, os envolvidos em cumplicidade (o coator e o beneficiário) responderão SOLIDARIAMENTE pela indenização devida à vitima. 
LESÃO: 
	
Este tipo de defeito não foi previsto no código de 16.
O próprio direito romano já conhecia o instituto, especialmente no código Justiniano, ao reconhecer a diferença entre lesão enorme (com prestação superior a metade do preço justo) e a lesão enormíssima (com prestação superior a 2;3 do preço justo).
A primeira lei brasileira a cuidar da lesão, a despeito do silencia do código de 16, foi uma lei criminal: A lei 1521/1951 (Lei de Economia Popular), que punia , com detenção de 6 meses a dois anos, a prática de contrato usurário. 
Tempos mais tarde, o Código de Defesa do Consumidor (art. 6º, V; Art. 39, V; art. 51, IV) reconheceria o vício da lesão, considerando-o cláusula abusiva. 
Finalmente, o CC de 2002, em seu art. 157, também regularia o defeito da Lesão. 
Conceito e elementos da Lesão: 
A lesão, defeito invalidante do negócio jurídico, resulta da desproporção ou desequilíbrio entre as prestações pactuadas, em face do abuso da necessidade ou inexperiência de uma das partes, que suporta onerosidade excessiva. Ex: Contratos de bancos que pactuam taxas de juros excessivas, fora dos valores praticados no mercado.
Elementos ou requisitos da lesão:
Elemento Objetivo ou Material – é a desproporção entre as prestações pactuadas. Obs: Não devo confundir a lesão, defeito invalidante do negócio, que nasce ou surge com a sua própria celebração, com a doutrina ou teoria da imprevisão, que pressupõe um negócio jurídico válido que somente se desequilibra depois, autorizando a sua revisão judicial. 
Elemento Subjetivo ou Imaterial – é o abuso da necessidade ou da inexperiência de uma das partes. Obs: Dolo de Aproveitamento, ou seja, a intenção, o dolo específico de explorar a parte vítima da lesão é dispensado pelo sistema jurídico brasileiro. A vítima da lesão não necessita provar que a outra parte tinha a intenção de se aproveitar da situação. Basta que se prove o abuso da necessidade ou a inexperiência da vítima da lesão, não devendo ser provado dolo de aproveitamento, ou seja, a intenção da parte que explora. 
Cuidado! A lesão no CC (art. 157) é causa de anulação, já a lesão prevista no Código de Defesa do Consumidor (art. 51, IV) é causa de nulidade absoluta. 
ESTADO DE PERIGO: 
- Assim como a lesão, o Estado de Perigo somente veio a ser reconhecido no Código Civil de 2002 (art. 156). Este defeito do negócio jurídico, causa de sua anulabilidade, é bastante peculiar, na medida em que consiste na aplicação do Estado de Necessidade no âmbito do negócio jurídico. 
- No Estado de Perigo, temos situação muito mais desesperadora do que na simples Lesão, na medida em que a parte prejudicada assume prestação excessivamente para salvar-se ou a pessoa próxima de perigo de dano físico, material, moral ou psicológico. Neste caso, segundo entendeu o próprio STJ (Resp. 918.392 RN) exige-se o dolo de aproveitamento, ou seja, que a outra parte conheça a situação desesperadora de perigo e dela se aproveite. Ex1: Pai que tem seu filho sequestrado e ameaçado de morte, vai a um agiota, e este sabendo disso concede o empréstimo a juros excessivamente abusivo. Na perspectiva da Função Social, o melhor exemplo de aplicação do Estado de Perigo para invalidar um ato negocial consiste na absurda exigência do Cheque Caução como condição para o atendimento de emergência dos hospitais. A própria jurisprudência (Resp. 796.739 MT, Resp. 918.392 RN e Apelação 833.355-7 Tribunal de SP) já tem aplicado a teoria em situações congêneres. Valendo mencionar ainda, que a Resolução nº 44/2003 da Agência Nacional de Saúde, nos seus termos, proíbe a exigência desta caução que pode até resultar em representação perante o Ministério Público Federal. 
20/04/2011 - SIMULAÇÃO
- Conceito: Na simulação, celebra-se um negócio jurídico aparentemente normal, mas que, em verdade não pretende atingir o efeito que juridicamente deveria produzir.
- Espécies: Absoluta e Relativa
Absoluta – As partes celebram contrato destinado a não gerar efeitos jurídico. 
Ex: João quer se separar de sua mulher, então para não ter que dividir seus bens com ela, celebra um contrato (simulado) com seu amigo Pedro, transferindo seus bens a ele a fim de que reavê-los depois do divórcio. Tal contrato não produzirá efeitos entre João e Pedro, ele foi feito por João apenas com o objetivo de resguardar seus bens. 
- Relativa – também conhecida como “dissimulação”. Na simulação relativa, por sua vez, as partes criam um negócio jurídico destinado a encobrir um outro negócio que produzirá efeitos vedados por lei. Ex: João tem uma amante, Maria. A amante quer que João dê a ela um apartamento, como João não pode fazer isto, pois é casado, os dois celebram um contrato de compra e venda, para simular esta doação. 
Obs: Poderá haver simulação relativa, também, quando o ato simulado é praticado mediante interposta pessoa. Ex: No exemplo acima, João doa o apartamento a seu amigo Pedro, para que ele doe depois para sua amante Maria. 
- O código civil de 2002, rompendo tradição legislativa, passou a considerar a simulação causa de nulidade absoluta do negócio jurídico. Art. 167 , caput, CC : “É nulo o negócio jurídico simulado...”
Obs: Somente a partir da entrada em vigor do novo código civil é que a simulação é causa de nulidade absoluta. Não se pode aplicar o novo CC para negócios celebrados anteriormente a ele.
- Na simulação relativa, à luz do princípio da conservação, em sendo possível, o juiz poderá aproveitar o negócio dissimulado (segunda parte do art. 167).
Obs: Um homem casado pode constituir união estável, desde que o mesmo esteja separado de fato de sua esposa. No caso acima, se João estivesse separado de fato de sua esposa e tivesse união estável com Maria, ele poderia doar um apartamento à mesma. Então, se João tivesse simulado o contrato de compra e venda com o fim de dor tal apartamento à Maria, o juiz poderia aproveitá-lo. 
O artigo 103 do Código de 1016 dispunha que a “simulação inocente” (desprovida da intenção de prejudicar) não invalidaria o negócio; já o código de 2002 não traz esta distinção (enunciado 152 da 3ª Jornada). 
Obs: Considerando-se que a simulação passou a ser

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