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1 TÓPICOS EM MICOLOGIA CLÍNICA MICOLOGIA CLÍNICA – ACL 5137 CURSO DE FARMÁCIA PROF a BERENICE PAGANI NAPPI PROF. JAIRO IVO DOS SANTOS NOME: 2015-2 2 2 ÍNDICE ASSUNTO: PÁGINA IMPORTÂNCIA MÉDICA DOS FUNGOS.................................................................... 03 MORFOLOGIA DOS FUNGOS EM VIDA PARASITÁRIA E SAPROFÍTICA................... 06 DERMATOFITOSES..................................................................................................................... 08 PITIRÍASE VERSICOLOR.......................................................................................................... 10 ERITRASMA.................................................................................................................................. 11 TINHA NEGRA (TINEA NIGRA)............................................................................................... 12 PIEDRAS......................................................................................................................................... 13 TRICOBACTERIOSE................................................................................................................... 13 CANDIDÍASES............................................................................................................................... 14 MICOSES CAUSADAS POR FUNGOS OPORTUNISTAS...................................................... 16 ESPOROTRICOSE........................................................................................................................ 19 CROMOMICOSE (CROMOBLASTOMICOSE)...................................................................... 20 MICETOMAS................................................................................................................................. 21 CRIPTOCOCOSE.......................................................................................................................... 23 PARACOCCIDIOIDOMICOSE................................................................................................... 25 HISTOPLASMOSE........................................................................................................................ 26 PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS UTILIZADOS EM MICOLOGIA CLÍNICA...... 27 COLHEITA DE MATERIAL BIOLÓGICO............................................................................... 27 EXAME DIRETO........................................................................................................................... 28 CULTIVO (SEMEADURA)........................................................................................................... 28 MICROCULTIVO (CULTIVO EM LÂMINA)........................................................................... 28 PRESERVAÇÃO E MANUTENÇÃO DE CULTURAS DE FUNGOS......................................... 29 BIOSEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE MICOLOGIA CLÍNICA................................ 29 SOLUÇÕES E MEIOS DE CULTURA UTILIZADOS EM MICOLOGIA CLÍNICA.......... 30 PROVAS ADICIONAIS E COMPLEMENTARES NA IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS... 34 TESTE DE PERFURAÇÃO DE PELOS IN VITRO................................................................... 34 MEIO PARA IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO Trichophyton...................... 34 TESTE DA UREASE...................................................................................................................... 35 MEIO PARA PROVA DE ASSIMILAÇÃO DE AÇÚCARES.................................................. 35 MEIO BASE PARA FERMENTAÇÃO DE AÇÚCARES......................................................... 35 CARACTERÍSTICAS DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE LEVEDURAS.............................. 37 INDUÇÃO DE TUBO GERMINATIVO..................................................................................... 38 INDUÇÃO DE CLAMIDOSPORO TERMINAL....................................................................... 38 TESTES UTILIZADOS NA IDENTIFICAÇÃO DE ACTINOMICETOS.............................. 38 PESQUISA DE FUNGOS ANEMÓFILOS NO AR.................................................................... 39 MORFOLOGIA DE DERMATÓFITOS..................................................................................... 40 MORFOLOGIA DE FUNGOS PATOGÊNICOS E ANEMÓFILOS....................................... 42 GLOSSÁRIO................................................................................................................................... 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................... 52 MICROMORFOLOGIA DE VIDA PARASITÁRIA DOS FUNGOS...................................... 53 MACROMORFOLOGIA E MICROMORFOLOGIA DE VIDA SAPROFÍTICA DOS FUNGOS......................................................................................................................................... 55 3 3 IMPORTÂNCIA MÉDICA DOS FUNGOS INTRODUÇÃO GERAL Micologia clínica é o ramo da microbiologia médica que estuda os fungos causadores de infecções (micoses) nos seres humanos. Por tradição, actinomicetos (bactérias filamentosas) patogênicos, e certas algas também são estudadas dentro da área de micologia. O que são fungos? Fungos são seres vivos com organização celular e DNA delimitado por dupla membrana, sendo, portanto, eucarióticos. São organismos micro ou macroscópicos, geralmente com quitina na sua parede celular. Apresentam células com mais de 1 µm de diâmetro. São aeróbicos e microaerófilos, geralmente necessitando de fontes orgânicas (C e N) para sua sobrevivência. No meio ambiente podem ser sapróbios ou patogênicos dependendo das condições e substrato em que se encontram. Os fungos pertencem ao Reino Fungi, que compreende cerca de 200.000 espécies. Destas, cerca de 150 a 200 espécies causam infecções nos seres humanos e animais. O conhecimento básico de aspectos como morfologia, fisiologia, reprodução, nutrição, atividade bioquímica, metabólitos, virulência, e estrutura antigênica, é de interesse em Análises Clínicas porque auxiliam no diagnóstico laboratorial das infecções, alergias e intoxicações por fungos, pois: 1) Os fungos são agentes de processos infecciosos (micoses) de quadros benignos e assintomáticos ou graves e evolutivos; 2) São agentes de hipersensibilidade tardia; 3) Agentes de micetismo - ingestão e intoxicação por fungos macroscópicos toxigênicos (cogumelos); 4) São agentes de micotoxicoses - ingestão contínua e prolongada de alimentos embolorados que contenham fungos produtores de micotoxinas. Os fungos podem ser classificados quanto a aspectos filogenéticos e pertencem ao Reino Fungi (MYCOTA) sendo que os de interesse médico estão agrupados na divisão AMASTIGOMYCOTA com as seguintes subdivisões: Zygomycotina, Ascomycotina, Basidiomycotina, Deuteromycotina (Fungi Imperfecti). Dentre estas subdivisões destacam-se algumas classes de maior interesse em Micologia Clínica: Classe Zygomycetes: Mucor sp., Rhizopus sp. Classe Ascomycetes: Saccharomyces cerevisiae, Piedraia hortae, Pseudallescheria boydii. Classe Deuteromycetes: Ordem Hyphomycetes é a mais importante; Cryptococcus neoformans, Malassezia furfur, Aspergillus fumigatus e Penicillium sp.. Na Micologia Médica e Clínica a classificação dos fungos está relacionada à localizaçãoda micose no organismo humano e dividem-se em: Micoses Superficiais, Cutâneas e Cutâneo-mucosas, Profundas e Sistêmicas. 4 4 ASPECTOS IMPORTANTES NA CLASSIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS FUNGOS 1) NUTRIÇÃO E FISIOLOGIA Os fungos são microrganismos heterotróficos com grande parte deles aeróbios obrigatórios embora possam crescer lentamente em atmosfera reduzida de oxigênio. Não realizam fotossíntese e a nutrição é feita por absorção produzindo então enzimas que hidrolisam uma grande variedade de substratos para torná-los assimiláveis. Para seu desenvolvimento e manutenção exigem fonte de carbono e nitrogênio (macronutrientes). O carbono tem a função de construção do material plástico ou energético. Os carboidratos mais utilizados para este fim são a glicose, sacarose, maltose, amido e celulose. Elementos como ferro, zinco, manganês, cobre, molibdênio e cálcio são exigidos em pequenas quantidades (oligonutrientes). Certos fungos requerem fatores de crescimento que não conseguem sintetizar como vitaminas (tiamina, biotina, riboflavina, ácido pantotênico). Como fonte de nitrogênio algumas espécies utilizam sais de amônio ou nitratos (nitrogênio orgânico) e outras exigem substratos nitrogenados como as peptonas do meio de cultura. Os fungos podem acumular como substâncias de reserva carboidratos e lipídeos em seu micélio. A água é fundamental para o crescimento fúngico podendo ser captada da atmosfera ou do meio nutritivo, embora certos fungos sobrevivam em ambientes desidratados onde então produzem certos tipos de elementos reprodutivos para situações desfavoráveis ou podem entrar em vida latente. Portanto, o grau de umidade do meio é um fator determinante em todo o ciclo de vida dos fungos. Existem fungos chamados halófilos que crescem em ambientes com grande quantidade de sal e aqueles que toleram meios com grandes quantidades de açúcar. A temperatura de crescimento abrange uma larga faixa, porém os fungos de importância médica são mesófilos (20 a 30 C). O pH mais favorável ao crescimento fúngico está entre 5 e 7, embora a maioria dos fungos tolere amplas variações de pH. O tempo de crescimento dos fungos é mais lento que o das bactérias e suas culturas precisam em média de 7 a 15 dias de incubação. Muitas espécies exigem luz para seu desenvolvimento. Entretanto, encontram-se outras que podem ser inibidas ou mesmo indiferentes à presença de luminosidade. Os fungos podem elaborar vários metabólitos dentre os quais antibióticos (penicilina), e micotoxinas (aflatoxinas, por exemplo) com ampla aplicação biotecnológica e farmacêutica. 