Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

[Digite aqui] 
 
i 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autores 
 
Roberto Aguilar Machado Santos Silva 
Suzana Portuguez Viñas 
Santo Ângelo, RS 
2021 
 
 
2 
 
 
 
 
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos com: 
 
e-mail: Suzana-vinas@yahoo.com.br 
 robertoaguilarmss@gmail.com 
 
 
 
Supervisão editorial: Suzana Portuguez Viñas 
Projeto gráfico: Roberto Aguilar Machado Santos Silva 
Editoração: Suzana Portuguez Viñas 
 
Capa:. Roberto Aguilar Machado Santos Silva 
 
1ª edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Autores 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Roberto Aguilar Machado Santos Silva 
Membro da Academia De Ciências de Nova York (EUA) 
Neurobiologista, Médico Veterinário, escritor 
poeta, historiador 
Doutor em Medicina Veterinária 
robertoaguilarmss@gmail.com 
 
 
Suzana Portuguez Viñas 
Pedagoga, psicopedagoga, escritora, 
editora, agente literária 
suzana_vinas@yahoo.com.br 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicatória 
 
ara todas as mães, pais, terapeutas de crianças autistas. 
Roberto Aguilar Machado Santos Silva 
Suzana Portuguez Viñas 
 
 
 
 
 
P 
 
5 
 
 
 
 
 
 
Os fenômenos humanos são 
biológicos em suas raízes, sociais 
em seus fins e mentais em seus 
meios. 
Jean Piaget 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
Apresentação 
 
 autismo é interpretado em termos piagetianos com 
referência particular à questão de se o desenvolvimento 
cognitivo atípico. Resultados de pesquisas relevantes 
que aplicam a teoria de Piaget ao retardo mental, psicose e 
autismo são revistos. As aparentes exceções à hipótese 
apresentada em indivíduos autistas são explicadas pela teoria de 
dois fatores de Piaget de funções figurativas versus funções 
operativas. Muitos indivíduos autistas mostram uma paralisação 
nas funções operativas no nível sensório-motor, enquanto 
continuam a progredir nas funções figurativas. A parada precoce 
interfere no desenvolvimento subsequente de habilidades 
conceituais, simbólicas e sociais de nível superior. Perguntas para 
pesquisa são oferecidas. 
Roberto Aguilar Machado Santos Silva 
Suzana Portuguez Viñas 
Santo Ângelo, RS 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
O 
 
 
7 
 
 
Sumário 
 
 
Introdução.....................................................................................8 
Capítulo 1 - Quais são os critérios de diagnóstico do DSM-5 
 para autismo?...............................................................9 
Capítulo 2 - Como o autismo se tornou autismo?...................16 
Capítulo 3 - Uma breve introdução: teoria do 
 desenvolvimento cognitivo de Piaget......................76 
Capítulo 4 - Crianças com autismo: uma perspectiva 
 piagetiana.....................................................................80 
Epílogo.........................................................................................89 
Bibliografia consultada..............................................................95 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
Introdução 
 
ean Piaget, talvez mais do que qualquer outro teórico, 
forneceu conceitos e princípios que orientam a 
compreensão da mudança cognitiva do desenvolvimento 
(Genovese, 2003). Essas mudanças ocorrem em uma sequência 
particular e em idades previsíveis que foram documentadas em 
várias culturas; alguns desses marcos cognitivos parecem até 
mesmo legais em espécies de primatas não humanos (Brainerd, 
1978). Comparar os sintomas cognitivos do autismo com as 
noções de Piaget de mudança cognitiva colocaria a 
sintomatologia em um contexto de desenvolvimento e pode ser 
esclarecedor quanto às possíveis implicações terapêuticas. A 
pesquisa e a teorização anteriores neste domínio limitaram-se 
basicamente às funções sensório-motoras piagetianas (Sigman e 
Ungerer, 1981) e à categorização (Ungerer e Sigman, 1987). 
Digno de nota, entretanto, há mais de vinte anos Morgan (1986) 
sugeriu uma ligação entre uma sequência piagetiana de 
desenvolvimento cognitivo e autismo com funções perceptivas 
seguindo um padrão normal e inteligência operativa (racional, 
conceitual) seguindo um padrão mais atípico. Posteriormente, 
houve apenas interesse esporádico em uma possível conexão 
entre a teoria piagetiana e os transtornos do espectro do autismo. 
J 
 
9 
 
 
Capítulo 1 
Quais são os critérios de 
diagnóstico do DSM-5 para 
autismo? 
 
m 2013, a American Psychiatric Association lançou a 
quinta edição de seu Manual Diagnóstico e Estatístico de 
Transtornos Mentais (DSM-5). 
O DSM-5 é agora a referência padrão que os profissionais de 
saúde usam para diagnosticar condições mentais e 
comportamentais, incluindo autismo. 
Você pode ler o texto completo dos novos critérios de diagnóstico 
da American Psychiatric Association, para transtorno do espectro 
do autismo e o diagnóstico relacionado de transtorno da 
comunicação social abaixo. 
 
Critérios de diagnóstico de 
autismo DSM-5 
 
A. Déficits persistentes na comunicação social e interação 
social em vários contextos, conforme manifestado pelo 
seguinte, atualmente ou pela história (os exemplos são 
ilustrativos, não exaustivos, consulte o texto): 
E 
 
10 
 
1. Déficits de reciprocidade socioemocional, variando, por 
exemplo, de abordagem social anormal e falha na conversa 
normal de vai e vem; ao reduzido compartilhamento de interesses, 
emoções ou afeto; ao fracasso em iniciar ou responder às 
interações sociais. 
2. Déficits em comportamentos comunicativos não verbais usados 
para interação social, variando, por exemplo, de comunicação 
verbal e não verbal mal integrada; a anormalidades no contato 
visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso de 
gestos; a uma total falta de expressões faciais e comunicação não 
verbal. 
3. Déficits no desenvolvimento, manutenção e compreensão de 
relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldades para 
ajustar o comportamento para se adequar a vários contextos 
sociais; às dificuldades em compartilhar brincadeiras imaginativas 
ou em fazer amigos; à ausência de interesse nos pares. 
Especifique a gravidade atual: a gravidade é baseada em 
deficiências de comunicação social e padrões repetitivos restritos 
de comportamento. 
 
B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, 
interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo 
menos dois dos seguintes, atualmente ou pela história: 
1. Movimentos motores estereotipados ou repetitivos, uso de 
objetos ou fala (por exemplo, estereotipias motoras simples, 
brinquedos alinhados ou lançando objetos, ecolalia, frases 
idiossincráticas). 
 
11 
 
2. Insistência na mesmice, adesão inflexível às rotinas ou padrões 
ritualizados ou comportamento verbal não-verbal (por exemplo, 
angústia extrema em pequenas mudanças, dificuldades com 
transições, padrões de pensamento rígidos, rituais de saudação, 
necessidade de seguir o mesmo caminho ou comer comida todos 
os dias). 
3. Interesses altamente restritos e fixos que são anormais em 
intensidade ou foco (por exemplo, forte apego ou preocupação 
com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos 
ou perseverativos). 
4. Hiper ou hiporreatividade à entrada sensorial ou interesses 
incomuns em aspectos sensoriais do ambiente (por exemplo, 
indiferença aparente à dor / temperatura, resposta adversa a sons 
ou texturas específicos, cheiro ou toque excessivo de objetos, 
fascinação visual por luzes ou movimento) . 
Especifique a gravidade atual: a gravidade é baseada em 
deficiências de comunicação social e padrões de comportamento 
repetitivos e restritos. 
 
C. Os sintomasdevem estar presentes no início do período 
de desenvolvimento (mas podem não se manifestar 
completamente até que as demandas sociais excedam as 
capacidades limitadas ou podem ser mascarados por 
estratégias aprendidas mais tarde na vida). 
 
 
12 
 
D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no 
funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas 
importantes do funcionamento atual. 
 
E. Esses distúrbios não são melhor explicados por 
deficiência intelectual (transtorno de desenvolvimento 
intelectual) ou atraso global de desenvolvimento. A 
deficiência intelectual e o transtorno do espectro do autismo 
freqüentemente co-ocorrem; para fazer diagnósticos 
comórbidos de transtorno do espectro do autismo e 
deficiência intelectual, a comunicação social deve estar 
abaixo do esperado para o nível de desenvolvimento geral. 
Nota: Indivíduos com um diagnóstico DSM-IV bem estabelecido 
de transtorno autista, transtorno de Asperger ou transtorno 
invasivo do desenvolvimento não especificado de outra forma 
devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro do 
autismo. Os indivíduos que apresentam déficits marcantes na 
comunicação social, mas cujos sintomas não atendem aos 
critérios para transtorno do espectro do autismo, devem ser 
avaliados para transtorno de comunicação social (pragmático). 
 
Especifique se: 
 
• Com ou sem acompanhante deficiência intelectual 
• Com ou sem acompanhante deficiência de linguagem 
o (Nota de codificação: Use código adicional para identificar a 
condição médica ou genética associada.) 
 
13 
 
• Associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental 
ou comportamental 
o (Nota de codificação: use código (s) adicional (is) para identificar 
o transtorno (s) de desenvolvimento neurológico, mental ou 
comportamental associado.) 
• Com catatonia 
• Associado a uma condição médica ou genética conhecida ou 
fator ambiental 
 
Tabela: Níveis de gravidade para transtorno do espectro do autismo 
Nível de severidade Comunicação social Comportamentos 
restritos e repetitivos 
Nível 3 
"Requer um suporte muito substancial" 
Graves déficits nas habilidades de 
comunicação social verbal e não verbal 
causam graves prejuízos no 
funcionamento, iniciação muito limitada 
de interações sociais e resposta mínima 
às aberturas sociais de outros. Por 
exemplo, uma pessoa com poucas 
palavras de fala inteligível que 
raramente inicia uma interação e, 
quando o faz, faz abordagens incomuns 
apenas para atender às necessidades e 
responde apenas a abordagens sociais 
muito diretas. 
Inflexibility of behavior, extreme difficulty 
coping with change, or other 
restricted/repetitive behaviors markedly 
interfere with functioning in all spheres. 
Great distress/difficulty changing focus 
or action. 
 
Nível 2 
“Requer suporte substancial” 
Déficits marcados nas habilidades de 
comunicação social verbal e não verbal; 
deficiências sociais aparentes mesmo 
com apoios no local; iniciação limitada 
de interações sociais; e respostas 
reduzidas ou anormais às aberturas 
sociais de outros. Por exemplo, uma 
pessoa que fala frases simples, cuja 
interação é limitada a interesses 
especiais estreitos, e como tem 
comunicação não verbal marcadamente 
estranha. 
A inflexibilidade de comportamento, a 
dificuldade de lidar com a mudança ou 
outros comportamentos restritos / 
repetitivos aparecem com frequência 
suficiente para serem óbvios para o 
observador casual e interferem no 
funcionamento em uma variedade de 
contextos. Angústia e / ou dificuldade em 
mudar o foco ou ação. 
Nível 1 
“Requer suporte” 
Sem suportes, os déficits na 
comunicação social causam prejuízos 
perceptíveis. Dificuldade em iniciar 
interações sociais e exemplos claros de 
resposta atípica ou malsucedida a 
aberturas sociais de outras pessoas. 
Pode parecer ter diminuído o interesse 
nas interações sociais. Por exemplo, 
uma pessoa que é capaz de falar frases 
completas e se comunicar, mas cuja 
conversa de vaivém com outras pessoas 
falha e cujas tentativas de fazer amigos 
são estranhas e normalmente 
malsucedidas. 
A inflexibilidade de comportamento 
causa interferência significativa no 
funcionamento em um ou mais 
contextos. Dificuldade em alternar entre 
atividades. Problemas de organização e 
planejamento dificultam.. 
 
 
 
14 
 
Transtorno de comunicação 
social (pragmática) 
 
Critério de diagnóstico 
 
A. Dificuldades persistentes no uso social da comunicação 
verbal e não verbal, manifestada por todos os seguintes: 
1. Déficits no uso da comunicação para fins sociais, como 
saudação e compartilhamento de informações, de maneira 
adequada ao contexto social. 
2. Comprometimento da capacidade de mudar a comunicação 
para corresponder ao contexto ou às necessidades do ouvinte, 
como falar de forma diferente em uma sala de aula e no 
parquinho, falar de forma diferente com uma criança e com um 
adulto e evitar o uso de linguagem excessivamente formal. 
3. Dificuldades em seguir as regras de conversação e narração de 
histórias, como alternar na conversa, reformular a frase quando 
mal compreendido e saber como usar sinais verbais e não verbais 
para regular a interação. 
4. Dificuldades para entender o que não está explicitamente 
declarado (por exemplo, fazer inferências) e significados não 
literais ou ambíguos da linguagem (por exemplo, expressões 
idiomáticas, humor, metáforas, significados múltiplos que 
dependem do contexto para interpretação). 
 
 
15 
 
B. Os déficits resultam em limitações funcionais na 
comunicação eficaz, participação social, relações sociais, 
desempenho acadêmico ou desempenho ocupacional, 
individualmente ou em combinação. 
 
C. O início dos sintomas ocorre no início do período de 
desenvolvimento (mas os déficits podem não se manifestar 
totalmente até que as demandas de comunicação social 
excedam as capacidades limitadas). 
 
D. Os sintomas não são atribuíveis a outra condição médica 
ou neurológica ou a baixas habilidades nos domínios ou 
estrutura de palavras e gramática, e não são melhor 
explicados por transtorno do espectro do autismo, 
deficiência intelectual (transtorno de desenvolvimento 
intelectual), atraso global de desenvolvimento ou outro 
distúrbio mental. 
 
Para maiores informações 
https://www.autismspeaks.org/dsm-5-and-autism-frequently-
asked-questions 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
Capítulo 2 
Como o autismo se tornou 
autismo? 
 
 
e acordo com Bonnie Evans (2013), do King’s College 
London (Reino Unido), o conceito de autismo foi 
cunhado em 1911 pelo psiquiatra alemão Eugen Bleuler 
para descrever um sintoma dos casos mais graves de 
esquizofrenia, um conceito que ele também criou. Segundo 
Bleuler, o pensamento autista era caracterizado por desejos 
infantis de evitar realidades insatisfatórias e substituí-las por 
fantasias e alucinações. "Autismo" definia a "vida interior" 
simbólica do sujeito e não era facilmente acessível aos 
observadores (Bleuler, 1950 [1911]). 
 
Paul Eugen Bleuler (Zollikon, 30 de abril de 1857 – Zollikon, 15 
de julho de 1939) foi um psiquiatra suíço notável pelas suas 
contribuições para o entendimento da esquizofrenia, esquizoide 
e autismo. Bleuler nasceu em Zollikon, uma pequena cidade 
perto de Zurique, na Suíça. Estudou medicina em Zurique e 
mais tarde em Paris, Londres e Munique. Retornou a Zurique 
para assumir um cargo no Burghölzli, um hospital universitário. 
Em 1886 foi nomeado diretor da clínica psiquiátrica de 
Rheinau, um hospital localizado em um monastério numa ilha 
do Reno. Rheinau era famosa pelo seu atraso e Bleuler 
melhorou condições para os pacientes que viviam ali. Retornou 
para Burghölzli em 1898 para ser diretor e empregou Carl Jung 
como interno. 
 
Psicólogos, psicanalistas e psiquiatras na Grã-Bretanha usaram a 
palavra autismo com esse significado ao longo da década de 
D 
 
 
17 
 
1920 e até a década de 1950 (por exemplo, Piaget,1923). No 
entanto, na década de 1960, muitos psicólogos infantis britânicos 
desafiaram as contenções sobre o pensamento infantil assumidas 
por Bleuler e criaram novos métodos para validar a psicologia 
infantil como uma ciência, em particular estudos epidemiológicos. 
‘Autismo’ foi então completamente reformulado como uma nova 
categoria descritiva para atender às necessidades deste novo 
modelo de desenvolvimento infantil. 
De meados da década de 1960 em diante, os psicólogos infantis 
usaram a palavra "autismo" para descrever o exato oposto do que 
significava até aquele momento. Enquanto "autismo" na década 
de 1950 se referia a alucinações e fantasias excessivas em 
bebês, "autismo" na década de 1970 se referia a uma completa 
falta de uma vida simbólica inconsciente. Por exemplo, Michael 
Rutter, um importante pesquisador psiquiátrico infantil do Hospital 
Maudsley do Reino Unido que conduziu o primeiro estudo 
genético do autismo, afirmou em 1972 que "a criança autista tem 
uma deficiência de fantasia em vez de um excesso" (Rutter, 1972 
) O significado da palavra autismo foi então radicalmente 
reformulado a partir de uma descrição de alguém que fantasiava 
excessivamente para alguém que não fantasiava nada. 
 
Sir Michael Llewellyn Rutter (nascido em 15 de agosto de 
1933) é a primeira pessoa a ser nomeado professor de 
psiquiatria infantil no Reino Unido. Ele foi descrito como o "pai 
da psicologia infantil". Atualmente ele é professor de 
psicopatologia do desenvolvimento no Institute of Psychiatry, 
King's College London e psiquiatra consultor no Maudsley 
Hospital, cargo que ocupa desde 1966. Uma pesquisa Review 
of General Psychology, publicada em 2002, classificou Rutter 
como o 68º mais citado psicólogo do século XX. 
 
 
18 
 
Este capítulo traça essa transformação radical do conceito de 
autismo, explorando as razões por trás da mudança e o impacto 
que ela teve nas ciências psicológicas relacionadas a bebês e 
crianças. Argumenta que a mudança no significado do autismo foi 
parte de uma mudança mais geral no raciocínio psiquiátrico anglo-
americano, que buscou compreender os problemas psicológicos 
por meio de estudos epidemiológicos, em vez de casos 
individuais. A introdução de modelos classificatórios psiquiátricos 
já foi explorada em relação ao Manual Diagnóstico e Estatístico 
(DSM), em particular a introdução do DSM-III em 1980. No 
entanto, poucas pessoas exploraram isso em relação à psicologia 
infantil e psiquiatria. Este capítulo examina a maneira como os 
métodos epidemiológicos mudaram e transformaram conceitos 
centrais nesses campos, em particular o conceito de autismo. 
Argumenta que as práticas diagnósticas exigidas da 
epidemiologia psiquiátrica na década de 1960 continuam a 
influenciar as teorias e descrições contemporâneas do autismo na 
Grã-Bretanha. Tem havido um aumento fenomenal nos 
diagnósticos de autismo desde 1960, o que atraiu a atenção de 
muitos pesquisadores, desde psiquiatras e cientistas sociais a 
analistas literários (por exemplo, Murray, 2008; Nadesan, 2005; 
Silverman, 2011). O primeiro estudo epidemiológico do autismo 
de Victor Lotter (1966) postulou uma taxa de 4,5 por 10.000 
crianças, mas um artigo da Lancet de 2006 afirmou uma taxa de 
116,1 por 10.000 crianças no Reino Unido e este número continua 
a aumentar (Baird et al., 2006; Baron -Cohen et al., 2009). 
 
19 
 
Gil Eyal et al. (2010) argumentaram que, nos EUA e em muitos 
outros países ocidentais, os diagnósticos de autismo aumentaram 
depois que as instituições para 'deficientes mentais' foram 
fechadas na década de 1960 e as crianças foram integradas em 
novos ambientes educacionais e sociais (Eyal et al., 2010). 
Mudanças nos métodos de diagnóstico dos anos 1960 aos anos 
1980 significaram que o autismo passou a ser associado a 
"retardo mental profundo e outros distúrbios físicos ou de 
desenvolvimento", aumentando assim o número de crianças 
consideradas como apresentando traços autistas (Wing e Potter, 
2002). 
Isso explica por que as taxas de diagnóstico de autismo não 
aumentaram tanto na França, onde não houve grande liberação 
de crianças 'retardadas' do confinamento na década de 1960 e 
onde crianças com problemas de desenvolvimento continuam 
recebendo cuidados residenciais institucionais até os dias de hoje 
(Eyal et al., 2010). Outra razão pela qual os diagnósticos de 
autismo aumentaram na Grã-Bretanha e em outros lugares é 
porque o fechamento de instituições para crianças com "retardo 
mental" levou os pais a fazerem campanha para um melhor 
diagnóstico e reconhecimento dos problemas de seus filhos. 
Grupos de pressão como a Sociedade para Crianças Autistas do 
Reino Unido (fundada em Londres, 1962) trabalharam 
arduamente para garantir que novos métodos de tratamento 
fossem desenvolvidos para permitir que seus filhos se ajustassem 
aos novos papéis sociais que estavam sendo forçados a adotar. 
Isso levou a um crescimento de novos métodos de tratamento 
 
20 
 
comportamental, bem como a uma reação massiva contra os 
estilos psicanalíticos de raciocínio. 
O recente livro de Chloe Silverman, Understanding Autism, 
explorou essa história nos Estados Unidos, detalhando o trabalho 
de Bruno Bettelheim e outros que trabalhavam na Universidade 
de Chicago, bem como os pais que os desafiaram, como Bernard 
Rimland e Rosalind Oppenheim. O trabalho de Silverman mostra 
como os pais têm, desde então, defendido ativamente novas 
terapias e financiado novas pesquisas sobre a doença, incluindo 
estudos genéticos e ambientais (Silverman, 2011). O fechamento 
de instituições para "deficientes mentais" e o crescimento de 
grupos de defesa dos pais ajudam a explicar o aumento dos 
casos de autismo desde a década de 1960. No entanto, é 
importante posicionar essas mudanças em relação a mudanças 
mais amplas nas disciplinas de psiquiatria infantil, psicologia e 
psicanálise. Os estudos epidemiológicos em psiquiatria infantil 
experimentaram um período de expansão na Grã-Bretanha dos 
anos 1960, na esteira da Lei de Saúde Mental de 1959. O autismo 
sempre foi central para o estudo da psicopatologia infantil na Grã-
Bretanha, e a introdução de estudos epidemiológicos forneceu ao 
conceito uma nova estrutura na qual, desde então, floresceu. 
"Autismo" se apropriou de novos significados e isso significa que 
passou a ser mais facilmente diagnosticado em crianças que 
anteriormente não teriam sido consideradas como apresentando 
essa anormalidade de pensamento particular. 
 
