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Aula V – Direito Penal IV TÍTULO XI DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CAPÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA Fraude processual. Favorecimento pessoal e real. Exploração de prestígio. Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito Fraude processual Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir erro o juiz ou o perito: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. Bem jurídico tutelado: Administração da Justiça. Protege especificamente a probidade da função judicial, sua respeitabilidade. Sujeito ativo: Qualquer pessoa, tendo ou não interesse pessoal no processo. Não exige qualquer condição especial do agente.Pode ser parte no processo ( réu e o órgão do MP), ou por qualquer terceiro, interessado ou não no processo, funcionário público e pelo próprio advogado se concorrer com a fraude. Sujeito passivo: Qualquer pessoa prejudicada pela conduta artificiosa, e secundariamente o Estado, sempre titular do bem jurídico tutelado: a Administração Pública. Tipo objetivo: a) a conduta consiste em inovar (mudar , alterar), b) artificiosamente ( mediante artifício ou ardil); c) o estado de lugar, de coisa ou de pessoa ( enunciação taxativa); d) com o fim de induzir a erro ou juiz ou o perito. 1) Inovar : Significa, de forma ardilosa, promover mudanças e modificações capazes de transformar a importância probatória que lugar, coisa ou pessoa anteriormente tinham, sem a concorrência de causas naturais. a) Inovação do estado de lugar: abre-se um caminho para simular uma servidão de passagem, por exemplo, ou fecha-se uma janela. b) Inova-se o estado de coisa quando se elimina vestígios de sangue em uma roupa em um crime de homicídio, para fazer crer se tratar de suicídio. c) Inova-se o estado de pessoa quando se altera seus trações fisionômicos através de uma plástica, eliminando sinais característicos de um indivíduo procurado pela justiça. Obs: Não pode ser modificação grosseira, incapaz de alterar o sentido probatório de lugar, coisa ou pessoa, ou seja, sem idoneidade de induzir a erro o juiz ou o perito.Deve ser idônea objetiva e subjetivamente. ( tanto alteração a feição probatória, como conduzir a erro o perito e juiz. 2) Artificiosamente: artifício é toda simulação ou dissimulação idônea para induzir alguém em erro, levando a percepção falsa percepção da realidade. 3) Pendência de processo civil ou administrativo. O processo civil deve estar em curso, em qualquer de suas fases: conhecimento, execução e recursal. O processo administrativo não inclui a sindicância, que lhe é anterior. Exigem-se processos desta natureza e já instaurados e ainda não encerrados. 4) Induzimento do Juiz ou do Perito em erro. Induzir significa que o agente procura incutir ou persuadir alguém com sua ação. Erro é falsa percepção da realidade. O agente coloca o juiz ou o perito em situação enganosa, fazendo parecer realidade aquilo que não é. Obs: O silêncio ou a simples omissão na hipótese do Juiz ou perito já se encontraram em erro configura?. Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. O parágrafo único pune-se a inovação artificiosa em processo penal, ainda que não iniciado, prevendo a pena em dobro. O ainda não iniciado não é processo penal na verdade (falta de técnica legislativa), uma vez que se refere aos procedimentos investigatório, leia-se inquérito policial.Como neste caso se destina a produzir prova em processo penal, é necessário que se aguarde o desfecho do IP, que pode ser arquivado, não chegando a existir processo e, portanto, não há o crime em estudo. Consumação/tentativa: Consuma-se no lugar e no momento em que se completa a ação de inovar artificiosamente, mesmo que o perito ou o juiz não seja induzido a erro. A tentativa é possível, apesar de ser crime formal, mas também é plurissubsistente. Classificação doutrinária: Sujeito ativo comum, sujeito passivo próprio, formal, de forma livre, instantâneo ( que não há demora entre a ação e o resultado), unissubjetivo, plurissubsistente. Figura majorada: Realizar prova em processo penal , ainda que não iniciado. Questões especiais: 1)Distingue do estelionato porque a fraude destina-se a induzir a erro o juiz ou o perito, mesmo que agente não atinja o fim colimado. 