2) ATIVIDADE BIOQUÍMICA Em condições aeróbias a via glicolítica é responsável por 30% da glicólise enquanto que em condições de anaerobiose é usada uma via alternativa (Embden-Meyerhof). Estas atividades estão relacionadas com a identificação de espécies de leveduras onde o fungo utiliza C ou N como fonte de nutrientes por via aeróbia (assimilação) e/ou anaeróbia (fermentativa) utilizando açúcares. 3) REPRODUÇÃO E CRESCIMENTO A classificação dos fungos baseia-se nas características dos órgãos reprodutivos da fase sexuada e características morfológicas da fase assexuada e micélio. Os fungos, em geral os filamentosos, podem se reproduzir em ciclos sexuais, assexuais e, com menor frequência, o ciclo parassexual. As leveduras são geralmente unicelulares e se reproduzem por brotamento ou gemulação, podendo a reprodução ser assexuada ou sexuada. A reprodução se faz por meio de órgãos de frutificação como esporos, conídios, gametas. Entretanto a maioria dos fungos é potencialmente capaz de obter crescimento em 5 5 partes de seu micélio (conjunto de hifas) que forma o corpo do fungo e através do desenvolvimento a partir de um fragmento ou da ponta da hifa. Reprodução assexuada (Fase Anamorfa ou Imperfeita) Os órgãos de frutificação são formados por diferenciação da hifa através de células reprodutivas especializadas e não sexuadas como conídios, blastoconídios e artroconídios. Este método de reprodução é o mais frequente e mais importante para a multiplicação e manutenção das espécies, assim como sua disseminação, ocorrendo em condições impróprias ao seu desenvolvimento. Os chamados fungos Imperfeitos se utilizam muito deste tipo de reprodução. Reprodução sexuada (Fase Teleomorfa ou Perfeita) Envolve a união de dois núcleos geneticamente compatíveis. É um tipo de reprodução esporádica que através de recombinação genética serve para aperfeiçoamento (variabilidade) das espécies, melhor adaptação ao meio, especialização contínua, ocorrendo em condições favoráveis sendo importante para a diversidade das espécies. Ocorre nos chamados fungos perfeitos. Muitos fungos possuem as duas fases reprodutivas podendo ser obtidas em laboratório, outros, contudo, necessitam de mais estudos para esclarecer o tipo de reprodução. Ciclo Parassexual Este ciclo é semelhante ao sexual só que em pontos não definidos da hifa ou em certo momento do ciclo de vida do fungo, sem a formação de meiose. Ocorre em certas espécies de fungos ou em certo momento do seu ciclo vital. É importante para a evolução de determinados fungos. 6 6 MORFOLOGIA DOS FUNGOS EM VIDA PARASITÁRIA E SAPROFÍTICA A classificação e identificação dos fungos de interesse médico baseiam-se principalmente em características morfológicas tanto em vida parasitária nos organismos vivos quanto em vida saprofítica em meios apropriados de cultivo ou no meio ambiente. Em vida parasitária os fungos patogênicos são encontrados nas lesões como elementos microscópicos na forma filamentosa ou leveduriforme. Ao serem cultivados, os fungos podem ser reconhecidos por suas características macro e/ou micromorfológicas. Macromorfologicamente são divididos em fungos filamentosos (bolores) e leveduras. Na micromorfologia possuem vários componentes celulares semelhantes à célula humana além de alguns mais específicos como septos, hifas, rizóides, etc. A estrutura elementar que auxilia a identificação é o micélio (conjunto de hifas) vegetativo/reprodutivo com funções específicas de absorção de nutrientes, fixação, manutenção, crescimento e reprodução do fungo no substrato. Nos fungos filamentosos o micélio é pluricelular, septado ou cenocítico (sem ou com raros septos), hialino ou demácio, enquanto que nos fungos leveduriformes o micélio é unicelular. As características apresentadas em vida de cultivo tais como cor, textura, topografia e pigmento reverso, além das estruturas das hifas, micélio, órgãos reprodutivos baseados nas observações macro e micromorfológicas são importantes na determinação do gênero e/ou espécie patogênica. A seguir, um resumo dos aspectos morfológicos dos fungos patogênicos: I. MORFOLOGIA DE VIDA PARASITÁRIA É a que o fungo apresenta nos tecidos de um hospedeiro infectado. I.1. Pele e unhas. Nestes tecidos os fungos podem apresentar-se como: I.1.a. Hifas ou filamentos micelianos (pag. 53). I.1.b. Artroconídios ou artrósporos (pag. 53). I.1.c. Blastoconídios, blastosporos, leveduras ou elementos leveduriformes (pag. 53). I.1.c. Pseudo-hifas (pag. 54). I.2. Pelos e cabelos. Neste caso os fungos se apresentam como hifas, artroconídios ou esporos (elementos arredondados) de localização: I.2.a. Endothrix: interna (pag. 54). I.2.b. Ectothrix: externa (pag. 54). I.2.c. Nódulos (piedras): externa. I.3. Secreções, líquidos, lesões granulomatosas, lesões supuradas. I.3.a. Hifas ou filamentos micelianos. I.3.b.Blastoconídios ou blastosporos: brotamento simples, múltiplos ou encapsulados. I.3.c. Pseudo-hifas. II. MORFOLOGIA DE VIDA SAPROFÍTICA É a morfologia que o fungo apresenta na natureza ou em meios nutritivos artificiais (meios de cultura). Micélio: é o conjunto de hifas e/ou blastoconídios do fungo. As hifas em sua forma filamentosa usual podem, em algumas ocasiões, sofrer modificações estruturais e morfológicas e dar origem aos conidióforos, que produzem os conídios, que são elementos de propagação assexuada. 7 7 II.1. MACROMORFOLOGIA DE COLÔNIA É o estudo macroscópico dos caracteres morfológicos da colônia do fungo. Os caracteres analisados são: II.1.a. Topografia da colônia: plana, elevada, umbeliforme, cerebriforme. II.1.b. Textura: algodoada, aveludada, granulosa, pulverulenta, membranosa, cremosa, gomosa. II.1.c. Cor da colônia. II.1.d. Produção de pigmentos. II.1.e. Micélio aéreo e profundo. II.2. MICROMORFOLOGIA DA COLÔNIA É o estudo microscópico dos caracteres morfológicos de fragmentos da colônia ou microcultivo em lâmina (pag. 28) após coloração com lactofenol azul-algodão (pag. 30). Os principais elementos morfológicos dos fungos, de importância na identificação dos gêneros e espécies são: hifas septadas, hifas não-septadas, artroconídios, gavinhas, candelabros fávicos, pseudohifas, acládios, blastoconídios (blastosporos), macro e microconídios, clamidoconídios (lamidosporos), didimosporos, ascos e ascosporos, esporângios e esporangiosporos. VARIAÇÕES MORFOLÓGICAS Os fungos patogênicos podem apresentar dois tipos de variações morfológicas: Dimorfismo: É uma variação reversível que consiste na passagem da fase leveduriforme para a fase filamentosa e vice-versa, e está na dependência de fatores como temperatura e oferta de nutrientes. Pleomorfismo: Consiste numa variação irreversível, que geralmente ocorrem após passagens sucessivas em meio de cultura, nos quais perdem suas características morfológicas usuais, dificultando a sua identificação. 8 8 DERMATOFITOSES (TINHAS) DEFINIÇÃO São micoses causadas por fungos conhecidos como dermatófitos, adaptados à infecção superficial de tecidos queratinizados como unhas, pelos e cabelos, e estrato córneo da pele. PRINCIPAIS GÊNEROS E ESPÉCIES 1. Epidermophyton: Epidermophyton floccosum 2. Microsporum: Microsporum canis Microsporum gypseum 2. Trichophyton: Trichophyton rubrum Trichophyton mentagrophytes Trichophyton tonsurans Trichophyton schoenleinii TRANSMISSÃO A transmissão se dá por contato com escamas de pele ou pelos parasitados, ou ainda areia ou terra contendo elementos fúngicos viáveis. De acordo com os locais onde são encontrados, os dermatófitos podem ser classificados em: 1. Dermatófitos geofílicos: encontrados no solo. A transmissão é via solo - ser humano. Ex: M. gypseum. 2. Dermatófitos zoofílicos: parasitam animais. A transmissão é via animais - ser humano. Ex: M. canis, T. mentagrophytes. 3. Dermatófitos antropofílicos: encontrados exclusivamente no ser humano. A transmissão é inter-humana. Ex: E. floccosum, T. rubrum, T. tonsurans, T. schoenleinii. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As dermatofitoses são classificadas de acordo com o local anatômico afetado, de acordo com a seguinte nomenclatura: Tinea + local afetado (em latim). Assim, as formas clínicas mais comuns são: 1. Tinea capitis: Couro cabeludo. Podem ser de dois tipos: 1.a.Tinha tonsurante. Caracteriza-se por placas tonsurantes no couro cabeludo, podendo haver processos inflamatórios de intensidade variável. São causados principalmente pelo M. canis e T. tonsurans. 