 
21 
 
Psicologia infantil e psiquiatria na 
Grã-Bretanha e a introdução do 
autismo antes de 1959 
 
Como Gillian Sutherland, Deborah Thom, Nikolas Rose e outros 
documentaram, as décadas de 1920 e 1930 na Grã-Bretanha 
testemunharam uma vasta expansão dos serviços 
governamentais e de caridade para atender aos problemas 
psicológicos das crianças (Rose, 1985; Sutherland e Sharp, 1984; 
Thom, 1992). Em 1913, a Lei de Deficiência Mental foi aprovada 
na Inglaterra e no País de Gales, que garantiu cuidados 
institucionais para todas as crianças identificadas como 
"deficientes mentais". No mesmo ano, Cyril Burt foi nomeado o 
primeiro psicólogo oficial do governo no Reino Unido com a tarefa 
de avaliar os níveis de distúrbios psicológicos na população 
infantil. Ele trabalhou com centros de bem-estar infantil, oficiais de 
inspeção médica escolar e escolas reformatórios e industriais 
para fazer isso (Evans et al., 2008). 
No final da década de 1920, o Commonwealth Fund, um órgão 
filantrópico americano, começou a fornecer fundos com o objetivo 
de melhorar os serviços de orientação infantil na Grã-Bretanha 
(Thom, 1992). As clínicas de orientação para a primeira infância 
foram utilizadas para direcionar as práticas de educação infantil e 
orientar o comportamento das crianças problemáticas (Jones, 
1999). A expansão dos serviços psicológicos ofereceu 
oportunidadescrescentes para que os profissionais de psicologia 
 
22 
 
infantil observassem e avaliassem bebês e crianças. Foi neste 
contexto que os termos "autista", "esquizofrênico" e "psicótico" 
foram introduzidos na linguagem dos profissionais de psicologia 
infantil, a fim de descrever seus sujeitos infantis. Estas foram 
associadas a um discurso crescente relacionado ao 
desenvolvimento da subjetividade de bebês e crianças. O início 
do século 20 testemunhou especulações crescentes sobre a 
natureza dos processos de pensamento infantis e inconscientes e 
seu papel em causar doenças mentais. Bleuler, Sigmund Freud, 
Carl Jung e Pierre Janet foram todos pensadores importantes 
neste período, que procuraram desenterrar as forças subjacentes 
à doença psicológica nos pensamentos, experiências e traumas 
da infância (Ellenberger, 1970). 
Muito desse trabalho foi realizado prontamente por uma nova 
geração de profissionais de psicologia infantil na Grã-Bretanha, 
como Susan Isaacs (1943), Melanie Klein (1929,1930) e Mildred 
Creak (1961,1964). Quando Bleuler cunhou o termo "autismo" em 
1911, ele atribuiu suas raízes etimológicas a Freud e, em última 
instância, a Havelock Ellis, por meio do termo "autoerotismo" 
(McGuire, 1974). Freud havia usado essa palavra em 1905 para 
descrever o pensamento alucinatório em conjunto com a 
autoalimentação em um estágio de pensamento que precedeu o 
envolvimento do bebê com a realidade externa (Freud, 2001 
[1905]). Bleuler ([1911]. 1950) também argumentou que o 
conceito de autismo foi um refinamento da perte de la fonction du 
re´el de Janet. Em 1903, Janet e Raymond (1903) explicaram a 
função da realidade como uma síntese de todas as funções 
 
23 
 
psicológicas, desde funções automáticas no nível do sistema 
nervoso até pensamentos e ações complexas. Se o sistema 
nervoso estivesse fraco, a tensão psicológica cairia e o indivíduo 
perderia a capacidade de sintetizar essas funções complexas e 
também perderia o senso de realidade (Janet e Raymond, 1903). 
Ele ou ela então voltaria a uma forma de pensamento que 
precedeu a capacidade do indivíduo de conceituar o sentido do 
self. 
Embora a descrição de Bleuler da esquizofrenia cobrisse mais do 
que apenas autismo - em particular, distúrbios de atenção, 
vontade e intelecto - o conceito foi crucial para sua descrição da 
falta de contato do esquizofrênico com a realidade. De acordo 
com Bleuler, quando os esquizofrênicos tentavam conduzir 
operações lógicas no pensamento, eles eram incapazes de 
recorrer a todas as associações apropriadas na mente, levando 
assim a um senso de realidade insatisfatório. Eles, portanto, 
substituíram essa realidade insatisfatória por fantasias que 
satisfaziam mais prontamente suas necessidades afetivas. Ao 
bloquear os estímulos perceptivo-sensoriais do mundo exterior, o 
pensamento autista passou a obedecer às suas próprias leis 
especiais, que não eram mais regidas pelas regras da lógica 
(Bleuler, 1950 [1911]). Foi o pensamento que ocorreu "em 
símbolos, em analogias, em conceitos fragmentários, em 
conexões acidentais", e foi a fonte tanto de ilusão quanto de 
"ofensas grosseiras contra a lógica e a propriedade". Embora o 
autismo fosse patológico dentro da esquizofrenia, Bleuler sempre 
o considerou meramente "um exagero de um fenômeno 
 
24 
 
fisiológico" que estava presente em todos os humanos e que se 
manifestava em fantasias e desejos normais. Bleuler (1950 
[1911]) argumentou que o senso de realidade se perdia nos 
esquizofrênicos apenas em relação a questões que ameaçavam 
contradizer seus complexos, um conceito que foi originalmente 
desenvolvido por Jung, que alegou ser análogo ao que Janet 
chamou de ide ´e fixe subconsciente (Ellenberger, 1970; 
Moskowitz, 2005). Mais tarde, Freud expandiu a maneira pela 
qual o pensamento auto-erótico e, o que ele chamou de 
narcisismo primário, foram transformados por meio do início do 
complexo de Édipo. 
O interesse de Bleuler, Freud e Janet nos sintomas de autismo e 
autoerotismo em adultos foi compartilhado por muitos outros 
alienistas franceses que se referiram a aspectos do autismo como 
'autofilia, egocentrismo, ego-hipertrofia e aumento do senso de la 
personnalite' (Bleuler , 1950 [1911]). Alguns escritores franceses, 
como Henri Claude do Hoˆpital Sainte-Anne em Paris, criticaram a 
associação direta de Bleuler entre o pensamento autista e a perda 
do senso de realidade (Claude et al., 1924). No entanto, 
pesquisadores britânicos como Creak, Klein e Isaacs seguiram 
Freud e Bleuler ao vincular o pensamento autista e auto-erótico 
ao pensamento alucinatório. Eles também se basearam 
substancialmente no trabalho de Jean Piaget ao fazer essas 
afirmações. 
 
 
 
 
25 
 
 
Em 1922, Piaget apresentou um artigo na Conferência Internacional de Psicanálise de 
Berlim, intitulado 'La pensée symbolique et la pensée de l'enfant', onde expôs suas 
teorias sobre a maneira como as crianças desenvolviam uma relação com a realidade 
por meio de suas interações cotidianas com pessoas e objetos (Chapman, 1988). Com 
base em Bleuler e Freud, ele afirmou que os estágios pré-verbais do pensamento das 
crianças podem ser descritos como "autistas" ou "simbólicos". Durante esta fase do 
pensamento, as crianças não podiam seguir regras lógicas e não pensavam 
conceitualmente e havia uma predominância de imagens visuais em suas mentes 
(Piaget, 1923). Esses processos de pensamento diminuíram à medida que o bebê se 
tornou mais consciente dos objetos concretos e da realidade que o cercava. Piaget 
traçou analogias diretas entre o pensamento infantil e o simbolismo inconsciente, 
conforme descrito na teoria psicanalítica (Vidal, 1994). Ele afirmou que o pensamento 
"autista" e "simbólico" eram ambos caracterizados por três características distintas, a 
saber, "ausência de suíte lógica, predominância de l'image sur le conceito, et 
inconscience des connexions qui relient les images entre elles sucessivos" [an ausência 
de lógica, uma predominância de imagens visuais sobre o pensamento conceitual, e 
nenhuma consciência das conexões que podem ser feitas entre as percepções visuais] 
(Piaget, 1923). Piaget também vincula o conceito de autismo diretamente às 
progressivas da criança de se envolver com a realidade (Vidal, 1994). Ele desenvolver 
testes psicológicos que medem a percepção e a autoconsciência das crianças. Em sua 
publicação de 1929, The Child’s Perception of the World, ele relatou os resultados dos 
testes em que questionou as crianças sobre suas crenças sobre o mundo físico e 
argumentou que seu pensamento se desvenda da imaginação mágica primitiva ao 
raciocínio lógico. Chamando a atenção para o trabalho de Freud sobre economia 
mental, ele argumentou que, quando os adultos pensavam simbolicamente, eles 
"condensavam" conceitos e "deslocavam" uma imagem ou conceito para outro porque 
experimentaram uma reversão para o pensamento autista primário, no qual nenhuma 
distinção foi feita entre os vários estímulos externos que bombardeavam o bebê em sua 
vida diária (Piaget, 1923). 
 
Na Grã-Bretanha, os profissionais de psicologia infantil 
introduziram essas teorias nas décadas de 1920 e 1930. O 
trabalho de Freud já havia desenvolvido um outlet na British 
PsychoAnalytical Society, fundada por Ernest Jones em Londres 
em 1913. Melanie Klein, uma e´migre´e vienense e analista infantil 
que ingressou na sociedade em 1926, foi extremamente influente 
no tratamento psicológico de crianças na Grã-Bretanha (Steiner, 
1991). Em 1929, Klein publicou um artigo sobre a personificação 
nas brincadeiras de crianças em que argumentava que, se a 
realização do desejo instintivo dominasse o reconhecimento da 
 
26 
 
realidade pela criança, então a criança poderia ser descrita como 
experimentando um tipo de "psicose" (Klein, 1929), um termo que 
Freud usara em 1894 para descrever 'confusão alucinatória' 
(Freud, 2001 [1894]). Em1930, ela argumentou que a 
esquizofrenia e a psicose deveriam ser diagnosticadas com mais 
frequência em crianças, pois isso ajudaria os psicólogos infantis a 
compreender o pensamento infantil e suas patologias extremas 
(Klein, 1930). 
Susan Isaacs apoiou as ideias de Klein sobre a importância de 
descrever alucinações e fantasias dentro do pensamento infantil e 
também adotou as teorias de Piaget sobre o desenvolvimento 
infantil. Isaacs também foi uma figura influente na psicologia 
infantil na Grã-Bretanha, tendo supervisionado os alunos de 
psicologia avançada de Burt na University College London e 
lecionando amplamente sobre psicologia e psicanálise antes de 
ser nomeado chefe do Departamento de Desenvolvimento Infantil 
do Instituto de Educação da Universidade de Londres em 1933 . 
 
Susan Sutherland Isaacs, (nascida Fairhurst; 24 de maio de 
1885 - 12 de outubro de 1948; também conhecida como Ursula 
Wise) foi uma psicóloga educacional e psicanalista nascida em 
Lancashire. Publicou estudos sobre o desenvolvimento 
intelectual e social de crianças e promoveu o movimento de 
creches. Para Isaacs, a melhor maneira de as crianças 
aprenderem era desenvolvendo sua independência. Ela 
acreditava que a maneira mais eficaz de conseguir isso era 
brincando e que o papel dos adultos e dos primeiros 
educadores era orientar as brincadeiras das crianças. 
 
 
De acordo com Bonnie Evans (2013), do King’s College London, 
Reino Unido, ela atuou no conselho editorial do British Journal of 
 
 
27 
 
Educational Psychology e do British Journal of Medical 
Psychology (Sayers, 2001). Além disso, ela teve grande influência 
na orientação das políticas governamentais sobre cuidados 
infantis e educação; por exemplo, dando depoimento ao Comitê 
Hadow de Escolas Infantis e Infantis em 1933 e, mais tarde, ao 
Comitê de Cuidado de Crianças em 1945 (Wooldridge, 1994). 
Mildred Creak foi outro importante profissional britânico de 
psicologia infantil que procurou desenvolver ideias sobre 
psicopatologia grave e alucinação na infância. Ela se formou em 
medicina no University College Hospital, em Londres, e foi 
nomeada chefe da psiquiatria infantil no Maudsley Hospital em 
1931. 
 
Eleanor Mildred Creak (1 de agosto de 1898 - 25 de agosto 
de 1993) foi uma psiquiatra infantil inglesa conhecida por seu 
trabalho com autismo e transtornos mentais orgânicos. Ela 
começou sua carreira no Hospital Maudsley e mais tarde 
chefiou o departamento psiquiátrico do Hospital Great Ormond 
Street. 
 
 
Escrevendo em 1937, ela argumentou que embora 'os processos 
normais de pensamento, em uma idade precoce, recapitulem 
aquelas formas primitivas e arcaicas tão freqüentemente vistas 
em esquizofrênicos', a esquizofrenia infantil deveria ser 
conceituada como uma 'reação' que perturbava o 
desenvolvimento normal do pensamento infantil levando a 
problemas na formação do intelecto e coordenação motora. Ela 
afirmou que em crianças esquizofrênicas, pode-se observar uma 
"tendência à fragmentação e interrupção nos processos de 
 
 
28 
 
pensamento", bem como "pensamento desereístico" (“dereistic 
thinking”), que Bleuler usou como sinônimo de pensamento 
autista. 
 
O pensamento desereísta ou desereístico é um termo 
descritivo antigo usado para se referir a pensar que não está 
de acordo com os fatos da realidade e da experiência e que 
segue um raciocínio idiossincrático e ilógico. 
 
Seu estudo de 1937 foi o primeiro a apresentar longas descrições 
de crianças pré-púberes que desenvolveram o que ela entendeu 
como uma "reação esquizofrênica". Junto com Klein e Isaacs, ela 
abriu o caminho para discussões mais detalhadas sobre a 
maneira como a psicopatologia severa deve ser conceituada em 
bebês e crianças. 
A Segunda Guerra Mundial aumentou as oportunidades para 
psicólogos infantis de estudar os problemas psicológicos de 
bebês e crianças. Na Grã-Bretanha, mais de 1 milhão de crianças 
desacompanhadas foram evacuadas das cidades e muitos 
psicólogos e psicanalistas de destaque, incluindo Klein, Isaacs e 
John Bowlby, estabeleceram a pesquisa de evacuação de 
Cambridge para estudar os efeitos de tais mudanças ambientais 
importantes (B. Harris, 1995; Rose, 1999). Ao mesmo tempo, 
Anna Freud estabeleceu creches em tempo de guerra em Londres 
para crianças que não podiam ser evacuadas (Burlingham e 
Freud, 1943). Klein, Isaacs, Bowlby e Anna Freud empregaram 
teorias de processos inconscientes para explicar o pensamento 
patológico nos bebês que observaram. Era amplamente 
considerado que a "privação materna" poderia ajudar a explicar 
 
29 
 
por que algumas crianças desenvolveram padrões de 
pensamento patológicos e outras não. No início da década de 
1940, nos Estados Unidos, Lauretta Bender do Bellevue Hospital, 
de Nova York, e William Goldfarb do Ittleson Center for Child 
Research, de Nova York, conduziram estudos sobre privação 
materna que ecoaram os estudos sobre crianças evacuadas no 
Reino Unido. 
Todos esses estudos tiraram conclusões semelhantes. Como 
disse Bowlby, "com regularidade monótona, cada um aponta a 
incapacidade da criança de formar relacionamentos como sendo a 
característica central a partir da qual todas as outras perturbações 
surgiram" (Bowlby, 1951). Foi dito que isso afetava a capacidade 
da criança de conceituar, bem como sua inteligência e capacidade 
de relacionamento. Bowlby e Bender, em particular, pensaram 
que esses distúrbios afetavam os processos mentais 
inconscientes dessas crianças, fazendo com que se retirassem do 
mundo exterior. 
De acordo com Bonnie Evans (2013), no início dos anos 1940, 
surgiram grandes divergências sobre como, exatamente, os 
primeiros relacionamentos do bebê afetaram seus processos de 
pensamento para causar psicopatologia. Klein e seus apoiadores 
alegaram que haviam encontrado evidências de respostas 
subjetivas aos instintos em bebês que pressupunham a existência 
de mecanismos mentais complexos que podiam controlar, 
redirecionar e reprimir impulsos instintuais inconscientes desde os 
primeiros momentos de vida. No início de 1943, Susan Isaacs 
descreveu em detalhes sua tese de que as crianças 
 
30 
 
experimentavam "fantasias" em relação às suas primeiras 
experiências que as levaram a reprimir ou desviar as forças e 
impulsos internos que poderiam manifestar problemas na vida 
adulta. Isaacs afirmava que, a partir do momento em que um bebê 
experimentava uma necessidade instintiva, ele também tinha a 
capacidade de fantasiar sobre essa necessidade e imaginar a 
direção que ela poderia tomar. Como disse Isaacs, "a fantasia é o 
corolário mental, o representante psíquico do instinto". Isaacs 
argumentou que "cada impulso, cada sentimento, cada modo de 
defesa é expresso e experimentado em tal fantasia específica, 
que lhe dá vida mental e mostra sua direção e propósito 
específicos" (Isaacs, 1991 [1943]). 
As fantasias podem estar associadas a instintos ou impulsos 
libidinais, bem como a instintos e impulsos destrutivos. Usando 
uma linguagem evocativa, Isaacs afirmou que se a criança 
estivesse sentindo 'desejos por sua mãe', ele os experimentaria 
como 'Eu quero chupar o mamilo, acariciar seu rosto, comê-la, 
mantê-la dentro de mim, morder o seio, para despedaçá-la, afogá-
la e queimá-la, para expulsá-la de mim '(Isaacs, 1991 [1943]). Os 
bebês também eram considerados capazes de alterar e proibir 
seus desejos inconscientes (Heimann, 1991 [1943]). Nesse 
modelo, foi possível compreender como os bebês podiam 
empregar as alucinações de forma patológica, o que os impedia 
de desenvolver uma relação satisfatória com a realidade. Em 
outras palavras, de acordo com Klein e Isaacs, bebês nunca 
foram totalmente "autoeróticos" ou "autistas" e, portanto, algumas 
formas de alucinação, mesmo em bebês, podem afetar seus 
 
31 
 
relacionamentos com outras pessoas. A psicopatologia poderia, 
assim, ser criada,por meio dos relacionamentos, em bebês desde 
os primeiros momentos de vida. Os críticos dos analistas 
kleinianos argumentaram que eles estavam atribuindo processos 
psíquicos avançados aos bebês sem fornecer evidências e 
explicações completas para essas afirmações. 
Anna Freud argumentou que após o nascimento de um bebê, 
houve um período de aproximadamente 6 meses em que a 
criança era inerentemente "narcisista e autoerótica". Durante esta 
fase, o objetivo de um instinto era fundamental, mas o objeto 
desse instinto foi "apenas vagamente levado em consideração". 
Neste estado, "a satisfação conta para tudo e os objetos não 
contam para nada". A criança não tinha consciência dos efeitos 
de suas ações sobre os outros, não tinha sentimento de culpa ou 
ansiedade por suas ações e nenhuma sensação de perda (Freud 
em King e Steiner, 1991). A posição de Anna Freud era que 
fatores e relações ambientais podem afetar uma criança para 
causar psicopatologia e reversão apenas a partir dos 6 meses de 
idade. Embora o conceito preciso de "autismo" raramente seja 
mencionado nessas discussões, os conceitos descritivos de 
"autoerotismo" e "narcisismo primário", um termo que foi 
desenvolvido por Sigmund Freud como uma resposta ao conceito 
de autismo de Bleuler, foram discutidos com frequência. Essas 
discussões sobre se, e com que idade, alguém poderia atribuir 
desejos e pensamentos aos bebês nunca foram concluídas. No 
entanto, eles continuaram a existir como problemas conceituais 
importantes na psicologia infantil, porque diziam respeito às 
 
32 
 
origens do pensamento relacional. Cyril Burt e outros psicólogos 
educacionais na década de 1940 também debateram como 
atribuir a atividade mental e pensamentos aos bebês, entrando 
em choque dramaticamente com behavioristas como JB Watson, 
que argumentou que não era a vocação dos psicólogos descrever 
os pensamentos que eles imaginavam que os bebês tivessem 
(Watson, 1925; Burt, 1941). 
Enquanto essas controvérsias ainda grassavam na Grã-Bretanha, 
Leo Kanner, do Johns Hopkins University Hospital, em Baltimore, 
afirmou que havia identificado um distúrbio psicológico único em 
crianças caracterizado por "autismo extremo, obsessão, 
estereotipia e ecolalia". 
 
Leo Kanner (Klekotow, 13 de junho de 1894 - 4 de abril de 
1981) foi um psiquiatra austríaco radicado nos Estados Unidos. 
Leo Kanner entrou para a universidade em 1913. Após um 
período servindo no Exército Austríaco, durante a I Guerra 
Mundial, reassumiu os estudos, obtendo seu diploma de 
Medicina em 1921. Trabalhava na Charité (Escola de Medicina 
e Hospital da Universidade de Humboldt) quando um médico 
norte-americano que cursava a pós-graduação em Berlim o 
convenceu a se mudar para os Estados Unidos. Em 1924, 
Kanner assumiu uma vaga de médico assitente no State 
Hospital em Yakton, Dakota do Sul. Especializou por seu 
próprio esforço em psiquiatria pediátrica, tendo estudado por 
seus próprios meios. Em 1930, pouco depois de ter se mudado 
para a Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, foi 
selecionado pelos diretores de psiquiatria e de pediatria da 
instituição para desenvolver o primeiro serviço de psiquiatria 
infantil em um hospital pediátrico. Kanner se tornou professor 
associado de psiquiatria da Johns Hopkins Hospital em 1953 
mas apenas em 1957 foi elevado a professor de psiquiatria 
infantil. Leo Kanner permaneceu como diretor de Psiquiatria 
Infantil na Johns Hopkins até se aposentar, em 1959, mas 
continuou em atividade até sua morte, aos 87 anos. Em 1943 
publicou a obra que associou seu nome ao autismo: "Autistic 
disturbances of affective contact", na revista Nervous Children, 
número 2, páginas 217-250. Nela, descreveu os casos de onze 
crianças que tinham em comum "um isolamento extremo desde 
o início da vida e um desejo obsessivo pela preservação da 
mesmice", denominando-as de "autistas". Leo Kanner cunhou, 
 
 
33 
 
em 1949, o termo mãe-geladeira referindo-se às mães de 
crianças autistas. 
 
Ele se referiu a isso como "distúrbios autistas inatos de contato 
afetivo", alegando que os sintomas colocaram "o quadro total em 
relação com alguns dos fenômenos esquizofrênicos básicos". Ao 
contrário de Klein e Isaacs, Kanner era reservado na atribuição de 
processos de pensamento inconscientes e uma vida simbólica 
aos bebês. Em vez disso, ele descreveu uma lista de casos nos 
quais havia observado sintomatologia semelhante. Os filhos de 
Kanner foram descritos como tendo uma "boa relação com os 
objetos", em particular aqueles "que não mudam sua aparência e 
posição, que mantêm sua mesmice e nunca ameaçam interferir 
na solidão da criança". Por outro lado, a relação das crianças com 
as pessoas era "totalmente diferente" e Kanner descreveu casos 
em que as crianças mal percebiam quando outras pessoas 
entravam em uma sala. Ele também observou que essas crianças 
tendiam a usar a linguagem de uma maneira muito literal e que 
não se relacionavam fisicamente com outras pessoas (Kanner, 
1943). 
 
