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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 2 SAÚDE COLETIVA ..................................................................................... 5 2.1 Conceito de doença.............................................................................. 6 2.2 Conceito de Prevenção ........................................................................ 6 2.3 Processo saúde-doença ....................................................................... 7 2.4 Vigilância em Saúde Coletiva ............................................................... 7 2.5 Quadro sanitário brasileiro e condições de vida ................................... 9 3 ASPECTOS HISTÓRICOS DA PROMOÇÃO DA SAÚDE ........................ 10 3.1 Conferências Internacionais sobre Promoção da Saúde .................... 13 4 ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÃO DAS AÇÕES DO SISTEMA DE SAÚDE E IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE SAÚDE NOS MUNICÍPIOS ........ 20 4.1 SUS .................................................................................................... 24 4.2 Princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) .................................... 25 4.3 Vigilância em Saúde ........................................................................... 25 4.4 Vigilância epidemiológica ................................................................... 28 5 MEDIDAS DE CONTROLE E PREVENÇÃO EM VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ................................................................................................... 29 5.1 Investigação epidemiológica .............................................................. 30 5.2 As medidas de precaução em relação à transmissão de doenças ..... 31 6 PRINCIPAIS INDICADORES DE SAÚDE COLETIVA .............................. 31 6.1 Morbidade .......................................................................................... 32 6.2 Mortalidade ......................................................................................... 33 6.3 Letalidade ........................................................................................... 33 7 DOENÇAS PREVENÍVEIS MEDIANTE VACINAÇÃO .............................. 34 7.1 Influenza (gripe) ................................................................................. 34 7.2 Covid-19 ............................................................................................. 35 3 7.3 Doenças pneumocócica ..................................................................... 38 7.4 Hepatites ............................................................................................ 39 7.5 Poliomielite ......................................................................................... 40 7.6 Tétano ................................................................................................ 40 7.7 Tétano neonatal ................................................................................. 41 7.8 Coqueluche ........................................................................................ 41 7.9 Difteria ................................................................................................ 43 7.10 Doença Meningocócica ................................................................... 44 7.11 Doenças causadas por Hemófilo B (HIB) ........................................ 45 7.12 Febre amarela ................................................................................. 46 7.13 Rubéola ........................................................................................... 47 7.14 Sarampo.......................................................................................... 48 7.15 Caxumba ......................................................................................... 49 7.16 Varicela ........................................................................................... 50 7.17 Raiva humana ................................................................................. 51 7.18 Tuberculose .................................................................................... 52 7.19 Rotavirose ....................................................................................... 53 7.20 Cólera ............................................................................................. 54 7.21 Febre Tifóide ................................................................................... 54 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA ............................................................ 56 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro, quase improvável, um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 SAÚDE COLETIVA Fonte: cursosextensao.br Conceito de Saúde Para SIQUEIRA e MORAES (2009, p. 2.116), a saúde define-se “no contexto histórico da sociedade e em seu processo de desenvolvimento, englobando as condições de alimentação, habitação, educação, renda, ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde”. E para LOPES (2005, p. 1.595), saúde é “o conjunto de condições integrais e coletivas de existência, influenciado pelo contexto político, socioeconômico, cultural e ambiental” A definição de saúde de CANGUILHEM (2012), citado por DE SOUZA E SILVA (2019), busca entender como a vida vem sendo vivida, fazendo uma articulação do cotidiano com as regras da sociedade. Conceito de Saúde Coletiva De acordo com PAIM (2000), citado por OSMO (2015), a Saúde Coletiva é caracterizada como “campo de conhecimento e âmbito próprio de práticas”, e esse campo de conhecimento é de natureza interdisciplinar, cujas disciplinas básicas são a epidemiologia, o planejamento e administração de saúde e as ciências sociais em saúde. Sempre em construção e muito podendo caminhar na produção e em termos de reflexão sobre a própria identidade, a Saúde Coletiva, como outros, constitui um “campo vivo”. 6 A Saúde Coletiva teve início no final da década de 1970, no período em que o Brasil passava pela ditadura militar e veio vinculada à luta pela democracia e também ao movimento da Reforma Sanitária. A medicina social e o preventivismo também influenciaram para sua constituição (OSMO, 2015). 2.1 Conceito de doença A doença não pode ser compreendida apenas por meio das medições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado da doença é o sofrimento, a dor, o prazer, enfim os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoece (BRÊTAS, 2006, apud VIANNA, 2015). “Para EVANS & STODDART (2003), citado por VIANNA (2015), a doença não é mais que um constructo que guarda relação com o sofrimento, com o mal, mas não lhe corresponde integralmente. Quadros clínicos semelhantes, ou seja, com os mesmos parâmetros biológicos, prognóstico e implicaçõespara o tratamento, podem afetar pessoas diferentes de forma distinta, resultando em diferentes manifestações de sintomas e desconforto, com comprometimento diferenciado de suas habilidades de atuar em sociedade. O conhecimento clínico pretende balizar a aplicação apropriada do conhecimento e da tecnologia, o que implica que seja formulado nesses termos. No entanto, do ponto de vista do bem-estar individual e do desempenho social, a percepção individual sobre a saúde é que conta. 2.2 Conceito de Prevenção Segundo VIANNA (2015), o conceito de prevenção é definido como “ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso posterior da doença”. A prevenção apresenta-se em três fases. A prevenção primária é a realizada no período de pré-patogênese. O conceito de promoção da saúde aparece como um dos níveis da prevenção primária, definido como “medidas destinadas a desenvolver uma saúde ótima”. Um segundo nível da prevenção primária seria a proteção específica “contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio ambiente”. A fase da prevenção secundária também se apresenta em dois níveis: o primeiro, diagnóstico e tratamento precoce e o segundo, limitação da invalidez. Por fim, a prevenção terciária que diz respeito a ações de reabilitação. PREVENÇÃO PRIMÁRIA: Promoção da Saúde- Proteção Específica; 7 PREVENÇÃO SECUNDÁRIA: Diagnóstico e Tratamento Precoce- Limitação da Invalidez; PREVENÇÃO TERCIÁRIA: Reabilitação (ALBUQUERQUE, 2002, apud VIANNA, 2015). 2.3 Processo saúde-doença De acordo com VIANNA (2015), o processo saúde-doença busca a promoção da saúde, sendo um dos pontos centrais para os profissionais da saúde. Vários modelos surgiram sobre a compreensão da saúde com o intuito de se compreender o processo saúde - doença como o modelo epidemiológico. São três os tipos de componentes: O agente, hospedeiro e o meio. Explicações sobre a mortalidade e a morbidade obedecem a um gradiente que atravessa as classes socioeconômicas, sendo as classes com menor renda, sujeitas a piores condições a saúde. O ambiente é o local onde a pessoa se encontra com as coisas ao seu redor exercendo influências, sendo o mesmo afetado de várias formas. “Dessa maneira, o processo saúde-doença está diretamente atrelado à forma como o ser humano, no decorrer de sua existência, foi se apropriando da natureza para transformá-la, buscando o atendimento às suas necessidades. ” (GUALDA, 2004, apud BRASIL, 2012). 