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DPC0412 - Processual Penal III - Prof Zilli - 2012 (1ª prova)

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Direito Processual Penal III (29/02/2012) 
 
 1. Procedimentos Penais 
 1.1 Introdução 
 
 Quando o Estado é autoritário, a legislação é muito mais rígida, como demonstra o 
antigo CPP. Na estrutura original podíamos enxergar soluções claramente autoritárias. EX: Forma 
como o legislador resolveu a questão da prisão/liberdade, em que a liberdade era sempre 
provisória. A prisão era a regra. Outro exemplo seria a previsão do reexame necessário. As 
hipóteses de reexame necessário são construídas para aquelas decisões consagradoras do Estado 
de liberdade. Tais decisões deveriam necessariamente ser submetidas a uma revisão (ex: sentença 
concessiva da ordem de HC). 
 
 A Constituição de 1988 deu o início, estabeleceu um novo marco processual penal. 
Em um sistema que fosse pautado pela normalidade, bastaria a nova ordem constitucional para 
que a legislação infraconstitucional fosse aplicada em conformidade com o novo texto 
constitucional. Tratar-se-ia de uma atividade de adequação. Isso de certo modo foi operado no 
Brasil pós CF/88, mas esse procedimento de adequação, em muitos aspectos, não foi feito pela 
jurisprudência. 
 
 O procedimento judicialiforme é um exemplo disso. Tal procedimento era previsto 
no CPP, e com o advento da CF/88, consolidou-se o entendimento de que ele teria sido revogado. 
Tal procedimento previa a possibilidade de instauração do processo pela autoridade policial ou 
judiciária, com claras feições inquisitórias. A CF/88 estabeleceu no artigo 129 o monopólio do 
exercício da ação penal publica pelo MP, revelando a adesão ao modelo acusatório. Portanto, a 
nova CF mostrou-se incompatível com o modelo inquisitório, em relação ao qual o procedimento 
judicialiforme era um ranço. 
 
 Houve inúmeros outros casos em que disposições constitucionais confrontavam-se 
com normas do CPP, mantendo-se essas últimas plenamente aplicáveis (ex: direito ao silêncio). Só 
depois, com uma norma infraconstitucional que reproduziu o texto constitucional, teve efetividade 
a norma criada na CF/88. 
 
 Em razão desses exemplos, percebeu-se a necessidade de se reformar o CPP, já que 
a jurisprudência não fazia nada semelhante a isso. Por conta disso, foi montada uma comissão de 
especialistas, presidida pela professora Ada Pellegrini. Essa comissão se reuniu durante vários 
meses, e no ano de 2000 apresentou o resultado de seus trabalhos. Em vez de apresentar um 
projeto novo de CPP, a comissão apresentou vários projetos específicos para a reforma do CPP. A 
estratégia foi a seguinte: um novo CPP seguramente ficaria paralisado no Congresso Nacional e 
jamais seria aprovado. Há que se ressaltar ainda a urgência em aprovar as mudanças. Por isso, a 
comissão resolveu dividir o CPP em partes. Para cada parte, a comissão apresentou seis projetos de 
lei: investigação criminal, prisão e medidas cautelares, provas, procedimentos, um projeto 
específico sobre procedimento do tribunal do júri e o último sobre recursos. 
 
 A comissão teve a cautela de que todas as alterações tivessem uma uniformidade 
principiológica. Todas foram apresentados em conjunto. Os projetos não tiveram tramitação 
legislativa concomitante. Em 2008 foram aprovados os projetos sobre provas, procedimentos e 
procedimento do tribunal do júri. O quarto projeto foi aprovado ano passado, sobre prisões. 
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Durante esse tempo uma nova comissão foi criada e elaborou um novo projeto de CPP, que já foi 
aprovado pelo Senado e agora está na Câmara. A professora Ada estudou este último projeto e 
apresentou 300 emendas. 
 
 Quais foram os problemas detectados pela comissão? 
 a) Necessidade de adaptação dos procedimentos aos direitos e garantias fundamentais 
estabelecidos na CF; 
 
 b) Necessidade de modernização do processo e dos procedimentos penais, conferindo 
maior eficiência, sem que isso implicasse em renúncia ou diminuição de direitos e garantias 
fundamentais. Grande variedade de procedimentos e a idéia de que esses procedimentos devem 
ser racionalizados, estabelecendo uma base comum. Quanto ao procedimento comum ordinário, a 
comissão entende que ele é extremamente formal e que os atos processuais são 
fundamentalmente escritos. A ideia é quebrar essa formalidade e, além disso, incorporar atos orais 
em vez de atos escritos; 
 
 c) A comissão também detectou problemas na fase postulatória (oferecimento da denúncia 
ou queixa). No procedimento anterior, esta fase não foi muito bem regulamentada. Não há muitas 
disposições a respeito. Isso provoca uma pequena análise judicial quando da admissibilidade da 
denúncia ou da queixa. O recebimento da acusação era quase que automática, por ser uma fase 
extremamente concentrada. A comissão entende que isso traz prejuízos jurídicos, sociais. A ideia é 
dilatar essa fase postulatória, estabelecendo disposições processuais que conferiam ao juiz 
instrumentos para controlar a admissibilidade da acusação. 
 
 d) A fase instrutória era excessivamente longa, com até 3 audiências. As três audiências 
acabam estendendo excessivamente o processo, o que acarreta prejuízos aos prazos processuais. 
Havia uma dilação excessiva que trazia efeitos nefastos a marcha processual. A ideia é reduzir essa 
fase instrutória, concentrar as audiências e a atividade probatória. 
 
 e) Procedimento do júri: muito formal, muitos formas escritas e muitas audiências. A 
estrutura dos quesitos era muito complexa, inclusive legítima defesa, todos os requisitos. Os 
jurados precisavam decidir se havia excesso doloso ou culposo. A comissão pretende substituir as 
formas escritas pelas formas orais, racionalizando os quesitos. 
 
 Por conta dessas ideais, surgem algumas inovações, trazidas pela reforma de 2008: 
 a) Melhor regulamentação das hipóteses de rejeição da denúncia ou queixa. Na verdade, o 
legislador inclui a rejeição liminar da denúncia ou da queixa. Quais são as situações que podem 
ensejar a rejeição? Ausência de condições da ação ou ausência de justa causa. Há uma mudança 
de paradigma. Se não for hipótese de rejeição liminar, temos a segunda novidade: a citação do réu 
para apresentar resposta escrita. No campo da citação, a reforma de 2008 trouxe uma novidade e 
incluiu uma nova forma de citação; 
 
 b) Citação por hora certa. Antes não tínhamos citação por hora certa, a partir de 2008 
passamos a ter a exemplo do Código de Processo Civil; 
 
 c) A terceira novidade é a apresentação da resposta escrita. A resposta escrita é uma peça 
que concretiza o exercício de uma defesa técnica. É uma peça apresentada por um defensor 
técnico (é uma espécie de contestação). O legislador procurou dar importância a este momento de 
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exercício de defesa; 
 
 d) Juízo de admissibilidade: o juiz exerce, após a citação e apresentação da resposta do réu, 
o controle de admissibilidade da ação. A fase postulatória ficou sensivelmente expandida. Tal juízo 
de admissibilidade traz algumas alternativas para o juiz: absolvição sumária. O juiz, após a resposta 
escrita, pode absolver sumariamente o réu. É uma espécie de julgamento antecipado da lide. Mas 
é um julgamento antecipado de mérito, e é um julgamento antecipado de mérito a favor da 
defesa. A absolvição sumária ocorre quando o juiz reconhece que não há tipicidade, que há 
presença de uma excludente de ilicitude ou uma excludente de culpabilidade. Não há instrução 
processual; 
 
 e) Audiência una: é onde haverá produção de provas, interrogatório, debates e julgamento. 
O legislador concentra a fase instrutória e todos os atos subseqüentes em uma única audiência. A 
ideia de substituir as formas escritas por formas orais ganha concretude com essa audiência única; 
 
 f) Deslocamento do momento do interrogatório: nos procedimentos anteriores o 
interrogatório era um dos primeiros atos. Com a reforma, o interrogatório passa a ser o último ato, 
na audiência, depois de produzida toda a prova oral. Qual é o sentido disso? Reforçar a natureza 
do interrogatório como meio de defesa. Como meio de defesa, a defesa deve se manifestarpor 
último, inclusive depois de produzidas todas as provas. 
 
 g) Incorporação do princípio da identidade física do juiz. No processo penal não havia esse 
princípio. Isso foi incorporado pela reforma. O juiz que preside a instrução deve proferir o 
julgamento. Mas a audiência não é única? Não haveria necessidade desse princípio. O princípio 
existe para solucionar a hipótese em que o juiz não profere sentença em audiência porque ainda 
não se sente a vontade para isso. É justamente nesse sentido que foi criado o princípio. 
 
 Como determinar qual procedimento penal será adotado? 
 
 Foi mantida a correlação entre manutenção de procedimento e gravidade da infração. 
Como saber qual o procedimento a aplicar? Temos que avaliar a gravidade abstrata da infração 
penal. Os procedimentos são estruturados de acordo com a gravidade, quanto maior a gravidade, 
mais longo será o procedimento. Se alguém pode ser punido mais severamente, precisamos dar 
mais possibilidades de defesa. 
 
 Procedimentos 
 
I. Comuns: 
 a) Ordinário – pena máxima= ou >4 anos; 
 
 b) Sumário - pena máxima>2 anos<4 anos; 
 
 c) Sumaríssimo - pena máxima < ou = 2anos (artigo 61 da lei. 9099/95); 
 
 d) Júri – crimes dolosos contra a vida (Lei 11.689/08). O júri é competente não só 
para os crimes dolosos contra a vida, mas também para os crimes conexos. Assim, os crimes 
conexos também ficarão sujeitos ao procedimento do tribunal do júri (***prova). 
 
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 Quando estivermos diante de um caso, devemos averiguar qual é o máximo da pena 
ABSTRATAMENTE cominada. Dúvida: Acusação em que alguém foi acusado, sendo a pena 
requerida a ser aplicada superior a 4 anos, mas a pena máxima está entre 2 e 4 anos. Aplicamos o 
procedimento ordinário, porque ele oferece maiores oportunidades de defesa. 
 