Distúrbios autísticos de contato afetivo ("Autistic Disturbances of Affective 
Contact", 1943) 
Publicado na revista Nervous Child, "Autistic Disturbances of Affective Contact" foi um 
dos artigos mais citados sobre autismo no século XX. Em seu artigo de referência, 
Kanner usou o termo "autismo", que Eugen Bleuler anteriormente atribuiu aos sintomas 
introspectivos internos típicos em pacientes adultos com esquizofrenia, e rotulou as 
onze crianças em seu estudo como tendo "autismo infantil". No entanto, em vez de 
relacionar suas observações às qualidades e sintomas vistos em adultos 
esquizofrênicos, Kanner classificou sua descrição de "autismo" como independente do 
transtorno psicótico, explicando como o autismo não era um precursor da esquizofrenia, 
e que os sintomas do primeiro parecia evidente e presente ao nascimento. Um trabalho 
significativo, este artigo sobre a "Síndrome de Kanner" formou a base para pesquisas 
posteriores conduzidas por Kanner e outros sobre o que mais tarde ficou conhecido 
como autismo infantil. 
 
34 
 
A partir de 1938, Kanner começou a estudar um grupo de onze crianças (oito meninos e 
três meninas) que vinham vê-lo em sua clínica no Hospital Johns Hopkins. Para cada 
um dos casos, Kanner fornece um relato detalhado dos sintomas, saúde, resultados de 
testes diagnósticos, histórico familiar e futuro desenvolvimento e progressão das 
crianças. Somando-se às suas próprias observações, Kanner contextualizou ainda mais 
a vida de seus pacientes, incluindo entradas tipicamente epistolar de membros da 
família e outros indivíduos com quem as crianças interagiam. Geralmente, todas as 
crianças compartilhavam certos sintomas e vinham de origens socioeconômicas e 
culturais semelhantes (todas, exceto duas das famílias, eram de ascendência anglo-
saxônica). A seguir estão resumos de cada um dos onze casos: 
1. Donald T .: Nascido em 8 de setembro de 1933, Donald Triplett foi visto pela primeira 
vez em outubro de 1938, quando tinha cinco anos. Ao nascer, Donald era saudável, 
tendo como única complicação a alimentação, o que, segundo um relato de seu pai, 
"sempre foi um problema para ele. Ele nunca mostrou um apetite normal". Desde muito 
cedo, Donald demonstrou "uma memória incomum para rosto e nomes" e "conseguia 
cantarolar e cantar muitas músicas com precisão", sendo capaz de memorizar frases 
que rimavam ou eram de natureza semelhante. Os pais de Donald observaram que "ele 
ficava mais feliz quando ficava sozinho", não prestando muita atenção a ninguém na 
sala nem reagindo à ausência ou retorno de sua mãe ou pai. O que o divertia era girar 
objetos em volta, como panelas e blocos giratórios, mas ele tinha medo de "veículos 
automotores", como triciclos e balanços. Donald entrou em erupção em ataques de 
raiva destrutivos e terríveis quando foi perturbado. Em seu primeiro encontro com 
Kanner, Donald foi observado balançando a cabeça de um lado para o outro,repetindo 
a mesma melodia de três notas, girando tudo o que podia em suas mãos e organizando 
objetos por cor, para sua própria alegria. A maioria de suas ações eram repetitivas, 
"realizadas exatamente da mesma maneira que foram realizadas originalmente". 
Freqüentemente, ele pronunciava palavras ou frases aleatórias, e isso formava grande 
parte de sua produção verbal e fala. Outro problema que Donald tinha com a linguagem 
era sua compreensão do significado das palavras. As palavras tinham um "significado 
literal e inflexível" para Donald, e ele era incapaz de reconhecer e aplicar a denotação 
de uma palavra a outro contexto; cada palavra tinha uma definição e associação 
definidas e designadas em sua mente. Na maior parte, as conversas com Donald 
consistiam em uma enxurrada de perguntas. Por fim, Kanner observou que o 
relacionamento que Donald tinha com os outros era da natureza de quando ele 
precisava ou queria saber de algo. 
2. Frederick W .: Filho único de dois graduados universitários, Frederick nasceu em 23 
de maio de 1936 em posição culatra e foi encaminhado para ver Kanner em 1942 aos 
seis anos de idade. Descrito como "autossuficiente", Frederico era capaz de se divertir 
com alegria e era facilmente absorvido por objetos, demonstrando "boa atenção e 
perseverança" ao brincar com brinquedos. Por sua vez, ele prestava pouca atenção às 
outras pessoas, vendo-as como "intrusos indesejáveis", ignorando-as tanto quanto 
possível para manter sua atenção em seus brinquedos. Além disso, Frederick temia 
objetos mecânicos, como aspiradores de pó e batedores de ovos, até mesmo fugir ao 
ver ou ouvir as coisas. Semelhante a Donald, Frederick gostava de um estilo de vida 
organizado, no qual tudo deveria ser colocado e organizado da mesma maneira e 
padrão. Frederick tinha interações verbais limitadas, ejaculando sons ininteligíveis e 
respondendo a comandos "no estilo ecolalia", mas era capaz de cantar de vinte a trinta 
canções, incluindo uma canção de ninar francesa. Devido à falta de cooperação durante 
os testes de diagnóstico da escala de desempenho de Grace Arthur, os resultados de 
Frederick foram difíceis de avaliar. Ele teve o melhor desempenho na placa de 
formulário Seguin, que consistia em inserir objetos de formas variadas de volta em seus 
respectivos orifícios de forma em uma placa, com um melhor tempo de 58 segundos. No 
teste de égua e potro, parecia que ele colocava as peças nos locais apropriados com 
base em sua configuração, pois não importava para ele se as peças estavam com o 
 
35 
 
lado certo para cima ou não. Durante os testes do formulário, ele estava muito 
concentrado e determinado, trabalhando neles de maneira interessada, mas entre os 
testes, ele vagava pela sala examinando vários objetos, sem prestar atenção nas 
pessoas presentes. 
3. Richard M .: Originalmente, Richard foi encaminhado ao Hospital Johns Hopkins aos 
três anos de idade por suspeita de que era surdo porque não falava e não respondia às 
perguntas. Nascido em 17 de novembro de 1937, Richard era relativamente saudável e 
se desenvolveu de maneira normal, mas sua mãe observou que, ao comparar Richard 
com seu filho mais novo, o filho mais velho falhou em mostrar qualquer "sinal 
fisionômico ou postural de preparação" ao ser pego . Foi observado pela primeira vez na 
clínica que Richard parecia bastante inteligente, "brincando com os brinquedos em sua 
cama e sendo adequadamente curioso sobre os instrumentos usados no exame". Como 
os outros pacientes, ele foi descrito como autossuficiente. Richard estava 
profundamente concentrado em brincadeiras ativas com brinquedos e não se importava 
com as pessoas na sala. Ocasionalmente, ele olhava para as paredes, sorria e dizia 
"Ee! Ee! Ee!" sons. Observou-se que Richard "teve um bom desempenho com a placa 
não girada, mas não com a placa girada". Nas duas vezes subsequentes em que foi 
visto por Kanner, Richard prestou pouca atenção àqueles em sua presença, começou a 
se preocupar quando algo estava desagradável com ele ou quando ele queria algo, e 
consistentemente acendeu e apagou as luzes dos quartos assim que ele entrou isto. Por 
fim, sua mãe o mandou para um lar adotivo para uma mulher que era conhecida por ter 
um "talento notável para lidar com crianças difíceis" e, durante sua estada, ela o ouviu 
dizer suas primeiras palavras inteligíveis, "Boa noite". 
4. Paul G .: Visto como debilitado como resultado de sua "fala incoerente, incapacidade 
de se conformar e reação com explosões de raiva a qualquer interferência", Paul foi 
encaminhado para ver Kanner quando ele tinha cinco anos de idade. Paul foi notado por 
ter boa destreza manual ao executar tarefas. Raramente, ele respondia quando falado, 
mesmo quando diretamente dirigido, embora um enérgico "Não!" fez com que ele 
interrompesse o que estava fazendo no momento. Havia uma diferença distinta na 
maneira como ele interagia com pessoas e objetos; ao entrar em uma sala, Paulo ia 
diretamente atrás dos objetos, usando-os corretamente e tratando-os com atenção 
especial, ao passo que desconsiderava as pessoas, comportando-se como se elas não 
estivessem ali. Em termos de fala, Paulo normalmente pronunciava palavras ou frases 
que estavam diretamente relacionadas com o que ele estava fazendo no momento, mas 
às vezes ele ejaculava declarações aleatórias não relacionadas à situação imediata. 
Paulo enunciava claramente, tinha um bom vocabulário e tinha uma compreensão 
satisfatória da construção e sintaxe da frase, com a exceção significativa do fato de não 
usar o pronome da primeira pessoa nem seu próprio nome ao se dirigir a si mesmo. 
Sempre que fazia afirmações relativas a si mesmo, referia-se a si mesmo na segunda 
pessoa como reiterações literais de afirmações ditas a ele no passado. Embora nenhum 
teste formal tenha sido realizado, Kanner concluiu que Paul claramente não era débil, 
dada sua inteligência. 
5. Barbara K .: Nascida normalmente em 30 de outubro de 1933, Barbara veio para a 
clínica com oito anos de idade. A expressão verbal era limitada, pois ela tinha 
dificuldades com dicção e sintaxe, mas tinha a capacidade fenomenal de soletrar, ler e 
escrever. Comum com as outras crianças, ela era repetitiva e obsessiva quanto à ordem 
e colocação de objetos e frases. Bárbara era muito tímida e tinha medo de coisas que 
mudassem, como o vento e animais grandes. Quando solicitada, ela apertava as mãos 
e cumprimentava outras pessoas com fraqueza, demonstrando falta de contato afetivo. 
Durante a bateria de testes, ela não estava absorta porque parecia que o "conceito de 
teste, ou compartilhar uma experiência ou situação, parecia estranho para ela". No teste 
de Binet, ela leu de forma excelente, terminando a história do incêndio de Binet de dez 
anos em 33 segundos sem erros, mas quando solicitada a relembrar qualquer coisa da 
história que leu, Bárbara não conseguiu reproduzir nada de sua memória. Depois de 
 
36 
 
repetidas perguntas ou comandos, ela obedeceu quase imediatamente. Bárbara 
frequentemente se referia a "transportes motorizados" e "nas costas" e era fascinada 
por apêndices, como pêndulos e chaminés. 
6. Virginia S .: A partir de um relato de outra psicóloga, Virginia foi registrada como 
sendo distinta das outras crianças na escola de treinamento que ela frequentou porque 
ela era limpa e arrumada, não interagia e brincava com os outros alunos e não era 
surda, mas não falou. Em vez disso, ela passava muito tempo se divertindo em sua 
própria empresa, montando quebra-cabeças de imagens. Notavelmente, seu irmão mais 
velho comentou sobre a natureza fria de sua vida familiar, descrevendo que ele e 
Virginia viviam em "uma atmosfera gelada" com dois estranhos inacessíveis para os 
pais, pois ambos não contribuíam muito para criar os filhos. Quando vista em outubro de 
1942, Virginia ficou "apática, olhando para o espaço" e às vezes respondia às perguntas 
murmurando "Mamãe, baby". Parecendo egocêntrica, Virginia não interagiu com as 
outras crianças agrupadasao redor do piano, aparentemente sem notar o que estava 
acontecendo. Kanner mencionou que ela tinha "uma fisionomia inteligente", mas seus 
olhos não tinham expressão. 
7. Herbert B .: Provavelmente surdo e com deficiência intelectual devido à sua 
incapacidade de interagir com outras pessoas, Herbert nasceu em 16 de novembro de 
1937. Herbert ficou terrivelmente assustado com muitos objetos e dispositivos 
mecânicos, como água corrente e queimadores de gás , e ficava chateado quando 
alguma alteração era feita em sua rotina ou padrões habituais. Em sua primeira visita, 
ele foi observado como muito inteligente e com boa coordenação motora. 
Completamente absorvido em tudo o que fazia, Herbert conseguia se distrair com 
grande dificuldade de suas tarefas escolhidas por si mesmo e, quando interferia, ficava 
irritado por empurrar intrusos ou gritar. Em visitas posteriores, ele continuou a não se 
comunicar verbalmente e entrou na sala sem prestar atenção às pessoas presentes. 
Nunca visto sorrindo, Herbert ocasionalmente produzia sons ininteligíveis de uma 
"maneira monótona de cantoria cantada". 
8. Alfred L .: Notado por sua mãe por desenvolver um interesse especializado que 
consumiria seu dia inteiro e por preferir ser um "lobo solitário", Alfred nasceu em maio 
de 1932 e foi levado para ver Kanner aos três anos e meio de idade. Entrando no 
escritório, ele não prestou atenção ao examinador, ao invés disso foi imediatamente 
para os brinquedos da sala e se deixou levar por brincar com o trem de brinquedo. Um 
teste de Binet foi tentado em Alfred, e foi inicialmente difícil, mas ele finalmente 
concordou de uma maneira que Kanner avaliou como indicativa de Alfred querer 
continuar com a intrusão; ele alcançou um I.Q. de 140. Mais tarde, ele começou a 
brincar com crianças mais novas do que ele, mas continuou totalmente imerso em suas 
brincadeiras e com medo de sons mecânicos. Em termos de fala, ele era muito 
específico com sua definição de termos e muitas vezes se confundia com o significado 
das palavras. 
9. Charles N .: Charles foi levado à clínica em 2 de fevereiro de 1943 aos quatro anos e 
meio de idade. Ao entrar na sala de exames, não prestou atenção às pessoas 
presentes. No tabuleiro de forma Seguin, ele se interessou pelo nome de cada uma das 
peças antes de colocá-las nos buracos apropriados. Em um padrão repetitivo, ele girou 
as formas e reagiu com entusiasmo quando elas giraram. Em termos de linguagem, ele 
não a usava para se comunicar com outras pessoas, mas tinha uma boa memória para 
os nomes de vários objetos. 
10. John F .: Nascido em 19 de setembro de 1937, John tinha dificuldade para se 
alimentar e parecia ter um desenvolvimento lento. No escritório, ele vagou pela sala sem 
rumo, mas não colocou dois objetos em relação um com o outro. Ao interagir com 
objetos, ele era destrutivo com eles, jogando-os no chão. Ao contrário da maioria das 
outras crianças observadas, John tinha um bom domínio da linguagem, sendo capaz de 
formar frases elaboradas e gramaticalmente, com a exceção de usar o segundo 
pronome quando se referia a si mesmo e ser incapaz de fazer comparações entre duas 
 
37 
 
coisas. Marcadamente obsessivo, ele tinha uma rotina diária rígida e uma excelente 
memória mecânica, capaz de recitar inúmeras canções, rimas e orações. Além disso, à 
semelhança das outras crianças, as palavras tinham significados rígidos e designados, 
como no caso em que perguntou ao pai sobre uma fotografia de grupo na parede do 
escritório. Sempre que via algo quebrado ou incompleto, John ficava extremamente 
chateado. Em dezembro de 1942 e janeiro de 1943, John teve duas séries de 
convulsões do lado direito, com "desvio conjugado dos olhos para a direita e paresia 
transitória do braço direito". O eletroencefalograma indicou que havia distúrbios focais 
na parte esquerda do lobo occipital, mas havia dificuldade para ler os resultados por 
causa da falta de cooperação de John. 
11. Elaine C .: Elaine foi trazida pelos pais por causa de seu "desenvolvimento 
incomum": ela tinha dificuldade de brincar com outras crianças, parecendo estar em um 
mundo próprio. Ela estava profundamente absorvida por todos os tipos de animais e 
muitas vezes os imitava fazendo barulho e andando de quatro. Elaine começou a falar 
por volta dos cinco anos, mas se comunicava por meio de frases simples que eram 
"frases mecânicas" normalmente não relacionadas ao que estava acontecendo na 
época. Além disso, ela tinha dificuldade em usar pronomes adequadamente, bem como 
negativos, mas era capaz de reconhecer o significado dos últimos quando outros os 
usavam. Como muitos dos outros pacientes, ela tinha medo de objetos em movimento e 
sons mecânicos, como o de um aspirador de pó. Em resposta às perguntas, ela 
produziria uma "reprodução do tipo ecolalia" do que foi perguntado. 
Após traçar o perfil de cada um dos pacientes, nas partes "Discussão" e "Comentário" 
do artigo, Kanner afirmou que as características comuns observadas nas crianças 
formavam uma "síndrome única" que pode ter sido mais frequente do que o relatado na 
época dado o pequeno tamanho da amostra no estudo. 
Kanner indicou que a questão fundamental desse transtorno é a incapacidade das 
crianças de se relacionar com pessoas e objetos de uma forma normal desde o 
nascimento. Distinguindo os sintomas dos dois transtornos, Kanner explicou que uma 
pessoa com esquizofrenia sai de seu mundo e se afasta de relacionamentos já 
existentes, ao passo que as crianças que ele descreveu nunca estabeleceram tais 
relacionamentos, experimentando uma solidão extrema desde muito cedo. A noção da 
natureza inata do que Kanner chamou de "solidão extrema" ficou evidente por relatos 
recorrentes sobre o fracasso das crianças em "assumir a qualquer momento uma 
postura antecipatória" e ajustar seus corpos ao serem pegos pelos pais. As preferências 
que as crianças tinham pela solidão se manifestaram em total desconsideração e 
ignorância de quaisquer saídas externas que possam interferir com elas, como contato 
físico direto, som ou movimento. Sobre o desinteresse das crianças pelas pessoas, 
Kanner afirmou que 'seria melhor acabar logo com essas interferências, para poder 
voltar mais cedo à tão desejada solidão ”. 
Kanner observou ainda a centralidade dos distúrbios da fala neste distúrbio, observando 
que muitas das crianças estavam atrasadas em sua fala, e que aqueles que eram 
verbais frequentemente usavam a fala de maneiras peculiares (por exemplo, repetição 
ecolálica de frases e / ou uso inflexível da linguagem como visto na repetição exata de 
pronomes). Além disso, Kanner observou que o comportamento das crianças era 
governado por um desejo ansioso e obsessivo de mesmice, e que isso resultava em 
suas repetições de ações, como suas declarações verbais, bem como em atividade 
espontânea limitada. Um atributo cognitivo relacionado observado por Kanner foi que 
muitas das crianças tinham uma excelente memória mecânica, o que levou seus pais a 
"enchê-las" com versos, listas de nomes de animais e botânicos, canções favoritas e 
fatos aleatórios. Kanner indicou que quatro das crianças foram consideradas surdas ou 
com deficiência auditiva no início. Ele também relatou dificuldades iniciais com a 
alimentação e sugeriu que comer pode ter representado a primeira intromissão na 
extrema solidão das crianças. Ele observou que as crianças não tinham problemas de 
saúde específicos e que seus resultados de EEG eram normais. Ele, no entanto, 
 
38 
 
observou que algumas das 11 crianças tinham cabeças relativamente grandes e 
algumas eram um tanto desajeitadas no andar. Recontando suas observações sobre as 
famílias das crianças, Kanner notou o alto nível de inteligência caracterizando pais e 
parentes, ao mesmo tempo em que afirmava que havia poucos pais calorosos entre as 
famílias que observou. Ele sugeriu que a paternidade pode contribuir para o 
desenvolvimento do autismo, mas também equilibrou essa sugestão com a observação 
de que a solidãodessas crianças estava presente muito cedo, tornando improvável que 
todo o quadro do transtorno fosse resultado da paternidade. 
 
O interesse de Kanner por crianças que tinham dificuldade de se 
relacionar com outras pessoas ecoou o interesse geral de todos 
os psiquiatras infantis do período. No entanto, seu artigo foi 
significativo porque apresentou uma nova maneira de descrever o 
pensamento infantil. Em vez de atribuir processos de pensamento 
inconscientes complexos às crianças que observou, ele 
simplesmente descreveu o comportamento de um grupo de 
crianças com sintomas semelhantes. Ele usou a palavra "autista" 
para transmitir o fato de que as crianças pareciam não estar 
envolvidas com seu ambiente externo. No entanto, este modo 
descritivo em psiquiatria infantil não era padrão neste momento e 
muitos outros profissionais de psicologia infantil na Grã-Bretanha 
e nos EUA continuaram a empregar os conceitos de autismo em 
conjunto com autoerotismo, narcisismo primário e pensamento 
simbólico para compreender a psicopatologia infantil e problemas 
com desenvolver relacionamentos. 
 
Conceitualizações pós-guerra de 
autismo e psicopatologia infantil 
 
Depois da guerra, as controvérsias sobre como descrever o 
pensamento infantil continuaram. Os diagnósticos de 
 
39 
 
esquizofrenia, psicose e autismo em crianças eram amplamente 
intercambiáveis durante as décadas de 1940 e 1950. Nos Estados 
Unidos, Bender e outros empregaram um modelo kleiniano para 
compreender a psicopatologia infantil e infantil e focalizaram a 
esquizofrenia como o problema psicopatológico central da 
infância. Bender foi uma figura importante no desenvolvimento de 
testes de percepção para crianças. Em 1947, ela publicou um 
estudo sobre "cem esquizofrênicos" que frequentaram o 
Departamento de Crianças em Bellevue durante o período de 
1937 a 1947. 
Ela definiu a esquizofrenia infantil como: 
 
... patologia no comportamento em todos os níveis e em todas 
as áreas de integração ou padronização dentro do 
funcionamento do sistema nervoso central, seja vegetativo, 
motor, perceptivo, intelectual, emocional ou social (Bender, 
1947). 
 
