Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Saúde da Família SUS : Sistema Único de Saúde O que é o SUS? O SUS pode ser entendido, em primeiro lugar, como uma “Política de Estado”,materialização de uma decisão adotada pelo Congresso Nacional, em 1988, na chamada Constituição cidadã, de considerar a Saúde como um “Direito de Cidadania e um dever do Estado”. É um sistema único porque segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o território nacional, sob a responsabilidade das três esferas autônomas de governo federal, estadual e municipal. SUS: Aspectos Históricos SUS: Aspectos Históricos • A saúde no Brasil está sempre marcada pelo Contexto político e econômico vigente; • 1920/1930 – Nascimento da previdência social (lei Eloy Chaves); – DNSP (Departamento Nacional de Saúde Pública); – CAPs – Caixa de aposentadorias e pensões; – Restrições a condição de segurado. • 1930/1940: – Era Vargas – Considerado o Pai dos Trabalhadores; – Criação da Mesp (Ministério da Educação e da Saúde Pública); – Ministério do Trabalho; – Criação dos IAPs (Instituto de Aposentadoria e Pensões): o Estado passou a participar da sua administração, controle e financiamento; – Caráter contributivo formal. • 1945/1968: – Governo de Juscelino Kubitschek; – Período de Democracia; – As ações do governo já eram verticalizadas, mas apenas na implementação de campanhas e ações sanitárias. Nesta área, a saúde pública passou a ter uma estrutura mais centralizada com programas e serviços; – Crise do Regime de Capitalização; • Diversos programas de controle e erradicação das “doenças tropicais” atraiam o interesse de instituições nacionais e internacionais; • Aparecimento da Malária: “Sanitarismo Desenvolvimentista”. • Nesse período, ainda não havia uma política de bem- estar social no Brasil, mas havia uma ideologia desenvolvimentista, indicando a relação pobreza- doença-subdesenvolvimento, com a necessidade de melhorar o nível de saúde da população para alcançar o desenvolvimento. • O país continuava a ser predominantemente rural. • O combate às endemias rurais e às doenças transmissíveis era a principal preocupação dos organismos de saúde pública, para isso foi criado o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu); • 1968/1979 – Golpe Militar; – O governo militar utilizou dois mecanismos voltados para responder às demandas das camadas populares: concessões econômicas restritas e uma política social ao mesmo tempo repressivo e paternalista; – Período de Crise Política, porém com um desenvolvimento na área da saúde. • A partir de meados da década de 70, após um cenário de crise política e econômica iminente, o governo militar começou a definir novas estratégias, dentre elas o II Plano Nacional de desenvolvimento e a política de abertura do governo; • Neste Plano, conseguiu-se observar algumas prioridades no campo social: educação, saúde e infraestrutura de serviços urbanos. • O trabalho para reformular as políticas sociais, foi intensificado e as lideranças do movimento sanitário conseguiram entraram na alta burocracia estatal, na área da Saúde e da Previdência Social; • Criação do Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social). • Década de 80: – O governo Figueiredo foi marcado pela abertura política e a influência do II PND; – A Eclosão da Crise Estrutural; • O movimento da Reforma Sanitária indicava propostas de expansão da área de assistência médica da previdência, aumentando os conflitos de interesse com a previdência e envolvendo poder institucional e pressões do setor privado. • Neste período houve a formação do Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciário (Conaps), em 1981, como órgão do Ministério da Previdência e Assistência Social. O Conasp deveria buscar respostas concretas que explicassem a razão da crise no setor, devendo operar como organizador e racionalizador da assistência médica buscando diminuir e racionalizar gastos. • A avaliação do Conasp determinou diversas alterações no modelo de saúde até então vigente, como: inadequação de serviços à realidade; inclusão insuficiente de diversas prestadoras; recursos financeiros insuficientes; desvalorização dos serviços próprios; e, superprodução dos serviços contratados. • Dentre as propostas apresentadas, destacam-se: o Programa das Ações Integradas de Saúde (PAIS). • O PAIS, posteriormente denominado apenas, Ações Integradas de Saúde (AIS), mostrou-se como a principal saída para a universalização do direito à saúde e significou uma proposta de “integração” e “racionalização” dos serviços públicos de saúde e de articulação destes com a rede conveniada e contratada, o que combinaria um sistema unificado, regionalizado e hierarquizado para o atendimento. • A proposta resumia-se na assinatura de convênios entre os Inamps e os estados e municípios para o repasse de recursos destinados à construção de unidades da rede com o compromisso dos governos de oferecer assistência gratuita a toda a população; No