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ABORTO LEGAL
Existem duas hipóteses previstas no Código Penal em que a prática do aborto não é crime. São causas especiais de exclusão de ilicitude.
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico:
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Aborto necessário ou terapêutico: 
Essa hipótese é prevista no inciso I do art. 128 do CP. Essa modalidade exige dois requisitos para a exclusão da ilicitude: 
· Não existe outro meio senão o aborto para salvar a vida da gestante. É a situação, por exemplo, quando é constatado nos primeiros meses da gestação que o crescimento do feto poderá resultar na morte da gestante por hemorragia interna nos meses seguintes. A situação de risco, portanto, não precisa ser atual. Para essa hipótese, a exclusão decorre do estado de necessidade. 
· O aborto deve ser realizado por médico. A intervenção só é permitida para profissionais habilitados na área da medicina. Caso exista perigo atual para a gestante, e ela esteja prestes a morrer em decorrência das complicações na gestação, qualquer pessoa poderá manejar a intervenção abortiva para salvar a sua vida, estando acobertada pela excludente do estado de necessidade de terceiro. 
Aborto sentimental ou humanitário: 
Essa modalidade pressupõe três requisitos: 
· A gravidez deve resultar de estupro. A provocação do aborto é permitida por se tratar de gravidez indesejada decorrente de ato sexual cometido com violência ou grave ameaça. Nas palavras do ilustre Nelson Hungria: “Nada justifica que se obrigue a mulher estuprada a aceitar uma maternidade odiosa, que dê vida a um ser que lhe recordará perpetuamente o horrível episódio da violência sofrida”.
· Consentimento da gestante ou de seu representante legal, caso a gestante seja incapaz. 
· O procedimento deve ser realizado por médico, sem exceções, já que nessa modalidade não existe situação de risco. Caso a gestante realize o aborto em si mesmo, mesmo que comprovado a prática de estupro, ela deve responder pelo crime de autoaborto. Caso a gestante saiba que está grávida, vai a delegacia e mente que foi estuprada, fazendo uso do boletim de ocorrência para ludibriar o médico, que realiza o procedimento abortivo, temos como consequências: a) para o médico: não há crime, pois ele acreditava estar acobertado pela excludente de ilicitude do aborto sentimental[footnoteRef:1]; b) para a gestante: há concurso material de crime, devendo ela responder por crime de consentimento para o aborto e por comunicação falsa do crime. [1: Essa é uma hipótese de descriminante putativa, prevista no art. 20, § 1º, CP: “É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima”.] 
Em nenhuma das hipóteses de aborto legal é exigido autorização judicial. No caso do aborto sentimental, é desnecessária a prévia condenação do estuprador. Se faz necessário, entretanto, que o médico esteja convencido da ocorrência de violência sexual, seja por exames feitos na vítima, pelos depoimentos em inquérito ou pelo boletim de ocorrência. 
Gravidez resultante de estupro cometido por mulher: 
Em uma situação excepcional, uma mulher mantém relações sexuais com um homem portador de grave doença mental, cometendo, portanto, o crime de estupro de vulnerável. Se do ato sexual, a mulher acaba ficando grávida, sendo ela a autora do crime, não pode se beneficiar pela excludente em estudo. 
Aborto em caso de anencefalia: 
Em 2012, o Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou procedente a Arguição de Descumprimento Fundamental (ADPF 54), impetrada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde. cujo objeto da ação era a declaração da constitucionalidade da interrupção da gestação caso o fato fosse anencéfalo. Tal conduta será, portanto, considerada atípica e dispensa autorização judicial. Basta somente o consentimento da gestante. O Ministro Relator, Marco Aurélio, argumentou no julgamento da ação constitucional o seguinte: “Diante de uma deformação irreversível do feto, há de se lançar mão dos avanços médicos tecnológicos, postos à disposição da humanidade não para simples inserção, no dia-a-dia de sentimentos mórbidos, mas, justamente, para fazê-los cessar”.
A título de conhecimento, a anencefalia consiste na malformação do tubo neural, caracterizado pela ausência parcial do encéfalo e do crânio. Assim como o morto cerebral, o anencéfalo “não deteria atividade cortical, de modo que se mostraria deficiente de forma grave no plano neurológico, dado que lhe faltariam não somente os fenômenos da vida psíquica, mas também a sensibilidade, a mobilidade, a integração de quase todas as funções corpóreas. Portanto, o feto anencefálico não desfrutaria de nenhuma função superior do sistema nervoso central responsável pela consciência, cognição, vida relacional, comunicação, afetividade e emotividade” (Marco Aurélio, STF, ADPF 54). A anencefalia é uma anomalia incurável. O Conselho Federal de Medicina publicou a Resolução n. 1.989/2012, responsável por regulamentar o procedimento em casos de constatação de anencefalia. 
Aborto eugênico ou eugenésico: 
Essa espécie de aborto acontece quando os exames pré-natais demonstram que a criança nascerá com alguma anomalia (ex.: Síndrome de Down ou ausência congênita de algum membro). Essa modalidade não encontra qualquer amparo legal em nosso ordenamento pátrio, portanto, constitui crime. 
Aborto consentido no primeiro semestre da gestação: 
Em 2016, a 1ª Turma do STF, cuja relatoria pertenceu ao Ministro Luís Roberto Barroso, julgou o Habeas Corpus 124.306/RJ. No julgamento, o remédio foi concedido para manter a liberdade dos pacientes que efetuaram o aborto no primeiro semestre da gestação. A decisão do ministro foi fundamentada no argumento de que a Constituição Federal de 1988 não recepcionou os crimes de aborto consentido praticados nesse primeiro trimestre. O relator também argumentou que a criminalização da conduta é incompatível com os seguintes direitos fundamentais: 
· os direitos sexuais e reprodutivos da mulher; 
· a autonomia da vontade da mulher; 
· a integridade física e psíquica da gestante; 
· a igualdade da mulher;
· proporcionalidade. 
É preciso ressalvar, no entanto, que neste momento não podemos afirmar que a Suprema Corte permitiu o procedimento do aborto durante o primeiro trimestre da gestação. A 1ª Turma se limitou aos fundamentos previamente mencionados somente para não decretar a prisão dos pacientes. Ademais, a decisão não foi proferida pelo Plenário do STF, e sim por maioria dos votos dos integrantes da 1ª Turma, portanto, essa decisão não possui caráter vinculante.

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