Ela afirmou que a esquizofrenia infantil atingiu "o substrato do 
funcionamento integrativo ou comportamento biologicamente 
padronizado", uma definição que tinha ressonâncias com a perte 
de la fonction du re'el de Janet. Bender acreditava que as 
crianças esquizofrênicas se fixavam no estágio da infância 
caracterizado por "objetos internalizados" (Bender, 1947). Ela 
também afirmou que eles eram particularmente motivados pela 
agressão infantil. Isso causou "condensação ou sobreposição de 
muitos níveis de pensamento e problemas psicológicos". 
Enquanto nas crianças normais o simbolismo se tornava abstrato 
e aparecia apenas em sonhos, fantasias e contos de fadas, o 
pensamento simbólico das crianças esquizofrênicas permanecia 
 
40 
 
concreto e estruturava todo o seu distúrbio de pensamento. Ela se 
baseou em Embryology of Behavior, de Arnold Gessell (em 1945), 
para argumentar que as crianças psicóticas retinham funções 
motoras embriológicas primitivas que impediam a integração das 
funções mentais e o estabelecimento de um ego e uma relação 
com a realidade. Crianças psicóticas mantiveram "controle 
homeostático primitivo e padrões primitivos de sono e vigília com 
estados de consciência em declínio" (Bender, 1953). 
 
Dr. Arnold Lucius Gesell (21 de junho de 1880 - 29 de maio 
de 1961) foi um psicólogo clínico americano, pediatra e 
professor da Universidade de Yale conhecido por suas 
pesquisas e contribuições para o campo do desenvolvimento 
infantil. Como psicólogo, Gesell escreveu e falou sobre a 
importância da natureza e da criação no desenvolvimento 
infantil. Ele alertou outros para não serem rápidos em atribuir 
as deficiências mentais a causas específicas. Ele acreditava 
que muitos aspectos do comportamento humano, como 
destreza e temperamento, eram hereditários. Ele explicou que 
os filhos se adaptavam aos pais e também uns aos outros. Ele 
defendeu um sistema nacional de creches nos Estados Unidos. 
Os livros populares de Gesell espalham suas ideias além da 
academia. Sua mensagem central, exortando os pais a "nutrir a 
confiança da criança na vida", ressoou com os defensores da 
criança muito antes de o Dr. Benjamin Spock se tornar o 
conselheiro parental mais proeminente da América. Em A 
Criança de Cinco a Dez (“The Child from Five to Tem”), Gesell 
escreveu: Não é mais banal dizer que as crianças são a única 
esperança remanescente da humanidade. . . Se pudéssemos 
capturar sua honestidade e sinceridade transparentes! Eles 
ainda têm muito a nos ensinar, se observarmos de perto. As 
ideias de Gesell ficaram conhecidas como Teoria Maturacional 
do desenvolvimento infantil de Gesell. Com base em sua teoria, 
ele publicou uma série de resumos de sequências de 
desenvolvimento infantil, chamados de Gesell Developmental 
Schedules. 
O Instituto Gesell de Desenvolvimento Humano, que leva seu 
nome, foi fundado por seus colegas da Clínica de 
Desenvolvimento Infantil, Frances Ilg e Louise Bates Ames em 
1950, depois que Gesell se aposentou da universidade em 
1948. Em 2012, o instituto foi rebatizado de Gesell Instituto de 
Desenvolvimento Infantil. 
 
 
 
41 
 
No Reino Unido, Elwyn James Anthony e Kenneth Cameron, do 
Maudsley Hospital, empregaram teorias semelhantes do 
inconsciente infantil para compreender a esquizofrenia infantil e o 
autismo. Em 1953, eles abriram uma "clínica psicótica" que 
recebeu encaminhamentos dos casos mais graves de distúrbios 
psicológicos em crianças de toda a Grã-Bretanha. Anthony, que 
havia treinado com Aubrey Lewis e Jean Piaget (Hersov, 1986; 
Institute of Psychiatry, 1951), argumentou que as observações 
dessas crianças poderiam ser usadas para formular uma teoria 
geral do pensamento infantil e da psicologia. Em 1958, o 
European Journal of Child and Adolescent Psychiatry publicou 
"Uma Abordagem Aetiológica para o Diagnóstico da Psicose na 
Infância" de Anthony, que foi muito bem recebido (J. K. Wing, 
1966; M. Rutter, 1966). 
Anthony argumentou que a idade em que uma criança desenvolve 
autismo ou psicose afeta a forma que o distúrbio assume. Ele 
acreditava, como Anna Freud, que "toda criança começa sua vida 
psicológica em um estado autista". Usando um conceito 
emprestado de Além do Princípio do Prazer (“Beyond the 
Pleasure Principle”), de Sigmund Freud, Anthony empregou uma 
"hipótese de barreira" para explicar o desenvolvimento de 
diferentes tipos de autismo em crianças. Ele argumentou que 
durante o desenvolvimento normal, a barreira constitucional que 
protege o bebê é complementada por uma barreira materna, que 
eventualmente dá lugar a uma "barreira do ego autônomo". Essa 
barreira permite que a criança se concentre e não se distraia com 
cada estímulo que passa. Ele argumentou que, em casos de 
 
42 
 
autismo primário, os bebês desenvolveram uma barreira que era 
"anormalmente espessa" e que o bebê passou a bloquear todas 
as sensações a ponto de "ele não conseguir emergir de seu 
narcisismo primário". Em casos de autismo secundário, a barreira 
constitucional é "anormalmente fina", permitindo que uma 
quantidade excessiva de estimulação afete o ego da criança 
psicótica. 
Nessa situação, o bebê desenvolve sua própria barreira psicótica 
secundária que bloqueia todos os estímulos (Anthony, 1958a e 
não-eu e distúrbios na percepção de si mesmo '. Anthony 
emprestou o termo' a-dualismo 'de Piaget para definir este último 
problema. Ele empregou testes piagetianos padrão para confirmar 
suas teorias. O objetivo de Anthony era (re) integrar a teoria 
psicanalítica no esquema piagetiano de desenvolvimento 
subjetivo a fim de permitir a descrição detalhada do pensamento 
infantil normal e anormal. alegou que os estágios iniciais da vida 
de uma criança eram caracterizados por narcisismo primárioou 
egocentrismo onde "o eu e o ambiente são um e não há objetos 
externos permanentes" (Anthony, 1957). 
O surgimento da autoconsciência ocorreu depois que a criança, 
como organismo, deixou de funcionar por meio de pura ação 
reflexa e passou a usar a "ação inventiva" para agarrar e dirigir 
objetos no espaço. Essa habilidade intelectual emergente foi 
acompanhada por uma nova habilidade emocional de se 
relacionar com objetos. Conforme ele descreveu, a criança só foi 
capaz de prosseguir para um relacionamento emocional completo 
com os objetos depois de tê-los tornado permanentes e 
 
43 
 
substanciais. O "ego psicótico" falhou em estabelecer uma 
distinção entre fantasia interna e realidade externa, resultando em 
um estado de espírito "assimbólico" ou autista (Anthony, 1958a). 
Anthony afirmou que as causas da psicose infantil consistiam em 
"determinantes constitucionais, orgânicos, genéticos e 
psicogênicos e possivelmente algum fator ainda desconhecido" 
(Anthony, 1958b). Ele recomendou fortemente contra qualquer 
visão "monocausal" da condição, especialmente aquela que 
colocava ênfase excessiva nos pais "esquizofregênicos" ou 
"psicotogênicos".) Ele argumentou que em todos os casos de 
psicose infantil e autismo, havia "componentes de três condições 
básicas de mau funcionamento": uma incapacidade de formar um 
senso de identidade coerente e estável; uma incapacidade de 
'catectar' experiências internas com precisão; e 'uma confusão de 
self e não-self e distúrbios na percepção de si mesmo'. Anthony 
emprestou o termo 'a-dualismo' de Piaget para definir este último 
problema. Ele empregou testes padrão de Piaget para confirmar 
suas teorias. O objetivo de Anthony era (re) integrar a teoria 
psicanalítica no esquema piagetiano de desenvolvimento 
subjetivo, a fim de permitir a descrição detalhada do pensamento 
infantil normal e anormal. Ele afirmou que os estágios iniciais da 
vida de uma criança eram caracterizados por narcisismo primário 
ou egocentrismo onde "o eu e o meio ambiente são um e não há 
objetos externos permanentes" (Anthony, 1957). 
O surgimento da autoconsciência ocorreu depois que a criança, 
como organismo, deixou de funcionar por meio de pura ação 
reflexa e passou a usar a "ação inventiva" para agarrar e dirigir 
 
44 
 
objetos no espaço. Essa habilidade intelectual emergente foi 
acompanhada por uma nova habilidade emocional de se 
relacionar com objetos. Como ele descreveu, "a criança só foi 
capaz de prosseguir para um relacionamento emocional completo 
com os objetos depois de torná-los permanentes e substanciais". 
O "ego psicótico" falhou em estabelecer uma distinção entre 
fantasia interna e realidade externa, resultando em um estado de 
espírito "assimbólico" ou autista (Anthony, 1958a). Anthony 
afirmou que as causas da psicose infantil consistiam em 
"determinantes constitucionais, orgânicos, genéticos e 
psicogênicos e possivelmente algum fator ainda desconhecido" 
(Anthony, 1958b). Ele recomendou fortemente contra qualquer 
visão "monocausal" da condição, especialmente aquela que 
colocava ênfase excessiva nos pais "esquizofregênicos" ou 
"psicotogênicos". 
O problema básico que Anthony, Klein, Isaacs e Creak 
procuraram resolver desde o final dos anos 1920 até o final dos 
anos 1950 era o desenvolvimento da relação do bebê com a 
realidade. 
Todos esses teóricos baseados no Reino Unido presumiram que 
o pensamento alucinatório precedeu o estabelecimento de 
relações com outros objetos ou indivíduos. Além disso, todos eles 
estabeleceram suas teorias através do estudo de crianças 
individuais que eles próprios observaram e / ou trataram. Sua 
compreensão do autismo foi estruturada por um acordo disciplinar 
mais amplo de que a psicologia do desenvolvimento era uma 
ciência que rastreou o surgimento da subjetividade. Se eles 
 
45 
 
empregassem metodologias estatísticas básicas, seriam usadas 
como um complemento a essas teorias. O restante deste artigo 
explica como os estudos epidemiológicos foram empregados a 
partir do final da década de 1950 para derrubar radicalmente esse 
modelo de desenvolvimento infantil e o conceito de autismo que o 
sustentava. 
 
A Lei de Saúde Mental de 1959, 
epidemiologia e radicalismo 
transformação do conceito de 
autismo 
 
De acordo com Bonnie Evans (2013) do King’s College London 
(Reino Unido), a década de 1960 testemunhou grandes 
transformações no atendimento aos doentes mentais na Grã-
Bretanha. Em 1959, o governo britânico aprovou a Lei de Saúde 
Mental que desacreditou a maioria dos poderes legais que antes 
obrigavam os deficientes mentais e insanos a receber tratamento 
institucional. Ele aboliu o Conselho de Controle que anteriormente 
administrava esse processo, tornando as autoridades locais 
responsáveis pelo atendimento institucional e comunitário. A Lei 
de 1959 levou a grandes problemas administrativos resultantes do 
fechamento em grande escala de instituições para indivíduos com 
anomalias mentais. Isso levou ao desenvolvimento de novos 
métodos sociocientíficos, pois se tornou fundamental demarcar os 
problemas mentais e as necessidades de crianças e adultos que 
 
46 
 
antes eram confinados, mas agora estavam sendo integrados à 
população majoritária. Um dos campos mais significativos a se 
desenvolver após o fechamento de instituições foi a técnica de 
epidemiologia psiquiátrica. Em 1958, a ‘Unidade de Pesquisa em 
Psiquiatria Social’ foi inaugurada no Hospital Maudsley em 
antecipação à Lei de Saúde Mental. A unidade foi financiada pelo 
Conselho de Pesquisa Médica (MRC) e se tornou um centro líder 
mundial em pesquisas epidemiológicas e estatísticas em saúde 
mental, em particular relacionadas à esquizofrenia e autismo. A 
experimentação psicológica que emergia da unidade neste 
período foi muito influenciada pelo trabalho de Hans Eysenck, que 
então chefiava o departamento de psicologia. Eysenck e colegas 
influentes como Jack Tizard, Beate Hermelin e Neil O’Connor 
conduziram análises estatísticas que se concentraram 
inteiramente em medidas comportamentais. 
Eysenck afirmou que a pesquisa clínica deve ser experimental e 
"científica", o que significa que deve ser baseada na observação 
direta e não em qualquer tipo de autoanálise (Derksen, 2001). Ele 
argumentou que os conceitos analíticos freudianos relativos ao 
inconsciente eram impressões especulativas e desafiou a 
eficiência da psicoterapia psicanalítica como uma técnica curativa 
(Eysenck, 1990). 
Muitos pesquisadores perceberam que o autismo e a 
esquizofrenia infantil eram conceitos importantes dentro da teoria 
do desenvolvimento psicológico das crianças, que ofereciam 
muito potencial para o desenvolvimento de metodologias 
estatísticas. Em 1961, Mildred Creak criou um grupo de trabalho 
 
47 
 
para identificar as principais características da esquizofrenia 
infantil e estabelecer uma base sólida para pesquisas em 
psicopatologia infantil (Creak, 1964; Lotter, 1966). O grupo de 
trabalho do Creak consistia em 13 membros, incluindo Kenneth 
Cameron; Sylvia Ini, do Great Ormond Street Hospital; Dr. Guy 
Mitchell da Clínica Tavistock; Dr. Ronald MacKeith do Guy’s 
Hospital; e Frank Orford, um psicólogo clínico que já havia 
trabalhado no Fountain Hospital para crianças com deficiência 
mental. O comitê argumentou que havia 9 características-chave 
da "síndrome esquizofrênica na infância", que eram: 
1. Comprometimento grosseiro e contínuo das relações 
emocionais com as pessoas. 
2. aparente inconsciência de sua própria identidade pessoal. 
3. preocupação patológica com objetos particulares. 
4. resistência sustentada às mudanças no ambiente. 
5. experiência perceptiva anormal. 
6. ansiedade aguda, excessiva e aparentemente ilógica. 
7. a fala pode ter sido perdida ou nunca adquirida. 
8. distorção nos padrões de motilidade. 
9. um histórico de retardo sério no qual ilhotasde função ou 
habilidade intelectual normal, quase normal ou excepcional 
(Creak, 1961). 
 
Creak argumentou que, se todos os psiquiatras pudessem 
concordar com as mesmas "características diagnósticas", isso 
"abriria o caminho para um entendimento comum e 
reconhecimento da composição fenomenológica da síndrome" 
 
48 
 
para permitir estudos de base populacional. Em 1963, Hermelin e 
O’Connor da Unidade MRC usaram os 9 pontos de Creak para 
reunir um grupo de sujeitos de pesquisa nos quais eles pudessem 
testar a "dominância sensorial". O fechamento de instituições para 
deficientes mentais gerou um grande suprimento de crianças 
"subnormais" que foram usadas como controles nessas situações 
experimentais. Enquanto os testes de inteligência já estavam 
estabelecidos como instrumentos psicométricos, as medidas de 
psicopatologia em crianças eram novas. Hermelin e O’Connor 
trabalharam com a equipe do Botley’s Park Hospital para 
deficientes mentais em Chertsey e no St Lawrence’s Hospital na 
Cornualha para selecionar crianças "autistas" com base na lista 
de Creak e crianças "subnormais" identificadas por meio de testes 
de inteligência. Ambos os grupos foram pareados para níveis de 
QI (média de 40), de modo que a única diferença entre eles era 
que o grupo considerado "autista" estava "gravemente 
perturbado". 
As crianças foram recompensadas se derem respostas corretas à 
estimulação tátil, auditiva e visual. Descobriu-se que as crianças 
"autistas" tinham mais probabilidade de responder à estimulação 
tátil e visual do que à estimulação auditiva, embora pudessem ser 
ensinadas a responder ao som se fossem recompensadas 
(Hermelin e O’Connor, 1963). Hermelin e O ’Connor tentaram 
desenvolver as teorias de Anthony sobre a dominância sensorial 
em crianças autistas, mas o fizeram usando testes 
comportamentais e métodos estatísticos como modelo teórico, em 
vez de psicologia interna. Eles sugeriram que o processo de 
 
49 
 
desenvolvimento em todas as crianças era impulsionado por uma 
"estrutura hierárquica dos sistemas sensoriais". No início, um 
bebê respondeu a "sensações interoceptivas e viscerais" e estas 
foram mais tarde substituídas por um domínio de sensações táteis 
e cinestésicas. Finalmente, os sistemas sensoriais auditivo e 
visual tornaram-se dominantes. Esses desenvolvimentos foram 
acompanhados pela "integração de diferentes informações 
sensoriais", a fim de que "estímulos para um sentido possam ser 
prontamente reconhecidos e interpretados em outro". 
Argumentou-se que crianças "psicóticas" ou "autistas" achavam 
mais difícil inibir respostas anteriores e mais primitivas do que os 
controles. Eles desenvolveram uma preferência espontânea por 
estímulos táteis e visuais e acharam difícil renunciar a essa 
preferência quando apresentados com estimulação auditiva. Isso 
os distinguia de seus controles subnormais que não tinham 
nenhuma preferência, embora ainda achassem difícil de aprender 
(Hermelin e O’Connor, 1967). Esses testes pareceram fornecer 
uma prova psicológica de que as crianças "autistas" 
permaneceram presas nos primeiros estágios de desenvolvimento 
de uma forma única e não relacionada à inteligência. 
Em 1965, Sir Michael Rutter foi nomeado Professor Catedrático 
de Psiquiatria Infantil do Instituto de Psiquiatria, assumindo o 
cargo deixado vago por Anthony em 1958 (Instituto de Psiquiatria, 
em 1965). Rutter formou-se em medicina em Birmingham e se 
especializou em psiquiatria no Maudsley com Aubrey Lewis e 
Eysenck. Em 1961, ele estudou com o psicólogo comparativo 
Herb Birch e o epidemiologista psiquiátrico Ben Pasamanick. 
 
50 
 
Junto com Pasamanick, Rutter estava interessado em usar 
métodos epidemiológicos para determinar a causa ao invés de 
simplesmente medir as taxas de prevalência (Rutter, 2001). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em 1965, ele publicou um manifesto defendendo a classificação 
de todos os transtornos psiquiátricos infantis, afirmando que "até 
que um transtorno possa ser identificado e caracterizado, ele não 
pode ser estudado de forma adequada". Posteriormente, ele 
trabalhou em estreita colaboração com a Organização Mundial da 
Saúde no desenvolvimento de um sistema multiaxial de 
diagnósticos psiquiátricos (Shaffer, 2001). Em linha com esses 
esforços, Rutter iniciou um estudo sobre o autismo infantil em 
uma coorte de crianças em Aberdeen e incentivou mais estudos 
populacionais dessa condição, a fim de auxiliar o campo geral da 
psiquiatria infantil. Ao mesmo tempo, Rutter e Tizard embarcaram 
em um grande estudo das taxas completas de transtorno 
psiquiátrico em todas as crianças residentes na Ilha de Wight 
(Rutter et al., 1970). De acordo com Rutter, estudos 
epidemiológicos poderiam reunir sujeitos de pesquisa 
 
 
51 
 
semelhantes que poderiam ajudar a determinar as causas do 
autismo e de outros transtornos, erradicando assim a necessidade 
de psicanálise e psicologia infantil especulativas. 
Foram O’Connor, J. K. Wing e Victor Lotter da Unidade MRC que 
projetaram a primeira pesquisa em massa de uma coorte de 
população inteira a fim de gerar um valor percentual para a taxa 
de autismo na população geral da Grã-Bretanha. Lotter, o autor 
principal, baseou-se nos critérios do grupo de trabalho Creak para 
seu estudo epidemiológico, mas argumentou que os 9 pontos 
precisavam ser adaptados porque não se limitavam às 
observações do comportamento das crianças, mas incluíam 
opiniões subjetivas sobre os sentimentos das crianças. Creak 
afirmou que era "impossível" usar critérios puramente 
comportamentais "se quiséssemos transmitir o que todos 
sentimos ser o cerne da questão - ou seja, a presença de uma 
capacidade prejudicada para as relações humanas" (Creak, 
1961). No entanto, Lotter, seguindo Rutter, considerou que 
critérios claros puramente comportamentais eram fundamentais 
para o desenvolvimento daquela pesquisa epidemiológica sobre o 
autismo, apesar do fato do estado psicológico que estava sendo 
descrito dizer respeito à capacidade de se relacionar com outras 
pessoas. Lotter, portanto, descartou a categoria "aparente 
desconhecimento de sua própria identidade pessoal" e a incluiu 
em outras medidas comportamentais. Ele também substituiu a 
presença de "ilhotas de habilidade" por resultados de testes 
objetivos. Ele então desenvolveu uma lista de afirmações que 
foram usadas para identificar crianças com condições autistas. 
 
52 
 
Este formulário foi emitido para professores de 76.388 crianças 
com idades entre 8 e 10 anos que frequentam escolas na área de 
Middlesex. 
As crianças identificadas pelos professores foram avaliadas 
posteriormente para confirmar seu autismo. Lotter afirmou que 
havia desenvolvido "descrições comportamentais adequadas" 
para a condição de autismo. Essas descrições encapsulariam o 
sintoma de autismo, que ele entendia como um parâmetro 
comportamental e não uma entidade patológica. Como ele disse: 
 
... o adjetivo "autista" foi usado neste estudo como um rótulo 
descritivo conveniente. É importante notar que o termo não se 
destina a referir-se apenas à síndrome de "autismo infantil" de 
Kanner, e no que se segue é usado sem qualificação para se 
referir a todas as crianças que atenderam aos critérios 
comportamentais usados para selecionar casos. As referências 
ao "comportamento autista" devem ser interpretadas de forma 
semelhante (Lotter, 1966). 
 
Em outras palavras, o estudo de Lotter foi uma quantificação da 
descrição de "autista" em uma população total. Ele relatou que a 
taxa de prevalência era de 4,5 por 10.000 da população (Lotter, 
1966). A exigência de "critérios comportamentais precisos" que os 
estudos epidemiológicos exigiam encorajou novas perspectivas e 
descrições do autismo. Como esse conceito tinha sido tão central 
para a psicologia geral do desenvolvimento, sua reforma no 
campo da epidemiologia psiquiátrica levounovos pesquisadores a 
reconceituar as questões centrais dessa ciência. No entanto, 
Lotter e colegas reformularam o tópico das habilidades em 
desenvolvimento de uma criança de se relacionar com os outros 
como uma função puramente de seu comportamento. Este 
 
53 
 
modelo difere amplamente daqueles baseados em descrições 
teóricas de relacionamentos imaginários de uma criança com 
outras pessoas, como na obra de Klein, Isaacs e Anthony. Em vez 
de medir o desenvolvimento infantil e suas anomalias por meio de 
modelos teóricos das tentativas sucessivas de uma criança 
individual de se envolver com a realidade por meio de seus 
relacionamentos com pessoas e objetos, esses estudos mediram 
o desenvolvimento infantil e suas anomalias como variáveis 
comportamentais dentro de uma população total que representava 
a norma . Ao mesmo tempo, o estudo da resposta de um 
indivíduo aos estímulos foi substituído pela análise estatística da 
resposta de uma população aos estímulos. O estudo das relações 
humanas não foi excluído desse modelo porque as relações 
humanas ainda podiam ser observadas como fenômenos. No 
entanto, questões sobre como, por que ou quando os 
relacionamentos se tornaram patológicos, particularmente aquelas 
relativas à capacidade da criança de imaginar, alucinar ou 
fantasiar sobre os outros, estavam ausentes neste novo modelo 
teórico. 
 