2) Natureza subsidiária: se inovar artificiosamente um documento, responderá apenas pela falsificação, que é crime mais grave. 3)Direito a defesa. 4)Se o réu, com a finalidade de se defender, limpa o sangue do local onde praticou um homicídio, se consertar um veiculo com o qual atropelou uma pessoa ou se fizer uma cirurgia plástica com a finalidade de mudar sua fisionomia, tais fatos não configurarão fraude processual, mas autodefesa, no sentido de que ninguém obrigado a fazer ou mesmo permitir prova contra si mesmo. 5) confronto com os arts. 312 do CBT e 16 da Lei 10.826/03 Favorecimento pessoal Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. Noção: Quando alguém comete um crime, as autoridades públicas são acionadas no sentido de fazer cumprir a lei. Ninguém é obrigado a delatar ou colaborar com a forças policiais para auxiliar na prisão dos criminosos. No entanto, em sentido contrário, não podem atrapalhar, criar obstáculos a essa ação. Se tal ocorrer, pode configurar o crime de favorecimento pessoal. Bem jurídico: Administração Pública Figuras típicas: a) a conduta de auxiliar a subtrair-se à ação da autoridade pública; b) autor de crime a que é cominada pena de reclusão. 1) Auxiliar: significa ajudar, socorrer 2) Subtrair : significa retirar do campo de ação, esconder. É crime de forma livre, podendo ser praticado de várias forma, como: Emprestando um lugar para que o criminoso se esconda; prestando informações mentirosas para iludir a ação da autoridade pública, etc... Obs: não se exige que o criminoso já esteja fugindo. 3) Autoridade pública : este auxílio deve dirigido a subtrair alguém de autoridade pública, que podem ser o delegado de Polícia, promotor de Justiça e Juiz de Direito. Pressuposto do favorecimento pessoal É a prática de um crime da pessoa a quem o agente auxilia, devendo ser um fato típico, ilícito e culpável. Assim se alguém auxilia uma pessoa que matou alguém em legítima defesa, não configura. Obs: R Greco entende que o favorecimento pessoal tem como questão prejudicial a condenação de quem praticou o crime anterior, pois se este for absolvido em razão da ausência de quaisquer dos elementos que integram o conceito analítico de crime, o agente que praticou o favorecimento pessoal também deve ser absolvido. Se também ao autor do crime anterior foi aplicada uma escusa absolutória, que extingue a punibilidade, também favorecerá o autor do crime de favorecimento pessoal. Não importa se o crime anterior foi consumado ou tentado, doloso ou culposo, o agente que o auxiliar responderá pelo favorecimento pessoal. Obs: Damásio entende que quando o crime anterior a ação penal for de iniciativa privada ou pública condicionada à representação, não há que se falar em favorecimento pessoal enquanto não for apresentada a queixa ou formulada a representação. A pena do crime anterior deverá ser de reclusão, se for de detenção é o parágrafo primeiro do artigo em estudo. A menção a crime, afasta do tipo penal o auxílio a quem praticou uma contravenção penal. Classificação doutrinária: Sujeito ativo comum e próprio quanto ao passivo, doloso, comissivo, de forma livre, instantâneo ( que não há demora entre a ação e o resultado), unissubjetivo, plurissubsistente, transeunte. Consumação/tentativa: A consumação exige que o agente , efetivamente, preste auxílio necessário para que o autor do crime se subtraia da ação da autoridade pública, sendo necessário o sucesso do referido auxílio, pois do contrário poderá configurar a tentativa. Obs: Se auxilia alguém sem saber que se trata de um autor de crime apenada com reclusão, configura erro de tipo. § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. § 1º modalidade privilegiada. § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. Inexigibilidade de conduta diversa ( causa de exclusão da culpabilidade). De acordo com Greco, é comportamento da mãe