II. Especiais: 
 a) Código; 
 b) Leis especiais; 
 
Direito Processual Penal III (07/03/2012) 
 
Aula de Busca e apreensão (Professora Cleonice Pitombo) 
O instituto da busca e da apreensão não são as mesmas coisas. Nós temos dois institutos: a 
busca: que é a procura; e a apreensão. É comum vê-lo seguidos, porque, normalmente, após uma 
busca há uma apreensão. Podemos ter uma busca que é infrutífera e não há uma apreensão, ou 
uma apreensão sem busca, quando a busca se mostra desnecessária. 
 
Natureza jurídica diversa: 
A busca é uma limitação de um direito individual fundamental, enquanto a apreensão mais 
se aproxima de uma medida cautelar. São naturezas jurídicas distintas e o contorno de legalidade 
de uma influencia no contorno da outra. Apesar disso, os institutos se completam, se um seguido 
do outro. 
 
Disciplina legal: 
Artigo 5, inciso XI – Inviolabilidade do domicílio – É direito fundamental, e se assim o é a 
restrição precisa observar estritamente alguns requisitos. Os requisitos gerais são de que a 
limitação deve ser imprescindibilidade demonstrada à luz do caso concreto. No caso concreto, o 
interesse social da persecução penal se sobrepõe ao interesse da inviolabilidade do domicílio. 
 
Requisitos para limitação de direito fundamental: 
Deve ser evidenciado que a produção daquela prova não pode ser feito de outro meio. 
Assim, devemos demonstrar: i) Imprescindibilidade; ii) Proporcionalidade – Os direitos 
fundamentais não são absolutos, devendo as limitações que lhe são ofertadas respeitar o princípio 
da proporcionalidade; iii) Legalidade – EX: A CF/88 admitiu expressamente a inviolabilidade das 
comunicações telefônicas. Só adveio lei que regulamentava a interceptação telefônica em 1996. 
Até ali não havia lei que regulamentasse limitação. Portanto, naquele período, ainda que existisse 
proporcionalidade e imprescindibilidade, não poderia haver interceptação, exatamente porque 
ausente o aspecto da legalidade. 
 
O direito à liberdade também é um direito fundamental. A restrição à liberdade depende de 
ordem judicial ou flagrante delito. O que utilizamos para restringir a liberdade também deve 
respeitar os requisitos gerais para limitação de um direito fundamental. Se a busca e apreensão 
passam a ser uma medida cautelar de restrição da liberdade, então os mesmos requisitos devem 
ser observados. 
 
Hipóteses constitucionais de limitação do direito a inviolabilidade do domicílio: 
O que é o consentimento e qual consentimento seria válido para ingresso no domicílio? O 
consentimento deve ser expresso e dado por alguém que é plenamente capaz. O consentimento 
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deve ser claro e objetivo, determinando qual é o objeto daquele ingresso. A autoridade policial 
deve falar o que ele vai fazer ali dentro. 
 
As outras hipóteses de ingresso no domicílio são (i) ocorrência de situação de flagrante delito 
(se é possível restringir a liberdade, porque não podemos restringir o direito a inviolabilidade do 
domicílio?). Esse flagrante delito precisa ser um flagrante real; (ii) desastre; (iii) para prestar 
socorro e (iv) mediante ordem judicial, durante o dia. 
 
A ordem judicial deve atender aos requisitos legais para que seja válida. A ordem judicial 
precisa ser (a) fundamentada (art. 93, inciso IV, da CF); (b) expedida por autoridade competente – 
caso paradigmático – criação de varas especializadas na persecução de crime financeiro – houve 
ordens de busca e apreensão expedidas por juízes outros que não dessas varas – há acórdãos que 
reconhecem a nulidade dessas ordens porque as autoridades eram incompetentes em razão da 
matéria; e (c) o conteúdo dessa ordem também precisa indicar o mais precisamente possível o 
objeto que será apreendido. O artigo 243 elenca os requisitos do mandado de busca. 
 
Art. 243. O mandado de busca deverá: 
I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o 
nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da 
pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem; 
II - mencionar o motivo e os fins da diligência; 
III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir. 
§ 1º Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do mandado de busca. 
§ 2º Não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusado, 
salvo quando constituir elemento do corpo de delito. 
 
Em São Paulo houve épocas em que mandados de busca e apreensão foram expedidos para 
apreender um quarteirão ou uma favela inteira. Será que é possível um mandado de prisão 
coletivo? Da mesma forma não se pode admitir um mandado de busca e apreensão coletivo. Por 
incrível que pareça, todos os mandados de busca e apreensão foram usados não para fins de 
persecução penal, mas para atender aos anseios da mídia. Esses mandados foram realizados sem 
nenhuma relevância para persecução penal. 
 
Momentos: 
 No curso do inquérito policial, pode ser requerido o mandado de busca e apreensão, até 
porque neste momento busca-se produzir provas. No momento da ação penal também pode se 
requerido, pois pode surgir a necessidade de produção de novas provas. 
 
 E se a autoridade policial vislumbra a necessidade cautelar de realizar uma busca e 
apreensão, mas não há um inquérito policial em curso. Como proceder? A professora defende que 
a autoridade policial deve simultanemante abrir o inquérito policial e requerer a medida cautelar. 
Isso não é um mero formalismo. Porque se sustenta essa necessidade de simultaneidade? Se a 
medida cautelar de provas for negativa ou positiva, sem um inquérito policial, onde ela vai ser 
guardada? Quem sofre uma busca e apreensão deve saber quais as razões pelas quais ela sofre 
uma restrição ao seu direito fundamental. 
 
Procedimento criminal diverso: é o procedimento criado pelo MP para que ele investigue 
determinados crimes. O MP por meio de resoluções do CNMP e da lei do MP, e de outros institutos 
que legitimam o MP a investigar, usou desses instrumentos para dar suporte a criação deste 
processo. O MP elege alguns crimes e escolhe investigar, sem a participação da autoridade policial. 
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Nesse procedimento, muitas vezes há pedidode busca e apreensão. O MP com base nesse 
procedimento solicita uma ordem de busca e apreensão, obtém a ordem, que preenche todos os 
requisitos legais e constitucionais. Mas será que esse procedimento criminal diverso legitima essa 
ordem de busca? Não há nenhuma lei ordinária que regulamente o poder investigatório do MP 
com escopo criminal, da persecução penal. Se não há lei ordinária, o MP não tem legitimidade 
para requerer essas medidas. 
 
Os tribunais não enfrentam essa questão de frente, pois enfrentar a legalidade desse 
procedimento implica necessariamente em enfrentar os poderes investigatórios do MP. 
 
Inquérito parlamentar: A CPI está disciplinada na CF, em seu artigo 58. Problema: o §3º fala 
que as comissões parlamentares de inquérito estão investidas dos mesmos poderes das 
autoridades judiciais. Poder jurisdicional é inerente e exclusivo do poder jurisdicional. Se a busca e 
apreensão é direito fundamental, não se pode admitir que uma CPI tem poderes inerentes e 
exclusivos do poder judiciário. Além disso, houve uma atecnia desse dispositivo constitucional, e 
isso também não podemos admitir. 
 
Ocorre que quando as CPI passaram a ser instituídas, em muitos casos a testemunha para ir 
depor na CPI ia com um HC preventivo para não ser presa ou para se manter em silêncio. A CPI 
começou a achar que tinha um poder absoluto, maior ainda que o das autoridades jurisdicionais, 
como decretação de prisão preventiva e etc. Hoje a jurisprudência disse que direito fundamental 
só poder limitado por decisão do poder jurisdicional, não pela CPI, que deverá requerer essa órgão 
ao poder judiciário. 
 
A CPI e o procedimento criminal diverso têm diferenças: o procedimento seria ilegal, por 
falta de previsão legal. Na CPI a discussão é outra, pois é possível haver limitação a direito 
fundamental, desde que ocorra ordem judicial, e não mera ordem administrativa da CPI. A CPI não 
pode expedir mandados de prisão, de busca e apreensão, pois esses poderes não foram atribuídos 
pelo §3º do artigo 58. Quando o legislador estabelece poderes a CPI, ninguém questiona que ela 
não possa investigar e determinar atos inerentes ao poder judiciário, mas ela não pode executar 
poderes que decorrem da reserva de jurisdição, como a limitação de direitos fundamentais. Toda 
limitação de direitos fundamentais está submetida a ordens judiciais e a CPI não é órgão do poder 
judiciário. Os poderes da CPI são semelhantes aos poderes de um delegado de polícia. No CCP há 
previsão que a autoridade policial pode fazer busca e apreensão, mas tal norma não foi 
recepcionada pela CF, que elegeu a inviolabilidade como direito fundamental e somente poderá 
ser limitado por ordem judicial previamente fundamentada. 
 
Conceito de casa: 
A CF e o CPC não diz o que é casa. O CPP, no artigo 150, §4º, define o que é casa. Casa será 
considerada moradia definitiva ou provisória, própria ou alugada, ou qualquer lugar em que ele 
exerça sua individualidade. O quarto de hotel, pousada ou em qualquer outro lugar onde ele 
exerce sua intimidade e vida privada são entendidos como casa. Há julgados que admitem a cabine 
do caminhão. O caminhão quando utilizado como veículo, não está abrangido pela tutela 
constitucional. Mas quando ele para o caminhão e faz da cabine sua casa, é preciso uma ordem 
judicial para determinar a busca e apreensão. 
 
E o estabelecimento comercial? Também é necessária uma ordem judicial. Se não fosse pela 
tutela do domicilio, há outro dispositivo que assegura a intimidade e a vida privada. No 
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estabelecimento comercial geralmente são exercidas atividades acobertadas pelo sigilo e pelo 
segredo. 
 
Apreensão: 
Quando busca e a apreensão estão atreladas, a ilegalidade da busca afeta a apreensão. Por 
outro lado, pode haver uma busca legal e uma apreensão ilegal. No código de processo penal 
militar, quem exerce a busca deve ter patente maior de quem está sofrendo a busca. Se precisar 
arrobar, é preciso chamar um chaveiro, não pode usar o pé de cabra. Executada essa ordem, 
respeita a vida privada, podemos encontrar algumas situações: na busca ela se depara com provas 
não relacionadas ao fato investigado. Realiza o conteúdo da sua ordem, mas encontra também 
outras provas/objetos de coisa de fatos não investigados. Outra situação seria encontrar provas 
que ele não esperava, que não faziam parte da ordem judicial, mas estavam relacionados com o 
crime investigar. 
 
