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Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 7° fase Medicina | 2022.2 Farmacologia UCXIX Hemorroidas e Fissuras anais Conceito Hemorroida é a dilatação varicosa das veias anorretais submucosas devido à pressão venosa persistentemente elevada no plexo hemorroidário. A maioria dos pacientes possui três mamilos hemorroidários internos. Tem inervação visceral autônoma, levando o paciente a ter, muito mais, um desconforto anal localizado do que propriamente dor. O plexo hemorroidário externo é formado pela artéria retal inferior e suas veias drenam para as veias ilíacas internas. O plexo hemorroidário externo, por estar localizado abaixo da linha pectínea, tem inervação somática, rica em fibras sensitivas da dor, temperatura e toque. Hemorroidas externas ocorrem abaixo da linha pectínea e são recobertas por epitélio escamoso ou do tipo cutâneo. O plexo hemorroidário externo tem inervação somática, rica em fibras sensitivas da dor, temperatura e toque. Hemorroidas internas ocorrem acima da linha pectínea e é recoberto por mucosa colunar ou epitélio transicional. O plexo hemorroidário interno tem inervação visceral autônoma → desconforto anal. Os sintomas mais comuns são sangramento, prolapso, prurido, dor ou desconforto anal e, menos frequentemente, exsudação perianal. A doença hemorroidária, em sua classificação mais utilizada, pode ser interna, externa ou mista, de acordo com a localização do mamilo hemorroidário no canal anal. Hemorroidas internas também são classificadas com base no grau de prolapso e sangramento. Na doença de graus I, II e III sem resposta ao tratamento conservador, o tratamento consiste de procedimentos ambulatoriais não cirúrgicos como escleroterapia, crioterapia, fotocoagulação e ligadura elástica Etiologia e epidemiologia Prevalência: idade 45-65 anos, gênero: ambos; etnia: brancos; condição socioeconômica favorável: aumenta a incidência Fatores que favorecem o surgimento de hemorroidas: idade, obstipação, esforço para defecar, tempo prolongado no sanitário, diarreia, posição sentada por longos períodos (ex: caminhoneiros) Vasculares: abertura de shunts capilares Inflamatórios: irritação crônica Mecãnicos: hipertonia esfincteriana, obstipação, obesidade, posição supina prolongada Degenerativos: envelhecimento, pouca sustentação (relaxamento das fibras Hormonais: gravidez Ambientais: alimentação excessiva, álcool, picantes, condimentos Tratamento O manejo se faz de acordo com a gravidade dos sintomas, presença ou não de complicações e o grau da hemorroida interna. A abordagem inicial dos casos não complicados e principalmente graus I e II consiste em medidas conservadoras como uso de fibras ou laxantes na dieta, medicamentos flebotônicos, analgésicos orais ou tópicos, corticosteroides tópicos, banhos de assento e pomadas à base de nitroglicerina. Tratamentos tópicos localizados (supositórios, cremes ou pomadas) combinando, em graus variados, corticosteroides, anestésicos, lubrificantes (vaselinas), protetores e venotônicos; o Supositórios: baixa adesão Modificadores do trânsito intestinal/laxantes que se destinam a regular a consistência ou frequência das fezes o Formadores de bolo fecal: Psyllium, metilcelulose, ágar ágar – fibras solúveis em que sua eficácia depende da ingesta de água o Laxantes osmóticos: lactulose (SUS) ou PEG *Flebotônicos incluindo diosmina, troxerutina, derivados de Ginkgo biloba e hidroxi-etilrutosídeos; Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs sistêmicos) que atuam na dor e na inflamação, analgésicos periféricos e centrais para a dor e corticosteroides para a inflamação. Se hemorroida não prolapsada ou hemorroida prolapsada com redução manual → suplementação de fibras, aumento da ingesta de água, exercício físico, hábitos sadios na defecação Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 7° fase Medicina | 2022.2 Se hemorroida prolapsada sem redução manual → encaminhamento ao proctologista Orientações gerais à pessoa com sintomas de prurido anal Não coçar