que esconde o filho, ou da mulher que esconde o marido. Para ele é inexigível conduta diversa. Diferentemente da escusa absolutória, que afastaria a punibilidade, ex do art. 181 do CP, porque nestas hipótese é exigível uma conduta diversa, mas por política criminal é melhor que fiquem impunes. Obs: todos os outros autores entendem ser caso de escusa absolutória. Destaques: Diferença entre favorecimento pessoal e participação no crime. Para haver favorecimento pessoal, é preciso que o autor do crime anterior Já o tenha consumado. Se o auxilio for oferecido anteriormente a prática do crime, o agente vai responder como partícipe no delito daquele a quem supostamente auxiliaria, e não por favorecimento pessoal. Ex. se alguém que praticar um homicídio e não tem onde esconder-se, e o agente oferece sua casa, de alguma forma estimulando àquele a prática do crime, se tal fato vier a ocorrer (homicídio e homízio na casa oferecida), haverá participação no homicídio e não favorecimento pessoal. § 2º aplica-se a união estável? Sim, segundo Greco pode-se aplicar a analogia in bonam partem. Favorecimento real Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. Prestar auxílio significa: ajudar, socorrer. O agente, portanto, auxilia o criminoso a preservar ou conservar o proveito o crime. Proveito do crime Segundo Hungria, tem um conceito genérico. Tanto pode ser o produto do crime ( ex. a rés furtiva), como o resultado dele ( a vítima raptada), quanto a coisa que venha substituir a que foi objeto material do crime (ex. o ouro resultante das joias subtraídas) e ainda a coisa que comprada com o dinheiro furtado ( aquisição de um carro com o numerário obtido em um sequestro). Obs: Os instrumentos do crime não são proveito, mas se escondidos para despistar a perseguição ao criminoso, será favorecimento real. Para que ocorra o favorecimento real, não pode ter o agente, ter, de alguma forma, participado do crime anterior. Embora o tipo fale em coautoria, na verdade quer significar o concurso de pessoas, o que inclui a participação. Não pode então ter o agente concorrido de qualquer modo com o crime anterior. (TJRJ Ap. Crim. 2006.050.06605, Des. Marcos Bellizze) Também menciona o artigo que não poderá haver receptação. A diferença de ambas as figuras está no dolo. Na receptação o agente presta auxílio no sentido de obter vantagem para si ou para outrem, que não seja o criminoso. No favorecimento o agente não visa a um proveito econômico, mas tão somente beneficiar o criminoso. Não cabe também no proveito da contravenção penal (proveito do crime...) É indiferente que ocorra a imputabilidade no delito antecedente. O favorecimento rela deve acontecer sempre após e não antes ou durante a prática do crime que lhe deu origem. O sujeito que dá cobertura para o comparsa praticar a subtração, responderá como partícipe do furto e não por favorecimento real. Sujeito ativo comum e próprio quanto ao passivo, doloso, comissivo, de forma livre, instantâneo (que não há demora entre a ação e o resultado), unissubjetivo, plurissubsistente, transeunte. Consumação/tentativa: Se consuma no momento e no lugar em que o auxílio idôneo for prestado pelo agente, ainda que a pessoa não tenha conseguido o objetivo visado. A tentativa é admissível. Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009). Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009). Condutas típicas: a)Ingressar significa fazer com que efetivamente ingresse, entre no estabelecimento prisional. b)Promover diz respeito a diligenciar, tomando as providências necessárias para a entrada. c)Intermediar é interceder, interir, servindo a agente como intermediário entre o preso e um terceiro. d)Auxiliar é ajudar de alguma forma. e)Facilitar é remover os obstáculos. aparelho telefônico móvel , rádio e similares. Todas estas condutas proibidas visam a entrada de aparelho telefônico móvel (celulares), rádio (nextel, walkie talkie) e similiares (aparelhos que permitem o acesso a internet, como o ipad, leptop, etc..) Estabelecimento prisional: Penitenciária, casa de albergado, cadeias