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Via área A via aérea é o trajeto para a condução do ar do meio ambiente até os pulmões em suas unidades funcionais: os alvéolos. Pode ser dividida em: Via aérea superior, formada por nariz, faringe e laringe; Nariz -> apresenta como funções a filtração de partículas grosseiras em suspensão no ar e a promoção do seu aquecimento e umidificação. As fossas nasais apresentam mucosa extremamente vascularizada de forma a atender seu papel fisiológico . Faringe -> subdivide-se em nasofaringe e orofaringe. - A nasofaringe consiste do intervalo entre a região posterior das fossas nasais até o limite imposto pelo palato mole. Apresenta como principal obstáculo à passagem de ar os tecidos linfóides tonsilar e amigdaliano. - A orofaringe se estende da nasofaringe até a transição com o esôfago e a laringe. Laringe -> apresenta duas funções primordiais: órgão fonador e selo de segurança para impedir que alimentos ou outros elementos presentes na orofaringe tenham acesso ao trato respiratório inferior. - Situa entre os níveis cervicais de C4-C6 e é formada por músculos, ligamentos e cartilagens (tireóide, cricóide, aritenóides, corniculadas e epiglote). - Possui inervação proveniente do nervo vago, por dois pares de seus ramos: laríngeo recorrente (ou inferior) e laríngeo superior. Via aérea inferior, formada por traquéia, brônquios, bronquíolos e alvéolos. Traquéia - é formada por cerca de 18 anéis cartilaginosos em forma de "C", posicionados de forma anterior, e uma parede posterior membranosa - Ao nível da quinta vértebra torácica, encontra-se a carina, subdividindo a traquéia nos brônquios fonte direito (menor ângulo de abertura em relação ao eixo longitudinal) e esquerdo (maior ângulo de abertura em relação ao eixo longitudinal) Intubação traqueal A colocação de uma cânula (tubo traqueal) na traquéia através da fenda glótica é a única forma não-cirúrgica de se obter uma via aérea permeável e protegida. Uma vez instalada, permite conduto livre à passagem do ar e à aspiração das secreções de origem pulmonar, evitando, ainda, que o conteúdo da orofaringe ou aquele regurgitado a partir do esôfago ganhe as vias aéreas inferiores. A intubação traqueal faz parte do algoritmo do suporte avançado de vida, sendo fundamental o seu ensino aos médicos em graduação, seu adequado adestramento e a capacitação permanente na realização de sua técnica de forma apropriada e segura. Sempre que, em uma situação programada, planejamos uma intubação traqueal, é necessário prover todo material necessário à adequada ventilação e oxigenação do paciente. Nos casos de intubação de urgência e emergência, pela presença de hipoxemia, a ventilação e oxigenação sob máscara se fazem necessárias, como forma de manter a viabilidade do paciente até que a via aérea definitiva (cirúrgica ou não cirúrgica) seja conquistada. A adequada adaptação da máscara facial à face do paciente e o adequado posicionamento do paciente e do profissional que realizará a ventilação e a intubação traqueal são fundamentais para o sucesso do procedimento. * Algumas situações, como face muito emagrecida ou com barba ( dificuldade de adaptação da máscara facial), posicionamento inadequado da cabeça do paciente ( obstrução dinâmica da via aérea), paciente com macroglossia ou obeso (obstrução da via aérea) ou material inadequado (máscara de tamanho inapropriado), podem propiciar dificuldade para a ventilação. Técnica de intubação traqueal Sempre que se fizer necessária a intubação traqueal, há obrigatoriedade de se seguir um protocolo de segurança que minimize os riscos inerentes ao procedimento. Esta preocupação com a segurança se inicia pela adequada avaliação das vias aéreas, à procura de sinais que advirtam para a possibilidade de uma dificuldade para intubação, ventilação ou ambas. Avaliação da via aérea A realização de adequada anamnese da via aérea é necessária para tentar prevenir a ocorrência de dificuldade ou impossibilidade de intubação. Critérios de avaliação Mallampati Esta classificação é baseada na avaliação das estruturas da orofaringe (úvula, pilares amigdalianos, palato mole e palato duro), com o paciente sentado, cabeça em posição neutra e sem fonação. * Constitui a forma de avaliação da via aérea mais comumente utilizada. Contudo, apresenta baixa sensibilidade quando aplicada de forma isolada Mallampati 1. Uvula, pilares, palato mole e duro visíveis; Mallampati 2. Base da úvula, parte dos pilares, palato mole e duro visíveis. Mallampati 3. Palato mole e duro visíveis. Mallampati 4. Somente palato duro visível. Benumof Propôs a associação de onze itens para aumentar a sensibilidade de previsão da intubação difícil.Em conjunto, eles pretendem avaliar a capacidade de posicionar adequadamente a cabeça, o espaço intra-oral (para trabalho com a lâmina do laringoscópio e o tubo traqueal), o tamanho e a complacência do espaço submandibular (para luxação da língua), a