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Efeitos biológicos Prof. Carlos Henrique Simões de Sousa Descrição Estudo dos efeitos das radiações ionizantes sobre a matéria biológica e os processos relacionados às mutações genéticas e à carcinogênese. Propósito Compreender os processos que envolvem as interações das radiações ionizantes com a matéria biológica é importante para os profissionais que trabalham em áreas com campos de radiação poderem aplicar com êxito os princípios de proteção radiológica. Objetivos Módulo 1 Efeitos das radiações ionizantes sobre a matéria biológica Descrever os efeitos das radiações ionizantes sobre a matéria biológica. Módulo 2 Efeitos das partículas no meio devido à transferência de energia Listar os efeitos das partículas no meio devido à transferência de energia. Módulo 3 Processos relacionados às mutações genéticas Reconhecer os processos relacionados às mutações genéticas. O corpo humano é formado por moléculas de água, proteínas, lipídios, DNA, RNA, glicose, entre outras. Essas moléculas são formadas por átomos de carbono, de hidrogênio, de oxigênio e de nitrogênio. As radiações ionizantes são assim chamadas por terem energia suficiente para arrancar elétrons de suas órbitas. Assim, quando um indivíduo é irradiado, os átomos absorvem a energia da radiação disparando uma série de eventos biológicos, físicos e químicos que podem afetar as células e disparar mutações que podem gerar lesões em curto e longo prazo. Neste conteúdo, você vai entender os processos físico-químicos da interação das radiações com a água, os mecanismos de interação com o material biológico, a influência da qualidade de radiação nessas interações e como a radiação transfere sua energia para o material biológico, gerando aberrações cromossômicas e mutações genéticas. Aproveite a viagem ao mundo atômico e molecular das interações das radiações com o material biológico. Bons estudos! Introdução 1 - Efeitos das radiações ionizantes sobre a matéria biológica Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever os efeitos das radiações ionizantes sobre a matéria biológica. Estrutura da matéria A matéria é constituída pelo arranjo de átomos de elementos químicos, e o resultado é a formação de moléculas. Macromoléculas podem apresentar centenas ou mesmo milhares de átomos. Para compor uma molécula, os átomos interagem de acordo com suas propriedades físicas e químicas. Átomo O átomo é constituído pelo núcleo onde estão os núcleons (prótons e nêutrons) e pela eletrosfera onde se encontram os elétrons. O número de elétrons que constitui a eletrosfera é determinado pelo número de prótons. Como você já deve saber, os prótons possuem carga elétrica positiva, e os elétrons, cargas negativas. Para haver um equilíbrio elétrico do átomo, as cargas dos prótons devem ser neutralizadas pelas cargas dos elétrons. Os elétrons orbitam em torno do núcleo atômico e apresentam um movimento de rotação em torno de si mesmo, denominado spin (do inglês, giro), que devido suas cargas negativas resultam na geração de campos eletromagnéticos. A neutralização desses campos ocorre pelo emparelhamento de elétrons cuja rotação seja oposta. As propriedades químicas dos átomos de determinado elemento estão relacionadas ao número de elétrons não emparelhados presentes na coroa eletrônica. Saiba mais O spin é uma propriedade intrínseca de partículas quânticas, assim como a massa ou a carga, que não apresenta nenhuma analogia com a física clássica. Trata-se de uma grandeza vetorial, pois apresenta módulo, direção e sentido. Na prática, é como se cada uma dessas pequenas partículas fosse um pequeno ímã tridimensional, apresentando direções norte e sul de campo magnético de acordo com o seu sentido de “rotação”. Matéria biológica Os organismos biológicos são constituídos por átomos de carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O) e nitrogênio (N), entre outros, que se combinam entre si, formando a base das moléculas biológicas. As moléculas desempenham funções estruturais e/ou funcionais, como açúcares, proteínas, lipídeos, enzimas e hormônios. A matéria viva é composta na sua maior parte por moléculas de água. Molécula de água. Células e tecidos Assim como o átomo é a menor parte de um elemento, a célula é a menor parte de um organismo vivo, que ainda mantém capacidade morfológica e/ou fisiológica. São caracterizadas por possuírem membranas lipoproteicas que delimitam a sua unidade, contêm sua dispersão para o meio e regulam seu conteúdo vital. O interior da célula é preenchido pelo citoplasma, formado principalmente por água e proteína. Em seu interior, encontram-se as organelas responsáveis pelas atividades metabólicas. A célula eucariótica é assim denominada porque possui uma membrana nuclear, onde se encontra guardado o material genético. Veja na figura a seguir. Anatomia de uma célula animal. Nos organismos pluricelulares, as células desempenham funções específicas e organizam-se em tecidos e órgãos, dando origem a sistemas que são regulados por um sistema hormonal associado ou um sistema nervoso. Saiba mais As células podem variar em tamanho de 1 a 100 micrômetros. Assim, o estudo das células não seria possível se o microscópio não tivesse sido inventado. Metabolismo celular As membranas possuem uma permeabilidade seletiva para regular o que penetra em seu interior. O mecanismo que permite que partículas do meio exterior penetrem ao interior da célula pode ser chamado de fixação metabólica e pode ocorrer de três formas: Fagocitose Quando uma partícula sólida é fixada pela célula. Pinocitose Quando uma partícula líquida é fixada pela célula. Coloidopexia Quando há a fixação de partículas coloidais no interior da célula. A fixação metabólica inicia-se com a formação de pequenos vacúolos no citoplasma que envolve a partícula fixada. Esses vacúolos são induzidos por aminoácidos, proteínas, sais e enzimas. Não é um transporte ativo, como na osmose. Reprodução celular A divisão celular apresenta diversas funções importantes nos organismos, como originar um novo indivíduo e renovar as células mortas. Tem