Como proceder? De um modo estrito, se ele apreende é ilegal e nenhuma utilidade terá na 
relevância penal. Porém, se a autoridade não apreender ela pode ser acusada de prevaricação. Se 
ela apreende, pode ser considerado abuso de autoridade. 
 
Quais são as opções que a autoridade policial tem? A solução é solicitar uma ordem de 
apreensão. Quando tem conexão com o fato investigado, os mandados de busca e apreensão são 
expedidos dizendo que todos os objetos relacionados com o fato investigado poderão ser 
apreendidos, então não há maiores problemas (art. 240 – letra E – do CPP). Isso pode gerar 
abusos. Com os objetos não relacionados é a autoridade policial preservar o local, requerer a 
apreensão e simultaneamente dar abertura no inquérito policial. Se isso não for feito, as provas 
apreendidas serão ilícitas e imprestáveis. 
 
Direito Processual Penal III (13/03/2012) 
 
1.2 Procedimento ordinário 
 
1.2.1 Marco inicial do processo/Oferecimento da ação 
 
O procedimento ordinário se inicia com o oferecimento da denúncia ou da queixa. O prazo 
para o oferecimento da denúncia varia conforme o fato de haver alguém preso (5 dias) ou não (15 
dias). O descumprimento do prazo para oferecimento de denúncia de alguém que está preso 
caracteriza constrangimento ilegal, passível de HC. 
 
Além disso, o descumprimento desses prazos permite que o ofendido ou o seu representante 
legal possam intentar a queixa crime subsidiária. Essa hipótese é cabível quando o MP permanece 
inerte. Tal queixa crime é subsidiária da ação pública. Qual é o prazo para a queixa crime? O prazo 
para o oferecimento de queixa crime é, via de regra, de 6 meses. Esse prazo é decadencial. 
 
 Se o particular não ajuíza a queixa crime dentro desse prazo, opera-se a decadência e por 
consequência a extinção da punibilidade. Essa afirmação é plenamente válida quando estamos 
lidando com a ação privada exclusiva (***). 
 
Na ação subsidiária, o prazo de 6 meses é contado do término do prazo que o acusador teria 
para oferecer a denúncia. Neste caso, o particular decai do direito de intentar a queixa crime, mas 
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isso não implica em extinção de punibilidade porque estávamos tratando de um crime público na 
origem. O ofendido decai do direito, mas o decurso desse prazo não necessariamente implicará em 
extinção da punibilidade, já que o titular da ação era o MP. Só haveria extinção da punibilidade se 
ocorrer a prescrição. 
 
O efeito principal da apresentação da queixa crime ou da denúncia é a inauguração do 
processo. Vamos encontrar inúmeros autores fazendo referência ao fato de que o processo se 
inicia com o recebimento da denúncia ou da queixa. Essa é uma posição bastante consagrada, mas, 
segundo o professor, não é o posicionamento correto. Para Zilli, o processo nasce do 
oferecimento da denúncia ou da queixa. 
 
O processo pressupõe dois elementos: (i) procedimento – sequência de atos; (ii) relação 
jurídica processual – essa relação jurídica processual não precisa estar completa para 
reconhecermos a existência de processo. Basta que um dos elos tenha sido estabelecido. Isso 
ocorre quando a ação penal é ajuizada. Quando a parte ou o queralente já está provocando o 
Estado Juiz, isso basta para reconhecermos a presença do processo. A partir desse liame 
estabelece-se uma relação entre o acusador e o Estado. O recebimento da denúncia ou da queixa 
tem um papel importante, mas não o de indicar a existência do processo. O recebimento indica e 
aponta para toda a sociedade de que há contra aquela pessoa elementos mínimosque levaram a 
admissibilidade daquela acusação. Quando o Estado juiz analisa os elementos da denúncia ou da 
queixa, e percebe que seus elementos estão preenchidos, ele recebe aquela denúncia ou queixa. 
 
O recebimento tem um efeito no plano material importantíssimo: a determinação da 
suspensão do curso do prazo prescricional, porquanto o Estado reconheceu que há elementos 
mínimos para instauração do processo penal. 
 
A citação, no processo penal, também é um ato de extrema relevância (artigo 363 do CPP. 
com redação alterada pela Lei nº 11.719/08). Uma primeira leitura do artigo poderia nos levar a 
concluir que o processo só existe depois da citação. Na verdade, o que o legislador quis dizer é 
que a relação processual se COMPLETA com a citação. É com a citação que o acusado toma plena 
ciência de que contra ele foi intentada uma ação penal. O artigo 363 faz com que uma vez citado o 
acusado, qualquer aditamento da denúncia ou da queixa dependa de nova citação. Enquanto não 
for feita a citação, o MP pode aditar a denúncia ou queixa. Feita a citação, dentre outros requisitos, 
o réu ou querelado deve ser novamente citado. 
 
1.2.2 Primeira análise da denúncia/queixa 
Exame da queixa/denúncia pelo juiz: O juiz deverá fazer um exame da denúncia ou queixa. O 
juiz deve averiguar se é hipótese de rejeição liminar da denúncia ou da queixa. 
 
O artigo 43 do CPP antigo, que hoje está revogado, trazia três hipóteses: 
1. Não constituir crime; 
2. Extinção da punibilidade; 
3. Legitimidade da parte ou faltar condição exigida pela lei para o exercício da ação penal. 
 
Esse artigo confundia aspectos processuais com aspectos de mérito. O inciso I supõe uma 
análise do mérito, qual seja qualificar o fato como típico ou não. A extinção da punibilidade 
também é uma questão que toca ao mérito. A terceira hipótese é nitidamente de caráter 
processual. 
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A comissão de especialistas partiu de algumas premissas para reformular esse artigo. O 
controle inicial feito pelo juiz deveria estar adstrito a uma maior logicidade. O exame inicial deveria 
ficar restrito ao exame de aspectos processuais. Seria um controle desprovido de qualquer análise 
de mérito e exclusivamente processual. 
 
Hoje a nova redação está prevista no artigo 395 do CPP (redação dada pela lei nº. 
11.719/2008): 
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: 
I - for manifestamente inepta; 
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou 
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. 
 
 1.2.2.1 Inépcia 
 A inépcia da inicial está atrelada ao fato de a peça acusatória estar desprovida dos 
requisitos mínimos que autorizariam o processamento daquela ação penal. EX: Quando a denúncia 
ou queixa abusa de estrangeirismos a ponto de deixar a peça irreconhecível. A narrativa acusatória 
vem condensada nesta peça. A imputação deve ser precisa. Se ela é confusa, incompreensível, 
contraditória, não é possível extrairmos dela um processo que seja válido. 
 
 Art. 41 do CCP – Deste artigo podemos extrair uma base para compreendermos quando 
uma peça será inepta ou não. Requisitos: exposição do fato criminoso com todas as suas 
circunstâncias, qualificação do acusado, esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a 
classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas. 
 
 O artigo 41 nos fornece uma base compreensível para entendermos onde estaria verificada 
a inépcia. Mas não é o descumprimento de todo e qualquer requisito do artigo 41 que acarreta a 
inépcia: exemplo – rol de testemunhas. A ausência de rol de testemunhas não gera inépcia, mas 
gera preclusão de apresentar aquele rol. 
 
 O juiz pode abrir prazo para emenda da denúncia ou queixa, como ocorre no CPC? Quando 
o juiz recebe a denúncia ou queixa ele deve analisar se é hipótese de inépcia. Se ele estiver diante 
de uma inépcia, deverá rejeitar liminarmente a peça, não abrir prazo para emenda. 
 
 1.2.2.2 Ausência de pressuposto processual/Ausência de condição da ação 
 Os dois aspectos têm em comum o fato de que o legislador não esclarece o que diferencia o 
pressuposto e a condição para o exercício da ação. No campo doutrinário, a temática dos 
pressupostos processuais é complexa e se torna ainda mais quando focamos no processo penal. 
 
 A ideia de pressuposto processual está associada a autonomia que a ação/processo tem em 
relação ao direito material. Hoje é muito clara a ideia de que a ação não se confunde com o 
próprio direito material invocado. 
 
 Pressupostos processuais são aspectos que tocam o processo, a sua admissibilidade. É um 
requisito de admissibilidade para que o Estado possa proferir um provimento jurisprudencial. 
 
 Os pressupostos são geralmente divididos em duas classes: 
 (a) Existência – Devemos ter uma ação penal, dirigida ao Estado juiz e formulada por uma 
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parte que detenha capacidade (ação+órgão competente+parte capaz); 
 (b) Validade – A questão aqui é enfrentada sob o aspecto negativo. São circunstâncias que 
não devem estar presentes, pois se eles estiverem o processo não poderá se desenvolver. EX: Não 
é possível haver litispendência. EX: Coisa julgada. 
 
 Declinação de competência: 
 E a falta de competência? A rigor a falta de competência é um pressuposto processual. Mas 
em vez de rejeitar a denúncia ou a queixa, ele deve se declarar incompetente, declinando de sua 
competência, fazendo a remessa dos autos ao juiz que ele considera competente. 
 
 Condições da ação: 
 As condições da ação para o processo penal é um dos temas mais tormentosos. O legislador 
não indica quais seriam as condições de ações, o que o legislador de 1941 até chegou a se arriscar. 
As condições da ação podem ser: 
 
 (a) gerais (interesse de agir, legitimidade de parte, possibilidade jurídica do pedido): Há 
uma crescente discussão quanto à pertinência ou não da possibilidade jurídica do pedido como 
uma condição válida para o exercício da ação penal. Maria Thereza entende que essa condição está 
superada. Para ela, o exame de legalidade fica a critério da Justa Causa. A professora Ada entende 
que a possibilidade jurídica é super relevante, porque está ligada aos aspectos da legalidade. Se há 
um problema de legalidade, a professora Ada acha que a questão deve ser resolvida pelo pela 
possibilidade jurídica do pedido. Quando se reconhece uma ilegalidade, não é o fato que é atípico, 
pois haveria uma análise de mérito (aqui seria caso de absolvição sumária). A rejeição por falta de 
possibilidade jurídica só pode ser retirada quando da própria narração dos fatos percebemos que 
não houve um fato típico (rejeição liminar da denúncia ou queixa). 
 