O desaparecimento das 
alucinações 
 
De acordo com Bonnie Evans (2013), a integração de crianças 
com deficiência intelectual nas escolas após a Lei de Saúde 
Mental de 1959 levou à contratação de um número cada vez 
 
54 
 
maior de psicólogos educacionais. Em 1967, havia 375 psicólogos 
educacionais em tempo integral empregados pelas autoridades 
locais, mas em 1972, esse número subiu para 638 (B. Harris, 
1995; Wooldridge, 1994). Em 1979, esse número havia subido 
para 935 e em 1983 havia aumentado para mais de 1.000 
(Hansard, 1983). Esse novo grupo profissional passou a contar 
cada vez mais com medidas psiquiátricas para distúrbios 
psicológicos infantis. Além disso, o início da década de 1970 no 
Reino Unido viu um grande impulso para aumentar o número de 
fonoaudiólogos contratados pelas autoridades de saúde após a 
publicação do Relatório do Comitê de Investigação em Serviços 
de Terapia da Fala (o Relatório Quirk), que relatou que bem mais 
de 300.000 pessoas em o Reino Unido precisava de serviços de 
terapia da fala e 270.000 desses indivíduos eram crianças 
(Lindsay, 1984). 
Novamente, esses foram os tremores do fechamento de 
instituições para deficientes e da necessidade de integrar crianças 
que antes estavam isoladas. A Society for Autistic Children 
começou a criar suas próprias escolas no início dos anos 1960, 
que eram exclusivamente para crianças autistas, e também fez 
campanha junto ao Ministério da Educação para considerar todas 
as crianças autistas como ‘educáveis’. A necessidade de integrar 
todas as crianças em uma mesma estrutura educacional também 
encorajou sua integração em uma estrutura teórica unificada 
sobre o desenvolvimento de seu pensamento. 
Muitos projetos de estudos estatísticos das décadas de 1960 e 
1970 foram elaborados para analisar e avaliar a esquizofrenia 
 
55 
 
infantil e suas causas, todas as quais excluíam a possibilidade de 
pensamentos alucinatórios em bebês. Por exemplo, em 1971, 
Israel Kolvin, da Unidade de Psiquiatria Infantil de Nuffield em 
Newcastle, procurou testar a hipótese de Anthony de que os 
transtornos psicóticos na infância dependem da idade em que o 
processo começa. Para fazer isso, ele separou os psicóticos 
infantis em grupos relacionados à idade de início e, em seguida, 
dividiu a "fenomenologia" da doença de acordo com esses 
diferentes grupos. O que foi significativo no planejamento deste 
exercício foi a implementação de "critérios rigorosos" para garantir 
que as crianças pudessem ser comparadas umas com as outras 
igualmente. Como acontece com outros modelos científicos 
sociais, a qualidade rigorosa dos dados dependia de sua 
capacidade de ser examinados e replicados por vários 
pesquisadores. Kolvin argumentou que os pesquisadores nunca 
deveriam atribuir fantasias a crianças que não tinham palavras 
para descrevê-las. Ele explicou sua abordagem da seguinte 
maneira: 
 
Ambos os grupos de psicóticos foram examinados quanto a 
fenômenos alucinatórios ... Olhar em volta distraidamente ou 
parecer que ouviam vozes era insuficiente. Além disso, em 
algum momento a criança deve ter feito um relato de 
fenômenos alucinatórios (Kolvin, 1971). 
 
Esses critérios eram excepcionalmente rigorosos, na medida em 
que foram concebidos de forma restrita, quando se tratava de 
crianças que não falavam ou tinham habilidades de linguagem 
muito limitadas. No entanto, eles foram considerados essenciais 
para a progressão dos métodos estatísticos em psiquiatria infantil. 
 
56 
 
Não surpreendentemente, Kolvin descobriu que as crianças com 
'psicose de início tardio' eram 'comumente alucinadas', enquanto 
aquelas com psicose de início precoce, nos primeiros 3 anos de 
vida, eram mais propensas a sofrer de 'atraso grave na fala e 
muitas anomalias da fala', como bem como 'movimentos 
estereotipados' e 'relacionamentos ruins' em vez de alucinações 
(Kolvin, 1971). O estudo de Kolvin excluiu a possibilidade de que 
o autismo em bebês e crianças pequenas fosse acompanhado por 
pensamentos alucinatórios de qualquer forma. Sua descrição do 
autismo foi o oposto direto daquela que foi apresentada por 
Bleuler e que foi apoiada por Creak, Klein e Anthony do final dos 
anos 1920 aos 1960. No entanto, é este modelo de "psicose de 
início precoce" que mais tarde se tornou dominante nas 
descrições do conceito de "autismo", o que é irônico porque 
"autismo" foi originalmente usado precisamente para descrever o 
pensamento infantil normal. O trabalho de Kolvin foi 
extremamente influente e todos os pesquisadores que seguiram o 
desenho de seu estudo chegaram a conclusões semelhantes 
(Rapoport et al., 2009). 
Esses pesquisadores têm se concentrado cada vez mais no 
estudo da linguagem e cada vez mais considerado o autismo 
como um "distúrbio da comunicação" em vez de um "distúrbio 
psicótico". Em 1967, Rutter e outros conduziram um estudo de 
acompanhamento de 63 crianças que haviam sido diagnosticadas 
com psicose de início precoce e argumentaram que embora 
algumas das crianças se comportassem de maneira estranha, o 
que deu origem à suspeita de que estavam tendo experiências 
 
57 
 
alucinatórias ... em nenhuma havia evidências convincentes de 
alucinações, e nenhuma criança com fala descreveu sensações 
ou acontecimentos alucinatórios ”(Rutter et al., 1967). Uma 
citação de Rutter em 1972 resume os problemas com o uso do 
termo autismo que se seguiu à introdução de métodos estatísticos 
e epidemiológicos: "autismo significa um retraimento na fantasia, 
mas não é isso que acontece na síndrome do autismo" (Rutter, 
1972). 
Claro, o que constitui "evidência convincente" da existência de 
alucinações em crianças difere amplamente entre os praticantes. 
Enquanto psicólogos influenciados psicanaliticamente inferiram 
alucinação das ações das crianças, Rutter e os pesquisadores de 
Maudsley pensaram que esse tipo de inferência deveria ser 
eliminado de todas as investigações. Não porque fossem avessos 
à ideia de alucinações em bebês e crianças, mas porque tais 
alegações teriam prejudicado a precisão dos estudos 
epidemiológicos. Em geral, os pesquisadores seguiriam Kolvin e 
Rutter ao afirmar que, a menos que uma criança descrevesse 
pensamentos alucinatórios usando a fala, não se poderia presumir 
que ela ou ele experimentasse alucinações. Embora essa 
afirmação não eliminasse o conceito de alucinação na psiquiatria 
adulta, porque as descrições linguísticas da alucinação ainda 
contavam como uma forma de comportamento, ela transformou 
completamentea psiquiatria infantil. 
 
 
58 
 
Autismo como distúrbio de 
comunicação 
 
À medida que o autismo se distanciava cada vez mais das 
alucinações e da fantasia, os pesquisadores psiquiátricos 
procuraram novas maneiras de identificar o problema em casos 
clínicos individuais. Talvez sem surpresa, esses pesquisadores se 
voltaram para o estudo da linguagem para identificar o "déficit 
cognitivo" central do autismo. Isso refletiu o crescimento do 
movimento "cognitivo" em psicologia (Nadesan, 2005). Em 1968, 
Rutter argumentou que os 9 pontos de Creak para o autismo 
poderiam ser substituídos por 3 características principais, a saber 
'anormalidades profundas do desenvolvimento da linguagem, uma 
variedade de fenômenos ritualísticos e compulsivos ... [e] uma 
variedade particular de perturbação nas relações interpessoais' . 
Rutter e estudiosos conduziram estudos sobre a linguagem usada 
por crianças autistas no final dos anos 1960 e 1970, que 
desenvolveram a visão de Hermelin e O’Connor de que os déficits 
sensoriais na infância levaram ao desenvolvimento de 
características incomuns de linguagem em crianças autistas 
(Martin, 1971). 
 
Anormalidades da linguagem 
 
Essas anormalidades ou diferenças de linguagem passaram a ser 
uma característica definidora do novo conceito de "autismo" em 
 
59 
 
sua nova metamorfose psicológica, que se seguiu à sua radical 
redução a medidas comportamentais na década de 1960. O 
objetivo principal desses estudos foi comparar a linguagem de 
crianças autistas com a de crianças que tinham outros problemas, 
como afasia executiva ou receptiva e cegueira parcial ou surdez. 
Embora esses pesquisadores não soubessem a forma exata do 
distúrbio sensorial central que causava o autismo, todos estavam 
unidos na visão de que a condição não era causada por reações 
emocionais ou alucinações, mas sim caracterizada por um déficit 
em certos aspectos do pensamento linguístico. Essas mudanças 
foram contemporâneas de um interesse mais amplo nos 
problemas de "comunicação" das crianças, em oposição a seus 
problemas emocionais (por exemplo, Franklin, 1965). 
Em 1975, Rutter et al., Publicaram a primeira parte de um 
importante ‘Estudo Comparativo de Autismo Infantil e Desordem 
de Linguagem Receptiva de Desenvolvimento Específico’ no 
British Journal of Psychiatry. Os estudos de Rutter, Bartak e Cox 
descobriram que, embora houvesse semelhanças entre esses 
grupos, as comparações mostraram que as crianças autistas 
demonstraram formas "desviantes" particulares de linguagem, 
como ecolalia, reversão de pronomes, expressões estereotipadas 
e linguagem metafórica. No caso de crianças que só tinham 
distúrbios de linguagem, essa fala "desviante" não era prevalente, 
mas esse grupo tinha muito mais probabilidade de ter defeitos de 
articulação. O "desvio" da linguagem e o uso prejudicado da 
linguagem falada e dos gestos observados em crianças autistas 
eram diferentes dos problemas observados em outras crianças 
 
60 
 
com distúrbios de linguagem (Rutter et al., 1975; Bartak et al., 
1977). 
Em 1970, o Jornal de Autismo e Esquizofrenia da Infância foi 
estabelecido sob a direção de Leo Kanner, com Rutter como 
editor associado representando a Grã-Bretanha. O jornal afirmava 
não ter viés teórico, mas simplesmente a aspiração de "promover 
observações e fatos comprovados cientificamente de todas as 
fontes que possam ampliar nosso horizonte" (Kanner, 1971). Os 
editores afirmam que a revista se dedica a todas as psicoses e 
graves transtornos de comportamento na infância. Em 1979, o 
Jornal do Autismo e Esquizofrenia da Infância foi rebatizado de 
Jornal do Autismo e Transtornos do Desenvolvimento. 
Escrevendo no editorial daquele ano, Rutter, que havia sido 
promovido a editor europeu, junto com Eric Schopler, que 
substituiu Kanner como editor-chefe em 1974, explicou a 
transição da seguinte forma: 
 
O título e o escopo do jornal foram ampliados para incluir uma 
gama mais ampla de transtornos do desenvolvimento 
relacionados ao autismo. Esse alargamento cuidadosamente 
circunscrito também visa esclarecer os fatores de 
desenvolvimento que moldam o quadro dos sintomas autistas 
(Schopler et al., 1979). 
 
 
Estava claro que Rutter e Schopler tinham ambições de construir 
um novo estilo de pensamento sobre os desvios no 
desenvolvimento infantil e que eles viam as categorias de 
"autismo" como centrais para esta revolução conceitual. Ao 
mesmo tempo, eles excluíram rigorosamente os conceitos de 
 
 
61 
 
"psicose" e "esquizofrenia" da psicologia infantil. Este foi um 
momento importante para a psicologia infantil porque o autismo 
era um conceito central. Uma vez que esse conceito foi 
apropriado e definido como um problema de desenvolvimento 
associado à linguagem, o conceito de alucinação, que tinha sido 
um conceito-chave em toda psicopatologia descritiva desde o 
século 19, foi eliminado da psicopatologia do desenvolvimento. 
À medida que o autismo foi associado a transtornos de 
desenvolvimento, a alucinação foi cada vez mais erradicada do 
conceito. Essas mudanças foram refletidas na publicação da 3ª 
edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais (1980). A categoria de "esquizofrenia infantil" foi 
completamente eliminada do DSM-III (Volkmar, 2005). Em vez 
disso, o DSM-III introduziu a categoria de "transtornos invasivos 
do desenvolvimento", um diagnóstico que incluía quatro 
subcategorias, a saber, "autismo infantil", "transtorno invasivo do 
desenvolvimento de início na infância", "autismo residual" e uma 
forma atípica (Harris, 1998). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
62 
 
 
Ao mesmo tempo, o conceito mais antigo de autismo, que 
anteriormente tinha desempenhado um papel importante nos 
critérios de diagnóstico para esquizofrenia adulta no DSM-II, foi 
completamente removido dos critérios diagnósticos para 
esquizofrenia em adultos e Robert Spitzer argumentou que isso 
se devia a sua falta de confiabilidade como um sintoma 
observável (Klerman et al., 1984). Em outras palavras, o autismo 
foi removido como um conceito-chave no diagnóstico da 
esquizofrenia adulta e implementado como uma categoria dentro 
dos transtornos invasivos do desenvolvimento da infância. O 
DSM-III incluiu um modelo multiaxial de diagnóstico que o 
presidente da força-tarefa do DSM, Robert Spitzer, afirmou ser 
para evitar a impressão de que era uma bíblia diagnóstica e 
promover seu uso como um manual estatístico (Spitzer, 2001). 
Rutter foi fundamental para a implementação do sistema 
multiaxial. 
Em 1975, Rutter, David Shaffer e Michael Shepherd publicaram 
um relatório para a Organização Mundial da Saúde que apoiava o 
desenvolvimento de um sistema multiaxial de diagnóstico. O 
primeiro modelo continha 3 eixos, sendo o primeiro a ‘síndrome 
psiquiátrica clínica’, o segundo o ‘nível intelectual’ e o terceiro 
listando ‘fatores etiológicos associados’. Este modelo multiaxial foi 
um desenvolvimento do trabalho de Rutter da década de 1960. 
Sua associação com a Organização Mundial da Saúde ampliou 
seu perfil e seu modelo multiaxial foi se tornando conhecido no 
campo da psiquiatria. Depois de 1980, o modelo DSM de 
 
63 
 
diagnóstico de transtorno psiquiátrico infantil tornou-se bem 
estabelecido no Reino Unido. 
 
Autismo como um distúrbio 
neurocognitivo / de 
desenvolvimento 
 
Em 1979, Lorna Wing e Judith Gould da Unidade MRC 
conduziram um estudo de prevalência do que eles denominaram 
"Prejuízo Grave de Interação Social e Anormalidades Associadas" 
em crianças. Eles usaram o Camberwell Register, um sofisticado 
mecanismo de coleta de dados que havia sido estabelecido em 
1964 pela Social Psychiatry Research Unit, para identificar 
sujeitos (Wing e Hailey, 1972). Na época, Wing estava se 
estabelecendo como uma figura importante na pesquisa do 
autismo e seu trabalho mais tarde teve grande influêncianacional 
e internacional. Wing e Gould argumentaram que o "padrão de 
deficiências e problemas de comportamento" que eles descreviam 
havia sido "diversamente (e infelizmente) denominado psicose 
infantil, autismo infantil ou esquizofrenia infantil" e argumentaram 
que todas essas condições precisavam ser reconceitualizadas 
como problemas de comprometimento social (Wing e Gould, 
1979). 
Os critérios de seleção foram extraídos das 3 principais 
características do autismo de Rutter e foram definidos como: 
'ausência ou comprometimento da interação social', 'ausência ou 
 
64 
 
comprometimento do desenvolvimento da linguagem verbal ou 
não verbal' ou 'atividades repetitivas e estereotipadas de qualquer 
tipo'. Um total de 132 crianças foi selecionado (Wing, Yeates et 
al., 1976; Wing e Gould, 1979). Avaliações adicionais foram 
fornecidas usando o cronograma de entrevista estruturada de 
Children's Handicaps, Behavior and Skills (HBS), que foi um 
sistema de medição desenvolvido por Wing e Gould para 
amalgamar crianças 'psicóticas' e 'retardadas', enquanto ao 
mesmo tempo permite que as distinções sejam feitas de acordo 
com suas habilidades sociais. Os autores argumentaram que este 
cronograma foi útil para distinguir entre autismo e "distúrbios de 
fala expressivos e receptivos ao desenvolvimento" (Wing e Gould, 
1978). 
Reintegrando o estudo do 'retardo' com o estudo do autismo e, 
em seguida, desenhando novas divisões conceituais entre esses 
dois problemas, Wing e Gould tentaram criar uma nova estrutura 
abrangente para o estudo dos problemas de pensamento em 
crianças. Um outro gráfico subdividiu o grupo de 'deficientes 
sociais' de acordo com a gravidade de sua deficiência. Crianças 
'indiferentes' nunca interagiam com outras, crianças 'passivas' 
permitiam que as crianças interagissem com elas, mas mostraram 
pouca resposta e crianças 'estranhas' demonstraram formas 
bizarras de interações sociais, incluindo 'preocupações repetitivas 
e idiossincráticas' nas quais não tinham interesse nos sentimentos 
da outra pessoa envolvida. Essas distinções foram então 
correlacionadas com condições orgânicas associadas, incluindo 
 
65 
 
Síndrome de Down, surdez e deficiências visuais (Wing e Gould, 
1979). 
Wing e Gould argumentaram que seu "sistema baseado na 
gravidade da deficiência social deu associações mais 
estatisticamente significativas com variáveis comportamentais, 
psicológicas e médicas" do que os sistemas anteriores de 
categorização e questionaram a utilidade da definição de Kanner 
de autismo infantil (Wing e Gould , 1979). Eles levantaram a 
hipótese de que "certas áreas ou funções do cérebro são 
responsáveis pelo desenvolvimento da interação social e 
atividades imaginativas simbólicas" e que essas áreas foram 
afetadas nas crianças que eles descreveram. Algumas patologias 
orgânicas, como a Síndrome de Down, deixaram essas funções 
intactas, mas destruíram outras. Eles argumentaram que as 
medidas de "deficiência social" eram a melhor maneira de 
conceituar os problemas mentais das crianças, porque estavam 
mais intimamente relacionados à etiologia grosseira conhecida. 
Wing e Gould recomendaram que estudos futuros sobre os 
problemas mentais das crianças baseassem suas divisões na 
deficiência social medida pela HBS. ‘Prejuízos de interação social 
recíproca’ foram relatados como ocorrendo em 21,2 de cada 
10.000 crianças na área estudada, das quais 4,9 apresentavam 
história de autismo típico. 
A tentativa de Wing e Gould de colocar crianças "autistas" em um 
continuum com outras crianças mentalmente anormais foi 
semelhante às tentativas de Anthony de colocar crianças 
"gravemente psicóticas" em um continuum com outras crianças 
 
66 
 
parcialmente "psicóticas" e eles sinalizaram essa conexão (L. 
Wing e Gould, 1979). No entanto, enquanto os 3 critérios de 
Anthony foram baseados nos estilos psicanalítico e piagetiano de 
raciocínio, Wing e Gould descreveram o problema puramente em 
termos comportamentais, criando sua própria tríade de sintomas 
observáveis. Ao fazer isso, ajudaram a transformar o problema da 
psicose infantil e do desenvolvimento do ego em um problema de 
comportamento e administração social. Como o trabalho de Rutter 
já distanciou o conceito de autismo da alucinação e da 
psicopatologia adulta severa, Wing então tomou a liberdade de 
redefinir todas as formas de psicopatologia na infância como 
formas de "deficiência social". 
Em 1981, Wing publicou um artigo sobre 'Síndrome de Asperger: 
uma conta clínica', no qual ela estendeu seu argumento de que o 
autismo deveria ser incluído dentro de um 'grupo mais amplo de 
condições que têm, em comum, comprometimento do 
desenvolvimento da interação social, comunicação e imaginação 
”(Wing, 1981; Nadesan, 2005). Ela cunhou o termo "síndrome de 
Asperger" após reivindicar um artigo de 1944 sobre autismo de 
Hans Asperger. Embora a Síndrome de Asperger não tenha sido 
incluída no DSM até sua 4ª edição em 1994, o trabalho de Wing 
em expandir a categoria de autismo e ligá-lo a outros transtornos 
do desenvolvimento foi altamente influente e encorajou um 
número crescente de estudos que colocaram o autismo como o 
problema central através do qual compreender outras formas de 
desenvolvimento patológico ou anormal do pensamento em bebês 
e crianças. Esses estudos cada vez mais consideram o autismo 
 
67 
 
como um problema de interação "social", ao invés de um 
problema de relacionamento emocional com outras pessoas. O 
"autismo" empregado nesses estudos não era o "autismo" da 
esquizofrenia, mas também não era o "distúrbio autístico do 
contato afetivo" de Kanner. Em vez disso, era o autismo de 
"déficits cognitivos". O significado do autismo foi transformado e 
um número crescente de crianças agora pode ser definido por 
esses novos critérios classificatórios. 
 