1.b. Tinha favosa. Também conhecida por favo, é causada pelo T. schoenleinii, e caracteriza-se por uma foliculite de curso crônico. Na lesão é encontrado o escútulo, que é uma crosta constituída por hifas, conídios, células e exsudato inflamatório. A perda de cabelo é permanente. 2. Tinea pedis (pé-de-atleta): Pés. É desencadeada pelo uso de calçados anti-higiênicos, sudação, umidade, acometendo frequentadores de piscinas, soldados, estudantes e atletas. As lesões são caracterizadas pela formação de vesículas, fissuras nos espaços interdigitais, esfoliações pruriginosas, edemaciadas ou dolorosas. São causadas principalmente pelo T. rubrum, T. mentagrophytes e E. floccosum. 3. Tinea unguium (onicomicose, unheiro): Unhas. Caracteriza-se por lesões destrutivas e esfarinhadas das unhas, iniciando-se pelas bordas livres, de cor branco-amarelada. Em geral ocorre formação de hiperceratose do leito ungueal, porém os tecidos periungueais raramente são afetados. São causadas principalmente pelo T. rubrum, T. mentagrophytes e E. floccosum. 4. Tinea corporis: Dermatofitoses da pele glabra. As lesões se manifestam sob a forma de eritema ou manchas pápulo- escamosas, placas eritematosas, isoladas ou confluentes, descamativas, pruriginosas e de curso prolongado. As principais espécies envolvidas são T. rubrum, M. canis e E. floccosum. 5. Tinea cruris: Virilha e nádegas. É causada principalmente pelo T. rubrum, T. mentagrophytes e E. floccosum. 9 9 6. Tinea barbae ou Tinea faciei: Face. É causada principalmente por T. mentagrophytes e T. verrucosum. 7. Tinea manuum: Mãos. É causada principalmente pelo T. rubrum, T. mentagrophytes. 8. Tinea imbricata: Corpo. É restrita a alguns grupos indígenas, sendo causada exclusivamente pelo Trichophyton concentricum. Além destas formas clínicas, as dermatofitoses estão associadas ao desencadeamento de reações imunológicas aos produtos do fungo, sendo o processo conhecido como mícides ou dermatofítides. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 1. Exame microscópico direto. O material (pele, unha, pelos e cabelos) deve ser examinado ao microscópio após clarificação com potassa a 20% (pag. 30). Resultado negativo é expresso como “ausência de elementos fúngicos no material examinado”. Resultado positivo é expresso como “presença de filamentos micelianos ou hifas no material examinado”(pag. 53). Em caso de pelos e cabelos infectados, o resultado é expresso como “micose do tipo Ectothrix ou Endothrix” (pag. 54). 2. Cultivo. O material biológico deve ser semeado em ágar Sabouraud seletivo (pag. 31). A incubação é feita à 25 o C ou temperatura ambiente. Acompanhamento por até quatro semanas, avaliando-se as características macro e micromorfológicas, e identificando-se o gênero ou espécie. 3. Testes adicionais. Devem ser realizados quando não se consegue identificar as colônias que crescem no meio de cultura. Podem ser utilizados os seguintes testes: teste de perfuração de pelo in vitro (pag. 34), prova de urease (pag. 35), provas nutricionais (inositol, tiamina, ácido nicotínico; pag.34) e crescimento em meios de arroz (pag. 31). 10 10 PITIRÍASE VERSICOLOR DEFINIÇÃO É uma infecção crônica da camada córnea da pele, caracterizada por lesões descamativas hipo ou hipercrômicas. SINONÍMIA Tinea versicolor, micose de praia, pano, etc. AGENTE CAUSAL Espécies do gênero Malassezia. Este gênero atualmente compreende sete espécies principais: M. furfur, M. sympodialis, M. pachydermatis, M. globosa, M. obtusa, M. restricta, M. slooffiae. Recentemente, outras espécies também foram descritas. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA E PREVALÊNCIA É frequente nos doissexos, com predominância em adultos jovens. Pode acometer outras faixas etárias. TRANSMISSÃO É um fungo antropofílico, sendo que o ser humano é a única fonte de contaminação, pelo contato inter-humano, ou através de fômites como toalhas, vestuário, etc. FATORES PREDISPONENTES Deficiências vitamínicas, desnutrição, tuberculose, diabetes mellitus, corticoterapia prolongada, sudorese, gravidez, etc. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A Pitiríase versicolor apresenta-se como máculas, finamente descamativas e geralmente assintomáticas, cuja coloração varia do marfim ao castanho-escuro. As escamas geralmente têm o aspecto farináceo, daí serem denominadas escamas furfuráceas. Em peles pigmentadas as áreas lesionadas podem se tornar acrômicas devido à diminuição do pigmento melânico da epiderme. As lesões predominam na parte superior do tórax, face e antebraços. Porém, outras regiões do corpo podem ser afetadas. Outras patologias associadas à Malassezia sp.: malassezioses, foliculite pitirospórica, dermatite seborreíca, dermatitite atópica, etc. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 1. Exame direto: exame microscópico das escamas raspadas, após clarificação com potassa. O material também pode ser colhido com fita adesiva, a qual é posteriormente montada em lâmina e examinada ao microscópio. Em casos positivos geralmente são observados elementos leveduriformes agrupados e hifas curtas e tortuosas, que compõe a morfologia parasitária deste fungo (pag. 53, 54). Resultado a ser expresso: Malassezia sp. 2. Cultivo. Não é feito rotineiramente. Todas as espécies deste gênero são lipofílicas e a maioria (com exceção de M. pachydermatis) é lipodependente.Para o isolamento e crescimento deste fungo é essencial a presença de lipídios (óleo de oliva) ou ácidos graxos de determinado tamanho de cadeia no meio. Os meios mais utilizados são: 1) 1)Ágar Sabouraud seletivo contendo 1% óleo de oliva e 3% bile de boi; 2) Meio de Dixon e; 3) Meio de Leeming & Notman. O fungo cresce entre 4-10 dias à 37 o C. Inicialmente são colônias de cor creme, brilhantes, elevadas e que posteriormente se tornam foscas, secas e beges. As diversas espécies apresentam colônias muito parecidas entre si, e exigem a realização de testes morfofisiológicos e bioquímicos complementares para a sua diferenciação. Estes testes incluem cultivo em Tween 20, 40, 60, 80, Cremofor EL, teste de catalase e beta glicosidase e cultivo em diferentes temperaturas. 11 11 ERITRASMA DEFINIÇÃO É uma infecção bacteriana, cujas lesões são morfologicamente semelhantes àquelas observadas em micoses superficiais. AGENTE CAUSAL Corynebacterium minutissimum (Nocardia minutíssima) PREVALÊNCIA Ocorre principalmente em países quentes e acomete principalmente indivíduos adultos do sexo masculino, sendo raro em mulheres e crianças. TRANSMISSÃO Inter-humana ou através de fômites (vestuário). FATORES PREDISPONENTES Maceração de pele, sudação, umidade, etc. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Tem localização perigenital e axilar. Apresenta-se como lesões eritematosas ou acastanhadas pouco sintomáticas, com os bordos bem definidos. A localização interpodigital também tem sido descrita. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 1. Exame direto. Obtenção das escamas da lesão por raspagem. Suspensão das mesmas em uma gota de soro humano e feitura de esfregaços e coloração pelo Gram. Evidenciação de filamentos finos, agrupados em feixes retilíneos ou torcidos, pouco ramificados, sob a forma cocóide (1 m de diâmetro) ou bacilar (5-25 m), gram-positivos. 2. Cultivo. Não é feito rotineiramente. Quando é feito, é utilizado ágar-sangue ou meio para cultivo celular enriquecido com 20% de soro fetal bovino. 12 12 TINHA NEGRA (TINEA NIGRA) DEFINIÇÃO Micose superficial que se localiza preferencialmente na camada córnea da palma das mãos, sob a forma de pequenas lesões papulosas, de coloração preta, que podem confluir formando pequenas placas ou manchas fuliginosas. AGENTE CAUSAL Hortaea werneckii (Phaeoannelomyces werneckii). PREVALÊNCIA Distribuição praticamente universal, sendo mais prevalente em regiões tropicais e subtropicais. TRANSMISSÃO É saprófita de vida livre encontrado em beira dos mares tropicais e subtropicais, solo, areia do mar, ar e plantas. O fungo pode ser veiculado para o organismo através de pequenos traumas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Lesões maculo-papulosas, sem tendência à cura espontânea, castanhas ou negras, podendo confluir formando placas ou manchas. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Exame direto: colheita das escamas das lesões suspeitas, clarificação com potassa e exame microscópico. Na lesão apresenta-se como filamentos micelianos curtos e de parede espessa, de coloração pardo-escura, com a presença de clamidósporos e elementos leveduriformes. Cultivo: Cultiva-se em ágar Sabouraud com ou sem inibidores (pag. 30,31). Macromorfologicamente as colônias apresentam-se verde-escuras, ou cinza-esverdeadas, cremosas, de superfície lisa ou rugosa, tornando-se, com o tempo, negras e aveludadas (pag. 60). Ao exame micromorfológico evidenciam-se elementos leveduriformes, às vezes com brotamento e com septo central (didimosporos) (pag. 61). Filamentos micelianos acastanhados também podem estar presentes. 