públicas. As condutas dever sem praticadas sem autorização legal. Classificação doutrinária: Sujeito ativo comum e próprio quanto ao passivo, doloso, comissivo e omissivo próprio eventualmente na conduta facilitar, de forma livre, instantâneo ( que não há demora entre a ação e o resultado), unissubjetivo, plurissubsistente, não transeunte pois exige a apreensão do equipamento. Obs: O próprio preso pode ser sujeito ativo quando no gozo de permissão de saída (art 120 da LEP) de saída temporária ( art 122 da LEP), ao retornar pode praticar uma das condutas proibidas. Se o preso solicitou o aparelho, ele será coautor e responderá na forma do art. 29 do CP. Obs2: O funcionário público pode ser sujeito ativo.( se obtiver vantagem ou promessa, será o crime do art. 317 do CP) Consumação/tentativa: Se consuma quando após a prática de uma das condutas típicas, o aparelho chegue as mãos de alguém que se encontre preso. Obs:Rogério Sanches diz que é crime de mera conduta, consumando-se com a mera prática das condutas, independentemente de chegar as mãos do detento. É admissível a tentativa. Conduta de facilitar, que pode ser por omissão, se aplica inclusive ao funcionário que tinha o dever de impedir o resultado, que no caso não responderá por crime omissivo impróprio, mas o omissivo próprio. E ele será coautor do terceiro e do preso, independentemente dos dois outros saberem de sua conduta. Para o preso: falta grave ( art 50 VII da LEP). Se o diretor do presídio ou agente penitenciário tiver contribuído, eles responderão pelo art. 349-A e não pelo 319-A. Exploração de prestígio Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Parágrafo único - As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo. Condutas típicas a) Solicitar: pedir, requerer b)Receber: aceitar. Ambas as condutas tem como objeto: dinheiro ou qualquer outra utilidade que deve ter natureza econômica (interpretação analógica - dinheiro como exemplo específico e utilidade como fórmula genérica). A finalidade especial do agente é influir em Juiz, jurado, MP, funcionário da Justiça, perito, intérprete ou testemunha. Ex. advogado que solicita dinheiro a título de pagamento de Juiz para liberação de preso. Comportamento fraudulento: a pretexto:é a chamada venda de influência. Classificação doutrinária: Sujeito ativo e passivo comuns, formal, de forma livre, instantâneo ( que não há demora entre a ação e o resultado), unissubjetivo, mono ou plurissubsistente, dependendo da conduta. Consumação tentativa: O delito se consuma quando o agente solicita dinheiro ou utilidade, independentemente do seu recebimento. Na modalidade receber, somente se consuma quando da entrega do dinheiro ou da utilidade. É possível a tentativa dependendo da conduta. Parágrafo único As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo. Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. Noção: Embora o tipo fala em exercer, dando ideia de habitualidade. Greco entende que o crime é instantâneo, uma vez que se pune a prática de qualquer ato que importe a desobediência à decisão judicial de que o agente foi suspenso ou privado. a) Função: encargo derivado da lei, convenção ou decisão judicial. b) Atividade: profissão, ofício, ministério. c) Direito:poder familiar, direito político. d)Autoridade; que é o desempenho de funções em que há competência de impor suas decisões; e) Múnus: derivado de lei ou decisão judicial, como as de jurado, defensor dativo, etc.. Se for decisão administrativa pode ser o art 330 do CP. Jurisprudência: medida protetiva/descumprimento: Não cabe o arts. 359 ou 330 do CP, mas a prisão preventiva. O crime deste artigo pressupõe decisão de natureza penal e não civil. Classificação doutrinária: Sujeito ativo e passivo próprios, formal, de forma livre, instantâneo ( que não há demora entre a ação e o resultado), unissubjetivo, plurissubsistente, dependendo da conduta, transeunte. Consumação/tentativa: Consuma-se com a prática de qualquer ato de que foi suspenso ou privado pelo Poder Judiciário. Admite-se tentativa.
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