2.4 Vigilância em Saúde Coletiva O Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, ao garantir os direitos fundamentais do cidadão previstos na Constituição Federal de 1988, estabeleceu uma conquista sem precedentes para o País. Desde sua criação, muitas mudanças têm- se verificado no campo das políticas públicas de saúde com resultados importantes, como, por exemplo, a redução da taxa de mortalidade infantil, o controle de doenças infecciosas, a implementação de programas considerados exitosos, tais como o de imunização e o de Doenças Sexualmente Transmissíveis/Acquired Immunological Deficiency Syndrome (DST/Aids) - este último, reconhecido internacionalmente - e da Estratégia Saúde da Família (ESF), como indução para a reorientação do modelo de atenção à saúde (MENICUCCI, 2009, apud DE OLIVEIRA, 2015). 8 Se por um lado a implementação dessas estratégias, agregada ao complexo movimento de reforma política e administrativa no SUS, representou um avanço na tentativa de produzir intervenções mais efetivas, por outro, reforçou ainda mais o processo de fragmentação das ações de saúde, na medida em que muitas tiveram um cunho de centralização política, e intensificou, no campo da promoção e da proteção à saúde, um desperdício do seu extraordinário potencial de atuação (GONDIM, 2008, apud DE OLIVEIRA, 2015). Segundo DE OLIVEIRA (2015), a complexidade do cenário epidemiológico atual, caracterizado pela tripla carga de doenças na população - permanência de doenças agudas, aumento do peso relativo às condições crônicas e às causas externas -, é decorrente, também, dessa forma de gestão das práticas sanitárias, a qual necessita de maior organicidade para desencadear ações oportunas que auxiliem na redução ou eliminação dos riscos à saúde e ampliem a capacidade de resposta do sistema. Uma das propostas surgiu no campo da vigilância - conceito central para a teoria e a prática da saúde pública. Nessa perspectiva, o modelo baseado na Vigilância em Saúde, cuja tônica é a busca de respostas mais efetivas para as demandas e os problemas de saúde, propõe-se a trabalhar a lógica de um conjunto articulado e integrado de ações, que assumem configurações específicas de acordo com a situação de saúde da população em cada território transcendendo os espaços institucionalizados do sistema de serviços de saúde. Segundo a concepção sistematizada por Paim, buscou-se, com essa noção, uma interlocução maior entre “controle de causas”, “controle de riscos” e “controle de danos” por meio da redefinição do objeto, dos meios de trabalho, das atividades e das relações técnicas e sociais (ARREAZA, 2010, apud DE OLIVEIRA, 2015). A construção dessa proposta trouxe para o cenário a ênfase sobre a organização das diferentes especialidades de Vigilância em Saúde existentes no Brasil, em consonância com um sistema único e coordenado, capaz de enfrentar a complexidade do quadro sanitário brasileiro de forma mais resolutiva, segundo DE OLIVEIRA (2015). Esse enfoque pressupõe uma abordagem mais articulada entre as vigilâncias epidemiológica, ambiental e sanitária e pode ser considerada uma tentativa de desvincular a atuação por agravos e por programas, de modo a enfrentar a superposição de ações direcionadas para o controle do hospedeiro, do agente 9 etiológico, do meio ambiente ou da produção e comercialização de fármacos e alimentos. A adoção do conceito de Vigilância em Saúde procura simbolizar um enfoque ampliado, pautado na indução de uma organização de práticas que pretendem se configurar de forma mais sistêmica por meio da incorporação de contribuições da epidemiologia, da geografia, do planejamento urbano, da epidemiologia e das ciências sociais em saúde, produzindo e utilizando de forma compartilhada a informação e a comunicação, a fim de melhor instrumentalizar a intervenção (SILVA, 2008, apud DE OLIVEIRA, 2015). 2.5 Quadro sanitário brasileiro e condições de vida A vigilância sanitária, ao longo dos anos, teve um escopo de atuação baseado em ações normativas, cujo objeto de ação é constituído pelos ambientes que direta ou indiretamente interferem no processo saúde-doença; no entanto, existem controvérsias em relação ao seu campo de atuação na saúde pública. Alguns autores julgam que essa prática não apresenta as características essenciais da concepção moderna de vigilância sanitária por ter as atividades de regulação, de controle e de fiscalização sanitária como núcleo central. Contudo, não se pode esquecer que as atividades da vigilância sanitária surgiram da necessidade de proteção da população em decorrência da propagação de doenças transmissíveis nos agrupamentos urbanos com o objetivo de eliminar situações de risco à saúde. Portanto, seus métodos de intervenção não se restringem às ações meramente técnicas, porém têm como eixos propulsores as ações dirigidas ao fortalecimento da sociedade e da cidadania com o propósito da promoção da saúde e da prevenção de danos ou agravos (SILVA JR, 2004). Segundo LUCHEESE (2001) citado DE OLIVEIRA (2015), conceitualmente, a vigilância sanitária é reconhecida: [...] como um conjunto de estratégias institucionais, administrativas, programáticas e sociais, integradas e orientadas por políticas públicas que se destinam a eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde, com base em serviços e em açõesintegrais e essenciais à defesa e à promoção da vida em seu ambiente. 10 A atuação da vigilância sanitária é abrangente, sendo responsável pelo controle de todos os processos - desde a produção ao consumo - dos bens que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde. Essa amplitude de atuação coloca como tônica para a vigilância sanitária que ações gerenciais e sanitárias sejam desenvolvidas por meio de um exercício democrático, participativo e de forma articulada, de modo a garantir a qualidade dos produtos, dos serviços e dos ambientes, aspectos que são fundamentais para a saúde da população (DE SETA, 2007). A implantação de ações voltadas para vigilância sanitária surgiu no Brasil com a chegada da Corte Portuguesa, em 1808, e tinham a finalidade de efetuar o controle sanitário dos produtos a serem comercializados e consumidos, além dos estabelecimentos comerciais; de combater a propagação de doenças, principalmente as epidêmicas; de resolver questões de saneamento; e de fiscalizar o exercício profissional na área da saúde (DE SETA, 2007). No ano de 1832, a sua atuação ganhou contornos mais definidos com o código de posturas do Rio de Janeiro, no qual se instituíram normas para o exercício da medicina e da farmácia, bem como para o controle de medicamentos e de alimentos. Cerca de sessenta anos depois, mais precisamente em 1889, regularizou-se o serviço de polícia sanitária nas administrações regionais. Cabe destacar que foi somente a partir da década de 1970 que a vigilância sanitária começou a se apresentar de maneira mais visível ao setor de saúde com a criação da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS/MS) durante o processo de reformulação do Ministério da Saúde. Foi também nesse período que ocorreu a modificação da terminologia 'fiscalização' para 'vigilância', em que a vigilância sanitária ampliou o seu campo de ação, antes destinado principalmente ao controle e punição (COSTA, 2008, apud DE OLIVEIRA, 2015). 3 ASPECTOS HISTÓRICOS DA PROMOÇÃO DA SAÚDE De acordo com os estudos de BUSS et al. (2020), a Promoção da saúde, como vem sendo entendida nos últimos 30-35 anos, representa uma estratégia promissora para enfrentar os problemas de saúde que afetam as populações humanas. Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus determinantes, essa estratégia propõe a articulação de saberes técnicos e populares, e a mobilização de 11 recursos institucionais e comunitários, públicos e privados a favor da qualidade de vida. Fonte: culturaesaude.med.br Decorridos pouco mais de trinta anos da divulgação da Carta de Ottawa, um dos documentos fundadores do conceito contemporâneo de promoção da saúde, esse termo ficou associado a um conjunto de valores: qualidade de vida, solidariedade, equidade, democracia, cidadania, desenvolvimento, participação e parceria, entre outros. Refere-se também a uma combinação de estratégias: do Estado (políticas públicas saudáveis), da comunidade (reforço da ação comunitária), dos indivíduos (desenvolvimento de habilidades pessoais), do sistema de saúde (reorientação das estratégias) e de parcerias intersetoriais. Promoção da saúde trabalha com a ideia de responsabilidade múltipla pelos problemas e pelas soluções (BRASIL, 1996, apud BUSS et al., 2020). A promoção da saúde reage à acentuada medicalização da vida social e é uma resposta setorial articuladora de diversos recursos técnicos e posições ideológicas. Embora o termo tenha sido usado a princípio para caracterizar um nível de atenção da medicina preventiva, seu significado foi mudando e passou a representar também um enfoque político e técnico em torno do processo saúde-doença-cuidado (BRASIL, 1996, apud BUSS et al., 2020). O conceito moderno de promoção da saúde se desenvolveu, de forma mais vigorosa nos últimos trinta anos, nos países desenvolvidos, particularmente no Canadá, Estados Unidos e países da Europa Ocidental. Nove Conferências Internacionais sobre o tema, realizadas nos últimos 34 anos (em Ottawa, Adelaide, Sundsvall, Jacarta, México, Bangkok, Nairóbi, Helsinki e Xangai) aprofundaram suas bases conceituais e políticas. Na América Latina, em 1992, realizou-se a Conferência 12 Internacional de Promoção da Saúde, trazendo formalmente o tema para o contexto sub-regional (OPAS, 1993). SIGERIST (1956) apud ROSEN (1979), citados por BUSS (2020), foi um dos primeiros autores a usar o termo, quando definiu as quatro tarefas essenciais da medicina: promoção da saúde, prevenção de doenças, recuperação dos enfermos e sua reabilitação. O