capacidade de luxação da mandíbula e a abertura do campo de visão. Wilson Propôs a atribuição de pontos a cinco parâmetros anatômicos freqüentemente associados à intubação difícil. - Com pontuação superior a quatro pontos, é improvável encontrar facilidade para a intubação. Aproximadamente 75% das intubações difíceis estão associadas a mais de dois pontos nesta classificação Material de segurança (1) fonte de oxigênio a 100%; (2) fonte de aspiração e cateter de aspiração traqueal; (3) bolsa de ventilação (AMBU ou bolsa reservatório com válvula unidirecional); (4) máscaras e cânulas de diversos tamanhos; (5) luvas, máscara e óculos ( equipamento de proteção individual - EPI). Material para intubação • laringoscópio com jogo de lâminas (adulto, infantil ou para obeso); • tubo traqueal de tamanhos diversos (tamanho provável, um tamanho maior e um menor); • seringa para insuflar o balão do tubo traqueal; • guias metálicos ou flexíveis e pinças de Magill As indicações para realização de intubação traqueal podem ser resumidas em dois cenários clínicos: insuficiência respiratória ou proteção da via aérea. - A insuficiência respiratória está presente quando o paciente apresenta em exame gasométrico arterial pa02 < 60 mm Hg e/ou paC02 > 50 mm Hg. - Pode ser secundária a causas neurológicas, musculares, infecciosas, medicamentosas ou mecânicas. - A proteção da via aérea faz-se necessária toda vez em que há alteração importante do nível de consciência, como nos estados de coma. A técnica de intubação orotraqueal inicia-se pelo adequado posicionamento do paciente, fator primordial para melhoria das condições de laringoscopia e visualização da estrutura glótica. - Este posicionamento dependerá da lâmina a ser utilizada, curva ou reta, já que as técnicas divergem no posicionamento. - No caso de se utilizar lâmina curva (Mclntosh), preconiza se a elevação da cabeça em relação ao tórax ( aproximadamente 8 cm) e extensão completa da cabeça, a partir desta posição elevada. * Objetiva-se, assim, o alinhamento dos eixos da laringe, faringe e boca, fundamental à localização e visualização da glote, com uso desta lâmina. A manobra de pré-oxigenação deve preceder a realização da intubação traqueal por qualquer técnica. Consiste na administração de oxigênio a 100%, sob máscara bem adaptada,por período mínimo de três minutos.* Tem por objetivo realizar a troca do nitrogênio pulmonar por oxigênio, aumentando sua reserva e reduzindo o risco de hipóxia, em caso de demora para intubação. Técnica Com a mão esquerda, o cabo do laringoscópio é segurado e introduz-se a lâmina pelo canto direito da boca, auxiliado pela abertura propiciada pelo movimento de extensão da cabeça, produzido pela mão direita. A lâmina escorre de forma suave e não traumática pela orofaringe, rebatendo a língua para a esquerda e procurando posicionar sua ponta na valécula, entre a face faríngea da epiglote e a mucosa faríngea. Neste momento, em movimento firme e cuidadoso, o braço projeta o laringoscópioem um movimento para cima e no sentido dos pés do paciente, procurando expor a rima glótica. O movimento jamais deve ser em báscula,para não ocorrer contato da lâmina com os dentes do paciente, ou haver compressão dos lábios entre a lâmina e os dentes. Visualizada a fenda glótica, um tubo traqueal de tamanho apropriado deve ser gentilmente passado por esta estrutura, até o completo posicionamento do balão abaixo das cordas vocais. A lâmina é então retirada delicadamente da orofaringe, e o balão insuflado até pressão de 18 a 25 cm H2 0, ou o suficiente para permitir o fim da fuga aérea (monitorado pela ausculta da traquéia, simultaneamente à realização das manobras de ventilação). - O correto posicionamento do tubo deve sempre ser checado, ideal e inicialmente pelo uso do capnógrafo. - Depois de elucidado o local exato no qual o tubo foi inserido, cabe a realização da ausculta pulmonar para confrrmar e estabelecer a adequação de ventilação bilateral ou se, por introdução exagerada, houve intubação brônquica seletiva, excluindo um dos pulmões da ventilação. Confirmado o posicionamento correto, deve-se fixar o tubo de modo a não permitir seu deslocamento. Os mesmos riscos encontrados durante as manobras de intubação traqueal estão presentes nas manobras de desintubação,acrescidos de edema de glote, disfunção das cordas vocais, bloqueio neuromuscular e sedação residuais (nos casos de pós-anestésico), hipotermia, distúrbios eletrolíticas e ácido-básicos e disfunção muscular ( esta última depois do uso de corticoesteróide e bloqueador neuromuscular ou ventilação mecânica prolongada em UTI). Complicações Relacionadas à intubação traqueal se devem a duas fontes: técnica de laringoscopia e invasão da via aérea com o tubo traqueal. Secundária à técnica de laringoscopia, temos a dificuldade de intubação, intubação esofageana inadvertida, demora na intubação e regurgitação com broncoaspiração, fratura de dentes, edema e