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Análise Textual matéria complementar METONÍMIA AMPLITUDE E PRECISÃO

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METONÍMIA: AMPLITUDE E PRECISÃO
Afrânio da Silva Garcia (UERJ)
INTRODUÇÃO
A metonímia não tem, até o momento, sido abordado nos compêndios de gramática e semântica com a grandeza que merece, ficando os leitores e estudantes com a impressão de que ela ésimplesmente uma forma assemelhada à metáfora, porém menos importante.
Para isto muito contribui a displicência com que a metonímia é exemplificada, geralmente por meio de relações metonímicas muito óbvias, como continente pelo conteúdo, lugar pelo produto, marca pelo produto, etc.
Com este tipo de abordagem simplista para alunos pouco aquinhoados, a riqueza expressiva da metonímia fica perdida para o estudante ou leitor que não são conhecedores profundos do tema, fazendo com que este geralmente não preste atenção neste valioso recurso estilístico nas suas análises literárias e nas suas redações.
O objetivo deste trabalho é justamente resgatar o extremo valor estilístico da metonímia, sua amplitude de processos e representações e a precisão estilística eretórica decorrente da sua utilização criteriosa, habilitando os estudantes a fazerem análises semânticas e literárias mais minuciosas e a elaborarem textos mais efetivos e belos.
A METONÍMIA COMO PROCESSO
O processo de elaboração da metonímia assemelha-se, mas não se confunde, ao processo de elaboração da metáfora. Podemos definir a metáfora como uma relação de similaridade entre duas palavras ou expressões, como uma comparação implícita, sem a presença do elemento comparativo (o que a diferencia do símile ou comparação, em que este elemento comparativo está presente). Já a metonímia pode ser definida como uma relação de contigüidade, de aproximação, em que parte do conteúdo semântico de uma palavra ou expressão, ou um conteúdo semântico associado a estapalavra ou expressão, é relacionado a outra palavra ou expressão, também numa comparação implícita, só que parcial (entre um todo significativo e um traço significativo de outro todo significativo), ou numa relação de substituição comparativa, em que um traço significativo de uma palavra ou expressão representa toda a palavra ou expressão.
Como podemos ver, ainda que a metonímia não tenha, muitas vezes, a expressividade da metáfora, sua amplitude temática e a imensa variedade dos seus processos de elaboração, tornam-na muito mais freqüente e, conseqüentemente, passível de uso estilístico do que a metáfora. Além disso, como pretendemos demonstrar adiante, vários tipos de metonímias são extremamente expressivos e vêm sendo usados com maestria pelos grandes escritores e artistas com efeitos admiráveis.
TIPOS DE METONÍMIA
Existe uma infinidade de processos de elaboração de metonímias. Daremos a seguir uma lista bastante extensa desses processos, seguidos dos respectivos exemplos (embora haja muitos outros processos que nos escapam ou não cabem no espaço limitado desta comunicação), para que os leitores se dêem conta do enorme espectro de processos de elaboração e da imensa variedade de metonímias resultantes possíveis. Dividiremos nossa lista em duas partes: metonímias de baixa expressividade (praticamente as únicas citadas nas gramáticas e compêndios sobre língua portuguesa) e metonímias de alta expressividade (aquelas de grande valor literário).
A) Metonímias de baixa expressividade
a) Lugar pela coisa ou pessoa – nomeia-se ou indica-se um ser pelo lugar onde ele ocorre ou é produzido.
1) Por que será que todo garçom é paraíba? (nordestino, substituído pelo nome de um dos estados do Nordeste)
2) Adoro tomar um porto. (um tipo de vinho produzido na regiãodo Porto)
b) Marca pela coisa ou produto – nomeia-se ou indica-se um produto pela sua marca, que às vezes pode até indicar produtos similares de outras marcas.
3) Vamos tomar umas brahmas? (uma marca de cerveja, que tanto pode ser usada para indicar a cerveja dessa marca, como cerveja de um modo geral)
4) Você viu onde está minha gilete? (a marca mais famosa de lâmina de barbear, que tanto pode ser usada para indicar uma lâmina dessa marca, como lâmina de barbear em geral)
c) Continente pelo conteúdo –nomeia-se ou indica-se uma determinada coisa ou substância pelo seu continente (aquilo que a contém).