 EXEMPLOS: (i) Crime de porte ilegal de arma. MP diz que a arma é de brinquedo. Nessa 
primeira situação, a descrição de uma posse de brinquedo causa um problema de deficiência da 
pessoa acusatória por falta de possibilidade jurídica do pedido. (ii) Em outro exemplo, o perito em 
um exame preliminar diz que a arma é de brinquedo. Aqui o problema é de deficiência do fato, não 
a narrativa acusatória. Aqui o problema não é de simples rejeição da denúncia, mas do mérito da 
causa. Aqui teríamos hipótese de absolvição sumária. 
 
 (b)especiais: 
 (i) requisição do Ministro da Justiça (nos crimes contra a honra contra o presidente da 
república); 
 (ii) representação do ofendido – nos crimes de ação penal pública condicionada – Sem a 
representação, o MP não pode promover a denúncia; 
 (iii) encerramento do procedimento administrativo fiscal nos crimes tributários – hoje 
consolidou-se o entendimento de que para apresentarmos uma denúncia por crime fiscal o 
procedimento administrativo fiscal deve estar encerrado; 
 
 Súmula vinculante 24 do STF – Não se tipifica crime material previsto em X antes do 
lançamento definitivo do tributo. A súmula vai para outro caminho. Ela poderia dizer que não é 
admissível ação penal enquanto não encerrado o procedimento administrativo tributário. No 
entanto, a Súmula vaipara outro caminho, dizendo que o crime não se tipifica. 
 
 Essa questão não está no caminho das condições da ação. No entendimento do STF não 
 - 11 - 
podemos falar de crime de sonegação de tributo se antes de ter sido reconhecido no plano 
administrativo a existência do débito. Aqui caímos no problema de justa causa. Ainda não foi 
reconhecido o crédito tributário, então não podemos intentar a ação. 
 
 1.2.2.3 Justa causa: 
 Os tribunais são muito prodigiosos para usar a expressão a justa causa. É uma expressão 
usada de forma indistinta. A justa causa tem um sentido muito mais restrito, que ficou evidenciado 
com a reforma de 2008. O artigo 43, que era o artigo que ate então fazia menção à rejeição da 
denúncia ou queixa, não fazia menção à justa causa, o que foi incorporado pela reforma de 2008. 
 
 A justa causa hoje é entendida como um entrave processual. 
 
 Maria Thereza defende que a justa causa deve ser interpretada em um sentido bastante 
amplo, que envolveria tanto a legalidade da acusação quanto à existência de elementos 
probatórios suficientes. É uma dupla perspectiva. A justa causa envolve a legalidade, se ela 
preenche os contornos de legalidade, como também de legitimidade, que é a existência de lastro 
probatório mínimo para oferecimento da ação penal. Quando o fato narrado é atípico, a 
professora defende que falta justa causa. Quando a ação penal é intentada por acusador público 
em vez do privado, falta justa causa. Quando é evidente a exclusão de ilicitude, falta justa causa. E 
também faltará justa causa quando não tivermos indícios de materialidade e de autoria. 
 
 O professor discorda desse entendimento da Maria Thereza. Pelo professor, a mudança de 
2008 torna inviável esse tipo de posicionamento, porque o legislador destacou justa causa de 
outros aspectos como falta de pressuposto processual ou condições da ação. O legislador não quer 
que confundamos justa causa com outras condições da ação penal. Além disso, o artigo 397 do CPP 
traz as hipóteses de absolvição sumária, dentre elas a existência manifesta causa de exclusão de 
ilicitude. O legislador levou os aspectos que a Maria Thereza quis dar para justa causa como 
hipóteses de absolvição. 
 
 Para o professor, Justa causa deve ser entendida como uma “probable cause“. Haverá justa 
causa quando encontramos elementos mínimos que confiram sustentabilidade a essa acusação. 
Que elementos são esse? Demonstração da materialidade do crime e indícios de autoria. 
 
 EX: O MP atribui a alguém o crime de falsidade documental. O exame pericial que atestaria 
a falsidade do documento ainda não ficou pronto. Sem esse exame, não há prova material do 
crime. 
 
 Um aspecto muito interessante ocorre nos casos de reconhecimento de prova ilícita. EX: 
Polícia invade a residência, fazendo uma busca generalizada e apreende documentos falsos, 
constatados depois por exame de perícia. O juiz averigua que a produção da prova foi ilícita. O juiz, 
considerada a busca ilícita e, por conseguinte, a prova pericial, deveria entender que não há justa 
causa. 
 
 (Anotações do 3º ano - Condições da Ação) 
 
 Possibilidade Jurídica do pedido: 
 Quanto a possibilidade jurídica de pedido, muitos a ligam com a noção de legalidade. 
Exemplo: entrar com a ação penal por fato atípico = seria um pedido juridicamente impossível. O 
 - 12 - 
mesmo ocorre com o pedido de pena de morte ou pena de caráter perpétuo. 
 Esse é o posicionamento dominanete, inclusive defendido pela professora Ada Pelegrini. Na 
década de 70 a professora Ada apresentou uma tese sobre as condições da ação, e depois 
reformou em um artigo publicado há 5 ou 6 anos. Dentre as mudanças, ela revaloriza a 
possibilidade jurídica do pedido como uma condição. Antes ela não havia dada muito importância 
a essa condição da ação. 
 O posicionamento dominante encontra posições em contrário, como o Zanoide e a 
professora Maria Teresa. Eles entendem que possibilidade jurídica do pedido não seria nada mais 
que o príncipio da legalidade penal. Esse posicionamento ainda é minoritário. 
 
 Legitimidade de agir 
 
 Duas óticas diferentes: ativa e passiva. 
 
 Sob o primeiro enfoque, a questão é igualmente relevante no processo penal. A 
legitimidade para propositura da ação penal é um dos critérios de classifação da própria ação 
penal. Daí falarmos em ação penal privada ou ação penal pública. A regra é de que a ação penal 
será proposta por autoridade pública. A legitimidae em via de regra é do MP. 
 
 A legitimidade do particular é uma legitimidade extraordinária. O particular só recebe esse 
poder em situações excepcionais. O particular não exerce o poder punitivo, o que ele recebe é o 
poder de promover a ação penal, de provocar a ação penal, para que o Estado, ele sim, exerça o 
poder punitivo. 
 
 Em relação a legitmidade passiva, qualquer um, com mais de 18 anos, é penalmente 
imputável. Essa é a lição clássica. Isso mudou de perspectiva com a publicação da lei dos crimes 
contra o meio ambiente (1998). Essa lei trouxe uma grande novidade, que foi a possibilidade de 
punição penal da pessoa jurídica. Há a ideia de responsabilidade penal da pessoa jurídica. A ideia 
de que o réu só poderia ser pessoa física foi deixada para trás. 
 
 Os professores Zanoide e Maria Terese afirmam que haverá ilegitimidade passiva quando o 
processo tiver instaurado contra um menor de 18 anos. Porque o menor não pode estar no pólo 
passivo da ação penal. Para a professora Ada, esse é mais um exemplo de impossibilidade jurídica 
do pedido, pois não é juridicamente possível pedir a punição de alguem menor de 18 anos. Não 
existe esse pedido. Não se trata de ilegitimidade, mas de impossibilidade jurídica. No caso das 
infrações cometidas pelos menores, não há direito penal nem processo penal. É um processo que 
tem um caráter socioeducativo.Não se fala em pena ou em punição. Não é direito penal. O que dá 
concretude a esse sitema é um outro tipo de processo. 
 
 Interesse processual: 
 O interesse processual é divida em necessidade, adequação e utilidade. Seriam os 
componentes do interesse processual. 
 
Necessidade: 
 
A necessidade está muito ligada com a ideia de pretensão resistida. A ação é necessária 
quando o titular do direito não consegue ver seu direito satisfeito de maneira voluntária, direta. 
Haveria uma lide. A lide supõe sempre uma pretensão resistida. Essa ideia tem pouca 
 - 13 - 
aplicabilidadde no direito penal.A ideia de resistência do direito penal é implícita no sistema. Não 
adianta o autor do fato criminoso afirmar que quer cumprir a pena desde logo passível de lhe ser 
cominada. A resistência é jurídica, pressuposta, implícita ao próprio sistema. Qualquer punição no 
direito penal passa necessariamente por meio de um processo. A resistência é jurícia, pois 
importando o que o autor do crime queira fazer. 
 
Adequação: 
 
Quanto a adequação, fala-se que que haverá interesse processual quando o meio escolhido 
for adequado para a tutela pretendida. Quando o meio não é adequado, haverá falta de interesse 
de agir. Isso tem pleno cabimento no processo civil, onde as ações são diversas, inúmeras. Cada 
ação possui uma finalidade processual própria. Mas isso não se aplica, também, ou se aplica de 
maneira muito reduzida no processo penal. As variações de ações no processo penal são muitos 
reduzidas. A grande massa no processo penal é a ação condenatória. E só há um tipo de ação 
penal condenatória. Para aplicarmos a sanção penal, dependemos da ação condenatória. 
 
Utilidade: 
 
Resta, por fim, o exame da noção de utilidade. A ideia de utilidade está associada a noção 
de que o provimento pleiteado possa ser de alguma utilidade. No caso da ação condenatória o 
provimento que se quer é a declaração de responsabilidade de alguem, bem como a cominação de 
uma sanção penal. Isso satisfaz o poder-dever punitivo. Quando haverá utilidade? Muitos afirmam 
que a utilidade existe com a simples presenção de indícios de autoria e de materialidade. 
 