autor afirmou que a saúde se promove proporcionando condições de vida decentes, boas condições de trabalho, educação, cultura física e formas de lazer e descanso, para o que pediu o esforço coordenado de políticos, setores sindicais e empresariais, educadores e médicos. LEAVELL & CLARK (1976), citados por BUSS (2020), utilizaram o conceito de promoção da saúde ao desenvolverem o modelo da história natural da doença, propondo três níveis e cinco etapas nas quais se poderiam aplicar medidas preventivas. Prevenção primária, com medidas destinadas a desenvolver a saúde como proteção específica do ser humano contra agentes patológicos ou por meio de barreiras ambientais. A educação em saúde é elemento importante para esse objetivo, assim como: bom padrão de nutrição; desenvolvimento adequado da personalidade; educação dos pais; educação sexual e aconselhamento pré-nupcial; moradia adequada; recreação; condições favoráveis no lar e no trabalho; exames de saúde periódicos e aconselhamento e contato dos médicos com seus pacientes. Promoção da saúde, nos moldes citados revelou-se insuficiente para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis. Com a segunda revolução epidemiológica HARTZ (2017) relata que as estratégias de cuidado passaram a associar-se a medidas preventivas sobre o ambiente físico e sobre os estilos de vida, e não exclusivamente à situação dos indivíduos e das famílias. As diversas conceituações de promoção da saúde podem ser reunidas em dois grandes grupos. O primeiro diz respeito a atividades dirigidas à transformação dos comportamentos individuais, localizando-os no seio das famílias e nos ambientes comunitários. Nesse caso, os programas tendem a concentrar-se em componentes educativos relacionados a riscos comportamentais passíveis de mudanças e sob controle das pessoas, como o hábito de fumar, a dieta gordurosa, o sedentarismo e a direção perigosa. O segundo grupo enfatiza o papel protagonista dos determinantes gerais sobre as condições de saúde e se sustenta no entendimento de um amplo espectro de 13 fatores como alimentação, habitação e saneamento; condições de trabalho; oportunidades de educação ao longo da vida; ambiente físico; apoio social para famílias e indivíduos; estilo de vida responsável; e cuidados de saúde. As estratégias são consideradas fruto de políticas e de condições favoráveis ao desenvolvimento da saúde por meio de escolhas saudáveis e reforço na capacidade de ação dos indivíduos e das comunidades. Ele surgiu formalmente no Canadá, em maio de 1974, com a divulgação do documento A New Perspective on the Health of Canadians, também conhecido como Informe LALONDE (1996) (BUSS et al., 2020). LALONDE (1996) era então ministro da Saúde daquele país. A motivação central do documento parece ter sido política, técnica e econômica, pois visava a enfrentar os custos crescentes da assistência médica, ao mesmo tempo em que se apoiava no questionamento da abordagem exclusivamente médica para as doenças crônicas, com poucos resultados significativos (BUSS et al., 2020). 3.1 Conferências Internacionais sobre Promoção da Saúde Conferência de Ottawa: Com a participação de cerca de 38 países, principalmente do mundo industrializado, a I Conferência Internacional sobre Promoçãoda Saúde teve como principal produto a chamada Carta de Ottawa, que se tornou um termo de referência para as ideias de promoção da saúde em todo o mundo. Por esse motivo a ela será dado um espaço maior do que à descrição das outras (WHO, 2020). A Carta de Ottawa define promoção da saúde como o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo participação no controle deste processo. O documento ressalta que saúde é o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal de um povo, assim como importante dimensão de sua qualidade de vida, transcendendo à ideia de formas sadias de vida. Afirma também que as condições e os requisitos para a saúde são: paz, educação, habitação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade. Defesa da saúde, capacitação e mediação são, segundo a Carta, as três estratégias fundamentais da promoção da saúde (BRASIL, 2002, apud HEIDMANN, 2006). 14 O documento afirma que a finalidade da promoção da saúde é assegurar igualdade de oportunidades e meios para que todas as pessoas realizem seu potencial humano: ambientes favoráveis, acesso à informação, habilidades para viver melhor e possibilidade de fazer escolhas saudáveis. Os profissionais da área social e de saúde têm responsabilidade de contribuir que tal finalidade seja atingida. A Carta de Ottawa propõe cinco campos de ação: [...] elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis; (2) criação de ambientes favoráveis à saúde; reforço da ação comunitária; (4) desenvolvimento de habilidades pessoais; reorientação do sistema de saúde (CZERESNIA, 2003, apud HEIDMANN, 2006). Segundo MOYSÉS (2004), a implementação de políticas públicas saudáveis implica na construção da saúde como prioridade de políticos e dirigentes de todos os setores; materializa-se em legislação, medidas fiscais, taxações e mudanças organizacionais e realiza-se por meio de ações intersetoriais que levem a equidade em saúde, a distribuição equitativa de renda e as políticas sociais inclusivas. Segundo BUSS (2020), para reorientação dos serviços de saúde, a Carta propõe a superação do modelo biomédico, centrado na doença e na assistência médica curativa. Os resultados esperados seriam transformações na organização e financiamento dos sistemas e serviços, dando ênfase à promoção da saúde e à formação dos profissionais já com outra mentalidade. Conferência de Adelaide (1988): XAVIER (2017), aborda com centralidade as políticas públicas saudáveis, sendo a intersetorialidade a estratégia fundamental para sua construção. Essas políticas são trabalhadas através de quatro áreas imediatas: apoio à saúde da mulher, alimentação e nutrição, tabaco e álcool e a criação de ambientes favoráveis. Apesar de não fazer referências diretas aos DSS, afirma que “as iniquidades no campo da saúde têm raízes nas desigualdades existentes na sociedade”, enfatizando a responsabilidade pública pela saúde. Declara que o acesso a produtos e serviços de saúde, à educação em saúde e a criação de ambientes favoráveis poderiam fechar a lacuna de tais desigualdades sociais. Destaca um grupo prioritário para as políticas de acesso à saúde: os desfavorecidos e vulneráveis. Conferência de Sundsvall: Essa III Conferência, realizada na Suécia em 1991, foi a primeira a focar diretamente a interdependência entre saúde e ambiente. Ela ocorreu na efervescência prévia à primeira das grandes iniciativas das Nações Unidas previstas para preparar o mundo para o século XXI: a Conferência das Nações 15 Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92. Ampliava-se, aos poucos, a consciência dos indivíduos, movimentos sociais e governos sobre os riscos de um colapso do planeta diante das inúmeras e profundas agressões ambientais decorrentes do modo de produção e consumo das sociedades contemporâneas. O evento trouxe o tema do ambiente não restrito à dimensão física ou natural, mas também social, econômica, política e cultural. Referiu-se claramente aos espaços onde as pessoas vivem: a comunidade, suas casas, seu trabalho, seus espaços de lazer e as estruturas econômicas e políticas que determinam o acesso aos recursos para viver e tomar decisões (WHO, 2020, apud BUSS, 2020). Sublinhou quatro aspectos: A dimensão social, na qual se incluem normas, costumes e processos sociais que afetam a saúde e alertou para as quebras nas relações tradicionais pelo crescente isolamento social e perda de valores; A dimensão política que requer dos governos a garantia de participação democrática nos processos de decisão e descentralização de recursos e de responsabilidades; A dimensão econômica, que sublinha a necessidade de escalonar recursos para setores sociais, de saúde e desenvolvimento sustentável; A utilização da capacidade e conhecimento das mulheres, inclusive nos setores político e econômico. O documento fez menção: [...]a experiências locais oriundas de todo o mundo, formando cenários para ação na denominada pirâmide dos ambientes favoráveis de Sundsvall: educação, alimentação e nutrição, moradia e vizinhanças, apoio e atenção social, trabalho e transporte. Tais experiências foram reunidas e revisadas num informe da OMS (HANGLUND, 1996, apud BUSS, 2020). Conferência de Jacarta: Esta foi a primeira Conferência a se realizar num país em desenvolvimento. Desde seu subtítulo “Novos atores para uma nova era”, nela se reforçou a ação comunitária como uma dimensão fundamental da promoção da saúde. A conferência reforçou as cinco estratégias descritas na Carta de Ottawa, mostrando que as ações são mais eficazes quando centradas simultaneamente em todas. Foram definidas cinco prioridades para os anos subsequentes: Promover a responsabilidade social com a saúde, por meio de políticas públicas saudáveis e comprometimento do setor privado; Investimentos no setor saúde de forma articulada com as áreas de educação, habitação e 16 sociais; Consolidar e expandir parcerias em todos os níveis de governo e da sociedade; Aumentar a capacidade da comunidade e fortalecer os indivíduos por meio da educação, capacitação de lideranças e acesso a recursos; Definir cenários preferenciais para atuação (escolas, ambientes de trabalho e outros) (HANGLUND, 1996, apud BUSS, 2020). Declaração de Bogotá: Assim é conhecido o documento que lançou a proposta de promoção da saúde na América