Psicologia cognitiva: falta de 
uma "teoria da mente" e busca 
para "quase autismo" 
 
“Quase-autismo” foi definido como "um padrão que mostrou 
características autistas (particularmente, interesses circunscritos 
intensos), mas que diferia do autismo 'comum' em maior interesse 
social e flexibilidade." Apesar dessas forças sociais relativas em 
comparação com TEA típico, esses adotados mostraram 
dificuldades de consciência social e reciprocidade, empatia, 
limites interpessoais e comunicação 
Quando Simon Baron-Cohen, Alan Leslie e Uta Frith 
argumentaram que as crianças autistas careciam de uma "teoria 
da mente" em 1985, eles se basearam na concepção de autismo 
pós-1960, descrevendo-o como "uma desordem profunda na 
compreensão e no enfrentamento do social ambiente ', em que o 
principal sintoma é' prejuízo na comunicação verbal e não verbal 
 
68 
 
'(Baron-Cohen et al., 1985). Frith havia conduzido seu doutorado 
no Instituto de Psiquiatria enquanto Rutter e Wing estavam lá e 
ela foi muito influenciada por sua abordagem. Ela havia estudado 
para seu doutorado com O’Connor e Hermelin em detecção de 
padrões em crianças autistas (Bishop, 2006). 
Frith argumentou que as crianças autistas exibiam um "déficit de 
processamento de entrada", que ela mais tarde descreveu como 
"coerência central fraca" (Frith, 1970, 2003). Frith, Cohen e Leslie 
pegaram o termo "teoria da mente" do trabalho de D. Premack e 
G. Woodruff, que o empregou para descrever o estudo dos 
chimpanzés. Eles a usaram para descrever a capacidade de 
atribuir estados mentais autônomos ao self e aos outros, a fim de 
prever e explicar as ações que se seguem. Leslie estava 
conduzindo um trabalho sobre as habilidades de crianças normais 
de 2 anos para entender as brincadeiras de faz de conta e 
argumentou que as crianças autistas apresentavam déficits em 
sua capacidade de imaginação. Baron-Cohen, Leslie e Frith, 
então, propuseram a hipótese de que as crianças autistas 
sofreram uma deficiência no mecanismo cognitivo necessáriopara ‘mentalizar’ ou representar estados mentais. Tarefas de 
'falsa crença', nas quais os sujeitos eram testados para ver se 
podiam prever os pensamentos dos outros, foram empregadas 
para testar esta teoria. Em muitos ensaios, esses testes foram 
usados para comparar crianças autistas com crianças controle 
que tinham baixa capacidade de linguagem ou baixos níveis de QI 
(Leslie e Frith, 1988; Perner et al., 1989). Esses projetos de 
estudo eram muito semelhantes aos usados por Hermelin e 
 
69 
 
O’Connor, que usaram crianças "retardadas" ou "mentalmente 
deficientes" como controles. A descrição do autismo como um 
déficit de "teoria da mente" não exclui sujeitos que podem ter bom 
vocabulário, sintaxe, fonologia e linguagem mecânica. Seu único 
fracasso está relacionado à capacidade de pensar nos estados 
mentais dos outros. 
Baron-Cohen, Frith e Leslie se basearam nos testes de 
"egocentrismo" de Piaget em sua proposição de que as crianças 
autistas careciam de uma "teoria da mente"; no entanto, eles não 
entraram em detalhes sobre as maneiras pelas quais os bebês 
podem perceber a mente e o corpo de outras pessoas. Eles 
encontraram, portanto, uma maneira de descrever o 
relacionamento de um indivíduo com outras mentes que 
contornou completamente os processos de pensamento que 
podem ter mediado esse relacionamento. Este modelo foi 
prontamente adotado por muitos pesquisadores britânicos porque 
representava exatamente o que era exigido naquele momento 
histórico - um relato do desenvolvimento do pensamento em 
bebês que dizia respeito à sua capacidade de se relacionar com 
os outros, mas que não especulava sobre o pensamento. 
processos, alucinatórios ou não, que podem ter estruturado essas 
relações. Esse modelo foi imposto aos pesquisadores por meio da 
difusão de metodologias epidemiológicas e estatísticas. Embora 
novos modelos tenham sido desenvolvidos na Grã-Bretanha para 
conceituar os problemas mentais de crianças autistas como 
déficits de "teoria da mente" e "coerência central fraca", várias 
 
70 
 
questões prementes sobre o possível impacto de relacionamentos 
iniciais sobre essas funções não desapareceram. 
O fato de que os pesquisadores do autismo ainda estão tentando 
abordar algumas das questões centrais levantadas nas 
discussões dos anos 1940 sobre o autismo e as relações 
humanas é mais evidente nos estudos de Rutter et al. Sobre 
órfãos romenos que foram gravemente privados durante os 
primeiros estágios de sua desenvolvimento. Em 1999, Rutter e 
colegas do Instituto de Psiquiatria publicaram um artigo sobre a 
apresentação do que denominaram "quase-autismo" em algumas 
dessas crianças (Rutter et al., 1999). Em 2007, Rutter baseou-se 
em uma amostra maior para argumentar que cerca de 1 em cada 
10 dessas crianças gravemente carentes apresentava "quase-
autismo", que era muito semelhante ao "autismo comum", embora 
fosse diferente na medida em que as crianças apresentavam 
níveis sociais mais incomuns abordagens e espontaneidade 
incomum em sua comunicação. 
Essas crianças também mostraram alguma melhora entre as 
idades de 4 e 6 anos. Todas as crianças com 'quase-autismo' 
apresentaram déficits de 'teoria da mente', uma descoberta que 
confirma a universalidade desse conceito para cobrir dificuldades 
relacionais e sociais gerais (Rutter et al., 2007). Além disso, os 
órfãos romenos adotados após 6 meses provavelmente 
apresentariam déficits de "teoria da mente", mesmo que não 
apresentassem quase-autismo totalmente desenvolvido (Colvert, 
Rutter et al., 2008). Curiosamente, Rutter e colegas 
argumentaram que bebês gravemente privados durante os 
 
71 
 
primeiros 6 meses de vida não desenvolvem "quase autismo", 
enquanto aqueles que foram privados por períodos mais longos 
têm uma tendência a fazê-lo. Esta descoberta revisita 
perfeitamente as polêmicas discussões entre Melanie Klein e 
Anna Freud sobre a natureza do pensamento durante os 
primeiros 6 meses de vida e se os bebês durante esta fase foram 
dominados pelo "narcisismo primário", como Anna Freud 
argumentou. Claro, Rutter não discute essas questões em relação 
à fantasia e à alucinação. 
No entanto, ele aceita que as circunstâncias ambientais podem 
afetar o desenvolvimento de "quase autismo", uma descoberta 
que é menos controversa quando expressa em uma nova 
linguagem. A influência das relações humanas no pensamento 
sempre será um assunto de interesse para psicólogos infantis, 
mas em que essas questões são discutidas atualmente foi 
moldada fundamentalmente pela transformação radical do 
conceito de autismo em meados do século XX. Metodologias 
estatísticas e estudos epidemiológicos inauguraram uma maneira 
inteiramente nova de pensar sobre as relações humanas que se 
tornaram cada vez mais dominantes. Este modelo de descrição 
de anormalidades mentais infantis cresceu junto com os 
aumentos nas taxas de autismo desde a década de 1990. Existem 
alguns pesquisadores que desafiaram essa mudança geral no 
significado do autismo, embora tenham sido raros, e estão se 
tornando cada vez mais. Por exemplo, Peter Hobson, um 
psicanalista e psiquiatra baseado na Tavistock Clinic e na 
University College London, argumentou que os déficits da 'teoria 
 
72 
 
da mente' são fenômenos meramente secundários ao problema 
primário que é a incapacidade do bebê de se envolver 
emocionalmente com os outros (Hobson , 1993, 2002). 
Mais sobre o texto originalÉ necessário fornecer o texto original 
para ver mais informações sobre a tradução 
No entanto, mesmo a descrição complexa de Hobson do 
desenvolvimento psicológico em crianças autistas raramente 
emprega a linguagem da alucinação e fantasia em relação à 
esquizofrenia. Recentemente, nos EUA, Judith Rapoport e 
colegas do National Institutes of Health começaram a 'revisitar' a 
ligação anteriormente traçada entre o autismo e a esquizofrenia 
infantil, argumentando que o autismo e outros transtornos do 
desenvolvimento podem ser um fator de risco para a 
esquizofrenia (Rapoport et al., 2009). Se a esquizofrenia e o 
autismo estiverem ligados no futuro por meio de estudos 
genéticos, pode haver outra mudança na descrição do 
pensamento infantil. Se isso mudaria os métodos descritivos que 
agora se tornaram enraizados em torno do autismo após a 
epidemiologia psiquiátrica, e se isso poderia implicar novamente 
em alucinações em bebês e crianças, ainda está para ser visto. 
Este capítulo enfocou as origens e os fundamentos do autismo 
como conceito na Grã-Bretanha. Até a década de 1950, os 
conceitos de esquizofrenia infantil e autismo foram usados para 
reformular questões centrais no desenvolvimento infantil com 
base na ideia de alucinação infantil. No entanto, na década de 
1960, a expansão do método epidemiológico em psiquiatria 
infantil e psicologia do desenvolvimento levou a novas medidas 
 
73 
 
padronizadas de função sensório-motora e habilidade de 
linguagem. As ‘estereotipias’ comportamentais e linguísticas de 
uma criança podem ser correlacionadas com ‘estereotipias’ 
semelhantes em outras crianças por meio de estudos de coorte. 
Esses estudos deram origem a novos fatos científicos sobre a 
psicologia infantil. Os 24 itens comportamentais de Lotter para o 
autismo foram desenvolvidos para permitir estudos reproduzíveis 
que não seriam afetados pelos julgamentos subjetivos de 
pesquisadores individuais. Foi em resposta a essas mudanças 
que pesquisadores estatísticos como Lotter e Rutter 
transformaram o significado do autismo de "um retraimento em 
fantasia", como na descrição piagetiana do conceito, para uma 
incapacidade de fantasiar que poderia ser calculada através de 
uma soma de medidas cognitivas. A afirmação de que a inferência 
estatística deve ser usada como a base do conhecimento 
científico não é, obviamente, uma invenção dos pesquisadores do 
autismo na década de 1960. Tal afirmação pode serrastreada até 
o trabalho de Karl Pearson, Francis Galton e Cyril Burt, e Ronald 
Fisher e Austin Bradford-Hill desenvolveram o método estatístico 
na pesquisa médica científica. No entanto, os pesquisadores do 
autismo usaram estudos epidemiológicos para responder a 
questões mais amplas sobre o desenvolvimento de todo 
pensamento infantil. O autismo sempre se referiu à patologia mais 
grave no pensamento infantil e as mudanças em seu significado 
refletem mudanças históricas mais amplas no que é considerado 
anormal no pensamento e no comportamento de todos os bebês e 
crianças. Essas anormalidades centrais são agora enquadradas 
 
74 
 
por uma nova linguagem relativa às habilidades e déficits 
cognitivos que não foram considerados relevantes quando o 
autismo estava relacionado puramente à psicopatologia, em vez 
de também às dificuldades de aprendizagem. 
O fato de que os pesquisadores ainda mantêm o autismo como 
um termo-chave se reflete nos estudos de Rutter de crianças 
gravemente carentes, que empregam o conceito de "quase 
autismo" para explicar o possível resultado da privação social em 
todos os bebês. O desenvolvimento mais significativo após a 
introdução de métodos estatísticos e epidemiológicos na 
psiquiatria infantil foi a expansão das categorias comportamentais, 
comunicativas e cognitivas e o virtual desaparecimento dos 
conceitos de alucinação e fantasia infantil. O autismo foi, portanto, 
desassociado do conceito-chave da psicopatologia descritiva - 
alucinação. Talvez estes sejam tempos simplesmente mais 
iluminados, nos quais os pesquisadores não mais especulam 
loucamente sobre os pensamentos dos bebês, mas em vez disso 
coletam evidências estatísticas. Isso não tem nada a ver com a 
questão de saber se os psicólogos culpam os pais pela 
psicopatologia infantil, mas sim se os psicólogos tomam ou não a 
liberdade de entrar na vida mental interna dos bebês. A 
disseminação da epidemiologia e das metodologias estatísticas 
em psiquiatria infantil tem consequências muito mais amplas do 
que o estudo apenas do autismo. Eles entraram em todas as 
descrições e estudos de bebês e crianças que apresentam 
atipicidade mental. ‘Autismo’ é um conceito definidor e mudanças 
 
75 
 
em seu significado alteraram percepções mais amplas de como 
bebês e crianças pensam. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
76 
 
Capítulo 3 
Uma breve introdução: 
teoria do desenvolvimento 
cognitivo de Piaget 
 
 teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget é uma 
teoria abrangente sobre a natureza e o desenvolvimento 
da inteligência humana. Foi desenvolvido pela primeira 
vez por um psicólogo de desenvolvimento suíço, Jean Piaget. 
Piaget acreditava que a infância desempenha um papel vital e 
ativo para o crescimento da inteligência e a criança aprende 
fazendo e explorando ativamente. A teoria do desenvolvimento 
intelectual se concentra na intuição, na crença, na lembrança e na 
percepção. É conhecida principalmente como teoria do estágio de 
desenvolvimento, mas, na verdade, trata da natureza do próprio 
conhecimento e de como o ser humano passa gradualmente a 
adquiri-lo, construí-lo e usá-lo. Crianças autistas são 
completamente capazes de aprender com seus colegas. Com 
crianças autistas de baixo funcionamento, observar o que as 
outras crianças estão fazendo é como elas obtêm novas 
informações e conhecimentos. Por exemplo, se Jake, uma criança 
com autismo, observou Annie, uma criança comum, construir uma 
torre com blocos e depois derrubá-la, ele copiará suas ações se a 
atividade que ela está fazendo o atrai. 
A 
 
77 
 
O segundo estágio de Piaget, o estágio pré-operacional, começa 
quando a criança começa a aprender a falar aos dois anos e dura 
até os sete anos. Durante o estágio pré-operacional de 
desenvolvimento cognitivo, Piaget observou que as crianças ainda 
não entendem a lógica concreta e não podem manipular 
mentalmente as informações. O aumento das crianças em brincar 
e fingir ocorre nesta fase. No entanto, a criança ainda tem 
problemas para ver as coisas de diferentes pontos de vista. As 
brincadeiras infantis são categorizadas principalmente por 
brincadeiras simbólicas e manipulação de símbolos. Essa 
brincadeira é demonstrada pela ideia de as damas serem lanches, 
os pedaços de papel serem pratos e uma caixa ser uma mesa. 
Suas observações de símbolos exemplificam a ideia de jogo com 
a ausência dos objetos reais envolvidos. Uma criança autista será 
capaz de atingir este estágio em que aprenderá a falar, mas não 
entende a lógica concreta e não pode manipular a informação 
mentalmente. Eles podem brincar, mas não o farão da mesma 
forma que uma criança normal. Uma criança autista não brinca 
com brinquedos de forma adequada (como eles devem ser 
usados) e não pode se envolver em brincadeiras de mentira sem 
ser ensinada a fazê-lo. Observando sequências de brincadeiras, 
Piaget foi capaz de demonstrar que, no final do segundo ano , 
ocorre um tipo qualitativamente novo de funcionamento 
psicológico, conhecido como Estágio Pré-operacional. 
A criança é capaz de formar conceitos estáveis, bem como 
crenças mágicas. A criança, entretanto, ainda não é capaz de 
realizar operações, que são tarefas que a criança pode fazer 
 
78 
 
mentalmente, ao invés de fisicamente. Pensar nesta fase ainda é 
egocêntrico, o que significa que a criança tem dificuldade em ver 
o ponto de vista dos outros. O estágio pré-operacional é dividido 
em dois subestágios: o subestágio de função simbólica e o 
subestágio de pensamento intuitivo. O subestágio de função 
simbólica é quando as crianças são capazes de compreender, 
representar, lembrar e imaginar objetos em sua mente sem ter o 
objeto na frente delas. Crianças autistas podem chegar a esse 
estágio e são incentivadas a exercitá-lo constantemente. Um dos 
objetivos mais importantes no ensino de crianças com autismo é 
fazê-las mandar (exigir) coisas que não estão em sua linha de 
visão. Isso é exercitar sua retenção, memória e conhecimento de 
seu ambiente. O subestágio de pensamento intuitivo é quando as 
crianças tendem a propor as perguntas "por quê?" e "como é?" É 
nesta fase que a criança deseja o conhecimento de tudo saber. 
Este estágio também pode ser alcançado por crianças autistas, 
mas não sem treinamento. Para que tenham curiosidade de 
perguntar por quê, eles precisam estar motivados para fazê-lo. 
O estágio operacional concreto é o terceiro estágio da teoria do 
desenvolvimento cognitivo de Piaget. Essa fase, que segue uma 
fase pré-operacional, ocorre entre as idades de 7 e 11 anos, e é 
caracterizada pelo uso adequado da lógica. Durante esta fase, os 
processos de pensamento da criança tornam-se mais maduros e 
"semelhante aos adultos". Eles resolvem problemas de uma 
maneira mais lógica. O pensamento abstrato e hipotético ainda 
não se ocorre, as crianças só podem resolver problemas que se 
aplicam a eventos ou objetos concretos. Nesta fase, as crianças 
 
79 
 
passam por uma transição onde a criança aprende as regras 
como a conservação. Piaget determinou que as crianças são 
capazes de incorporar o raciocínio indutivo. O raciocínio indutivo 
envolve tirar inferências a partir de análise para fazer uma 
generalização. Em contraste, as crianças lutam com o raciocínio 
dedutivo, que envolve o uso de um princípio generalizado para 
tentar prever o resultado de um evento. Uma criança autista será 
capaz de atingir esse estágio até certo ponto se ela for ensinada e 
devidamente reforçada para alcançá-lo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
80 
 
 
Capítulo 4 
Crianças com autismo: uma 
perspectiva piagetiana 
 
e acordo com Antonio Iannaccone, Giulia Savarese e 
Federico Manzi (2018), do Institut de Psychologie et 
Éducation, Université de Neuchâtel, (Suíça), 
Departimento di Medicina e Chirurgia, Universitàdi Salerno (Itália) 
e Unità di Ricerca sulla Teoria della Mente , Dipartimento di 
Psicologia, Università Cattolica del Sacro Cuore, Milão, (Itália), 
este estudo se concentrou na manipulação de objetos por 
crianças com suspeita de transtorno do espectro do autismo. O 
objetivo foi demonstrar como os objetos podem ser vistos como 
agentes ativos de troca interpessoal nas interações face a face. 
Com base em uma ampla perspectiva piagetiana e em trabalhos 
recentes no campo da sociomaterialidade, as principais 
observações incluíram o seguinte: (1) brincadeiras sensório-
motoras e realistas foram observadas em todas as três crianças; 
(2) havia algumas indicações intrigantes de que os objetos 
servem como mediadores concretos no espaço intersubjetivo 
entre adulto e criança; (3) alguns dos padrões de atenção das 
crianças eram visivelmente mediados pelo objeto. De acordo com 
Piaget (1928, 1952, 1954), crianças com autismo alcançam 
habilidades de conceituação de objetos no quinto estágio do 
desenvolvimento sensório-motor. 
D 
 
81 
 
Como vários estudos aconselham cautela ao usar o conceito de 
estágio para descrever o desenvolvimento psicológico típico e 
atípico, parece útil caracterizar esses processos psicológicos em 
termos de atividades específicas que a criança pode planejar e 
implementar ao atuar em seu ambiente físico e social. Por 
exemplo, como um índice preditivo, o número e o tipo de 
diferentes ações produzidas por crianças com autismo durante 
uma atividade recreativa podem nem sempre seguir os mesmos 
estágios do desenvolvimento típico, e isso também pode estar 
correlacionado com a gravidade do funcionamento autista 
(McDuffie et al., 2015). Na verdade, embora as dificuldades de 
imitação possam refletir um possível atraso no desenvolvimento 
psicológico, nem todos os pré-escolares com autismo têm 
problemas com imitação ou jogo simbólico (Vanvuchelen et al., 
2011). Dentro da ampla linha de pesquisa que levanta questões 
sobre a canonicidade do objeto, identificamos alguns elementos 
interessantes relacionados à função sócio-material da mediação 
durante a comunicação. 
Sabe-se que as funções canônicas dos objetos são introduzidas 
por outras pessoas presentes no mundo infantil (Leontiev, 1981; 
Costall, 1997; Rodríguez e Moro, 2008; Barthélémy-Musso et al., 
2013). De fato, Sinha (2009) sugere que as funções canônicas do 
objeto são adquiridas como um fenômeno normativo durante as 
interações sociais, embora a compreensão cognitiva desse status 
seja um pré-requisito. Além disso, Sinha (2015) aponta que “a 
materialidade do significado e significância da materialidade é 
central para abordagens em ciências cognitivas enfatizando a 
 
82 
 
importância dos objetos na incorporação cognitiva estendida.” Em 
particular, há evidências de que as funções canônicas são 
adquiridas durante as interações criança-adulto (Rodríguez e 
Moro, 1998; Sinha e Rodríguez, 2008; Moro, 2011, 2014). Vários 
estudos relataram como, sob certas condições (por exemplo, 
relações interpessoais prejudicadas ou foco de atenção), os 
objetos se tornam mediadores da interação social (Williams et al., 
1999; Dimitrova, 2014; Moro, 2014). Cárdenas et al. (2014) 
destacaram a importância da natureza recíproca dessas 
interações, mostrando como elas emergem de contextos 
comunicativos e triádicos (adulto-criança-objeto). O papel crucial 
do adulto na aquisição do uso do objeto é observável desde a 
primeira infância (Moreno-Núñez et al., 2017). Além disso, durante 
a interação criança-objeto-adulto, a atenção visual da criança é 
mais focada ao interagir com um cuidador experiente do que com 
um adulto desconhecido (Miller et al., 2009; Miller e Gros-Louis, 
2013). Miller e Gros-Louis (2017) também mostraram que a 
atenção da criança é influenciada pelo estilo social do parceiro. 
Tomasello et al. (1993) e Tomasello (2016) destacaram diferentes 
tipos de aprendizagem, como imitativa, instruída e colaborativa. 
Por exemplo, a imitação é importante para a aprendizagem que 
envolve outros e objetos, pois facilita a compreensão das 
expectativas normativas de um determinado grupo cultural 
(Tomasello, 2016). Sinha (2009) sugeriu que as crianças 
apreendem funções canônicas principalmente por meios 
cognitivos, acessando assim a identidade normativa do grupo 
cultural. Bruckner e Yoder (2007) relataram que, mesmo entre 
 
83 
 
crianças com autismo, o uso de objetos pode estar vinculado a 
funções emergentes no estágio pré-operacional, como imitação e 
atenção ao outro. 
A maior parte das pesquisas existentes sugere que a imitação é 
prejudicada em crianças com autismo (Charman e Baron-Cohen, 
1994; Rogers, 1999; Rogers et al., 2003; Williams et al., 2004). De 
fato, Smith e Bryson (2007) observaram que crianças com 
autismo apresentam dificuldade em imitar qualquer uso não 
convencional de objetos, mas são capazes de imitar o uso de 
objetos canônicos. Ao imitar esse uso canônico, as crianças com 
autismo acessam parte da herança cultural do grupo. Com 
relação às atividades lúdicas manipulativas, Kanner (1943) foi um 
dos primeiros a notar que, apesar das diferenças e limitações, as 
crianças com autismo exibem uma série de funções relacionadas 
ao uso de objetos canônicos e não canônicos. 
Trevarthen e Hubley (1978) descreveram a dinâmica que informa 
a triangulação sujeito-sujeito-objeto (a teoria da “sintonia 
intersubjetiva secundária”). As crianças típicas alternam o olhar 
entre o objeto que está sendo visto e a outra pessoa, gerando 
atenção conjunta. No entanto, no desenvolvimento atípico, e 
especialmente para aqueles no espectro autista, uma 
anormalidade tem sido observada no desenvolvimento de 
comportamentos relacionados à atenção conjunta. 
Palacios e Rodríguez (2015) mostraram que em crianças típicas 
de 9 a 15 meses, o uso simbólico de um objeto se desenvolve em 
um contexto triádico. Ungerer e Sigman (1981) avaliaram o uso de 
objetos do cotidiano em um grupo de crianças com autismo com 
 
84 
 
idade variando de 39 a 74 meses em uma sessão de brincadeira 
estruturada e livre e descobriram que a maioria era incapaz de 
usar um objeto de acordo com sua função designada. Williams et 
al. (2005) entrevistou pais de 10 crianças com autismo (MA = 62,2 
meses; DP = 19,9) que relataram problemas relacionados ao uso 
de um objeto, como interesse por algum aspecto incomum do 
objeto, uma forma incomum de usar o objeto , ou dificuldade em 
generalizar o uso do objeto. 
 