início com a formação de uma célula por meio de sua própria divisão (célula-mãe), formando duas outras “células-filhas”. Assim, a divisão celular é responsável pela reprodução das células e faz parte do ciclo da vida de uma célula. Em células procariontes, o DNA é duplicado e o citoplasma se divide em duas partes, cada qual com uma cópia do DNA. Nas células eucariontes, a divisão acontece pelos processos de mitose ou meiose. Veja a seguir. As fases da divisão mitótica. A intérfase é o intervalo entre duas divisões celulares. Mitose A mitose ou a bipartição é identificada por quatro fases: prófase, metáfase, anáfase e telófase. Embora o DNA seja duplicado antes de a mitose começar, os cromossomos só aparecem duplicados na metade da prófase. Na metáfase, há o alinhamento dos cromossomos a um plano e o acoplamento às fibras do fuso acromático, estruturas temporárias do citoesqueleto das células eucariotas, constituídas por microtúbulos. Em seguida, são separadas e migram para os polos da célula durante a fase anáfase. Já ao final da telófase, a célula divide-se em duas, cada qual contendo cópia do material genético original da célula-mãe. Fases da divisão meiótica. Meiose A meiose é o mecanismo mais comum de reprodução dos organismos unicelulares eucariontes. Ocorre em células sexuais, onde a célula-mãe diploide (2n) sofre duas divisões e forma, ao final, quatro células-filhas haploides (n), cada uma com a metade dos cromossomos da célula-mãe. A meiose sempre origina células haploides e é responsável pela produção dos gametas em animais e dos esporos nas plantas. Interação das radiações com a matéria A interação das radiações ionizantes com a matéria acontece em nível atômico. Fisicamente, as radiações podem interagir com os materiais, provocando excitação atômica ou molecular, ionização ou ativação do núcleo. Veja a seguir. Excitação atômica ou molecular É a interaçãode elétrons deslocados de seus orbitais que ao retornarem ao equilíbrio emitem a energia excedente sob a forma de luz ou raios X característicos. Ionização É a interação de elétrons removidos pela radiação de seus orbitais, resultando em elétrons livres de alta energia, íons positivos ou radicais livres quando ocorrem quebra de ligações químicas. Ativação do núcleo É a interação de radiações com energias superiores às energias de ligação dos núcleons, provocando reações nucleares e resultando em um núcleo residual e na emissão de radiação. A radiação de frenamento ou bremsstrahlung é o resultado da desaceleração de partículas carregadas, como alfa, beta e elétrons, interagindo com o material e convertendo parte de sua energia de movimento em radiação eletromagnética (raios X de frenamento). A probabilidade desse tipo de interação é maior onde elétrons interagem com átomos de número atômico elevado. O poder de penetração dos raios X e raios gama é maior do que o de partículas carregadas, e a probabilidade de interação é dependente do valor da energia. Essa característica é diretamente proporcional à probabilidade de interação (seção de choque) para cada tipo de evento. Assim, as radiações ionizantes de maior interesse são as radiações X e gama, devido ao seu caráter ondulatório, à ausência de carga e massa de repouso e ao seu poder de penetração nos materiais, que é muito grande, podendo penetrar grandes espessuras até a primeira interação. Os principais modos de interação, excluindo as reações nucleares são o efeito fotoelétrico, o espalhamento Compton e a produção de pares. Veja nas imagens a seguir. No efeito fotoelétrico, a radiação cede toda sua energia para o elétron. No efeito Compton, a radiação cede parte de sua energia para o elétron. Fótons com energia ≥ 1,02 MeV dão origem a um par elétron-pósitron. Saiba mais O efeito fotoelétrico foi observado pela primeira vez por Alexander Edmond Becquerel em 1839, mas descrito pela primeira vez por Albert Einstein, para explicar a transferência de energia da luz para um elétron. Observou-se que a intensidade da luz induzia mudanças na energia cinética dos elétrons que seriam emitidos do metal. Radiações ionizantes As radiações ionizantes podem ser classificadas em radiações diretamente ionizantes ou radiações indiretamente ionizantes, veja um pouco mais sobre elas a seguir. As radiações carregadas, como elétrons, partículas α e fragmentos de fissão, transferem suas energias para a matéria, principalmente, por meio de seu campo elétrico e para muitos átomos ao mesmo tempo, sendo denominadas radiações diretamente ionizantes. As radiações que não possuem carga, como nêutrons, gama e raios X interagem individualmente, transferindo suas energias para elétrons que irão provocar novas ionizações e são denominadas radiações indiretamente ionizantes. A interação é uma característica das radiações indiretamente ionizantes, pois existem alterações aleatórias das energias envolvidas nos processos ou das suas direções; por isso, só é possível falar na probabilidade de ocorrência dessas interações. Efeitos biológicos das radiações ionizantes Os efeitos biológicos das radiações estão relacionados à capacidade das radiações ionizarem átomos da matéria com a qual interagem, seja direta ou indiretamente. A interação de uma radiação com uma molécula primordial, seja proteína, água ou DNA, pode acarretar consequências à célula, pois estas dependem do funcionamento correto de muitas moléculas. Na irradiação de um ser vivo, parte da energia incidente é absorvida pelos átomos, dando início aos efeitos físicos das radiações, os quais se traduzem em ionização ou em excitação desses átomos. O tempo de duração desse efeito é muito curto na ordem de 10-15 de segundo. A consequência de um efeito físico, a passagem da radiação é a ocorrência de um efeito físico- Radiações diretamente ionizantes Radiações indiretamente ionizantes químico, a partir do qual são produzidos pares de íons responsáveis por produzir radicais livres e quebras de ligações químicas. O efeito físico-químico produz o efeito bioquímico, onde os radicais livres e íons passam a se ligar a outras moléculas, como proteínas, enzimas, DNA, RNA, entre