ou esfregar a região anal; Lavar com água. Evitar sabão alcalino ou sal quando for se lavar. Secar bem o local; pressionando levemente uma toalha macia ou usando um secador de cabelo com ar frio; Limpar a região conforme orientado após cada evacuação. Não usar o papel higiênico! No banho, usar sabão neutro sem perfume; Usar roupas íntimas folgadas; Fazer banhos de assento com água morna por 10-15 minutos por dia. Não adicionar NADA à água! Enxugar conforme descrito acima; Ter uma dieta rica em fibras (25-30 g diárias); Tomar de 8-10 copos (200 mL) de água por dia; Evitar comidas que contenham pimenta ou temperos fortes, comidas ácidas, café, cerveja, grãos, laticínios, tomates e bebidas de “cola”; Não se desapontar se o prurido voltar, pois isso é muito comum. Hemorroida e fissura anal (FA) O tratamento clínico conservador - que é inicialmente indicado para a maioria dos casos, inclui aumento da ingestão de fibras e líquidos objetivando diminuir o trauma e o esforço evacuatório, representa recomendações universais a todos os portadores de doença hemorroidária a despeito do grau. Tratar a dor com laxativo capaz de aumentar a massa fecal e emolientes fecais, 1 a 4 banhos de assento por dia (água morna), compressas de hamamélis (produtos naturais – promovem vasoconstrição e cicatrização) e analgésicos (paracetamol), conforme necessário. Dieta: fibras e água. É fundamental lembrar que o aumento da ingesta de água e fibras deve fazer parte de todo tratamento de fissura anal, visto que fezes endurecidas é a principal causa. A meta é consumir de 25 a 30 gramas de fibras diariamente, seja pela alimentação ou suplementação. Fibras solúveis - agentes formadores de massa, como Plantago ovata ou Psyllium, Ispaghula husk e Sterculia. As fibras formadoras de massa minimizam a constipação e o esforço prolongado associado. Promovem a melhora global dos sintomas e do sangramento, sem diferença significante na incidência de efeitos adversos. Não há evidência de benefício para dor ou prurido como sintomas isolados. Tratamento Tópico – Hemorroidas 1° ESCOLHA: FLEBOTÔNICOS Policresuleno é um ácido orgânico de alto peso molecular. Apresenta atividade hemostática por ocasionar precipitação das proteínas sanguíneas (COAGULAÇÃO) e favorece a contração das fibras musculares lisas (pequenos vasos sanguíneos). Apresenta capacidade de desbridamento químico seletivo: por ser ânion, tem a capacidade de interagir apenas com as moléculas fosfolípides das membranas plasmáticas de células desvitalizadas, que perderam sua carga elétrica inicial. Esse contato propicia a desnaturalização das proteínas celulares, facilitando sua remoção. Se ele está utilizando policresuleno, é necessário prescrever com flebotômicos – FRAGILIDADE CAPILAR NUNCA NA MONOTERAPIA – ASSOCIAR COM TTO SISTÊMICO Sua acidez em conjunto com as propriedades coagulantes, confere atividade antimicrobiana. A ação desbridante e antimicrobiana facilitam o processo de cicatrização. Tribenosídeo + associações – Anestésicos locais (Procto- Gluvenol) Tribenosídeo é um derivado de sacarídeo com ação antiinflamatória, analgésico, cicatrizante, estabilizador de membrana e venotrópicas. Atua reduzindo a permeabilidade capilar e o edema e também antagoniza mediadores endógenos que participam dos processos inflamatório e doloroso (histamina, prostaglandinas). Utilizado nos pacientes que deixam de evacuar por conta da DOR, e CI o uso de AINEs (ex: gastrite) Menos efetivo que o policresuleno Favorece a microcirculação local (provável ação anticoagulante) e a cicatrização do tecido hemorroidário. Subgalato de bismuto + associações (Hemodase, proctosan, hemofiss) (corticoides - inflamação, anestésicos locais - dor, óxido de zinco - reduzir prurido) – aplicar 2-3 x dia Topicamenteatua como agente adstringente, homeostático (precipita proteínas → forma tampão hemostático) por meio da ativação do fator XII - acelera a via intrínseca da cascata de coagulação. O subgalato de bismuto tem leve efeito anti- inflamatório e antimicrobiano. Usos: eczemas, queimaduras, escoriações, feridas e tratamentos de hemorroidas. Extratos de plantas para uso tópico ou oral (tem ação flebotômica – Hemovirtus, Imescard). As mais comuns: Aesculus hippocastanum L., Hamamelis virginiana L. e Ruscus aculeatus L. etc. Os fitoquímicos para tratar hemorroidas e insuficiência venosa são flavonoides (ação flebotômica, circulação sanguínea, antioxidantes), saponinas esteroides (precipitar proteínas), terpenos (anti-inflamatório) e triterpenos. Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 7° fase Medicina | 2022.2 Apresentam ação anti-inflamatória, antioxidante, são venotônicos, inibem enzimas responsáveis pela degradação de proteoglicanos e de degradação do endotélio, ação antimicrobiana. Tratamento tópico – fissura anal A fissura anal consiste numa solução de continuidade do revestimento do canal anal e manifesta-se por dor associada à defecação. A dor anal é percepcionada de forma e intensidade variáveis, como uma sensação de rasgadura, de ardor ou queimadura, frequentemente severa, e pode ser localizada ao ânus ou apresentar irradiação para as regiões lombar, nádegas. Tratamentos preconizados: conservadores como banhos de assento e uso de fibra, com ou sem adição de anestésicos ou esteroides tópicos. NÃO se utiliza o tratamento tópico descrito anteriormente para hemorroidas. Medidas farmacológicas – relaxantes do esfíncter anal: primeira linha o uso de gel de Diltiazem tópico a 2% (BCC – diminui contrações involuntárias), seguido pelos nitratos tópicos, a terceira opção terapêutica é a Toxina Botulínica (inibe a liberação de acetilcolina → não contrai) Flebotônicos: avaliar necessidade, porém é necessária na maioria dos pacientes Tratar opstipação! Quase todos necessitam de laxantes para um bolo fecal mais amolecido A resposta com vasodilatadores não é satisfatórias OU SEJA: fissuras anais = gel de diltiazem a 2% + laxante +- flebotônicos Bloqueadores de canais de cálcio - Atuam inibindo canais de cálcio e promovem redução do tônus esfincteriano de repouso e atenuação do efeito induzido pelos agonistas da contração. *Gel de diltiazem a 2% - duas vezes ao dia produz cicatrização em 65% dos casos. Apresenta resultados comparáveis aos da pomada de nitroglicerina com a vantagem da menor incidência de cefaleias. Via oral também é efetivo, porém maior efeitos adversos. A nifedipina (SUS); (oral e tópica – 0,2%) apresenta eficácia na redução da pressão basal máxima do esfíncter anal interno e cicatrização da fissura anal crónica em 95% dos casos. Nitratos - gliceril trinitrato (nitroglicerina) e o dinitrato de isossorbida. Liberam moléculas de óxido nítrico – ativam GMPc, sequestram cálcio e promovem relaxamento vascular. A eficácia média de 50%. A cefaleia é o principal efeito colateral do emprego de nitratos. VASODILATADORES *Toxina botulínica: age bloqueando a terminação nervosa présináptica na junção neuromuscular (diminui liberação de acetilcolina) reduzindo o espasmo do esfíncter. O emprego da toxina botulínica requer a sua injeção no esfíncter anal, que pode ser realizada com ou sem o auxílio do anuscópio. Flebotônicos Os flebotônicos são medicações amplamente utilizadas no alívio de sinais e sintomas e constituem um grupo heterogêneo de agentes farmacológicos (naturais e sintéticos) que atuam diminuindo a permeabilidade e fragilidade capilar, aumento do tônus venoso, efeito linfocinético, redução da resposta inflamatória do tecido venoso por minoração da adesão leucocitária e menos apoptose das células endoteliais. **Flavonoides (rutina, diosmina, hesperidina – favorecem a circulação, fortalecem o músculo liso dos vaso sanguíneo, antiagregante plaquetário) e saponinas (escina) que possuem notável propriedade antiexsudativa, antiinflamatória e tonificante das paredes vasculares comumente são a primeira escolha para o tratamento. Produtos naturais 1. Benzopironas a. -benzopironas (cumarina): Venalot® b. Flavonoides: Diosmina - Daflon® e Diosmin®, quercetina, rutina e derivados, troxerrutina - Venalot®; Venoruton® c. Flavononas: Hesperidina - Daflon® e Diosmin® 