Custance et al. (2014) sugeriram que déficits imitativos em 
crianças com autismo podem ser reduzidos por meio de 
atividades relacionadas ao objeto, especialmente se não houver 
limite de tempo para o uso do objeto. Atividades relacionadas a 
objetos promovem atenção conjunta, imitação motora e 
comunicação intencional com um parceiro social (Bruckner e 
Yoder, 2007), e há evidências de que intervenções focadas em 
brincadeiras envolvendo diferentes objetos podem promover 
comportamentos sociais e imitativos (Brown e Murray, 2001; 
Stahmer et al., 2003; Lee et al., 2019). Swettenham et al. (1998) 
observaram três tipos de comportamento atencional: (1) entre um 
objeto e outro objeto, (2) entre um objeto e uma pessoa e (3) 
entre uma pessoa e outra. Crianças com autismo mostraram 
relativamente mais atenção às interações entre um objeto e outro 
objeto. Em nossos estudos recentes, observamos o importante 
papel do objeto na ativação da atenção na criança com autismo, e 
descrevemos o fenômeno como “atenção mediada pelo objeto”, 
 
85 
 
que pode ser um precursor da atenção conjunta (Iannaccone et al. 
, 2016; Manzi e Savarese, 2017; Savarese et al., 2017). 
Em um estudo de Antonio Iannaccone, Giulia Savarese e 
Federico Manzi (2018), sobre o uso de objetos em crianças com 
autismo a partir de uma perspectiva piagetiana, as interações com 
os bloqueios ajudaram a observar comportamentosrelacionados 
aos atributos físicos dos bloqueios e à competência da criança 
para estabelecer relações com eles. Essa manipulação lúdica de 
objetos provavelmente ajuda no planejamento e na ação 
coordenada, estimulando e fortalecendo a capacidade da criança 
de interagir com o mundo exterior. Ao mesmo tempo, essas 
atividades permitem que as crianças imaginem novos cenários de 
construção (Harris, 2000). Na presença de potenciais parceiros ou 
competidores (crianças ou adultos), a gestão das atividades 
lúdicas pela criança e a implementação de estratégias de 
comunicação também podem ser observadas. Por exemplo, o de 
18 meses tocou e manipulou todos os sete blocos, o de 21 meses 
tocou e manipulou seis blocos e o de 24 meses tocou e empilhou 
mecanicamente todos os sete blocos. 
Com base em suas observações independentes, os dois 
pesquisadores concordaram que o uso simbólico de objetos pelas 
três crianças poderia ser atribuído ao primeiro nível de jogo 
simbólico proposto por McCune-Nicolich (1981), com base na 
sequência de Piaget (1972), porque as crianças brincavam 
usando esquemas sensório-motores. Além disso, ao contrário do 
jovem de 24 meses, o de 18 e 20 meses jogou um jogo realista. 
 
86 
 
Fingir e brincar simbólico não foram observados em nenhum dos 
comportamentos das três crianças. 
De acordo com Antonio Iannaccone, Giulia Savarese e Federico 
Manzi (2018), Consistente com uma perspectiva teórica que 
enfatiza o papel das dimensões sociais e materiais no 
desenvolvimento e atividades psicológicas (Iannaccone, 2015), 
nossa análise destaca duas implicações importantes em nossas 
observações da manipulação de objetos . Em primeiro lugar, de 
acordo com a perspectiva piagetiana, as observações destacaram 
a manipulação do objeto e o planejamento da ação, identificando 
a presença de reações circulares secundárias e terciárias (Piaget, 
1972). Em relação ao jogo, invocando o modelo de McCune-
Nicolich (1981), todas as crianças exibiram uma brincadeira 
sensório-motora, na qual o objeto foi manipulado e compreendido 
em termos de suas características materiais. 
A segunda implicação se refere a como, em algumas sequências 
de ação, as características materiais e sociais dos objetos 
contribuíram para moldar as interações do parceiro entre criança 
e adulto. Isso se alinha com vários estudos empíricos dos usos 
sociais de objetos (convencionais, canônicos e simbólicos) (John-
Steiner e Mahn, 1996; Moro, 2011). Em tais situações 
interpessoais, as atividades dos participantes (crianças e adultos) 
são claramente afetadas pelas condições físicas e sociais do 
ambiente. Em particular, durante as interações criança-pais 
(Moro, 2014), as interações triádicas criança-objeto-adulto (Moro, 
2011) parecem criar cenários sociomateriais relevantes que 
enquadram as atividades comunicacionais. Em nossas 
 
87 
 
observações, duas das três crianças exibiram de fato um tipo de 
modo de gerenciamento de objetos que parecia substituir o 
contato visual com o adulto. Em algumas sequências de ações, a 
criança e o adulto conseguiram coordenar o planejamento da 
ação por meio da manipulação de objetos, da atividade 
exploratória infantil e do andaime adulto. Por exemplo, a criança 
observou e tocou os objetos para estimular atividades lúdicas; o 
adulto tocava o objeto com a mão, e essa ação freqüentemente 
se tornava uma fonte de interesse para a criança. A criança 
buscou a atenção do adulto através do contato visual, e a criança 
começou a manipular o objeto. Em atividades desse tipo, parece 
evidente que os objetos podem servir como mediadores nas 
interações comunicativas com o adulto. Além de levar em conta a 
função social dos objetos, as crianças observadas já 
consideravam as características sociomateriais da situação lúdica, 
pois adultos e crianças engajados na gestão de uma espécie de 
“espaço sociomaterial” proposto por Rodríguez et al. (2015). 
Na verdade, desde o primeiro ano de vida, os adultos produzem 
um espaço compartilhado com objetos que servem como 
ferramentas eficazes de comunicação com as crianças. Nossas 
descobertas em relação ao objeto como ferramenta para a 
interação adulto-criança se alinham com Moreno-Núñez et al. 
(2017), confirmando que os primeiros entendimentos 
compartilhados entre adulto e criança se dão em torno do objeto e 
seus usos. Finalmente, ao considerar esses primeiros resultados, 
podemos imaginar desafios relevantes para uma nova psicologia 
do desenvolvimento baseada em pesquisas futuras relacionadas. 
 
88 
 
Nossas observações dessas interações não se concentram na 
atenção conjunta direta, mas identificam um tipo de processo 
psicológico que chamamos de "atividade mediada pelo objeto". Ao 
contrário de Tomasello (1995), consideramos o próprio objeto 
como mediador, não apenas da atenção mútua entre adulto e 
criança, mas da dinâmica troca relacional entre parceiros. 
Em conclusão, o estudo de Antonio Iannaccone, Giulia Savarese 
e Federico Manzi (2018) relatou os resultados preliminares de 
uma análise mais ampla. Ao considerar esses primeiros 
resultados, podemos imaginar desafios relevantes para a 
psicologia do desenvolvimento de crianças com autismo. 
Consistente com os resultados de estudos com crianças com 
desenvolvimento típico, nosso estudo com crianças com autismo 
mostra que as características sócio-materiais dos objetos 
representam fatores que medeiam a construção das interações 
criança-adulto. A partir da primeira intervenção de um adulto, um 
objeto passa a ser mediador e promotor de atividades 
interpessoais e espaciais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
89 
 
 
Epílogo 
 
e 1919 a 1921, Piaget estudou em Paris. Quando ele 
chegou lá, seus interesses intelectuais incluíam biologia, 
psicanálise, lógica e filosofia da ciência, mas ele não 
havia feito pesquisa empírica com crianças. A oportunidade de 
trabalhar no antigo laboratório de Binet deu uma direção ao seu 
pensamento e pesquisa que durou uma vida. A base intelectual 
para os primeiros escritos de Piaget sobre o desenvolvimento 
infantil é descrita. Em particular, o interesse cauteloso de Piaget 
no pensamento "autista" é comparado com sua pesquisa sobre a 
emergência do pensamento lógico. 
Segundo o blog Autismo e Realidade (2020), A visão do autismo 
como um espectro é razoavelmente recente. Foi apenas em 2013 
que o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (a 
referência mundial para médicos, psicólogos e pesquisadores), 
em sua quinta edição, o DSM-5, definiu o conceito do Transtorno 
do Espectro Autista (TEA). Para uma pessoa ser diagnosticada 
com autismo, ela então precisa apresentar dois sintomas: 
deficiências sociais e de comunicação e comportamentos 
repetitivos e estereotipados. Desta forma, distúrbios que antes 
eram vistos como independentes – Autismo Infantil Precoce, 
Autismo Infantil, Autismo de Alto Funcionamento, Autismo Atípico, 
Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação, 
Transtorno Desintegrativo da Infância e Síndrome de Asperger – 
D 
 
90 
 
passaram a ser analisadas como um transtorno único com 
diferentes níveis de gravidade. Esta foi apenas a mais recente 
alteração na história de um transtorno que é estudado há pouco 
mais de 100 anos. O termo autismo apareceu pela primeira vez 
em 1908, criado pelo psiquiatra Eugen Bleuler, para descrever um 
paciente, na época diagnosticado como esquizofrênico, que vivia 
imerso em seu próprio mundo. A análise de Bleuler não chamou 
muita atenção na época, e passaram quase 30 anos até o termo 
ser revisitado. Em 1938, o psiquiatra austríaco radicado nos 
Estados Unidos Leo Kanner recebeu em seu consultório o que 
ficou conhecido como “caso 1” de autismo. Com 5 anos, Donald 
Triaplett foi descrito como tendo um comportamento “fora dos 
padrões” para as crianças da mesma idade. Kanner se interessou 
pelo caso e logo conseguiu reuniroutras dez crianças com a 
mesma condição. 
O que chamou a atenção de Kanner no comportamento das 
crianças foi um desinteresse extremo já no início da vida: elas não 
respondiam a estímulos externos e desenvolviam quase nenhuma 
interação social, vivendo num universo próprio ao mesmo tempo 
que mantinham uma relação inteligente com objetos e 
apresentavam uma memória acima do comum. 
Em 1943, o psiquiatra publicou o estudo Distúrbios Autísticos do 
Contato Afetivo, batizando a condição das 11 crianças como 
“Transtorno Autístico do Contato Afetivo”. Na visão de Kanner, o 
quadro delas estava associado à esquizofrenia infantil e era 
caracterizado por obsessividade pela rotina, dificuldade na 
interação social, estereotipias e ecolalia. 
 
91 
 
Pouco depois, o nome do distúrbio foi atualizado para “autismo 
infantil precoce”, enfatizando que os sinais eram visíveis já nos 
primeiros dois anos de vida. Com este trabalho, Kanner se tornou 
a principal referência no segmento e passou a ser chamado de “o 
pai do autismo”. 
Enquanto Kanner estudou casos que hoje seriam qualificados de 
autismo severo, Hans Asperger dedicou o seu trabalho ao outro 
lado do espectro autista. Psiquiatra atuando em Viena, Asperger 
foi o primeiro a apontar a prevalência maior do autismo em 
meninos, que apresentavam falta de empatia, interesses restritos 
e uma forma peculiar de conversar, usando palavras incomuns 
para a idade. Ele costumava chamar seus pacientes de 
“pequenos professores”, por causa da habilidade de falar sobre 
um tema de forma muito detalhada. 
Ao contrário dos casos estudados por Kanner, as crianças 
atendidas por Asperger não apresentavam atrasos do 
desenvolvimento da linguagem ou retardo mental, e seus 
sintomas não eram aparentes até os três anos de idade. Apesar 
do papel pioneiro, o artigo A psicopatia autista na infância de 
Asperger não recebeu a devida atenção à época. O estudo foi 
publicado em alemão durante a Segunda Guerra Mundial, e 
apenas na década de 1980 o seu trabalho seria reconhecido. 
Os anos 1950 e 1960 foram de muita confusão sobre as causas 
do autismo. Muitas pesquisas analisaram o transtorno apenas do 
ponto de vista social, ignorando o papel dos fatores genéticos. 
Leo Kanner voltou a chamar atenção ao cunhar a hipótese da 
“mãe geladeira”, que atribuía a origem do autismo a mães 
 
92 
 
emocionalmente distantes de seus filhos. A tese foi popularizada 
pelo psicanalista Bruno Bettelheim que, no livro A Fortaleza Vazia, 
comparou os pais de crianças autistas aos guardas nazistas de 
campos de concentração. 
A principal crítica da comunidade médica à teoria da “mãe 
geladeira” era o fato de que muitas mães de crianças autistas 
também tinham filhos e filhas não autistas. Leo Kanner 
posteriormente se disse mal compreendido e tentou se retratar no 
seu livro Em Defesa das Mães. De todo modo, o avanço das 
pesquisas sobre autismo mostrou que a teoria era totalmente 
infundada ao reunir evidências significativas de que o autismo é 
um transtorno neurológico encontrado em todos grupos 
socioeconômicos e étnico-raciais investigados. 
O próximo marco no autismo aconteceu em 1978, quando o 
psiquiatra inglês Michael Rutter propôs uma nova definição do 
distúrbio, como um transtorno mental único, independente da 
esquizofrenia. Baseado em quatro critérios, o autismo seria 
caracterizado por atrasos e desvios sociais (não só decorrentes 
da deficiência intelectual), problemas de comunicação (também 
não apenas ligados à deficiência intelectual), comportamentos 
incomuns como movimentos estereotipados e maneirismos, com 
todos os sintomas presentes antes dos 30 meses de idade. 
Uma das figuras centrais na consolidação do campo da psiquiatria 
infantil, Rutter se destacou ao realizar pesquisas sobre autismo 
tanto de viés biológico, com análises de DNA e de exames de 
imagem, quanto do social, com a avaliação da influências das 
famílias e das escolas no desenvolvimento infantil. 
 
93 
 
O olhar de Rutter influenciou significativamente na elaboração da 
terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de 
Transtornos Mentais (DSM III), em 1980. Pela primeira vez, o 
autismo foi definido como uma condição única, fora do conceito 
da esquizofrenia. O distúrbio passou para uma nova classe, 
denominada Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TIDs), 
que afetam múltiplas áreas de funcionamento do cérebro. 
Em paralelo a Rutter, a psiquiatra Lorna Wing também estava 
desenvolvendo pesquisas que iam mudar a visão do mundo sobre 
o autismo. Mãe de uma menina autista diagnosticada na década 
de 1950, Wing trocou a sua especialização na faculdade de 
medicina para psiquiatria infantil devido à falta de informações 
existentes sobre o distúrbio. 
Seu ativismo ganhou novas proporções ao criar a National Autistic 
Society, em 1962, para defender uma melhor compreensão e 
serviços para indivíduos no espectro e suas famílias no Reino 
Unido. Em 1981, Wing publica um artigo revisitando o trabalho de 
Hans Asperger e batiza a síndrome em seu nome. 
Ao mesmo tempo, ela começa a trabalhar o conceito do autismo 
como um espectro, que afeta pessoas em diferentes níveis. A 
médica também vai estabelecer uma nova base para o 
diagnóstico a partir de seis pontos básicos: verbalização correta, 
mas estereotipada; comunicação não-verbal inadequada; 
ausência de manifestações convencionais de empatia; repetição e 
dificuldade de mudanças; deficiências de coordenação motora; e 
boa memória mecânica e limitados interesses. 
 
94 
 
Hoje, as visões de Lorna Wing e Michael Rutter estão no centro 
do entendimento oficial sobre o TEA. Mas não se pode 
desmerecer o trabalho dos pioneiros deste campo. As primeiras 
pesquisas, e mesmo as teorias falhas, ajudaram a pavimentar o 
caminho das descobertas que atualmente trazem melhor 
qualidade de vida para as pessoas autistas e suas famílias. 
O autismo é interpretado em termos piagetianos, com referência 
particular à questão de se o desenvolvimento cognitivo atípico 
representa uma exceção à hipótese de sequência semelhante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
95 
 
 
Bibliografia consultada 
 
A 
 
ANTHONY, E. J. The system makers: Piaget and Freud. British 
Journal of Medical Psychology, v. 30, p. 255-269, 1957. 
 
ANTHONY, E. J. An experimental approach to the 
psychopathology of childhood: autism. British Journal of Medical 
Psychology, v. 31, p. 211–227, 1958a 
 
ANTHONY, E. J. An aetiological approach to the diagnosis of 
psychosis in childhood. Acta Paedopsychiatrica, v. 25, p. 89–96, 
1958b 
 
AUTISMO E REALIDADE. Quatro médicos que mudaram a visão 
do mundo sobre autismo. Disponível em: < 
https://autismoerealidade.org.br/blog/?utm 
_source=site&utm_medium=exit_intent&utm_campaign=test_ab_e
xit_blog > Acesso em: 31 dez. 2020. 
 
 
96 
 
B 
 
BAIRD, G.; SIMONOFF, E.; PICKLES, A.; CHANDLER, S.; 
LOUCAS, T.; MELDRUM, D.; CHARMAN, T. Prevalence of 
disorders of the autism spectrum in a population cohort of children 
in South Thames. Lancet, v. 368, p. 210-215, 2006. 
 
 
BARON-COHEN, S.; LESLIE, A. M.; FRITH, U. Does the autistic 
child have a ‘‘Theory of Mind’’?’ Cognition, v. 21, p. 37-46, 1985. 
 
BARTAK, L.; RUTTER, M.; COX, A. A comparative study of 
infantile autism and specific developmental receptive language 
disorders III. Discriminant function analysis. Journal of Autism 
and Developmental Disorders, v. 7, p. 383-396, 1977. 
 
BARTHÉLÉMY-MUSSO, A.; TARTAS, V.; GUIDETTI, M. Prendre 
les objets et leurs usages au sérieux: approche développementale 
de la co-construction de conventions sémiotiques entre enfants. 
Psychologie française, v. 58, p. 67-88, 2013. 
 
BENDER, L. Clinical study of one hundred schizophrenic children. 
American Journal of Orthopsychiatry, v. 17, p. 40-56, 1947. 
 
 
97 
 
BENDER, L. ‘Childhood schizophrenia. The Psychiatric 
Quarterly,p. 27: 663-681, 1953. 
 
BISHOP, D. ‘Forty Years On: Uta Frith’s contribution to research 
on autism and dyslexia, 1966–2006’, The Quarterly Journal of 
Experimental Psychology, v. 61: 16-26, 2006. 
 
BLEULER, E. (1911) Dementia Praecox or the Group of 
Schizophrenias. New York: International Universities. 1950. 
 
BOWLBY, J. Maternal care and mental health: a report 
prepared on behalf of the World Health Organization as a 
contribution to the United Nations Programme for the Welfare 
of Homeless Children. Geneva: World Health Organisation. 
1951. 
 
BRAINERD, C. J. Piaget's theory of intelligence. 
EnglewoodCliffs, NJ: Prentice Hall. 1978. 
 
BROWN, J.; MURRAY, D. Strategies for enhancing play skills for 
chil dren with autism spectrum disorder. Educ. Train. Ment. 
Retard. Dev. Disabil., v. 36, p. 312-317, 2001. 
 
BRUCKNER, C. T.; YODER, P. Restricted object use in young 
children with autism: definition and construct validity. Autism, v. 
11, p. 161-171, 2007. 
 
 
98 
 
BURLINGHAM, D.; FREUD, A. Infants without families: the 
case for and against residential nurseries. London: Allen & 
Unwin. 1943. 
 
BURT, C. Is the Doctrine of Instincts Dead? A Symposium: 1 – 
The case for human instincts. British Journal of Educational 
Psychology v. 11, p. 155-172, 1941. 
 
C 
 
CÁRDENAS, K.; RODRÍGUEZ, C.; PALACIOS, P. First symbols in 
a girl with Down syndrome: a longitudinal study from 12 to 18 
months. Infant Behav. Dev., v. 37, p. 416-427, 2014. 
 
CHAPMAN, M. Constructive Evolution. Cambridge: Cambridge 
University Press. 1988. 
 
CHARMAN, T.; BARON-COHEN, S. Another look at imitation in 
autism. Dev. Psychopathol., v. 6, p. 403-413, 1994. 
 
CLAUDE, H.; BOREL, A.; ROBIN, G. Démence précoce, 
schizomanie et schizophrénie. L’Encéphale, v. 19, p. 147–148, 
1924. 
 
 
99 
 
COLVERT, E.; RUTTER, M.; KREPPNER, J.; BECKETT, C.; CASTLE, J.; 
GROOTHUES, C.; HAWKINS, A.; STEVENS, S.; SONUGA-BARKE, E. J. S. 
Do Theory of Mind and executive function deficits underlie the 
adverse outcomes associated with profound early deprivation?: 
Findings from the english and romanian adoptees study. Journal 
of Abnormal Child Psychology, v. 36, p. 1057–1068, 2008. 
 
COSTALL, A. P. The meaning of things. Soc. Anal., v. 41, 76-86, 
1997. 
 
CREAK, M. Schizophrenic syndrome in childhood. British 
Medical Journal, v. 2, p. 889–890, 1961. 
 
CREAK, M. E. A. Schizophrenic syndrome in childhood: further 
progress report of a working party (April 1961). Developmental 
Medicine and Child Neurology, v. 6, p. 530-535. 1964 
 
CUSTANCE, D. M.; MAYER, J. L.; KUMAR, E.; HILL, E.; 
HEATON, P. F. Do children with autism re-enact object 
movements rather than imitate demonstrator actions? Autism 
Res., v. 7, p. 28-39, 2014. 
 