Latina. Nele afirma que a Região deve criar condições que garantam o bem-estar geral como propósito fundamental do desenvolvimento. Parte da análise de que, assolada pelas desigualdades agravadas pela prolongada crise econômica e pelas políticas de ajuste macroeconômico a América Latina enfrenta a deterioração das condições de vida da maioria da população, aumento dos riscos para a saúde e redução de recursos para enfrentá-los. O desafio da promoção da saúde inclui transformar as relações excludentes, conciliando interesses econômicos, propósitos sociais, solidariedade e equidade social. OPAS (1993), citado por BUSS (2020), declara que o documento estabelece cinco princípios ou premissas: Alternativas orientadas a superar, simultaneamente, as enfermidades causadas pelo atraso e a pobreza e as derivadas da urbanização e da industrialização. Reafirmação da democracia nas relações políticas e sociais. Conquista da equidade, pela identificação dos fatores que favorecem a iniquidade e propostas de ação para aliviar seus efeitos; Desenvolvimento integral dos seres humanos e das sociedades. Segundo XAVIER (2017), esse documento apontou três estratégias para a promoção da saúde na Região: Impulsionar a cultura da saúde, modificando valores, crenças, atitudes e relações; Dar relevo às estratégias de promoção da saúde; Convocar, animar e mobilizar um grande compromisso socialpara assumir a política de saúde como prioridade. OPAS (1993), citado por BUSS (2020) definiu ainda onze compromissos indispensáveis para alcançar os objetivos propostos: 17 Impulsionar o conceito de saúde condicionado por fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos, tendo a promoção da saúde como estratégia; Convocar as forças sociais para aplicar a estratégia de promoção da saúde; Incentivar políticas públicas de equidade e de ambientes e opções saudáveis; Estabelecer mecanismos de concertação entre os setores sociais e institucionais; Reduzir gastos improdutivos e a profusão de burocracias centralizadoras, fontes de ineficiência e desperdício; Fortalecer a capacidade da população para participar nas decisões que afetam sua vida e para optar por estilos de vida saudáveis; Eliminar os efeitos das desigualdades sobre a mulher; Estimular o diálogo dos diversos saberes. Fortalecer a capacidade de convocação do setor para mobilizar a produção social de saúde e mostrar as responsabilidades dos diferentes atores na sua construção; Reconhecer como trabalhadores e agentes de saúde as pessoas comprometidas com os processos de promoção da saúde; Estimular investigações em promoção da saúde, gerar ciência e tecnologia apropriada e disseminar conhecimentos. Conferência do México: Segundo WHO (2020) citado por BUSS (2020) a V Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde foi realizada na Cidade do México, no ano 2000 e teve como objetivos: Avaliar o impacto da promoção da saúde na saúde e qualidade de vida, especialmente, para as pessoas que vivem em circunstâncias adversas; Elevar a saúde a um lugar de destaque no programa de desenvolvimento das organizações internacionais, nacionais e locais; e Incentivar a formação de alianças para a saúde entre os diferentes setores e em todos os níveis da sociedade. 18 Na Declaração intitulada “Das Ideias às Ações”, destacam-se: colocar a promoção da saúde como prioridade nas políticas e programas locais, regionais, nacionais e internacionais; assegurar a participação ativa de todos os setores e da sociedade civil no desenvolvimento das ações de promoção; apoiar a preparação de planos de ação nacionais para promoção da saúde; e, estabelecer e fortalecer redes nacionais e internacionais que promovam a saúde (WHO, 2020, apud BUSS, 2020). Conferência de Bangkok (2005): afirma que as políticas e alianças destinadas a empoderar as comunidades e melhorar a saúde e a equidade em saúde devem ter lugar central na agenda do desenvolvimento mundial. A Carta de Bangkok continua valorizando o protagonismo da sociedade civil e do setor privado. Relaciona a PS aos direitos humanos, atribuindo ao indivíduo a responsabilidade pela saúde. Os DSS são apontados como “fatores de risco” sobre o controle dos indivíduos. Coloca que a mesma globalização que aprofunda as desigualdades e a exclusão social de milhões de pessoas, traz consigo novas “oportunidades de colaboração para melhorar a saúde”, tais como os avanços das tecnologias da informação e as comunicações e; os melhores mecanismos disponíveis para a governança mundial e a troca de experiências (XAVIER, 2017). Conferência de Nairobi: De acordo com XAVIER (2017), a sétima Conferência Internacional sobre PS ocorreu em Nairóbi, no Kenya, e o Documento resultante foi intitulado de Nairobi chamada à ação (OMS, 2009). O mesmo reforça como responsabilidades prioritárias daqueles comprometidos com a PS: fortalecer a liderança em PS e os sistemas de saúde; empoderar as comunidades e indivíduos; colocar a PS como estratégia central na agenda do desenvolvimento; fortalecer processos participativos e; construir e aplicar conhecimentos acerca da PS. O Documento elege algumas estratégias de ação para o alcance dessas responsabilidades, a exemplo da garantia do financiamento adequado e do acesso universal e da melhoria das abordagens dos sistemas de saúde e do gerenciamento de seu desempenho. Conferência de Helsinque: Essa VIII Conferência lançou o desafio de construir estratégias com foco em “Saúde em Todas as Políticas”. Ela aprofundou as implicações das decisões de todas as áreas sobre a saúde e a busca de sinergias entre elas, a favor da equidade. A declaração do evento chamou a atenção das 19 autoridades políticas sobre as consequências de suas decisões para o bem-estar e a saúde das populações (WHO, 2020, apud BUSS, 2020). De acordo com WHO (2020), citado por BUSS (2020), foram propostas as seguintes ações: Adotar o enfoque da Saúde em Todas as Políticas; Assegurar estruturas e processos sustentáveis que efetivem o referido enfoque; Fortalecer a capacidade dos Ministérios da Saúde para envolver outros setores do governo, por meio de liderança, parceria, advocacia e mediação, para alcançar resultados de saúde; Desenvolver recursos humanos, capacidade institucional e habilidades técnicas que facilitem o objetivo de Saúde em Todas as Políticas; Adotar auditoria transparente e mecanismos de responsabilização que construam a confiança entre governos e cidadãos; Estabelecer salvaguardas contra os conflitos de interesse que prejudiquem a saúde nos investimentos comerciais; Fomentar o engajamento público e da sociedade civil no desenvolvimento, implementação e monitoramento da Saúde em Todas as Políticas Conferência em Shangai: Esta IX Conferência foi realizada em 2016. Seu foco foi promover a saúde mediante a adoção de medidas condizentes e com o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Da Declaração do evento constam quatro grandes temas e uma série de compromissos, segundo HANGLUND (1996), citado BUSS (2020): Adoção de decisões políticas em favor dos direitos das mulheres, das populações deslocadas e do crescente número de pessoas afetadas por crises humanitárias e ambientais. Utilização de estratégias de governança para promover o bem-estar. Reconhecimento das cidades e comunidades como ambientes essenciais à saúde. 20 Reconhecimento do saber em saúde como elemento fundamental para a promoção da equidade em saúde. A Declaração termina com um “chamado à ação” para que os compromissos assumidos acelerem a implementação dos ODS por meio do compromisso político e do investimento financeiro na promoção da saúde. Da organização das atividades de Vigilância Epidemiológica, controle de endemias, Vigilância Sanitária, Vigilância Ambiental e Saúde do Trabalhador no SUS, descrevendo que suas atividades são públicas e exercidas em articulação e integração com outros setores, dentre os quais os de saneamento básico, energia, planejamento urbano, obras públicas e meio ambiente (BRASIL, 2008, apud, CARVALHO, 2011). 4 ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÃO DAS AÇÕES DO SISTEMA DE SAÚDE E IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE SAÚDE NOS MUNICÍPIOS Fonte:susfacil.gov.br No debate sobre promoção da saúde, especial destaque deve ser dado às políticas públicas saudáveis, à governabilidade, à gestão social integrada, à intersetorialidade, às estratégias dos municípios saudáveis e ao desenvolvimento local. Como já dito, não é novo o reconhecimento da contribuição das políticas públicas para a saúde das populações. Remonta aos primórdios do Estado moderno, por volta do século XVII, embora o advento da era microbiológica, em meados do século XIX, tenha restringido o escopo da ação sanitária, despojando-a de seu caráter de intervenção social e enfatizando seu caráter técnico e setorial (BUSS, 2020). 