13 13 PIEDRAS DEFINIÇÃO São micoses nodulares de pelos e cabelos, no qual o fungo se localiza na parte livre e aérea da haste do pelo. TIPOS E AGENTES CAUSAIS: 1. Piedra preta: Piedraia hortae 2. Piedra branca: Trichosporon sp. PREVALÊNCIA E TRANSMISSÃO: A piedra preta é endêmica em áreas tropicais da América central e do Sul e da Oceania, enquanto que a piedra branca é encontrada em áreas subtropicais e temperadas do Mundo. Em ambos os casos a transmissão se dá através de contatos com pessoas ou fômites, contaminados com os fungos. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL E MORFOLOGIA Exame direto: Evidenciação da morfologia de vida parasitária ao microscópio, após clarificação e esmagamento do nódulo entre lâmina e lamínula. 1. Piedra preta: apresenta-se como nódulos escuros ou negros, duros, com 0,5-1,0 mm, firmemente presos à haste do pelo, em número de 1 a 4 nódulos por fio. À microscopia são observados filamentos micelianos septados e acastanhados e também a presença de ascos contendo ascósporos (pag. 54). 2. Piedra branca: nódulos claros, brancos ou castanho-claro, friáveis e moles, podendo ser facilmente destacáveis dos pelos. Microscopicamente são observados artroconídios e blastoconídios. Cultivo: ambos os fungos crescem facilmente em ágar Sabouraud (pag. 30). O Trichosporon sp. é inibido pelo cicloheximide. As características morfológicas em vida saprofítica são: 1. Piedraia hortae: colônias de crescimento lento, cinzas, negras ou esverdeadas, aveludadas elevadas ou planas, lisas ou cerebriformes (pag 60). À microscopia são observados filamentos micelianos acastanhados, septados e ramificados. 2. Trichosporon sp.: colônias de crescimento rápido, cor creme, rugosas ou cerebriformes (pag. 62). Ao exame microscópico observam-se artroconídios (pag. 63) e blastoconídios. TRICOBACTERIOSE (TRICOMICOSE NODULAR AXILAR) DEFINIÇÃO É uma bacteriose que afeta os pelos da axila e raramente os pelos pubianos, sendo causada pelo Corynebacterium tenuis. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Apresenta-se na forma de nódulos de diferentes cores: amarela, vermelha e preta. Assim, podem ser denominados tricomicose flava, rubra e nigra. Ao microscópio os nódulossão constituídos por filamentos finos bacterianos, entrelaçados, circundados por substância amorfa. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Exame direto: evidenciação da morfologia bacteriana ao microscópio. Cultivo: Meio 199 (para cultivo celular) acrescido de soro fetal bovino, ou ágar-sangue. A temperatura de incubação é de 37 o C. 14 14 CANDIDÍASES DEFINIÇÃO São infecções causadas por leveduras pertencentes ao gênero Candida, principalmente a espécie Candida albicans, e que acometem a pele, unhas, mucosas, trato intestinal e urinário, etc. AGENTES ETIOLÓGICOS São representados por várias espécies do gênero Candida: Candida albicans; Espécies de Candida- não albicans: Candida tropicalis - Candida parapsilosis - Candida glabrata - Candida pseudotropicalis - Candida guilliermondii - Candida krusei TRANSMISSÃO Geralmente é endógena (a C. albicans é frequentemente um simples comensal de mucosas e trato gastrointestinal e respiratório). Pode haver transmissão por contato inter-humano e fômites (roupas e toalhas). FATORES PREDISPONENTES Imunodepressão (AIDS), uso prolongado de corticosteróides, gravidez, diabetes, queimaduras graves, maceração das dobras da pele, sudorese intensa e umidade constante. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1. Candidíases superficiais: 1.a. Candidíase oral: ocorre formação de placas brancas na mucosa oral e cantos dos lábios (sapinho). 1.b. Candidíase intertriginosa: lesões eritematosas, úmidas, exsudativas e descamativas, localizadas nas dobras da pele como axilas, região submamária, interglútea, perianal, espaços interdigitais, etc. 1.c. Vulvovaginite por Candida: lesões pruriginosas e eritematosas com leucorréia e sensação de queimadura. 1.d. Onicomicose por Candida: acometem principalmente a região periungueal da unha, a qual se apresenta edemaciada, avermelhada e dolorosa. Por pressão, geralmente eliminam material purulento, rico em elementos leveduriformes. 1.e. Candidíase muco-cutânea: acometimento da pele, mucosas e unha. 2. Candidíase disseminada: acometimento visceral. A candidíase em pacientes com AIDS ocorre em mais de 80% destes pacientes, como infecção oportunista. As formas clínicas mais frequentes são a candidíase esofagiana, onicomicoses e vulvovaginites, todas de difícil tratamento. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Exame direto: evidenciação da morfologia de vida parasitária no material biológico. As espécies do gênero Candida apresentam-se como blastoconídios arredondados ou ovalados, 3-6 x 3-9 m, que apresentam brotamento. Alguns blastoconídios se alongam tornando-se pseudo-hifas. Em caso de invasão tecidual, a C. albicans pode formar tubos germinativos, que se transformam em filamentos micelianos septados. Cultivo: ágar Sabouraud com ou sem inibidores (pag. 30, 31) e incubação à temperatura ambiente. Algumas espécies de Candida são sensíveis ao cicloheximide. Em ágar Sabouraud as colônias são lisas, brilhantes e cremosas. À micromorfologia são observados blastoconídios e raras pseudo-hifas, não se diferenciando as espécies deste gênero (pag. 65). Em ágar-fubá há a produção pela C. albicans dos chamados clamidósporos terminais (pag. 65). Outras espécies de Candida não produzem estes elementos, com exceção da Candida dubliniensis. 15 15 Testes complementares 1. Meios específicos para Candida sp. Mudanças da cor das colônias. Permitem a identificação de algumas espécies. 2. Indução de clamidosporos terminais em meios pobres como o ágar-fubá e ágar-arroz (pag. 31) para identificação de C. albicans/C. dubliniensis. 3. Indução de tubo germinativo para identificação de C. albicans/C. dubliniensis. 4. Provas de assimilação e fermentação de açúcares. 16 16 MICOSES CAUSADAS POR FUNGOS OPORTUNISTAS: Hialohifomicoses, Zigomicoses e Pneumocistose DEFINIÇÃO Micoses oportunistas são infecções causadas por organismos fúngicos que normalmente não são infectantes, os quais se aproveitam de alterações nas condições fisiológicas normais do hospedeiro, para se implantar e se multiplicar, causando patologias. Hialohifomicoses são micoses causadas por fungos filamentosos hialinos. CONDIÇÕES ASSOCIADAS À INFECÇÃO FÚNGICA OPORTUNÍSTICA Hospedeiro imunocompetente - a capacidade do fungo dependerá de vários fatores como densidade de propágulos, tempo de exposição, virulência da cepa, nutrientes disponíveis ao metabolismo do fungo, etc. As condições patológicas associadas à infecção fúngica oportunistica são: Neoplasias, leucemias e linfomas; doenças auto-imunes (lúpus eritematoso); uso prolongado de corticosteróides e outros imunodepressores; endocrinopatias como diabetes mellitus; queimaduras extensas e outros traumatismos; desnutrição; AIDS e leucemia com neutropenia. PRINCIPAIS FUNGOS OPORTUNISTAS E RESPECTIVAS MICOSES Fungo Micose Candida sp Candidíase Histoplasma capsulatum Histoplasmose Zygomycetes: Rhizopus sp. Mucor sp. Absidia sp. Zigomicoses Aspergillus sp. Aspergilose Fusarium sp. Fusariose Pneumocystis jiroveci Pneumocistose ZIGOMICOSES Principais agentes etiológicos: Rhizopus sp., Mucor sp. Habitat: São encontrados em suspensão no ar, água, solo e alimentos (pães velhos), frutas e batatas. Transmissão: Dá-se através da inalação de esporos, ingestão (alimentos), penetração traumática dos esporos (feridas). Fatores de risco: pacientes imunocomprometidos (leucemias, neutropenias, diabetes mellitus descompensada), uso de corticosteróides. Manifestações clínicas 1. Zigomicose cutânea. 2. Zigomicose pulmonar. 3. Zigomicose rinocerebral. 4. Zigomicose disseminada (fígado, coração, rins e tubo digestivo). Patogenia: tropismo vascular devido à implantação do fungo nos vasos sanguíneos com formação de trombos e necrose hemorrágica. Diagnóstico laboratorial: A zigomicose é uma infecção de progresso rápido e necessita de diagnóstico imediato. O material biológico é representado por secreção, escarro e biópsias. 17 17 1. Exame direto, histopatológico e cultura. A observação da micromorfologia é importante pois as hifas são não- septadas (cenocíticas), largas, com ramificações em ângulos retos (90 º ) , muito características, que invadem as paredes dos vasos e colonizam a luz dos mesmos. 