outras. Radiólise da água Todos os efeitos relacionados anteriormente podem e vão gerar efeitos biológicos que podem acarretar alterações morfológicas e/ou funcionais nas células. Os mecanismos de interação da radiação com a célula podem ser de dois tipos, veja: Direto Em que a radiação interage diretamente com alguma molécula. Indireto Em que a radiação interage com uma molécula da água formando radicais livres que afetarão moléculas importantes. Como as células são constituídas por 80% de água, o efeito indireto é predominante, veja a seguir. A modificação estrutural na molécula da água promovida pela radiação é denominada radiólise. Trata-se de um importante processo que ocorre na interação das radiações ionizantes com os tecidos do corpo humano. Principais espécies formadas na radiólise da água. Comentário O asterístico nas notações químicas, por exemplo H2O*, informa que a molécula está ativada ou excitada, ou seja, possui energia excedente que pode gerar sua quebra e gerar radicais livres. A interação das radiações com a água resulta em H2O+ e e-, onde o íon positivo é H2O+ e o íon negativo e-. O íon positivo pode se dissociar formando o radical hidroxil $$${\mathrm H}_{2\;}+\mathrm{OH}^.$$$. O íon negativo (elétron) associa-se a uma molécula neutra de água, dissociando-a e formando o radical hidrogênio, como $$$\mathrm H^.+\mathrm{OH}^-$$$. O íon hidrogênio é muito reativo e se recombina rapidamente em soluções aquosas formando o íon hidrônio (H3O+). Os elétrons livres podem polarizar moléculas de água, formando elétrons- hidratados, de vida relativamente longa. Na presença de oxigênio, o H2O2 (peróxido de hidrogênio) aumenta devido à formação de radical $$${\mathrm{HO}}_2^.$$$ (hidroperóxido), com poder de difusão muito grande, podendo alcançar grandes distâncias, ao contrário dos radicais livres, que se recombinam rapidamente, permanecendo praticamente no local onde foram produzidos. Algumas enzimas, como a catalase e a peroxidase são capazes de neutralizar os radicais peróxidos, a superóxido dismutase e os radicais superóxidos formados pela radiação. Algumas vitaminas como a “C” e a “E” também possuem o poder de neutralizar radicais livres. A neutralização dos íons e dos radicais livres pelas células é importante para frear o efeito químico, que, nessas circunstâncias, não evoluirá para um efeito biológico. A eficiência dessa defesa celular depende da dose de radiação recebida pelo indivíduo. Uma dose de radiação alta acarretará muitos radicais livres, sobrecarregando os mecanismos de defesa celular, fazendo com que a célula não i t li t d f õ O lt d d é ó i t l d consiga neutralizar todas as novas formações. O resultado desse processo é, após um intervalo de tempo, o surgimento de lesões celulares ou orgânicas. Estágios do desenvolvimento de uma radiolesão Neste vídeo, o especialista irá explicar as fases de desenvolvimento: físico, químico e biológico, seguindo os caminhos do efeito direto e indireto e ainda no processo de morte celular ou câncer. Vem que eu te explico ! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! Reprodução celular Módulo 1 - Vem que eu te explico! Radiólise da água Todos Módulo 1 - Video Estágios do desenvolvimento de uma radiolesão Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Questão 1 Quando a radiação ionizante interage com a matéria, transfere energia para os átomos que formam as moléculas, ou seja, para os elétrons ou nucleons. Fisicamente, como as radiações ionizantes podem criar radicais livres? A Produzindo quebras das ligações químicas. B Produzindo elementosquímicos artificiais. C Produzindo ligações entre átomos. D Produzindo radiação de frenamento. E Produzindo radiações X e gama. Parabéns! A alternativa A está correta. A interação das radiações pode provocar ionização, removendo elétrons de seus orbitais, o que resulta em elétrons livres de alta energia, íons positivos ou radicais livres quando ocorre quebra de ligações químicas. Questão 2 Após a irradiação de um ser vivo, qual a sequência de eventos correta? A Biológico → físico-químico → bioquímico → químico B Biológico → bioquímico → físico-químico → físico C Biológico → bioquímico → biofísico → químico D Físico → biofísico → bioquímico → químico E Físico → físico-químico → bioquímico → biológico Parabéns! A alternativa E está correta. Na irradiação do material biológico, a energia é absorvida pelos átomos, dando início às fases pós-interação. Como consequência, há um efeito físico-químico, com a produção de pares de 2 - Os efeitos das partículas no meio devido à transferência de energia Ao �nal deste módulo, você será capaz de listar os efeitos das partículas no meio devido à transferência de energia. Efeitos biológicos das radiações íons, produção de radicais livres e quebras de ligações químicas. O efeito físico-químico produz o efeito bioquímico, no qual os radicais livres e íons passam a se ligar a outras moléculas. Todos os efeitos relacionados anteriormente podem e vão gerar efeitos biológicos que podem provocar alterações celulares. As radiações ionizantes de maior interesse são as radiações X e gama, devido ao seu caráter ondulatório, à ausência de carga e massa de repouso e ao poder de penetração. Este último depende da energia do fóton e da probabilidade (ou seção de choque) de interação que pode ser absorvida ou espalhada. Natureza dos efeitos biológicos Os efeitos biológicos da radiação podem ser classificados como reações teciduais ou efeitos determinísticos e efeitos estocásticos. Veja a seguir. Esses efeitos são resultantes de doses altas e ocorrem acima de um limiar de dose, cujo valor depende do tipo de radiação e do tecido irradiado. Essas doses altas podem causar a morte das células. Dependendo da quantidade de células mortas durante a exposição, o tecido pode ter sua função prejudicada. Logo, nesse caso, a dose é diretamente proporcional ao efeito, ou seja, quanto mais alta a dose, mais grave será o efeito. Esses efeitos são modificações celulares que decorrem de exposições crônicas. As principais consequências são o câncer e o efeito hereditário. Esse tipo de