Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Post-Scriptum sobre as Sociedades de Controle Gilles Deleuze Para Foucault, as sociedades disciplinares procedem aos grandes meios de confinamento, segundo ele, o indivíduo nunca cessa de passar de um espaço fechado para o outro10. Essas sociedades disciplinares sucedem as sociedades de soberania, então para Foucault era certa a momentaneidade dessa sociedade. Nós atualmente nos encontramos em uma crise generalizada dos meios de confinamento de forma que os políticos responsáveis não cessam de apresentar propostas de reformas que eles próprios julgam necessárias, reformas nas escolas, reformas nas prisões11, mas essas reformas tratam apenas de ocupar as pessoas enquanto se instalam as novas forças que são as sociedades de controle que substituem as disciplinares sem que saibamos definir ao certo qual sistema é mais rígido ou mais flexível porque ambos enfrentam suas liberações e sujeições. Os vários confinamentos das sociedades disciplinares, para Foucault, são moldes de distintas moldagens, onde sempre se recomeça (saímos da família e recomeçamos na escola, saímos da escola e recomeçamos na caserna) e nessa sociedade temos dois grandes polos: a assinatura que identifica o indivíduo e um número de matrícula que indica a posição desse na massa. Nas sociedades disciplinares não existe incompatibilidade entre a massa e o individual. Segundo Foucault o poder é massificante e indivuduante ao mesmo tempo12. Já as sociedades de controle são como uma modulação que fosse auto deformante e mudasse continuamente, onde não se acaba nada (a empresa, a formação e o serviço são estados coexistentes de uma mesma modulação contínua). Ao contrário do que acontece nas sociedades disciplinares, o essencial não é uma assinatura ou um número, mas sim uma cifra que é uma espécie de senha que marca o acesso ou a rejeição a informação e aqui não se considera mais o par massa-indivíduo. Nesse tipo de sociedade o indivíduo se torna dividual, divisível. Não é difícil imaginar já uma sociedade de controle que a cada instante defina a posição de um elemento no espaço aberto, mas hoje cabe aos sócio-teóricos dizer quais mecanismos já estão 10 No exemplo de Foucault, primeiro em casa, depois na escola, depois na caserna, depois na fábrica e assim por diante. 11 As prisões que são o meio de confinamento por excelência. (cf. Panóptico de Bentham e o Panoptismo – Vigiar e Punir) 12 Segundo Deluze, esse duplo cuidado se originava no poder pastoral eclesiástico (o rebanho e cada um dos animais) mas o poder civil iria se converter em uma espécie de pastor laico. aptos a serem aplicados no lugar dos métodos de confinamento - dos quais a crise já se anuncia - como uma implantação progressiva e dispersa de um novo regime de dominação.
Compartilhar