2. Cultivo: ágar Sabouraud sem inibidores. Raramente crescem em hemocultivo e são termotolerantes sendo que a patogenicidade está relacionada à temperatura. ASPERGILOSE A doença varia de acordo com as extensões das lesões, tempo de evolução clínica, tipo de órgão afetado e grau de resistência orgânica do hospedeiro. Agentes etiológicos: Aspergillus fumigatus, A. niger, A. flavus, A. clavatus, A. nidulans, etc. Transmissão: Dá-se pela inalação ou ingestão de conídios que existem no meio ambiente (solo, ar, vegetação, água, alimentos). Fatores de risco associados: leucemias e linfomas transplantados renais, defeitos na funçãoleucocitária. Manifestações clínicas: as doenças variam desde toxicose, alergia, colonização até invasão tecidual. Aspergilose pulmonar: pode ser alérgica, invasiva e intracavitária. Outras manifestações menos frequentes incluem a forma cutânea, cerebral, orbitária, intestinal. Patogenia: o fungo pode se localizar na superfície dos brônquios causando a bronquite catarral. Quando se encontra em cavidades pré-existentes, causadas por vários processos patológicos como tuberculose, abcessos, etc., vai ser denominado de “bola fúngica”. A aspergilose invasiva do parênquima pulmonar se faz pelas hifas nos tecidos com formação de lesões granulomatosas e necróticas. Diagnóstico laboratorial: O material biológico é constituído principalmente por biópsias de tecidos afetados. O escarro tanto em exame direto como em cultura não tem significado clínico porque pode significar apenas colonização do pulmão. Os exames histopatológico e radiológico são muitos importantes e devem estar associados ao diagnóstico clínico. FUSARIOSE Está relacionada a espécies do gênero Fusarium. São patogênicas para as plantas e produzem toxinas (tricoteceno). Os fatores de risco: leucemias, linfomas. Manifestações clínicas: ceratites (infecção da córnea), lesões necróticas tegumentares e fungemia. Diagnóstico Laboratorial: Exame micológico direto e cultivo, complementado com estudos histopatológicos tanto para casos de suspeita de fusariose, trichosporonose ou qualquer outra suspeita de infecção causada por fungo considerado contaminante. 18 18 PNEUMOCISTOSE Agente etiológico: Pneumocystis jiroveci (P. carinii). Transmissão: reativação de focos primários ou reinfecção exógena. Fator de risco: Baixos níveis de CD4 (< de 200/mm 3): AIDS– uso de corticóides –transplantes – desnutrição – leucemias/linfomas. Mecanismo de agressão: Formação de exsudato e infiltração de células inflamatórias (células plasmáticas). Manifestações clínicas: Pneumonia é mais marcante: dispnéia – febre - tosse. Outros órgãos podem ser afetados: rins - cérebro - tireóide - tubo digestivo - fígado - baço. Diagnóstico laboratorial: lavado brônquico – biópsias – escarro. São utilizados métodos de evidenciação direta após coloração (Ortotoluidina, Giemsa, Prata) ou pesquisa de DNA fúngico. Não é um fungo cultivável. 19 19 ESPOROTRICOSE DEFINIÇÃO É uma micose subcutânea de natureza gomosa, na qual há a formação de nódulos subcutâneos que posteriormente ulceram e supuram. AGENTE ETIOLÓGICO É constituído por um complexo de seis espécies e, dentre elas, Sporothrix schenckii e Sporothrix brasiliensis são as espécies mais frequentemente isoladas em casos humanos. EPIDEMIOLOGIA Ocorre em todo o mundo, sendo mais comum em áreas temperadas e tropicais. O grupo mais afetado é aquele representado por indivíduos adultos do sexo masculino. Também é frequente em determinadas profissões como jardineiros, agricultores, veterinários, carpinteiros, mineiros, etc. TRANSMISSÃO O Sporothrix vive como saprófita em vegetais, detritos orgânicos, solo ou água contaminados bem como a boca e pelos de animais (gatos, ratos, cachorros, coelhos, equinos, etc). O fungo penetra geralmente por meio de traumas, embora também possa ser inalado ou ingerido. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O período de incubação varia de três dias a seis meses. Acomete principalmente os membros superiores, face e membros inferiores. As principais formas clínicas são: 1. Forma linfocutânea. A lesão inicia-se como uma pápula, pequena úlcera ou nódulo subcutâneo, indolor. As lesões se estendem através dos vasos linfáticos, produzindo um cordão de nódulos subcutâneos firmes e assintomáticos. 2. Forma cutânea fixa ou localizada. É uma lesão solitária confinada ao local de inoculação. 3. Forma cutânea disseminada. Pode resultar de disseminação hematogênica ou inoculação. As lesões manifestam-se através de pápulas, nódulos subcutâneos, lesões gomosas, ulcero-vegetantes e verrucosas, com comprometimento geral do paciente. 4. Esporotricose sistêmica. Ocorre em pacientes imunocomprometidos e resulta da disseminação hematogênica. Os órgãos mais afetados são os olhos, nariz, faringe, pulmões e ossos. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Material biológico: material purulento de nódulos fechados, raspagem e escarificação ou biópsia. Exame direto: após clarificação com potassa ou coloração pelo Gram, PAS, Giemsa e prata, e pesquisa do fungo nas lesões com anticorpos fluorescentes. Nas lesões são observados escassos elementos leveduriformes fusiformes, com brotamentos e em alguns casos os chamados “corpos asteróides”. Cultivo: As espécies do gênero Sporothrix são fungos dimórficos e que se apresentam sob duas fases: 1. Fase filamentosa: ocorre quando o fungo é cultivado em ágar Sabouraud em temperatura ambiente. A colônia se apresenta com a superfície rugosa, pregueada e membranosa, branca ou creme, geralmente desenvolvendo um pigmento marrom ou negro em parte do micélio (pag. 72). A micromorfologia é constituída por conídios piriformes arranjados tipicamente em forma de “margarida” (pag. 73). 2. Fase leveduriforme: ocorre quando o fungo é cultivado em meios nutricionalmente ricos em proteínas como ágar- infusão de cérebro e coração ou ágar-sangue e incubados à temperatura de 37 ºC. As colônias são cremosas, claras e de superfície irregular. A micromorfologia é constituída por elementos leveduriformes, ovalados ou fusiformes. 20 20 CROMOMICOSE (CROMOBLASTOMICOSE) DEFINIÇÃO É uma micose cutânea ou subcutânea de curso crônico, causada por fungos demácios, e caracterizada pelo aparecimento de nódulos ou verrugas, ulceradas ou não, principalmente nos membros inferiores. AGENTES ETIOLÓGICOS Fonsecaea pedrosoi Phialophora verrucosa Fonsecaea compacta Cladophialophora (Cladosporium) carrioni Rhinocladiella aquaspersa EPIDEMIOLOGIA A cromomicose distribui-se mundialmente, porém é mais prevalente em regiões tropicais. No Brasil, que detém cerca de um terço do total de casos, a maioria ocorre em indivíduos do sexo masculino. TRANSMISSÃO Os fungos vivem em matéria orgânica, vegetais em decomposição e solo. A transmissão se faz através de penetração de espinhos ou farpas de madeira. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1. Forma verrucosa: caracteriza-se por espessamento e endurecimento da derme e epiderme decorrente de hiperceratose e hiperacantose, assemelhando-se à elefantíase. 2. Forma ulcero-vegetante: lesões de crescimento exuberante, gomosas, exsudativas, crostosas, que muitas vezes confluem entre si. 3. Forma nodular: ocorrem na fase inicial da doença, podendo permanecer estacionária. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Exame direto: após clarificação com potassa, do material obtido por escarificação ou biópsia, ou cortes histológicos corados pela hematoxilina-eosina. Na lesão os fungos se apresentam como elementos arredondados, 5-12 m, acastanhados, de parede espessa, e com os septos transversais e longitudinais, conhecidos como corpos escleróticos, ou células muriformes ou corpos fumagóides. Cultivo: Em ágar Sabouraud Seletivo/Simples para avaliação macromorfológica. As espécies são muito semelhantes entre si. O exame micromorfológico das colônias feita pelo microcultivo deve ser realizado para a identificação das espécies. Neste ensaio podem ser observados os seguintes tipos deconidióforos: 1. Tipo cladospório: esporos de ramificações curtas ou longas, lembrando elementos gemulantes em cadeia. 2. Tipo fialófora: esporos ovalados produzidos lateralmente ao longo de um elemento em forma de taça. 3. Tipo acroteca: esporos produzidos lateralmente ao longo de um elemento em forma de bastão curto. Fonsecaea pedrosoi: encontro de todos os tipos de conidióforos. Phialophora verrucosa: predomínio dos conidióforos do tipo fialófora. Cladophialophora carrioni: predomínio dos conidióforos do tipo cladospório longo. 21 21 MICETOMAS DEFINIÇÃO É a designação coletiva de um grupo de micoses e actinobacterioses subcutâneas, causadas respectivamente por fungos e actinomicetos. Os micetomas podem ser de dois tipos: 1. Actinomicetomas: são micetomas causados por actinomicetos.. 2. Eumicetomas: são micetomas causados por fungos. As características mais marcantes do micetoma são as lesões abundantes, granulomatosas e com tendência à fistulização e presença do grão na lesão e no material purulento. Grão: é uma microcolônia fúngica (eumicetoma) ou actinomicética (actinomicetoma). Apresenta cores variadas de acordo com o agente etiológico e o seu tamanho varia de 0,2-1,0 mm. 1. Actinomicetomas: são responsáveis por 75% de todos os casos de micetomas no Brasil. Podem ser divididos em dois grupos: 1.a. Actinomicetomas endógenos: são causados por actinomicetos anaeróbios. Os agentes etiológicos fazem parte da flora da cavidade oral e intestinal e a transmissão se faz por traumas internos. As lesões supurativas e abundantes ocorrem principalmente na face, tórax, pescoço e abdômen. Ocorre formação de fistulas com eliminação de pus e grãos. Ex: Actinomyces israelli Arachnia propionica 1.b. Actinomicetomas exógenos: são causados por actinomicetos aeróbicos, sendo encontrados no solo e ar. A transmissão corre através de traumatismos externos. Os membros inferiores e superiores, ombros e pulmões são os sítios mais afetados. As lesões são supurativas e ocorrem com presença de pus e grãos. Na fase tardia pode haver acometimento e destruição dos ossos. Ex: Nocardia asteroides Nocardia brasiliensis Actinomadura madurae Actinomadura pelletieri Streptomyces somaliensis DIAGNÓSTICO LABORATORIAL a. Exame dos grãos entre lâmina e lamínula, após clarificação com potassa. Serão evidenciadas massas de filamentos bacterianos com deposição de material eosinofílico nos bordos (fenômeno Splendore- Hoeppli). b. Esfregaços corados pelo Gram e Kynion do material purulento. c. Biópsias: exame anatomopatológico. d. Cultivo: meio de BHI ou tioglicolato à 37 o C em jarra anaeróbica para actinomicetos aneróbicos. Meio de agar Sabouraud (sem inibidores) à 25 o C para actinomicetos aeróbicos. Os materiais utilizados no cultivo podem ser grãos, pús ou biópsias. e. Provas de decomposição da caseína, tirosina, xantina, gelatina e ureia para identificar espécies do gênero Nocardia e Actinomadura. 