Prescriçãoantecipada: 
 
Há um aspecto que toca precisamente essa questão da utilidade e que foi um aspecto 
desenvolvido pelo extinto tribunal de alçada criminal. Esse tribunal desenvolveu toda uma teoria 
que tratava do interesse jurídico. O tempo do processo não é o mesmo tempo do cometimento da 
prática criminosa. O Estado tem um prazo para cumprir o seu poder-dever punitivo. O tribunal 
criou a expressão de ''prescrição antecipada''. Não se tratava de uma prescrição propriamente 
dita. Toda a ideia estava fundamentada na noção de que quando fosse analisada a admissibilidade 
da denúncia ou da queixa, o juiz poderia fazer um prognóstico, com base nos elementos ali 
expostos (a imputação fática, a tese acusatória). Imaginemos um exemplo em que A tenha sido 
acusado de furto simples pelo MP. A não tem antecedentes criminais. Todos os aspectos 
relacionados pelo crime são simples e não ensejam maior reprovabilidade. Com isso, o juiz já 
poderia ter uma ideia preliminar de futura pena que poderia ser imposta no caso de procedência 
da ação penal. No nosso caso, o sujeito A ficaria com a pena básica de 1 ano. Com esse 1 ano, 
haveria uma prazo prescricional X. Segundo o entendimento do tribunal, com base nesse 
prognóstico, o juiz poderia avaliar se o prazo prescricional já ocorreu entre a data do fato e o 
recebimento da denúncia ou da queixa. Em tese, se o prazo já tivesse transcorrido, a imposição de 
uma pena seria absolutamente inútil. Ainda que a ação fosse julgada procedente, a pena imposta 
estaria acobertado pelo trasncurso do prazo prescricional. Esse raciocínio ganhou toda a 
jurisprudência do Estado de SP e de muitas unidades federativas. O STJ entendeu que não seria 
possível falar em ''prescrição antecipada'', pois não haveria essa modalidade de prescrição. O 
raciocínio do STJ foi que não poderíamos usar esse argumento pela inexistência da previsão. Esse 
raciocínio do STJ é equivocado, segundo o professor, porque não estamos analisando a prescrição, 
mas sim uma condição da ação. Há carência da ação aqui por inutilidade do provimento. 
 - 14 - 
 
Justa causa: 
É comum o uso da expressão justa causa no processo penal como uma 4ª condição da ação. 
Há autores inclusive que afirmam que a única condição da ação é a justa causa. 
A posição majoritária acerca da justa causa a vincula a um requisito probatório (são 
elemenos mínimos que sustentam a propositura da ação, por meio de indícios de autoria e 
materialidade). Afasta-se aqui da ideia mais dogmática. 
Há, por outro lado, um outro poscionamento, ratificado pela professora Maria Teresa, onda 
ela coloca um aspecto jurídico, baseado em uma noção de legalidade. Para ela, além do aspecto 
probatório, justa causa também deve ser conceituada no aspecto jurídico. Quando há uma ação 
condenatória por fato atípico, para a professora, haverá ausência de justa causa por ausência de 
seu elemento jurídico. Quando o fato é manifestamente lícito, por haver uma cláusula de exclusão, 
haverá também ausência de justa causa. 
No entanto, prevalece na doutrina um requisito mais restritivo na justa causa (probatório). 
 
 
 1.2.3 Não configuração da hipótese de rejeição liminar. Qual é o próximo passo do juiz? 
Quando a denúncia/queixa é recebida? 
 
 Juiz entende que não há hipótese de rejeição liminar. O que o juiz fará? A comissão de 
juristas quando elaborou a reforma do CPP entendeu que deveríamos prolongar a fase postulatória 
de modo que a admissibilidade da denúncia ou queixa somente seria analisada depois de uma 
defesa prévia do acusado. 
 
 A ideia imaginada era de que deveríamos ter o seguinte procedimento: i) oferecimento da 
ação; ii) análise da rejeição liminar; iii) citação; iv) reposta do acusado; v) Análise do recebimento 
ou não da ação penal. 
 
 Art. 396 do CPP. 
 
 Durante o processo legislativo, o legislador alterou a redação original, incluindo a expressão 
“recebê-la a e ordenará a citação do executado". Como se não bastasse, a redação proposta do 
artigo 399 não foi alterada. Ou seja, a redação do artigo 399 fala do recebimento da denúncia 
depois da resposta do acusado, criando uma incoerência. 
 
 E então, qual é o momento do recebimento da denúncia ou queixa? É uma verdadeira 
crise existencial que vem se prolongando até hoje. 
 
 Posições: 
 a) São dois os recebimentos – Se não for hipótese de rejeição liminar, teríamos um 
recebimento liminar que só se tornaria definitivo depois da resposta do acusado. Haveria juízos 
progressivos de recebimento da ação. Qual é o problema desse entendimento? Insegurança. Se 
são dois recebimentos, qual é válido para suspender o prazo prescricional? E de mais a mais é 
muito complicado falar em dois recebimentos. 
 
 b) O recebimento se dá no primeiro momento (art. 396 do CPP). Esse entendimento toma a 
questão do ponto de vista literal, entendendo que a inserção do termo "recebê-la" revela a 
vontade do legislador. Esse entendimento tem prevalecido na jurisprudência. 
 - 15 - 
 c) O recebimento se dá no segundo momento (art. 399 do CPP). Tal entendimento tem 
prevalecido na doutrina. A ideia de recebimento da acusação no processo penal é importante 
porque transparece o reconhecimento do Estado do Juiz quanto à presença dos elementos 
mínimos para o exercício da ação, com importantes consequências processuais e extraprocessuais. 
 
 Extraprocessual porque estamos declarando que aquela pessoa foi acusada e que existe um 
contorno de seu processo já ter sido instaurado. Além disso, quando o Estado juiz recebe a 
acusação ele transpõe uma etapa do procedimento. Dali para frente não vamos mais discutir a 
admissibilidade da acusação. Dali para frente vamos discutir se a acusação deve prevalecer ou não. 
Se a tese jurídica é verossímil ou não. Mas e se ao final do processo constatamos que o fato é 
atípico? Haverá uma sentença de mérito: absolvição. Podemos ter aspectos que tocariam a 
admissibilidade, mas que seriam resolvidos por meio de uma sentença de mérito, não de uma 
sentença de extinção sem mérito. 
 
 Esse terceiro entendimento desconsidera o que está no artigo 396 do CPP. 
 
 Argumento a favor da terceira corrente – Procedimento do aditamento à denúncia/queixa 
crime: O artigo 384 do CPP trata de uma situação onde durante a instrução há elementos que 
alteram fato anteriormente narrados. O juiz depende aqui de um aditamento da acusação, pois se 
o juiz julgar diretamente haverá uma violação do princípio acusatória e da adstrição. Oferecido o 
aditamento da acusação, o juiz obrigatoriamente deve dar oportunidade para a defesa se 
manifestar. Somente depois desta manifestação, é que o juiz vai receber ou não o aditamento. Aqui 
no aditamento o legislador manteve a ideia originária. Em uma interpretação sistemática tudo 
caminha para que o recebimento seja feito consoante o disposto no artigo 399 do CPP. 
 
Direito Processual Penal III (21/03/2012) 
 
1.2.4 Citação: 
É pela citação que o réu é chamado para integrar a relação processual, iniciando-se o prazo 
para apresentação da resposta escrita. A ausência de citação ou citação irregular acarreta a 
nulidade do ato, conforme o disposto no artigo 564, III do CPP. Para o legislador, a citação constitui 
um ato fundamental, relevante para o exercício da ampla defesa. 
 
Quando do estudo da nulidade, veremos que a ausência de citação ou uma citação falsa, 
embora represente uma nulidade, essa nulidade pode ser sanada, desde que o réu compareça 
espontaneamente em juízo. Esse comparecimento teria o condão de sanar aquela falha do ato 
citatório. A citação válida produz alguns efeitos no âmbito do processo. 
 
Efeitos da citação válida: 
 
(i) Obrigar o réu a comparecer em todos os atos. A intimação do réu é sempre PESSOAL no 
processo penal; 
(ii) Comunicar qualquer alteração de seu endereço; 
(iii) Início da fluência do prazo para apresentação de resposta escrita. 
 
 Formas de citação: 
(i) Real: é a citação realizada diretamente na pessoa do réu. Ele toma conhecimento 
diretamente do ajuizamento da ação penal;- 16 - 
 
(a) Mandado (art. 351): É aquela que ocorre no território do juízo de conhecimento. O réu 
reside na própria jurisdição em que o processo está em curso. Requisitos: (i) intrínsecos (art. 352); 
(ii) extrínsecos (art. 357). A certidão do oficial de justiça goza de fé publica. Portanto, os fatos 
narrados nessa certidão são presumidos verdadeiros. A presunção é iuris tantum, e pode ser 
provado os vícios de seu conteúdo; 
 
(b) Precatória: É aquela que ocorre foro do território da jurisdição do juízo de conhecimento. 
Requisitos: (i) intrínsecos (art. 354); (ii) extrínsecos (art. 357); (iii) urgência (art. 356). Envolve um 
pedido, uma solicitação, de cooperação judiciária. O juízo do processo solicita a outro juízo o 
auxílio na realização daquele ato. A carta precatória tem um caráter itinerante, que se justifica 
pelo princípio da economia processual. Se o juízo deprecado detecta que o réu mudou de 
endereço, e foi para outra comarca, esta carta precatória deverá ser encaminhada ao terceiro juízo; 
 
(c) Rogatória (arts. 368 e 369): É aquela que ocorre no estrangeiro, em local certo ou sabido. 
Também é necessária a cooperação judiciária. A cooperação aqui não envolve juízos, mas Estados 
Nacionais, o que deixa o processo muito mais burocrático e demorado. Há acordos bilaterais e 
tratados multilaterais de cooperação penal. Um aspecto interessante é o prazo de cumprimento: O 
legislador estabelece que no caso das cartas rogatórias, uma vez expedida, o prazo prescricional 
fica suspenso até o seu cumprimento. Porque o legislador adotou essa posição? Porque o 
expediente é excessivamente formal, longo, o que demanda muito tempo. Sem a devolução da 
carta rogatória, o processo não pode continuar; 
 
(d) Carta de ordem (Lei nº 9.217/1996 e Lei nº 10.792/2003): expediente de cooperação 
judiciária realizada por determinação dos órgãos superiores de jurisdição. Há uma ação penal de 
competência originária dos tribunais superiores. Esses tribunais precisam citar os réus, para isso 
eles expedem uma carta de ordem que devem ser cumpridos pelos órgãos inferiores de jurisdição. 
EX: Processo do mensalão. 
 