D 
 
 
100 
 
DERKSEN, M. Science in the clinic: clinical psychology at the 
Maudsley. In: G. D. Bunn, A. D. Lovie and G. D. Richards. Eds. 
Psychology in Britain: historical essays and personal 
reflections. Leicester: BPS Books [British Psychological Society], 
2001. pp. 267–89. 
 
DIMITROVA, N. L’usage de l’objet, un lieu privilégié d’émergence 
de la communication intentionnelle chez l’infant. In: C. Moro and 
N. Muller Mirza. Eds. Sémiotique, culture et développement 
psychologique. Lille, FR: Presses Universitaires du Septentrion. 
2014. p. 79-98. 
 
E 
 
ELLENBERGER, H. F. The Discovery of the unconscious. 
London: Allen Lane, Penguin. 1970. 
 
EVANS, B.; RAHMAN, S.; JONES, E. Managing the 
‘‘unmanageable’’: interwar child psychiatry at the Maudsley 
Hospital, London. History of Psychiatry, v. 19: p. 454-475, 2008. 
 
EVANS, B. How autism became autism: the radical transformation 
of a central concept of child development in Britain. History of the 
Human Sciences, v. 26, n. 3, p. 3-31, 2013. 
 
101 
 
 
EYAL, G.; HART, B.; ONCULER, E.; OREN, N.; ROSSI, N. The 
autism matrix. Cambridge: Polity. 2010. 
 
EYSENCK, H. J. Rebel with a cause: the autobiography of H. 
J. Eysenck. London: W. H. Allen. 1990. 
 
F 
 
FRANKLIN, A. W. Children with communication problems. 
Proceedings of a Conference Called by the Invalid Children’s 
Aid Association. London: Pitman. 1965. 
 
FREUD, S. (1894) The Standard Edition of the Complete 
Psychological Works of Sigmund Freud, vol. 3, trans. J. Strachey. 
London: Vintage. 2001. 
 
FREUD, S. (1905) Three Essays on the Theory of Sexuality. In: 
The standard editionof the complete psychological works of 
Sigmund Freud, vol. 7, trans. J. Strachey. London: Vintage. 2001 
 
FRITH, U. Studies in pattern detection in normal and autistic 
children. I. Immediate recall of auditory sequences. Journal of 
Abnormal Psychology, v. 76, p. 413-420, 1970. 
 
102 
 
 
FRITH, U. Autism: explaining the enigma. New York: Blackwell. 
2003. 
 
G 
 
GENOVESE, J. E. C. Piaget, pedagogy, and evolutionary 
psychology. Evolutionary Psychology, v. 1, p. 127-137, 2003. 
 
H 
 
HARRIS, B. The health of the schoolchild. Buckingham, Bucks: 
Open University Press. 1995. 
 
HARRIS, J. C. Developmental neuropsychiatry. Oxford: Oxford 
University Press. 1998. 
 
HARRIS, P. L. The Work of imagination. New York, NY: Wiley-
Blackwell. 2000 
 
 
103 
 
HEIMANN, P. (1943) Some Aspects of the Role of Introjection and 
Projection in Early Development – 1943. In: P. King and R. 
Steiner. Eds. The Freud–Klein controversies,1941-1945. 
London: Tavistock/Routledge, 1991. pp. 501–30. 
 
HERMELIN, B.; O’CONNOR, N. The response and self-generated 
behaviour of severely disturbed children and severely subnormal 
controls. British Journal of Social and Clinical Psychology, v. 
2, p. 37-43, 1963. 
 
HERMELIN, B.; O’CONNOR, N. Remembering of words by 
psychotic and subnormal children. British Journal of 
Psychology, v. 58, p. 213-18. 1967 
 
HOBSON, R. P. Autism and the development of mind. Hove, 
Sx: Lawrence Erlbaum. 1993. 
 
HOBSON, R. P. The cradle of thought. London: Macmillan. 
2002. 
 
I 
 
 
104 
 
ISAACS, S. (1943) The nature and function of phantasy. In: P. 
King and R. Steiner Eds. The Freud–Klein controversies, 1941–
1945. London: Tavistock/Routledge. 1991. pp. 264–321. 
 
IANNACCONE, A.; SAVARESE, G.; MANZI, F. The use of objects 
for autistic children: a study in Piagetian perspective and the use 
of construction blocks. In: Poster Presented at XXIX Congresso 
Nazionale AIP Sezione di Psicologia dello Sviluppo e 
dell’Educazione (Vicenza). 2016. 
 
IANNACCONE, A.; SAVARESE, G.; MANZI, F. Object use in 
children with autism: building with blocks from a piagetian 
perspective. Frontiers in Education, February, v. 3, article 12, p, 1-
12, 2018. 
 
J 
 
JANET, P. M. F.; RAYMOND, F. Les obsessions et la 
psychasthenie. Paris: Alcan. 1903. 
 
JOHN-STEINER, V.; MAHN, H. Sociocultural approaches to 
learning and development: a Vygotskian framework. Educ. 
Psychol., v. 31, p. 191-206,1996. 
 
 
105 
 
JONES, K. W. Taming the troublesome child. London: Harvard 
University Press. 1999 
 
K 
 
KANNER, L. Autistic disturbances of affective contact. Nervous 
Child, v. 2, p. 217-250, 1943. 
 
KANNER, L. Childhood psychosis: a historical overview. Journal 
of Autism and Childhood Schizophrenia, v. 1, p. 14–19, 1971. 
 
KING, P.; STEINER, R. E. Eds. The Freud–Klein controversies 
1941-1945. London: Tavistock/Routledge. 1991. 
 
KLEIN, M. Personification in the Play of Children. International 
Journal of Psychoanalysis, v. 10, p. 193-204, 1929. 
 
KLEIN, M. The importance of symbol formation in the development 
of the ego. International Journal of Psychoanalysis, v. 11, p. 
24-39, 1930. 
 
KLERMAN, G.; VAILLANT, G.; SPITZER, R.; MICHELS, R. A 
debate on DSM-III. American Journal of Psychiatry, v.141, p. 
539-554, 1984. 
 
106 
 
 
KOLVIN, I. Psychoses in childhood – a comparative study. In: M. 
Rutter. Ed. Infantile autism: concepts, characteristics and 
treatment. London: Churchill Livingstone.1971. 
 
L 
 
LEE, G. T.; FENG, H.; XU, S.; JIN, S. J. Increasing “object-
substitution” symbolic play in young children with autism spectrum 
disorders. Behav Modif., v. 43, n. 1, p. 82-114, 2019. 
 
LESLIE, A. M.; FRITH, U. Autistic children’s understanding of 
seeing, knowing and believing. British Journal of 
Developmental Psychology, v. 6, p. 315-324, 1988. 
 
LEONTIEV, A. N. Problems of the development of mind. 
Moscow: Progress Publishers. 1981. 
 
LINDSAY, G. Screening for children with special needs: 
multidisciplinary approaches. London: Croom Helm. 1984. 
 
LOTTER, V. Epidemiology of autistic conditions in young children. 
Social Psychiatry, 1, p. 124–37, 1966. 
 
 
107 
 
M 
 
MANZI, F.; SAVARESE, G. Interaction with/through object and 
social functions in ASD children. In: Inequalities: what 
contributions of the” educations for ... ”? Abstract Book of the 
International Congress: EducA. Hammamet, Tunisia, 73. 2017 
 
MARTIN, J. A. M. Sensory disorder in the autistic child and its 
implications for treatment. In: M. Rutter. Ed. Infantile autism: 
concepts, characteristics and treatment. London: Churchill 
Livingstone. 1971. pp. 286–96. 
 
MCCUNE-NICOLICH, L. Toward symbolic functioning: structure of 
early pretend games and potential parallels with language. Child 
Dev., v. 52, p. 785-797, 1981. 
 
MCDUFFIE, A.; OAKES, A.; MACHALICEK, W.; THURMAN, A.; 
SUMMERS, S. STEWART, A.; ABBEDUTO, L. Play with objects in 
young males with fragile X syndrome: a pre-liminary study. J. 
Commun. Disord., v. 53, p. 17-29, 2015. 
 
MCGUIRE, W. (Ed). The Freud–Jung letters: the 
correspondence between Sigmund Freud and C. G. Jung. 
London: Hogarth Press. 1974. 
 
108 
 
 
MILLER, J. L.; ABLES, E. M.; KING, A. P.; WEST, M. J. Different 
patterns of contingent stimulation differentially affect attention 
span in prelinguistic infants. Infant Behav. Dev., v. 32, p. 254-
261, 2009. 
 
MILLER, J. L.; GROS-LOUIS, J. Socially guided attention 
influences infants’ communicative behavior. Infant Behav. Dev., 
v. 36, p. 627-634, 2013. 
 
MILLER, J. L.; GROS-LOUIS, J. The effect of social 
responsiveness on infants’ object-directed imitation. Infancy, v. 
22, p. 344-361, 2017. 
 
MORENO-NÚÑEZ, A.; RODRÍGUEZ, C.; DEL OLMO, M. J. 
Rhythmic ostensive gestures: how adults facilitate infants’ 
entrance into early triadic interactions. Infant Behav. Dev., v. 49, 
p. 168-181, 2017. 
 
MORGAN, S. Autism and Piaget's theory: Are the two compatible? 
Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 16, p. 441-
457, 1986. 
 
MORO, C. Material culture, semiotics and early childhood 
development. In: M. Kontopodis, C. Wulf, and B. Fichtner. Eds. 
Children, development and education: cultural, historical, 
 
109 
 
anthropological perspectives. London, New York: Springer 
Verlag. 2011. pp. 57-70. 
 
MORO, C. Le rôle de l’objet dans la construction de l’attention con 
jointe et dans l’accès aux intentions d’autrui. In: Eds C. Moro and 
N. Muller Mirza. Sémiotique, culture et développement 
psychologique. Lille, FR: Presses Universitaires du Septentrion. 
2014. pp. 55-77. 
 
MOSKOWITZ, A. (2005) Pierre Janet’s influence on Bleuler’s 
concept of schizophrenia. Janetian studies 2. Disponível em: < 
http://pierre-janet.com/JSarticles/2005/am05.doc > Acesso em 30 
dez. 2020, 
 
MURRAY, S. Representing autism. Liverpool: Liverpool 
University Press. 2008. 
 
N 
 
NADESAN, M. H. Constructing autism. London: Routledge. 
2005 
 
 
110 
 
P 
 
PALACIOS, P.; RODRÍGUEZ, C. The development of symbolic 
uses of objects in infants in a triadic context: a pragmatic and 
semiotic perspective. Infant Child Dev., v. 24, p. 23-43, 2015. 
 
PERNER, J.; FRITH, U.; LESLIE, A. M.; LEEKAM, S. ‘Explorations 
of the autistic child’s Theory of Mind: knowledge, belief and 
communication. Child Development, v. 60, p. 689-700, 1989. 
 
PIAGET, J. La pense´e symbolique et la pense´e de l’enfant 
Archives de psychologie, v.18, p. 273–304, 1923. 
 
PIAGET, J. The Child’s Conception of the World. London, UK: 
Routledge and Kegan Paul. 1928. 
 
PIAGET, J. The child’s conception of the world. London: Kegan 
Paul. 1929. 
 
PIAGET, J. The origins of intelligence in children. New York, 
NY: Norton. 1952. 
 
PIAGET, J. The construction of reality in the child. New York, 
NY: Basic Books. 1954. 
 
111 
 
 
PIAGET, J. Play, dreams and imitation in childhood. New York, 
NY: Norton. 1962. 
 
PIAGET, J. The psychology of the child. New York, NY: Basic 
Books. 1972. 
 
R 
 
RAPOPORT, J.; CHAVEZ, A.; GREENSTEIN, D.; ADDINGTON, 
A.; GOGTAY, N. Autism Spectrum Disorders and childhood-onset 
schizophrenia: clinical and biological contributions to a relation 
revisited. Journal of the American Academy of Child & 
Adolescent Psychiatry, v. 48, p. 10-18, 2009. 
 
RODRÍGUEZ, C.; MORO, C. El uso convencional también hace 
permanentes a los objetos. Infancia y Aprendizaje, v. 21, p. 67-
83, 1998. 
 
RODRÍGUEZ, C.; MORO, C. Chapter 5. Coming to agreement: 
object use by infants and adults. In: J. Zlatev, T. P. Racine, C. 
Sinha, and E. Itkonen. Eds. The shared mind: perspectives on 
intersubjectivity. 2008. pp. 89–114. 
 
 
112 
 
RODRÍGUEZ, C.; MORENO-NÚÑEZ, A.; BASILIO, M.; SOSA, N. 
Ostensive gestures come first: their role in the beginning of shared 
reference. Cogn. Dev., v. 36, p. 142-149. 2015. 
 
ROGERS, S. An examination of the imitation deficit in autism. In: 
J. Nadel and G. Butterworth. Eds. Imitation in Infancy. 
Cambridge: Cambridge University Press. 1999. 254–279. 
 
ROGERS, S. J.; HEPBURN, S.; STACKHOUSE, T.; WEHNER, E. 
(). Imitation performance in toddlers with autism and those with 
other developmental disorders. J. Child Psychol. Psychiatry, v. 
44, p. 763-781, 2003. 
 
ROSE, N. S. The psychological complex. London: Routledge. 
1985. 
 
ROSE, N. S. Governing the soul. London: Free Association 
Press. 1999. 
 
RUTTER, M. Classification and categorisation in child psychiatry. 
Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 6, p. 71-83, 
1965. 
 
RUTTER, M. Behavioural and cognitive characteristics. In J. K. 
Wing. Ed. Early childhood autism: clinical, educational and 
social aspects. London: Pergamon Press. 1966. 
 
 
113 
 
RUTTER, M.; LOCKYER, L.; GREENFELD, D. A Five to Fifteen 
Year Follow-up Study of Infantile Psychosis. British Journal of 
Psychiatry, v. 113, p. 1183-1199, 1967. 
 
RUTTER, M. Concepts of Autism. Journal of Child Psychology 
and Psychiatry, v. 9, p. 1–25, 1968. 
 
RUTTER, M.; TIZARD, J.; WHITMORE, K. Education, health and 
behaviour. Harlow, Essex: Longman. 1970. 
 
RUTTER, M. Childhood schizophrenia reconsidered. Journal of 
Autism and Developmental Disorders, v. 2, p. 315–37, 1972. 
 
RUTTER, M., BARTAK, L. AND COX, A. A comparative study of 
infantile autism and specific developmental receptive language 
disorder: I. The children. The British Journal of Psychiatry, v. 
126, p. 127-145, 1975. 
 
RUTTER, M.; ANDERSEN-WOOD, L.; BECKETT, C.; BREDENKAMP, D.; 
CASTLE, J.; GROOTHUES, C.; KREPPNER, J.; KEAVENEY, L.; LORD, C.; 
O'CONNOR, T. G. Quasi-Autistic patterns following severe early 
global privation. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 
40, p. 537-549, 1999. 
 
RUTTER, M. The Emergence of developmental psychopathology. 
In: G. D. Bunn, A. D. Lovie and G. D. Richards. Eds. Psychology 
 
114 
 
in Britain. Leicester: BPS Books [British Psychological Society], 
2001. pp. 422–32. 
 
S 
 
SAVARESE, G.; MANZI, F.; IANNACCONE, A. Social functions in 
ASD children and interaction with/through object: a brief report. 
Psychology, v. 8, p. 1129-1133, 2017. 
 
SAYERS, J. British psychology and psychoanalysis: the case of 
Susan Isaacs. In: G. D. Bunn, A. D. Lovie and G. D. Richards. 
Eds. Psychology in Britain: historical essays and personal 
reflections. Leicester: BPS Books. 2001. pp. 205–222. 
 
SCHOPLER,E.; RUTTER, M.; CHESS, S. Editorial: change of 
journal scope and title. Journal of Autism and Developmental 
Disorders, v. 9, p. 1-10, 1979. 
 
SHAFFER, D. Classification and categorisation revisited. In: M. 
Rutter, J. Green and W. Yule. Eds. Research and Innovation on 
the road to modern child psychiatry, vol. 1, Festschrift for 
Professor Sir Michael Rutter. London: Gaskell and Association 
for Child Psychology and Psychiatry. 2001. pp. 104-114. 
 
 
115 
 
SIGMAN, M.; UNGERER, J. Sensorimotor skills in autistic 
children. Journal Abnormal Child Psychology, v. 9, p. 149-165, 
1981. 
 
SILVERMAN, C. Understanding autism. Princeton, NJ: Princeton 
University Press. 2011. 
 
SINHA, C. Objects in a storied world: materiality, normativity, 
narrativity. J. Conscious Stud, v. 16, p. 167-190, 2009. 
 
SINHA, C. Language and other artifacts: socio-cultural dynamics 
of niche construction. Front. Psychol. v. 6, p. 1601. 2015 
 
SINHA, C.; Rodríguez, C. Language and the signifying object: 
from convention to imagination. In: J. Zlatev, T. Racine, C. Sinha, 
and E. Itkonen. Eds. The shared mind: perspectives on 
intersubjectivity. Amsterdam, Netherlands: John Benjamins. 
2008. pp. 357-378. 
 
SMITH, I. M.; BRYSON, S. E. Gesture imitation in autism: II. 
Symbolic gestures and pantomimed object use. Cogn. 
Neuropsychol., v. 24, p. 679-700, 2007. 
 
SPITZER, R. L. Values and assumptions in the development of 
DSM-III and DSM-III-R: an insider’s perspective and a belated 
response to sadler, hulgus, and agich’s ‘‘on values in recent 
 
116 
 
american psychiatric classification’’’. The Journal of Nervous and 
Mental Disease, v. 189, p. 351-359, 2001. 
 
STAHMER, A. C.; INGERSOLL, B.; CARTER, C. Behavioral 
approaches to promoting play. Autism, v. 7, p. 401-413, 2003. 
 
STEINER, G. Background to the scientific controversies. In: P. 
King and R. Steiner. Eds. The Freud–Klein controversies, 1941–
45. London: Tavistock/Routledge. 1991. pp. 227–263. 
 
SWETTENHAM, J.; BARON-COHEN, S.; CHARMAN, T.; COX, A.; 
BAIRD, G.; DREW, A.; REES, L.; WHEELWRIGHT, S. The 
frequency and distribution of spontaneous attention shifts between 
social and non social stimuli in autistic, typically developing, and 
non autistic developmentally delayed infants. J. Child Psychol. 
Psychiatry, v. 39, p. 747-753, 1998. 
 
T 
 
THOM, D. Wishes, anxieties, play, and gestures. In: R. Cooter. 
Ed.) In the name of the child. London: Routledge. 1992. pp. 200–
19. 
 
 
117 
 
TOMASELLO, M. Joint attention as social cognition. In: C. Moore 
and P. J. Dunham. Eds. Joint attention: Its origins and role in 
development. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates Inc. 
1995. pp.103-130. 
 
TOMASELLO, M. Cultural learning redux. Child Dev., v. 87, p. 
643-653, 2016. 
 
THURBER, S.; SHEEHAN, W.; VALTINSON, G. Autism spectrum 
conditions from a piagetian perspective: a case study. 
Psychology Journal, v. 4, n. 1, p. 28-39, 2007. 
 
TREVARTHEN, C.; HUBLEY, P. Secondary intersubjectivity: 
confidence, confiding, and acts of meaning in the first year. In J. 
Lock. Ed. Action, gesture, and symbol. London: Academic 
Press. 1978. pp. 183-229. 
 
U 
 
UNGERER, J. A.; SIGMAN, M. Symbolic play and language 
comprehension in autistic children. J. Am. Acad. Child 
Psychiatry, v. 20, p. 318-337, 1981. 
 
 
118 
 
UNGERER, J. A.; SIGMAN, M. Categorization skills and receptive 
language development in autistic children. Journal of Autistc and 
Developmental Disorder, v. 17, p. 3-16, 1987. 
 
V 
 
VANVUCHELEN, M.; ROEYERS, H.; DE WEERDT, W. Do 
imitation problems reflect a core characteristic in autism? 
Evidence from a literature review. Res. Autism Spectr. Disord., 
v. 5, p. 89-95, 2011 
 
VIDAL, F. Piaget before Piaget. Cambridge, MA and London: 
Harvard University Press. 1994. 
 
VOLKMAR, F. R. Handbook of autism and pervasive 
developmental disorders. Hoboken, NJ and Chichester, Sx: 
John Wiley & Sons. 2005. 
 
W 
 
 
119 
 
WATSON, J. B. Behaviourism. New York: People’s Institute. 
1925. 
 
WILLIAMS, E.; COSTALL, A.; REDDY, V. Children with autism 
experience problems with both objects and people. J. Autism 
Dev. Disord., v. 29, p. 367-378, 1999. 
 
WILLIAMS, J. H. G.; WHITEN, A.; SINGH, T. A systematic review 
of action imitation in autistic spectrum disorder. J. Autism Dev. 
Disord., 34, 285–299, 2004. 
 
WILLIAMS, E.; KENDELL-SCOTT, L.; COSTALL, A. Parents’ 
experiences of introducing everyday object use to their children 
with autism. Autism, v. 9, p. 495-514, 2005. 
 
WING, J. K. Diagnosis, epidemiology, aetiology. In: J. K. Wing Ed. 
Early childhood autism: clinical, educational and social 
aspects. London: Pergamon Press. 1966. pp. 3–50. 
 
WING, J. K.; HAILEY, A. M. Evaluating a community 
psychiatric service: the Camberwell register, 1964–71. 
London: Oxford University Press for the Nuffield Provincial 
Hospitals Trust. 1972. 
 
WING, L.; YEATES, S. R.; BRIERLEY, L. M.; GOULD, J. The 
prevalence of early childhood autism: comparison of administrative 
 
120 
 
and epidemiological studies. Psychological Medicine, v. 6: 89-
100, 1976. 
 
WING, L.; GOULD, J. Systematic recording of behaviours and 
skills of retarded and psychotic children. Journal of Autism and 
Childhood Schizophrenia, v. 8, p. 79-97, 1978. 
 
WING, L.; GOULD, J. Severe impairments of social interaction and 
associated abnormalities in children: epidemiology and 
classification. Journal of Autism and Developmental Disorders, 
v. 9, p. 11-29, 1979. 
 
WING, L. Asperger’s Syndrome: a clinical account. Psychological 
Medicine, v. 11, p. 115-29, 1981. 
 
WING, L.; POTTER, D. The epidemiology of Autistic Spectrum 
Disorders. Mental Retardation and Developmental Disabilities 
Research, v. 8, p. 151-161, 2002. 
 
WOOLDRIDGE, A. Measuring the mind: education and 
psychology in england, c.1860–c.1990. Cambridge: Cambridge 
University Press. 1994. 
 
 
 
121

Mais conteúdos dessa disciplina