contexto de intensas mudanças políticas, intensifica – se o movimento de Reforma Sanitária que pretendeu ser mais do que apenas uma reforma setorial. • O movimento sanitário tinha proposições concretas. A primeira delas, a saúde como direito de todo o cidadão, • A segunda delas é a de que as ações de saúde deveriam garantir o acesso da população às ações de cunho preventivo e/ou curativo e, para tal, deveriam estar integradas em um único sistema. • terceira proposição entendida como descentralização da gestão, tanto administrativa, como financeira; • quarta proposição que era a do controle social das ações de saúde. – Intensificados no processo de reorganização do modelo de saúde no Brasil, os reformistas organizaram a 8º conferência Nacional de saúde, uma dos pontos chaves no processo de criação do SUS. “Esta conferência foi um marco histórico da política da saúde brasileira, pois, pela primeira vez, contava-se com a participação da comunidade e dos técnicos na discussão de uma política setorial.” • No relatório da 8ª Conferência Nacional de Saúde consta que: “- Saúde como Direito - em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, que podem gerar desigualdades nos níveis de vida. • “Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e de acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação de saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do território nacional, levando ao desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade.” Concomitante aos avanços alcançados no Brasil, o mundo respondia as necessidades de saúde, com intensa preocupação. Assim, em Novembro de 1986, aconteceu a Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá. Neste evento, foi elaborado um documento oficial, “Carta de Ottawa”, que listou alguns dos principais conceitos que deveriam nortear a assistência a saúde, e que estes, deveriam ser observados por todas as nações, no objetivo de que no Ano de 2000 e nos subsequentes, o mundo pudesse atingir saúde para todos. CARTA DE OTTAWA• Promoção da saúde É o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. • Pré requisitos para saúde As condições e os recursos fundamentais para a saúde são: Paz – Habitação – Educação – Alimentação – Renda - ecossistema estável – recursos sustentáveis - justiça social e eqüidade • Promover os meios Promoção da saúde consiste em alcançar a equidade sanitária. Sua ação tem o objetivo de reduzir as diferenças no atual estado da saúde e assegurar a igualdade de oportunidades e promover os meios que permitam a toda a população desenvolver ao máximo sua saúde potencial • Defesa da causa As ações de promoção a saúde objetivam, através da defesa da saúde, fazer com que os fatores políticos, econômicos, culturais,ambientais, comportamentais e biológicos, sejam cada vez mais favoráveis. • Capacitação As ações de promoção da saúde objetivam reduzir as desigualdades e assegurar as oportunidades e recursos igualitários para capacitar todas as pessoas e realizar completamente seu potencial de saúde. • Atuar como mediador A promoção da saúde demanda uma ação coordenada entre todas as partes envolvidas: governo, setor saúde e outros setores sociais e econômicos, organizações voluntárias e não governamentais, autoridades locais, indústria e mídia. Aos grupos sociais e profissionais e ao pessoal do grupo sanitário corresponde, especialmente, assumir a responsabilidade de atuar como mediadores entre os interesses antagônicos e a favor da saúde. ...Voltando para a História.... Com base em todos os movimentos e conceitos formulados, novos setores foram estruturados, objetivando criar um modelo de saúde que compreendesse a todas as expectativas suscitadas. • Em 1987, criou-se o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (Suds), através de uma proposta do Inamps/MPAS, que se apresentou como base na construção do SUS; • O Suds avançou na política de descentralização da saúde e, principalmente na descentralização do orçamento, permitindo uma maior autonomia dos estados na programação das atividades do setor; deu prosseguimento às estratégias de hierarquização e universalização da rede de saúde e retirou do Inamps a soma de poder que ele centralizava. Em 5 de outubro de 1988 é promulgada a Constituição do Brasil, sendo um marco fundamental na redefinição das prioridades da política do Estado na área da saúde pública. SUS na Constituição • Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. • Art. 197. São de relevância públicas ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. • Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede Regionalizada e Hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: • I - Descentralização, com direção única em cada esfera de governo; • II - Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; • III - Participação da comunidade • Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recurso do Orçamento da Seguridade Social, da União, dos Estados