efeito independe da dose recebida pelo indivíduo e pode ser induzido até por radiações de origem natural. Seus efeitos são tardios e insidiosos, e a gravidade depende da probabilidade de ocorrência. Células sexuais atingidas podem repassar informações erradas a suas dependentes na duplicação, iniciando um possível câncer nos filhos do indivíduo. Efeitos biológicos radioinduzidos Os efeitos biológicos induzidos na matéria biológica tiveram início com as observações de experiências com cobaias e dos efeitos das radiações causados em pessoas expostas a feixes de raios X, radionuclídeos e vítimas das bombas de Hiroshima e Nagasaki. Efeitos determinísticos Efeitos estocásticos Essas observações só foram possíveis devido às altas doses aplicadas nos organismos vivos estudados e, neste caso, poderiam ser correlacionados a procedimentos radioterápicos. No entanto, para doses altas de radiação, as avaliações foram prejudicadas pela ocorrência de muitos outros efeitos, como os provocados por agentes físicos, químicos ou ambientais. Assim, foi desenvolvido um modelo conservativo que correlaciona linearmente a dose ao efeito, baseando-se em uma extrapolação para as doses muito baixas. Na figura, pode ser observada a extrapolação linear para a correlação dose-efeito biológico, o aumento da probabilidade da ocorrência de efeitos em doses baixas e a existência de limiares ou de fatores de redução da incidência dos efeitos. Modelo de extrapolação linear para a correlação entre dose-efeito biológico. A inespecificidade dos efeitos biológicos da radiação, que não são exclusivos das radiações, dificulta o diagnóstico, pois os mesmos efeitos podem ser produzidos por agentes físicos ou químicos. Todavia, se houver uma anamnese e o surgimento de um ou mais efeitos, o diagnóstico ficará mais evidente. Veja alguns exemplos a seguir. Queda de cabelo Um indivíduo que se submete a uma radioterapia pode ter queda de cabelo, que é um efeito também causado por outros agentes. Queimaduras na pele A radiação pode produzir queimaduras na pele, no entanto, não é só a radiação que queima. Região de Baixas Doses Catarata A radiação pode causar catarata, porém outros agentes podem causar a opacidade da lente natural do olho. Tipos de exposição As consequências geradas pela exposição do organismo biológico ou parte de uma lesão são dependentes da forma de exposição. As exposições podem ser por dose única, fracionadas ou periódicas. Veja a seguir. Dose única Podem resultar de exames radiológicos. Fracionadas Geralmente, por tratamentos radioterápicos. Periódicas Resultam de certas rotinas de trabalho em instalações nucleares. A forma como a mesma quantidade de radiação é entregue ao indivíduo pode gerar resultados diferentes. Veja alguns exemplos, a seguir. Protocolos mal desenvolvidos Protocolos de tomografia computadorizada mal desenvolvidos, onde as doses entregues são maiores que as preconizadas, podem levar a efeitos tardios, como alterações no DNA. Paciente sob tratamentos radioterápicos As doses administradas em pacientes submetidos a tratamentos radioterápicos devem ser fracionadas, pois a probabilidade de danos letais ao indivíduo é muito grande. Radiação cósmica Os pilotos de avião são, cronicamente, expostos à radiação cósmica, que produzem efeitos de difícil identificação. Formas de exposição A exposição de um indivíduo pode ocorrer de três formas: exposição de corpo inteiro, parcial ou colimada. Essas exposições podem ser correlacionadas a profissões e eventos. Veja alguns exemplos a seguir. Pro�ssionais que operam geradores de radiação Os profissionais que operam geradores de radiação ionizante podem receber exposições de corpo inteiro devido à rotina de trabalho. Porém, em caso de acidentes, esse operador pode ter apenas partes do corpo expostas. Pro�ssionais da medicina nuclear A manipulação de radionuclídeos por técnicos que trabalham em serviços de medicina nuclear leva a exposições de corpo inteiro, devido ao contato com o paciente e à exposições maiores e parciais quando do fracionamento dos radiofármacos que serão administrados nos pacientes. Pro�ssionais da radioterapia A radioterapia aplicada em um paciente é colimada para que o feixe atinja somente a lesão. No entanto, se entrar na sala durante a irradiação de um tumor, o funcionário irá receber uma irradiação de corpo inteiro. Efeitos orgânicos das radiações A quantidade ou a frequência de efeitos biológicos produzidos pela radiação pode desequilibrar o funcionamento do organismo humano pela incapacidade das células em reparar os danos causados pelas interações. O intervalo de tempo decorrido entre a exposição e o surgimento dos efeitos é chamado de tempo de latência e é diretamente proporcional à dose recebida. Exemplo Queimaduras - as queimaduras originárias de manipulação de fontes de 192Ir, em acidente com irradiadores de gamagrafia, aparecem horas após. Redução de tecido - os efeitos orgânicos, como a redução de tecido, ou possível perda dos dedos, podem levar até seis meses para acontecer. Leucemia - as vítimas sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagasaki desenvolveram leucemia, com pico de casos cinco anos após as explosões. O processo de ionização pode quebrar as ligações químicas e, consequentemente, criar mudanças nas moléculas. Se as moléculas de uma célula forem alteradas, pode haver ocorrências diretas ou indiretas, devido à produçãode radicais livres, íons e elétrons. As alterações podem não ser nocivas ao organismo humano, porém se a molécula alterada possuir uma função importante no funcionamento da célula, pode haver modificação na função dos seus descendentes ou até mesmo a morte celular. É comum e normal o processo de morte e reposição celular, mas se a mudança tem caráter deletério, isso signi�ca dano. Embora as radiações induzam danos e até a morte de organismos humanos, seu uso calculado e otimizado pode ser usado para o benefício de organismos humanos. Tumores profundos que não podem ser removidos cirurgicamente podem ser tratados com radioterapia, além disso pesquisas diagnósticas e tratamentos metabólicos podem usar