(e) Por requisição (art. 358): é um resquício autoritário do Código de Processo Penal. A 
requisição aqui é a do militar, a sua citação. Nesse caso, o legislador de 1941 entendeu que o 
ingresso do oficial de justiça nos quartéis militares não seria conveniente. Então preferiu-se que a 
comunicação ocorra pelo superior do militar. O juiz comunica o superior, que deverá dar ciência 
aos termos do ofício requisitório ao subordinado. Isso é um dispositivo comum do CPP para os 
militares, não uma disposição do Código Penal Militar. Vale, portanto, para crimes ordinários 
praticados pelo militar. 
 
 Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço. 
 
 Observações: 
• Citação do funcionário público (mandado) (art. 351)(notificação)(art. 359) – Antes o réu 
era citado e, em seguida, chamado para o interrogatório. Hoje temos uma resposta escrita como 
primeiro ato. O réu é citado hoje para apresentar escrita, não para comparecer ao juízo e ser 
interrogado. Hoje temos citação para apresentação de resposta técnica. A redação do artigo 359 
está relacionada com esse contexto de comparecimento para interrogatório. A citação do 
funcionário público deve acompanhar essa nova lógica do CPP. A citação do funcionário público é 
pessoal. A comunicação ao superior só tem razão de ser para que ele tome conhecimento da 
instauração do processo penal e, eventualmente, apuração da responsabilidade do funcionário 
público no âmbito administrativo. 
 - 17 - 
• Citação do réu preso (art. 360) – Antes, o réu era citado por requisição, mediante o 
diretor do lugar onde ele estava preso. Hoje a legislação exige que o réu preso seja citado 
pessoalmente. A citação deve ser realizada pessoalmente. Nada mais natural, pois se o réu está 
sob a custódia do Estado, que ele providencia os meios e modos para que ele tome ciência do 
ajuizamento de nova ação penal. 
• Momento em que a citação é realizada: ela é realizada no momento em que o ato vem 
a ser realizado. O prazo começa a contar a partir da data em que o réu foi citado, sendo 
irrelevante a juntada. O prazo dos 10 dias tem início na data em que o réu foi citado, não na data 
da juntada. No caso de precatório também: o prazo toma por base a data da citação, pouco 
importando a data da juntada da precatória. 
 
(ii) Ficta: é a citação realizada indiretamente, pois o réu, em teoria, por presunção, 
tomou conhecimento do ajuizamento da ação penal por outros meios, como o edital. Estabelece-
se, portanto, uma presunção. 
 
(a) Edital (art. 361 e 363, §1º): Somente quando as tentativas para encontrar o réu foram 
infrutíferas, e somente depois de oficial certificar que o paradeiro do réu é desconhecido é que se 
poderá falar em citação por edital. 
 
Outra hipótese seria o desconhecimento do endereço do réu. Como se trata de uma 
citação ficta, o ato de comunicação é ficto, a presunção somente se estabelece, somente se 
concretiza decorrido um prazo, que é de 15 dias. Esse prazo é indispensável para a consolidação da 
presunção de citação. É a partir da fluência desse prazo que começará a correr o prazo para 
apresentação da resposta escrita. 15 dias + 10 dias do prazo de resposta escrita? 
 
A questão do desconhecimento do endereço do réu é resolvida de duas maneiras pela 
jurisprudência: parte entende que pode ser expedido edital de convocação desde logo e outra, 
como entende o prof., que antes do edital devem ser tomadas diligências em órgãos públicos para 
tentar descobrir o endereço do réu. 
 
 (b) Hora certa (art. 362): Aqui o réu se oculta para não ser citado. A citação por hora 
certa é aquela modalidade de citação desenhada quando o réu se oculta para não ser citado. Essa 
conclusão não é aleatória, para tanto eles no remete ao CPC. O oficial de justiça deverá procurar o 
réu por 3 vezes e certificar que há indícios de que ele está se ocultando, comunicando que em 
determinado dia e hora ele voltará para citar algum parente ou amigo. Essas suspeitas só podem 
ser estruturada após 3 tentativas. Configurada essa hipótese, ele intima morador/amigo que ele 
voltará no dia/hora x para citar o réu. Se o réu não comparecer, ele passa a comunicação para esse 
morador/amigo. 
 
 Realizada a citação válida, qual é o principal efeito? Início do prazo da contagem 
para apresentação de resposta escrita. Qual é o prazo? 10 dias. 
 
 Primeira pergunta: O prazo fluiu e o réu não apresentou resposta escrita, embora 
regularmente citado. O que fazer? O juiz deve indicar um defensor dativo. Porque? Porque a 
apresentação de defesa técnica é INDISPENSÁVEL. O juiz nomeia então um defensor que ficará 
encarregado para apresentar a resposta escrita. Qual é o prazo de resposta do defensor dativo? 10 
dias. 
 
 *** Esse tipo de resposta é para qualquer resposta de citação? Segundo o artigo 
 - 18 - 
366, essa dinâmica não vale para citação por edital. A redação do artigo 366 foi reescrita após a 
aprovação de um projeto da Ada e do Scarence. Antes, o réu citado por edital tornava-se revel, e o 
processo prosseguia sua marcha normalmente. Com a nova redação, entendeu-se que não 
podemos aplicar a mesma lógica ao réu que foi citado pessoalmente ao réu que foi citado 
fictamente. Em uma é até cabível o processo prosseguir, pois ele sabe do processo. No outro, o 
conhecimento é ficto, é presumido. Entender que ele não quer acompanhar o processo é um 
exagero. 
 
 Assim, no caso de citação por edital, quando o réu não responde, o processo fica 
suspenso até o dia que o réu comparecer ou for preso. Certo dia, o réu está fazendo turismo na 
Barra Funda e passa na frente do fórum criminal e diz que quer responder todas as ações. O 
processo ficará suspenso "a espera do milagre". Como o processo está suspenso, o Estado não 
pode exercer o seu “poder punitivo”. Como consequência, para não gerar impunibilidades,o 
prazo de prescrição também fica suspensa. 
 
 Possibilidade de medida cautelar ou medida provisória: 
 O legislador ainda previu a possibilidade de medida cautelar probatório ou medida 
cautelar pessoal. EX: Há perigo de perecimento da prova: a única testemunha tem 115 anos e ela 
está dando sinais de Alzheimer. Então poderão ser produzidas provas. Essa medida só será válida 
se realizada pelo crivo de contraditório. Mas como, se o réu nada fez? Neste caso, o juiz terá que 
indicar um defensor para acompanhar a produção antecipada de provas. 
 
 Também é possível decretar prisão preventiva, desde que preenchidos os seus 
requisitos legais. 
 
 Segunda pergunta: O artigo 366 fala apenas em edital de convocação, não fala nada 
de citação por hora certa. O que fazer se o acusado não comparecer? Parágrafo único do artigo 362 
do CPP. Ao acusado deverá ser nomeado um defensor dativo. Há quem defenda que esse 
dispositivo é inconstitucional porquanto viola princípio da ampla defesa: a ideia do legislador foi de 
resguardar o exercício da ampla defesa, que a época era só por edital. Se a citação por hora certa 
também é ficta, e envolve uma presunção, o correto seria aplicar-se o disposto no artigo 366. 
 
 O posicionamento que tem prevalecido é de que o parágrafo único é constitucional. 
Os argumentos são variados, mas, em princípio, estão concentradas na ideia de que o réu está se 
ocultando para não ser citado. Há uma intenção do réu em obstar a marcha processual. O réu tem 
conhecimento, mas não um conhecimento formal do processo. Diante dessa situação, que não 
seria de desconhecimento do seu paradeiro, porque sabemos onde o réu está, então o réu tem 
ciência informal da ação penal e procura atravancar o processo. O legislador entende que essa 
situação não é semelhante a do edital de convocação, porque se não estaríamos premiando a 
torpeza do réu. 
 
 Terceira pergunta: Há revelia no processo penal? Sim, mas não com os mesmos 
efeitos do processo civil. Quais são as hipóteses (art. 367 do CPP)? 
(i) Réu não comparece a qualquer ato processual para o qual ele foi intimado; 
(ii) Réu muda de endereço, sem indicar a referência atual. Ele já foi citado, muda 
de endereço e não indica. 
 
 O réu que deixa escoar o prazo para apresentar da resposta escrita, se torna revel? 
O fato de o réu não ter apresentado a resposta escrita não induz a revelia, o efeito é ou a 
 - 19 - 
nomeação de um defensor dativo ou a suspensão do processo e do prazo prescricional. 
 
 Efeito da revelia: 
 A revelia traz como efeito a desobrigação do Estado de intimar o réu para os demais 
atos processuais, a exceção para a intimação da sentença, que tem regras específicas. Não há no 
processo penal presunção de veracidade ou confissão ficta. Se o réu não apresentar resposta 
escrita, o réu não se torna revel. Isso porque hoje ele não é citado para "comparecer" em juízo, 
mas sim para apresentar resposta escrita. O artigo 367 deve ser lido de modo que o réu somente 
se tornará revel depois de intimado para comparecer em juízo (audiência, por exemplo) e ai ele 
não comparece e se torna revel. 
 
> ou seja, se ele não apresentar resposta escrita, ainda sim ele não é revel. Mas depois, se for 
intimado para audiência, e não comparecer, ai sim ele ficará revel? 
 
 A resposta escrita deve conter todas as matérias úteis e necessárias para sua defesa, tanto 
aspectos processuais quanto de mérito. Quais são essas questões preliminares? Para isso 
precisamos estudar as exceções processuais. 
 
1.2.4.1 Exceções processuais: 
a) Incompetência; 
b) Suspeição; 
c) Ilegitimidade; 
d) Coisa julgada; 
e) Litispendência 
 
 Essas exceções devem ser suscitas por meio de exceções no mesmo momento da defesa 
escrita, mas não no mesmo corpo da defesa escrita. A exceção, peça autônoma, será apartada em 
outros autos. Por conta disso, o que sobra como questão preliminar para ser apresentada no bojo 
da defesa escrita? (i) Inépcia da inicial; (ii) falta de condição de ação, menos ilegitimidade passiva, 
que é alvo de exceções; (iii) ausência de justa causa. Todas são questões preliminares que devem 
ser apresentadas no contexto da resposta escrita. 
 