do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. Ver art. 194 e 195 : Seguridade Social Saúde Previdência Social Assistência Social • Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. • 1§ As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. • 2§ É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. • 3§ É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. • 4§ A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo o tipo de comercialização. • Ao longo de 1989, as negociações se concentraram em torno da lei complementar que daria bases operacionais para o SUS. Nesse mesmo ano, é realizada a primeira eleição direta para presidente da República, assumindo a presidência em janeiro de 1990, Fernando Collor de Mello. Nesse período ocorria o projeto de formulação da Lei Orgânica da Saúde, entretanto a LOS 8.080 sofreu muitos vetos, e só depois de muitas negociações, foi então promulgada. Loading in...5 × Loading in...5 × Loading in...5 × O SUS: PRINCÍPIOS E BASES Entre as diretrizes políticas consolidadas pela nova Constituição no cenário nacional estão os fundamentos de uma radical transformação do sistema de saúde brasileiro. • A saúde é tratada na constituição através de três aspectos principais: – Incorpora o conceito mais abrangente de que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes o meio físico, o meio socioeconômico e cultura, os fatores biológicos e a oportunidade de acesso aos serviços que visem a promoção, proteção e recuperação da saúde. – Em segundo, a constituição legitima o direito de todos, sem qualquer discriminação, às ações de saúde em todos os níveis, assim como, explícita que o dever de prover o pleno gozo desse direito é responsabilidade do Governo, isto é, do poder público. – Por último, a constituição estabelece o SUS, de caráter público, formado por uma rede de serviços regionalizada, hierarquizada e descentralizada, com direção única em cada esfera de governo, e sob controle dos seus usuários. Ainda que esse conjunto de ideais, direitos deveres e estratégias não possam ser implantados automaticamente e de imediato, o que deve ser compreendido é que a implementação do SUS tem por objetivo melhorar a qualidade de atenção à saúde no país, e que para isto, disporá de princípios e diretrizes capazes de nortear suas ações em busca deste fim. Princípios Doutrinários UNIVERSALIDADE É a garantia de atenção à saúde por parte do sistema, a todo e qualquer cidadão. O indivíduo passa a ter acesso a todos os serviços públicos de saúde, assim como aqueles contratados pelo poder público. EQUIDADE É assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a complexidade que cada caso requeira saúde, assim como aqueles contratados pelo poder público.Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidade, até o limite do que o Sistema pode oferecer. “Tratar os desiguais com desigualdade”. INTEGRALIDADE É o reconhecimento na prática dos serviços de que: cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade; As ações de promoção, proteção e recuperação da saúde formam também um todo indivisível e não podem ser compartimentalizadas;- As unidades prestadoras de serviço, com seus diversos graus de complexidade, formam também um todo indivisível configurando um sistema capaz de prestar assistência integral. Princípios que Regem a Organização do SUS: REGIONALIZAÇÃO Os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade tecnológica crescente (hierarquizados), dispostos numa área geográfica delimitada e com a definição da população a ser atendida. A oferta de serviços deve ser planejada de acordo com os critérios epidemiológicos. HIERARQUIZAÇÃO Os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade crescente. Além de dividir os serviços em níveis de atenção, deve incorporar os fluxos de encaminhamento (referência) e de retornos de informação ao nível básico do serviço (contra- referência). RESOLUBILIDADE É a exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço correspondente esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua competência. DESCENTRALIZAÇÃO É entendida como uma redistribuição das responsabilidades quanto às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da ideia de que quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS É a garantia constitucional de que a população, através de suas entidades representativas, participará do processo de formulação das políticas de saúde e do controle da sua execução. COMPLEMENTARIEDADE DO SETOR PRIVADO Quando por insuficiência do setor público, for necessário a contratação de serviços privados, isso deve se dar sob três condições: • 1ª A celebração de contrato – interesse público prevalecendo sobre o privado; • 2ª A instituição privada deverá estar de acordo com os princípios básicos e normas técnicas do SUS. • 3ª A integração dos serviços privados deverá se dar na mesma lógica organizativa do SUS, em termos de posição definida na rede regionalizada e hierarquizada dos serviços.
Compartilhar