radionuclídeos. Assim, o uso da radiação possui também um lado positivo e benéfico. E�ciência Biológica Relativa (RBE) A eficiência biológica relativa (RBE) é definida como a proporção das doses exigidas por duas radiações para causar o mesmo nível de efeito. Assim, o RBE depende da dose e do desfecho biológico. A qualidade da radiação é uma importante variável para a determinação da sensibilidade dos sistemas biológicos e pode ser utilizada para quantificação da Eficiência Biológica Relativa (RBE). Dessa forma, para um dado tipo de radiação “A” e, supondo constantes todas as variáveis físicas e biológicas, exceto o tipo de radiação, a RBE é definida pela relação adimensional: $$$RBE=\frac{DOSE_{Ref}}{DOSE_{Radiação\;A}}$$$ Onde: $$$DOSE_{Ref}$$$ é a dose da radiação de referência necessária para produzir um específico nível de resposta. $$$DOSE_{Radiação\;A}$$$ é a dose da radiação “A” necessária para produzir igual resposta. Cabe ressaltar, que a radiação de referência nem sempre é bem estabelecida, sendo muitas vezes utilizada em experimentos a radiação X filtrada de 250 kVp de energia. Assim, a relação apresentada na equação parece ser definitiva, porém o problema está em definir o significado de “um nível específico de resposta”. Para superar possíveis indeterminações, utiliza-se a razão entre as inclinações das partes que podem ser consideradas lineares, das curvas de dose x efeito, para as radiações em estudo A e de referência. Essa razão, presumivelmente, poderá representar o valor máximo de RBE, ou seja, a $$${\text{RBE}}_{\mathrm{Máximo}}$$$. A RBE para uma determinada radiação depende da Transferência Linear de Energia (LET), da dose, da taxa de dose, do fracionamento da dose e até da idade do indivíduo, sendo reprodutível apenas para determinado sistema biológico, tipo de radiação e conjunto de circunstâncias experimentais, pois as características e a fisiologia do material biológico, as condições ambientais e o metabolismo celular são individuais, além dos efeitos e das respostas para cada aplicação. Comentário Para propósitos de proteção radiológica, a RBE é considerada uma função da qualidade da radiação, expressa em termos da Transferência Linear de Energia (LET). Transferência linear de energia (LET) No processo de deposição de energia via radiação ionizante, a grandeza medida é a dose absorvida, que recebe a unidade Joule/quilograma (J/kg), também denominada pelo nome especial “Gray” (Gy). Para a radioproteção, a quantidade de energia depositada é importante, porém tecidos e órgãos com fatores de peso diferentes e os vários tipos de radiação também são, pois suas características apresentam diferentes formas de deposição de energia, uma vez que a radiossensibilidade depende da maturidade celular. A transferência linear de energia (LET) expressa o efeito da partícula no meio, que normalmente é o tecido humano. No caso de partículas carregadas, como o elétron, há a interação deste com a eletrosfera de vários átomos, simultaneamente, e, devido aos campos elétricos das duas partículas, acontece a repulsão de ambas sem que se toquem. Como a matéria é formada por muitos átomos e elétrons, uma grande quantidade de colisões ocorrerá, havendo transferência de certa quantidade de energia média (dE) entre um ponto A de referência e um ponto B final (dx), criando uma relação entre dE e dx. $$$LET=\frac{energia\;média\;cedida\;para Na definição do dE/dx, a partir da perda média de energia no espaço percorrido, existe ainda uma dificuldade não explicitada, que é como acompanhar o elétron incidente, pois depois da primeira colisão podem surgir dois elétrons com energias muito próximas, cada um gerando uma sequência semelhante de colisões dentro do material. Depois de cada interação, o valor da partícula é diferente e não fixo, tornando a relação imprecisa, o que faz o LET ser constituído por um valor médio obtido de um espectro largo de valores, veja na figura a seguir. É importante ressaltar que o termo “linear” se refere a uma estimativa matemática e não à trajetória da partícula. A separação de radiações de baixo e alto LET é muito arbitrária, embora de utilidade prática. Visualização do processo de transferência de energia em função da distância. Radiações de baixo LET Depois da primeira interação da radiação com a matéria, surgem elétrons por efeito fotoelétrico, por espalhamento Compton ou por formação de pares, por isso os raios X e γ são também denominados de indiretamente ionizantes e assim como β+ e β- são classificadas como radiações de baixo LET. Essas radiações só são percebidas depois da primeira ionização, se houver, pois liberam elétrons. Caso contrário, atravessam o material sem interagir com ele. Indução de câncer pelas radiações de baixo LET As doses e as taxas de doses na proteção radiológica, usualmente, apresentam valores baixos, na ordem de 10-3 Gy, dificultando o estabelecimento da forma da curva dose-resposta ou a determinação de um limiar de dose, pois a maioria dos dados sobre carcinogênese radioinduzida foi obtida a partir de doses acima de 0,1 Gy, apresentando altas taxas de doses. A fórmula matemática mais utilizada para determinar a curva é a “linear-quadrática”, pois para doses baixas o efeito responde linearmente e para doses altas o efeito aumenta com o quadrado da dose. E=αD+βD2 Assim, para valores de dose muito baixos, a probabilidade de incidência de câncer seja proporcional à dose absorvida, uma vez que não há evidências inequívocas. Para doses elevadas, a partir de estudos com as vítimas de acidentes radiológicos e nucleares, a maior probabilidade de incidência de câncer aumenta com o quadrado da dose e para doses muito elevadas, diminui, devido aos efeitos determinísticos causados pela alta taxa de morte celular. Radiações de alto LET As radiações diretamente ionizantes, como radiação alfa, íons pesados, fragmentos de fissão e nêutrons, possuem um alto poder de ionização e cedem muita energia para o meio e por isso são classificadas como radiações de alto LET. Essas radiações, devido às suas cargas e massa, induzem os maiores efeitos biológicos, uma vez que interagem diretamente com os átomos que formam a primeira camada penetrada da matéria. Desta forma, a probabilidade de indução de câncer em função da dose recebida é linear, ou seja, quanto maior a dose, maior o dano. A indução de câncer pelas radiações de alto LET é proporcionalmente mais danosa por unidade de dose do que as de baixo LET, não importando o fracionamento da dose, pois o efeito será o mesmo ou até mesmo maior. Conceitos de LET e RBE e processos de mutações celulares Neste vídeo, o especialista irá descrever os conceitos de LET e RBE e os processos relacionados às mutações celulares. Vem que eu te explico ! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! Efeitos biológicos radioinduzidos Módulo 2 - Vem que eu te explico! Os efeitos orgânicos das radiações Todos Módulo 1 - Video Estágios do desenvolvimento de uma radiolesão Módulo 2 - Video C i d LET RBE d õ l l Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Questão 1 A RBE para uma determinada radiação depende: A Das mutações, das aberrações e das mortes celulares. B Das interações com o ar antes de interagir com o tecido biológico. C Do LET, da dose, da taxa de dose, do fracionamento da dose e até da idade do indivíduo. D Da radiação de frenamento. E Do alto LET, da baixa taxa de dose, do gênero do indivíduo. Parabéns! A alternativa C está correta. A RBE para uma determinada radiação depende de vários fatores, incluindo o tipo de radiação e, consequentemente, seu LET, a dose que o organismo recebeu, a taxa de dose da fonte e o seu fracionamento, e de outros fatores que não dependem da fonte propriamente dita, como a idade do indivíduo. A RBE é reprodutível apenas para um sistema biológico específico e o conjunto de circunstâncias experimentais. Precisamos reforçar que a fisiologia e o metabolismo celular são individuais, bem como as condições ambientais são variantes. Questão 2 Qual o conceito de Transferência Linear de Energia (LET)? A É a expressão do efeito da partícula no tecido humano. B É a expressão da sensibilidade do tecido humano às radiações. C É a expressão das características da partícula incidente na matéria biológica. 3 - Processos relacionados às mutações genéticas D É a expressão linear da trajetória da partícula. E É a expressão da massa da partícula. Parabéns! A alternativa A está correta. A transferência Linear de Energia (LET) expressa o comportamento da radiação no meio com o qual interage, ou seja, sua interação no tecido humano. É importante ressaltar que o termo “linear” se refere a uma estimativa matemática e não à trajetória da partícula. Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os processos relacionados às mutações genéticas. Aberrações cromossômicas e os processos relacionados às mutações A estrutura do ácido desoxirribonucleico (DNA) As informações genéticas dos seres vivos estão gravadas na molécula de ácido nucléico, chamada de DNA — Ácido desoxirribonucleico. Em 1953, Watson e Crick descreveram um modelo para a molécula de DNA que é utilizado até hoje. É formada por nucleotídeos e tem forma de uma escada em caracol, em que as bases nitrogenadas formam os degraus, e as cadeias de açúcar e fosfato formam os corrimãos. Os nucleotídeos são compostos por um carboidrato de cinco carbonos (pentose), uma base nitrogenada e um ou mais grupos fosfatos, que fornecem às moléculas sua característica ácida, devido à carga negativa. As bases nitrogenadas podem ser compostas por um ou dois anéis, com átomos de nitrogênio e estão classificadas em dois grupos: Pirimidinas As pirimidinas possuem apenas um anel de seis átomos, sendo ele composto de carbono e nitrogênio. A uracila, a timina e a citosina são pirimidinas encontradas no DNA. Purinas As purinas possuem dois anéis, sendo de seis átomos fusionados a um anel com cinco átomos. A guanina e a adenina são purinas encontradas no DNA. Duas fitas separadas constituídas por vários nucleotídeos se unem devido às ligações entre as bases pirimidinas e purinas, formando a dupla hélice do DNA. A união só ocorre entre bases complementares, ou seja, a adenina se pareia com a timina e a guanina com a citosina. Como as bases se complementam para a formação da dupla hélice, uma fita sempre faz a complementação da outra. Veja o exemplo a seguir. Cromossomos A molécula de DNA quando pronta é longa, linear e complexa, e, quando associada a proteínas, denomina-se cromossomo. As proteínas auxiliam na formação compacta dos cromossomos e no controle das atividades dos genes contidos no DNA. O conjunto de cromossomos em uma célula é chamado de cariótipo. As células normais dos seres humanos podem apresentar 23 cromossomos nas células germinativas ou 46 nas células somáticas. Os cariótipos podem ser descritos como 46, XX ou 46, XY, em que o primeiro é o número de cromossomos é após a vírgula há a indicação sexual do indivíduo. Saiba mais As mulheres e os homens possuem em suas células reprodutivas o mesmo número de cromossomos, porém o cariótipo masculino possui um par de cromossomos XY e o cariótipo da mulher um par de cromossomos XX. Esses cromossomos são os responsáveis pelo sexo do embrião. Morfologia dos cromossomos Os cromossomos apresentam em sua morfologia uma região de estrangulamento denominada centrômero, que, dependendo de sua posição, pode classificar os cromossomos como metacêntrico, submetacêntrico, acrocêntrico ou telocêntrico. Nas extremidades dos cromossomos, existem fileiras repetitivas de DNA denominadas telômeros, que têm função de proteção contra danos durante a replicação. Esquema do posicionamento dos centrômeros e telômeros nos cromossomos. Vamos entender agora as diferenças nas classificações dos centrômeros: Metacêntrico O centrômero está localizado no meio do cromossomo, ou seja, dividindo o cromossomo em duas partes aproximadamente iguais, dando ao cromossomo um formato de “X”. Submetacêntrico O centrômero fica um pouco afastado do meio e os braços possuem tamanho desigual, ou seja, um braço menor que o outro. Acrocêntrico O centrômero fica próximo a uma das extremidades, mas não totalmente nela e um braço fica bem maior que o