5) Quantos copos você bebeu? (indicando genericamente quantos copos de bebida alcoólica ou, dependendo do contexto da situação, quantos copos de alguma bebida específica)
6) Ele comeu dois pratos. (na verdade, ele comeu a comida que havia em dois pratos)
d) Matéria ou substância pela coisa – nomeia-se ou indica-se uma determinada coisa pela matéria ou substância de que ela é feita.
7) O assaltante mostrou o ferro para mim. (a palavra ferro indica revólver, feito de metal ou ferro)
8) Não tenho nem uma pratinha para te dar. (em que pratinha indica moedinha, feita de prata ou metal prateado)
e) Autor ou inventor pela obra ou produto – nomeia-se ou indica-se uma determinada obra ou produto pelo nome de seu autor ou inventor.
9) Minha esposa adora Dostoievsky. (em que o nome do escritor Dostoievsky é usado para indicar sua obra)
10) Graham Bell aproximou as pessoas. (não foi o inventor Graham Bell que aproximou as pessoas, mas seu invento, o telefone)
f) Abstrato pelo concreto – nomeia-se ou indica-se um ser ou qualidade concretos por meio do substantivo abstrato a eles relacionado.
11) Gentileza gera gentileza. (na verdade, o ato concreto de ser gentilgerará uma disposição do outro para também ser gentil)
12) A juventude não pensa nos seus atos. (não é a juventude, mas os jovens que não pensam)
g) Específico pelo geral ou vice-versa – nomeia-se ou indica-se o ser específico no lugar do geral ou o sergeral no lugar do ser específico.
13) Precisamos contratar uma Maria. (o nome próprio Maria, por ser muito comum entre as empregadas domésticas, passa a designá-las)
14) Vou lutar pela criança e pelo velho. (na verdade, não é pela criança e pelo velho nosingular, mas pelas crianças e velhos em geral)
15) Ele era um verdadeiro mecenas. (em que o nome próprio Mecenas, nome de um grande incentivador das artes na Grécia antiga, serve para indicar um patrono das artes)
h) Associações de forma ou aparência –dois termos são aproximados metonimicamente por terem forma ou aparência semelhantes.
16) Puxou o cão da arma. (as armas antigas tinham um mecanismo que se assemelhava à cabeça de um cão vista de perfil)
17) Vai do branco ou vai do preto? (nas bocas-de-fumo, a cocaína é chamada de branco e a maconha é chamada de preto, numa metonímia de aparência)
B) Metonímias de alta expressividade
h) Efeito pela causa – nomeia-se ou indica-se a causa por meio de seu efeito.
18) Aninha lhe causava um tremor estranho. (a palavra tremor está sendo usada no lugar de sua causa; emoção, paixão)
19) A netinha era as alegrias do avô. (querendo dizer que o avô se enchia de alegria com as brincadeiras a contemplação da netinha)
20) Ganharás teu sustento com o suor do seurosto. (em que o efeito, suor, designa a causa, trabalho)
i) Símbolo pela coisa ou entidade simbolizada – nomeia-se ou indica-se uma coisa ou entidade por meio da imagem, coisa ou pessoa que a simboliza.
21) Os padres pedófilos enlameiam a Cruz. (em quecruz representa, simbolicamente, a Igreja Católica)
22) Meu coração é verde-amarelo. (em que verde-amarelo representa, simbolicamente, por serem as cores da nossa bandeira, brasileiro)
23) Ele foi vítima do latifúndio. (em que latifúndio é um símbolo docapitalismo selvagem, da exploração do homem pelo homem)
j) Parte pelo todo ou vice-versa – em que se utiliza o termo ou expressão que designa uma parte para indicar o todo ou vice-versa.
24) Os velhos Olhos Azuis estão de volta. (em que se usa uma partedo corpo, os olhos azuis, para indicar o todo, no caso, Frank Sinatra)
25) São Paulo nunca dorme. (neste caso, temos o todo, a cidade de São Paulo, substituindo a parte, os habitantes, a indústria e o comércio de São Paulo)
26) Precisamos garantir um teto e um pedaço de pão. (ondetemos dois exemplos de metonímia de parte pelo todo, em que teto representa moradia e pão representa alimento)
l) Instrumento pela coisa ou entidade – nomeia-se ou indica-se uma coisa ou entidade por meio do instrumento utilizado.
27) A pena é mais poderosa do que a espada. (respectivamente, a educação ou o saber, cujo instrumento é a pena ou caneta, e a força ou opressão, cujo instrumento são as armas, como a espada)
28) O comunismo tem como símbolo a foice e o martelo. (temos aí duas metonímias de instrumento pela entidade, em que a foice representa o trabalho ou trabalhador do campo e o martelo representa o trabalho ou trabalhador da cidade)
m) Associação entre funções – um termo é usado em lugar do outro por uma semelhança de funções.