2. Eumicetomas: são causados por fungos. As principais espécies envolvidas são: Madurella mycetomatis - Madurella grisea - Exophiala jeanselmei - Pseudoallescheria boydii - Acremonium sp. A transmissão é sempre exógena, através de traumatismo. 22 22 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Ocorrem principalmente nos membros inferiores, sendo caracterizados por lesões crônicas, abcedantes, com formação de fístulas, por onde drena material seroso e grãos. Nas fases mais avançadas pode haver o comprometimento dos ossos. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O material biológico é constituído por secreção serosa, grãos e biópsias. 1. Exame microscópico dos grãos entre lâmina e lamínula, após clarificação com potassa. Serão evidenciadas massas de hifas e clamidoconídios. 2. Exame anatomopatológico das biópsias. 3. Cultivo do material seroso, grãos e biópsias. O meio utilizado é o ágar Sabouraud sem inibidores. A identificação da espécie do fungo é feita pela macro e micromorfologia das colônias e micromorfologia do microcultivo. 23 23 CRIPTOCOCOSE DEFINIÇÃO É uma micose sistêmica de evolução subaguda ou crônica que atinge órgãos e sistemas principalmente pulmões e sistema nervoso central. AGENTE ETIOLÓGICO É causada por fungos do complexo Cryptococcus neoformans, atualmente com duas espécies: Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii. O C. neoformans corresponde aos sorotipos A (variedade grubii) e D (variedade neoformans) enquanto que o C. gattii corresponde aos sorotipos B e C. EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO É uma micose de distribuição universal por ser infecção oportunista, acometendo com maior frequência pacientes imunodeprimidos com doença primária. Atualmente o maior número de casos ocorre em pacientes com AIDS, sexo masculino, e com idade entre 30 a 40 anos. As variedades neoformans e grubii de C. neoformans são encontradas em solos com fezes de pombos e outras aves nos centros urbanos com maior frequência; enquanto a espécie C. gattii é isolada de árvores do tipo eucalipto de regiões tropicais e subtropicais em locais com maior concentração destas árvores. A transmissão se faz por inalação de leveduras capsuladas ou esporos da sua fase sexuada ou teleomórfica (Filobasidiella neoformans e Filobasidiella bacillispora ). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Apresenta um quadro clínico variado, podendo a micose manifestar-se sob a forma de infecção ou doença, dependendo do estado imunológico do paciente e de fatores associados como a virulência da cepa, tamanho do inóculo, quantidade de propágulos aspirados, etc. Formas Clínicas: 1. Pulmonar: Infecção primária da doença podendo ser localizada, assintomática ou disseminada. 2. Meningoencefálica (neurocriptococose): forma mais grave da doença, secundária a processos pulmonares e cutâneos. Manifesta-se por quadros de meningite, meningoencefalite ou criptococoma. O microrganismo desenvolve- se rapidamente, resultados uma progressiva deterioração do quadro e morte. 3. Cutânea ou cutânea - mucosa: manifestação da disseminação da doença com lesões papilomatosas, pústulocrostosas, subcutâneas, verrucosas e ulcerosas. 4. Mistas: comprometimento da pele, mucosas, gânglios, meninges, articulações, ossos, pulmões, órgãos genitais. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O material biológico de escolha para esta micose é o escarro, líquor, material ganglionar, lesões mucocutâneas. 1. EXAME DIRETO A. A fresco: sem coloração não permite boa visualização. B. Corado: levedura capsulada que não se cora os corantes habituais, utiliza-se então tinta-da-china ou Nanquin. À microscopia apresenta um campo escuro onde as leveduras possuem ao seu redor uma cápsula de mucopolissacarídeos de natureza inerte (não reage com o corante) formando um halo claro ao redor de cada levedura (pag. 79). Em cortes histológicos de biópsias a coloração utilizada é o PAS e mucicarmim. Os polissacarídeos da cápsula estão relacionados ao grau de virulência das cepas. 24 24 2. CULTIVO Em ágar Sabouraud sem ciclohexemide (inibe o crescimento) a temperatura de 25 ºC ou 37 ºC. As colônias são viscosas, mucóides, cremes (pag. 78). Em sua micromorfologia apresenta os elementos semelhantes àqueles do exame direto, podendo a cápsula ser pequena devido a sucessivos repiques ou perda da viscosidade. 3. PROVAS DE IDENTIFICAÇÃO A. Prova bioquímicas A. 1.Prova da urease: diferenciação entre leveduras do gênero Candida (-) e Cryptococcus (+) em meio ágar ureia de Christensen (pag. 35). A. 2. Provas de assimilação de carboidratos e nitrato: Assimila diferentes açúcares e nitrato, porém não fermenta nenhum tipo de açúcar. A. 3. Provas de presença de compostos fenólicos: servem para rápida identificação presuntiva do C. neoformans. Este tem a capacidade de produzir pigmento semelhante à melanina em meio de cultivo contendo compostos fenólicos tais como: ácido caféico, sementes de “alpiste” (Guizotia abyssinica, pag. 32), dopamina. A capacidade de produzir colônias marrons nestes substratos é indicativa da atividade da enzima fenoloxidase. A. 4. Provas de diferenciação das espécies C. gattii e C. neoformans: Baseadas na mudança de cor do meio de cultivo CGB (canavanina glicina azul de bromotimol, pag. 33) onde as variedades neoformans e grubii de C. neoformans não variam a cor do meio (esverdeado ou amarelado), e a espécie C. gattii torna o meio azul. B. Provas Imunológicas: Aglutinação em látex (para detecção do antígeno capsular), ELISA. 25 25 PARACOCCIDIOIDOMICOSE (BLASTOMICOSE SUL-AMERICANA) DEFINIÇÃO É uma micose sistêmica crônica, com um foco primário pulmonar, e que se dissemina para a mucosa oral, nasal e vísceras, formando granulomas ulcerativos. AGENTE ETIOLÓGICO: Paracoccidioides brasiliensis EPIDEMIOLOGIA: A doença é encontrada desde o Sul do México até o Norte da Argentina. O maior número de casos ocorre no Brasil (80%), Colômbia e Venezuela. Os casos tendem a se concentrar ao redor de florestas úmidas, com chuvas abundantes, temperaturas moderadas e invernos suaves. A faixa etária mais afetada é representada por adultos de 30 a 60 anos, com grande predomínio do sexo masculino. A maioria dos casos é proveniente das áreas rurais. TRANSMISSÃO O provável mecanismo de transmissão é através da inalação dos conídios do fungo, porém sem comprovação definitiva. O período de incubação é muito variável (média de 15 anos). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS I. Doença primária benigna 1. Paracoccidioidomicose pulmonar primária II. Doença aguda e progressiva crônica 1. Doença pulmonar aguda e progressiva crônica 2. Doença disseminada com envolvimento mucocutâneo, linfático e visceral. III. Paracoccidioidomicose aguda juvenil. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 1. Diagnóstico micológico: o material biológico a ser colhido depende do tipo de lesão e pode ser escarro, lavado brônquico, pus de linfonodos, raspados de lesão cutânea, biópsias, etc. 1.a. Exame direto: é feito após clarificação do material biológico com potassa. 1.b. Exame após coloração: é feito em esfregaços de escarro ou cortes histológicos de biópsias. Os métodos de coloração mais utilizados são a hematoxilina-eosina, Grocott (prata) e PAS. Nestes materiais o P. brasiliensis apresenta-se como elementos leveduriformes globosos de múltiplo brotamento, com 2-10 m de diâmetro, podendo atingir cerca de 30 µm. A parede celular é dupla, espessa e bastante refringente. 1.c. Cultivo: O P. brasiliensis é um fungo dimórfico, podendo apresentar-se saprofiticamente sob a fase filamentosa e leveduriforme. Fase leveduriforme (em ágar-sangue ou BHI a 37 o C): colônias de crescimento lento, com aspecto cerebriforme ou sulcado, de cor esbranquiçada ou bege-clara. A micromorfologia é constituída por leveduras multibrotantes (pag. 81) e hifas distorcidas. Fase filamentosa (em ágar-sabouraud a 25 o C): colônia de crescimento lento, com aspecto aveludado ou membranoso, sulcado ou não, cor branca ou bege, com reverso amarelado ou acastanhado (pag. 80). Ao exame microscópico são observadas hifas septadas e clamidoconídios intercalados. 