21 Entretanto, de forma curiosa e até paradoxal, a relação entre políticas públicas e saúde volta a ganhar relevo nos últimos anos, não tanto por seus benefícios, mas pelos malefícios gerados. São notórios, e por vezes dramáticos, os efeitos das políticasque impulsionaram a economia urbano-industrial ao longo do século XX: desigualdades sociais, danos ambientais irreparáveis em alguns casos, ambientes sociais mórbidos de sociopatias e psicopatias, por exemplo (BUSS, 2020). A ideia contemporânea de políticas públicas saudáveis envolve um duplo compromisso: o de situar a saúde no topo da agenda pública, promovendo-a de setor da administração a critério de governo, e o compromisso técnico de enfatizar, como foco de intervenção, os fatores determinantes do processo saúde-doença-cuidado. Sua perspectiva ultrapassa em abrangência as ações ambientais da saúde pública tradicional e, mesmo, as políticas urbanas de expansão de serviços e bens de consumo coletivo. Implica numa (re) formulação inovadora, tanto do conceito de saúde, quanto do de Estado (e, portanto, de política pública) e de seu papel perante a sociedade (TERRIS, 1996, apud BUSS, 2020). A nova concepção de Estado, subjacente à proposta das políticas públicas saudáveis, é aquela que (re) estabelece a centralidade de seu caráter público e de sua responsabilidade social, isto é, seu compromisso com o interesse e o bem comum. Numa perspectiva de reforma do Estado, isso implica um esforço (desenho institucional) de superar déficits de eficiência/efetividade (capacidade de fazer o que deve ser feito) e de representatividade/sensibilidade (capacidade de definir o que precisa ser feito, segundo o interesse e as necessidades da sociedade) (BUSS, 2020). Um ponto importante no marco da promoção da saúde é a superação da ideia de políticas públicas como iniciativas exclusivas ou monopolistas do aparelho estatal. Em fóruns participativos, expressivos da diversidade de interesses e necessidades sociais, as políticas públicas tendem a ser comprometidas com a saúde na linha de “saúde em todas as políticas” (BUSS, 2020). Outro aspecto fundamental é o empoderamento da população organizada, através da difusão ampla das evidências sobre as relações entre saúde e seus pré- requisitos, assim como da construção de mecanismos de atuação eficientes. Numa nova distribuição de deveres e direitos entre o Estado e a sociedade, entre indivíduos e coletivos, entre público e privado, a questão da participação é pré-requisito institucional e político para a definição da “saúde que queremos” (BUSS, 2020). 22 Um cuidado importante é evitar que a defesa de políticas públicas saudáveis implique na subordinação de outros setores governamentais, gerando resistências e suscitando isolamentos. Tendo na interdisciplinaridade o seu fundamento cognitivo e na intersetorialidade a sua ferramenta operacional, as políticas saudáveis, para não se limitarem a uma normatividade burocrática socialmente natimorta, devem suscitar ou partir de pactos horizontais com parceiros de outros setores governamentais e de outras comunidades epistêmicas, como urbanistas, educadores e ambientalistas. A intersetorialidade tão desejada pode ser definida como o processo no qual objetivos, estratégias, atividades e recursos de cada setor são considerados segundo suas repercussões e efeitos nos objetivos, estratégias, atividades e recursos dos demais setores (OPAS, 1993, apud BUSS, 2020). Forjar um Estado que opere na lógica da ação pública intersetorial supõe desenvolver uma nova institucionalidade social, entendida como o conjunto de organismos estatais encarregados do desenho, coordenação, execução e financiamento das políticas sociais, inclusive a de saúde. Essa nova institucionalidade depende da configuração de uma autoridade social, ou o conjunto dos responsáveis pelas políticas sociais, que coordene as políticas intersetoriais e outros arranjos voltados ao desenvolvimento. Tal autoridade social deveria ter posição de mesmo nível na estrutura de poder que as autoridades econômicas, com funções de planejamento e execução claramente definidas, além de recursos financeiros garantidos na repartição orçamentária (CEPAL, 1998, apud BUSS, 2020). Diversos países no Continente têm procurado desenhos institucionais que articulem instâncias governamentais intra e intersetorialmente com a sociedade civil. No caso de países de estrutura federativa, como o Brasil, torna-se necessária também a coordenação entre os diversos níveis administrativos e os subsetores sociais. Um enfoque deste tipo requer necessariamente a criação de redes interinstitucionais e uma nova cultura organizacional que requer melhorar a qualidade dos recursos humanos envolvidos e gerar novas formas de relações e comunicação entre os distintos âmbitos do aparelho estatal (CEPAL, 1998, apud BUSS, 2020). Nas últimas três décadas, no Brasil, uma série de experiências de gestão pública e mobilização social suscitou a implementação organizada de uma perspectiva de ação intersetorial, sob o rótulo do desenvolvimento local integrado e sustentável. Recentemente, impulsionadas pela Agenda 2030 e a definição dos Objetivos de 23 Desenvolvimento Sustentável, iniciativas têm sido criadas com vistas ao alcance das metas propostas. A saúde pública latino-americana realmente tem condições de contribuir efetivamente para a construção teórica e prática de tais propostas, principalmente por meio da estratégia dos “Municípios Saudáveis”, um modelo que contém os requisitos da formulação e implementação de políticas em prol da saúde por meio de ações intersetoriais (BUSS, 2020). O movimento das cidades saudáveis surgiu na Europa, no mesmo ano (1986) em que se realizou a já mencionada Conferência de Ottawa. Segundo ASHTON (1993), citado por BUSS, 2020), o projeto visa ao desenvolvimento de planos de ação locais para a promoção da saúde, baseados nos princípios de saúde para todos da OMS. A iniciativa hoje envolve muitas localidades, em várias redes nos cinco continentes. A constituição do programa num município inclui, em geral, quatro fases: início com determinação de prioridades; preparação de um plano de ação; unificação dos comitês organizadores e a execução de atividades e criação de sistemas de informação para o monitoramento e avaliação das iniciativas. Referendado na Declaração de Santa Fé de Bogotá, pela maioria dos países latino-americanos, o movimento dos municípios saudáveis chegou à América Latina no início da década de 1990. O movimento propõe uma reestruturação do sistema de saúde e de sua articulação com outros sistemas, na conformação de políticas e programas integrados para o desenvolvimento humano e o bem-estar. Segundo a OPAS (1996), citado por BUSS (2020), esse enfoque se centra na ação e na participação, assim como na educação sanitária e na comunicação para a saúde, visando a ampliar a capacidade da comunidade de melhorar suas condições físicas e psicossociais nos espaços onde as pessoas vivem, estudam, trabalham e se divertem. Esse movimento avançou rapidamente na região das Américas na década de 1990, alcançando mais de 500 municípios em praticamente todos os países do Continente. Já foram realizados dois “Encontros Latino-Americanos de Secretarias Municipais de Saúde”, um em Cuba (1994) e outro no Brasil (1996) para consolidar a iniciativa e trocar experiências. Segundo HARTZ (2017), citado por BUSS (2020), a configuração dos municípios saudáveis varia em cada local, compreendendo desde programas setoriais e dirigidos à promoção de comportamentos individuais saudáveis até propostas bastante abrangentes que alcançam diversas dimensões e setores. Muitos países 24 estabeleceram redes nacionais para o intercâmbio de experiências e para a busca de vantagens e incentivos nas negociações com os demais níveis do poder público. Um enorme desafio que ainda permanece é a identificação das melhores formas de institucionalidade social para uma gestão municipal integrada e participativa (BUSS, 2020). Por fim, um alerta: inovações tecnológicas (ferramentas, serviços e plataformas digitais)têm grande potencial para contribuir com a promoção da saúde e prevenção de doenças. Soluções, como aplicativos, fóruns on-line, blogs, redes sociais, dentre outras novidades, podem ampliar as possibilidades de as pessoas se comunicarem a favor de uma vida saudável. Porém, assim como os meios digitais podem ampliar os benefícios, Relatório da União Europeia, publicado em 2019, alerta que a falta de acesso, com segurança, aos recursos digitais e o desconhecimento para utilizar as ferramentas disponíveis pode exacerbar as iniquidades em saúde (EU, 2019, apud BUSS, 2020). 4.1 SUS De acordo com a Declaração de Alma-Ata em 1978, a Atenção Primária à Saúde (APS) apresenta os cuidados essenciais à saúde ofertados nos serviços mais próximos aos indivíduos, constituindo o primeiro local de contato com o Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse contexto, a APS foi instituída em “ações individuais e coletivas situadas no primeiro nível, voltadas à promoção da saúde, prevenção de agravos, tratamento e reabilitação” (GOMES, 2011, apud LEITE, 2018). No Brasil, o SUS foi estabelecido como política pública de saúde na Constituição de 1988, com o objetivo de assegurar assistência a todos os cidadãos.12 Para sua efetiva implantação, foram elaboradas e aprovadas as “Leis Orgânicas de Saúde” (Lei n° 8.080 e 8.142); a mais antiga, em seu capítulo II, discorre sobre os princípios e diretrizes do SUS, prevendo a descentralização dos serviços para os municípios, a regionalização e a hierarquização como princípios organizativos, garantindo o direito fundamental à vida; e como princípios doutrinários a universalidade, equidade e integralidade (SHIMIZU, 2013, apud LEITE, 2018). 25 4.2 Princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/88), o direito à saúde foi sagrado direito fundamental, sendo responsabilidade comum da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal (art. 6º). A Constituição e a Lei nº 8.080/90 delimitaram os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo eles: A integralidade, A equidade, A descentralização, A participação social, A regionalização e A universalidade (BRASIL, 1988, apud AGUIAR, 2016). 