sangramento da mucosa, lesão da estrutura glótica ( até com luxação da aritenóide), corte dos lábios e da língua, lesão cervical secundária ao posicionamento de cabeça (síndrome de Down, cujos pacientes apresentam maior predisposição à luxação da articulação atlanto-occicipital) ou traumatismo raquimedular presente, aumento da pressão intracraniana e intra-ocular, arritmias cardíacas e isquemia miocárdica. Relacionadas ao tubo orotraqueal, podem-se citar lesão do aparelho fonador, rouquidão pós-operatória, dor na garganta, lesão traqueal, infecção pulmonar, atelectasia (caso não seja mantida pressão ao final da expiração que compense a perda do fechamento da glote) e intubação seletiva. Via aérea difícil É aquela na qual se observa dificuldade de ventilação sob máscara, dificuldade para intubação traqueal, ou ambas.Causas de dificuldade de ventilação sob máscara: (1) operador único; (2) cianose; (3) ausência de C02 exalado; (4) ausência de expansibilidade torácica; (5) distensão gástrica. Via aérea reconhecidamente difícil -> nesta situação não há dúvida de que deverão ser tomadas medidas alternativas para o estabelecimento de uma via aérea segura. Constituem exemplos dessa situação: (1) fratura cervical; (2) tumores de cabeça e pescoço; (3) trauma da face; (4) seqüelas de queimaduras; (5) anquilose de articulação têmpora-mandibular (ATM); (6) síndromes congênitas como a de Pierre Robin. Via aérea difícil não reconhecida NÃO intuba, mas ventila. -> Neste cenário não há emergência, pois ventilação e oxigenação estão mantidas. O importante é não induzir, por manobras intempestivas, as lesões da via aérea, que por edema e sangramento dificultem ainda mais as tentativas subseqüentes de intubação, e pior, comprometam a capacidade de ventilação efetiva, agravando o caso. - São alternativas possíveis de manejo as técnicas: despertar o paciente, máscara laríngea Classic ou Proseal , máscara laríngea para intubação (Fastrach) , estilete luminoso, broncofibroscópio,intubação retrógrada. NÃO intuba e NÃO ventila -> Deve-se adotar uma conduta emergencial. O objetivo é oxigenar o paciente, evitando-se dano cerebral e parada cardíaca. Pode ser manuseado tanto por técnicas não-cirúrgicas quanto cirúrgicas . - Dentre as não-cirúrgicas, citam-se: (1) máscara laríngea Classic® ou Proseal®; (2) máscara laríngea para intubação (Fastrach®); e (3) Combitube®. - Dentre as técnicas cirúrgicas, citam-se: (1) cricotireoidostomia5 e (2) "ventilação a jato" transtraqueal5 (só oxigena, não ventila). * NÃO constituem alternativas: (1) traqueostomia; (2) estilete luminoso; e (3) intubação retrógrada. Máscara laríngea Dispositivo formado por uma câmara pneumática orofaríngea com formato adequado para sua alocação no esfíncter esofágico superior e sua adaptação em tomo da glote,um tubo para condução do ar à traquéia e um balão-piloto. Existem três principais modelos: (1) clássica, que foi a primeira desenvolvida e que permite pressões de ventilação de até 20 mm Hg; (2) Proseal®, que apresenta um segundo canal, para permitir aspiração do conteúdo esofagiano, e possibilita pressões de ventilação de até 40 mm Hg; e (3) Fastrach®, que possui conformação rígida proximal para facilitar sua inserção e capacidade de introdução de um tubo traqueal apropriado através de seu lúmen para o interior da traquéia. OBS: Paciente com '' estômago cheio'', este paciente apresenta maior risco de regurgitação e broncoaspiração, devendo ser intubado com a técnica de seqüência rápida ou acordado.São exemplos de pacientes considerados com "estômago cheio": (1) sem período de jejum completo; (2) com trauma; (3) gestantes; (4) com enfermidades abdominais agudas; (5) obesos; e (6) pacientes diabéticos, com neuropatia periférica ou disfunção neurológica autonômica associada ao diabetes. -> Nos casos eletivos, ou naquelas situações de urgência onde exista tempo para otimização do preparo, também há indicação do preparo farmacológico com metroclopramida, antagonista H2 ou inibidor da bomba de H+ e passagem de sonda oro- ou nasogástrica, com o objetivo de redução do conteúdo gástrico. OBS: Algumas considerações importantes devem ser feitas com relação à intubação traqueal em obesos, acerca de três aspectos distintos: dificuldade técnica para laringoscopia e ventilação sob máscara facial, tendência a hipóxia e retardo do esvaziamento gástrico. OBS: A gestante apresenta dificuldade para laringoscopia e intubação traqueal, maior tendência à regurgitação e broncoaspiração, e suporta menor tempo de apnéia até desenvolvimento de hipóxia.Em conjunto, estes elementos favorecem a um aumento da morbidade e mortalidade materna relacionada à anestesia geral e intubação traqueal. OBS: Os pacientes pediátricos possuem peculiaridades anatômicas e fisiológicas que os tomam merecedores de alguns cuidados especiais. Estas diferenças são mais expressivas nos recém nascidos e nos lactentes.
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