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Mayara Medeiros Síndromes vasculíticas Processo inflamatório da parede do vaso que pode levar a complicações, como a estenose da luz do vaso, estreitamento da parede do vaso, formação de trombos. Rede vascular: emaranhado de vasos, todos os pontos do organismo Material nutritivo: fundamental para o metabolismo celular Material sanguíneo Elementos circulantes no interior do vaso: o Formados pelo próprio organismo: proteínas séricas; o Meio externo: proteínas alimentares, vírus, drogas, bactérias. Agentes nocivos: absorvidos, processados e eliminados pelo sistema de defesa. O processo de inflamação da parede do vaso, na reumatologia, é uma das condições mais complexas, pois são vários os tipos de inflamação e classificação das vasculites na tentativa de facilitar o diagnóstico. Atualização da nomenclatura: A diferença entre poliangiíte granulomatosa eosinofílica e poliangiíte é a eosinofilia, não apenas na parede do vaso, mas também no sangue periférico (visto pelo hemograma) Vasculite por IgA é mais comum em crianças. Arterite de células gigantes é mais comum no idoso. Classificação: Primária: inflamação vascular – manifestação primordial da doença é a vasculite. Secundária: inflamação vascular – manifestação da doença de base (LES, Sjögren, hepatite B e C, drogas, pós- transplante, neoplasia). o Por exemplo, na artrite reumatoide sabe-se que pode haver lesões cutâneas relacionadas à vasculite. o Hepatite B tem relação com a poliarterite nodosa o Medicamentos como o propiltiouracil. o Neoplasia como o linfoma. A vasculite cutânea pode ser a apresentação inicial do linfoma. Em 2012, decidiu-se classificar as vasculites de acordo com o tamanho dos vasos: o Vasculite de grandes vasos: Arterite Takayasu e arterite de células gigantes. o Vasculite de médios vasos: Doença de Kawasaki e poliarterite nodosa. Mayara Medeiros o Vasculite de pequenos vasos: Poliangiíte microscópica, granulomatose com poliangiíte (de Wegener), poliangiíte granulomatosa eosinofílica (Churg- Strauss), vasculite crioglobulinêmica, vasculite por IgA, vasculite urticariforme. ▪ A poliangiíte granulomatosa de Wegener pode acometer principalmente o interstício dos órgãos que estão sendo afetados, como os vasos renais, parênquima pulmonar, sendo bastante grave. As vasculites são graves, apesar de serem raras (baixa frequência), o médico generalista precisa ter o conhecimento de todas as vasculites, pois ela pode se apresentar de uma gravidade intensa, necessitando do diagnóstico o mais rápido possível, tanto de grandes vasos quanto de pequenos vasos. A vasculite, independente do tamanho de vaso, precisa ser diagnosticada o mais rápido possível para que ocorra uma intervenção, pois elas são graves. Vasculite de grandes vasos: Artérias de grande calibre: aorta e ramos primários. Arterite de Takayasu Arterite de células gigantes (há o acometimento da artéria temporal) De modo geral, há um processo inflamatório, de instalação de forma subaguda e que esses pacientes apresentam como sintomas gerais febre, fadiga, astenia, perda de peso, sintomas constitucionais. Vasculites de médios vasos: Artérias viscerais e ramos. Comuns aneurismas e estenoses inflamatórias o Aneurisma de artérias coronarianas Poliarterite nodosa: estenose inflamatória Doença de Kawasaki Tanto a dilatação de vasos quanto a cicatrização podem provocar a estenose, como consequente isquemia. Vasculite de pequenos vasos: Artérias intraparenquimatosas, arteríolas, capilares e vênulas. Artérias de médio calibre e veias podem ser afetadas: pode haver sobreposição, pegando não somente pequenos vasos, mas afetando, também, artérias de médio calibre. Vasculites associadas ao ANCA Vasculites por imunocomplexos Vasculites associadas ao ANCA: o Fator desencadeante desconhecido, mas algo funciona como gatilho e provoca a ativação de neutrófilos e exposição das proteínas plasmáticas, como a Mieloperoxidase (MPO) e a proteinase-3 (PR3) o Essas proteínas plasmáticas interagem com anticorpos circulantes, provocando inflamação e lesão endotelial. o Há o envolvimento de células B (produzem o ANCA), neutrófilos, subpopulação