4.3 Vigilância em Saúde A Vigilância em Saúde é responsável por todas as ações de vigilância, prevenção e controle de agravos, prioritariamente com ações de promoção à saúde, com o monitoramento epidemiológico das doenças transmissíveis e não transmissíveis, de atividades sanitárias programáticas, de vigilância em saúde ambiental e saúde do trabalhador, elaboração e análise de perfis demográficos epidemiológicos, proposição de medidas de controle entre outros. A Vigilância encontra-se distribuída em patamares hierárquicos técnico-administrativos, nas esferas federal, estadual, municipal e regional, sendo que a base de todas as informações é a região, mais precisamente a microárea (MALAGUTTI, 2011, apud BOCCATTO, 2011). Segundo BOCCATTO (2011), a Vigilância em Saúde tem um fluxograma de informações e apresenta várias interfaces entre diferentes sistemas: Vigilância; Atendimento (Primário, Secundário e Terciário); laboratórios; centros de pesquisa; centros universitários; outras secretarias entre outras. A Vigilância em Saúde está incluída no campo de ação do SUS e desenvolve programas relevantes de prevenção e controle, devendo ser utilizada para o estabelecimento de prioridades, alocação de recursos e orientação programática, em várias áreas: 26 Epidemiológica: Realiza um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou a prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de prevenção e controle de doenças ou agravos. Trabalha com doenças sexualmente transmissíveis agudas e crônicas; doenças transmissíveis agudas; doenças transmissíveis crônicas; doenças imunopreveníveis; investigações e respostas a casos e surtos e epidemias; doenças emergentes; agravos inusitados; inclui o também o Programa Nacional de Imunização (PNI), descentralizado aos municípios; Ambiental: Desencadeia um conjunto de atividades relativas às zoonoses e questões sanitárias ligadas ao meio ambiente e riscos à saúde (água, ar e solo), com ações integradas com as subprefeituras e outras secretarias, devendo participar na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico; Saúde do trabalhador: Desencadeia um conjunto de atividades que, por meio das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, se destinam à promoção e à proteção à saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e à reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho; Fonte: afolhatorres.com.br Imunização: É o conjunto de todas as atividades relacionadas com os imunobiológicos e sua adequada utilização. O Programa Nacional de Imunização (PNI) é reconhecidamente um dos melhores do mundo, estando vigente desde 1973, continuamente propiciando expressivos benefícios na prevenção de doenças, obtendo reiterados sucessos, nunca tendo sido interrompido. Podem ocorrer surtos ou acontecimentos inesperados mesmo com imunobiológicos eficazes, cabendo 27 providências complementares organizadas, seguindo diretrizes da Vigilância em Saúde, com respaldo científico e rigoroso sistema avaliador de qualidade, também com controle de procedimentos inadequados e eventos adversos de imunobiológicos, acompanhando também de maneira rigorosa o armazenamento, a conservação e o transporte de vacinas até sua utilização; Sanitária: Realiza um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde; Infraestrutura: Infraestrutura laboratorial e de apoio diagnóstico, do sistema de informações de doenças de notificação compulsória, entre outros. A Vigilância deve trabalhar de forma integrada e harmônica com todas as Unidades de Atendimento à Saúde (também intersetorialmente e intersecretarialmente). Na Saúde da Família e da Comunidade, a Estratégia Saúde da Família (ESF) desencadeou todo um processo de regionalização também na Vigilância. A ESF tem como diretriz a existência da territorialização e a determinação de área geográfica com o delineamento das áreas de abrangência de cada uma das Unidades Básicas de Saúde. Nas áreas cobertas pela ESF se trabalha com microáreas e área de abrangência, que são de responsabilidade sanitária das equipes. Na ESF, a Vigilância tem como parceiros as organizações sociais e os parceiros contratados pelas secretarias municipais de saúde. As entidades privadas qualificadas pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios como organizações sociais, são declaradas de interesse social e utilidade pública, desde que haja reciprocidade e a legislação local não contrarie os mandamentos dessa lei e a legislação federal específica (MONKEN, 2005, apud BOCCATTO, 2011. 28 4.4 Vigilância epidemiológica Fonte: repocursos.unasus.ufma.br O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE) do Brasil foi criado em 1975, limitando-se a uma pequena lista de doenças de notificação compulsória. Até então, as intervenções de Saúde Pública voltadas para o controle de doenças transmissíveis eram da responsabilidade de órgãos subordinados ao Governo Federal (Departamento Nacional de Endemias Rurais/DNERU, Campanha Contra Varíola, Campanha Contra Tuberculose, Campanha contra Lepra, dentre outras) que desenvolviam suas atividades sob a forma de campanhas sanitárias. Com a implementação do SNVE, parte das atribuições e responsabilidades da vigilância e controle destasdoenças foram sendo repassadas para as Secretarias Estaduais de Saúde (SES), estruturadas sob a forma de Programas Especiais ao exemplo do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que estabeleceu um modelo piramidal que mantinha o nível local sem recursos e sem protagonismo no processo de resolução de seus problemas de saúde. Entretanto, as denominadas endemias (esquistossomose, doença de Chagas, malária, tracoma, entre outras) ficaram sob a responsabilidade da Superintendência de Campanhas (SUCAM), órgão da administração direta do Ministério da Saúde. Deste modo, a formulação, a coordenação e a execução das atividades de prevenção e controle de doenças transmissíveis eram realizadas segundo a lógica de programas verticais (TEIXEIRA, 1998, apud TEIXEIRA, 2018). A “Vigilância Epidemiológica em Âmbito Hospitalar” foi criada em 2004, com a criação dos Núcleos Hospitalares de Epidemiologia cujo objetivo é detectar, notificar e investigar de maneira precoce e oportuna, para adoção adequada de medidas de 29 prevenção e controle das mesmas doenças de interesse para saúde pública, cuja porta de entrada no sistema, muitas vezes, são os hospitais, mesmo que estes não sejam de referência em doenças infecciosas (BRASIL, 2004 apud TEIXEIRA, 2018). A doença não pode ser compreendida apenas por meio das medições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado da doença é o sofrimento, a dor, o prazer, enfim, os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoece (CANGUILHEM, 1995, apud, BRASIL, 2012) 5 MEDIDAS DE CONTROLE E PREVENÇÃO EM VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Fonte: oimpacto.com.br As ações de vigilância epidemiológica são hierarquizadas, ou seja, cada nível assume responsabilidades para com o planejamento e execução das medidas e ações a serem empreendidas a nível central, regional e local: Nível central (Governo Federal/Ministério da Saúde): é o grande responsável pela determinação e regulamentação nacional das ações de vigilância epidemiológica. Nele, as ações são discutidas para, somente após, serem recomendadas a todos os estados da Federação. Detém as bases de dados dos sistemas de informação da vigilância epidemiológica - que reúnem todas as informações referentes à saúde e às doenças no Brasil. Nível regional: correspondente aos estados da Federação (Secretarias de Estado de Saúde): cabe coordenar as ações de vigilância desenvolvidas pelos municípios, procurando estabelecer prioridades de acordo com as informações obtidas, prestando consultoria. 30 As centrais estaduais de regulação de transplante de órgãos são exemplo de ação de vigilância diretamente desenvolvida pelo nível de gestão regional. Por seu intermédio as secretarias estaduais de Saúde controlam o número de doadores, os pacientes para os quais o transplante é prioritário, a localização dos possíveis doadores e que hospitais dispõem de estrutura para realizar a intervenção cirúrgica necessária. Assim, é possível conhecer as necessidades relacionadas a um problema de saúde específico e intervir diretamente sobre ele, estabelecendo uma rede de comunicação entre as unidades locais coordenadas pelas centrais. Nível local: traduzido na figura do município (Secretarias Municipais de Saúde) e sua região administrativa (Distritos Sanitários): cabe executar as práticas de vigilância, desenvolvendo as ações mais diretamente relacionadas aos indivíduos, por meio dos serviços assistenciais oferecidos. Neste nível, principalmente, faz-se necessário que os serviços de saúde estejam informados da ocorrência das doenças de notificação compulsória para que possam, assim, planejar e implementar as medidas de promoção, prevenção e controle adequadas às necessidades da população local – o que chamamos “informação para a ação” ROUQUAYROL, 1999, apud NEGRI, 2002). 5.1 Investigação epidemiológica A investigação epidemiológica deve ocorrer sempre que for notificado um caso suspeito de alguma doença. Significa que mesmo que o diagnóstico não esteja confirmado deve-se realizar a investigação e executar as medidas de controle e prevenção da transmissão, recomendadas pelos serviços de epidemiologia e padronizadas pelo nível central (Ministério da Saúde): A busca de casos e visita domiciliar – quando os serviços locais de epidemiologia, ao receberem notificações de doenças de clientes atendidos, procuram localizá-los por meio de aerograma, telefonema ou visita ao domicílio para realizar a investigação epidemiológica; O apoio a procedimentos diagnósticos – quando da definição de suspeita ou confirmação de uma doença, a coleta de material biológico, realização de testes específicos e interpretação de seus resultados são procedimentos frequentemente desenvolvidos pelo auxiliar de enfermagem (WALDMAN,1998, apud NEGRI, 2002). 