outro. Telocêntrico O centrômero fica na região terminal do cromossomo, em sua extremidade, dando aspecto de pinça ao cromossomo, ou seja, sua aparência é de apenas um braço. Estrutura dos cromossomos Veja, a seguir, a estrutura de um cromossomo, que inclui o nucleossomo, a fibra cromossômica, o centrômero e os braços cromossômicos. Representação da estrutura cromossomial. Nucleossomo A estrutura básica dos cromossomos apresenta uma molécula de DNA com porções enroladas em grãos formados por oito moléculas de uma proteína denominada histona. Cada grão de histona com DNA enrolado recebe o nome de nucleossomo. Fibra cromossômica Quando próximos uns dos outros, os nucleossomos formam uma espécie de mola, chamada de fibra cromossômica. Essa fibra associa-se a proteínas estruturais que garantem a sustentação, formando o cromonema, levando à formação do cromossomo. Centrômero O centrômero é o local onde os microtúbulos se fixam no momento da divisão celular. Braços comossômicos A divisão celular divide os cromossomos em duas partes, denominadas braços cromossômicos. Na divisão celular, ocorre a duplicação dos cromossomos, onde uma parte permanece conectada à outra, pela proteína coesina. A duplicata é chamada de cromátides-irmãs e continua conectada ao cromossomo até a anáfase. Cariótipo Como vimos, o cariótipo da espécie humana possui 46 cromossomos, sendo caracterizado pelos cromossomos sexuais XX ou XY, para diferenciar o sexo feminino do masculino, respectivamente. Qualquer modificação do número ou estrutura dos cromossomos é chamada mutação genética ou aberração cromossômica. Essas modificações podem ser classificadas como mutações numéricas, em que o número de cromossomos foi alterado; ou mutações estruturais, em que a forma ou o tamanho dos cromossomos foi alterado. Algumas alterações genéticas ocorrem por desordem no número de cromossomos e outras são causadas por falhas estruturais nas sequências do DNA. Essas alterações são chamadas de anomalias cromossômicas. Exemplo Síndrome de Klinefelter – cariótipo 47, na formação XXY. Síndrome de Turner – cariótipo 45, na formação apenas X. Síndrome do triplo X ou superfêmea – cariótipo 47, na formação XXX. Síndrome do duplo Y ou supermacho – cariótipo 47, na formação XYY. Síndrome de Down ou trissomia do par 21 – um cromossomo extra no par 21. Mutações genéticas As mutações numéricas podem ser aneuploidias ou euploidias. Veja! Aneuploidias Há o aumento ou a diminuição de um ou mais cromossomos. Euploidias Há o aumento ou a perda de lotes cromossômicos completos. A exposição do ser humano a substâncias como drogas, agentes químicos, agentes biológicos, fatores genéticos e radiação ionizante pode desencadear aberrações cromossômicas.Dessa forma, já podemos supor que a carcinogênese ou a oncogênese pode ter uma origem endógena, quando o dano genético é gerado pela incapacidade do organismo em reparar os erros do processo de mutação; ou exógena, quando o fator desencadeante é proveniente de uma exposição a substâncias ou efeitos físicos externos ao organismo. Vamos lembrar que as células dos animais são formadas por membrana celular, citoplasma e núcleo, onde estão os cromossomos, que são compostos por genes. Os genes são os responsáveis pelas instruções de organização, forma e atividade celular. Neles, estão as informações genéticas impressas na molécula de DNA ou ácido desoxirribonucleico. Veja na figura a seguir. Molécula do ácido desoxirribonucleico (DNA). Carcinogênese No processo de carcinogênese, pode-se levar muito tempo para que uma célula doente se multiplique e dê origem a uma lesão. A carcinogênese é determinada pela frequência e pelo tempo de exposição aos agentes desencadeantes, considerando as individualidades dos organismos biológicos. Esse processo é composto por três estágios, os quais veremos a seguir. No estágio de iniciação, os agentes cancerígenos atacam os genes podendo provocar modificações estruturais. Neste estágio, as células já possuem alterações genéticas, ainda que iniciais e imperceptíveis. Nesta fase, ainda é difícil a detecção de tumores, no entanto, as células estão prontas, ou seja, encontram-se "iniciadas" para a ação de um segundo grupo de agentes que atuará no próximo estágio. Após a iniciação, as células, agora no estágio de promoção, sofrem novos ataques de agentes cancerígenos, denominados de oncopromotores. A ação longa e contínua com os agentes oncopromotores faz com que as células passem por uma transformação lenta e gradual, transformando-as em células malignas. A interrupção da ação dos agentes oncopromotores pode interromper o processo de desenvolvimento de cânceres, como parar de ingerir certos alimentos e diminuir a exposição excessiva e prolongada a hormônios. Estágio de iniciação Estágio de promoção O estágio de progressão é caracterizado principalmente por sua irreversibilidade. Neste estágio há uma multiplicação descontrolada das células malignas com a instalação de cânceres e o surgimento dos primeiros sintomas clínicos da doença. Os dois primeiros estágios são promovidos por agentes cancerígenos também denominados de oncoaceleradores ou carcinógenos. A luta diária contra o tabagismo se justifica devido ao fumo ser um agente carcinógeno completo, atuando ativamente nos três processos. Carcinogênese radioinduzida Como já falado anteriormente, as radiações eletromagnéticas X e γ possuem baixo LET e percorrem uma distância maior no meio, enquanto as partículas α e β, prótons, nêutrons e os íons possuem alto LET e percorrem uma distância menor se comparadas as de baixo LET de mesma energia. Se, na transferência de energia para o meio houver absorção pelo material biológico, pode haver interação com átomos do DNA celular, ionizando-os ou excitando-os, iniciando eventos em cadeia que podem resultar em mudanças biológicas. Os efeitos podem ser indiretos, como quebra de ligações químicas e Estágio de progressão formação de radicais livres, que procurarão a estabilidade se anexando a outras moléculas. Esse processo leva a molécula à sua forma original ou pode se religar e criar outras moléculas com funcionalidade