de células T (Th1 e Th17), componentes da via alternativa do complemento. Vasculite de vasos variáveis: Síndrome de Behçet Caracteriza-se clinicamente pela presença de úlceras orais, úlceras genitais, lesões cutâneas, envolvimento Mayara Medeiros de grandes vasos, podendo acometer o sistema nervoso central. Vasculite de órgão único: Acomete vasos de qualquer tamanho. Vasculite do sistema nervoso Vasculite cutânea de pequenos vasos Arterite testicular Vasculites associadas a doenças sistêmicas: Vasculite reumatoide Vasculite relacionada ao Lúpus Vasculites associadas com etiologia provável: Vasculite associada a hepatite B Vasculite crioglobulinêmica associada à hepatite C. Investigação inicial – suspeita de vasculite: Diante de um paciente com manifestações sistêmicas, sem causa infecciosa definida, investigar: Hematologia: o Hemograma ▪ Na poliangiíte granulomatosa eosinofílica, encontra-se eosinofilia acima de 30% o VHS ▪ Apesar de ser uma prova inespecífica, geralmente está elevado, em especial na arterite de células gigantes, sendo uma das características para diagnóstico. o Coagulograma Bioquímica: o Ureia / Creatinina o Eletrólitos o EFP o Avaliação hepática o PCR o Proteinúria 24h Imunologia: ajudar a definir se uma vasculite primária relacionada a imunocomplexos ou ANCA ou se vasculite secundária relacionada ao Lúpus e diagnóstico diferencial da SAF. o C3 / C4 o ANCA o Imunoglobulinas o FAN o Anticardiolipina o Crioglobulinas Infecções: o Hepatite B e C ▪ Poliarterite nodosa e crioglobulinemia o Sífilis o HIV Radiologia: o Radiografia de tórax Investigação adicional – órgão específico: Vias aéreas superiores o Paciente com manifestações constitucionais, mas com uma história que parece uma sinusite de repetição ou asma, só que refratária à terapia convencional (poliangiíte granulomatosa: processo caracteristicamente inflamatório de vias aéreas superiores e pulmão). o Avaliação otorrinolaringologista o Nasofibroscopia e biopsia o TC de seios da face Olhos o Avaliação oftalmologista o TC ou RM da órbita Tórax o TC o Broncoscopia com biopsia o PFP Coração: principalmente na doença de Kawasaki o Ecocardiograma o RM cardíaca o Angiotomografia das coronárias Rins: principalmente em acometimento de pequenos vasos o USG e biopsia renal Sistema nervoso o RM do encéfalo o ENMG o Liquor o Angiografia Mayara Medeiros Manifestações laboratoriais: Anemia normo-normo ou hipocrômica, leucocitose neutrofílica e trombocitose, além de aumento do VHS e PCR; Anticorpo anticitoplasma de neutrófilos (ANCA): o Padrões citoplasmáticos (c-ANCA): anti-PR3 (antiproteinase 3). o Perinuclear (p-ANCA): anti-MPO (anti-mieloperoxidase) o c-ANCA: relativamente específico para poliangiíte granulomatosa o p-ANCA: pode ser encontrado em inflamações de pequenos vasos, na GNRP, nas DII, no LES, na AR e no HIV. Possui baixa especificidade. Diagnóstico: Definição da síndrome específica: o Anamnese, exame físico e exames complementares. Confirmação histopatológica ou, quando isso não for factível (ex: inflamação na aorta), angiorressonância. Angiorressonância: dilatações em alternância com estenoses, avaliação da parede do vaso. A arteriografia também pode ser utilizada, mas ela vê apenas a luz do vaso, já a angiorressonância avalia a luz do vaso (se há estenose ou dilatação) e a parede do vaso, sendo então,mais completo e o melhor. No geral, vasculites de grandes e médios vasos, angiorressonância; Vasculites de pequenos vasos: diagnóstico por biópsia. Idades mínimas e máximas com a respectiva média de apresentações das principais vasculites sistêmicas primárias: Granulomatose com poliangiíte: Anteriormente conhecida como granulomatose de Wegener; Vasculite necrotizantes granulomatosa com predileção pelo trato respiratório e, geralmente, pelos rins; Sem predomínio de sexo, idade média de 40 anos. Acometimento exuberante dos tratos respiratórios superior (95%) e inferior (90%) Sinusite, rinite, otite média, epistaxe devido a ulcerações de septo e palato, “nariz em sela”, tosse, hemoptise, dor pleurítica, infiltrados, nódulos e cavitações. É uma vasculite grave que precisa de um diagnóstico precoce e de uma intervenção