31 5.2 As medidas de precaução em relação à transmissão de doenças As medidas de precaução em relação à transmissão de doenças podem incluir: Vacinação de bloqueio: é a intensificação da administração de uma vacina, visando a impedir a transmissão de uma doença de um indivíduo doente para aqueles que com ele convivem em espaço restrito, como no trabalho, escola, creche ou quartéis. Essa medida é usualmente utilizada quando há o acometimento por uma doença de transmissão fácil e contra a qual se dispõe de vacina, como a coqueluche ou sarampo A febre amarela, por exemplo, teve vacinação de bloqueio para evitar que novos casos atingissem outras regiões do país; Intensificação de vacina: é uma estratégia utilizada para aumentar o número de pessoas protegidas contra uma doença. Para tanto, podem ser modificados os critérios normalmente utilizados para a aplicação da vacina, aumentando-se o número de doses ou a faixa etária da população-alvo; Indicação de restrição de circulação: o objetivo não é isolar o cliente, mas sim garantir que outras pessoas de seu convívio não corram o risco de contrair a doença por ainda não estarem protegidas; Quimioprofilaxia: algumas vezes, o uso de vacinas para prevenir a transmissão de determinada doença não está disponível ou recomendado - casos em que são utilizados medicamentos para diminuir o risco de transmissão. A adoção desta conduta é chamada quimioprofilaxia, geralmente adotada para os comunicantes de casos suspeitos ou confirmados de meningite meningocócica ou causada por hemófilos, tuberculose ou leptospirose, e ainda frente à exposição acidental envolvendo objetos perfurocortantes potencialmente contaminados com material biológico (WESTPHAL, 1998, apud NEGRI, 2002). 6 PRINCIPAIS INDICADORES DE SAÚDE COLETIVA Para o planejamento de ações de prevenção e controle de doenças e agravos, é importante conhecer o perfil dos problemas de saúde da população assistida e das doenças apresentadas quais mais acometem a população, que mais matam e quantas pessoas morrem. Para o conhecimento de aspectos de saúde não diretamente observáveis foram criados os indicadores de saúde, que representam e tentam “medir” 32 os aspectos normalmente não percebidos. Dentre outros importantes componentes da estrutura de assistência à população, esses indicadores orientarão o processo de planejamento em saúde, a organização dos serviços de atenção e a determinação do número de leitos hospitalares necessários para determinada região. Como destaques, ressaltamos a morbidade, a mortalidade e a letalidade. Apesar dessas limitações, acredita-se que a informação gerada a partir de dados de mortalidade, muito utilizada no passado, reterá, por algum tempo ainda, o seu lugar central na avaliação dos progressos em saúde e nas comparações internacionais, devido principalmente à dificuldade de operacionalização de outros tipos de indicadores (HANSLUWKA, 1987, apud, SOARES, 2003). 6.1 Morbidade Segundo NEGRI (2002), a morbidade refere-se ao comportamento das doenças numa população expostaao adoecimento. Seus índices permitem conhecer que doenças existem habitualmente na área, no período e na população estudada (prevalência), e quais os novos casos das doenças na mesma área, período e população (incidência). A quantidade de casos de uma doença também permite estimar sua importância para aquela população. Estão relacionados à morbidade os termos: surto, endemia, epidemia e pandemia. Surto: Surto é um aumento repentino do número de casos, dentro de limites muito restritos, como uma série de casos de rubéola em uma creche, vários indivíduos com conjuntivite em um quartel ou vários bebês com infecção respiratória em um berçário de hospital. Também pode ser assim considerado o aumento do número de casos de uma doença em uma área específica, considerada livre da mesma. Por exemplo, um único caso de poliomielite no Brasil seria suficiente para configurar um surto; Endemia: Endemia é a ocorrência de certo número de casos controlados em determinada região; Epidemia: Epidemia é o aumento do número de casos de determinada doença, muito acima do esperado e não delimitado a uma região; Pandemia: Pandemia, por sua vez, compreende um número de casos de doença acima do esperado, sem respeitar limites entre países ou continentes. Os exemplos mais atuais são a Aids, tuberculose e Covid-19. 33 6.2 Mortalidade A mortalidade é definida como a relação entre o número de óbitos e o número de pessoas expostas ao risco de morrer. Dados esses que podem ser agrupados por características como sexo, idade, estado civil, causa, lugar, condição, dentre outras. Os óbitos ocorridos podem estar classificados segundo a associação de duas ou mais dessas características (ROCHA,1999, apud NEGRI, 2002). A causa básica de morte é definida pela Organização Mundial da Saúde como “ (a) a doença ou lesão que iniciou a sucessão de eventos patológicos que levou diretamente à morte, ou (b) as circunstâncias do acidente ou violência que produziu a lesão fatal”. Causas associadas são todas as descritas na declaração de óbito diferentes da causa básica, ou seja, condições que contribuíram no processo de falecimento (contribuintes) ou que foram complicações da causa básica (consequenciais). Constituem causas múltiplas todas aquelas descritas na declaração de óbito, ou seja, as causas básicas e as associadas (OMS, 1997 apud LAURENTI, 2015). 6.3 Letalidade Segundo NERI (2002), a letalidade permite conhecer a gravidade de uma doença, considerando-se seu maior ou menor poder para causar a morte. A determinação da letalidade de certas doenças permite avaliar a eficácia de estratégias e terapias implementadas. Por exemplo, espera-se que a vacina anti sarampo reduza o número de complicações e óbitos decorrentes da doença. Se há muitos óbitos causados pelo sarampo, isto significa que as crianças não estão tendo acesso à estratégia de vacinação ou que a vacina não está desempenhando adequadamente seu papel na proteção à saúde. Para que se possa avaliar o significado dos indicadores e compará-los frente a populações diferentes sem que haja distorção das informações, esses indicadores são calculados por meio de taxas, índices e coeficientes, e expressos em porcentagens. Traduzem, muitas vezes, as condições socioeconômicas e sanitárias locais, pois estão intimamente relacionados com as condições de vida e saúde da população. Dessa forma, as ações de vigilância epidemiológica e os resultados obtidos com a sua implementação e divulgados através de suas bases de dados constituem um elemento 34 precursor da elaboração e implementação de programas de saúde coletiva, ao permitirem a identificação de fatores de risco para a determinação dos processos de morbidade que atingem os grupos populacionais que recebem atenção específica dos serviços de saúde (ROCHA,1999, apud NEGRI, 2002). 7 DOENÇAS PREVENÍVEIS MEDIANTE VACINAÇÃO Doenças preveníveis por imunização: Covid-19, Tuberculose, Hepatite B, Difteria, Tétano, Coqueluche, Doenças causadas por Hemofilo B, Poliomielite, Rotavirose, Doença Pneumocócica, Doença Meningocócica, Sarampo, Caxumba, Rubéola, Varicela, Hepatite A, Febre Amarela, Influenza (Gripe), Raiva Humana, HPV, Cólera e Diarréia dos Viajantes, Febre Tifóide. Fonte: portaldafolha.com.br 7.1 Influenza (gripe) A gripe é uma doença viral causada pelos vírus influenza dos tipos A, B e C. Os vírus do tipo A e B apresentam importância clínica, representando 75% das infecções comparadas com as cepas B; sofrem mutações, e causam epidemias sazonais. Podem causar complicações respiratórias em pacientes que são doentes crônicos como: cardiopatas, pneumopatas, imunodeprimidos; e em grupos vulneráveis como: crianças e idosos. Sua transmissão é através do contato com secreções respiratórias, e objetos contaminados. É de alta transmissibilidade, sua manifestação clínica é: febre (38º a 40°C), cefaleia, mialgia, dor na garganta, tosse, prostração. Podendo evoluir para formas graves como: Síndrome Respiratória Aguda 35 Grave (SRAG) e pneumonia, aumentando o número de hospitalização (BRASIL- M.S/ INFORME TÉCNICO, 2018, apud DE MELO, 2019). Prevenção: A melhor forma de prevenir a doença é através da vacinação que deve ser realizada anualmente. A vacina é composta de vírus inativados, fragmentados, diferentes tipos de cepas do vírus Myxovirus influenzae. São definidos os tipos de antígenos de acordo com a orientação epidemiológica dos vírus circulantes (BRASIL- M.S/ INFORME TÉCNICO, 2018, apud DE MELO, 2019). A vacina contra influenza pode ser realizada a partir dos seis meses de idade, é indicada para a população indígena e deve ser administrada por via IM ou SC (em pacientes que possuem alteração sanguínea ou que estejam em tratamento com anticoagulantes orais). Existe diferenciação para o esquema de doses conforme a idade; em crianças com 6 meses a 2 anos de idade deve ser realizada duas doses fracionadas de 0,25 ml, por via IM, com intervalo de 30 dias entre as doses, e para crianças de 3 anos até 8 anos serão administrados duas doses de 0,5 ml com intervalo de 30 dias entre as doses, após essa idade e em adultos a dose será de 0,5 ml, por via IM. A vacina é contraindicada para aqueles que possuem alergia ao ovo, devendo ter a orientação médica se for preciso realizá-la, devendo ser administrada no hospital. Para casos em que ocorreram a Síndrome de Guillain-Barré (SGB) pós-vacinação, num intervalo de seis semanas da dose recebida anteriormente, será necessário avaliação médica para analisar a necessidade de realizar a vacinação frente o risco (BRASIL, 2014, apud DE MELO, 2019). 