29) Ele é um aviãozinho. (o termo avião indica o pequeno traficante que sobe e desce o morro para buscar drogas, à semelhança do que ocorre com os aviões)
30) Olha lá aquele papagaio-de-pirata. (nos livros de aventura, muitos piratas sãodescritos como carregando um papagaio nos ombros; atualmente, o termo é usado para quem gosta de ser fotografado junto a celebridades)
n) Característica pela coisa, pessoa ou entidade – nomeia-se ou indica-se uma coisa, pessoa ou entidade por meio de alguma característica marcante. Pode ser um atributo físico (menor expressividade) ou algum traço de caráter ou feito característico (maior expressividade).
31) Vamos ao bar do China ou do Português? (nesse caso, duas pessoas específicas são indicadas por umacaracterística: um por ter vindo da China, outro por ser português)
32) Acostuma-te à lama que te espera. (o termo lama, característica de lugares inóspitos e miseráveis, funciona como uma metonímia da desgraça, da decadência)
33) Bicho esquisito que todo mês sangra (uma metonímia muito expressiva de característica pelo ser, designando a mulher)
34) O Cavaleiro de Triste Figura (Dom Quixote, ao insistir no ideal anacrônico da Cavalaria, exibe uma figura melancólica para os demais, o que justifica sua denominação por uma metonímia de característica pelo ser)
o) Outros tipos de metonímia – em alguns casos, o processo de elaboração de metonímias é por demais complexo, envolvendo vários dos processos acima citados ou outros, como podemos ver nos exemplos abaixo:
35) Essa mulher é um avião. (numa perspectiva mais vulgar, poderíamos associá-la à excitação sexual, mas o Autor acha que sua origem é bem mais sutil, prendendo-se ao fato de uma mulher bonita despertar o que há de mais elevado no ser humano, fazendo-o voar)
36) Pé-de-moleque (metonímia de aparência, visto que a sola do pé de um moleque é normalmente escura, suja, e cheia de calombos)
37) Comer capim pela raiz (metonímia de efeito pela causa, já que uma pessoa enterrada estaria com a boca à alturadas raízes do capim)
38) Bambambã (metonímia de natureza onomatopaica, reproduz o ruído de socos na mesa, muito comum entre os chefes de outrora, antes das leis trabalhistas)
METONÍMIAS MAGISTRAIS
Para encerrar, gostaria de citar alguns exemplos magistrais de utilização de metonímias na literatura e em letras de músicas.
a) Em Confidências do Itabirano, Carlos Drummond de Andrade emprega a seguinte antítese baseada em metonímias:
Tive ouro, tive gado, tive fazendas
Hoje sou funcionário público
paraenfatizar a diferença entre seu poder de outrora (através de metonímias do poder financeiro: ouro, rural: gado, e territorial: fazendas) e sua falta de poder atual (metonimizada em funcionário público, aquele que trabalha para todos os outros).
b) Em Brasil de Cazuza, temos a metonímia mais contundente da nossa música;
Meu cartão de crédito é uma navalha
querendo dizer que, para uma determinada camada da população, a única oportunidade de conseguir dinheiro é por meio do assalto, metonimizado em navalha.
c) Em Rosa de Hiroxima de Vinicius de Moraes, temos a excelente metonímia de associação de funções:
Pensem nas mulheres, rotas alteradas
em que se afirma, implicitamente, que as mulheres têm uma rota a cumprir, a maternidade, a qual não poderá mais serseguida pelas mulheres atingidas pela exposição à radioatividade em Hiroxima.
d) Em Quereres de Caetano Veloso, encontramos um emprego metonímias como parte de antíteses, como nos quatro versos abaixo:
Onde queres revólver, sou coqueiro
Onde queres Leblon sou Pernambuco
Onde queres o sim e o não, talvez
Onde queres cowboy, eu sou chinês
em que temos uma metonímia de violência: revólver, opondo-se a uma metonímia de tranqüilidade: coqueiro; uma metonímia de sofisticação: Leblon, opondo-se a umametonímia de rusticidade: Pernambuco; uma metonímia de decisão: o sim e o não, opondo-se a uma metonímia de dúvida: talvez; e uma metonímia de capitalismo, Ocidente: cowboy, opondo-se a uma metonímia de comunismo, Oriente: chinês.

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