 Apresentada a resposta escrita, o juiz tem três opções: 
 
 a) Rejeição: Art. 395 – Ele pode não ter rejeitado preliminarmente, mas agora ele se 
convenceu que falta justa causa ou alguma outra condição da ação. É uma rejeição "tardia". 
 
 b) Absolvição sumária: Art. 397 – É uma inovação trazida pela lei 11.719. A absolvição 
sumária foi incorporada pela reforma de 2008. É um julgamento de mérito antecipatório. 
Situações: 
 
 I – Existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato- ex: legítima defesa, estado 
de necessidade, exercício regular de direito. A hipótese deve ser evidente, se não o processo deve 
continuar. 
 
 II- Excludente de culpabilidade, salvo inimputabilidade – Quais são as hipóteses de 
inimputabilidade? Doença mental/Menoridade. O que ele deve fazer? Por doença mental, porque 
se constada doença mental, será cabível medida de segurança, que é uma sanção penal. Quanto à 
inimputabilidade por menoridade, o professor entende que o juiz pode rejeitar a denúncia por 
 - 20 - 
impossibilidade jurídica do pedido (Ada + Zilli) ou ilegitimidade passiva (Maria Thereza). E não seria 
caso de incompetência? Sim, também seria uma opção. Mas não seria incompetência de juízo, e 
sim de destinação de sistema. São dois sistemas repressivos distintos. O juiz pode remeter cópia ao 
MP ou ao juiz da infância e juventude, mas não o processo em si. 
 
 III - Quando o fato evidentemente não constitui crime – O que o legislador quis dizer aqui é 
a ATIPICIDADE do fato. O crime é representado por quatro elementos (tipicidade, antijuridicidade, 
culpabilidade, imputabilidade) 
 
 IV- Extinção da punibilidade do agente – Aqui houve uma atecnia. O Estado não absolve por 
extinção de punibilidade. Ele simplesmente não pode processar alguém por isso. 
 
c) Recebimento ou confirmação de recebimento (dependendo do momento que 
entendemos que ele recebe a denúncia ou queixa): 
 
 Questão: O artigo 397 não contempla duas situações: quando está mais do que 
reconhecido que o réu não é autor do crime/quando está reconhecido que o fato material não 
existiu? 
 Resposta: Fundamento legal: Art. 451, I e II do CPP. Badaró:“Se o acusado fizer uma prova 
cabal de um álibi, por exemplo, juntando documentos ou depoimentos, colhidos mediante 
justificação, que demonstrem sua presença em outro lugar, no momento do delito; ou demonstre 
que o fato não existiu, por exemplo, provando que não houve bigamia, pela juntada de sentença 
transitada em julgado que tenha anulado o primeiro casamento, por analogia, deve ser aplicada o 
art. 415, I e II do CCP, absolvendo sumariamente o acusado’’. 
 
Direito Processual Penal III (28/03/2012) 
 
1.2.5 Audiência de instrução e julgamento (art. 400): 
No procedimento comum ordinário, o prazo para a realização da audiência é de 60 dias, 
contado do prazo de designação de audiência. O juiz deve designar a audiência, que será realizada 
dentro de 60 dias. Se não houver demonstração de impedimento, a audiência será realizada 
mesmo sem a presença do defensor, nomeando, no dia, um defensor ad hoc. Não há motivos que 
levem ao adiamento do ato, a não ser um impedimento justificado do defensor. 
 
Essa audiência é complexa, por envolver a realização de uma série de atos. Toda prova oral 
deve ser produzida nessa audiência. Nessa produção, há uma série de diligências possíveis: 
 
(i) Oitiva do ofendido 
 
A expressão ofendido é a vítima. Quem é a vítima? O sujeito passivo na relação 
penal/material. Na relação penal/material sempre haverá um sujeito passivo, presente em 
qualquer infração penal: o Estado. É o sujeito passivo formal. A prática delituosa indica 
desobediência de um mandamento proibitivo em cada tipo penal. O Estado então, figura como 
vítima. O legislador processual, não obstante essa dinâmica, fazreferência ao sujeito passivo 
material: toda e qualquer pessoa atingida pela prática delituosa e que não seja o Estado. É a 
pessoa que sofreu uma ofensa a sua integridade corporal. É a pessoa que teve a sua honra atingida 
no crime contra a honra. 
 
 - 21 - 
O regime probatório do CPP estabelece uma obrigatoriedade: sempre que possível será 
tomada a declaração do ofendido. Esta fórmula ''sempre que é possível'' é expressivo de um dever 
de se ouvir o ofendido. Essa obrigatoriedade se justifica pela própria premissa do CPP: procurar 
sempre se aproximar da verdade. O ofendido, por ter sido diretamente ataca pela prática 
delituosa, terá muitos aspectos importantes para esclarecer. 
 
(ii) inquirição das testemunhas 
 
Testemunha é toda a pessoa que tenha presenciado o fato criminoso, integralmente ou 
parcialmente, ou ainda a pessoa que tenha tomado conhecido do fato criminoso. É uma fonte de 
provas. 
 
O acusador tem de apresentar o rol de testemunhas que pretende ouvir quando do 
oferecimento da denúncia ou queixa, sob pena de preclusão. O momento processual da defesa 
coincide com a apresentação da resposta escrita (prazo comum de 10 dias). Superado esse prazo, 
haverá preclusão da prova testemunhal. 
 
Embora caibam as partes a indicação das testemunhas que pretende ouvir, ao juiz também 
é permitida a autorização de oitiva de testemunhas que não tenham sido arroladas pelas partes 
(art. 209 do CPP). O art. 209 do CPP é uma clara expressão daqueles poderes instrutórios que o 
CPP reconhece ao legislador. O legislador foi expresso nesse dispositivo. Essa pessoa será 
testemunha, mas testemunha do juízo, não da acusação ou da defesa. 
 
O legislador estabelece um limite máximo de testemunhas. Esse número limite atende à 
critérios de eficiência e economia processual. Se não tivesse esse número limite, o processo 
poderia se perder num prolongamento da fase instrutória. 
 
No caso de procedimento comum ordinário, cada parte poderá arrolar até 8 testemunhas. 
Esse número limite se refere ao procedimento ou aos fatos imputados? Uma leitura superficial e 
literal dos dispositivos poderia levar a conclusão que esse número está relacionado com o 
procedimento. Não é essa, contudo, a melhor conclusão. A melhor é aquela que estabelece uma 
vinculação com os fatos imputados. Assim, a cada fato poderão ser arroladas até 8 testemunhas. 
As fontes de provas se vinculam aos fatos eventualmente praticados. 
 
Exceções: pessoas que não seriam computadas para fins de limite máximo. Quem não está 
computado nesse rol? O próprio ofendido, até porque ele não presenciou o fato, ele foi atingido 
pelo fato, ainda que involuntariamente. Ele, portanto, não é testemunha. Também não serão 
computadas as pessoas que ofertarem declarações: art. 206 – aquelas pessoas que tem relação de 
parentesco ou afinidade com o acusado. Elas não são submetidas ao dever de dizer a verdade. 
Também não são computadas as pessoas referidas por outras testemunhas, e que eram até então 
desconhecidas. Os doentes mentais e os menores de 14 anos estão fora de prestar a declaração de 
verdade (art. 208). A referência a essas pessoas surge na produção do contexto de prova oral, e 
pega as partes de surpresa. Ninguém tinha conhecimento delas. A presunção do legislador é de 
que as partes não podem ser penalizadas por essa surpresa. 
 
Numa situação dessas, o legislador também abre exceção. Ainda que as partes já tenham 
arrolado o número máximo de pessoas, elas poderiam fazer o pedido mesmo assim. Vejam que as 
partes podem não requerer a oitiva dessas pessoas, o que não impede que o juiz o faça, a luz do 
 - 22 - 
que dispõe o artigo 209 do CPP, vale dizer, no contexto do exercício de poderes instrutórios. 
 
As testemunhas têm o dever de prestar declaração. Se a testemunha não comparece, 
embora devidamente intimada, o que ocorrerá, se as partes insistirem na oitiva da testemunha, é 
que a testemunha será conduzida coercitivamente pelo oficial de justiça, podendo se valer de 
força policial. Além disso, a testemunha poderá ser multada a pagar os custos da diligência e ser 
condenada por desobediência. 
 
Exceções: 
(a) Pessoas que poderiam se recusar a depor (art. 206 do CPP). As pessoas que tem relações 
com o acusado poderiam se recusar a depor. Essa recusa não é automática, não produz efeitos 
automaticamente. Mesmo diante de uma recusa, o juiz poderá ouvir aquela pessoa se ele não 
tiver outra forma para se construir o material probatório. Nessa perspectiva, ainda que a 
testemunha manifeste o desejo de não depor, o juiz poderá obrigá-la a depor. Entretanto, tais 
pessoas não prestarão o compromisso de dizer a verdade, por força do próprio artigo 206. 
 
(b) Pessoas proibidas de depor (art. 207 do CPP). Sobre essas pessoas recai o dever de 
resguardar sigilo, seja em razão de função, ofício, ministério, profissão tem o dever de sigilo. EX: 
Médico psiquiátrica. Mesmo diante de tal proibição, essas pessoas poderiam prestar depoimento 
desde que autorizadas pelas partes cuja preservação do sigilo interessa. Esta pessoa poderia 
liberar o profissional para prestar depoimento. Liberando, essa pessoa PODERIA prestar 
depoimento. Mesmo que liberado, não existe OBRIGATORIEDADE. A pessoa liberada mesmo assim 
pode se recusar 
 
O co-réu poderia ser arrolado como testemunha? Vamos imaginar que o processo foi 
desmembrado. Um dos réus em dos processos poderia servir de testemunha em outro processo? 
Não. Porque o co-réu participou do fato diretamente. Ele não presenciou o fato. O réu ou 
acusado não está obrigado a produzir prova contra si mesmo. E além disso ele exerce o direito ao 
silêncio. Isso foge da própria característica do que vem a ser testemunha. 
 
Qual é a ordem de inquirição das testemunhas? 
1. Prova da acusação; 
2. Prova da defesa; 
3. Prova do juízo. 
 
Essa é uma ordem natural, porquanto configura respeito ao contraditório e ampla defesa. 
Antes da oitiva de todas as testemunhas, será preciso ouvir a Vítima (ofendido). 
 