2. Métodos imunológicos: são baseados principalmente na pesquisa de anticorpos, através de métodos de imunodifusão em gel de ágarose (o mais utilizado), ensaio imunoenzimático, imunofluorescência indireta, fixação de complemento, etc. Podem também ser utilizados ensaios de intradermoreação com paracoccidiodina. 26 26 HISTOPLASMOSE DEFINIÇÃO É uma micose sistêmica, de acometimento predominantemente pulmonar, causado por um fungo dimórfico que tem afinidade pelo sistema fagocitário-mononuclear. AGENTE ETIOLÓGICO: Histoplasma capsulatum. Esta espécie apresenta duas variedades de importância humana: Histoplasma capsulatum variedade capsulatum e Histoplasma capsulatum variedade duboisii. A variedade capsulatum tem ampla distribuição geográfica enquanto que a variedade duboisii é restrita à África. HABITAT E TRANSMISSÃO Seus conídios são encontrados em galinheiros, cavernas, sótãos de casas velhas ou abandonadas e outras construções. Também podem ser isoladas do solo. Os reservatórios animais são constituídos por morcegos, galinhas e outras aves gregárias. A transmissão se dá através da inalação dos conídios (microconídios) que se encontram em suspensão junto com a poeira. A transmissão por via oral não é aceita por todos os autores. O período de incubação varia de 3 a 30 dias. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1. Formas assintomáticas 2. Formas sintomáticas 2.a. Histoplasmose pulmonar: 2.a.1. Histoplasmose pulmonar primária 2.a.2. Histoplasmose pulmonar crônica 2.b. Histoplasmose localizada 2.c. Histoplasmose disseminada Patogenia da histoplasmose: a lesão na histoplasmose caracteriza-se por um infiltrado de macrófagos, células linfoplasmocitárias e eosinófilos. Esse infiltrado leva à formação de um granuloma que posteriormente necrotiza e se calcifica. O sistema imunológico celular e humoral torna-se fortemente sensibilizado com os antígenos do fungo. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 1. Evidenciação direta do fungo. Esfregaços de escarro, sangue, medula óssea e sedimento urinário e sua coloração por giemsa. Também podem ser feitos cortes histológicos de biópsias e sua coloração pelo Giemsa, prata (Grocott), PAS e hematoxilina-eosina. Nas lesões se apresenta com a forma de pequenas células redondas ou ovais, com 1 a 5 m de diâmetro, na maioria das vezes no interior dos macrófagos. 2. Cultivo: O H. capsulatum é um fungo dimórfico, podendo apresentar-se saprofiticamente sob a fase filamentosa e leveduriforme. Fase leveduriforme (em ágar-sangue ou BHI a 37 o C): Fase leveduriforme: em BHI à 37 o C, as colônias apresentam-se membranosas e úmidas ou cremosas, de cor branca ou branco-amarelada. À micromorfologia apresentam-se como leveduras pequenas de 1-5 m de diâmetro. Fase filamentosa: cultivada em ágar Sabouraud a 25 o C. São algodoadas ou pulverulentas, brancas ou bege-claras, com reverso amarelo ou alaranjado. À microscopia observam-se hifas, microconídios globosos de 3-5 m e macroconídios tuberculados de 8-20 m. 3. Pesquisa de anticorpos anti-H. capsulatum: 3.1. Imunodifusão em gel de agarose. 3.2. Fixação de complemento. 4. Intradermorreação com histoplasmina. 27 27 PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS UTILIZADOS EM MICOLOGIA CLÍNICA COLHEITA DE MATERIAL BIOLÓGICO PRINCIPAIS CUIDADOS NA COLHEITA DO MATERIAL BIOLÓGICO 1. O material deverá ser preferencialmente colhido no laboratório, em um ambiente com janelas e portas fechadas. 2. O paciente deverá suspender o uso de medicação antifúngica por pelo menos uma semana (antifúngico tópico) e duas semanas (antifúngico oral). 3. Deve-se selecionar a área da lesão para a coleta do material. 4. Colher quantidades de materiaissuficientes para vários exames diretos e semeaduras. MATERIAL NECESSÁRIO PARA A COLHEITA DO MATERIAL BIOLÓGICO Bisturi, pinça de depilação e outras pinças, tesoura, cureta, espátula de unha, alça de platina, swab, agulhas e seringas descartáveis, tubos de ensaio, placa de Petri, lâmina e lamínulas. MATERIAIS BIOLÓGICOS Escamas: Nas dermatofitoses colhe-se o material na periferia da lesão onde há doença ativa e as hifas são viáveis para cultura. Colhe-se por raspagem com bisturi e acondiciona-se em placa de Petri. No caso de Pitiríase versicolor com pouco material, colhe-se diretamente sobre uma lâmina com bisturi e, no caso de haver bastante material, colhe-se por raspagem com bisturi em placa de Petri pequenas. Pelos e cabelos: Colhe-se com pinça de depilação, extraindo-se o pelo pela raiz. No caso de micose do tipo nodular, corta-se o pelo junto aos nódulos com tesoura e coloca-se o material em placa de Petri pequenas. Pús , exsudatos e secreções: Dependendo do caso usa-se alça de platina ou “swab”. Escarro e expectoração: Colhe-se o material em frasco estéril de boca larga. Peles soltas: Colher os fragmentos com pinça ou corta-se com bisturi e acondiciona-se em placas de Petri pequenas. Unhas: Preferencialmente deve-se raspar com cureta ou bisturi, tratando-se de lesão subungueal ou superficial, e acondiciona-se o material em placas de Petri pequenas. Bolhas: Colhe-se a pele que envolve o líquido. Líquidos orgânicos: Punção (líquor e abcessos), aspiração de líquido pleural, sinovial, pulmonar- sedimento da centrifugação. Sangue: Coletado do catéter, bolsa de sangue, do braço- hemocultivo. Urina: Parcial de urina (jato médio), catéter vesical, punção suprapúbica. Secreção vaginal: Coleta com “swab” para o exame a fresco, esfregaço, cultura. 28 28 EXAME DIRETO Na maioria das vezes serve só para verificar se a lesão é micótica ou não. Coloca-se uma quantidade do material sobre uma lâmina, e após uma gota de soda ou potassa a 20 ou 30% (pag.30). Aguardam-se alguns minutos para haver a clarificação e examina-se ao microscópio. EMISSÃO DE RESULTADOS DE EXAME MICOLÓGICO DIRETO NEGATIVO: “Ausência de elementos fúngicos no material examinado” POSITIVO: depende do que for encontrado: 1) “Presença de filamentos micelianos no material examinado” 2) “Presença de artroconídios no material examinado” 3) “Malassezia sp.” 4) “Presença de leveduras no material examinado” 5) “Parasitismo do tipo endothrix” 6) “Parasitismo do tipo ectothrix” Podem ser observadas associações de elementos fúngicos supracitados, bem como outros tipos de morfologias que são menos frequentes na prática do dia a dia. CULTIVO (SEMEADURA) Serve para identificar o agente etiológico da micose. A semeadura compreende a colocação do material biológico na em três pontos da superfície do ágar Sabouraud (com ou sem inibidores). Incuba-se à temperatura ambiente ou 25 o C durante duas ou três semanas, e examinam-se as características morfológicas da colônia do fungo. REPIQUE Serve para conservar as colônias por um determinado tempo. No caso de colônias de fungos que fazem parte de uma coleção de culturas (micoteca), estas deverão ser repicadas em média a cada dois ou três meses, e em alguns casos em menos tempo. MICROCULTIVO (CULTIVO EM LÂMINA) É realizado quando não se consegue identificar o agente a partir do seu crescimento no meio de cultivo. O cultivo em lâmina permite demonstrar ao exame microscópico, a morfologia dos fungos, tornando possível a visualização correta de suas estruturas, como as características das hifas, conidióforos, conídios, etc. MATERIAL NECESSÁRIO Cultura do fungo, placa de Petri, bastão de vidro dobrado em U ou lâminas de microscopia, papel-filtro com igual diâmetro da placa de Petri, água destilada estéril, alça de platina, lâmina, lamínula, pinça, bisturi, meio de ágar Sabouraud sólido e lactofenol-azul-algodão. PREPARO DO MATERIAL 1. A amostra deve ser recente e cultivada em meio sólido. 2. Forrar a placa de Petri na qual vai ser feito o microcultivo com o papel-filtro. Colocar o bastão de vidro dobrado junto com a lâmina. Embrulhar o papel e esterilizar em forno Pasteur à 170 o C durante 2 horas. 3. O meio a ser utilizado pode ser o ágar Sabouraud ou qualquer outro meio. Formar uma camada de cerca de 2 mm em outra placa de Petri e cortar em blocos quadrados de 5 mm de lado. 29 29 EXECUÇÃO 1. Retirar um bloco de ágar com o lado da lâmina do bisturi, colocando-a sobre a lâmina da placa, de maneira asséptica. 2. Retirar pequenas porções da colônia e semear em dois lados do bloco. 3. Cobrir este bloco com uma lamínula estéril, com cuidado. 4. Molhar o papel com água destilada estéril. A placa funcionará como uma câmara úmida. 5. Identificar a placa e acompanhar o crescimento da cultura. 6. Após crescimento retira-se a lamínula do microcultivo colocando-a em uma nova lâmina contendo lactofenol azul de algodão. Obs: Alternativamente pode-se utilizar a lâmina do microcultivo (se houver crescimento) quando não for possível a identificação pela lamínula. FUNDAMENTO DO MICROCULTIVO A cultura cresce na lâmina e lamínula, aparecendo as estruturas fúngicas bem organizadas, separadas e intactas quando se retira o bloco do ágar, permitindo o estudo detalhado de sua micromorfologia. PRESERVAÇÃO E MANUTENÇÃO DE CULTURAS DE FUNGOS 1. Repiques sucessivos mantidos a temperatura ambiente. Os fungos podem ser mantidos na forma de coleção (micoteca ou cepário) no laboratório, a temperatura ambiente, com o objetivo de permitir comparações com espécies recém-isoladas e outros estudos. Os repiques são feitos por meio da transferência, em condições assépticas, de um fragmento de colônia para um tubo novo de cultura, que pode ser o ágar batata ou ágar Sabouraud. O período recomendado para o repique varia de um até no máximo seis meses, de acordo com o tipo de fungo. 