diferente da essencial. A maior probabilidade de interação da radiação com o organismo biológico é com as moléculas de água intracelular, pois 80% da célula é composta de água. Essas interações criam espécies reativas de oxigênio (ROS) que possuem elétrons não pareados na camada mais externa do átomo, que, em condições fisiológicas normais, estão em equilíbrio e são eliminadas pelo sistema oxidante do próprio organismo, evitando o estresse oxidativo. O DNA, normalmente, sofre danos, sejam de origens química, física ou biológica. Por esse motivo, o organismo desenvolveu estratégias de reparação. Os ROS, quando reagem com o DNA, podem provocar danos oxidativos que podem levar à formação de quebras simples ou duplas das fitas de DNA. Veja a imagem a seguir. Quebras simples e duplas da fita induzidas pela radiação ionizante. Processos de reparos errados podem originar mutações que resultem morte ou aberrações cromossômicas como os DNA ou anéis dicêntricos, que são estruturas cromossomiais em que o cromossomo adquire dois centrômeros. Isso corre quando braços de dois cromossomos são quebrados, mas seus centrômeros permanecem intactos. As pontas quebradas podem se unir gerando um novo cromossomo, com dois centrômeros. Essas aberrações podem gerar consequências em longo prazo ao organismo biológico. Veja a imagem a seguir. Quebra estrutural do cromossomo As mutações ocorridas em células somáticas ou germinativas podem ser pontuais ou numéricas. Veja a seguir. Pontuais Quando alteram a sequência de bases do DNA, as estruturas cromossomiais, havendo quebra nos cromossomos. Numéricas Quando há o aumento ou a diminuição no número de cromossomos. As mutações das moléculas de DNA mantêm sua capacidade reprodutiva, podendo gerar lesões neoplásicas. O sistema imunológico do organismo biológico ao detectar essas células diferentes pode eliminá-las ou bloqueá-las, porém elas podem se adaptar e se reproduzir gerando tumores cancerígenos. Veja a seguir. Quadro: Aberrações cromossomiais que podem ser induzidas pela radiação ionizante. Aberrações cromossômicas Neste vídeo, o especialista irá explicar os tipos de alterações nos cromossomos. Vem que eu te explico ! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 - Vem que eu te explico! Os cromossomos Módulo 3 - Vem que eu te explico! Morfologia dos cromossomos Módulo 3 - Vem que eu te explico! Mutações genéticas Todos Módulo 1 - Video Estágios do desenvolvimento de uma radiolesão Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Questão 1 As pirimidinas são bases nitrogenadas que possuem apenas um anel de seis átomos, sendo ele composto de: A Carbono e nitrogênio B Oxigênio e hidrogênio C Argônio e oxigênio D Zinco e oxigênio E Cálcio e zinco Parabéns! A alternativa A está correta. As pirimidinas são pentoses compostas por um carboidrato de cinco carbonos e uma base nitrogenada que pode ser composta por um ou dois anéis com átomos de nitrogênio. Os outros elementos indicados nas opções não fazem parte da estrutura de uma pirimidina. Questão 2 Qual é a representação correta do cariótipo de um ser humano do sexo masculino? A 23, XX B 46, XXY C 46, XX D 46, XY E 23, XY Parabéns! A alternativa D está correta. O cariótipo humano é representado pela quantidade de cromossomos, uma vírgula seguida da indicação XX ou XY que define o sexo. Então para um ser humano do sexo masculino, a notação é 46, XY. Considerações �nais Como vimos, o conteúdo expõe os conceitos que envolvem as interações das radiações ionizantes com a matéria biológica, descrevendo os processos que resultam na relação com a sensibilidade do material e o caminho percorrido dentro dela. Vimos que a energia cedida pela radiação para o meio pode alterar as moléculas de água intracelular e criar compostos nocivos para o organismo vivo. Os pontos apresentados são de grande importância para a aplicação correta dos princípios de proteção radiológica, uma vez que a exposição dos seres humanos à irradiação pode, como vimos, desencadear mutações genéticas que produzirão aberrações cromossômicas, gerando lesões orgânicas agudas ou crônicas levando a um mau funcionamento orgânico ou até mesmo à morte do indivíduo. Podcast Neste podcast, o especialista irá falar sobre a mutação celular e o que ela pode representar para o organismo de maneira geral, falando sobre a defesa celular. Referências ATTIX, F. H. Introduction to radiologicalphysics and radiation dosimetry. 1. ed. Weinheim, 1986. BRASIL MINISTÉRIO DA SAÚDE ABC do câncer 6 ed Rio de Janeiro 2020 BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ABC do câncer. 6. ed. Rio de Janeiro, 2020. ENGERS, V. K.; BEHLING, C. S.; FRIZZO, M. N.; CELULAR, D. E. E. A influência do estresse oxidativo no processo de envelhecimento celular. Revista Contexto e Saúde, v. 11, n. 20, p. 93–102, 2013. INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. INCA. Tipos de câncer. Brasília, DF: Inca, 2010. NOUAILHETAS, Y.; BONACOSSA, C. E. de A.; PESTANA, S. Apostila Educativa - radiações ionizantes e a vida. Comissão Nacional de Energia Nuclear, v. 1, p. 42, 2008. TAUAHATA, R. D. P.; SALATI, L.; PRINZIO, I.; ZIO, A. R. D. Radioproteção e dosimetria: fundamentos. IRD/CNEN, 2014. Explore + Para saber mais sobre os assuntos abordados neste conteúdo: Leia o artigo Biological effects of low frequency electromagnetic fields, de Violaine Vizcaino e saiba mais sobre os efeitos biológicos causados por campos eletromagnéticos de baixa frequência. Disponível no site da Rayos.medicina. Leia a tese Estudos microdosimétricos usando um sistema de irradiação de nêutrons rápidos filtrados de reator de pesquisa para aplicação em radiobiologia, de Pedro Ferreira Rodrigues (2007). Disponível no site de teses da USP. Leia a tese Otimização de esquemas terapêuticos do carcinoma da próstata envolvendo braquiterapia de baixa taxa de dose e radioterapia externa – abordagens física e radiobiológica, de Susana Maria Alegre de Oliveira (2015). Disponível na página do RUN, Repositório Universidade Nova. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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