2. Saponosídeos Escina, extrato de castanha da Índia - Venocur Triplex® Produtos sintéticos: Dobesilato de cálcio; naftazona - tribenosídeo. Alguns estudos demonstram que esses fármacos reforçam o tônus da parede venosa, diminuem a permeabilidade capilar e favorecem a microcirculação (efeito anti- inflamatório), ação antiedematosa e melhora na gravidade dos sintomas subjetivos como sensação de peso, cansaço, formigamento, cãibras e inquietude nas pernas. Posologia: A posologia desses fármacos é variada com intervalos de 8/8 horas (processo agudo) a 12/12 horas (manutenção da terapêutica). Efeitos adversos: distúrbios gastrintestinais, reações de hipersensibilidade. Dobesilato de cálcio (Dobeven®) – 500 mg cps Dose recomendada – 1000mg 2x ao dia Usos: retinopatia diabética (+), insuficiência venosa (+), hemorroidas (-). Diminui a permeabilidade capilar (aumenta o tônus), inibe agregação plaquetária, reduz viscosidade sanguínea e reduz edema. É um agente estabilizador do endotélio: inibe o fator de crescimento das células vasculares endoteliais (VEGF) e a cadeia dependente de eventos intracelulares e extracelulares (importante na retinopatia diabética) EA: dor abdominal, náuseas, vômito, cefaleia, diarreia, artralgia, mialgia, alteração enzimas hepáticas. Os resultados demonstraram que o uso destas substâncias é seguro, com baixo índice de efeitos colaterais, proporcionando melhora da sintomatologia no que tange a sangramento, dor pósoperatória e outros sintomas, como prurido, sendo estes resultados embasados em números Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 7° fase Medicina | 2022.2 estatisticamente significantes. Desta forma, esta revisão sistemática obteve a evidência necessária para o uso dos flebotônicos no tratamento clínico medicamentoso da doença hemorroidária. Tratamento com flebotômicos - hemorroida A maioria dos medicamentos para o tratamento sistêmico das varizes e hemorroidas, comercializados no mercado brasileiro, contém castanha-da-índia, escina e/ou rutosido (rutina) por via oral. Ex: Novarrutina® (Zurita) gotas e comprimidos, contendo Aesculus hippocastanun (castanha- da-índia), Polygonun punctatun, Smilax japicanga e rutosido; Venocur tríplex® (Knoll), contendo rutosido, castanha-da- índia e miroton; Venofortan® (Ariston) gotas e drágeas, contendo escina e vitamina B1; Venoruton® 300 e 500 mg (Allergan), contendo rutosido e Venostasin Retard® (Ariston), contendo castanha-da-índia. Os flavonoides estão associados ao fortalecimento da parede vascular e normalização da permeabilidade capilar. Reduzem sangramento e exsudação perianal Seu uso por períodos maiores (em torno de 60 dias ou mais) parece mostrar efeitos ainda melhores se comparados a curtos períodos de seguimento. Pouco efetivos para dor e prurido. No mercado brasileiro, estão disponíveis medicamentos com rutosídeo e com associação de diosmina e hesperidina. Castanha da índia: Composição Extrato seco de Aesculus hipocastanum L (castanha da índia) 10mg; Extrato seco de Smilax papyraceae L (Salsaparrilha) 40mg; Extrato seco de Polygonum acre L (Erva de Bicho) 10mg; Rutina 20mg. Posologia Tratamento inicial: 2 drágeas, 3 vezes ao dia, durante 2 dias. Tratamento de manutenção: 1 drágea, 3 vezes ao dia. Indicações Tratamento de afecções do sistema venoso, tais como: varizes, hemorroidas e como auxiliar no tratamento de úlceras varicosas. Efeitos adversos Bem tolerada. Raros: reações alérgicas, dor de cabeça, náuseae irritação da mucosa gástrica Associações de extratos de plantas com castanha da índia: Composição Rutosídeo 300 mg; Extrato seco de castanha da Índia 100 mg; Miroton* concentrado 150 UC** (Extratos estandardizados dos glicosídeos totais de Adonis vernalis, Convallaria majalis, Nerium oleander, Scilla marítima var. alba) Posologia Tratamento: 1-2 drágeas dia após as refeições. Pode chegar a 3 doses dia. Indicações Tratamento prolongado de todos os estados de estase venosa: varizes, síndrome pós-trombótica, hemorroidas, edemas estáticos, etc. Efeitos adversos Bem tolerada. Não relatados