o mais precoce possível. Paciente com história de sinusopatia refratária à terapia convencional, recidivante, pulmão com presença de granuloma fixo, sintomas constitucionais acentuados, pode ser granulomatose com poliangiíte. Como diagnostico diferencial pode-se pensar em tuberculose. Mayara Medeiros Critérios diagnósticos do American College of Rheumatology para granulomatose com poliangiíte: 1. Inflamação nasal ou oral (úlceras orais, dolorosas ou não ou corrimento nasal sanguinolento); 2. Rx de tórax anormal (nódulos, infiltrados fixos ou cavidades); 3. Sedimento urinário anormal (micro hematúria ou cilindros hemáticos); 4. Inflamação granulomatosa em biopsia (a histologia deve mostrar inflamação granulomatosa em parede arterial, região perivascular ou extravascular de artérias ou arteríolas). Um paciente deve ter pelo menos 2 dos 4 critérios presentes. A presença de 2 ou mais critérios confere 88,2% de sensibilidade e 92% de especificidade. Nesses critérios deve existir ainda a presença do c-ANCA. Obs.: na poliangiíte granulomatosa eosinofílica os infiltrados no Rx não são fixos. Tratamento: o Imunossupressor: pulsoterapia com metilprednisona + ciclofosfamida. o Nos casos refratários pode se usar micofenolato ou rituximabe o Casos graves: pulsoterapia com glicocorticoide o GNRP: plasmaférese. Vasculite por IgA: Vasculite mais comum da infância. Acomete, na maioria das vezes, meninos com idade média de 5 anos; o Idade mínima: 2 anos o Idade máxima: 70 anos o Ápice: entre 2 e 8 anos. Mecanismo de imunidade tipo III. De modo geral, é a menos grave dentre as vasculites, pois tem a característica de ser autolimitada dentre os órgãos que podem ser afetados e evoluir com gravidade (rim, porém não é comum o envolvimento renal na vasculite por IgA). Púrpura palpável não trombocitopenica (quase 100%), predominantemente em MMII e nádegas, sendo obrigatórias para o diagnóstico, em surtos, com intervalo médio de 1 semana e duração entre 3 e 12 semanas. Artralgia / artrite (85%): joelhos e tornozelos, dificuldade ou impossibilidade de deambulação. Pode ocorrer edema subcutâneo de mãos, pés, periorbital, fronte, couro cabeludo, períneo e bolsa escrotal. Dor abdominal (75%): acompanhada de náusea, vômito, diarreia mucossanguinolenta, decorrente da vasculite mucosa. Edemas e hematomas murais podem ser observados. Pode ocorrer hemorragia digestiva e intussuscepção. Hematúria (50% - depósito mesangial de IgA), nefrite por deposição de IgA: geralmente branda e assintomática. Quadro pode variar de alterações nefríticas discretas até glomerulonefrite crescêntica rapidamente progressiva. Causa: deposição de IgA e componentes do complemento no Mayara Medeiros mesângio. Raramente evolui para doença renal grave. Fazer acompanhamento do paciente com sumário de urina. Outras manifestações: nódulos subcutâneos, orquite, miocardite, pancreatite, hemorragia pulmonar e intramuscular, neuropatia periférica. Plaquetometria normal: diagnóstico diferencial com as púrpuras trombocitopênicas; Medidas de suporte. Corticoterapia indicada quando acometimento do SNC e/ou TGI grave e/ou nefrite grave. Diagnóstico: o Tétrade: ▪ Púrpura ▪ Artralgia / artrite ▪ Dor abdominal ▪ Hematúria o Apresentação atípica ocorre em 25% dos casos: critérios que auxiliam: ACR e EULAR/PRES EULAR/PRES (Sociedade europeia de pediatria e contra o reumatismo) o Púrpura ou petéquia (na ausência de trombocitopenia ou coagulopatias) +1 o Dor abdominal difusa – início agudo o Artrite ou artralgia- início agudo o Biópsia – vasculite leucocitoplasmática ou GN proliferativa, demonstrando predominância de depósitos de IgA o Envolvimento renal (hematúria ou proteinúria) Diagnóstico diferencial: o Vasculite cutânea; o Reações a drogas; o Causas de glomerulonefrite; o Doenças associadas à artrite; o Leucemias; o Doenças multissistêmica. Diagnóstico histopatológico: o Principalmente em casos que complicam. o Necrose fibrinóide o Proliferação endotelial o Acúmulo de células inflamatórias o Diagnóstico definitivo, mas muitas vezes fica apenas no diagnóstico clínico. Prognóstico, de modo geral, é bom. É uma doença autolimitada. Tratamento: medicamentos