7.2 Covid-19 Segundo FREIRE (2021), a Pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV21, que causa a doença conhecida como Covid-19, afetou o planeta de incontáveis maneiras, tanto na área da saúde quanto na economia, nas relações sociais e, principalmente, no fluxo informacional. A necessidade de nos mantermos distantes uns dos outros trouxe a clareza de como é importante a vida em sociedade, na qual cada pessoa e instituição tem seu papel. Além disso, foi em meio ao caos mundial que as tecnologias digitais, especialmente as tecnologias de informação e comunicação, tiveram oportunidade de suprir demandas comuns da nossa vida e nos manter conectados. Um fator importante relacionado à pandemia de Covid-19 foi 36 a necessidade de validação científica rápida para quaisquer nvacinas e tratamentos médicos. O processo de produção vacinal segue as fases de um estudo clínico, com etapas pré-clínicas, realizadas em laboratórios, em geral, em modelos animais, objetivando avaliação de dose e toxicidade nesta população. Os ensaios clínicos, em humanos, são divididos em três etapas. Os estudos de fase 1 visam avaliar a segurança do produto, enquanto os de fase 2 avaliam segurança, dose e frequênciade administração, bem como sua imunogenicidade. Os de fase 3 têm como desfecho principal a avaliação de eficácia do produto, através de ensaios clínicos controlados, randomizados, envolvendo milhares de voluntários. Após a publicação científica desses dados, a vacina candidata é submetida à avaliação pelas agências reguladoras, para posterior produção e distribuição. Por fim, os estudos de fase 4, ou de pós-licenciamento, estimam os efeitos e eventos adversos após a utilização da vacina em larga escala na população alvo. Cada etapa deste processo dura em média vários meses a anos (FREIRE, 2021). Várias tecnologias de produção estão sendo avaliadas, incluindo ácidos nucleicos (DNA e RNA), uso de vetores virais (replicantes e não replicantes), vacinas virais (atenuadas ou inativadas) e as vacinas proteicas (recombinantes ou de VLP - partículas semelhantes ao vírus - tecnologia utilizada na vacina HPV). Algumas dessas plataformas nunca foram utilizadas em vacinas atualmente licenciadas, mas existem experiência em áreas como a oncologia e, assim, surgem novas oportunidades de produção de vacinas, com maior velocidade de fabricação. Entretanto, este processo, como tudo o que é novo e não testado, requer cautela, para não oferecer falsas esperanças em um momento tão difícil para a humanidade (MUKHERJEE, 2020, apud LIMA, 2021). KRAMMER (2021) citado por LIMA (2021), relata que a maioria das vacinas estudadas para a COVID-19 visa induzir anticorpos neutralizantes contra as subunidades virais, a maior parte delas tendo como alvo a região RBD (do inglês domínio de ligação do receptor) da proteína mais conservada do vírus, a Spike (S), impedindo assim, a captação do vírus pelo receptor ACE2 (enzima conversora da angiotensina 2) humano. Não está claro como as variantes da proteína S utilizadas em diferentes candidatas à vacina se relacionam entre si ou com a epidemiologia genômica da doença. 37 Vacinas com vetores virais: Adenovírus não replicantes têm sido os principais vetores virais utilizados nas plataformas de desenvolvimento para as vacinas COVID. Podem ser humanos (Ad5 e Ad26) ou de símios (Chipanzés ChAd). Segundo FOLEGATTI (2020), citado por LIMA (2021), a vacina ChAdOx1 nCoV-19, baseada em vetores virais, desenvolvida na Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com o laboratório AstraZeneca, induz robusta resposta imune, incluindo resposta celular, após a aplicação de duas doses. Utiliza, como vetor, um adenovírus de chimpanzé não replicante que expressa a proteína S do SARS-CoV-2. Os estudos de fase 1 e 2, envolvendo grupo controle com vacina conjugada meningocócica em adultos saudáveis, mostraram resposta específica de células T no 14° dia após aplicação, com anticorpos neutralizantes detectados entre 91 e 100% dos pacientes, apresentando perfil de segurança aceitável. Atualmente, encontra-se em estudos de fase 3 envolvendo profissionais de saúde e grupos de alta exposição do Reino Unido e mais quatro países, incluindo o Brasil. O surgimento de um evento adverso grave e inesperado em um voluntário que apresentou um quadro de mielite transversa fez com que o laboratório suspendesse provisoriamente o estudo de fase 3 em todos os centros para melhor análise do caso. Após avaliação do Comitê externo de monitoramento, foi afastada relação causal da vacina com o evento adverso e o estudo prossegue em todo o mundo (FOLEGATTI, 2020, apud LIMA, 2021). Outras vacinas baseadas em vetores virais já estão liberadas para uso restrito em determinados grupos populacionais na China e na Rússia. O laboratório chinês CanSino divulgou estudos de fase 1, demonstrando resultados promissores com uma vacina que utiliza o Ad5 como vetor,mas não houve publicação de estudos de fase 3 e atualmente a vacina encontra-se aprovada naquele país para uso exclusivo em militares chineses (ZHU, 2020, apud LIMA, 2021) Também com a tecnologia do uso do adenovírus, foi iniciada vacinação de profissionais de saúde e professores com vacina produzida pelo Instituto Gamaleya, em Moscou. Estudo de fases 1/2, publicado recentemente, testou 02 formulações de vacinas baseadas em 02 subtipos do adenovírus e todos os participantes produziram anticorpos contra a glico-proteína do SARS-CoV-2, com uma taxa de sorocon-versão de 100% após 42 dias da aplicação. Também foi avaliada a resposta celular no 28° dia, com detecção de proliferação de CD4 e CD8 em todos os estudados. A vacina 38 russa utiliza como vetor viral o Ad26 na primeira e o Ad5 na segunda dose. Há proposta de ampliar a vacinação para todos os cidadãos russos em outubro e o governo do estado do Paraná está negociando acesso à chamada vacina Sputnik V (LOGUNOV, 2020, apud LIMA, 2021). Vacinas genéticas: As vacinas de RNA mensageiro têm demonstrado, em geral, um excelente perfil de segurança e com boas respostas imunes celular e humoral. Tem a vantagem de serem produzidas em maior escala, por se tratar de produtos sintéticos, e a desvantagem de serem produtos que requerem conservação em congelamento. O RNA vacinal é envolto em uma camada lipídica, evitando assim, sua degradação. Até o momento, nenhuma vacina de DNA alcançou a fase 3 em ensaios clínicos; Vacinas virais: tecnologias tradicionais de produção de vacinas como as de vírus vivos atenuados e inativados vêm sendo utilizadas em diversos ensaios clínicos. Preocupações com a biossegurança de vacinas atenuadas têm dificultado os estudos com essa plataforma, e algumas vacinas inativadas já estão em fase 3 de testes; Vacinas virais: tecnologias tradicionais de produção de vacinas como as de vírus vivos atenuados e inativados vêm sendo utilizadas em diversos ensaios clínicos. Preocupações com a biossegurança de vacinas atenuadas têm dificultado os estudos com essa plataforma, e algumas vacinas inativadas já estão em fase 3 de testes (KRAMMER, 2021, apud LIMA, 2021). 7.3 Doenças pneumocócica A doença pneumocócica é causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae ou pneumococo, possuidora de cápsula, possui 90 sorotipos, conhecidos mundialmente, sendo grandes causadores de doenças invasivas e não invasivas. A doença pneumocócica pode causar infecções graves como pneumonia, meningite, e provocar bacteremia. As formas não invasivas são: sinusite, otite média aguda, conjuntivite, bronquite. A forma de transmissão é através de gotículas respiratórias como tosse, espirro da pessoa contaminada, podendo ocorrer situação em que a pessoa apenas é portadora da bactéria, não desenvolvendo a doença; as crianças menores costumam serem as portadoras do pneumococo (FIOCRUZ, 2014, apud DE MELO, 2019). 39 O local de colonização do pneumococo pode influenciar a expressão dos fatores de virulência: enzimas como superóxido dismutase e NADHoxidase podem atuar na patogênese da infecção ao participar da detoxicação dos radicais de oxigênio e gerar a competência das células, tornando-as aptas ao processo de transformação, que é o principal envolvido na recombinação genética do pneumococo (KAPLAN, 2001 apud FREIRE, 2002) Prevenção: A vacina pneumocócica é composta por “polissacarídeos capsulares bacterianos purificados do Streptococcus pneumoniae (pneumococo), com 10 sorotipos de pneumococo (1, 4, 5, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19F e 23F). ” (M.S., 2014). O esquema é composto por 2 doses, devendo ser realizado aos 2 e 4 meses, e um reforço aos 12 meses de idade, podendo receber a dose até os 4 anos (BRASIL- M.S., 2016, apud DE MELO, 2019). 7.4 Hepatites Hepatite A: As hepatites virais são infecções sistêmicas causadas por vírus que possuem tropismo primário para o fígado, cuja fisiopatologia baseia-se na resposta inflamatória hepática ao vírus. Apesar de apresentarem sintomas similares, as hepatites virais são doenças distintas, cada qual com sua característica epidemiológica, clínica, laboratorial e agentes etiológicos específicos.
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