Para o legislador de 2008, a audiência é una e indivisível. O problema surge quando tivermos 
uma audiência que reside em outra comarca. Essa testemunha tem o direito de ser ouvida por 
carta precatória. A carta precatória será usada aqui no contexto de cooperação probatória. 
 
Como gerenciar o problema em que as testemunhas da defesa serão ouvidas por carta 
precatória? O legislador resolveu da seguinte forma: se for exigida a expedição de carta precatória, 
não seria preciso seguir a ordem de oitiva. Poderia haver uma inversão na produção da prova. 
Segundo o preconizado pelo legislador, recebo a denúncia, designo data de audiência e também 
determino a expedição de carta precatória. Essas testemunhas de defesa poderiam ser ouvidas 
antes da data da audiência de instrução e debates. 
 - 23 - 
 
Devemos tratar com cuidado essa questão. Diante do choque de valores, o legislador deu 
ênfase à celeridade processual. Essa exigência é aceitável quando não se chocar com valores 
superiores, coma a ampla defesa. Quando isso ocorrer, não é aceitável a inversão da ordem. 
Muitos têm considerado que não é cabível a inversão probatória quando isso importar 
desvantagens para a defesa. A jurisprudência abranda essa questão, afirmando que tudo 
dependerá do objeto dessa prova. Se for uma testemunha que vai apenas relatar um fato 
irrelevante, então não haverá prejuízo. Mas se for uma testemunha relevante, presencial, ouvi-la 
poderá relevar um prejuízo para a defesa. Primeiro avaliamos o conteúdo probatório, e depois a 
ordem. 
 
A nulidade é sempre depois da realização do ato. Assim, essa questão de relevância ou não 
do testemunho, será avaliada depois. 
 
A testemunha não pode trazer o depoimento por escrito. No entanto, a legislação traz 
algumas exceções: (a) caso de depoimento do presidente e do vice presidente da república; (b) 
presidente do Senado; (c) presidente do STF. A testemunha pode fazer consultas a breves 
anotações, mas nunca ler essas anotações. 
 
Umaspecto importante é o sistema de inquirições de testemunhas. Na redação original do 
CPP, o juiz era o presidente da audiência, gerenciando a produção da prova oral. As perguntas 
eram direcionadas ao juiz, que as passava para testemunha. Isso para evitar perguntas irrelevantes 
ou perguntas que pudessem confundir a testemunha. 
 
O CPP seguiu para o sistema adversarial, e hoje é permitido que as partes façam perguntas 
diretamente à testemunha. O juiz poderá interferir a posteriori, quando a pergunta indicar 
induzimento a resposta, solicitar opinião, ou for irrelevante. Todos esses aspectos podem ser 
controlados pelo juiz, indeferindo a pergunta, consignando no termo a pergunta e seu 
indeferimento. A testemunha responde diretamente à parte. Se a testemunha é da acusação, é a 
acusação que começa a inquirir e depois a defesa. Finalizando a inquirição daquela testemunha, o 
juiz solicita ESCLARECIMENTOS da testemunha. Só depois de tudo essa inquirição, o juiz vai 
solicitar esclarecimento. A atividade do juiz é, portanto, complementar. 
 
Se a testemunha é de defesa, a defesa começa a inquirir, depois a acusação, e depois o juiz 
pode pedir esclarecimento. 
 
Se a testemunha é do juiz, ele mesmo começa a inquirir. Depois acusação e defesa. 
 
As respostas da testemunha serão reduzidas a termo. O CPP permitiu o recurso por gravação, 
estinotipia, imagem (tudo isso pós contexto de 2008). 
 
Observações: 
(a) presença influenciadora do acusado (art. 217 do CPP). Situação na qual a presença do réu 
poderá causar temor/tremor, medo ou constrangimento na testemunha. Diante dessa situação, o 
legislador segue um caminho. Aquele depoimento ou declaração será colhido pelo serviço de 
videoconferência. Na impossibilidade de ouvir o depoimento por videoconferência, o réu deve-se 
retirar da sala de audiência (redução da autodefesa na perspectiva da autodefesa, porque? Porque 
um outro valor foi considerado superior. Protege-se a prova). O defensor técnico permanece 
 - 24 - 
presente na sala de audiências. 
 
(b) Contradita – Contradita é a impugnação da testemunha feita pela parte, seja porque ela é 
imparcial ou porque há alguma proibição quanto à possibilidade daquela pessoa ser testemunha. 
A contradita deve ser oferecida antes do depoimento. Ela impugna a testemunha, e apresenta os 
motivos dela. O juiz então decide. Se a testemunha é parente do acusado, ela pode se recusar a 
depor, podendo ser ouvida por declarações. Se ela está proibida em razão de dever de sigilo, deve-
se apurar se o protegido a autoriza a falar e se ela quer falar. De todo fato, há a possibilidade de 
impugnação por contradita. 
 
Pode a parte contrária impugnar o pedido de pergunta? 
 
(iii) Esclarecimentos do perito 
 
A perícia foi feita, o perito apresentou o laudo, mas foi constatada a necessidade de 
esclarecimentos. Ainda é um prolongamento da prova pericial (não é prova testemunhal), que 
estará sendo construída na audiência. 
 
Esses esclarecimentos dependem de prévia provocação da parte. Os esclarecimentos em 
audiência devem ser a última solução. Primeiro o juiz deve optar por esses esclarecimentos serem 
apresentados por escrito. Se o perito tiver de ir em todas as audiências prestar esclarecimentos, 
ele nunca conseguirá terminar seu trabalho. Assim, prefere-se a apresentação de esclarecimentos 
por escrito, inclusive por meio de laudo complementar. Somente depois de apresentados tais 
providências, e restando dúvidas, poderão ser requeridos os esclarecimentos de perito. 
 
O perito será ouvido desde que o mandato de intimação do perito tenha sido expedido 10 
dias antes da data da audiência, o que leva a crer que a parte teria de ter requerido a produção 
desses esclarecimentos ainda antes desse prazo. A jurisprudência tem entendido que a parte deve 
apresentar o pedido até 10 dias antes da audiência, sob pena de preclusão. Ainda que as partes 
não requeiram esse comparecimento, o juiz poderá fazê-lo de ofício (art. 209 do CPP). 
 
O perito presta compromisso de dizer a verdade. Se ele mentir, incorre nos crimes de falso 
testemunho e falsa perícia. São esclarecimentos que ele presta sobre a perícia. 
 
(iv) Inquirição dos assistentes técnicos 
 
O assistente técnico funciona como um complemento da atividade pericial. O parecer é 
apresentado depois do laudo pericial. Nada impede que a parte requeira o inquirimento dos 
assistentes. O prazo será o mesmo dos peritos. Ele pode incorrer no crime de falsa perícia ou falso 
testemunho, já que não é perito nem testemunha. O médico poderá ser punido perante o órgão 
de classe competente. 
 
(v) Acareação 
 
Depende de contradição nos depoimentos. Contradição sobre pontos relevantes. Na 
acareação as pessoas são colocadas frente a frente. É um importante meio de prova, já que o 
objetivo da acareação é levar a esclarecimentos, surgidos em razão de contradições. Seria uma 
oportunidade para aquele que mentiu dizer a verdade, se afastando da possibilidade de ser 
 - 25 - 
imputado por crime de falso testemunho. 
 
Na prática, as pessoas colocadas sob acareação mantém os seus relatos. No CPP, a acareação 
é a mais ampla possível: seria possível a acareação entre quase todo mundo. 
 
Esse sistema está sujeito a críticas, sobretudo pelo envolvimento do réu. O réu tem o direito 
de permanecer em silêncio, ele não precisa produzir provas contra si mesmo e etc. A 
jurisprudência tem mantido a validade de acareação com o réu, dizendo que ele pode se recusar a 
responder qualquer pergunta a ele direcionada na acareação. 
 
(vi) Interrogatório 
 
 Foi passada para a última etapa da audiência. Antes era um dos primeiros atos. Porque? 
Ampla defesa. O interrogatório constitui claro meio de defesa. É um exercício de defesa. De qual 
defesa? Da AUTOdefesa. É a oportunidade de o réu apresentar a sua versão sobre os fatos. Todos 
os demais atos são praticados por meio do defensor. No interrogatório o defensor não participa. 
 
 O interrogatório é dividido em duas partes: 
 
 (a) Qualificação: São formuladas perguntas que se relacionam com a vida familiar, 
profissional e social do réu. O objetivo do legislador foi humanizar o interrogatório e o próprio 
processo. 
 
 (b) Mérito: O réu tem o direito de permanecer em silêncio. Tem entendido que o direito ao 
silêncio só operada na segunda parte, não na primeira. 
 
Antes do interrogatório, o defensor pode conversar reservadamente com o réu. Assegurada 
essa entrevista, inicia-se o interrogatório. O juiz conduz o interrogatório, já que é um exercício de 
autodefesa em relação ao próprio juiz. Finalizadas as duas fases, o juiz abre prazo para a acusação 
e depois a defesa realizar perguntas. Se tivermos assistente de acusação, nada muda. 
 
Se o réu está comprometendo o outro, o que o réu comprometido pode fazer? O defensor 
técnico do réu comprometido pode fazer questões, antes da defesa do réu que está 
comprometendo o outro. 
 
Todos esses atos PODEM ser realizados, nessa sequência, na audiência. O interrogatório é 
meio de EXERCÍCIO DE DEFESA, e não um meio de produção de provas. 
 
Direito Processual Penal III (11/04/2012) 
 
Requisição de provas complementares: 
As partes podem requerer a produção de provas complementares. É um momento 
processual que o legislador concede às partes para que elas possam produzir novas provas, mas 
em caráter complementar. A necessidade dessas provas adveio da própria instrução. Não é o 
momento para que as partes contornem preclusão probatória. Não é momento para ouvir uma 
testemunha que a parte deixou de arrolar, mas que já era conhecida. 
 
O requerimento, por si só, não leva automaticamente ao deferimento, e nem implica 
 - 26 - 
obrigatoriedade de o juiz deferir a produção dessa prova. Como toda e qualquer prova, ela está 
adstrita a um juízo de admissibilidade. É perfeitamente possível, portanto, o indeferimento. 
 
Na seqüência da audiência, temos prova oral, interrogatório e o requerimento de diligências. 
Se as partes não requerem, ou se

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