sintomáticos. Se quadro mais intenso, uso de corticoide. Mas na maioria das vezes não precisa fazer uso de imunossupressor, como azatioprina, só se houver comprometimento renal ou outro envolvimento mais intenso. Medidas de suporte: repouso e analgésicos. Acometimento abdominal intenso, nefrite grave e/ou lesão neurológica relacionada a vasculite por IgA → Prednisona 1-2 mg/kg/dia durante 2 semanas. Proteinúria maciça ou GNRP → pulsoterapia com metilprednisolona 30 mg/kg/dia durante 3 dias (Plasmaférese + drogas citotóxicas). Outras intervenções: azatioprina, ciclosporina e gamaglobulina. Doença de Kawasaki: Relativamente comum na criança (não tanto como a vasculite por IgA) Muito grave, necessidade de diagnóstico mais rápido possível. Critérios diagnósticos: o Presença de febre, por mais de 5 dias, associada a 4 dos 5 critérios clínicos a seguir: o Exantema polimorfo o Alterações na cavidade oral: língua em framboesa (ou morango) o Conjuntivite (asséptica, não purulenta) o Alterações das extremidades (lesões eritematosas, descamativas, em região palmar e região plantar) o Adenomegalia cervical (unilateral e intensa) Geralmente o paciente precisa ser internado para que se tenha celeridade na investigação diagnóstica e para que se tenha o tratamento. Mayara Medeiros Esses pacientes podem ter acometimento de coronárias, desenvolvendo aneurismas de coronárias. Necessita fazer ecocardiograma e intervenção precoce com gamaglobulina. Tratamento: o O tratamento utilizado nos pacientes que recebem diagnóstico de DK já é consagrado na literatura, com comprovada redução das complicações da doença. Idealmente, o tratamento deve ser iniciado antes do décimo dia do início da febre, com dose única de 2g/kg de imunoglobulina humana com infusão por 10 a 12 horas e AAS (80-100mg/kg na fase aguda reduzido para 3-5mg/kg/dia após 48 a 72 horas afebril ou 14 dias após início da doença). Arterite de Takayasu: Arterite de grandes vasos Critérios do National Institute of Health (NIH) para avaliação de atividade de doença na arterite de Takayasu: o Queixas sistêmicas, incluindo febre, e queixas musculo esqueléticas (na ausência de outras causas identificadas) o Elevação da velocidade de hemossedimentação o Manifestações de isquemia ou inflamação vascular (claudicação, diminuição ou ausência de pulso, sopro, dor na topografia de grandes vasos, como a carotídea, ou assimetria de pressão arterial nos membros superiores, nos membros inferiores, ou em ambos) o Novasalterações arteriográficas Patogenia: o Inflamação das grandes artérias - causada por uma reação autoimune, mediada por células T direcionadas a componentes da parede do vaso, iniciando a partir da vasa vasorum. o A alteração patológica inicial é uma inflamação granulomatosa na adventícia vascular, que invade a camada média, levando a dano, neovascularização e consequente substituição por processo fibroso. o A inflamação arterial causa espessamento da parede vascular, que pode resultar em complicações como estenose arterial e oclusão com isquemia de tecidos supridos pela artéria acometida. o O infiltrado inflamatório é composto por linfócitos natural killer, T helper, T citotóxicos e linfócitos T-gama-delta, que liberam proteases com atividade direcionada para componentes elásticos da camada arterial, principalmente as metaloproteinases 2. 9 e 12. Essas proteases, quando ativadas, contribuem para o Mayara Medeiros enfraquecimento das paredes dos vasos, que, submetidos a altas pressões (aorta torácica, abdominal), evoluem com dilatação vascular e formação de aneurismas em um terço dos pacientes. o A participação da IL-6 e das células Th17 na patogenia da doença tem apresentado destaque na literatura recente. Tratamento: o O tratamento da AT inclui o uso de corticosteroides em altas doses (1- 2 mg/Kg/dia) na fase ativa da doença por um a três meses. Imunossupressores são utilizados em caso de reativação da doença, após o desmame dos corticosteroides e quando não há resposta adequada a estes. o O metotrexato (MTX) e a azatioprina passaram a ser utilizados como alternativa de imunossupressão na AT.
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