2. Outros métodos de preservação. Podem ser utilizados a água destilada, óleo mineral, liofilização e nitrogênio líquido. BIOSEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE MICOLOGIA CLÍNICA Cuidados com o material contaminado: tudo deve ser autoclavado. Cuidados com os microscópios: Após o uso, limpá-los com gaze umedecida em mistura de álcool e éter. Cuidados com a bancada: após o uso, limpá-las com gaze umedecida em álcool à 70º ou álcool iodado. Durante a manipulação de qualquer tipo de fungo, em culturas ou exame direto, deve-se trabalhar sempre próximo a um bico de Bunsen aceso. 30 30 SOLUÇÕES E MEIOS DE CULTURA UTILIZADOS EM MICOLOGIA CLÍNICA 1. POTASSA A 20% (CLARIFICANTE) Usado para a pesquisa de fungos em raspados de pele, pelos e unhas. A potassa, em concentrações de 10 a 40%, faz com que as células se dilatem e clareiem, permitindo a evidenciação de hifas e esporos de fungos. KOH........................................................................ 20 g H2O destilada.qsp................................................... 100,0 mL 2. POTASSA GLICERINADA A 20% Mesmo uso anterior, porém preservando o material para ser examinado por um período maior. KOH........................................................................ 20 g Glicerina.................................................................. 20,0 mL H2O destilada.qsp...................................................100,0 mL 3. LACTOFENOL AZUL-ALGODÃO Usado principalmente como corante no estudo micromorfológico de cultura de fungos. Fenol....................................................................... 20 g Ácido lático............................................................ 20 g Glicerina................................................................. 20,0 mL H2O destilada......................................................... 20,0 mL Azul-algodão (Azul-Poirrier)................................. 0,05 g Adicione na ordem: ácido láctico, glicerina, água destilada. A seguir, acrescente o fenol e o azul-algodão, dissolvendo em banho-maria. Finalmente, filtre em papel de filtro. O Azul-algodão pode ser substituído pelo azul de metileno. 4. ÁGAR SABOURAUD DEXTROSADO Usado para o cultivo rotineiro dos fungos, inclusive fungos contaminantes do ar. Dextrose (glicose)................................................... 20,0 g Peptona.................................................................... 10,0 g Ágar........................................................................ 15,0 g H2O destilada.qsp.................................................... 1.000,0 mL Ferver a água, dissolver o ágar, acrescentar a peptona e depois a dextrose. Imediatamente após a dissolução da dextrose, distribuir em tubos. Autoclavar a 120 o C durante 15 minutos. 31 31 5. ÁGAR-SABOURAUD COM ANTIBIÓTICOS (MEIO SELETIVO) Utiliza antibióticos para inibir o crescimento de fungos e bactérias do ar. Dextrose (glicose).......................................... 20,0 g Peptona.......................................................... 10,0 g Ágar................................................................ 15,0 g H2O destilada qsp.......................................... 1.000,0 mL Cicloheximide................................................. 0,5 g Cloranfenicol.................................................. 0,1 g Dissolver 0,1 g do cloranfenicol em 10 mL de álcool etílico, 0,5 g de cicloheximide em 10 mL de acetona e misturar tudo em 1.000 mL de meio fundido. Distribuir em tubos e autoclavar a 120 o C durante 15 minutos. 6. ÁGAR-BATATA Utilizado para a manutenção de culturas de dermatófitos. Infusão de batatas.......................................... 500,0 g Dextrose......................................................... 10,0 g Ágar................................................................ 15,0 g H2O destilada qsp.......................................... 1.000,0 mL Para o preparo da infusão de batatas, colocar 200 g de batatas descascadas em 500 mL de água destilada e cozinhá-las durante 1 h. Filtrar em gaze e completar o volume em 500 mL com água destilada. Adicionar o ágar e glicose, dissolver e distribuir nos tubos. Autoclavar a 120 o C durante 15 minutos. 7. ÁGAR-FUBÁ Utilizado na indução de clamidósporo terminal de Candida albicans. Fubá............................................................... 40,0 g Ágar................................................................ 20,0 g Tween 80....................................................... 10,0 mL H2O destilada qsp.......................................... 1.000,0 mL Misturar o fubá com 500,0 mL de água, em banho-maria durante 1 hora. Filtrar em pano e papel filtro. Acrescentar o ágar dissolvido em 500,0 mL de água. Completar o volume para 1.000,0 mL. Acrescentar o Tween 80. Distribuir em tubos e autoclavar a 120 o C durante 15 minutos. 8. ÁGAR ARROZ Utilizado na indução de clamidósporo terminal de Candida albicans. Arroz............................................................... 20,0 g Ágar................................................................ 20,0 g H2O destilada qsp.......................................... 1.000,0 mL Ferver lentamente o arroz com a água durante 45 minutos. Filtrar em gaze e completar o volume para 1000 mL. Adicionar o ágar e aquecer em banho-maria até dissolução completa. Distribuir em tubos e autoclavar a 120 o C durante 15 minutos. 32 32 9. MEIO PARA IDENTIFICAÇÃO DE Candida sp Utilizado para identificação de culturas de Candida, principalmente Candida albicans, pela mudança de cor. Extrato de levedura................................................. 1,0 g Glicina..................................................................... 10,0 g Sulfito de sódio....................................................... 3,0 g Citrato de bismuto amoniacal................................. 5,0 g Ágar......................................................................... 13,0 g H2O destilada.qsp.................................................... 1.000,0 mL Dissolver os reagentes em água fervente e distribuir em tubos estéreis, porém sem autoclavar. Obs: Certas espécies de Candida possuem a capacidade de reduzir o sulfito a sulfeto, adquirindo coloração que varia do marrom claro a preta. 10. CHROMAGAR Candida® Utilizado para diferenciar espécies de Candida, baseando-se nas diferentes colorações adquiridas pelas colônias. Identifica C. albicans e C. tropicalis. É comercializado na forma desidratada sob o nome de CHROMagar Candida® (PROBAC). CHROMagar Candida® desidratado................... 47,7 g H2O destilada qsp.......................................... 1.000,0 mL Dissolver os reagentes em água destilada estéril fervente, e distribuir em tubos ou placas estéreis, porém sem autoclavar. 11. MEIO DE LACTRIMEL Utilizado para o cultivo de colônias de fungos filamentosos e leveduras e observação de estruturas morfológicas em microcultivo. Farinha de trigo.............................................. 20,0 g Leite em pó (20g/200 mL de água)................ 200,0 mL Mel................................................................. 10,0 g Ágar................................................................ 20,0 g H2O destilada qsp.......................................... 1.000,0 mL Autoclavar o leite separadamente a 120 o C por 15 minutos. Os demais ingredientes são dissolvidos na água e autoclavados a 120 o C por 15 minutos e distribuídos em tubos. 12. MEIO DE ÁGAR NIGER (Guizotia abyssinica) Utilizado para verificar atividade de fenoloxidase de Cryptococcus neoformans e C. gattii. Estas espécies vão apresentar colônias com tonalidade marrom. Glicose................................................................. 10,0 g Cloranfenicol......................................................... 50 mg Extrato de sementes de niger*............................... 200,0 mL Ágar.................................................................... 20,0 g H2O destilada ..................................................... 800,0 mL 33 33 * Extrato de semente de niger: pulverizar 70 g de sementes de G. abyssinica em gral. Suspender em 350 mL de água destilada. Autoclavar durante 10 min. Filtrar através de gaze e resuspender no volume original com água destilada. 13. MEIO PARA QUIMIOTIPAGEM DE C. neoformans Utilizado para diferenciar a espécie C. gattii (sorotipos B e C) da espécie C. neoformans. C. gattii, pelo fato de possuir enzimas capazes de degradar a canavanina, que é tóxica, permite o seu crescimento nesse meio, utiliza a glicina como fonte de nitrogênio que degradada, resultando na produção de amônia, que altera o pH tornando-o alcalino. No pH alcalino o bromotimol passa de cor verde-amarelado para azul intenso. Solução A Glicina.................................................................
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